Crescimento e Absorção de Fósforo de Plantas de Sorgo Inoculadas com Fungos Solubilizadores de Fosfato Associado à Aplicação de Fosfato Natural Marcos V. M. Sarto(1), Fábio Steiner(2), Laércio A. Pivetta(2), Gustavo Castoldi(2) e Rafael L. Lázaro(1) (1) Acadêmico do Curso de Agronomia da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon, PR. CEP 85960-000. Cx. Postal 91. (2)Faculdade de Ciências Agronômicas – FCA/UNESP, , Cx. Postal 237, Botucatu, SP. E-mail: [email protected] Palavras-chave: Sorghum bicolor L., Fosfato natural, Aspergillus spp. e Penicillium spp. A disponibilidade de nutrientes é um dos fatores determinantes para o desenvolvimento vegetal. No caso dos solos brasileiros, o fósforo é um dos elementos mais limitantes, e a utilização de formas solúveis para a adubação das culturas requer a aplicação de doses superiores às necessárias ao crescimento da planta, tendo em vista que cerca de 90% do P adicionado pode ser adsorvido pelos oxidróxidos de Fe e Al, presentes, de modo geral, em maiores quantidades em solos tropicais mais intemperizados (Novais & Smyth, 1999; Silva Filho et al., 2002), como exemplo, pode-se citar, os Latossolos presentes no Oeste do Paraná. O íon fosfato pode também precipitar-se com íons Ca2+, Fe3+ e Al3+, formando compostos de composição definida e pouco solúveis (Igual et al., 2001). A solubilização dessas formas inorgânicas de P é favorecida pelo consumo dos produtos solúveis, como os cátions e o íon fosfato, alterando a constante de equilíbrio (Bolan et al., 1997). Essa alteração pode ser efetuada pelas plantas e por microrganismos do solo, que são capazes de acidificar o meio, consumindo o fosfato e os cátions resultantes da solubilização. Dessa forma, a solubilização de fosfatos inorgânicos geralmente é maior na rizosfera do que em solo não-rizosférico (Bolan et al., 1997). A inoculação de microrganismos benéficos em plantas tem sido empregada para melhorar seu desenvolvimento (Caravaca et al., 2002). Vários grupos de microrganismos edáficos apresentam capacidade de solubilizar fosfatos existentes no solo ou adicionados na forma de fertilizantes (Whitelaw, 2000). Segundo Silva Filho et al. (2002) entre as populações fúngicas com potencial para solubilização destacam-se os gêneros Aspergillus e Penicillium. A importância dos microrganismos encontrados no solo rizosférico no suprimento de P para as plantas já foi demonstrada em vários trabalhos (Freitas et al., 1997; Gyaneshwar et al., 2002), e sua efetividade depende da interação destes com a planta hospedeira e a microbiota associada. Esse fato é justificado pela variação que existe na composição dos exsudatos radiculares em relação à espécie da planta (Grayston et al., 1996). Aumentos significativos na produção de matéria seca e na absorção de nutrientes foram obtidos pela inoculação com fungos solubilizadores de fosfato em diferentes espécies, como em canola (Freitas et al., 1997), em milho (Nahas et al., 1994; Silva, 2009), em trigo (Singh & Kapoor, 1999; Costa et al., 2009; Steiner et al., 2009), assim como em espécies florestais, como Pinus e Eucalyptus (Silva Filho et al., 2002). No entanto, até o momento pesquisas envolvendo a cultura do sorgo granífero são inexistentes na literatura nacional. Sabe-se que são vários os fatores que influenciam a capacidade de solubilização desses microrganismos, como a fonte de carbono e nitrogênio disponíveis (Nautiyal et al., 2000), o tipo de planta cultivada (Grayston et al., 1996), o tipo de fosfato a ser solubilizado (Nahas, 1996; Barroso & Nahas, 2005), entre outros, como a presença de herbicidas ou inseticidas (Das & Murkherjee, 1998; Reis et al., 2008). Nahas et al. (1994) destacam que a população de XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1462 microrganismos solubilizadores de fosfato e sua capacidade de solubilização estão intimamente relacionadas ao tipo e ao manejo do solo. Assim, devido à necessidade de se buscar alternativas que possibilitem altas produtividades e com baixo custo. Este estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito da inoculação de fungos solubilizadores de fosfato associado à aplicação de fosfato natural reativo de Gafsa sobre a absorção de P e o crescimento do sorgo granífero, cultivado em Latossolo Vermelho eutroférrico. Materiais e Métodos O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao Núcleo de Estação Experimental – NEE da UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon, PR, durante os meses de novembro de 2009 e fevereiro de 2010. Foram utilizadas amostras, coletadas na camada superficial de 0-20 cm de profundidade, de um Latossolo Vermelho eutroférrico (LVef) de textura argilosa (580 g kg-1 argila). A análise química do solo apresentou os seguintes resultados: matéria orgânica = 28,7 g dm-3; pH em CaCl2 = 5,1; P (Mehlich-1) = 4,8 mg dm-3; K = 3 mmolc dm-3; Ca = 29 mmolc dm-3 e Mg = 9 mmolc dm-3; CTC = 92 mmolc dm-3 e V = 50%. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com quatro tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram: 1) fosfato natural reativo de Gafsa (240 mg dm-3 de P2O5); 2) fosfato natural de Gafsa (240 mg dm-3 de P2O5) + fungos solubilizadores de fosfato – FSF (108 UFC mL-1); 3) FSF (108 UFC mL-1) e, 4) controle (sem inoculação e adubação fosfatada). A unidade experimental foi constituída de vasos de polietileno com capacidade de 8,0 dm3. A dose de fosfato natural de Gafsa foi aplicada em todo o volume de solo. O potássio foi aplicado na forma de cloreto de potássio em dose equivalente a 120 mg dm-3 de K2O. Na semeadura utilizou-se a cultivar DKB 510 que após o desbaste deixou-se oito plantas por vaso. A adubação nitrogenada foi realizada semanalmente, aplicando-se via solução 10 mg dm-3 de N na forma de uréia. Os FSF foram inoculados três dias após a emergência, via meio líquido GL (Sylvester-Bradley et al., 1982), pipetando-se 1 mL do inoculante no colo de cada plântula (Costa et al., 2009). Para a preparação do inoculante, a suspensão de cada isolado de FSF (Aspergillus sp. e Penicillium sp.) foi realizada separadamente. Cada isolado foi repicado para placas de Petri contendo 20 mL de meio GL, adicionado de CaHPO4 (10%), conforme Sylvester-Bradley et al. (1982). Após 4 dias de incubação a 30 °C, procedeu-se a suspensão de esporos com solução salina (0,85%) e Tween 80%. Foram realizadas diluições sucessivas até 10-4. Esta última diluição foi utilizada para o plaqueamento em triplicata. As placas foram incubadas por sete dias a 30 °C, no escuro, e feita à contagem direta das UFC. As suspensões foram padronizadas para 108 UFC mL–1 conforme procedimentos utilizados por Costa et al. (2009). Aos 45 dias após a emergência todas as plantas dos vasos foram cortadas rente ao solo e submetidas às seguintes avaliações: i) altura de planta; ii) matéria seca da parte aérea e de raiz, após secagem em estufa de circulação forçada de ar a 65 ± 2 ºC por 72 h, e os valores expressos em gramas por vaso (g/vaso); iii) volume radicular, obtido pelo método da proveta volumétrica. Uma amostra de 0,2 g de material seco da parte aérea foi submetida a digestão ácida utilizando uma mistura de ácido nítrico e ácido perclórico na proporção 3:1 de acordo com metodologia da Embrapa (1997) para determinação do teor de P e então calculou-se o conteúdo de P absorvido (Braga & Defelipo, 1974). XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1463 Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Utilizou-se o programa estatístico SISVAR versão 5.0 para o processamento dos dados. Resultados e Discussão A aplicação de fosfato natural de Gafsa associado ou não à inoculação de fungos solubilizadores de fosfato (FSF) proporcionaram os maiores incrementos na altura de plantas e na matéria seca de parte aérea. Apresentando altura média de 95,2 e 82,4 cm e matéria seca da parte aérea de 49,5 e 39,6 g/vaso, respectivamente, na presença e na ausência de FSF (Figura 1a e 1b). Deste modo, observa-se que a inoculação de fungos solubilizadores de fosfato (FSF) proporcionou um acréscimo percentual de 15% e 25% na altura e matéria seca da parte aérea, respectivamente. Apesar do fosfato natural de Gafsa (29% P2O5) ser uma fonte pouco solúvel, mas por ter sido a única fonte utilizada, naturalmente, o sorgo teve seu crescimento favorecido pela adição deste fertilizante (Figura 1 e 2). Fato este que pode ser explicado, em parte, devido ao nível médio de P (4,8 mg dm-3) existente no solo antes da implantação do experimento. Trabalhando com fonte natural e solúvel de fosfato Harger et al. (2007), obtiveram produção de matéria seca e teores de P da parte aérea de plantas de milho de modo similar, com a utilização de superfosfato triplo e fosfato de Arad (33% P2O5). Sabe-se que as características de reatividade das fontes de P são determinantes em relação à sua eficiência. Os fosfatos de alta reatividade, sendo mais prontamente disponíveis, favorecem a absorção e ao aproveitamento do P, principalmente pelas culturas de ciclo curto (Bedin et al., 2003). Contrariamente, os fosfatos naturais apresentam solubilização mais lenta e ocorre um aumento gradual da disponibilidade de P (Novais & Smyth, 1999). Altura de planta (cm) 90 80 A AB B 70 60 50 40 30 20 60 (a) C Massa seca parte aérea (g/vaso) 100 (b) A 50 40 30 B C D 20 10 Figura 1. Altura de plantas – (a) e massa seca da parte aérea – (b) do sorgo granífero cultivar 0 DKB0 510 em função da aplicação de fosfato natural reativo de Gafsa (FNR) e fungos FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF FSF Controle FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF FSF Controle solubilizadores de fosfato (FSF). Marechal Cândido Rondon, PR. 2009/2010. (Barra seguida Tratamento Tratamento da mesma letra não difere entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade). 10 A simples inoculação de FSF mostrou-se uma alternativa positiva, em que as plantas inoculadas apresentaram valores superiores ao tratamento controle. Com valores de altura de 73,2 e 48,8 cm e de matéria seca da parte aérea de 29,4 e 21,0 g/vaso, respectivamente, com a inoculação de FSF e para o tratamento controle (Figura 1). Resultados contrários foram evidenciados por Steiner et al. (2009) para a cultura do trigo em estudo semelhante a este. A aplicação de fosfato natural de Gafsa favoreceu o desenvolvimento do sistema radicular das plantas de sorgo. De modo que se observa os maiores valores (14,5 g/vaso) de XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1464 matéria seca de raiz, se diferenciando dos demais tratamentos (Figura 2a). Este maior desenvolvimento do tratamento que recebeu apenas a aplicação de fosfato natural de Gafsa pode ser explicado, devido que as raízes tiveram que se desenvolver mais para buscar o fosfato no solo. Pois quando se promoveu a inoculação de FSF este fosfato esteve disponível em maiores proporções e o sistema radicular não necessitou de procurar o íon fosfato para a sua absorção. Resultado estes que podem ser comprovados pelos maiores teores e acúmulo de P na parte aérea quando se aplicou fosfato natural de Gafsa associado à inoculação de FSF (Figura 3a e 3b). Entretanto, ao se analisar o volume radicular (Figura 2b) não se verificou diferença significativa da aplicação com fosfato de Gafsa na presença e na ausência da inoculação de FSF. A simples inoculação de FSF não se mostrou efetiva, em que as plantas inoculadas apresentaram valores poucos superiores ao tratamento controle. Com valores de matéria seca de raiz de 6,6 e 5,3 g/vaso e de volume radicular de 18,3 e 12,5 cm3/vaso, respectivamente, com a inoculação de FSF e para o tratamento controle (Figura 2a,b). 15 50 (a) A Volum e radicular (cm3/vaso) Massa seca de raiz (g/vaso) 18 B 12 9 C C 6 3 0 (b) A 40 A 30 B 20 B 10 0 FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF FSF Controle FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF Tratamento FSF Controle Tratamento Figura 2. Matéria seca de raiz – (a) e volume radicular – (b) de plantas de sorgo granífero cultivar DKB 510 em função da aplicação de fosfato natural reativo de Gafsa (FNR) e fungos solubilizadores de fosfato (FSF). Marechal Cândido Rondon, PR. 2009/2010. (Barra seguida da mesma letra não difere entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade). A eficiente ação solubilizadora por fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium foi relatada por Whitelaw (2000) e Vassilev & Vassileva (2003). Reyes et al. (1999) encontraram correlação positiva entre a solubilização de fosfatos por P. rugulosum. Silva Filho & Vidor (2001) relatam que as diferenças na capacidade e no potencial de solubilização ocasionam alterações quantitativas ou qualitativas nos metabólitos produzidos e sugerem a ocorrência de diferentes mecanismos de solubilização ou de processos com eficiência variável. 3,6 A 2,8 Teor de P (g kg -1) (b) A 160 2,4 B 2,0 B 1,6 1,2 Acúmulo de P (mg/vaso) 3,2 180 (a) A 140 120 B 100 80 C 60 C XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: 0,8 40 Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 0,4 20 0,0 0 FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF Tratamento FSF Controle 1465 FNR (Gafsa) FNR (Gafsa) + FSF Tratamento FSF Controle Figura 3. Teor – (a) e acúmulo – (b) de fósforo na parte aérea do sorgo granífero cultivar DKB 510 em função da aplicação de fosfato natural reativo de Gafsa (FNR) e fungos solubilizadores de fosfato (FSF). Marechal Cândido Rondon, PR. 2009/2010. (Barra seguida da mesma letra não difere entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade). No presente trabalho verifica-se, de modo geral, que a inoculação dos FSF resultou em benefício apenas sobre o crescimento das plantas de sorgo. Em princípio, era esperado que estes fungos disponibilizassem o P adsorvido aos colóides de argila para a solução do solo o que, possivelmente, favoreceria a nutrição e o crescimento da cultura. Provavelmente, tais fungos apresentaram baixa capacidade competitiva frente à biota nativa, o que comprometeu seu estabelecimento no solo. Segundo Richardson (1994) a aparente falta de especificidade entre os microrganismos solubilizadores de fosfato e as plantas, constitui um dos principais fatores limitantes ao sucesso da inoculação. Esse problema, de certa forma, pode ser minimizado pelo uso de inoculantes com um número bastante elevado de células ativas e do uso de microrganismos capazes de estabelecerem-se prontamente na rizosfera das plantas. Conclusões A aplicação de fosfato natural reativo de Gafsa de forma isolada ou associada à inoculação de fungos solubilizadores de fosfato favorece a absorção de P e o crescimento de plantas de sorgo granífero. A inoculação dos fungos solubilizadores de fosfato sem aplicação de fosfato influenciou positivamente o crescimento de plantas de sorgo granífero, porém, possui pouco efeito sobre a absorção de P. Literatura Citada BARROSO, C.B.; NAHAS, E. The status of soil phosphate fractions and the ability of fungi to dissolve hardly soluble phosphates. 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