Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos Materiais / Materiais I Guia para Trabalho Laboratorial ENSAIO DE TRACÇÃO – PROVETE METÁLICO 1. Introdução O conhecimento das propriedades mecânicas dos materiais é essencial para a sua selecção e aplicação nos vários domínios de Engenharia, já que permite caracterizar o comportamento de um dado material quando submetido a esforços de natureza mecânica1. Dada a facilidade de execução e a reprodutibilidade dos resultados obtidos, o ensaio de tracção é o ensaio mecânico mais utilizado1. As condições de realização do ensaio de tracção de metais à temperatura ambiente, bem como a geometria e dimensões dos provetes, encontram-se descritas na Norma NP EN 10 002-12. O ensaio de tracção consiste na solicitação de um provete normalizado do material em estudo na sua direcção axial, com velocidade de deformação constante, até à fractura. O provete é fixado à máquina de tracção através de dispositivos apropriados (amarras). A força uniaxial crescente é imposta e medida através de células de carga. A aplicação da força provoca uma deformação progressiva do provete na direcção da solicitação, que pode ser registada em contínuo através de extensómetros. É de referir que é importante manter a axialidade da força aplicada durante o ensaio, de modo a garantir uma distribuição uniforme de tensões na secção transversal do provete. A monitorização do sinal da célula de carga e do extensómetro permite obter uma curva da deformação em função da força aplicada, F (curva força-deformação). A partir destas medidas pode ser traçada uma curva tensão nominal-extensão nominal. A tensão nominal Ra é a tensão média no provete, e obtém-se dividindo a força F pela área inicial da secção transversal do provete, S0: R = F / S0 [N/m2 = Pa] A extensão nominal é a percentagem de deformação sofrida pelo provete e obtém-se dividindo a deformação do provete pelo seu comprimento inicial. A curva tensão nominal-extensão nominal representa, portanto, a resposta do material da amostra à solicitação sofrida. Como tal, cada material tem uma curva de tracção única, que o caracteriza. Uma vez que tanto a tensão nominal como a extensão nominal se obtêm dividindo a força e o deslocamento por factores constantes, a curva força- a Embora correntemente se utilize o símbolo σ para designar a tensão, R é o símbolo indicado pela Norma EN 10 002-1e deve, portanto, ser preferencialmente utilizado. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP, AS Ano lectivo 2005-2006 1 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos deformação e a curva tensão nominal-extensão nominal têm a mesma forma1,3. A forma destas curvas depende do material em estudo (nomeadamente da sua composição, estado de deformação e tratamentos térmicos sofridos) e das condições de ensaio (velocidade, temperatura e estado de tensão impostos). Os parâmetros mais utilizados para descrever a curva tensão-extensão de um material são: - Tensão de rotura à tracção (Rm): corresponde ao máximo da curva e é dada pela razão entre a força máxima (Fm) e a área inicial da secção transversal (S0): Rm = Fm / So - Tensão de cedência: tensão correspondente ao início da deformação plástica do material. Podem distinguir-se os seguintes os seguintes valores: - Tensão de cedência superior (ReH): tensão correspondente ao valor da força no instante em que se observa a primeira diminuição da força. - Tensão de cedência inferior (ReL): tensão correspondente ao menor valor da força durante a cedência. - Tensão limite convencional de proporcionalidade. Uma vez que para a maioria dos metais e ligas se observa uma transição gradual do comportamento elástico para o comportamento plástico, é difícil definir com exactidão o ponto da curva em que em que a deformação permanente tem início. Assim, determina-se habitualmente a tensão correspondente à intersecção da curva com uma recta paralela à parte elástica, com início a uma percentagem de deformação plástica especificada (geralmente 0.2%): Rp0.2 = F0.2 /A0 - Extensão após fractura (A)b: A = (Lu -L0)/L0*100 [%] onde Lu é o comprimento após fractura e L0 é o comprimento inicial entre referências (comprimento de prova). - Coeficiente de estricção (Z)c: variação da área da secção transversal após fractura: q = 100 * ( S0 – Su) / S0 b c [%] Embora correntemente se utilize o símbolo ε para designar a extensão, A é o símbolo indicado pela Norma NP EN 10 002-1 e deve, portanto, ser preferencialmente utilizado. Embora correntemente se utilize o símbolo q para designar o coeficiente de estricção, Z é o símbolo indicado pela Norma NP EN 10 002-1 e deve, portanto, ser preferencialmente utilizado. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP, AS Ano lectivo 2005-2006 2 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos A tensão de cedência e a resistência à tracção são indicadoras da resistência do material, enquanto a extensão após fractura e o coeficiente de estricção são medidas da sua ductilidade. A curva nominal não fornece uma indicação real das características de deformação do metal, uma vez que se baseia nas dimensões iniciais do provete e estas variam continuamente durante o ensaio. As tensões médias baseadas na secção inicial do provete não traduz com rigor o estado de tensão instalado na secção do provete sendo, em geral, inferiores às tensões reais baseadas na secção instantânea. Se a tensão e a extensão forem determinadas a partir das dimensões da amostra em cada instante, obtém-se uma curva tensão real-extensão real. 2. Procedimento Experimental 2.1. Objectivo Realização de um ensaio de tracção e obtenção da curva de tracção nominal-extensão nominal de um aço macio. Determinação de propriedades mecânicas do aço a partir da curva obtida. Estudo do comportamento à tracção do material ensaiado, relacionando-o com o mecanismo de deformação do material a nível atómico. Compreensão dos conceitos de resistência à tracção, tensão de cedência, percentagem de deformação à fractura e percentagem de redução de área à fractura. 2.2. Equipamento e Material - Máquina universal de ensaios mecânicos INSTRON 1186. - Provete de tracção do aço ST37 com geometria cilíndrica normalizada. A composição do aço é indicada na Tabela 1. Tabela 1. Composição química do aço ST37. Elemento de liga % C < 0,17 P 0,04 S 0,04 N 0,009 2.3. Método experimental Marque o comprimento de prova no provete, de acordo com a norma NP EN 10 002-1. O ensaio deve ser efectuado de acordo com as instruções do equipamento. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP, AS Ano lectivo 2005-2006 3 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos 3. Questionário Depois de terminado o ensaio, remova o provete fracturado das amarras, observe a superfície de fractura resultante e realize as medições previstas na norma NP EN 10 002-1 (comprimento final do provete, o comprimento entre referências e o diâmetro na zona de fractura). Responda às seguintes questões: 1. Descreva a superfície de fractura e identifique o tipo de fractura observada. 2. A partir do ficheiro Excel com os dados do ensaio, construa a curva de tracção nominal. 3. Na curva nominal indique as zonas de deformação elástica e de deformação plástica, o ponto de cedência, o ponto de estricção, o ponto de rotura e o ponto de fractura. 4. Qual a diferença entre o comportamento do material na zona elástica e na zona plástica do ponto de vista macroscópico e do ponto de vista microscópico? 5. Determine os seguintes parâmetros: tensão de cedência, força máxima, tensão de rotura (resistência à tracção), extensão total na rotura e coeficiente de estricção. 6. Se o ensaio fosse interrompido após o provete ter sofrido deformação plástica e esse mesmo provete fosse novamente ensaiado, o que esperaria que acontecesse? 7. Que parâmetros deveriam ter sido medidos de forma a ser construída a curva de tracção real? Que diferenças esperaria encontrar na forma das curvas? 8. Mencione as desvantagens de não ser utilizado extensómetro durante o ensaio. 4. Bibliografia 1. LIMA, A. V., CASTRO, A. G. – Ensaios e propriedades dos materiais. In Ciência e Tecnologia dos Materiais. Gondomar: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1988. 2. Norma Portuguesa NP EN 10 002-1 – Materiais Metálicos. Ensaio de Tracção, Parte 1: Método de Ensaio à Temperatura Ambiente. Lisboa: Instituto Português da Qualidade, 1990. 3. DIETER, G. E. – Mechanical Metallurgy. London: McGraw-Hill, 1988. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP, AS Ano lectivo 2005-2006 4