Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana On the notion of certainty in Cartesian philosophy Guilherme Diniz da Silva1 Resumo: Este ensaio analisa a noção cartesiana de certeza no interior das Meditações Metafísicas, ou seja, nosso objetivo é tão somente mostrar a forma como o pensador apresenta sua tese referente ao conhecimento certo. Por isso, o escopo desse ensaio trata do caminho que Descartes descreve ao longo de suas obras: primeiramente a ciência moderna, depois o ceticismo, por fim a certeza do conhecimento. Palavras-chave: Descartes. Certeza. Verdade. Ceticismo. Ciência. Abstract: This paper analyzes the Descartes’ notion of certainty within Metaphysical Meditations, namely, our aim is only to show the way how this thinker presents his thesis relative the certain knowledge. Therefore, the main theme of this paper treats the path that Descartes describes along his works: firstly the modern science, after the skepticism, and the finally the certainly of knowledge. Keywords: Descartes. Certainty. Truth. Skepticism. Science. *** Ao voltar à França em 1625, depois de uma estada na Alemanha, René Descartes começa a escrever suas principais obras iniciando propriamente a fase de produção filosófica. Antes disso, em 1609, Kepler havia publicado Astronomia nova e um ano depois, Galileu inventara o telescópio. Que tipo de relação haveria entre a primeira fase do pensamento cartesiano e a inovação científica da astronomia moderna? Evidentemente, o filósofo francês não ficou alheio aos acontecimentos de sua época, uma vez que pretendeu assumir a direção comum da busca da verdade junto com as ciências modernas. Mas, seria possível associar a metafísica cartesiana cuja unidade do pensamento redimensionou a natureza do conhecimento à pluralidade das ciências em suas especialidades? Em contrapartida, o ceticismo que se desenvolveu na Europa setecentista foi o principal agente de contraposição às certezas do pensamento especulativo. Se por um lado, as ciências apregoavam a verdade do conhecimento matemático, por outro lado, o ceticismo contestava as pretensões do conhecimento abstrato. Tal ceticismo, por acaso, não teria negado a veracidade das especulações da 1 Graduando em filosofia pela Faculdade de São Bento de São Paulo. Bolsa de Iniciação Científica – FAPESP. Orientador: Franklin Leopoldo e Silva. Contato: [email protected]. Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana razão? Como refutar a incerteza originada da suspensão do juízo que os céticos criaram? Seria possível, afinal, comprovar a legitimidade da metafísica considerando essas duas correntes antagônicas do século XVII: a objetividade do conhecimento científico e a dúvida da filosofia cética? Visto que as diretrizes do pensamento cartesiano partem da cultura de sua época, é louvável iniciar o presente trabalho pela análise das ciências modernas e do ceticismo, pois é justamente através da consideração dos conflitos contemporâneos ao pensador francês onde se encontrar a chave de leitura da criação do método e da primeira certeza metafísica como a formal eminente da refutação da dúvida cética e afirmação da certeza do espírito. É certo que Descartes empenhou-se em formular uma filosofia através de princípios indubitáveis. Ao excluir toda espécie de equívoco que possa ferir as verdadeiras opiniões, o filósofo pretendeu salvaguardar a certeza das considerações do entendimento no exame dos princípios da natureza e da metafísica2. A preocupação com a verdade e o gosto pela ciência fizeram com que o empreendimento de sua filosofia se voltasse ao rigor metodológico a fim de encontrar no interior do processo meticulosamente determinado o núcleo incontestável da segurança que buscava. Por isso, a identidade característica de seu pensamento parte dessa preocupação inicial com a objetividade dos conhecimentos adquiridos. O início da modernidade é um marco fundamental para a investigação dos primeiros matizes do pensamento cartesiano, pois nesse período estão presentes as influências vitais de sua constituição filosófica3. O aspecto predominante que influenciou os acontecimentos dessa época foi justamente o conflito entre o saber científico medieval e a produção científico-tecnológica moderna4. A perspectiva cósmica antiga e a astronomia medieval viam-se obrigadas a ceder às concepções inovadoras das pesquisas científicas modernas que traziam consigo a marca da exatidão metodológica. O século XVII é, portanto, marcado por fortes transformações na 2 AT, XI, 13. Para citação das obras de Descartes usaremos a edição de ADAM, Charles; TANNERY, Paul. Œuvres de Descartes. 11 vols. Paris: Vrin, 1996. 3 “Os filósofos não nascem de filósofos. A história em que começam por entrar não é a da filosofia, mas a [...] das crenças e da ciência de seu tempo” (ALQUIÉ, Ferdinand. A filosofia de Descartes. 3. ed. Lisboa: Presença, 1993, p. 59). 4 Graças às observações de Galileu Galilei, a concepção de um universo perfeito e imutável cedeu à compreensão da imperfeição e mutabilidade dos corpos celestes. As novas pesquisas científicas demonstraram a falsidade do modelo geocêntrico proveniente da tradição antiga e medieval. Contudo, essa teoria que definia a finitude e imutabilidade do universo já havia sido questionada em 1543 por Copérnico (De revolutionibus orbium coelestium), mas só encontrou uma refutação efetiva em 1610 com Galileu (Sidereus Nuncius), cf. KOYRÉ. Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 81. Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 127 Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana realidade científica da Europa e seu aspecto predominante foi sem dúvida as acentuadas reorientações no campo do saber, isto é, a ampliação da objetividade do conhecimento pela investigação científica da natureza. Uma das características essências da ciência moderna foi o uso da matemática para atingir a exatidão necessária do conhecimento objetivo5. O rigor metodológico que a matemática forneceu à astronomia serviu de exemplo do modo como o pensamento deveria prosseguir para construir um conhecimento sólido e seguro. Abria-se, então, com a ciência moderna a possibilidade de pensar uma filosofia tão objetiva quanto às explicações que Galileu fazia dos astros nos seus tratados6. Essa mudança de paradigma que abandonou a cultura escolástica para aderir à certeza metódica influenciou de modo peremptório todo o pensamento de Descartes7. Por isso, o seu método filosófico busca realizar-se tendo em vista o exemplo dos procedimentos seguros da matemática8. Ao constatar a certeza oriunda da matemática, o filósofo procura adequar, assim, toda forma de conhecimento a esse método seguro. Contudo, havia um problema filosófico fundamental a ser resolvido por Descartes referente à questão do ceticismo crescente no meio acadêmico9. Se o filósofo não procurasse encontrar uma solução para o problema da estabilidade da segurança da verdade, não haveria meios de convergir o pensamento filosófico à certeza originada 5 A utilização plena das técnicas matemáticas propiciou a exatidão do conhecimento dos astros, pondo em questão a tradição cosmológica de Aristóteles e a astronomia ptolomaica. A mudança de paradigma científico efetuou-se graças ao abandono da oposição entre o plano celeste, imutável e incorruptível, e a região sublunar, marcada pela mudança e corrupção dos seres. Além disso, essa oposição estabelecia uma organização cósmica cuja estrutura hierarquizada era exprimida segundo as definições qualitativas dos corpos (Ibid., p. 28). 6 Fenômenos astronômicos nunca antes observados foram descritos por Galileu com a publicação do Sidereus Nuncius em 1610. O cientista realizou grandes descobertas com a utilização de um novo instrumento que lhe permitiu ampliar a dimensão dos astros: o perspicilli (telescópio inventado por ele). Através desse instrumento, conseguiu constatar a rugosidade da lua e a existência de quatro novos planetas e de muitas outras estrelas nunca antes observadas (Ibid., p. 81). 7 Inspirado pelo progresso e exatidão da ciência astronômica, Descartes redige as Regulae ad directionem ingenii em 1628 e posteriormente o Discours de la méthode em 1637. É justamente nessa primeira obra onde se encontra a origem da empresa cartesiana de criar uma filosofia nova diferentemente daquela feita nas escolas. Trata-se de uma intuição original que reflete a mudança científica do século XVII: a criação de uma “técnica geral para resolver toda espécie de dificuldade que se apresente ao espírito” (GUENANCIA, Pierre. Lire Descartes. Paris: Gallimard, 2000 p. 32). 8 Nas Regulae, Descartes expõe que não se deve aprender apenas a matemática, mas que não é prudente considerar nenhum objeto sem que se possa ter uma certeza sobre ele análoga a que se tem da Aritmética e Geometria. Por isso, a matemática é o modelo do qual o entendimento deve buscar a verdade em tudo. (Regula II: AT, X, 366). 9 “Em 1562 [...] Henri Étienne (Stephanus) publicara uma tradução francesa de um dos grandes clássicos da filosofia grega, Esboços do pirronismo, de Sextus Empiricus (c. AD 190). Esta obra, cujo título é dedicado ao fundador do ceticismo antigo, Pirro de Elis, apresentava uma série de argumentos concebidos para mostrar que a suspensão do juízo era a única conduta racional diante da evidência contraditória e cambiante de que dispõem as nossas crenças” (COTTINGHAM, John. Dicionário Descartes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995, p. 57). Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 128 Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana pela ciência moderna. Por isso, a tarefa cartesiana de buscar um procedimento confiável do entendimento reflete a sua oposição a ausência de certezas, isto é, a suspensão do juízo como um fim em si mesmo. O curso do pensamento de Descartes parte inicialmente dessa preocupação com a certeza, mas precisa lidar com as aporias apresentadas pelo ceticismo quanto a impropriedade de formular juízos seguros sobre objetos abstratos. Por essa razão, a suspensão do juízo ou a dúvida cética não pode ser considerada uma finalidade10. O primeiro obstáculos que a filosofia cartesiana precisa enfrentar é a negação da possibilidade de apreensão da verdade devido à multiplicidade de opiniões em torno de um mesmo tema ou questão11, por isso a solução desse problema deve inclinar-se primeiramente à unidade do pensamento especulativo em suas concepções distintas. Para realizar essa tarefa, é preciso primeiramente compreender melhor a causa da confusão de opiniões entre os homens. Quando a variedade de opiniões de uma mesma questão é apresentada, a sua causa poderia ser o próprio espírito que traz consigo a abertura à multiplicidade de interpretações dos sentidos das coisas. Com efeito, o método cartesiano parte antagonicamente do princípio de que não existe uma desigualdade natural do intelecto12. Todos aqueles que buscam compreender a verdade pela luz natural da própria razão podem contar consigo mesmos. Portanto, a diversidade de opiniões não poderia encontrar-se na própria razão nem nos objetos visados por ela, mas no modo de conceber que pode ser conforme ou não a realidade das coisas. 10 Um filósofo dessa época que duvidou da confiabilidade da razão e alegou a inconcebibilidade da natureza do verdadeiro foi Michel de Montaigne. A crítica de Montaigne à objetividade das ciências e filosofias aparece nos Éssais (1580). No capítulo Apologia de Raymond Sebond, o filósofo critica a capacidade de a razão conceber o verdadeiro devido à relatividade e instabilidade de sua natureza. Seu ceticismo é marcado pelo exercício da dúvida que procura “questionar a posição do homem como consciência una, sistemática, dotada do privilégio das certezas científicas” (SILVA, Franklin Leopoldo e. Descartes: a metafísica da modernidade. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006, p. 40). Não apenas a posição filosofia entre os dois pensadores é antagônica, como também a forma da escrita entre eles é divergente. Montaigne e outros escritores do período procuravam sempre a proteção da autoridade dos antigos autores através de ricas citações e alusões. Descartes, em contrapartida, escreve o Discours de modo mais simples e sem adornos, com o propósito de atrair o leitor mais à razoabilidade dos argumentos do que à autoridade dos antigos (COTTINGHAM, John. Cartesian reflections: Essays on Descartes’s Philosophy. Oxford University Press, 2008, p. 54). 11 Por isso, a confusão de opiniões e a falta de concordância entre os estudiosos possibilitam o questionamento da racionabilidade da verdade. A ausência de precisão metódica implica a diversidade de opiniões e discussões intermináveis. E mesmo que haja concordância, se não houver a aplicação segura do espírito na solução de problemas, não há ciência. Assim, a razão pela qual a filosofia ainda não atingiu o grau de certeza absoluta ocorre graças ao não reconhecimento de princípios evidentes e à pressuposição de princípios obscuros (Regula III: AT, X, 367). 12 Isso quer dizer que a razão é igual a todos os homens: “Le bon sens est la chose du monde la mieux partagée” (Discours, Partie I: AT, VI, 1). É ela que permite o reconhecimento comum da verdade. O problema do equívoco e a diversidade de opiniões encontraram-se não em uns serem mais eruditos ou mais capazes de compreender o verdadeiro do que outros, mas no modo como os homens procedem ao considerar as coisas. Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 129 Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana Para Descartes é possível um acordo entre as diferentes concepções dos espíritos se for observado propedeuticamente os procedimentos adequados, pois a razão comum a todos os homens é o fator de unidade que garante o conhecimento ordenado. Ela é o princípio fundamental das ciências que progridem segundo a direção do método. Noutros termos, a consideração objetiva das coisas empreendida pelo entendimento é determinada pelo procedimento assegurador resultante da unidade do espírito13. Sem tal unidade inicial não seria possível a realização nem do método assegurador do conhecimento nem da objetividade das concepções que compõem as opiniões. Assim, para chegar à unidade do conhecimento foi preciso que a diversidade das coisas representadas fosse reduzida ao princípio comum da razão. Todo o esforço filosófico de Descartes direciona-se para a determinação da certeza do conhecimento. Ela pode ser entendida como um assentimento forte do espírito a uma evidência comum a todos14. Mas no caso especifico de Descartes, a certeza é algo que se manifesta através da impossibilidade da discordância entre a concepção do pensamento e julgamento emitido15. Quando não é possível de modo algum a existência de uma diferenciação entre o objeto e o juízo, então é aceitável que esse estado de espírito se realize. É necessário um acordo incondicional do juízo com o objeto representado que só se efetua mediante o procedimento metódico. A certeza em Descartes tem, portanto, um caráter menos psicológico do que lógico, pois não se trata de crer na veracidade do juízo, mas em assentir que é impossível existir outra forma de juízo senão a que se tem atualmente de um objeto. É um julgamento do espírito que se revela em termos absolutos e incontestáveis. Para explicar o modo como o intelecto julga de acordo com a natureza do objeto, o autor aponta a existência de apenas dois atos do espírito que levam ao conhecimento seguro das coisas: a intuição intelectual e a dedução necessária16. Para compreender o 13 Descartes estabelece como primeiro princípio da busca pela verdade a unidade racional dos objetos das ciências. A primeira regra diz que o caminho da verdade é aquele que parte da razão universal (bom senso) para abarcar todos os saberes científicos particulares. (Regula I: AT, X, 361). A unidade do espírito é a circunstância primeira da uniformidade do método que, por sua vez, é a condição de possibilidade da concordância das ciências em suas intelecções diversas. Sem essa ordem, a diversidade dos objetos considerados pelo entendimento são apenas dados distintos. Falta-lhes a homogeneidade sistemática oriunda do pensamento e do método. Portanto, a unidade do espírito implica a concordância de opiniões (SILVA, 2006, p. 28). 14 LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 149. 15 “L’autre sorte de certitude est lors que nous pensons qu’il n’est aucunement possible que la chose soit autre que nous la jugeons...” (Principes, Partie IV, art. 206: AT, IX, 324). 16 A intuição, por um lado, é compreendida por um conceito simples formado pela inteligência pura e atenta; a dedução, por sua vez, é um raciocínio necessário extraído da evidência da primeira (Regula III: Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 130 Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana significado do conceito de certeza em Descartes é preciso primeiramente atinar para esses dois termos. A intuição é a apreensão de uma natureza pura e simples17 da qual são feitas as inferências necessárias que constituem a certeza de algo18. Isso significa que uma natureza simples é compreendida por si mesma, uma vez que ela satisfaz o caráter absoluto da certeza19; em contrapartida, as conclusões deduzidas a partir de uma natureza simples são relativas, pois obedecem ao princípio de derivação. Portanto, a noção de certeza para Descartes indica que o juízo emitido conforme o procedimento metódico tem um conteúdo representativo indubitável, pois tal inferência é autenticada pelo fundamento simples das noções evidentes concebidas pela intuição intelectual. O encadeamento de asserções é tão intimamente ligado pela necessidade lógica20 dos princípios que não é possível a existência de equívocos. O raciocínio certo é garantido pela verdade incontestável das naturezas simples. O conceito de certeza é plasmado a partir da intuição de princípios evidentes que formam os raciocínios irrefutáveis graças à relação necessária entre eles. Seguindo o exemplo da matemática, é impossível pôr em questão os juízos que seguem o método assegurador da certeza. Contudo, poderia a filosofia em suas especulações alcançar o mesmo grau de certeza que a matemática apresenta? Essa interrogação responderia definitivamente à dúvida cética. Para isso, Descartes deveria utilizar a própria dúvida para demonstrar a inconsistência dos fundamentos do ceticismo e comprovar que a razão retamente ordenada compreende a verdade devido a uma ciência universal que unifica todos os objetos do entendimento21. Assim, a unidade do espírito é também a unidade da ciência, pois toda investigação seja ela física ou metafísica realiza-se a partir de um único AT, X, 368). A primeira recebe o nome “perspicácia” (perspicacitatem), ou seja, apreensão imediata de particularidades distintas; e a segunda, por sua vez, é denominada “sagacidade” (sagacitatem), isto é, faculdade de inferir asserções com precisão (Regula IX, AT, X, 400). 17 As naturezas simples são proposições claras e distintas compreendidas integralmente de uma só vez pela intuição (Regula XI, AT, X, 407). Elas, além do mais, contrariam qualquer tentativa de decomposição ou derivação, pois são justamente o princípio criador de todas as demais ideias e não podem, portanto, ser decompostas em noções mais simples (LANDIM FILHO, Raul. Evidência e verdade no sistema cartesiano. São Paulo: Loyola, 1992, p. 39). 18 Todo o encadeamento de proposições são deduções de alguns princípios elementares reconhecidos pela luz natural da razão como indubitáveis (Regula VI: AT, X, 383). 19 A realidade absoluta de uma coisa é, segundo a análise do autor, aquilo que há de mais simples e fácil de compreender e, por essa razão, precede toda a ordem do processo do conhecimento (Regula VI: AT, X, 381). 20 A dedução para alcançar a objetividade científica precisa ser necessária, isto é, ela deve limitar-se a seguir determinadas regras. Estas regras partem dos princípios mais simples para gradualmente e metodicamente progredir com segurança na construção do saber (Regula X: AT, X, 403). 21 A mathesis universalis é a unificação do conhecimento científico, isto é, o fator de unidade entre os objetos distintos apreendidos do entendimento (Regula IV: AT, X, 377). Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 131 Sobre a noção de certeza na filosofia cartesiana método. Todo o conhecimento certo tem uma única base comum onde se sustenta a verdade. Referências ADAM, C.; TANNERY, P. Œuvres de Descartes. 11 vols. Paris: Vrin, 1996. ALQUIÉ, F. A filosofia de Descartes. 3. ed. Lisboa: Presença, 1993. COTTINGHAM, J. Cartesian reflections: Essays on Descartes’s Philosophy. Oxford University Press, 2008. _______. Dicionário Descartes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. GUENANCIA, P. Lire Descartes. Paris: Gallimard, 2000. KOYRÉ. A. Do mundo fechado ao universo infinito. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LANDIM FILHO, R. Evidência e verdade no sistema cartesiano. São Paulo: Loyola, 1992. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006. Vol. 6, nº 2, 2013. www.marilia.unesp.br/filogenese 132