a concepção marxista de história: aspectos da

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A CONCEPÇÃO MARXISTA DE HISTÓRIA: ASPECTOS DA
CONTRIBUIÇÃO DE MARX PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
TRIGO, Thiago Alves
[email protected]
SOUZA, Rodrigo Augusto de – UEM
[email protected]
Eixo Temático: História da Educação
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho procura apresentar a concepção marxista de história e identificar a sua
contribuição para a história da educação. O pensamento de Karl Marx (1818-1883) é de
importância fundamental para a compreensão da sociedade contemporânea. Não obstante sua
importância, sua obra possui notável complexidade, abrangendo estudos de: economia,
filosofia, sociologia, história e religião, entre outros. Nossa intenção é aprofundar a concepção
marxista de história. Para isso, vamos mostrar a caracterização da sociedade capitalista
burguesa, alvo da crítica de Marx. Realizaremos uma breve incursão no pensamento de Hegel,
a fim de permitir uma melhor compreensão do pensamento marxista e de seu método
histórico-dialético. Por fim, mostraremos como o pensamento de Marx contribuiu à educação,
influenciando a pedagogia histórico-crítica.
Palavras-chave: Filosofia da História; História da Educação; Karl Marx.
Introdução
O pensamento de Karl Marx (1818-1883) denota uma considerável complexidade.
Não é nossa intenção uma análise profunda do pensamento marxista. Isso demandaria um
estudo mais detalhado. No entanto, buscamos com este trabalho apresentar uma compreensão
da concepção marxista de história. Segundo nosso entendimento, uma das mais significativas
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contribuições de Marx ao pensamento contemporâneo se deu na sua forma de compreender a
história. Ao lado da crítica à sociedade capitalista, industrial ou burguesa, está a noção de
história em Marx a iluminar a produção do conhecimento na contemporaneidade.
Não podemos deixar de nos referir ao conceito de ideologia em Marx. Trata-se de uma
contribuição original e inédita. Através dessa nova formulação da noção de ideologia, Marx
realiza sua crítica à burguesia e ao capitalismo. A ideologia, segundo os pressupostos
marxistas, nos remete à idéia de consciência, isto é, uma espécie de concepção de pensamento
e da racionalidade. Essas idéias de Marx ofereceram uma contribuição extraordinária para a
filosofia e a educação.
Para Pucci (1995), em termos filosóficos elas inspiraram os pensadores da Escola de
Frankfurt, como Marcuse, Adorno, Horkheimer, Benjamin e Habermas. Esses filósofos
buscaram interpretar Marx no século XX. Ofereceram novos critérios à análise do pensamento
marxista, tais como: a indústria cultural, a sociedade de massa, a teoria crítica, entre outros.
Apesar da inspiração marxista da Escola de Frankfurt, esse movimento filosófico também é
criticado por alguns leitores de Marx. Para tais críticos, os filósofos “frankfurtianos” teriam
esvaziado o conteúdo político e revolucionário do pensamento de Marx, se concentrando
apenas nos estudos culturais e antropológicos.
Para além da Alemanha, Marx exerceu uma influência mais direta na Itália do século
XX, especificamente no pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937). Um dos fundadores
do partido comunista italiano, Gramsci se tornou o principal contestador do fascismo,
movimento reacionário de direita. O pensamento gramsciano procurou afastar o pensamento
de Marx das experiências do chamado “socialismo ou comunismo vulgar”, da antiga União
Soviética e de outras experiências totalitárias de comunismo.
Gramsci prefigurou um
“comunismo à italiana”, diferente das outras feições políticas do comunismo real. Sendo
assim, Gramsci manteve vivo o ideal revolucionário de Marx, com novas caracterizações. Não
separando o pensamento de Marx da luta política revolucionária.
A Sociedade Burguesa
A caracterização da sociedade burguesa será tomada como ponto de partida para a
compreensão do pensamento de Marx e de sua concepção de história. Antes de chegarmos ao
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pensamento marxista, é preciso entender o capitalismo industrial e perceber a organização da
sociedade burguesa. Esses dois elementos são fundamentais para se entender o espírito da
obra de Marx. Sua crítica ao capitalismo e à burguesia revela ainda a atualidade de suas
idéias, uma vez que o modo de produção capitalista permanece em nossos dias. Marx é um
pensador que ultrapassa o seu tempo histórico, apesar de datado ao século XIX, suas idéias,
sem nenhum tipo de idealismo à moda de Hegel, se projetam para o século XX e permanecem
como uma crítica contundente ao capitalismo. Considera Marx, na “Crítica do Programa de
Ghota”:
O modo capitalista de produção repousa no fato de que as condições materiais de
produção são entregues aos que não trabalham sob a forma de propriedade do capital
e propriedade do solo, enquanto a massa é proprietária apenas da condição pessoal
de produção, a força de trabalho. Distribuídos deste modo os elementos de
produção, a atual distribuição dos meios de consumo é uma conseqüência natural. Se
as condições materiais de produção fosse propriedade coletiva dos próprios
operários, isto determinaria, por si só, uma distribuição dos meios de consumo
diferente da atual. (MARX e ENGELS, s./d., vol. 2, p. 215).
De acordo com Hobsbawm (2001), o palco da sociedade burguesa é a modernidade.
Essa, por sua vez, pode ser caracterizada a partir das revoluções que lhe são próprias. A opção
de Hobsbawm é entender a modernidade considerando as revoluções que marcaram a sua
constituição. Assim, para entender o pensamento de Marx, é preciso uma incursão nas três
grandes revoluções da modernidade: a revolução científica do século XVI, protagonizada pela
ciência moderna de Bacon, Locke e Hobbes; a revolução francesa ou burguesa, marco político
da ascensão da burguesia ao poder e a revolução industrial, como implantação radical do
modo de produção capitalista. Desse modo teríamos a modernidade definida a partir dos seus
aspectos: científicos, políticos e econômicos.
A revolução científica tem sua matriz teórica no empirismo inglês. Serviu de suporte à
industrialização ocorrida principalmente nos séculos XVIII e XIX, na Europa. A marca do
empirismo também influenciou a filosofia de Marx. O materialismo dialético e histórico, de
Marx e Engels, tem pretensões cientificistas. O historiador da filosofia, François Châtelet,
afirma que nenhuma filosofia do XIX escapa ao cientificismo e ao historicismo. São as duas
grandes ideologias que influenciaram a produção filosófica desse período. Marx defende o
socialismo científico, o que mostra como ele se adequa à filosofia do século XIX.
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No plano político, Marx percebe com grande visão a consolidação dos ideais
burgueses da revolução francesa. A pseudo-democracia moderna, advinda da afirmação do
liberalismo político. A sociedade divida em classes é o sintoma crítico do modo de produção
capitalista. A filosofia marxista é uma grande crítica da burguesia e da sociedade dividida em
classes: os burgueses, donos do modo de produção capitalista e os trabalhadores, massa
explorada pelos detentores do capital. Considera Marx, na obra “O Dezoito de Brumário de
Luiz Bonaparte”:
A revolução social do século dezenove não pode tirar sua poesia do passado, e sim
do futuro. Não pode iniciar sua tarefa enquanto não se despojar de toda veneração
supersticiosa do passado. As revoluções anteriores tiveram que lançar mão de
recordações da história antiga para se iludirem quanto ao próprio conteúdo. A fim de
alcançar seu próprio conteúdo a revolução do século dezenove deve deixar que os
mortos enterrem seus mortos. Antes a frase ia além do conteúdo; agora é o conteúdo
que vai além da frase. (MARX e ENGELS, s./d., vol. 1, p. 205).
A revolução industrial é a expressão mais nítida do processo histórico da
modernidade. Marx vê o homem alienado, produto da revolução industrial, contaminado pela
ideologia burguesa. O homem não é sujeito de si mesmo, está despersonalizado. Seu trabalho
é alienado. O trabalho que deveria realizar a natureza humana, é um modo de subserviência ao
capital. Com maestria, Marx analisa o impacto do capitalismo sobre a vida humana,
produzindo um homem monstruoso, cada vez mais distante da sua própria humanidade.
A Crítica ao Idealismo de Hegel
Se por um lado a compreensão da sociedade burguesa é importante para o
entendimento do pensamento de Marx, por outro, não se pode negar a influência de Hegel
(1770-1831) sobre o pensamento marxista. São filosofias distintas: o idealismo de Hegel e o
materialismo de Marx. No entanto, elas se aproximam em duas características comuns: o
historicismo e a dialética. Marx recebe essa influência do idealismo hegeliano. Podemos dizer
que é uma influência muito mais metodológica do que teórica. Há diferenças entre a dialética
marxista e a hegeliana, mas ambos recorrem à dialética. Vamos apresentar o pensamento de
Hegel a partir das obras: Fenomenologia do Espírito e Filosofia do Direito.
Segundo Châtelet (1982), podemos compreender o conceito de dialética em Hegel
como a vida do espírito absoluto. Sendo a dialética o ultrapassar imanente, a superação
6940
constante em uma relação de identidade de contrários, constitui um movimento triádico de
superação progressiva da realidade, onde ser e nada são a mesma coisa em uma relação de
alteridade. Por ser um movimento de constante progresso na superação da realidade, a
dialética é a vida do espírito absoluto em Hegel.
O espírito absoluto é uma totalidade inteligível que engloba a cultura como conjunto
sistemático do que é e foi dito e pensado, no espírito se abriga a identidade da coisa que não é
repetida. Ela se reconstitui continuamente, pois também é o Absoluto, enquanto totalidade
que vale para o real e cada uma das partes, por isso se afirma: “o verdadeiro é o todo”, é o
Espírito, é a relação de alteridade nas identidades.
Não se concebe uma parte dissociada do todo. Aqui é possível notar mais uma
semelhança entre Hegel e Marx. A visão de totalidade do real e do conhecimento. O
movimento do real, segundo o pensamento hegeliano, está na totalidade e é lá também que se
distingue a realidade pela identidade de contrários. O verdadeiro é aquilo que se determina,
pela dialética de superação, na realidade e por sua vez “o real é racional e o racional é real”.
Por sua fundamentação, meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é
também sua antítese direta. Para Hegel o movimento que ele personifica no nome da
idéia é o demiurgo da realidade, a qual é apenas a forma fenomenal da idéia. Para
mim, pelo contrário, o movimento do pensamento é apenas a reflexão do movimento
real, transportado e transposto no cérebro do homem. (MARX, 1975, p. 73).
Na medida em que se apreende racionalmente o movimento progressivo dialético,
superando e determinando a própria realidade, se pode afirmar com segurança que o “real é
racional e o racional é real”, por entender a determinação da coisa ou realidade pelo
movimento histórico-dialético que é devidamente inteligível.
A dialética de Hegel supõe o par dialético ser e pensamento. Ele reúne em sua análise
dois elementos que até então eram desvinculados, pois eram entendidos separadamente em
uma lógica predicativa, universal onde ambos se determinam separadamente e em nada se
relacionam no que compete à identidade. Hegel inova quando rejeita a lógica predicativa e
insere em seu lugar o par dialético do ser e pensamento colocando assim em uma mesma
relação que pode estabelecer a identidade, o que supõe a diferença. Ser e pensamento, para
Hegel, não podem ser diferentes em uma perspectiva predicativa e universal, mas devem ser
dialéticos, por conter uma tensão de contrários, que não é uma confusão de identidades, mas
por estarem reunidos, sendo assim uma determinação da diferença de identidades.
6941
Merece destaque o pensamento político e moral de Hegel. É importante estabelecer a
relação entre estado e sociedade no pensamento hegeliano. Há o estabelecimento da distinção
entre estado e sociedade civil, mas o estado é o fundamento. Nesse sentido, é o estado que
funda o povo e não o povo que funda o estado. Assim, o estado absorve a sociedade civil, na
forma da filosofia do direito. Afirma Marx (1975):
Ainda que Hegel desfigure a dialética com o misticismo, não deixa de ser ele quem
pela primeira vez expõe o seu movimento de conjunto. No seu caso, a dialética
apóia-se sobre a cabeça; basta repô-la sobre seus pés para lhe dar uma fisionomia
racional. Na forma racional ela é um escândalo e uma abominação para as classes
dirigentes e seus ideólogos doutrinários, porque captando o próprio movimento, no
qual qualquer forma realizada é apenas uma configuração transitória, não se deixa
subjugar por nada: porque ela é essencialmente crítica e revolucionária. (p. 74).
Hegel defende o estado ético, ou seja, o estado deve ser compreendido como ele é, e
não como deveria ser. Apesar desse ideal, nós sabemos que o estado liberal burguês não é
ético. Buscando em Platão, o grande mentor do idealismo na filosofia, a idéia de estado, em
especial, as idéias de liberdade e propriedade, Hegel se põe a defendê-las.
Para Hegel, o estado é personificado no monarca. A crítica de Marx à teoria política
hegeliana está no fato de termos a constituição do monarca e não o monarca da constituição.
Marx desmascara o estado burguês, ao afirmar que ele é a ditadura da minoria. Apesar a visão
histórica de Hegel, baseada da dialética: tese, antítese e síntese, o pensamento hegeliano
traduz a Alemanha do seu tempo, diante da Revolução Francesa.
A Concepção Marxista de História
Marx entende a história pela perspectiva da produção material de bens. A análise
empreendida por Marx se volta para a produção material dos bens e dos elementos que lhes
envolvem ou correspondem. A análise marxista se volta para os modos de produção, a
realização do trabalho e as relações econômicas que o envolvem, resgatando tais relações em
perspectiva histórica.
A história evolui dialeticamente para Marx. Nessa característica ele é semelhante a
Hegel. A dialética marxista é substancialmente diferente, pelo seu materialismo. A expressão
mais plena da dialética marxista é a luta de classes, que é o “motor” da história. O conflito das
classes leva ao progresso da história, ao seu desenvolvimento. Concebe ainda a história como
6942
multifacetada e não unilinear. Para Marx, a história é entendida de muitas formas, aqui está
presente a idéia de classes, que formam a sociedade, e não segue um curso unilinear e
evolutivo. Argumenta Marx sobre sua concepção de história em “O Dezoito de Brumário de
Luiz Bonaparte”:
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
sob circunstãncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando
parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais
existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram
ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os
nomes, os gritos de guerra, as roupagens, a fim de apresentar a nova cena da história
do mundo nesse disfarce tradicional e nessa linguagem emprestada. (MARX e
ENGELS, s./d., vol. 1, p.. 203).
Segundo Marx, a sociedade política deveria ser a expressão da sociedade civil, isto é,
das relações de produção que nela se instalam. Assim critica os traços fundamentais da
filosofia do direito de Hegel.
Marx (2007), em sua obra “A Ideologia Alemã”, desconstrói toda a filosofia da
consciência anterior ao seu tempo, principalmente a hegeliana. Mostra o estado como uma
superestrutura, parte essencial da estrutura econômica. Dessa maneira, o estado escravista
garante a dominação sobre os escravos. O estado feudal garante o predomínio das
corporações. O estado capitalista garante o predomínio das relações de produção capitalistas,
e, inclusive, protege-as.
Para Marx, a luta de classes determina, no capitalismo, a necessidade do estado. A
classe que detém a propriedade dos meios de produção deve institucionalizar sua dominação
econômica, através de organismo de dominação política, jurídica, forças repressivas, de
convencimento, entre outra.
O estado em Marx nasce da luta de classes como um poder concentrado, burocrático.
Não existe uma teoria política marxista do estado. A finalidade de Marx e Engels era acabar
com o estado. Existe sim, uma teoria crítica do estado capitalista. Para Marx, em “A Luta de
Classes na França de 1848 a 1850”:
6943
O desenvolvimento do proletariado industrial tem por condição geral o
desenvolvimento da burguesia industrial, sob cujo domínio adquire ele existência
nacional que lhe permite elevar sua revolução à categoria de revolução nacional,
criando meios modernos de produção, que hão de transformar-se em outros tantos
meios para a sua emancipação revolucionária. Somente o domínio da burguesia
industrial extirpa as raízes materiais da sociedade feudal e prepara o único terreno em
que é possível uma revolução proletária. (MARX e ENGELS, s./d., vol. 1, p.119).
O pensamento de Marx dá muita importância à observação da realidade histórica
identificando as relações de contradição. Essas relações são conflitantes. Assim, a filosofia
marxista considera: as relações sociais, a luta de classes, a práxis e a mudança como condição
fundamental para superação das desigualdades provocadas pelo capital. A luta de classes é
marcada pelo embate entre a classe trabalhadora e a burguesia. Marx defende uma história em
movimento, a transformação da realidade e profundas mudanças sociais. Para que a superação
do modo de produção capitalista aconteça é preciso desmascarar e superar a ideologia
burguesa.
Ao conferir um valor significativo à história, o pensamento de Marx entende a
experiência a partir da descrição e classificação da realidade concreta do fenômeno. Há um
resgate da estrutura sócio-econômica. O princípio da realidade é a matéria. A consciência, por
sua vez, não é vista longe do homem histórico e concreto, por isso, ela deve ser crítica e
reflexiva.
Aspectos da Contribuição de Marx à História da Educação
O legado marxista para a história da educação não é fácil de ser examinado. Há uma
vasta produção nesse sentido. Marx foi e ainda é uma influência decisiva para a história da
educação. Apresentaremos o método crítico-dialético como expressão da contribuição de
Marx para a educação. Essa influência marxista pode ser notada nos mais variados campos da
educação: didática, teorias da educação, história, políticas, gestão, avaliação, entre outros.
Do ponto de vista das teorias da educação, se destaca Demerval Saviani, com sua
pedagogia histórico-crítica.
Em sua obra “Pedagogia Histórico-Crítica:Primeiras
Aproximações”, Saviani expõe sua aplicação do pensamento de Marx à educação, em
6944
especial, tendo como foco, a educação brasileira. Sua influência não ficou restrita ao âmbito
das teorias da educação ou da história, logo se espalhou para a didática. Inspirando obras
como “O Método Dialético na Didática”, de Lílian Wachowicz ou “Didática e as
Contradições da Prática”, de Pura Martins, e muitas outras. No prefácio da edição brasileira
do livro “Marx e a Pedagogia Moderna”, afirma Saviani:
A vitalidade do marxismo se expressa não apenas pela persistência dos problemas
por ele formulados, mas também por sua capacidade de exercer a crítica tanto
externamente, isto é, em relação sua à sociedade burguesa à qual se contrapõe,
quanto internamente, quer dizer, em relação às diferentes apropriações de Marx e do
marxismo efetuadas por aqueles que se definem como marxistas. (SAVIANI, 1991,
p. X).
Ainda na educação brasileira encontramos a figura de Paulo Freire. Com a
peculiaridade que lhe é própria, Freire também faz uso do pensamento de Marx. É claro que
Marx não é a única influência do pensamento freireano. No entanto, ela parece ser decisiva
para a elaboração da pedagogia da libertação de Paulo Freire. É bom considerar que a
releitura da obra de Marx na educação brasileira inspirará a abordagem progressista na
educação.
O pensamento de Marx teve uma boa repercussão na Itália. Autores como Antonio
Gramsci e Mario Manacorda tomam a filosofia marxista como um referência para os seus
trabalhos. Eles procuram separar Marx e o marxismo. Denominam assim o pensamento de
Marx de “marxiano” e não mais marxista, para afastar sua interpretação das experiências do
“materialismo vulgar” ou do “comunismo real”.
No livro de Manacorda “Marx e a
Pedagogia Moderna”, existe um precioso exame da influência de Marx na educação
contemporânea.
Manacorda
toma
em
análise
as
principais
teorias
pedagógicas
contemporâneas e mostra como elas se aproximam ou se distanciam do pensamento de Marx.
Manacorda apresenta também a pedagogia “marxiana”.
Vamos situar no desenvolvimento do pensamento de Marx e Engels essas teses
pedagógicas e suas motivações, isto é, a necessidade de eliminar a propriedade
privada, a divisão do trabalho, a exploração e a unilateralidade do homem, para
atingir um pleno desenvolvimento das forças produtivas e a recuperação da
onilateralidade. (MANACORDA, 1991, p. 22).
6945
Podemos afimar que o tema da educação não é fundamental no pensamento de Marx,
isto é, ele não ocupa o lugar central na obra marxista. A educação não está no mesmo plano
que o trabalho, a ideologia, a consciência, o homem ou a dialética. Os temas da educação e da
escola aparecem em um segundo plano. A escola existe para preparar o proletariado para a
revolução, isto é, para a sua própria emancipação. Essa parece ser a visão defendida por Marx
na “Crítica ao Programa de Gotha”.
A escola seria um instrumento de emancipação do proletariado. Contudo, vale
ressaltar que a revolução, a transformação profunda da sociedade pelos trabalhadores, não é
conseguida pelos acadêmicos. É pela luta dos trabalhadores que o socialismo será
implantado.Nisso tudo a escola tem um lugar fundamental, como instrumento a serviço da
implantação do socialismo.
Educação popular igual? Que se enten
de por isto? Acredita-se que na sociedade
atual a educação pode ser igual para todas as classes? O que se exige é que também
as classes altas sejam obrigadas pela força a conformar-se com a modesta educação
dada pela escola pública, a única compatível com a situação econômica, não só
assalariado, mas também do camponês? [...]. O fato de que em alguns países sejam
“gratuitos” alguns centros de ensino superior, significa tão somente, na realidade,
que ali as classes altas pagam suas despesas de educação às custas do fundo de
impostos gerais. (MARX e ENGELS, s./d., vol. 2, p. 223).
Outra discussão que podemos fazer é sobre o modelo “comunista” ou “socialista” de
educação. Marx não explicita um modelo especificado de educação. Seu pensamento oferece
como que diretrizes para efetivação de uma escola em perspectiva socialista. Ainda seguindo
a reflexão de Marx na “Crítica ao Programa de Gotha”, há a distinção entre: escola estatal e
escola pública.
Para Marx, a escola deve se ver livre da influência burguesa. Desse modo, ela não
pode mais reproduzir a ideologia burguesa, mas buscar os ideais proletários. É preciso
dissolver a escola burguesa e dar lugar a um novo modelo de educação, na perspectiva dos
trabalhadores.
Uma coisa é determinar, por meio de uma lei geral, os recursos para as escolas
públicas, as condições de capacitação do pessoal docente, as matérias de ensino, etc,
e velar pelo cumprimento destas prescrições legais mediante inspetores do Estado
[...], e outra coisa completamente diferente é designar o Estado como educador do
6946
povo! Longe disto, o que deve ser feito é subtrair a escola de toda a influência por
parte do governo e da Igreja. (ibid.).
Retomando a discussão sobre escola estatal e escola pública. Marx defendia o fim da
escola burguesa. Igualmente rejeitava a apropriação feita pelo estado da escola pública. Marx
queria a escola pública livre da manipulação do estado e também da religião. A escola deveria
ser independente da ideologia burguesa e de todos aqueles que a representam. Seguindo a
lógica do pensamento marxista, o estado está a serviço da burguesia. Assim, a manipulação
ideológica da escola pública realizada pelo estado é nociva e deve ter um fim. Um novo
modelo de escola e educação deve surgir, na perspectiva do proletariado e em vista da
emancipação e da revolução.
Considerações Finais
Marx com sua filosofia produziu uma excelente resposta ao contexto histórico do seu
tempo. Enquadrando-se a características do pensamento filosófico do século XIX. Recebe
influência de Hegel, pensa dialeticamente, tem mentalidade historicista, dá grande
importância à história, é visivelmente empirista e também cientificista. O pensamento de
Marx produziu uma louvável proposta filosófica para as necessidades do seu tempo,
influenciado pelo contexto histórico em que vivia.
De forma magistral, Marx expôs a articulação de um sistema de exploração e
dominação que expropria o homem de si mesmo. Apontou para o desmantelamento de uma
propriedade tão fundamental à existência do indivíduo como o seu trabalho, observando a
descaracterização humana da atividade laboral. A usurpação do trabalho pelo capitalismo
transformou o homem em uma “monstruosidade”, sobretudo no contexto de Marx, desprovido
de qualquer expectativa existencial.
A atualidade de Marx permanece em nossos dias, mesmo sendo um pensador do
século XIX. O modo de produção capitalista ainda predomina entre nós. A crítica de Marx é
implacável ao capitalismo e, nesse sentido, ainda não superada. Sua dialética materialista da
história é uma grande contribuição à ciência e ao conhecimento. Retirar a história e o
conhecimento da abstração, do mundo das idéias, e colocá-los no concreto da vida é uma
mudança radical.
6947
A escola burguesa ainda carece ser desmontada. Ela está plena de vigor em nossos
dias. Uma educação que leve à emancipação e à transformação da sociedade em que vivemos
ainda é um ideal a ser perseguido, principalmente no Brasil. Nosso contexto hoje é diferente
em relação ao tempo de Marx, no entanto, a ideologia burguesa mudou apenas a camuflagem
de sua estratégia de dominação. Precisamos de uma escola e de uma educação que ajudem na
superação do modo de produção capitalista dos nossos dias. E não, de uma educação vendida
aos interesses do capital.
A filosofia marxista mostrou como o capitalismo tem um projeto bem construído de
roubo desmascarado das propriedades humanas em favor de um sistema que privilegia a
humanidade de poucos e a morte de muitos.
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