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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
ARLETE FRANTZ
PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DOS
ERROS COMETIDOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Ijuí (RS),
2011
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ARLETE FRANTZ
PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DOS
ERROS COMETIDOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Enfermagem, Departamento de
Ciências da Vida (DCVida) da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para
obtenção do título de Enfermeira.
Professor Orientador: Ms. Gilmar Poli
Ijuí, RS, dezembro de 2011
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado forças e iluminado meu caminho para
que pudesse concluir mais esta etapa da minha vida.
À minha família, principalmente aos meus pais, Francisco e
Lúcia Frantz, que sempre me apoiaram e incentivaram a seguir
em frente com coragem e perseverança e nunca desistir diante
dos obstáculos. Vocês são e sempre serão meu porto seguro,
meu maior exemplo de vitória e simplesmente aqueles a quem
mais amo.
Ao meu namorado, Fladmir, pelo estímulo, paciência e
dedicação, me auxiliando na concretização deste sonho.
Ao meu orientador, Prof. Ms. Gilmar Poli, pelos ensinamentos
transmitidos durante o período acadêmico e, principalmente,
nesta reta final que, com certeza, farão a diferença.
A todos os meus amigos que sempre me deram palavras de
ânimo e torceram por mim.
Àqueles que contribuíram direta e indiretamente para que este
trabalho fosse concluído com sucesso.
A todos, Muito Obrigada!
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“Cada dia que amanhece assemelha-se a
uma página em branco, na qual gravamos os
nossos pensamentos, ações e atitudes. Na
essência, cada dia é a preparação de nosso
próprio amanhã”.
(Chico Xavier)
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PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DOS
ERROS COMETIDOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
THE PERCEPTION OF NURSING PROFESSIONALS ABOUT THE MISTAKES
MADE IN THE ADMINISTRATION OF MEDICATIONs
Arlete Frantz1
Gilmar Poli2
RESUMO
Objetivo: identificar os fatores que predispõem a erros na administração de medicamentos
por uma equipe de enfermagem atuante numa Unidade de Terapia Intensiva. Metodologia:
pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, desenvolvida nos meses de setembro e outubro
de 2011, com coleta mediante entrevista aberta e uma questão norteadora: em sua opinião,
quais os fatores que podem levar a equipe de enfermagem a cometer erros na administração
de medicamentos em uma UTI? Resultados: dentre as ações e atividades que a enfermagem
desenvolve, a administração de medicamentos é a que, efetivamente, demanda maior desvelo
e responsabilidade. A partir da análise emergiram três categorias: a) não observância dos
cinco certos; b) conhecimento e experiência determinam acertos e condicionam erros de
preparo e administração de medicamentos; c) número reduzido de trabalhadores, dupla
jornada de trabalho e o ambiente geram sobrecarga de trabalho físico e emocional.
Conclusões: existem fatores relacionados ao trabalhador e às condições de trabalho
disponibilizadas pelas instituições de saúde que concorrem para a ocorrência de erros na
administração de medicamentos, e existem lacunas nos processos de formação que precisam
ser revistos. Uma vez identificados estes fatores, cabe aos profissionais dar evidências aos
mesmos e lutar pela qualificação do processo de trabalho e pela qualidade da assistência
dispensada ao usuário do serviço.
Descritores: Enfermagem. Erros de medicação. Fatores predisponentes. Iatrogenias.
ABSTRACT
Purpose: Identifying the factors which predispose to mistakes in the administration of
medications by a nursing team working at an Intensive Care Unit. Methodology: It is a
qualitative, descriptive and exploratory research, carried out in the months of September and
October in 2011, whose data were collected with an interview and one open question: In your
opinion, which are the factors that may lead the nursing team to make mistakes in the
administration of medication in an Intensive Care Unit? Results: Among the actions and
activities performed by the nurses, the administration of medications is the one that,
effectively, requires more attention and responsibility. From the analysis, three categories
emerged: a) the non-observation of the “five checked”; b) knowledge and experience
determine the right decisions, and condition the mistakes in terms of preparing and giving the
medications; c) the reduced number of workers, the double working shift and the environment
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Acadêmica do 9º semestre do curso de Graduação em Enfermagem, Departamento de Ciências da Vida
(DCVida) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para
obtenção do título de Enfermeira. E-mail: [email protected].
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Orientador, mestre, professor do curso de Enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul (Unijuí). E-mail: [email protected].
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cause overload of emotional and physical labor. Conclusions: There are factors related to the
professional and to the working conditions made available by the health institutions which
compete for the occurrence of mistakes in the administration of medications, and there are
gaps in the formation process which shall be reviewed. Once these factors are identified, it is
the professionals’ duty to highlight them and to fight for the qualification of the working
process and for quality in the assistance given to the users of this service.
Descriptors: Nursing. Mistakes in medication. Predisposing Factors. Iatrogenic.
1 INTRODUÇÃO
Dentre a gama de ações e atividades de responsabilidade dos trabalhadores de
enfermagem, a administração de medicamentos é uma das mais importantes e também uma
das mais complexas, pois além de demandar parte significativa do tempo de trabalho dos
profissionais, exige conhecimento específico sobre os processos que esta atividade envolve e
alto nível de atenção, haja vista o fato de que todo medicamento pode, ao mesmo tempo, ser
uma forma de tratamento e uma droga letal. A melhor ou pior resposta que se pode obter do
seu uso, depende exatamente disso: da forma como é prescrita e administrada.
Rosa et al. (2009, p. 491) referem que estudos internacionais indicam altos índices de
erros de administração de medicamentos e trazem dados de pesquisa desenvolvida pela
Harvard Medical Practice Study I e II que mostrou que os “eventos adversos relacionados à
assistência são comuns e inesperadamente altos em hospitais norte-americanos, acarretando
danos permanentes e mortes”. Dados desse mesmo estudo mostram que, em média, 98.000
americanos vão a óbito todos os anos devido a erros relacionados com a inadequada
assistência prestada.
Segundo Optiz (2006), no Brasil, no que se refere às pesquisas que representam a
segurança dos pacientes frente aos erros de administração de medicamentos, estas se
encontram em constante crescimento. Uma das mais importantes instituições envolvidas nos
estudos e propostas que implicam em pesquisas brasileiras é a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), criada com o propósito de garantir a promoção e proteção da
saúde da população brasileira.
A prescrição de medicamentos é uma atividade do núcleo do profissional médico,
enquanto que a sua administração é atividade do núcleo da Enfermagem e isso exige do
profissional, além do conhecimento técnico, responsabilidade em conhecer as ações, reações,
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efeitos adversos, formas de administração, horários, dosagens e demais procedimentos que o
processo envolve (OLIVEIRA; MELO, 2011).
Nesse sentido, Carvalho et al. (1999, p. 67) referem que “o enfermeiro, embora não
sendo responsável pela prescrição dos medicamentos, deve conhecer todos os aspectos e fases
envolvidas no processo, a fim de evitar erros e enganos, com prejuízos ao paciente”. Citando
Gladstone (1995), os autores acrescentam ainda que “está implícito, na relação entre o
paciente e o enfermeiro, o princípio de que esse está sempre trabalhando para o bem estar e
benefício daquele” e que, quando erros acontecem, estes princípios são violados, causando
prejuízos ao paciente e abalando a sua confiança para com o serviço de Enfermagem.
Franco et al. (2010) afirmam que a Enfermagem é responsável pela última etapa do
processo de medicação, que é o preparo e a administração do medicamento e que os erros
podem fazer parte desse processo. Contudo, um sistema estruturado e trabalhadores
qualificados poderão fornecer as condições necessárias para minimizar e prevenir estes
eventos.
Nesta mesma dimensão, Freitas e Oda (2008) referem que fatores relacionados à falta
de preparo dos profissionais, formação acadêmica inadequada, profissionais desatualizados e
desatenção, contribuem para ocorrência de erros e acrescentam que, para além das variáveis
internas relacionadas ao profissional é importante que os serviços disponham das condições
objetivas de trabalho, pois estas contribuem, direta e indiretamente, com a efetivação das
ações da equipe de saúde. Citam como fatores intervenientes a frequente interrupção de outros
profissionais, nível elevado de ruídos sonoros e ambiente impróprio.
Nesta perspectiva, Anacleto et al. (2010, p. 6) apontam para:
[...] falta de conhecimento sobre os medicamentos, falta de informação sobre os
pacientes, violação de regras, deslizes e lapsos de memória, erros de transcrição,
falhas na interação com outros serviços, falha na conferência das doses, problemas
relacionados a bombas e dispositivos de infusão de medicamentos, inadequado
monitoramento do paciente [...].
Fakih, Freitas e Secoli (2009) afirmam que os eventos adversos podem estar
relacionados em todos os processos de assistência, desde a procura por atendimento nos
serviços de saúde até os diferentes estágios de tratamento e também durante o processo de
prevenção, diagnóstico e tratamento. Diante do exposto, conhecer as propriedades, princípios
e efeitos das drogas é determinante para o profissional que irá administrá-las, da mesma forma
é importante que este observe os preceitos éticos e legais que orientam suas práticas,
garantindo a segurança e a qualidade na assistência (FREITAS; ODA, 2008).
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Com base nessas considerações fica evidente que erros no processo de administração
de medicamentos, mesmo que indesejáveis, podem ocorrer. Por isso, propõe-se um estudo que
responda a seguinte questão: Que fatores predispõem os trabalhadores da equipe de
enfermagem a cometer erros de administração de medicamentos? Com isso visa-se
atender ao objetivo traçado de identificar os fatores que predispõem a erros na administração
de medicamentos por uma equipe de Enfermagem atuante em uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI).
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, descritivo e exploratório. A mesma foi
desenvolvida em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTIa) de um hospital geral de
porte IV, localizado no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para a realização da mesma
foram observados os preceitos éticos e legais que envolvem uma pesquisa com seres
humanos, conforme predispõe a Resolução nº 196/96 do CNS. Nesse sentido solicitou-se e
obteve-se a autorização da instituição hospitalar (Apêndice A e Anexo A), registrou-se o
projeto no SISNEP (FR – 444518) (Anexo B), o qual foi encaminhado ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, sendo
avaliado e aprovado conforme Parecer Consubstanciado nº 199.1/2011 (Anexo C).
Os dados foram coletados nos meses de setembro e outubro de 2011, mediante
entrevista aberta com uma questão norteadora: Em sua opinião, quais os fatores que podem
levar a equipe de enfermagem a cometer erros de administração de medicamentos em
uma UTI? Foram sujeitos deste estudo 17 trabalhadores da Enfermagem que aceitaram
participar, dentre os quais seis são enfermeiros, o que corresponde a 35%, e 11 são técnicos
em Enfermagem, correspondente a 65%. Deste universo dois são do sexo masculino e 15 do
sexo feminino. A idade dos sujeitos do estudo varia entre 20 e 49 anos. Em relação ao tempo
que trabalham na UTI este variou entre três meses e 10 anos.
A proposta inicial foi entrevistar todos os trabalhadores da equipe de Enfermagem que
atuam na Unidade, contudo e considerando a possibilidade metodológica prevista (saturação
dos dados) suspendeu-se a inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passaram
a se repetir.
Os critérios para inclusão foram: atuar como enfermeiro, técnico ou auxiliar de
Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva adulto. Os critérios de exclusão foram: não
aceitar participar do estudo, estar em período de gozo de férias. Aos que aceitaram foi
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disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), permanecendo uma
cópia com o entrevistado e uma com os pesquisadores.
A pergunta aberta foi gravada em áudio tape e, posteriormente, transcrita na íntegra e
analisada pelo método de análise de conteúdo (MINAYO, 2004). Cada entrevistado recebeu
um nome fictício para a identificação de suas entrevistas (E 01 a E 17) e preservação do seu
anonimato.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dentre as ações e atividades que a Enfermagem desenvolve no campo da saúde, a
administração de medicamentos é a que, efetivamente, demanda maior desvelo e
responsabilidade. Tal condição exige dos profissionais conhecimento e segurança, assim
como das instituições a disponibilidade de condições ambientais e tecnologias necessárias a
fim de que o paciente não seja exposto a danos decorrentes de possíveis erros. Esta condição
está prevista no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem em seu Capítulo III, art.
16, que imprime a responsabilidade dos profissionais quando assegura ao cliente uma
assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência e
imprudência (BRASIL, 2011).
Segundo Corbellini et al. (2011), as ocorrências de alguns tipos de erros são inerentes
ao processo cognitivo humano, o que inclui os profissionais da saúde. Com este estudo podese evidenciar a existência de fatores que contribuem para a ocorrência de erros de medicação,
os quais estão relacionados aos indivíduos e a problemas operacionais.
Da análise do conteúdo das falas dos sujeitos do estudo emergiram três categorias de
análise: a) não observância dos cinco certos; b) conhecimento e experiência determinam
acertos e condicionam erros de preparo e administração de medicamentos; e c) número
reduzido de trabalhadores, dupla jornada de trabalho e o ambiente geram sobrecarga de
trabalho físico e emocional.
3.1 Categoria I: Não observância dos cinco certos
Conhecimento, certeza, segurança, responsabilidade, ética, entre outros, são conceitos
relevantes no cotidiano do fazer profissional. Além disso, a realização de atividades do campo
e do núcleo da Enfermagem exige que trabalhadores busquem outras ferramentas e/ou
instrumentos, suficientemente práticos e objetivos que aumentem as possibilidades da não
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ocorrência de erros. Refere-se aqui aos “cinco certos” que se constituem em “fases” do pensar
e do fazer procedimentos na Enfermagem.
Para Freitas e Oda (2008), os cinco certos são regras básicas que servem de auxílio aos
profissionais durante as etapas do preparo e administração de medicamentos, a fim de evitar
que imprevistos indesejáveis e fatais possam acontecer. Cortez et al. (2009, p. 287)
classificam os itens a serem observados em: “medicação certa, dose certa, via certa, hora certa
e paciente certo”. Já Corbellini et al. (2011, p. 242) acrescem um sexto elemento além dos já
citados – o “documento certo”, que contribui ainda mais para a redução de erros na
administração de medicamentos.
Ao questionar os sujeitos do estudo sobre quais os fatores que podem levar uma
equipe de enfermagem a cometer erros de administração de medicamentos em uma UTI, a não
observância dos cinco certos foi destacada por 70,58% dos sujeitos do estudo. Dentre as
referências, destacam-se as que seguem:
[...] a falta de atenção porque primeiro de tudo tu tem que cuidar os 5 certos [...].
(E 16).
[...] cuidar os 5 certos sempre, [...] prestar muita atenção na hora de diluir [...].
(E 15).
A não observância dos cinco princípios básicos referentes à administração de
medicamentos se constitui em descumprimento dos princípios éticos que norteiam e são
legados à profissão e concorrem para a não preservação da integridade do indivíduo que está
sendo cuidado. Nesta perspectiva, Cortez et al. (2009) afirmam que a ética profissional deve
estar intrínseca às atividades desenvolvidas pela equipe de Enfermagem, evidenciando
responsabilidades e compromissos assumidos.
A não observância dos cinco certos, segundo os sujeitos do estudo, decorre da falta de
atenção do trabalhador na hora da leitura e interpretação da prescrição:
[...] ler a prescrição de enfermagem e a prescrição médica [...]. (E 14).
[...] o pessoal não lê, não sabe pegar uma prescrição, lê a dose, o horário certo e
faz, simplesmente vão lá e olham os horários e seguem aquilo, não leem o nome do
medicamento, a dose, se é meio frasco, se é um frasco inteiro. (E 3).
Estudo desenvolvido por Freitas e Oda (2008) destaca que a falta de atenção e a
distração são fatores de riscos apontados por 68% dos entrevistados. As dificuldades para
compreender e entender uma prescrição, no entanto, foi pontuada por 38% dos participantes.
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Santos (2010) afirma que para melhor compreender a prescrição de medicamentos é
necessário que os profissionais de Enfermagem a interpretem com atenção e a executem com
exatidão, pois o não cumprimento desta poderá acarretar uma baixa eficácia no tratamento.
[...] o que mais leva a cometer erros é a falta de atenção, a falta de leitura da
prescrição [...]. (E 03).
[...] falta de atenção e a interpretação [...]. (E 12).
Não estar concentrado no processo de trabalho e na atividade que está desenvolvendo
e manter conversas paralelas com colegas, são posturas que contribuem para a ocorrência de
erros na administração de medicamentos. Um estudo realizado por Miasso et al. (2006) define
as categorias que predispõem a erros, em que a falta de atenção se destaca com maior ênfase
(23,2%), considerado atributo das causas dos erros, perpetuando a ideia de que o indivíduo é
considerado o responsável e não o sistema. O depoimento que segue explicita esta situação:
[...] prestar muita atenção na hora de diluir, não ficar de conversa com o colega.
Na hora da diluição da medicação o silêncio é muito importante pra tu te
concentrar se não tu não te concentra no que tu tá fazendo pode acontecer alguma
coisa errada como troca de medicação [...]. (E 15).
Carvalho et al. (1999), ao apresentar os resultados de um estudo realizado em
Unidades Básicas de Saúde, destacam que os fatores de risco relativos ao profissional que
prepara os medicamentos são os que mais deveriam ser combatidos a fim de evitar a
ocorrência de erros na administração de medicamentos. No mesmo estudo Wolf (1989 apud
CARVALHO et al., 1999) diz que os erros na transcrição da medicação, associados à
distração em não ler o rótulo de uma medicação, a falta de informação sobre a absorção e
ação de um medicamento, e a administração de medicamentos sem antes checá-la na
prescrição podem ocasionar erros na administração de medicamentos.
Neste mesmo sentido, Corbellini et al. (2011) referem que as condutas e os processos
de preparo e administração de medicamentos são diferentes, mesmo que os trabalhadores
estejam inseridos em condições de trabalho idênticas, como instituição, unidade, rotina, etc.,
contribuindo para a ocorrência de eventos adversos.
Destaca-se, portanto, nas falas dos sujeitos do estudo que os possíveis erros na
administração de medicamentos estão, essencialmente, relacionados a falhas humanas, ou
seja, dos trabalhadores, como: não observância dos cinco certos; falta de atenção; falta de
concentração; problemas de interpretação da prescrição, etc.
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3.2 Categoria II: Conhecimento e experiência determinam acertos e condicionam erros
de preparo e administração de medicamentos
Ao associar o conhecimento teórico e a experiência construída através da prática com
o exercício seguro da profissão é possível assegurar maiores índices de acertos e menores
índices de erros e, consequentemente, maior segurança aos usuários dos serviços de saúde
(FRANCO et al., 2010).
Em relação à administração de medicamentos, Freitas e Oda (2008) afirmam que é
determinante que o enfermeiro conheça e compreenda os efeitos terapêuticos e as reações
adversas que a droga pode desencadear e que, associado ao conhecimento, a experiência
possibilita maior segurança no monitoramento das respostas apresentadas pelo paciente.
Gimenes et al. (2010) acrescentam que, deter este conhecimento pode modificar o
processo farmacodinâmico e farmacocinético das drogas, especialmente no que se refere às
interações medicamentosas, resultando em melhor resposta clínica e maior segurança para o
paciente e profissionais.
Dentre os sujeitos do estudo, 58,82% referem dificuldades no processo que envolve o
preparo e a administração de medicamentos e o posterior monitoramento dos sinais e sintomas
adversos, o que decorre da falta de conhecimento, como é evidenciado nas falas a seguir:
[...] falta de conhecimento das medicações, para que serve e quando pode ser feito
[...] não saber o nome do sal [...]. (E 02).
[...] falta de conhecimento quanto à diluição do medicamento [...] quanto à via de
administração [...]. (E 03).
As falas demonstram a fragilidade dos trabalhadores frente ao conhecimento das
medicações e, consequentemente, aos riscos que os usuários estão expostos. Apontam
também a necessidade de qualificação dos trabalhadores frente a estes aspectos. Isso remete a
pensar sobre as responsabilidades assumidas pelas instituições formadoras, empregadoras e
dos próprios trabalhadores.
Alam, Vaz e Almeida (2005), ao discutirem a educação ambiental e o conhecimento
do trabalhador em saúde sobre situações de risco, referem que o trabalhador é sujeito da sua
própria ação e da sua relação com o meio, devendo buscar as melhores condições de e para o
trabalho. Mas também é responsabilidade das instituições oferecer condições e possibilidades
de qualificação dos trabalhadores visando ao desenvolvimento do processo de trabalho. As
responsabilidades são mútuas e devem ser assumidas como compromisso ético entre
trabalhadores e instituição.
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Foi destacado por 52,94% dos sujeitos do estudo que quando o funcionário é novo na
unidade aumentam as possibilidades de erros na administração de medicamentos, e que isso
se deve à falta de acompanhamento direto da enfermeira, problemas no processo de formação
e à falta de experiência. Os relatos apontam para esta evidência:
Funcionários novos [...] não ter experiência. (E 01).
[...] ninguém vem com experiência e a enfermeira não acompanha [...]. (E 06).
[...] ter um acompanhamento da enfermeira [...]. (E 09).
A qualificação dos profissionais [...] a falta de informação e a falta de
conhecimento, principalmente, acabam levando aos erros. (E 13).
[...] não tem o conhecimento, e eu acho que isso falta um pouco nos cursos, de
instiga, de chama mais o pessoal, os estudantes pra isso. (E 17).
[...] a falta de preparo [...] no curso e principalmente no estágio, é muito pouco.
(E 16).
Estes eventos definem-se a partir da falta de preparo e constituem-se fatores que
contribuem para episódios de erros, o que pode, na grande maioria das vezes, ser considerado
um fator humano e individual (MIRANDA et al., 2011). Contudo, como já referenciado por
Alam, Vaz e Almeida (2005), as instituições não podem ser isentas da responsabilidade pela
qualificação dos trabalhadores e, especialmente, sobre os resultados decorrentes dos processos
de produção de serviços.
Nesse sentido, destaca-se que entre o processo de formação profissional e a inserção
efetiva no processo de trabalho de uma instituição, o profissional recém-formado passa,
normalmente, por outros processos que incluem o seletivo, as capacitações e orientações
posteriores à sua admissão. Já no ambiente de trabalho, a orientação, acompanhamento e
avaliação do novo trabalhador da Enfermagem é responsabilidade inerente ao enfermeiro
coordenador da área ou outro definido por ele.
É determinante que nesta função o enfermeiro, além de outras demandas que emergem
do próprio processo de inserção do novo trabalhador no serviço, acompanhe e oriente sobre a
importância do preparo e administração de medicamentos de modo correto, a fim de favorecer
e proporcionar um aprendizado contínuo em prol da qualificação do serviço e a não
ocorrência de erros e resultados inesperados (PRAXEDES; TELLES FILHO, 2008).
Considerando que na UTI em questão, normalmente são os técnicos em Enfermagem
que preparam e administram os medicamentos, é necessário que os enfermeiros se
“aproximem” mais desta atividade, ensinando, apoiando e orientando o trabalhador no
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momento em que a atividade está sendo desenvolvida, assim como, demandando ao serviço
de Educação Continuada as necessidades de qualificação percebidas na unidade. Teixeira e
Cassiani (2010) referem que isso nem sempre acontece em razão de que os enfermeiros se
ocupam muito com problemas administrativos, afastando-se da supervisão direta ao
funcionário, gerando possibilidades de erros na implementação medicamentosa.
Quando se trata da inserção de um trabalhador de Enfermagem em uma unidade de
internação hospitalar como a UTI, a necessidade de capacitação é, sem dúvida, ainda maior,
haja vista a “complexidade da área”: pacientes graves, equipamentos, materiais,
medicamentos, processo de trabalho e unidade fechada. Nesta perspectiva, Pelliciotti e
Kimura (2010) destacam que as UTIs são diferenciadas das demais unidades devido a sua
concentração de recursos tecnológicos, profissionais especializados e treinados, destinados ao
tratamento de pacientes com maior gravidade e instabilidade clínica, tolerando baixos níveis
de erros.
Em relação às deficiências do preparo teórico para subsidiar a prática segura da terapia
medicamentos, Miranda et al. (2011) corroboram que a deficiência no processo de formação
escolar dos novos profissionais que passam a integrar o grupo de trabalho contribuem para a
incidência de erros na administração de medicamentos.
Para Oliveira et al. (2007), a carência na formação profissional tem como evidência o
crescente avanço tecnológico, pois no Brasil as escolas profissionalizantes não conseguem
formar trabalhadores que atendam às demandas e necessidades exigidas pelo mercado de
trabalho, o qual se encontra em constante crescimento frente aos avanços tecnológicos.
A partir desses fatores enfatiza-se a importância da supervisão adjacente aos
funcionários e colaboradores devido a suas inexperiências e falta de conhecimentos, o que
corresponde a causas comuns de erros na administração de medicamento e complicações aos
pacientes (FREITAS; ODA, 2008; PRAXEDES; TELLES FILHO, 2008).
É destaque nas falas dos entrevistados que a falta de experiência do profissional recém
formado e de experiência para atuação na UTI, associada ao despreparo nos espaços formais
de educação e de acompanhamento direto do enfermeiro no período de inserção do
trabalhador na unidade, concorrem para a maior incidência de erros na administração de
medicamentos. É necessário, contudo, que os trabalhadores percebam o processo formal de
educação técnica e acadêmica, que é só o início de sua preparação profissional, devendo estar
em constante aperfeiçoamento técnico e científico para atuar na área de sua formação.
É possível também inferir que estas condições e/ou deficiências podem estar
relacionadas a outros fatores não mencionados pelos sujeitos do estudo, dentre os quais pode-
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se citar: processo seletivo interno e externo; período e metodologia de inserção do novo
trabalhador na instituição; e programa de educação continuada pouco efetivo, entre outros.
Contudo, é fato que conhecimento não se adquire e sim se constrói por meio dos
estudos teóricos e da experiência prática, sempre em processo de reconstrução. A falta de
conhecimento e o despreparo dos profissionais denotam a importância e a necessidade de um
contínuo processo de capacitação da equipe, de modo a favorecer e proporcionar o
aprendizado, sendo a educação em serviço um influenciador na redução da ocorrência de
erros previsíveis.
3.3 Categoria III: Número reduzido de trabalhadores, dupla jornada de trabalho e o
ambiente geram sobrecarga de trabalho físico e emocional
A sobrecarga de trabalho foi referenciada por um número significativo dos
trabalhadores entrevistados como possíveis fatores que condicionam o erro na administração
de medicamentos. Dentre os entrevistados, 47,05% dizem que constantemente são chamados
a assumir os cuidados de número excessivo de pacientes; 35,29% dos entrevistados relatam
ter dupla jornada de trabalho; e 47,05% dos entrevistados afirmam que o ambiente e o
processo de trabalho influenciam amplamente no cuidado e na administração de
medicamentos e aumentam as possibilidades de ocorrência de erros na administração de
medicamentos. Apresentam-se, a seguir, algumas falas que dimensionam estas afirmações:
Reduzido número de trabalhadores:
[...] assumir o cuidado de até três pacientes [...]. (E 05).
[...] ter mais de 2 pacientes por técnico [...]. (E 01).
[...] sobrecarga de serviço [...]. (E 07).
Dupla jornada de trabalho:
[...] pouca valorização e acabam tendo que trabalhar em mais de um local [...].
(E 13).
[...] dupla jornada de trabalho [...] porque precisam se manter [...]. (E 05).
Ambiente e processo de trabalho:
Ambiente de trabalho conturbado [...]. (E 13).
[...] estresse do ambiente de UTI [...]. (E 12).
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A sobrecarga de trabalho relatada pelos sujeitos deste estudo decorre do número
reduzido de trabalhadores, e isto tem relação direta com o dimensionamento, adequado ou
não, do pessoal de Enfermagem. Para Miasso et al. (2006), a sobrecarga de trabalho é
resultante da falta de profissionais, aumento de atividades, número de pacientes maior que o
estipulado pela escala de dimensionamento, entre outros fatores. Corbellini et al. (2011)
afirmam que a sobrecarga de trabalho de um profissional deixa-o vulnerável e passível de
distração.
O dimensionamento do pessoal de Enfermagem é um processo sistemático que
envolve vários fatores, como a qualidade da assistência, segurança dos pacientes, carga de
trabalho assistencial e, principalmente, um número adequado de profissionais para a
assistência qualificada. Nesta perspectiva, Inoue e Matsuda (2009) afirmam que a Resolução
COFEN 293/2004 aponta para o dimensionamento de pessoal e que este contempla um
quadro profissional quantiqualitativo, baseado nas características hospitalares, ajustando
necessidades e tarefas atribuídas, considerando a complexidade e tecnologias disponíveis a
fim de evitar a sobrecarga dos profissionais.
Nesse sentido, Inoue e Matsuda (2009) afirmam que a gestão de pessoas nesta área se
torna imprescindível, pois ali internam pacientes hemodinamicamente instáveis e com risco
iminente de morte, os quais exigem cuidados complexos, atenção ininterrupta e tomada de
decisões imediatas. Por isso é necessário garantir recursos humanos suficientes a fim de que
não haja sobrecarga de trabalho. É necessário, contudo, que o trabalhador desenvolva
habilidades técnicas que garantam a segurança, a manutenção e a qualificação do cuidado, de
forma a isentar o paciente de riscos decorrentes de iatrogenias.
Atualmente observa-se que a demanda de profissionais de enfermagem qualificados
encontra-se reduzido nas instituições brasileiras. Associado a este fator estão as altas taxas de
ocupação e as inúmeras atividades a serem desenvolvidas, as quais geram acúmulo de
trabalho para as equipes (FREITAS; ODA, 2008).
Aliados a estes fatores encontram-se o número reduzido de profissionais no mercado
de trabalho, a situação econômica desfavorável, os baixos e insuficientes salários para o
sustento familiar, os quais fazem com que os profissionais procurem novas fontes de renda,
tornando necessária a dupla jornada de trabalho, a qual interfere na qualidade de vida do
trabalhador e na assistência prestada.
Esta realidade provém da pouca valorização dos profissionais e das frustrações destes
por não terem o devido reconhecimento de seus esforços (MIRANDA et al., 2011). A falta de
valorização profissional pode gerar diversos sentimentos, incluindo a frustração que, aliada ao
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número reduzido de profissionais e a dupla jornada de trabalho exercem influência direta na
elevação do sofrimento psíquico e mental. O desgaste do trabalhador pode resultar em
elevação dos índices de absenteísmo e ocorrência de erros.
Outro fator gerador de erros, mencionado e observado pelos entrevistados, tem
implicação direta com o ambiente de trabalho: unidade fechada; concentração de recursos
tecnológicos; pacientes graves, instáveis; permanente movimentação de profissionais,
familiares, entre outros, que tornam o ambiente conturbado.
[...] a própria organização, o barulho dentro da unidade [...]. (E 10).
Sabe-se atualmente que a assistência de enfermagem para ser desenvolvida com
qualidade e segurança, deverá propiciar ambientes organizados e sem presença de elevados
níveis de índices sonoros. Por sua vez, ambientes que apresentam excessiva carga de trabalho,
com momentos mais agitados e contatos diretos com situações limites, além de elevados
níveis de tensão, acarretam riscos ao indivíduo executor, colegas e inclusive para os pacientes
(PEREIRA et al., 2010).
Diante dos fatores supracitados e em razão do alto fluxo de pessoas neste ambiente de
trabalho, destaca-se a vulnerabilidade dos profissionais para o desenvolvimento de estresse
ocupacional, o que contribui para a desatenção e desequilíbrio mental, bem como para a
ocorrência de erros de medicação. Para Melo e Silva (2008), a equipe de Enfermagem é
vulnerável a distrações que, de forma recorrente, afetam a capacidade de concentração no
trabalho, prejudicando o desenvolvimento das atividades, desde as mais simples às mais
complexas. É perceptível, portanto, que trabalhar em ambientes conturbados e sob pressão
implica consideravelmente em iatrogenias no momento de medicar um paciente.
Neste sentido, Medeiros et al. (2009) afirmam que as longas jornadas de trabalho, a
desvalorização salarial e as condições de trabalho contribuem para o desgaste físico e
emocional dos trabalhadores, acarretando a fadiga, o estresse e a desatenção no ambiente de
trabalho, pré-dispondo a erros no preparo e administração de medicamentos.
Para reduzir e minimizar estes fatores que implicam diretamente na qualidade da
assistência, as instituições de saúde deverão priorizar um contínuo processo de
acompanhamento aos profissionais que estão diretamente envolvidos no processo de preparo e
administração de medicamentos. Em relação a isto, Miranda et al. (2011) enfatizam a
importância da educação continuada, oportunizando constantes capacitações com ênfase no
desenvolvimento pessoal e profissional da equipe, proporcionando um olhar crítico para as
18
atividades a serem desenvolvidas. Os autores enfatizam a importância da redução da carga
horária semanal imposta à equipe de Enfermagem como um fator que poderá auxiliar na
diminuição da problemática estabelecida neste estudo.
Ao mesmo tempo, Praxedes e Telles Filho (2008) destacam a importância da
comunicação do erro, enfatizando que a instituição não deverá priorizar a punição do
profissional, mas a orientação e a educação permanente como estratégia para a minimização
de fatores que possam levar à ocorrência de iatrogenias.
É destacado pelos sujeitos deste estudo que a ocorrência de possíveis erros ou
iatrogenias na administração de medicamentos pode estar relacionada a fatores como: número
reduzido de trabalhadores, dupla jornada e ambiente de trabalho. Estes fatores, quando
associados, produzem desgaste físico e emocional.
No contexto das discussões apresentadas é possível evidenciar que a sobrecarga de
trabalho está relacionada ao dimensionamento inadequado do pessoal de Enfermagem. Ao
mesmo tempo, a desvalorização dos profissionais, expressa nos baixos salários pagos pelas
instituições de saúde, os “obriga” a exercer dupla jornada de trabalho, o que eleva
sensivelmente a possibilidade de desgaste físico do trabalhador. Estes fatores, associados ao
ambiente da UTI, se constituem elementos geradores de desgaste emocional, podendo levar
ao estresse ocupacional. O resultado do trabalho desenvolvido nestas condições contribui para
a ocorrência de erros na administração de medicamentos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste estudo evidencia-se a complexidade do processo que envolve o preparo
e a administração de medicamentos, uma vez que esta é a principal terapêutica utilizada no
tratamento dos pacientes hospitalizados e desenvolvida pela equipe de Enfermagem.
Nas falas dos sujeitos do estudo identificam-se os fatores que concorrem para a
incidência de erros na administração de medicamentos. Para a discussão foram construídas
três categorias de análise: a) Não observância dos cinco certos; b) Conhecimento e
experiência determinam acertos e condicionam erros de preparo e administração de
medicamentos; e c) Número reduzido de trabalhadores, dupla jornada de trabalho e o
ambiente geram sobrecarga de trabalho físico e emocional.
O estudo identifica também que existem fatores relacionados e que são dependentes do
próprio trabalhador e outros que dizem respeito às condições de trabalho que são impostas
pelas instituições de saúde.
19
Dentre os que dizem respeito ao trabalhador, a não observação dos cinco certos e a
falta de atenção na hora de preparar e administrar as medicações foram os mais citados pelos
sujeitos do estudo e, por isso, considerados de maior relevância, o que remete inferir que estes
são, portanto, os que concorrem de forma mais direta para a ocorrência de erros na
administração de medicamentos.
Ainda relacionado a situações próprias do trabalhador fica evidente que a falta de
experiência e de conhecimento teórico e prático dos profissionais são fatores que influenciam
e contribuem para a elevação dos índices de iatrogenias.
Dentre os fatores relacionados às condições de trabalho disponibilizadas pelas
instituições, o estudo evidencia que: o inadequado dimensionamento de pessoal de
enfermagem e consequente número reduzido de trabalhadores; a baixa remuneração salarial
que “obriga” o trabalhador a manter dois empregos ou dupla jornada de trabalho; e o desgaste
físico e mental do trabalhador produzido pelas condições do espaço e ambiente de trabalho,
incidem sobre o trabalhador, aumentando as possibilidades de ocorrência de erros na
administração de medicamentos.
Diante destas evidências é possível dizer que erros na administração de medicamentos
ocorrem e que existem fatores que concorrem para estes eventos. Ao mesmo tempo, pode-se
afirmar que todos são passíveis de ser solucionados mediante ações e atitudes que envolvem o
trabalhador e as instituições prestadoras de serviços de saúde.
É determinante que profissionais e instituições de saúde busquem resgatar os
compromissos e responsabilidades éticas e legais assumidas a partir do momento em que se
constituíram, ou seja, de atender o ser humano, de forma humana, propiciando as condições
necessárias para que a atenção e o cuidado possam ser desenvolvidos com qualidade, destreza,
resolutividade e, especialmente, livre de iatrogenias. Nesse item incluem-se as instituições
formadoras de profissionais de saúde.
É determinante que ao inserir um trabalhador na equipe de Enfermagem de uma UTI,
este passe por um processo prolongado de capacitação, acompanhamento e avaliação,
possibilitando-lhe conhecer não somente os fluxos de atividades, mas em especial, o processo
de trabalho e as medicações e as suas formas de uso.
Entende-se que os programas internos das instituições, como educação continuada e
em serviço, bem como as capacitações devem propiciar espaços de requalificação e
aprimoramento dos conhecimentos dos trabalhadores da Enfermagem. Considerando os
resultados obtidos neste estudo sugere-se que o processo de preparo e administração de
medicamentos seja prioritário para os trabalhadores da UTI estudada.
20
As evidências apontam ainda para o fato de que, independente de qualquer
justificativa, existe sim uma espécie de desvalorização “velada” dos trabalhadores da
enfermagem, haja vista a baixa remuneração paga pelas instituições de saúde a estes
profissionais.
Destaca-se, enfim, que as responsabilidades sobre a qualificação dos profissionais e,
consequentemente, do processo de trabalho, o que inclui a administração de medicamentos,
são mútuas, ou seja, o trabalhador e a instituição devem se envolver com o processo de
qualificação do trabalhador.
A importância do conhecimento dos fatores que predispõem a erros na administração
de medicamentos torna-se essencial para que as instituições e os profissionais enfermeiros
desenvolvam ações e planejamentos em busca de estratégias que mantenham a equipe de
enfermagem atualizada frente aos conhecimentos farmacocinéticos, farmacodinâmicas e
novas tecnologias que constantemente vão surgindo, instituindo uma assistência segura e
isenta de erros.
A existência de novos estudos e pesquisas que referenciem o erro dentro das
instituições de saúde, especificamente sobre o erro cometido pela equipe de Enfermagem,
permitirá uma maior preocupação e maturidade dos profissionais atuantes, gestores e
sociedade sobre a forma de encarar o erro, que é passível de qualquer indivíduo, mas que
resulta de um conjunto de fatores e não apenas de um único indivíduo.
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23
APÊNDICE
24
APÊNDICE A
OFÍCIO DE SOLICITAÇÃO AO HOSPITAL DE CARIDADE DE IJUÍ
25
ANEXOS
26
ANEXO A
OFÍCIO DE RETORNO DO HOSPITAL DE CARIDADE DE IJUÍ
27
ANEXO B
FOLHA ROSTO – REGISTRO SISNEP
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Conselho Nacional de Saúde
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP
FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
FR - 444518
Projeto de Pesquisa
A PERCEPÇÃO DA ENFERMAGEM ACERCA DOS ERROS COMETIDOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Área de Conhecimento
Grupo
4.00 - Ciências da Saúde - 4.04 - Enfermagem - Preve.
Grupo III
Área(s) Temática(s) Especial(s)
Nível
Prevenção
Fase
Não se Aplica
Unitermos
Enfermagem, administração de medicamentos, erros, iatrogenias
Nº de Sujeitos no Centro
30
Placebo
NAO
Total Brasil
30
Medicamentos
HIV / AIDS
NÃO
Sujeitos na Pesquisa
Nº de Sujeitos Total
Grupos Especiais
30
Wash-out
NÃO
Sem Tratamento Específico
NÃO
Banco de Materiais Biológicos
NÃO
Pesquisador Responsável
Pesquisador Responsável
Gilmar Poli
CPF
437.133.600-06
Identidade
4033389356
Área de Especialização
Educação nas Ciências
Maior Titulação
Mestre
Nacionalidade
Brasileiro
Endereço
Rua Aracajú, 128
Bairro
Burtet
Cidade
Ijuí - RS
Fax
Email
[email protected]
Código Postal
98700-000
Telefone
55 - 3332 0200 / 55 - 3333 5849
Termo de Compromisso
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados
exclusivamente para os fins previstos no protocolo e publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não.
Aceito as responsabilidades pela condução científica do projeto acima.
_________________________________________
Data: _______/_______/______________
Assinatura
Instituição Proponente
Nome
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ
CNPJ
90.738.014/0002-80
Nacional/Internacional
Nacional
Unidade/Órgão
Departamento de Ciências da Saúde
Participação Estrangeira
NÃO
Projeto Multicêntrico
NÃO
Endereço
Rua do Comércio, 3000
Bairro
Universitário
Cidade
Ijuí - RS
Fax
55 33320301
Email
[email protected]
Código Postal
98700000
Telefone
55 33320301
Termo de Compromisso
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares e como esta instituição tem condições para o desenvolvimento
deste projeto, autorizo sua execução.
Nome: __________________________________________________
Data: _______/_______/______________
_________________________________________
Assinatura
O Projeto deverá ser entregue no CEP em até 30 dias a partir de 05/07/2011. Não ocorrendo a entrega nesse prazo esta
Folha de Rosto será INVALIDADA.
28
ANEXO C
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA
29