V ários povos habitaram a Península Ibérica, os iberos (uniram-se aos celtas, originando os celtiberos), os fenícios (por volta do século X a.C., foram fundadas várias feitorias no litoral da península), gregos (no século VII a.C., fundaram colônias no sul), cartagineses e romanos (a península sofreu o processo de latinização com a conquista empreendida por Roma no século III a C.). genros, tornaram-se vassalos de D. Afonso VI. Nessa fase, os mouros foram expulsos do Condado Portucalense, o território foi ampliado, desenvolvendo-se a agricultura no interior e o comércio e pesca, no litoral. Os portugueses começaram a realizar grande comércio com outros povos, entre eles ingleses, flamengos e italianos. Cidades como Lisboa e Porto, tornaram-se importantes centros comerciais e a economia deixou de se basear apenas na agricultura. Desde o início o Condado Portucalense mostrou tendências separatistas. Após a morte de D. Henrique, sua esposa D. Teresa lutou pela independência. Seu filho D. Afonso Henriques, apoiou a mãe nessa luta e tornou-se fundador do reino de Portugal, em 1139. A dinastia de Borgonha é reconhecida pelo rei de Leão D. Afonso VII e pela Igreja que santificou o rei de Portugal como D. Afonso I. A Centralização Política (Fonte: CAMPOS, Flávio de. Oficina de História: História do Brasil. São Paulo. Moderna, 1999. p. 23) Os visigodos dominaram a região no século V, posteriormente, convertendo-se ao cristianismo. Os mouros, empreendendo a Guerra Santa, atravessaram o estreito de Gibraltar no século VIII e conquistaram grande parte da península. Os visigodos, agora cristãos, foram expulsos para o norte da Península pelos muçulmanos e organizaram um movimento de expulsão dos invasores: as Guerras de Reconquista. Durante a Reconquista nasceu Portugal. O Condado Por tucalense e a Dinastia de Borgonha Os antigos visigodos fundaram vários reinos cristãos no norte da península: Leão, Castela, Aragão e Navarra. D. Afonso VI, rei de Leão e Castela chefiou a Reconquista auxiliado pelos nobres franceses D. Henrique e D. Raimundo de Borgonha. Como recompensa por terem ajudado ao rei receberam as filhas de D. Afonso em casamento juntamente com terras. D. Raimundo recebeu terras ao norte do rio Minho, Dom Henrique de Borgonha originando o Condado de Galiza. D. Henrique recebeu o Condado Portucalense, localizado ao sul do mesmo rio. Seguindo o costume da época, ao ganharem as terras, os nobres de Borgonha, além de Como reino independente de Leão, Portugal foi comandado pela dinastia de Borgonha até 1383. Esse período é marcado pela luta de Portugal contra os mouros e pelas várias conquistas de territórios como a região do Algarve. A organização do Estado português foi profundamente influenciada pelas Guerras de Reconquista. A centralização política nas mãos do rei, chefe do exército, foi reforçada pela constante exigência de mobilização militar. Essa realidade destacou Portugal do resto da Europa, onde a descentralização política era dominante. O destaque dado ao rei fez o feudalismo português possuir uma característica única: as terras conquistadas aos mouros e entregues aos nobres não se transformaram em feudos independentes. As instituições municipais eram fortes e subordinadas ao soberano, e não aos nobres. Isso demonstra a precoce centralização política do reino de Portugal. Com a crise do século XIV, que afetou toda a Europa, Portugal obteve benefícios, já que, as rotas terrestres que ligavam as cidades italianas à região de Flandres tornaram-se perigosas e foram abandonadas pelos comerciantes. Portugal passou a ser uma das rotas que se apresentavam como seguras, transformando o país em importante centro comercial. Foi durante o reinado de D. Fernando, o Formoso (1367-1383), que a valorização das rotas atlânticas fortaleceram a burguesia mercantil, estimulando a navegação e o comércio. O fortalecimento da burguesia levou a nobreza a sentir-se ameaçada. Em 1383 D. Fernando faleceu levando o reino a uma situação muito complexa. Não deixando herdeiros homens e sua única filha sendo casada com o rei de Castela, era certo que o trono português passasse aos domínios de Castela. A Revolução de Avis “A anexação interessava aos nobres que se sentiam prejudicados pelo crescimento das cidades e da burguesia mercantil. Porém não interessava à burguesia mercantil e nem aos demais membros do terceiro estado, sobretudo aos camponeses e aos servos, pois estes percebiam que, com o fortalecimento da 1 HISTÓRIA B Formação de Portugal e Expansão Marítima Formação de Portugal e Expansão Marítima nobreza, suas condições tenderiam a piorar. Surge daí o apoio popular e da burguesia a um filho bastardo do pai de D. Fernando, o mestre de Avis, que representava as aspirações da camada burguesa, na luta contra as forças da nobreza aliada a Castela. Em meio à crise nacional que se desencadeou, as forças do Mestre de Avis, após dois anos de lutas, venceram definitivamente os seus opositores na batalha de Aljubarrota. Dom João de Avis O Mestre de Avis foi aclamado e reconhecido oficialmente rei – D. João I –, inaugurando a segunda e mais importante dinastia a governar Portugal, a dinastia de Avis. Com a ascensão de D. João I (1385), a burguesia, devido ao seu poder econômico, conseguiu influenciar o governo português, que se tornou a primeira monarquia nacional da Europa, criando as condições necessárias para a expansão marítimo-comercial.” (NADAI, Elza & NEVES, Joana. História do Brasil. Saraiva, São Paulo, 1997. pp. 32-33) Expansão Marítima e Comercial Européia Existia um abismo enorme entre o desejo dos europeus do século XV de se lançarem aos oceanos, para descobrir novas rotas comerciais e riquezas, e sua capacidade de realizar este desejo. Os conhecimentos dos europeus sobre a Terra e o universo eram insuficientes, eles desconheciam os oceanos e não possuíam navios e instrumentos náuticos adequados para viajar em mar aberto. No período anterior aos grandes descobrimentos foi imprescindível a realização de numerosas transformações científicas e técnicas, além de todas as transformações políticas, culturais, econômicas e sociais. Foi muito importante a invenção de novos instrumentos, a criação de novos conhecimentos e aperfeiçoamento dos já existentes. Boa parte dessas transformações cientificas e técnicas ocorreram antes das grandes navegações. A maioria delas, entretanto, ocorreu à medida que portugueses e espanhóis se lançaram aos mares. As idéias que os europeus do início do século XV tinham do Universo baseavam-se principalmente nas noções muito antigas do filósofo Aristóteles e do astrônomo Ptolomeu. De acordo com esses estudiosos, a Terra, imóvel, era o centro do universo. A lua, o sol e os outros planetas giravam em torno dela (geocentrismo). As idéias européias no início do século XV sobre o planeta estavam muito distantes da realidade. Uns achavam que a Terra era quadrada, porém a maior parte das pessoas acreditava que ela possuía a forma de um disco, achatada, terminando de repente em um abismo. Os mapas da época não se preocupavam em reproduzir a distribuição espacial de continentes, países e mares sobre a Terra. Inúmeros desenhos, dispostos por todo o mapa e em suas bordas, misturavam elementos reais, relativos a vegetação, animais, relevo, etc., com fantasias. Costumavam misturar lendas com conhecimentos geográficos, realidade e imaginação. Acreditavam em países imaginários como Offir (lugar de origem dos tesouros de Salomão). Cristóvão 2 Colombo e Sebastião Caboto buscaram Offir na América e outros navegantes pensavam que ele se encontrava na África. (Para os europeus, o novo mundo era povoado por seres fantásticos. Ilustração Théodore de XVI) Existia, na época, a menção ao reino de imaginário doBry, reiséc. cristão Preste João. Nele habitavam as cavaleiras amazonas, as relíquias de São Tomé, a fonte da juventude e enormes rios de ouro, prata e pedras preciosas. A ignorância da época fazia surgir o medo. A crença de que nos oceanos moravam terríveis monstros, prontos a atacar os marinheiros era comum entre os europeus. A crença nas sereias era muito forte, Colombo dizia que tinha avistado-as na América e o padre jesuíta Henry Enriquez na ilha Manor, juntamente com tritões, como eram conhecidos os homenssereias. Houve uma verdadeira revolução sobre os conhecimentos a cerca do universo e da terra em particular, a partir do século XV. Nicolau Copérnico, astrônomo polonês do século XVI apresentou aos europeus uma nova teoria: o Sol como centro do universo. Copérnico manteve a idéia medieval do universo – o universo finito – porém, suas noções astronômicas abriram caminho para que, mais tarde, outros cientistas como Giordano Bruno, Galileu Galilei e Newton estabelecessem novas bases para a física e a astronomia, redescobrindo o universo. Essa nova astronomia foi fundamental para a orientação em alto-mar. A partir do século XIII houve a difusão, na Europa, da bússola, antiga invenção de origem provavelmente chinesa popularizada pelos árabes, permitindo o planejamento das rotas. No século XV ocorreu a simplificação de alguns instrumentos já conhecidos como o astrolábio e o quadrante, e a invenção de outros como a balestilha. Em 1418, o Infante D. Henrique, o “Navegador” instalou em seu castelo em Sagres, no promontório (cabo formado de rochas elevadas) mais saliente e mais isolado do sul de Portugal, um importante centro de estudos de Geografia e Cartografia. Na “Escola de Sagres” reuniramse os mais competentes cientistas, Astrolábio estudiosos e técnicos de todo o mundo, Formação de Portugal e Expansão Marítima que produziram enorme soma de conhecimentos. Dali se coordenou toda a expansão portuguesa. As embarcações, até então destinadas apenas à navegação Balestilha Bússola Quadrante Ampulheta (Fonte: AMADO, Janaína & FIGUEIREDO, Luiz Carlos. Medo e vitória nos mares: perigos reais e imaginários nas navegações. São Paulo. Atual, 1999. pp. 27 e 28) costeira, foram aperfeiçoadas para atingirem o alto-mar. Para atender as novas necessidades da navegação, os portugueses inventaram a caravela, a embarcação símbolo dos grandes descobrimentos. Os europeus estavam preparados. Dava-se início a fantástica aventura pelos oceanos, pelos “mares nunca dantes navegados” como se referiu Luís de Camões em sua obra Os Lusíadas. Causas Geradoras A Expansão Marítima Européia dos séculos XV e XVI apresentou-se como um dos mais incríveis eventos históricos de todos os tempos. Tendo Portugal como pioneiro no processo, ela (Ceuta, no Marrocos. Gravura da obra Civitates Orbis Terrarum, de Georgius Braunius e Franz Hohemberg. Fonte: AMADO, Janaína & FIGUEIREDO, Luiz Carlos. Medo e vitória nos mares: perigos reais e imaginários nas navegações. São Paulo. Atual, 1999. p. 16) se iniciou com a conquista de Ceuta no norte da África (atual Marrocos), e teve seu ápice na chegada dos europeus renascentistas à Ásia e à América. A forma de organização política, o modelo econômico e os valores culturais da civilização européia, burguesa e cristã foram levados a todos os lugares da Terra, atingindo organizações sociais que se achavam em diversos estágios de desenvolvimento cultural. A Expansão européia esteve completamente relacionada com a crise do século XIV. Os banqueiros e os comerciantes que formavam a burguesia nascente juntamente com os Estados Nacionais recémformados precisavam encontrar alternativas econômicas fora da Europa, já que o mercado continental apresentava-se muito restrito e envolto em crises que o tornava instável. Esse panorama determinou a expansão, cuja realidade deveuse a algumas causas: Os avanços tecno-científicos atingidos no início da Idade Moderna facilitaram a empresa expansionista, pois colocavam à disposição dos grupos envolvidos no processo um grande número de instrumentos novos e técnicas de navegação. É importante lembrar que no mesmo período – início da Idade moderna – o continente europeu passava pelo chamado Renascimento Cultural, movimento artístico-científico que mudou o pensamento de toda a cristandade ocidental. Os homens se tornaram mais destemidos, investigativos e aventureiros; A necessidade de buscar diferentes caminhos comerciais para as cidades orientais que não passassem pelo Mediterrâneo, já que o domínio das rotas mediterrânicas e dos pontos de comércio era dos mercadores árabes e italianos, respaldados por um considerável poder naval. Esse monopólio árabe-italiano representava um empecilho ao desenvolvimento da burguesia de outras partes da Europa ao passo que encarecia os produtos que chegavam aos mercados do centro e norte do continente. Para os países do litoral atlântico europeu, a abertura de novas frentes de comércio estaria no primeiro momento ligada ao Norte da África e ao litoral atlântico-africano. A retomada do crescimento econômico europeu poderia também ser feita através da reativação do lucrativo comércio oriental, no qual se destacavam os artigos de luxo (sedas, perfumes, objetos de marfim, jóias, etc.) e as famosas especiarias (cravo, pimenta, canela, noz-moscada, baunilha e gengibre); (Fonte: NOVAES, Carlos Eduardo & LOBO, César. História do Brasil para principiantes: de Cabral a Cardoso, 500 anos de novela. São Paulo. Ática, 1999. p. 17) O apoio dos Estados Nacionais Modernos ao empreendimento expansionista da burguesia foi primordial para o processo, pois diante da situação de crise apresentada, somente o Estado centralizado e forte poderia angariar recursos em escala nacional 3 Formação de Portugal e Expansão Marítima para investir num negócio tão fantasticamente grande; A escassez de metais preciosos para a cunhagem de moedas no continente europeu era um problema grave desde o início da Baixa Idade Média, em virtude da canalização de moedas para o Oriente, por intermédio do comércio de especiarias feito principalmente pelas cidades italianas. A expansão poderia proporcionar um afluxo de metais preciosos, obtidos através do comércio ou da exploração de jazidas que fossem eventualmente descobertas; A ascensão da burguesia (aliada ao rei) e o processo de crescimento urbano. Este último se refletia diretamente no aumento do consumo de produtos orientais, devido à mudança nos hábitos da população abastada das cidades européias; Os interesses da Igreja Católica, preocupada em expandir a fé para outros continentes, já que crescia a influência do movimento protestante. Esse ideal cruzadístico deve ser visto como um elemento de justificativa utilizado pela Igreja e pela nobreza tradicional. Tal ideal, ao apregoar a expansão da fé cristã, está relacionado ao interesse em se conquistarem terras aos árabes, à derrota do mundo muçulmano e à prática do saque. Pioneirismo Português Dos países participantes da Expansão Marítima (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda), coube a Portugal o pioneirismo e a liderança inicial. A primazia portuguesa resultou fundamentalmente de um conjunto de fatores político-econômicos, envolvendo o processo de centralização política e a formação de uma monarquia nacional precoce. O fortalecimento do poder monárquico aconteceu a partir da dinastia de Avis, contou com o apoio de uma dinâmica burguesia mercantil. Além disso, Portugal gozava de uma situação de estabilidade interna e externa, conseguida após a ascensão de D. João I de Avis ao trono. Foi importante o apoio do Estado Português aos estudos e à arte náutica, através do trabalho do Infante D. Henrique. Outro fator que colocou Portugal na condição de país pioneiro foi sua posição geográfica privilegiada – voltado para o oceano Atlântico e próximo do litoral africano. Como a Guerra dos Cem Anos interrompera a ligação terrestre entre a Itália e os Países Baixos, Lisboa tornara-se escala na rota do Mar Mediterrâneo-Atlântico, que alcançava o Mar do Norte e importantes centros comerciais daquela área. Dessa forma, Portugal adquiria importância no comércio marítimo europeu, contando com portos adequados a essa atividade. Viagens Por tuguesas (Ciclo de Navegação Oriental ou Africano) Em 1415, aconteceu a tomada de Ceuta primeiro centro de atração para os portugueses, por ser ponto de confluência de duas importantes rotas terrestres: de especiarias e sedas orientais; de ouro e escravos da África negra. Ao conquistar essa cidade, Portugal tinha dois objetivos: 4 conter a pirataria no Estreito de Gibraltar e reduzir a influência muçulmana aos limites terrestres do Marrocos. Após a tomada de Ceuta, os navios portugueses atingiram a ilha da madeira em 1419, o arquipélago dos Açores em 1431. Gil Eanes ultrapassa o Cabo Bojador em 1434, o que permitiu aos portugueses atingirem o golfo da Guiné. Nos anos seguintes os descobrimentos foram se sucedendo: Cabo Branco, foz do rio Senegal, Gâmbia e Serra Leoa. Enquanto os portugueses se aventuravam pelo Atlântico, o preço das especiarias orientais – cujo comércio na Europa era monopolizado por genoveses e venezianos – aumentava cada vez mais. Diante disso, tornava-se necessário quebrar esse monopólio e tentar baixar os preços dos produtos vindos do Oriente. Em 1453, quando os turcos conquistaram a cidade de Constantinopla, o comércio das especiarias realizado pelo Mediterrâneo foi praticamente bloqueado, o que precipitou os acontecimentos. Mais do que nunca, era necessário descobrir um caminho marítimo para as Índias. Portugal intensificou suas navegações, numa tentativa de chegar às Índias contornando a África e navegando para o leste ou oriente. Em 1456, Cadamosto descobre as ilhas de Cabo Verde e em 1471 houve a tomada de Tanger. Diogo Cão conquista o Congo em 1482 e acontece a construção da fortaleza de São Jorge da Mina, importante centro de tráfico negreiro. Em 1487, Pêro Da Covilhá fez uma viagem terrestre para as Índias através do Egito. Bartolomeu Dias contornou o Cabo das Tormentas no extremo sul da África em 1488, cujo nome, por sugestão do rei, foi substituído para cabo da Boa Esperança. Acreditava-se que, dobrando o cabo, estaria descoberto o caminho marítimo para as tão sonhadas Índias, fato que tornou-se realidade quando, em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, abrindo a conquista da rota das especiarias para a coroa de Portugal. O “Descobrimento” do Brasil Formação de Portugal e Expansão Marítima Vasco da Gama ao voltar da Índia em 1499, trouxe uma grande quantidade de especiarias e mostrou a Portugal que este poderia obter surpreendentes lucros com as mercadorias asiáticas. Portanto, era necessário consolidar o império colonial português na Ásia e criar novas frentes de comércio. Supostamente com o objetivo de viajar às Índias, D. Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal, armou a maior esquadra até então organizada. A esquadra foi comandada por Pedro Álvares de Gouveia Cabral, fidalgo descendente de navegadores e excelente diplomata. Era composta por 13 embarcações, entre naus, caravelas e embarcações financiadas por particulares, além de cerca de 1.500 homens. Estes eram em sua maioria militares, já que a pretensão da expedição era fundar na Índia uma feitoria que servisse de base a futuras conquistas no Oriente. Além dessa pretensão oficial, imagina-se que Cabral tenha sido orientado a fazer o reconhecimento do Atlântico Sul. Isso significaria tomar posse, em nome do rei português, das terras estabelecidas nos limites traçados pelo Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha, em 1494. No comando dos navios estavam os mais experientes comandantes e pilotos portugueses do momento. A esquadra contava com notáveis e hábeis navegadores, como Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho (participara da expedição de Vasco da Gama), Simão Miranda, Sancho de Tovar, Pedro de Ataíde, Gaspar de Lemos, Pero Vaz de Caminha (escrivão da feitoria que Cabral deveria instalar em Calicute), mestre João (médico do rei, físico e cosmógrafo da esquadra), frei Henrique Soares de Coimbra (chefiava frades franciscanos), além de marinheiros, soldados, interpretes, mercadores e degredados. A esquadra partiu do Tejo, em 9 de março de 1.500. Os primeiros sinais de terra próxima surgiram no dia 21 de abril, no dia seguinte avistaram no horizonte um monte, ao qual, por ser tempo de páscoa, foi dado o nome de monte Pascoal. Os portugueses, por julgarem estar aproximando-se de uma ilha, deram-lhe o nome de ilha de Vera Cruz. Mais tarde, seu nome mudou para Terra de santa Cruz. Posteriormente a terra recebeu o nome de Terra do Pau-brasil e finalmente Brasil. Os documentos que envolvem o descobrimento são: Carta de Pero Vaz de Caminha (após ter sido entregue a D. Manuel, ficou desaparecida até o início do século XIX). Carta de D. Manuel I aos reis da Espanha, datada de 1501. Relatório do piloto anônimo (não-oficial e redigido por um dos pilotos de bordo, de identidade ignorada). Relatório do Mestre João (cosmógrafo da esquadra, já citado acima). Aspectos Polêmicos Sobre o Descobrimento Segundo alguns historiadores, a chegada de Cabral ao Brasil, em abril de 1500, foi obra do acaso. Afirmam que a esquadra após a passagem pelo arquipélago de cabo Verde, afastou-se da Costa africana para evitar calmarias, no Golfo da Guiné. O afastamento, entretanto, mostrou-se excessivo e fez com que os barcos impulsionados por uma tempestade ou, quem sabe, por uma corrente marítima na direção sudeste, chegassem ao litoral da Bahia. A documentação disponível sobre a viagem de Cabral não faz qualquer alusão a tempestades ou correntes marítimas, nem tão pouco a desvio descomunal de rota. É bom lembrar que uma tempestade teria separado a armada ou danificado a maior parte das naus. A corrente marítima que atravessa o Atlântico da África para a América (corrente do Equador) não levaria a frota para a Bahia, os barcos teriam sido jogados pela corrente das Guianas ou a do Brasil para a região de Cabo Frio. Ao que tudo indica, o desvio da esquadra de Cabral da rota planejada para chegar ao Oriente não foi casual, mas sim intencional. Os portugueses já conheciam a rota marítima para as Índias – a viagem de Vasco da Gama é um exemplo -, e com todo esse conhecimento não havia como se perder. O afastamento excessivo em relação ao litoral africano, não só já era planejado e previsto como conhecido. Ao instruir Cabral para a viagem, Vasco da Gama recomendou que se fizesse uma navegação em arco calculando, portanto, o afastamento das naus em relação ao litoral africano. Além do mais, um afastamento não planejado seria incompatível com a famosa experiência dos comandantes e pilotos portugueses. É bom lembrar que navegadores com grande conhecimento em viagens atlânticas integravam à esquadra como Bartolomeu Dias, Duarte Pacheco Pereira e Nicolau Coelho. Os relatórios citados como documentos do descobrimento 5 Formação de Portugal e Expansão Marítima não fazem menção de problemas dignos de destaque, a não ser pelo misterioso desaparecimento da nau comandada por Vasco de Ataíde. Em sua carta escrita a D. Manuel, Pero Vaz de Caminha se perdeu em detalhes, discorrendo sobre as belezas da terra e sobre os costumes dos índios, entretanto em nenhum momento demonstrou surpresa ao chegar à nova terra nem falou em perda de rota ou desvio da esquadra ocasionado por calmarias, tempestades ou correntes marítimas. Na carta ele afirma que os navegadores “seguiram a derrota pelo mar de longo”, ou seja, atravessaram o Atlântico. Cabral enviou um navio (caravela de Gaspar de Lemos) para o reino, levando a carta de Caminha a D. Manuel I. Dificilmente ele iria desfalcar sua frota, se isso não estivesse planejado. O rei enviou uma carta aos reis da Espanha deixando claro que os portugueses já possuíam conhecimento sobre as terras do Atlântico Sul. Ele afirma que Cabral “chegou a uma terra que novamente descobriu, a que pôs nome de Santa Cruz” e que era “mui conveniente e necessária à navegação da Índia, porque ali corrigiu suas naus e tomou água”. Outros fatos corroboram a intencionalidade do descobrimento: Portugal, num claro sinal de que sabia da existência de terras nessa região, havia se recusado a assinar a Bula Inter Coetera em 1493. D. João II, predecessor de D. Manuel I, insistiu, até ameaçando a Espanha, na alteração feita pelo Papa Alexandre VI. A Espanha cedeu e Portugal conseguiu aumentar suas posses no Atlântico através do Tratado de Tordesilhas. Essa insistência somente se justificaria se Portugal já tivesse conhecimento da existência de terras na área a ser dividida entre os dois países. Uma hipótese provável é a de que outras expedições portuguesas aportaram em terras americanas antes de 1.500 – como a de Duarte Pacheco Pereira, em 1498 – , das quais pouco se sabe. Essa idéia é fortalecida pela referência feita por Mestre João à existência de um certo mapa, o que revelaria um conhecimento pré-cabralino de terras no outro lado do Atlântico. Isso justificaria também a grandiosidade da expedição, com cerca de 1.500 homens, e o fato de o comandante não ser o navegador mais experiente a bordo, mas um renomado funcionário da Coroa portuguesa. Não convinha a Portugal anunciar sua intenção de encontrar terras no outro lado do Atlântico, tendo em vista a política do sigilo adotada pelos monarcas portugueses para proteger as terras recémdescobertas da cobiça de outros países. Existe também uma discussão quanto à “primazia” dos primeiros a chegar ao Brasil. Os franceses lutaram por esse privilégio, tendo como argumento a viagem de Jean Cousin, realizada em 1488. Sabe-se, entretanto, que em janeiro de 1.500, antes da viagem de Cabral, os espanhóis estiveram aqui. Vicente Yañes Pinzón e Diogo de Lepe, acidentalmente, passaram pelo litoral nordestino e norte descobrindo a foz do rio Amazonas, que na época foi chamado de mar Dulce. Expansão Espanhola (Ciclo Ocidental das Navegações) O atraso da Espanha nas navegações foi causado pelas Guerras de Reconquista e pela demora na centralização política. Em 1492, Cristóvão Colombo iniciou a expansão espanhola. Provavelmente nascido em Gênova, apaixonado por navegação, casado com a filha de um navegador português (Bartolomeu Perestrello), era adepto da teoria da esfericidade da Terra. Contrariamente aos 6 portugueses, Colombo pregava que, para atingir as Índias, seria necessário navegar para o ocidente ou oeste. Afirmava, também, que as Índias não estavam tão distantes da Europa. Na época, os conhecimentos sobre o tamanho da Terra eram bastante precários. Durante anos, Colombo ofereceu seu plano de viagem aos soberanos europeus. Em 1485, o plano foi oferecido a D. João II de Portugal, mas foi recusado. Sem concorrentes, os portugueses estavam muito mais interessados em contornar a África e tocar pontos daquele litoral. Navegavam com a certeza de que, em breve, estariam com o monopólio das especiarias do Oriente. Colombo ofereceu seu plano aos ingleses que não demonstraram interesse e em seguida, aos espanhóis, insistindo que era possível chegar ao Oriente navegando para o ocidente. Porém, os espanhóis encontravam-se preocupados com a completa expulsão dos árabes de suas terras, as navegações poderiam esperar. Foi preciso que se passassem alguns anos para que os espanhóis aceitassem o projeto de Colombo. A centralização espanhola Cristóvão Colombo veio com o casamento de Isabel de Castela e Fernão de Aragão, os “Reis Católicos”, em 1469. O casamento uniu os exércitos dos dois reinos e facilitou a expulsão dos mouros de Granada, último reduto muçulmano na Península Ibérica. O fato ocorreu em janeiro de 1492. No mesmo ano, Colombo recebeu o patrocínio dos reis católicos da Espanha: a nau Santa Maria, as caravelas Pinta e Niña, além de uma tripulação de 87 homens. O primeiro grande feito espanhol foi o descobrimento da América. Partindo do porto de Palos no mês de agosto, Colombo navegou para o ocidente. Ele esperava encontrar a mesma paisagem descrita por Marco Pólo em seu livro Il Milione, no qual descreve sua viagem ao Oriente. Em 12 de outubro, Colombo chegou à América Central, mais precisamente ao arquipélago das Bahamas ou Lucaias. Atingindo a ilha de Guanaani (mais tarde São Salvador), também chegou a Cuba e São Domingos. Apesar da diferença na paisagem, acreditava ter atingido o Japão e chamou de índios os nativos que encontrou na nova terra, imaginando ter atingido as Índias, Colombo empreendeu mais três viagens ao continente americano, tentando estabelecer contato com as “ricas regiões do comércio oriental”. Um dos companheiros de viagem de Colombo na primeira viagem foi Vicente Yáñez Pinzón, o predecessor de Cabral na chegada ao Brasil. Colombo nunca soube que havia chegado a um novo continente. Morreu em 1506, pobre e desacreditado, num convento em Valladolid, na Espanha. Em 1504 coube a Américo Vespúcio, navegador florentino, desfazer o engano, daí a nova terra receberia, em sua homenagem, o nome de América. Ele também é responsável pelo primeiro reconhecimento do rio Amazonas. A Flórida é atingida em 1512 por Ponce de Leon. Através da América Central, Vasco Nunes Balboa chega ao Oceano Pacífico. A primeira viagem de circunavegação em torno do mundo foi iniciada por Fernão de Magalhães. Em 1519, ele descobre o estreito que liga o Oceano Atlântico ao Pacifico, no extremo sul da América. Morre nas Filipinas em 1521, e sua viagem é completada em 1522 por Sebastião Delcano. Em 1519, Hernán Cortez conquista Formação de Portugal e Expansão Marítima o México e submete os astecas. Francisco Pizarro conquista o Peru e submete os Incas entre 1531 e 1538. Participação da França, Inglaterra e Holanda na Expansão Marítima A França retardou sua expansão por causa da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) contra a Inglaterra. A expansão francesa abrangeu as dinastias de Valois e Bourbon. Expansão Francesa 1523 – Sebastiano Verrazzano atingiu o litoral do Canadá e norte dos atuais EUA. 1524 – Jacques Cartier chegou ao Canadá, penetrou no rio São Lourenço e fundou a colônia da Nova França. 1555/1567 – Nicolau de Villegaignon criou a França Antártica no Rio de Janeiro. 1608 – Samuel Champlain fundou a cidade de Québec. 1612/1615 – Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière criou a França Equinocial no Maranhão. 1643/1715 – Penetração francesa na Índia. 1673 – O padre Marquette realiza uma expedição pelo rio Mississipi. 1682 – Robert Cavelier de La Salle fundou as cidades de Saint Louis e Nova Orleans, surgindo assim a colônia da Luisiana. O principal motivo do retardo da expansão inglesa foi a instabilidade gerada por dois conflitos prolongados: a Guerra dos Cem Anos (já citada acima) e a Guerra das Duas Rosas (1455-1485) conflito exclusivamente inglês. Expansão Inglesa 1497/98 – Os italianos João e Sebastião Caboto atingiram a Península do Labrador, no atual Canadá. 1584/1587 – Walter Raleigh tentou estabelecer colônias nas regiões da Flórida e da Virgínia. 1587/1590 – Francis Drake realizou a segunda viagem de circunavegação, assinalando o início da presença inglesa nos mares do Oriente. 1607 – John Smith fundou a primeira colônia inglesa: a Virgínia (EUA). Expansão Holandesa Os holandeses (flamengos) participaram ativamente da expansão após a formação das Províncias Unidas dos Países Baixos, que se proclamou independente da Espanha em 1576. Através da criação da Companhia das Índias Orientais e da Companhia das Índias Ocidentais, os holandeses iniciaram sua penetração nos territórios pertencentes a Espanha e Portugal. Fizeram duas investidas no Brasil (Bahia e Pernambuco). Na mesma época realizaram conquistas na África Portuguesa e na Índia. Estabeleceram-se na América do Sul, fundando a Guiana Holandesa (Suriname) e na América do Norte, fundaram a colônia de Nova Amsterdã (mais tarde, Nova York). Tratados de limites entres Portugal e Espanha Tratado de Toledo (1480) A Espanha reconheceu que Portugal teria direito a todas as terras localizadas ao sul das ilhas Canárias. Bula Inter Coetera (1493) Ao retornar de sua primeira viagem às terras americanas afirmando ter chegado às Índias, Colombo provocou uma polêmica entre Portugal e Espanha. Ao tomar conhecimento dos resultados da viagem espanhola, o governo português se desesperou, pois, em 1493, ano em que Colombo regressou de sua viagem, os portugueses haviam chegado apenas ao extremo sul da África. Para que as novas terras passassem a pertencer à Espanha, os espanhóis procuraram resolver a questão de maneira pacífica, acionando como arbítrio o papa Alexandre VI, que decretou a Bula Inter Coetera. De acordo com ela, deveriam ser contadas 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, onde passaria um meridiano. As terras situadas a oeste do meridiano seriam da Espanha e as que ficassem a leste pertenceriam a Portugal. O rei de Portugal, D. João II, não aceitou a decisão do papa, ameaçando a Espanha de guerra, caso a bula não fosse anulada. Por meio dela, segundo os conhecimentos da época, Portugal ficaria apenas com água, deixando as terras para os espanhóis. Tratado de Tordesilhas (1494) Tudo leva a crer que Portugal já sabia da existência do Brasil, caso contrário não teria pressionado o soberano espanhol para anular a bula papal nem teria aventado a hipótese de declarar guerra à Espanha. A anulação da bula foi seguida da assinatura do Tratado de Tordesilhas, e o número de léguas foi aumentado para 370. Se demarcássemos essa linha atualmente, ela passaria, ao norte, em Belém e, ao sul, na cidade de Laguna, em Santa Catarina. Assim, antes mesmo da viagem de Cabral realizada em 1500, uma parte do Brasil passava a pertencer aos portugueses. Devemos lembrar que, pelo novo tratado, a Espanha teria direito a mais da metade do nosso atual território e que o Tratado de Tordesilhas só seria derrubado em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri. Principais Conseqüências da Expansão Marítima Mudança do eixo econômico europeu do Mediterrâneo para o Atlântico-Índico. Acumulação primitiva de capitais. Formação do sistema colonial tradicional. Fortalecimento do Estado Moderno Reaparecimento da escravidão nas áreas coloniais. Processo de europeização do mundo O Mercantilismo Para compreendermos a inserção da colonização brasileira na história do mundo europeu, precisamos notar que ela acontece como conseqüência de um processo de desenvolvimento econômico mais amplo: o Capitalismo Comercial, também conhecido como mercantilismo. 7 Formação de Portugal e Expansão Marítima O mercantilismo foi a política econômica do Estado Absolutista e visava o fortalecimento do poder do Estado. Foi a partir do mercantilismo que se deu a conexão entre a dimensão política (Absolutismo) e a vida econômica (Capitalismo Comercial). Cinco elementos básicos compunham a política mercantilista: 1. Metalismo: política de acúmulo de metais preciosos (ouro e prata), em que o índice da riqueza era medido pela quantidade de metal que o país possuía. 2. Balança comercial favorável: caracterizava-se pelo superávit da exportação em relação à importação, obtido pela prática de vender mais caro e em maior quantidade e comprar mais barato e em menor quantidade. 3. Medidas protecionistas: adoção de políticas protetoras em relação a certas atividades econômicas através dos quais o Estado, com o aumento das tarifas alfandegárias, procurava diminuir as importações, visando ao superávit econômico. 4. Incentivo às manufaturas. 5. Sistema Colonial: sistema em que o enriquecimento da economia pressupunha a posse de colônias. Na relação entre metrópole e colônias, o papel desta última estava claramente definido: a colônia existia para enriquecer a metrópole e suas atividades comerciais eram controladas exclusivamente pela metrópole. O Brasil nos Quadros do Sistema Colonial Mercantilista O sistema colonial é o conjunto de relações entre as metrópoles e suas respectivas colônias em uma determinada época histórica. O sistema colonial que nos interessa abrangeu o período entre o século XVI e o século XVII, ou seja, faz parte do Antigo Regime da época moderna e é conhecido como antigo sistema colonial. Segundo o seu modelo teórico típico, a colônia deveria ser um local de consumo (mercado) para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a metrópole e de ocupação para os trabalhadores da metrópole. Em outras palavras, dentro da lógica do “Sistema Colonial Mercantilista” tradicional, a colônia existia para desenvolver a metrópole, principalmente através do acúmulo de riquezas, seja através do extrativismo ou de práticas agrícolas mais ou menos sofisticadas. Uma Colônia de Exploração, como foi o caso do Brasil para Portugal, tem basicamente três características, conhecidas pelo termo técnico de “plantation”: Latifúndio: as terras são distribuídas em grandes propriedades rurais; Monocultura voltada ao mercado exterior: há um “produto-rei” em torno do qual toda a produção da colônia se concentra (no caso brasileiro, ora é o açúcar, ora a borracha, ora o café...) para a exportação e enriquecimento da metrópole, em detrimento da produção para o consumo ou o mercado interno. Mão-de-obra escrava: o negro africano era trazido sobre o mar entre cadeias e, além de ser mercadoria cara, era uma mercadoria que gerava riqueza com o seu trabalho... O sentido da colonização – A atividade colonizadora européia aparece como desdobramento da expansão puramente comercial. Passou-se da circulação (comércio) para a p­ rodução, no caso português, esse movimento realizou-se através da agricultura tropical. Os dois tipos de atividade, circulação e produção, 8 coexistiram. Isso significa que a economia colonial ficou atrelada ao comércio europeu. Segundo Caio Prado Jr., o sentido da colonização era explícito: “fornecer produtos tropicais e minerais para o mercado externo”. Assim, o antigo sistema colonial apareceu como elemento da expansão mercantil da Europa, regulado pelos interesses da burguesia comercial. A conseqüência lógica, segundo Fernando A. Novais, foi a colônia transformar-se em instrumento de poder da metrópole, o fio condutor, a prática mercantilista, visara essencialmente o poder do próprio Estado. As razões da colonização – A centralização do poder foi condição para os países saírem em busca de novos mercados, organizando-se, assim, as bases do absolutismo e do capitalismo comercial. Com isso, surgiram rivalidades entre os países. Portugal e Espanha ficaram ameaçados pelo crescimento de outras potências. Acordos anteriores, como o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal e a Espanha, começaram a ser questionados pelos países em expansão. A descoberta de ouro e prata no México e no Peru funcionou como estímulo ao início da colonização portuguesa. Outro fator que obrigou Portugal a investir na América foi a crise do comércio indiano. A frágil burguesia lusitana dependia cada vez mais da distribuição dos produtos orientais feita pelos comerciantes flamengos (Flandres), que impunham os preços e acumulavam os lucros.