ESPORTE, PROPAGANDA E PUBLICIDADE NO RIO DE JANEIRO

Propaganda
ESPORTE, PROPAGANDA E PUBLICIDADE
NO RIO DE JANEIRO DA TRANSIÇÃO DOS
SÉCULOS XIX E XX
Dr. VICTOR ANDRADE DE MELO
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Professor da Escola de Educação Física e Desportos e do Programa de
Pós-Graduação em História Comparada – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS)
Coordenador do “Sport”: Laboratório de História do Esporte e do Lazer/IFCS/UFRJ
E-mail: [email protected]
RESUMO
O marketing esportivo é hoje apontado como uma das grandes estratégias de negócios:
as cifras apresentadas são hiperbólicas, difíceis de mensurar com precisão, abarcando um
grande conjunto de atividades comerciais. O seu crescimento, no decorrer do século XX, está
plenamente articulado com uma série de dimensões típicas da modernidade, cujas raízes
se encontram no século XIX. Considerando os anúncios como fontes históricas, expressões
de certos valores e comportamentos, este estudo tem por objetivo discutir as relações entre
esporte, propaganda e publicidade no Rio de Janeiro da transição dos séculos XIX e XX,
buscando desvendar os sentidos e significados das representações expressas.
PALAVRAS-CHAVE: História do esporte; propaganda; publicidade; modernidade.
Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 3, p. 25-40, maio 2008
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INTRODUÇÃO
O marketing esportivo é hoje apontado como uma das grandes estratégias de
negócios: as cifras comumente apresentadas são hiperbólicas, difíceis de mensurar
com precisão, abarcando um grande conjunto de atividades comerciais.
Certamente isso tem relação com o impressionante grau de penetrabilidade
do esporte por todo o mundo. Há mais países ligados à Federação Internacional
de Futebol (Fifa) e ao Comitê Olímpico Internacional (COI) do que à Organização
das Nações Unidas (ONU). As duas maiores audiências televisivas do planeta são
obtidas por ocasião dos principais eventos organizados pelas referidas entidades
esportivas: a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos.
Há informações sobre o esporte por todos os lados. Praticamente não há meio
de comunicação (jornais, revistas, rádios, redes de televisão, internet) que deixa de
dedicar espaço para divulgar alguma informação relacionada ao campo esportivo.
A prática entra também em nossas casas pelos jogos de videogame (Fifa Soccer,
NBA games, entre outros), com ela nos encontramos pelas ruas nas publicidades
em outdoors, suas imagens povoam nosso cotidiano.
Muitos são os produtos e as iniciativas que com a prática esportiva buscam
estabelecer uma relação. O mercado ao redor do campo não só faz uso de suas
imagens para vender o que deseja (roupas, medicamentos, equipamentos, carros,
cosméticos, alimentos e até mesmo, entre tantas outras coisas, cigarros e bebidas – que a princípio parecem contraditórios com o tão mobilizado conceito de
saúde) como também, nesse contexto, relacionando o esporte a uma “forma de
viver”, ajuda a reforçar valores, difunde maneiras de portar-se, estimula hábitos,
costumes, atitudes.
Isso não se trata de algo ocasional, tampouco recente. Esse processo de
valorização da prática esportiva, observável no decorrer do século XX, está plenamente articulado com uma série de dimensões típicas da modernidade, cujas raízes
se encontram no século XIX. Segundo Melo (2006), o esporte, um fenômeno social
moderno, esteve desde o início inserido na construção de um modelo de sociedade
em que as idéias de consumo e espetáculo (Debord, 1997) são centrais.
É nesse mesmo cenário que emerge a publicidade em seu sentido atual. Se não
era uma novidade a existência de anúncios de produtos diversos, não é equivocado
afirmar que as propagandas ganharam um novo papel, inclusive enquanto ferramentas
de propagação dos sentidos e significados que norteavam a construção da modernidade. Deixaram de ser algo amador e paulatinamente se tornaram responsabilidade de
profissionais: observa-se o aperfeiçoamento das iniciativas, o surgimento de agências e
mesmo o futuro desenvolvimento de formações técnicas específicas.
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Compartilhando de um mesmo conjunto de referências, não surpreende
que esporte e publicidade tenham logo estabelecido relações. Pitts e Stotlar (2002)
argumentam que iniciativas de alguma forma ligadas ao que hoje chamamos de marketing esportivo já podem ser identificadas desde o início do século XIX, ainda que
tenham somente se tornado mais estruturadas em 1921, quando a empresa Hillerich
& Bradsby (H&B), fabricante do taco de beisebol Louisville Slugger, implementou
um plano de ações e tornou-se líder na produção e venda do produto.
Na verdade, do ponto de vista da investigação histórica, algumas questões
complexificam nosso esforço de pesquisa. Se tivermos em conta as muitas divergências acerca do conceito de marketing (Teitelbaum, 1997), que vai desde uma visão
mais simples (empresas envolvidas com um produto para levar uma mensagem a
um público potencial) até uma concepção mais complexa (que envolve estratégias
relacionadas às várias fases de circulação) (Schiavo, 2007), como buscar mais adequadamente as suas origens, no nosso caso de interesse o relacionando ao esporte,
sem cair em equívocos conceituais? Como, mais do que descobrir datas e fatos,
podemos situar esse desenvolvimento no contexto sociocultural de uma época?
Como compreender melhor o que ocorreu em nossa realidade nacional?
Uma saída possível é investigar duas das facetas mais reconhecidas, independente dos diversos enfoques, enquanto componentes das estratégias de marketing: a
propaganda e a publicidade, considerando que os anúncios são fontes históricas (ou
“indícios”, como prefere Peter Burke, 2004), expressando comportamentos e valores,
tanto induzidos quanto reflexos, bem como um quadro de tensões entre os desejos
individuais e os desejos coletivos gerados em um determinado contexto cultural:
A mensagem publicitária se dirige ao conjunto de imagens, símbolos, desejos e medos
que, embora variem um pouco, de pessoa para pessoa, constituem um novo padrão cultural
de cada sociedade, chamado de imaginário pelos estudiosos das ciências humanas. Esse
imaginário não é estático, assim reorganizado conforme as necessidades e características
de cada momento histórico (Cerri, 2006, p. 84).
Assim, este estudo tem por objetivo discutir os relacionamentos entre esporte,
propaganda e publicidade1 no Rio de Janeiro da transição dos séculos XIX e XX,
buscando desvendar os sentidos e significados das representações expressas. Ao
final do artigo, intentamos ainda apresentar algumas reflexões sobre as relações de
patrocínio que nesse contexto se estabeleceram.
Há também divergências conceituais acerca dos conceitos de propaganda e publicidade, chegando
alguns autores a tratar ambos como um mesmo conceito. Optamos por dialogar com as considerações de Sant’Anna (1997): “[...] a publicidade, [...] diferentemente da propaganda, incorpora um
conjunto de meios destinados a tornar uma determinada empresa conhecida, a vender um certo
produto e valorizá-lo” (p. 92). A publicidade seria assim mais estruturada e orgânica.
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Não arriscamos afirmar que este seja um estudo sobre as origens do marketing esportivo, em função das já citadas polêmicas conceituais. Mas ao abordar
temas que lhe dizem tanto respeito (a propaganda e a publicidade), esperamos
dar uma contribuição para melhor compreender, do ponto de vista da história, a
manifestação hodierna do tema.
Vale ainda informar que o Rio de Janeiro foi escolhido por ter passado de
forma marcante por um processo de mudanças na transição dos séculos XIX e
XX, vivenciando profundamente as tensões desencadeadas pela construção da
idéia de modernidade. Nesse cenário, pioneiramente se estruturaram no Brasil os
primórdios de uma indústria do entretenimento, algo de fundamental importância
para entendermos as relações entre esporte, propaganda e publicidade.
O CONTEXTO CARIOCA
No Rio de Janeiro do século XIX, inspirado pelo que ocorrera na cidade de
Paris, processo similar de busca do espaço público como lócus de vivência social e
de valorização das atividades de lazer começara a ocorrer2, ainda que demorasse
algumas décadas mais para configurar-se completamente3.
É nesse cenário de transição dos séculos XIX e XX que podemos observar
na cidade o desenvolvimento e a melhor estruturação de um mercado de diversões,
que incluía espetáculos musicais e teatrais, os primeiros momentos de nosso cinema
e o crescimento da organização, presença e diversificação das práticas esportivas,
em que se destaca o remo. Ele é fundamentalmente um esporte conduzido pelas
camadas médias e novo estrato das elites em formação (profissionais liberais, gente do
comércio e primeiros industriais). Sua identidade constrói-se em oposição ao turfe,
já estruturado anteriormente (desde o início da segunda metade do século XIX),
muito relacionado à aristocracia de origem rural. O remo é o esporte que se vai
adequar mais plenamente às novas características urbanas em delineamento, estando
eivado de uma forte preocupação moral que marcava os “novos tempos”4.
Nesse mesmo momento, percebe-se que no Rio de Janeiro as propagandas
já apresentam progressos. Se os primeiros anúncios, publicados desde o quartel
Para uma discussão sobre tal processo em Paris, ver estudo de Corbin (2001). Para mais informações
sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro, ver estudo de Needell (1993) e de Melo (2001).
3
Devemos lembrar que se o processo de mudanças pelo qual passou o Rio de Janeiro naquele momento foi claramente inspirado no exemplo parisiense, havendo, portanto, semelhanças inegáveis,
eram também muitas as diferenças: é um equívoco considerar o que ocorreu na cidade brasileira
um espelho do cenário europeu. Uma discussão interessante nesse sentido pode ser obtida nos
estudos de Morse (1995), Pechmann (2002) e Canclini (2003).
4
Para mais informações, ver os estudos de Sevcenko (1998), Melo (2001) e Schetino (2008).
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inicial do século XIX nos nossos pioneiros jornais ou na forma de cartazes, painéis
e folhetos distribuídos pela cidade e/ou afixados em estabelecimentos comerciais5,
eram muito simples, com informações deficientes, sem imagens e normalmente
ligados à venda de posses (casas, escravos, móveis) ou oferta de serviços individuais
(profissionais liberais em geral6), no fin de siècle percebe-se uma clara mudança, um
aperfeiçoamento das iniciativas de divulgação dos “novos e milagrosos produtos do
progresso”, notadamente os relacionados à saúde e à higiene, duas preocupações
crescentes no contexto de construção do ideário da modernidade7.
Se a art noveau era o modelo adotado nas já avançadas propagandas européias, no Brasil ainda havia poucos profissionais habilitados na composição dos
anúncios e mesmo poucos interessados em pagar por tal serviço. De qualquer forma, já se percebia um design melhor, inclusive com o uso de imagens: inicialmente
desenhos, depois fotografias. Os textos, alguns até mesmo produzidos por literatos,
tornam-se mais elaborados. Surgem os primeiros bordões.
Além de esse avanço estar articulado com o contexto sociocultural da cidade,
estava relacionado à chegada ao Brasil de máquinas de impressão mais eficientes e
ao aperfeiçoamento da imprensa nacional: a história da publicidade não pode ser
dissociada da trajetória dos jornais e revistas. Nesses anos de transição foram lançadas
importantes publicações, tais como A Revista da Semana, O Malho, Fon-Fon, A Careta.
O Jornal do Brasil, criado em 1891, um dos mais importantes do país, faz de seu
caderno de classificados uma fonte de renda para a manutenção do periódico.
Publicar anúncios em algum desses veículos prestigiosos significava tanto
garantir a divulgação dos produtos (eram praticamente a única forma de difusão
de massa, já que rádios e televisões ainda faziam parte do futuro) quanto adendar
determinadas representações ao que se pretendia vender. Além disso, deve-se
observar que as propagandas invadem com mais constância o espaço citadino cotidiano, notadamente os bondes. O objetivo era fazer chegar as novas mensagens,
das quais os produtos eram portadores, a todo o conjunto da população.
Em 1891 é criada a Empresa de Publicidade e Comércio, que funcionava
como intermediária na captação de anunciantes (os responsáveis pela criação eram
Renault (1978) observa que no ano de 1860 o Rio de Janeiro já possuía mais de 30 tipografias.
A título de curiosidade, entre esses alguns professores, inclusive ligados à prática de atividades físicas,
ofereciam seus serviços. Esse é o caso de um certo francês Bidegorry, que no Correio Mercantil
de 31 de dezembro de 1852 se dispunha a ministrar “lições de gymnastica e tratamento das defformidades do corpo” (apud Renault, 1978, p. 53).
7
Entre os dois momentos, há que se destacar o lançamento dos almanaques comerciais, cujos primeiros números saíram nos anos de 1850, pelas mãos dos irmãos Eduardo e Henrique Laemmert
(Renault, 1978).
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periódicos), dirigida por Honório da Fonseca, que no ano seguinte lança o jornal
Publicidade. Aquela que é considerada a primeira agência de publicidade brasileira
somente surgirá em 1913-1914, a Castaldi & Benaton, depois renomeada para
Eclética. É somente na transição dos anos de 1920-1930, com o aumento da influência norte-americana, por meio da empresa General Motors, que a publicidade
brasileira se tornará mais bem estruturada (Sant’anna, 1997)8.
Considerando que no cenário europeu e norte-americano do século XIX
rapidamente se estabeleceu um forte relacionamento entre esporte e publicidade9, como isso terá ocorrido no Brasil, notadamente no Rio de Janeiro, a capital e
principal cidade do país à época?
USOS DO ESPORTE10
Das propagandas à publicidade
No início da segunda metade do século XIX, apareceram nos jornais cariocas
os primeiros anúncios relacionados ao esporte, cujo intuito era a venda de produtos
diretamente ligados à prática esportiva. Ainda não se podia observar, como nos dias
de hoje, o uso dos equipamentos esportivos em outras esferas cotidianas. Como
também não era grande o número de praticantes, esse mercado não movimentava ainda maiores recursos. Certamente não tínhamos nada parecido com o atual
campo de negócios.
Se a venda de produtos esportivos ainda era tímida, no quartel final do século
XIX grande já era, nos jornais, o número de propagandas de atividades organizadas
pelos clubes. Devemos considerar que imprensa teve um importante papel na difusão e no desenvolvimento do esporte. Antes mesmo da estruturação do campo,
quando as corridas de cavalos eram uma curiosidade, só ocasionalmente realizadas,
os periódicos já informavam sobre esses eventos. Isso pode ser observado, por
exemplo, na Gazeta do Rio de Janeiro de 1814, no Diário Fluminense de 1825 e no
Jornal do Comércio de 1847, entre outros (Melo, 2001).
Conforme o turfe foi-se estruturando e tornando-se mais popular, cada vez
mais ocupou espaço nos periódicos. Não tardou para que os clubes começassem
a pagar anúncios, que logo se tornaram a principal forma de divulgação das com-
Mais informações sobre a trajetória histórica da propaganda brasileira podem ser obtidas nos estudos
de Ramos (1987) e Marcondes (2001), entre outros.
9
Entre os muitos estudos que abordaram tal relação, citamos os de Hardy (1986) e Opie (1990).
10
Os anúncios citados nesse item foram publicados em vários periódicos. Para nossa investigação,
fizemos uso denotado de: O Paiz, Revista da Semana, Revista Illustrada, Jornal do Brasil, Jornal do
Comércio, O Malho, A Canoagem, entre outros.
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petições organizadas. Por exemplo, na Gazeta de Notícia, nas décadas de 1860 e
1870, entre as propagandas de produtos da época, invariavelmente agrupadas ao
final da edição, já eram encontrados anúncios de competições esportivas, principalmente de eventos turfísticos, mas também já de algumas regatas. Em O Paiz,
um dos jornais mais importantes do Brasil no século XIX, já nas décadas de 1880
e 1890 percebemos ainda mais anúncios publicados, entre os quais se identifica a
presença de novos esportes, como o ciclismo.
Esse tipo de propaganda seguirá existindo nos jornais e nas revistas na transição
do XIX para o XX, mas, para o intuito de nosso estudo, o mais interessante parece
mesmo ser discutir como o esporte esteve inserido nas estratégias empresariais
da época.
De acordo com nossas investigações, na década de 1880 identificamos um
dos primeiros produtos que buscava fazer o uso de imagens da prática esportiva:
a propaganda do Vinho Tetra Phospatado de Granado (“o melhor e mais efficaz
reconstituinte para os anêmicos, debilitados e convalescentes”) exibia uma mulher
montada em um cavalo, conversando com um homem e tendo ao fundo uma pista
de corridas. Nesse anúncio pode-se captar bem o momento de transição em que o
esporte começa a deixar de ser encarado somente como um jogo e paulatinamente
será considerado uma prática ligada à saúde.
O fato de a Casa Granado fazer uso de referências do esporte para a divulgação de um de seus produtos é um indício das articulações entre determinadas
sensibilidades dentro de um certo contexto sociocultural, do qual a prática esportiva
fazia parte. Essa empresa, fundada por José Antônio Coxito Granado, em 1870, era
uma das preferidas e mais prestigiosas “boticas” do século XIX, tendo seu nome
inextricavelmente ligado ao desenvolvimento científico e tecnológico do país. Alguns
de seus “inventos”, como o polvilho antisséptico, que existe, aliás, até os dias de
hoje, ocupam espaço ímpar na história do país.
Essa busca de associação com o esporte, que já existia com o turfe, tornou-se
mais intensa na transição do XIX para o XX, quando algumas empresas passaram
a fazer uso das imagens do remo. Nesse mesmo momento, pode-se identificar
um grande número de anúncios de produtos medicinais (tônicos, elixires, extratos,
xaropes etc.), algo relacionado ao crescimento das preocupações com a saúde e
com o corpo, ocorrência que teve relações com o aumento dos cuidados com a
beleza e com o incremento da popularidade da prática esportiva (Ramos, 1987;
Sant’Anna, 1997). Sevcenko (1998, p. 563) resume bem:
Juventude, saúde e beleza se transformam no núcleo predominante dos valores
modernos. Os modos de cultivar esses valores eram a nutrição adequada, as consultas
médicas e dentárias regulares, a higiene pessoal e doméstica diária, as roupas leves
seguindo as formas do corpo, os banhos, massagens e exercícios metódicos, a expoRev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 3, p. 25-40, maio 2008
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sição periódica ao sol, as caminhadas ao ar livre e, sobretudo, a prática constante do
esporte.
Como podemos perceber, tratava-se de uma confluência de interesses
diversos, da qual fazia parte o esporte. Não surpreende, assim, que encontremos
nas páginas de A Canoagem, periódico oficial da Federação Brasileira de Sociedades
de Remo, muitas propagandas da Água Salutaris11 e da Emulsão da Farmácia Abreu
Sobrinho12.
Ambos faziam uso de “bordões” que tentavam aproveitar a popularidade do
remo, tais como “A Água Salutaris às refeições torna o rower forte”. Já a farmácia
fazia publicar: “Os remadores do Natação, em vez de cerveja ou vinho, bebem, à
mesa, a Emulsão da Farmácia Abreu Sobrinho”; “Quereis ganhar sozinho, um páreo
de natação? Bebe do Abreu Sobrinho, a vigorosa Emulsão”; “És remador? E queres
pois ser domingo campeão? Na Lapa 72, compra um vidro de Emulsão”.
Alguns produtos também faziam uso da imagem dos atletas, comumente
apresentados pela imprensa como modelos para a juventude. Vejamos, por exemplo,
como A Canoagem se referiu a Arthur Amendola, um dos mais famosos e vitoriosos atletas das décadas iniciais do século XX (Melo, 2007): “Arthur Amendola, é
de estatura mediana, moreno, bela estatura, bella complexão de athleta, bastante
musculoso, dotado de muito bom genio e no trato é cortez; excellente companheiro
e amigo leal” (“Seção não official”, A Canoagem, out. 1903, p. 4).
Nas folhas dos periódicos consultados, encontramos o seguinte bordão:
“De ser um bom remador/Amendola deu prova cabal/Pois bebeu Porto Invalid/Da
Casa Silva Cabral”. No mesmo sentido, vemos ser exaltado um dos mais famosos
atletas dos primórdios do ciclismo carioca: “Na pista do Velo-Club, chegou na ponta
Joãozinho, porque bebeu Emulsão da Farmácia Abreu Sobrinho”.
Há ainda o caso dos cosméticos, produtos cujos anúncios dividiram com os
de remédios grande espaço nos periódicos, também fazendo uso do esporte. Um
dos mais interessantes que encontramos foi o do Sabão Hygienico Ross: “Todo
homem asseiado, ou ‘sportsman’ inveterado, que não é effeminado, não usa sabão
perfumado. Para elle até que afinal, fez-se um sabão especial, que por combinação
ideal, tornou-se logo sem rival”. Aqui vemos um novo elemento: preocupações
mais explícitas de caráter moral. Além das relações entre higiene, saúde e esporte,
Esse produto era extraído da primeira fonte descoberta no estado do Rio de Janeiro, em Paraíba do
Sul. O termo “Salutaris” tem origem no fato de a água ser considerada boa para a saúde (salutar).
12
A curiosa e longa trajetória da propaganda desse produto já chamou a atenção de outros autores.
Segundo Sant’Anna (1997), ela expressa as contradições do processo de construção da modernidade
brasileira. Outras informações podem também ser obtidas no estudo de Gomes (2006).
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ainda se constrói um determinado modelo de homem considerado adequado aos
novos ditames sociais.
No material investigado, percebemos que era muito comum a associação do
esporte a bebidas alcoólicas. Isso também estava relacionado à construção de uma
idéia de masculinidade, bem como, surpreendentemente se pensarmos nos dias de
hoje, porque eram apresentadas como tônicos para a manutenção de saúde. Um
dos exemplos mais interessantes é o da cerveja Ritter, que curiosamente estabeleceu
uma disputa com a Emulsão da Farmácia Abreu Sobrinho, cada um dos produtos
afirmando que era o mais adequado para o esportista.
Temos ainda que citar o chopp Náutico, cuja vinculação ao remo estava
explícita já em seu nome, um dos primeiros produtos a ser muito direto na relação
com a prática esportiva. No final da década de 1910, tornou-se também bastante
famosa a cerveja Foot-Ball, cujo slogan, que se seguia a uma fotografia dos jogadores, anunciava: “A resistência desses campeões deve-se às magníficas qualidades
medicinais da excelente Cerveja Foot-Ball”13.
Se a vinculação de bebidas alcoólicas a um esporte que preconizava a saúde
como uma de suas dimensões fundamentais pode parecer estranha, o que dizer de
produtos tabagistas14? O fato é que eram muito comuns propagandas de derivados
do tabaco que buscavam relação com o remo. Dois destacavam-se: charutos Polock
e cigarros Campeonato. Este último chegou a oferecer, em 1903, uma canoa para
quem levasse o maior número de maços vazios à fábrica.
Curiosamente, anos mais tarde (final da década de 1920) outra companhia
de cigarros reeditaria algo similar, cercado de grandes polêmicas. A Companhia
Nacional de Fumos Veado promoveu o “Grande Concurso Monroe” para escolher
o melhor jogador de futebol do Brasil. O voto seria dado com o envio de um maço
de cigarros. Russinho, considerado de segunda linha por parte da imprensa, ganhou
o título e uma barata Crysler (carro da moda) como prêmio, uma vez que os ricos
portugueses, ligados ao Clube de Regatas Vasco da Gama, compraram caminhões
do produto exclusivamente para votarem no seu craque. Noel Rosa, na música
Quem dá mais?, incorpora uma referência irônica a tal fato: “O Vasco paga o lote
na batata/ E em vez de barata/ Oferece ao Russinho uma mulata”.
Vale destacar que até os dias de hoje, ainda que com grandes restrições e com sentidos diferenciados, é forte a relação entre bebidas e a prática esportiva. Para dar um exemplo recente, a agência
Fischer & Justus, por ocasião da Copa do Mundo de 1994, desenvolveu o “Projeto Meninos” para
a cerveja “Brahma Chopp”, um investimento de 25 milhões de dólares (Teitelbaum, 1997).
14
Lembremos que só bem recentemente alguns países, entre os quais o Brasil, proibiram a vinculação da
imagem esportiva com o cigarro. Tal restrição tem sido cercada de polêmicas e prevê algumas exceções,
como no caso do automobilismo, que depende muito das verbas da indústria fumageira.
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Essa relação com a indústria de tabacos era provavelmente aceita em função
de não haver ainda tanta clareza acerca dos malefícios do cigarro15, mas fundamentalmente porque, no fundo, a preocupação com a saúde ainda era mais um discurso e
uma afirmação de ordem moral do que uma preocupação efetiva com os benefícios
da prática esportiva, algo que ainda não era nem mesmo largamente conhecido.
Há um elemento fundamental que deve também ser considerado. Como
informa Sevcenko (1998, p. 528): “Os cigarros ou charutos industrializados, diferentemente do fumo de corda ou fumo de pitar, eram presenças recentes na vida
urbana e se distinguiam dos hábitos tradicionais de fumar ou mascar, sobretudo
relacionados com o ambiente rural”.
Os cigarros e charutos, portanto, estabeleciam uma conexão com o “mundo
civilizado europeu” e com o ideário da modernidade; era uma nova moda, um
novo hábito, sinal de sucesso, distinção e virilidade masculina (ou sinal de ousadia
feminina). Uma vez mais vemos o esporte, essa prática moderna, conectado com
os sentidos e significados dos “novos tempos”. Vejamos como a fala de Sevcenko
demonstra que compartilhavam uma trajetória em comum:
O café e o cigarro [...] permaneceram restritos a setores limitados da população e
círculos estreitos das elites. Sua autêntica popularização só ocorreria na segunda metade
do século XIX, mediante sobretudo seu nexo com a Revolução Científico-Tecnológica,
ao redor de 1870, e sua associação intrínseca, em virtude de suas propriedades estimulantes, com os novos ritmos do trabalho e fragmentação da experiência urbana (Sevcenko,
1998, p. 531).
Enfim, se desde meados do século XIX já era possível identificar a existência
de propagandas relacionadas ao esporte, no início do século XX ficava claro que
uma nova dimensão se organizara: os primórdios da publicidade esportiva.
Primórdios do patrocínio
No final do século XIX, os dirigentes dos clubes de remo colocaram-se
contra a realização de apostas por ocasião das competições, buscando as eliminar
das regatas, encarando-as como sinal do atraso e da imoralidade das corridas de
cavalos. Muitas foram as críticas acerca dos escândalos e da perda do “caráter”
do esporte em função da preponderância da característica de jogo de azar, muito
observável nos eventos turfísticos (Melo, 2001).
A falta do dinheiro das apostas, contudo, criou problemas para a manutenção
Ainda que desde o século XIX alguns médicos já falassem dos malefícios do tabaco, vale lembrar
que chegaram a ser vendidos inclusive cigarros de maconha como remédio para vários problemas:
os Cigarros Indios, da francesa Grimault e Cia.
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das associações náuticas e organização das regatas. Em função dos altos custos, os
clubes precisavam contar com o apoio governamental (algo que sempre foi bastante
instável)16 ou como o auxílio de empresas diversas.
Se considerarmos que naquele fin de siècle já se instalara uma tensão no âmbito
das elites, entre os novos “empresários” e o velho capital de origem agroexportadora, podemos entender que parecia adequado pensar em um relacionamento mais
próximo entre aqueles que se apresentavam como responsáveis pela modernização
da sociedade brasileira: “capitalistas” e clubes de remo.
Vejamos a posição contemporânea de Teitelbaum (1997) acerca do envolvimento de empresas com os eventos esportivos:
Outra forma de ação utilizada para envolver marketing e esporte são os eventos.
Eles têm surgido como alternativa de contato com o público [...]. Esta opção, inclusive,
oferece menos riscos que o apoio a um atleta ou a uma equipe. Isto ocorre por um motivo muito singelo: um evento pode ser denominado com a própria marca da empresa,
atingindo todos aqueles que praticam ou apreciam o esporte em questão, sem o perigo
de que o patrocinador pareça antipático a uma torcida adversária, ou de que o mesmo
veja sua imagem sucumbir diante de uma eventual derrota ou deslize pessoal de um
patrocinado (p. 46).
Pois algo semelhante já era observado nos primeiros anos do século XX:
empresas, de forma diferenciada, envolviam-se com o apoio à realização das regatas.
Algumas constantemente ofereciam prêmios. Por exemplo, a cerveja Ritter e os
charutos Polock brindavam os vencedores com canivetes. A Ferreira Baltazar & C.
presenteava com caixas de vinho. Nesses casos, os nomes dos produtos eram exaltados tanto no momento da competição (notadamente na cerimônia de premiação)
quanto pelos jornais que divulgavam antes os programas e depois os resultados.
Outras empresas colaboravam com a montagem da infra-estrutura necessária
à realização das competições; por exemplo, com a confecção de flâmulas e com a
distribuição de folhetos com o programa dos páreos. Esse era o caso da Emulsão
da Farmácia Abreu Sobrinho e da Casa Kean. A logomarca das companhias era
estampada no material impresso, como podemos ver na notícia publicada em um
periódico: “Sabemos que serão distribuídos 20 programmas reclames com flammulas
coloridas de todas as Sociedade Federadas, para a regata do campeonato. Estes
programmas trazem reclames da Casa Kean e da Emulsão de Abreu Sobrinho” (A
Canoagem, jul. 1903, p. 4).
Houve casos em que a relação foi mesmo até mais forte, envolvendo investimentos financeiros maiores. Nesse caso, alguns páreos recebiam o nome dos
Para mais informações, ver estudo de Melo (2006b).
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apoiadores, algo constantemente observado com a Companhia de Ferro Carril do
Jardim Botânico e com a Sul-América Seguros.
É importante destacar a natureza simbólica do apoio da Jardim Botânico e da
Sul-América. A primeira empresa, criada em 1882, em substituição à pioneira Botanic
Garden Rail Road, incorporava o novo sentido de mobilidade e velocidade, bem
como celebrava os benefícios da “milagrosa” eletricidade, dimensões valorizadas em
uma cidade que se modernizava. A segunda estava ligada aos novos negócios que
cresciam no Rio de Janeiro. Companhias ligadas à ação e ao risco patrocinando o
esporte da modernidade: realmente explicitador das mudanças pelas quais passava
a sociedade carioca do momento17.
Na verdade, tais companhias pagavam a estrutura (como a montagem de
arquibancadas) e ofereciam troféus à Federação Brasileira de Sociedades de Remo
para que esta realizasse regatas anuais com seus nomes. Sobre tal incentivo, opina
Mendonça:
Não fôra o conhecimento exacto da sua propaganda por um exercício physico
todo benéfico e salutar, não fôra os relevantes serviços que o nosso paiz absorve com a
divulgação d’esse util sport e talvez não tivessemos o ensejo de fazer apologia da creação
d’esses honrosos premios (Mendonça, 1909, p. 84).
A fala meio envergonhada e cheia de justificativas de Mendonça pode dar uma
idéia das possíveis polêmicas acerca do relacionamento com as empresas. Poderia
soar como uma contradição a aceitação desses incentivos, já que os clubes de remo
muito se empenhavam em promover o amadorismo no esporte. Contudo, de um
lado os dirigentes estavam sem muitas opções, em função dos custos das regatas.
De outro lado, inclusive simbolicamente, tal relacionamento era interessante para
as associações náuticas.
Os dirigentes, assim, comemoravam o fato de estarem sendo apoiados pelos
“capitalistas”, mas sempre procuravam justificar tal incentivo, argumentando que tais
empresas o faziam por entender o valor do esporte para o progresso da nação.
Vejamos que isso se dá em um momento em que uma das referências simbólicas
era “make-money, primeiro dos mandamentos da obrigatória cartilha anglo-saxônica,
pela qual rezavam os discípulos recém-convertidos à nova ordem neocolonial”
(Sevcenko, 1998, p. 533).
Há aqui um só aparente paradoxo: fazer dinheiro era importante, o apoio
Vale lembrar que empresas do ramo financeiro continuam fortemente envolvidas com o esporte. A
própria Sul-América Seguros, já na década de 1980, foi uma das pioneiras na nova conformação da
idéia de apoio às práticas esportivas. Não devemos esquecer ainda do atual enorme investimento
do Banco do Brasil no voleibol nacional, entre outros.
17
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dos “capitalistas” fundamental, mas a prática esportiva era encarada como um lócus
simbólico de demonstração de status e distinção; não deveria ser entendida em si
como forma de obter lucros, antes sim uma maneira de exibir a saúde financeira.
Certamente essa concepção também servia como discurso/argumento para afastar
o conjunto da população de algumas das possibilidades da prática, reservando a integralidade de oportunidades aos membros nascidos no seio das “melhores famílias”.
Ao redor dessa consideração, futuramente seriam grandes os choques no esporte
brasileiro, notadamente no futebol, no qual se exacerbariam os embates entre os
que defendiam o profissionalismo e o amadorismo18.
Enfim, naquele momento, havia uma grande preocupação de que os apoios/
investimentos das empresas no remo não fossem entendidos como quebra da idéia
de amadorismo tão propagada. Por isso os clubes somente aceitavam “presentes” e
não incentivos financeiros diretos (isto é, não se aceitava pagamentos em dinheiro).
De qualquer maneira, creio que seja possível afirmar que esses indícios demarcam
os primórdios de uma relação de patrocínio no esporte nacional, considerando,
inclusive, uma posição contemporânea, como a de Teitelbaum (1997, p. 76)19:
Os negócios envolvendo patrocínio abrangem basicamente o apoio contratual e
pecuniário de organizações a atores do esporte – equipes ou atletas individuais – a ligação
do nome de uma empresa a um evento já consagrado ou a veiculação de mensagens
comerciais vinculadas a coberturas jornalísticas de acontecimentos pertencentes à esfera
esportiva.
À GUISA DE CONCLUSÃO
No decorrer do século XIX, os primórdios de uma indústria do lazer e do
entretenimento gestam-se no âmbito de uma sociedade que valoriza e se estrutura
a partir das idéias de consumo e espetáculo. Nesse contexto, ocupa o esporte um
lugar de destaque, articulado com todas as dimensões que impregnam a construção do ideário da modernidade. Nesse cenário, a prática esportiva vai estabelecer
relacionamentos com a nova conformação das propagandas, a configuração da
publicidade em seu sentido moderno.
No Rio de Janeiro do século XIX podemos identificar no Brasil os primórdios
desse relacionamento. Na transição para o século XX percebe-se o acirrar de uma
Mais informações sobre esses conflitos no futebol brasileiro podem ser obtidas no estudo de Soares
(1998). Para uma discussão sobre essa construção simbólica no campo esportivo como um todo,
ver estudo de Bourdieu (1983).
19
Para mais informações sobre os conceitos de patrocínio, ver também os estudos de Melo Neto
(1995) e Pitts e Stotlar (2002).
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relação que de alguma forma já existia com o turfe, esporte a pioneiramente se
estruturar em terras nacionais: a inserção da prática esportiva em propagandas de
diversos produtos.
Diversas companhias ampliavam as iniciativas de ligação de seu nome e/ou
de seus produtos às diferentes modalidades esportivas. Com a popularidade crescente dessas práticas, percebeu-se que seria interessante associá-las às suas marcas.
Nesse percurso, ajudaram a reforçar sentidos e significados de um determinado
conjunto de idéias e sensibilidades em construção. É interessante observar que é
também nesses momentos que se pode observar as primeiras iniciativas de apoio
governamental ao esporte20, bem como as primeiras experiências de patrocínio
por parte de empresas privadas.
Enfim, ontem, assim como hoje, a construção da imagem do moderno definitivamente envolveu/envolvia o esporte nas diversas estratégias que a cercam. E
para tal, os meios de difusão e divulgação foram fundamentais. Se considerarmos a
idéia de Baudelaire (1996), de que a modernidade era uma idéia fundamentalmente
construída em suas representações, tal a sua complexidade, talvez o esporte seja
exatamente aquilo que a publicidade dele o fez. Ou ao menos em grande parte
assim o seja.
Sport, advertising and publicity in Rio de Janeiro
of 19th-20th centuries transition
ABSTRACT: The sporting marketing in nowadays is pointed as one of the great strategies of
business: the ciphers are hyperbolic, difficult of measure with precision, accumulating a great
set of commercial activities. Its growth, in elapsing of century XX, is articulated with a series
of typical dimensions of the modernity, whose roots can be find in XIX century. Considering
the announcements as historical sources, expressions of certain values and behaviors, this
study has for objective to argue the relationships between sport, advertising and publicity in
Rio de Janeiro of the transition of XIX and XX centuries, searching to discuss the meanings
of the expressed representations.
KEY WORDS: Sport history; advertising, publicity; modernity.
Deporte, propaganda y publicidad en Rio de Janeiro
de la transicion de los siglos XIX y XX
RESUMEN: El marketing deportivo se señala hoy en día como una de las grandes estrategias
de negocios: las cifras son hiperbólicas, difíciles de medir con precisión, involucrando un gran
(continua)
Para mais informações, ver estudo de Melo (2006b).
20
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(continuação)
conjunto de actividades comerciales. Su crecimiento, en el transcurso del siglo XX, se articula
con una serie de dimensiones típicas de la modernidad, cuyas raíces pueden ser encontradas
en el siglo XIX. Considerando que los anuncios son fuentes históricas, expresiones de ciertos
valores y comportamientos, este estudio tiene por objetivo discutir las relaciones entre el
deporte, la propaganda y la publicidad en Río de Janeiro de la transición de los siglos XIX y
XX, buscando discutir los sentidos y significados de las representaciones expresadas.
PALABRAS CLAVES: Historia del deporte; propaganda; publicidad; modernidad.
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Recebido: 21 set. 2007
Aprovado: 24 fev. 2008
Endereço para correspondência
Praia de Botafogo, 472/810 – Botafogo
Rio de Janeiro-RJ
CEP 22250-040
40
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