Defesa de tese - Centro Cristão de Estudos Judaicos

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TEXTO DE APRESENTAÇÃO DO LIVRO
AS RELAÇÕES JUDEU-CRISTÃS DO PRIMEIRO SÉCULO
Esse Livro, sobre as relações judeu-cristãs do primeiro século, é o resultado de uma
pesquisa de Dissertação para o Mestrado. Conclui o mestrado em Teologia com concentração
em Bíblia e judaísmo no ano de 2003. O reconhecimento se deu pela Assunção, mas o fato é
que antes eu havia passado quase dois anos em Jerusalém. Aproveitei, então, esses dois anos e
pesquisei muito sobre o processo de separação entre judaísmo e cristianismo. Parte dessa
pesquisa usei no Mestrado.
A pesquisa não foi bem aceita, não pelo conteúdo, pois imagino que alguns professores
nem dominavam o assunto tratado, mas pela a antipatia quase natural que se tem quando se
fala de judeus e de judaísmo. Por isso, nunca pensei em publicar a minha pesquisa. Até que
um dia recebi um email, de uma editora de Curitiba, pedindo para transformar essa minha
pesquisa, da Dissertação do meu Mestrado, em livro.
Essa pesquisa é inspirado pelo o documento conciliar Nostra Aetate no 4. Estudando as
relações entre judaísmo e cristianismo, no primeiro século, me inspirei em duas afirmações
desse documento:
1- Que os primórdios da fé cristã e da eleição da Igreja já se encontram nos
patriarcas, em Moisés e nos profetas;
2- A salvação da Igreja já estava misteriosamente prefigurada no êxodo do povo
eleito da Terra da escravidão.
A primeira afirmação equivale a dizer que a gestação do cristianismo, isto é, o seu
germe já se dá dentro do judaísmo porque os Patriarcas, Moisés e os profetas são judeus e
se encontram em primeiro lugar dentro de um sistema religioso que é reconhecido como
judaísmo. Nesse judaísmo se encontra, pois, a origem da Igreja.
A segunda frase além de reconhecer o povo de Israel como o povo eleito, liga a
historia da Igreja à historia do judaísmo, pois, o êxodo é o acontecimento que salva o
judaísmo da extinção, o projeto do Faraó era exterminar o povo (cf. Ex 1,8ss ), sem o êxodo a
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história do judaísmo teria sido terminada e por consequência a própria história da Igreja, uma
vez que a salvação dela estava já prefigurada na saída do Egito, ou seja, no êxodo do povo
eleito. Assim a história da salvação do povo judeu se torna a historia da salvação da
Igreja.
Por essas duas afirmações percebe-se que o judaísmo e o cristianismo não são como
duas religiões que se opõem mutuamente, mas como duas religiões que tem um
patrimônio religioso em comum e mesmo uma história de salvação em comum. Através
de um ato de amor, Deus salvou judeus e cristãos, no acontecimento do êxodo, Deus
salvou os dois povos.
Porém, contrariamente ao que afirma o documento Nostra Aetate, toda vez que se
aborda as relações entre judaísmo e cristianismo, sobre tudo, no primeiro século, quase
sempre se ressalva as disputas entre os dois, ou seja, as oposições. Será que só houve
disputas, não houve uma convivência interativa, harmoniosa? Nessa concepção, a
tendência é de se apresentar o cristianismo como a antítese do judaísmo, sua superação e
mesmo sua substituição perfeita.
Para apresentar o cristianismo em oposição ao judaísmo defende-se a ideia de uma
separação precoce entre as duas religiões. Segundo essa visão o cristianismo teria se
separado do judaísmo por volta do ano 70 de nossa era, o mais tarde no ano 90. Essa
separação teria acontecido por expulsão. Os judeus teriam expulsado das Sinagogas os
cristãos, aqueles que confessavam Jesus como o Cristo. A partir daí eles não se sentiram
mais judeus. Esses primeiros cristãos, já entre os anos 70 e 90, tinham plena consciência
de formar uma nova religião diferente do judaísmo.
Um autor que defende essa teoria da separação e da independência precoce do
cristianismo com relação ao Judaísmo é Raymond Edward Brown. Ele é um padre católico
americano da ordem dos sulpicianos. Conhecido como um estudioso da Bíblia, um dos
primeiro exegetas a utilizar o método histórico crítico. Foi professor no seminário Protestante
de Nova York e em 1972, fez parte da Pontifícia Comissão Bíblica. A famosa comissão que
aconselha o papa em assuntos da Bíblia. Raymond Brown morreu em 1998 deixando uma
coleção de livros entre eles, “A Comunidade do Discípulo Amado”. É exatamente esta obra
que é estudada e contestada, na minha pesquisa, pois é através dela que Brown defende a
teoria da separação e da independência precoce do cristianismo com relação ao judaísmo.
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Existem duas provas que são usadas por Brown para fundamentar essa ideia de um
cristianismo oposto ao judaísmo e precocemente separado dele. A primeira prova é bíblica e
a segunda é histórica.
1) A prova bíblica.
A prova bíblica é retirada do Evangelho Segundo João, que Brown apresenta, no seu
todo, como anti-judeu. Os textos mais citados para fundamentar essa visão são o
capitulo 9 de João que fala da cura do cego e de sua expulsão da Sinagoga por ele ter
crido em Jesus e o capitulo 12, 42 que fala dos chefes da sinagoga que creram em
Jesus mas não confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos das
Sinagogas. Vejamos os textos:
“Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já
tinham combinados que se alguém reconhecesse Jesus como o Cristo,
seria expulso da Sinagoga” (9,22). “E o expulsaram” (9,34). “Contudo
muitos chefes creram nele, mas por causa dos fariseus não confessavam
para não serem expulsos da sinagoga” (12,44).
Esses textos servem de provas porque eles revelariam a situação da Igreja no primeiro
século. Como eles podem revelar a situação da Igreja no primeiro século? Apresentando a
historia de Jesus através desses capítulos o autor deixa aparecer a situação de sua comunidade
no momento em que ele escreve o Evangelho. Assim, quando João diz em 9,34 que os judeus
expulsaram o rapaz que foi cego por ter reconhecido Jesus como vindo de Deus, esta
expulsão, na verdade, reflete a situação da Igreja no primeiro século, quando todos os judeus
que creram em Jesus foram expulsos da Sinagoga.
2) A prova histórica
A prova histórica diz respeito a uma das dezoito bênçãos (Shemoné essereh) que é
uma oração que era recitada todos os dias nas Sinagogas. A décima segunda
bênção foi reformulada no ano 85 d.C., e continha uma maldição contra os
desviados da fé judaicas. Essa benção ficou conhecida como a birkat haminim, a
bênção contra os hereges:
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Wniymyb rq[t hrhm !wdz twklmw hwqt yht la ~ydmwvml
~yyxh rpsm wxmy wdbay [grk ~ynymhw ~yrcwnhw
wbtky la ~yqydc ~[w
~ydz [ynkm yh hta $wrb
(=Para os apóstatas[~ydmwvm], que não haja esperança; e que o reino da impertinência [!wdz
twklm] seja desenraizado em nossos dias; e que os cristãos [~yrcwnh] e os hereges [~ynymh]
desapareçam em um piscar de olho; e que eles sejam apagados do livro dos vivos e que
eles não sejam escritos com os justos .Bendito és tu, Senhor que submete os imprudentes).
Para Brown, ao que tudo indica, os judeus cristãos foram incluídos nesta bênção, pois
confessando a fé em Jesus como o Cristo, esses cristãos seriam considerados, também como
desviados. Assim, por esta fórmula litúrgica, os cristãos eram expulsos das sinagogas. Esta
bênção os impedia de rezar juntos com os outros judeus. Este fato vem por tanto reforçar a
ideia da expulsão sugerida pelo Evangelho Segundo João, pois esta bênção é reformulada no
ano 85, exatamente no período em que o Evangelho está sendo escrito. Assim a expulsão da
Sinagoga mencionada em Jo 9,34, poderia fazer referência a esta prática que consistia em
expulsar das sinagogas os cristãos através de bênção que os maldizia.
Se aceitássemos a posição de Brown, a história do principio do cristianismo estaria
resolvida. Na segunda metade do primeiro século, com o desaparecimento do Segundo
Templo, os judeus tentaram reorganizar o judaísmo que se tornou predominantemente da
linha farisaica. Os judeus, teriam assim eliminado as divergências no seu meio através da
expulsão dos diferentes grupos entre os quais se encontravam os judeu-cristãos. Os cristãos
teriam sofrido essa expulsão pacificamente e a partir daí teriam se tornados a grande Igreja
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sem nenhum vínculo mais com o judaísmo. A bênção contra os hereges e o Evangelho
Segundo João são os testemunhos deste fato.
Brown chega até mesmo precisar o período da separação entre judeus e cristãos: Ela
teria ocorrido na fase pré-evangélica, entre os anos 50 a 80 d. C. Nesse período teria havido
grandes controvérsias entre judeus e cristãos.
Tudo isso resultou na separação por expulsão. Essas controvérsias estão presentes no
Evangelho, os Judeus são chamados de Filhos do diabo Jo 8,44.47; tendo recusado Jesus
eles permanecem no pecado 9,14; no Evangelho o próprio termo, o judeu, significa o
outro como aparece na citação da Festa das Tendas: “Ora, a festa dos judeus, chamada de
Festa das Tendas, estava próxima” (7,2).
Os cristãos ao serem expulsos, da sinagoga, não se sentem mais judeus. Brown não só
vê uma teologia da substituição, mas para ele o quarto Evangelho é, até mesmo, antisemita.
As conclusões de tal visão não ajudam nem um pouco na aproximação entre judaísmo e
cristianismo, que foi incentivada pelo Concílio Vaticano II. Elas relativizam os vínculos que
existem entre as duas religiões, mostra o nascimento do cristianismo em detrimento do
judaísmo e relativiza a influência do judaísmo na cristologia do Quarto Evangelho. O
cristianismo aparece como superação do judaísmo, ou seja, sua substituição.
A minha pesquisa, apoiada pelo documento conciliar Nostra Aetate consiste em sugerir
uma visão menos tensa do relacionamento entre judaísmo e cristianismo no Primeiro Século,
sugerindo que a Visão de Brown não deve ser seguida como um dogma. Há outras
posições que mostram uma interação harmoniosa entre judeus e cristãos no Primeiro
Século.
E ainda analisando os mesmo textos que Brown cita, se pode chegar a uma outra
conclusão, inclusive evidenciando os vínculos que ligam as duas religiões.
O que apresento na minha pesquisa?
Analiso os textos, do Evangelho Segundo João, referente a expulsão (Jo 9,22; 12,34) e o
Shemoneh essereh (as dezoitos bênçãos). O objetivo é investigar se esses textos confirmam o
que diz Brown, ou se eles podem ser analisados e vistos por outra perspectiva. Além disso,
estudei outros autores que tratam do mesmo tema para ver o que eles dizem sobre as relações
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entre judeus e cristãos. Depois cheguei as minhas considerações finais, que são as
contribuições desta pesquisa.
Observemos como analisei um dos textos do Evangelho Segundo João.
João menciona por três vezes a expulsão dos judeu-cristãos das Sinagogas.
“Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já tinham combinados que se
alguém reconhecesse Jesus como o Cristo, seria expulso da Sinagoga”.
Avposuna,gwgoj ge,nhtai (9,22).
O problema se encontra aqui no verbo “ser”; verificando o texto original não aparece o
verbo “ser”, mas “tornar” e ele se encontra no reflexível, “tornar- se”. O verbo “ser” em
grego é ””, no texto está “”, na terceira pessoa do aoristo subjetivo: “”
que significa “se tornaria”. Essa forma verbal tem 46 ocorrências no Novo Testamento e
somente aqui ela é traduzida no passivo e como verbo “ser”. O que mostra uma tradução já
interpretada.
Creio que se realmente o escritor estivesse se referindo a uma expulsão histórica dos
cristãos das Sinagogas, ele usaria um verbo de ação mais forte que mostraria a ação ativa dos
judeus contra os cristãos como ele o faz na terceira menção no cap. 16, 2. Aqui neste capitulo,
no seu discurso de despedida Jesus prepara os seus discípulos para viverem na sua ausência e
lhes anuncia que serão expulso da Sinagoga. Aqui está claro que a expulsão será realizada por
um terceiro. Pois o verbo usado para indicar a expulsão é “poieo” futuro terceira p. ativo. Eles
vos farão fora da sinagoga, ou seja, eles vos expulsarão da sinagoga. Realmente aqui há um
anuncio de expulsão da Sinagoga. Mas pelo contexto se percebe que aqui o autor está se
referindo ao tempo do ministério de Jesus, é Jesus que vendo a reação dos judeus contra o seu
ensinamento prepara os seus seguidores. Portanto esta menção nada tem a ver com a eventual
expulsão dos cristãos nos anos 70 a 80 da nossa era.
Stven Katz faz uma observação interessante com relação a estas citações de expulsão
no Evangelho Segundo João. Ele não acredita que elas façam referência a expulsão dos
cristãos das sinagogas através de uma maldição, pois nenhuma delas se referem a práticas
litúrgicas judaicas e nem às maldições. Reuven Kimelman acha estranho que tenha havido
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expulsão entre 70 a 80 e este fato tenha sido mencionado apenas por João e não apareça em
nenhum outro lugar. É difícil imaginar que um fato de tamanha importância acontecido no
primeiro século fosse atestado apenas em um documento. A partir dessa análise estas provas
bíblicas não constituem nenhuma evidência de uma separação precoce e por expulsão entre
judaísmo e cristianismo, pois elas podem ser interpretada de uma outra forma.
Traduzo o versículo da seguinte forma:
“Seus pais assim disseram porque os judeus já tinham combinado que se alguém
reconhecesse Jesus como o Cristo se tornaria expulso (fora) da sinagoga” A saída da
sinagoga nessa tradução fica à critério dos fieis, se eles professam Jesus como Cristo essa
expulsão se torna automática. Pois essa confissão não faz parte da sinagoga. Nesse caso
esse versículo não faz nenhuma menção à expulsão da sinagoga e, nesse caso, não pode ser
citado como prova irrefutável de tal fato, por que ele pode ser interpretado de outra forma.
Com relação ao Shemoneh essereh (Dezoitos bênçãos), verifico suas origens. O
objetivo é mostrar que essas bênçãos não são macabras, mas elas são uma forma da
humanidade reconhecer sua dependência total de Deus, no sentido de que tudo que ele tem, é
dispensado por Deus. Nessas dezoito bênçãos, foi estudada, de modo particular, a décima
segunda bênção (Birkat haminim) que é de modo especifico utilizada para fundamentar a
teoria da expulsão. O conteúdo da Benção pede a Deus que não haja esperança para os
apóstatas e que os cristãos e os hereges desapareçam em um piscar de olhos. É certo que a
bênção existe, mas existem também variantes dela. E somente nas bênçãos de origem
palestina se encontra o nome dos cristãos as de origem babiloniana não existe. Qual é, pois a
verdadeira bênção? Não se sabe, portanto não se pode dizer que tal bênção tenha sido criada
com o objetivo de expulsar os cristãos das Sinagogas.
David Flusser, diz que a benção encontrada na Guenizah do Cairo contendo o nome dos
cristãos não pode ser a original. Segundo ele, o texto original desta bênção é pré-cristão. Ele
teria sido criado contra os oponentes dos fariseus, os saduceus e talvez contra os essênios ou
outros grupos de judeus que funcionavam como espião dos romanos. Se ela é pré-cristã não
pode ter sido criada especialmente para expulsar os cristãos. A conclusão é que é possível que
essa bênção tenha sido usada também contra cristãos, mas isso se deu bem mais tarde, quando
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a grande Igreja já se encontra estruturada. Portanto, ela não pode ser vista como um
argumento que prove uma separação precoce entre as duas religiões.
Além de analisar estas provas, também estudei alguns autores que falam sobre a relação
do judaísmo e do cristianismo no Primeiro Século. Frederic Manns, concorda com a teoria da
expulsão, mas é reticente com a questão da substituição e do anti-judaismo do Quarto
Evangelho, pois ele trabalha o quarto Evangelho a partir do judaísmo. Etienne Nodet, grande
estudioso das relações entre judaísmo e cristianismo, faz referencia ao conflito entre judeus e
cristãos no Primeiro Século. Esse conflito não consiste em uma independência total dos
cristãos com relação ao judaísmo, mas uma disputa para mostrar quem é o verdadeiro Israel,
ou seja, o verdadeiro judeu. Etienne, classifica essa querela como um conflito entre os irmãos
inimigos.
Por fim, um resumo geral
Minha consideração final, é que não se pode situar um momento preciso no qual as duas
religiões teriam se separado de uma só vez. As referências bíblicas do Evangelho Segundo
João e a Birkat Haminim como prova não podem dar conta de tal afirmação. Essa separação
pode ter ocorrido através de um processo de amadurecimento lento e progressivo, que pode
ter se estendido até o quarto século. Pois, se tem os testemunhos dos padres da Igreja que
indicam que no quarto século ainda havia cristãos que não sabiam se eram judeus ou cristãos.
Assim diz João Crisóstomo:
O tempo se aproxima onde, para estes infelizes, esses desgraçados judeus,
vão se suceder sem interrupção as festas das trombetas, das Tendas e dos
jejuns. Ora, há entre nós e entre aqueles que pretendem ter os mesmos
sentimentos que nós, muitos fieis dos quais uns assistem aos espetáculos das
festas e outros participam mesmo delas e jejuam com os judeus. Costume
detestável que eu gostaria de extirpar da Igreja.
São Jerônimo (séc. IV) nega a esse tipo de fiel o título de judeus e de cristãos, ele diz:
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“Até hoje em todas as Sinagogas do Oriente, há entre os judeus uma seita
que se chama minim (minaeorum) que ate hoje é condenada pelos
fariseus; ela é chamada vulgarmente “nazareus” (nazaraeos); Eles
acreditam no Cristo filho de Deus, nascido da virgem Maria; e eles dizem
que é aquele que sofreu sob Pôncio Pilatos
e ressuscitou ; Nele nós
também acreditamos, mas enquanto eles querem ser judeus e cristãos ao
mesmo tempo, eles não são nenhum e nem outro”.1
Esses dois testemunhos só comprovam que a separação entre judeus e cristãos não pode
ter sido precoce. Essa falta de discernimento nos cristãos com relação ao culto das duas
religiões mostra que no processo de separação os cristãos nunca deixaram de se sentir judeus,
eles se sentiam como o verdadeiro Israel, os judeus por excelência. O cristianismo parece
nascer como o prolongamento do judaísmo, claro com certas inovações bem evidentes, mas
não havia nenhuma inovação que não pudesse ser justificada pela própria Escritura e pela
tradição dos pais. Pode-se dizer que cristianismo no seu princípio não era incompatível com o
judaísmo. Veja, como exemplo, o pensamento de alguém que é considerado como grande
missionário do cristianismo, São Paulo. O que ele pensa a respeito dele mesmo?
São Paulo, no final de seu ministério depois de ter expandido mundo a fora o cristianismo, foi
preso e acusado de transgredir os princípios judaicos, então ele se defende:
“Eu sou judeu. Nasci em Tarso, mas criei-me nesta cidade, educado aos pés
de Gamaliel, na observância exata da Lei de nossos pais, cheios de zelo por
Deus como vós todos hoje” (At 22, 3); (Chegada a Jerusalém das missões);
“É segundo o caminho a que chamam de seita, que eu sirvo ao Deus de
meus pais, crendo em tudo que está conforme a lei e os profetas” (At 24,
14);
“Meus irmãos, embora nada tenha feito contra o nosso povo, nem contra os
costumes de nossos pais, desde de Jerusalém vim preso e como tal fui
entregue às mãos dos romanos”(At 28, 17). (Chegada a Roma).
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LABOURT, J, Saint Jerôme. Lettre VI p. 31-32.
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Paulo, não vê a fé que ele prega como algo separado do judaísmo. Se ele pregou a fé
cristã, pode-se dizer que esta nasce como um prolongamento do judaísmo, de quem vai se
separar lentamente.
O lento processo de separação, entre as duas religiões e o nascimento do cristianismo,
como certo prolongamento do judaísmo, mostram a intensidade do patrimônio em comum que
existe entre cristianismo e judaísmo. Conhecer esse patrimônio é conhecer melhor o
cristianismo.
Agradecimentos
A gratidão é o reconhecimento de um bem recebido, uma questão de justiça. Agradeço a
Deus, pois este momento em minha vida é um sinal claro de que Ele existe e não é apático à
história do homem. Agradeço a Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion da
qual faço parte e de quem muito recebi. Ela me ensinou que não se pode conhecer Jesus sem
situá-lo no seu meio de origem que é o judaísmo e que um cristão quando conhece bem o
judaísmo passa a se conhecer melhor e se torna um cristão mais autêntico. Enfim, quero
agradecer e dedicar esta humilde pesquisa a minha querida mãe, Maria dos Remédios
Miranda de Freitas, que já esta no céu em plena felicidade o que nem sempre ela encontrou na
terra. Que esta dedicatória a faça saber que o meu amor, minha gratidão e minha saudade são
infindáveis.
05/03/15
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