ANGICO, AROEIRA E QUIXABA - CONHECIMENTO E COMERCIALIZAÇÃO PELOS HERBANÁRIOS DA FEIRA LIVRE DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – PE Marília Gabrielle Santos [email protected] Thais Rafaela Lira Cavalcanti,Caio César Lira Cavalcanti,Suelen de Melo Lima,René Duarte Martins RESUMO Introdução: Iniciada antes da medicina moderna, a medicina tradicional é definida como sendo a soma de todos os conhecimentos teóricos e práticos, utilizados para diagnóstico, prevenção e tratamentos físicos, mentais ou sociais, baseados exclusivamente na experiência e observação, transmitidos verbalmente ou por escrito de geração a outra. Muitas sociedades tradicionais ou autóctones possuem uma vasta farmacopéia natural, em boa parte proveniente dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas populações. Define-se como planta medicinal qualquer vegetal que tenha em sua composição elementos que propiciem a cura e que sejam utilizados na forma de remédio (caseiro ou não). A humanidade utiliza esse recurso natural desde alguns séculos antes de Cristo, primeiro para fins condimentares, e mais tarde para a cura de suas enfermidades. É importante avaliar se o uso de plantas medicinais decorre de um conhecimento tradicional, embasado na experiência direta dos membros da comunidade, ou resulta de contatos com fontes externas à cultura local, como migrantes ou veículos de comunicação (livros, rádio, televisão). O interesse acadêmico a respeito do conhecimento que estas populações detêm sobre plantas têm crescido após a constatação de que a base empírica desenvolvida por elas ao longo de séculos, pode em muitos casos, ter uma comprovação científica. Conhecer a utilização e os princípios terapêuticos das plantas medicinais torna-se muitas vezes uma forma de determinadas comunidades buscarem soluções mais rápidas, práticas e de baixo custo para resolver fragilidades que abatem a saúde humana. Objetivos: analisar o nível de conhecimento dos herbanários do município de Vitória de Santo Antão - PE sobre as plantas medicinais popularmente conhecidas como angico, quixaba e aroeira. Metodologia: o estudo foi do tipo descritivo transversal, e os dados referentes à pesquisa foram obtidos a partir da aplicação de um roteiro de entrevistas dirigido a seis raizeiros. Algumas amostras foram coletadas para arquivamento no Laboratório de Fisiologia, Farmacologia e Fitoterapia da UFPE/CAV. As informações obtidas foram verificadas cientificamente através de literatura qualificada, como livros, artigos científicos e sites de referência. Resultados: Com relação à quixaba, foi verificado um predomínio de ação antiinflamatória (80%). Relataram também que é uma planta cultivada em local seco e 1 de difícil acesso. Indicada na forma de chás (80%) e lambedor (20%), também sendo indicada a associação com jatobá, caju-roxo, agrião, flor de colônia, hortelã, cedro, barbatimão, flor de sabugo, pau d’arco roxo, malva-rosa e vargem de jucá. Na presente pesquisa a ação antiinflamatória da quixaba foi coincidente entre o uso popular e as indicações científicas descritas na literatura, com ressalvas importantes sobre as associações. Com relação ao angico, 60% dos raizeiros revelaram que é eficaz no combate à tosse e 40% afirmaram poder antiinflamatório. Porém, o que nenhum dos raizeiros mencionaram foi que a casca do angico tem poder cicatrizante e dela também se pode obter um chá que “limpa” o sangue e tem ação antihemorrágica, além de que suas sementes podem ser usadas no tratamento de hipertensão arterial e dor de cabeça. Relataram também que é uma planta cultivada em local seco e de fácil acesso. Pode ser utilizada na forma de chá e lambedor, sendo indicada ainda a associação com jatobá, eucalipto, agrião, flor de colônia, hortelã, cebola branca, cedro, mastruz, barbatimão e acançu. Já a aroeira foi apontada por 100% dos raizeiros como um poderoso antiinflamatório, 40% a recomendaram para banho de assento e 20% para conter hemorragias, doenças uterinas, ovarianas e outras. Todos os entrevistados recomendam no preparo do chá, a associação com quixaba, caju-roxo e catuaba, assim como na forma de lambedor pode ser associada ao angico, sene e agrião. Para sanativo (20%) associam com barbatimão, caju-roxo e quixaba e na confecção da garrafada, 60% afirmam poder associar com caju-roxo, angico, quixaba e anil-estrelado. A pesquisa revela um dado delicado com relação ao comércio destas plantas medicinais na feira livre de Vitória de Santo Antão, que é ausência de identificação das espécies, o que dificulta a análise das informações obtidas e resultado esperado do seu uso. A coleta destas espécies ocorre de forma extrativista ou são adquiridas de terceiros. Considerações finais: A identificação botânica e o correto uso e manuseio das plantas são de suma importância, pois garantem a eficácia do tratamento pretendido, oferecendo ao usuário medidas simples de cura. A orientação e estimulação da produção local, somada a correta orientação sobre identificação, plantio e beneficiamento, assim como conservação e dispensação podem ser de fundamental importância para seu uso correto e perpetuação do conhecimento popular. A necessidade de profissionais capacitados para a produção e controle de qualidade de produtos fitoterápicos é imperativa para o desenvolvimento e qualificação dos produtos no mercado, sendo responsáveis pelo treinamento e orientação de herbanários e garantido a eficácia do produto final, com melhor padrão de segurança para a população usuária. 2