O ENSINO DE GRAMÁTICA E SUA RELAÇÃO COM A MÚSICA

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O ENSINO DE GRAMÁTICA E SUA RELAÇÃO COM A MÚSICA
Robervânia de Lima Sá1 - SEDUC/PA
Walnélia Benigno Magalhães Carrijo 2 - SEMED/CDA
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O ensino da gramática se constitui fenômeno de discussão entre os profissionais da área,
sobretudo, por que há um consenso geral no país de que poucas pessoas dominam a língua
portuguesa por completo, isso ocorre devido a eleição da norma culta, padrão como sendo a
única forma correta de se expressar. Devido a isso, buscou-se explorar a música como
ferramenta didática para o trabalho com a gramática, mais precisamente, com a classe dos
verbos, com o intuito de verificar se esta contribui positivamente para a construção do
processo cognitivo do aluno. Para desenvolvimento do estudo realizado com duas turmas de
8º ano do Ensino Fundamental, foi elaborada pela pesquisadora, uma sequência didática que
envolveu a música “Os cegos do castelo” de Nando Reis e a classe gramatical citada
anteriormente. As aulas foram desenvolvidas pelo professor regente das turmas em um
período de 18 dias. O presente estudo elegeu uma turma para grupo experimental e a outra
para grupo controle. Para dar sustentação ao estudo, autores como Edgar Morin (2000), Britto
(1997), Geraldi (1995), Perini (2001), Mello (2012), Milhano (2008), Ilari (2003) e Vargas
(2011) foram estudados. De acordo com os resultados observou-se que trabalho docente que
envolve música e o ensino de gramática pode contribuir para quebra de paradigmas arraigados
a educação por muitos anos, como o enfoque as regras da gramática normativa em detrimento
das demais, bem como, o preconceito linguístico advindo de tal prática pedagógica, que
impõe a ideia de que ela, a norma culta, é uma forma superior de expressão.
Palavras-chave: Gramática. Ensino. Música. Verbo.
Introdução
As primeiras manifestações literárias da língua portuguesa foram as cantigas
medievais, poesias elaboradas para serem entoadas ao som de uma lira, que objetivavam
1 Graduada em Letras pela UEPA (Universidade do Estado do Pará). Mestre em Letras pela UFT (Universidade
Federal do Tocantins). Professora da Educação Básica – Secretaria de Educação do Pará - SEDUC/PA.
Professora Substituta da Universidade do Estado do Pará – UEPA. E-mail: [email protected].
2 Graduada em Pedagogia pela UEPA (Universidade do Estado do Pará), Especialista em Pedagogia Escolar
pela FACINTER/IBEPEX (Faculdade Internacional de Curitiba). Professora da Educação Básica – SEMEDCDA (Secretaria Municipal de Educação de Conceição do Araguaia/PA). Técnica em Educação – Pedagoga da
UEPA (Universidade do Estado do Pará). E-mail: walné[email protected].
ISSN 2176-1396
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entreter e por vezes criticar costumes sociais. Assim sendo, a música esteve atrelada aos
costumes do povo português, nossos colonizadores, desde o princípio, daí denota sua
importante influência até os dias de hoje para a cultura brasileira.
Assim sendo, ela não deve estar dissociada do ensino, sobretudo da língua portuguesa,
de suas variações gramaticais, pois, por meio dela é possível compreender os mecanismos que
formam a base dos discursos linguísticos, podendo-se combater, e até mesmo evitar,
preconceitos arraigados durante vários anos.
É comum ouvir pessoas afirmarem que apesar de serem brasileiras não sabem
português, isso se dá, devido a algumas práticas pedagógicas existentes no Brasil que
elegeram uma forma de expressão superior as demais, isto é, a norma culta é a única
considerada certa para grande parte dos professores do país que, por sua vez, também não a
dominam por completo.
Assim sendo, questões acerca de como se devem processar as aulas de língua
portuguesa, mais precisamente de gramática, adequadamente, perturbam muitos educadores,
por isso, essa pesquisa procurou em vários referenciais bibliográficos, e ainda, por meio de
uma pesquisa de campo uma das possíveis respostas para esta inquietação.
Para tanto, a interdisciplinaridade que permite a exploração da música juntamente aos
estudos gramaticais foi eleita para servir de “teste” em busca de um possível caminho. Duas
turmas do 8º ano do Ensino Fundamental no período matutino da EEEFM Bráulia Gurjão,
situada em Conceição do Araguaia – Pará, foram selecionadas para a realização da pesquisa
que envolveu a elaboração de uma sequência didática para o trato com a classe gramatical,
verbo.
Os estudos mostraram que a música contribui positivamente para uma melhor
compreensão gramatical, pois levou os alunos a reconhecerem as categorias de tempo como
formas importantes para a construção de sentido do discurso, demonstrando assim que, o
estudo gramatical aliado a música pode contribuir para uma aprendizagem significativa.
Interdisciplinaridade e suas contribuições para o ensino
Alguns professores podem ainda não ter percebido que a relação e a interdependência
existentes entre os conteúdos das disciplinas que compõe o currículo escolar é de suma
importância para o desenvolvimento cognitivo do aprendiz, nesse caso, a música, conteúdo
obrigatório desde 2008 conforme a Lei 11.769 pode contribuir significativamente para o
ensino de gramática nas escolas.
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Por muito tempo os saberes sistematizados foram tratados pela escola de maneira
fragmentada, sem nenhuma relação entre si, o que dificultava a aquisição do mesmo por parte
dos educandos, uma vez que não se relacionavam com as questões de ordem social, política e
econômica vivida por eles.
Dessa maneira, percebeu-se que o estudo de uma única disciplina isoladamente não
seria capaz de suprir todas as demandas que envolvem o aluno. Assim, surge a necessidade de
se criar um elo entre as disciplinas que compõe o currículo escolar de forma que as mesmas se
complementem no sentido de atender as necessidades e demandas dos educandos que compõe
a educação básica do país.
De acordo com Morin (2000, p. 45):
Há uma inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes
separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas e, por outro lado,
realidades e problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais,
multidimensionais, transnacionais, globais, planetários. [...] A hiperespecialização
impede de ver o global (que ela fragmenta em parcelas), bem como o essencial (que
ela dilui). [...] o retalhamento das disciplinas (no ensino) torna impossível apreender
"o que é tecido junto", isto é, o complexo, segundo o sentido original do termo.
(MORIN, 2000, p. 45)
Surge então a interdisciplinaridade como forma de solução para a ocorrência de
interação entre as disciplinas ou áreas de conhecimento, Carlos (2007, p. 01)
No Brasil, o termo interdisciplinaridade foi difundido por Japiassu (1976, p. 220) que
elencou quatros classificações a respeito do assunto, dentre elas podemos mencionar a
multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.
Para tanto, nessa pesquisa, será explorada apenas a multidisciplinaridade, cuja
representação atem-se ao primeiro nível de integração entre os conhecimentos disciplinares
objetivando assim, verificar as relações existentes entre a música e o ensino da gramática.
O ensino da gramática nos dias de hoje
O ensino da gramática nas escolas brasileiras quase sempre esteve vinculado à norma
padrão da língua. Dissociado das demais disciplinas do currículo, da cultura e das vivências
sociais, o mesmo representou por muito tempo, algo abstrato para os alunos, uma vez que não
conseguiam relacioná-lo a sua vivência, tão pouco as suas necessidades cotidianas.
Pautado sempre em torno de regras rígidas, o ensino de gramática privilegiou e
privilegia até hoje em algumas instituições, a linguagem contida no cânon da literatura. Dessa
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maneira, a linguagem rebuscada de grande parte das obras literárias era a que deveria ser
ensinada aos alunos, por ser considerada um exemplo a ser seguido.
De acordo com Britto (1997, p. 47)
[...] este primeiro sentido para o termo gramática é “uma atualização do conceito de
gramática de Dionísio Trácio: ‘A arte da gramática (das Letras) é o trato das coisas
ditas com mais freqüência nos poetas e prosadores.” Sob esta perspectiva de
gramática, a única variedade realmente válida é a norma culta ou padrão. As demais
variedades lingüísticas são consideradas desvios da língua.(BRITTO 1997, p. 47)
Por sua vez, a linguagem de grande parte dos educandos era marginalizada e
reconhecida como equivocada pelo professor de português, apesar de o mesmo conseguir se
comunicar socialmente, pois conforme afirma Geraldi (1995 p. 89).
[...] uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua em
situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados adequados
aos diversos contextos, percebendo as dificuldades entre uma forma de expressão e
outra. Outra coisa é saber analisar a língua, dominando conceitos e metalinguagens a
partir dos quais se fala sobre a língua, se apresentam suas características estruturais e
de uso. (GERALDI 1995 p. 89).
Tal afirmação nos mostra que as regras gramaticais, por si somente, não são capazes
de letrar o sujeito, pois apesar de algumas pessoas não dominarem a norma culta da língua,
ainda assim conseguem fazer uso efetivo dela fora do ambiente escolar. Sob a ótica de Perini
(2001 p.13).
[...] qualquer falante de português possui um conhecimento implícito altamente
elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento.
E veremos que esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas
foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de
andar. Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento
implícito perfeitamente adequado da língua. São como pessoas que não conhecem a
anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, dançam, nadam e pedalam sem
problemas (PERINI, 2001 p.13).
Os conhecimentos linguísticos tratados pelo autor acima são internalizados pelo
falante, isto é, o mesmo adquiriu por meio do uso efetivo da língua, no entanto, o
conhecimento prático linguístico referido aqui é desprezado pelos professores de língua
portuguesa.
Somente a partir da década de 70 o ensino de língua materna sofre algumas alterações
e passa a ser pautado em torno da diversidade textual sem, no entanto, proporcionar a reflexão
crítica do aluno, pois o ensino ainda se dava por meio da imitação. Devido a isso, surge nos
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últimos anos uma proposta de ensino do texto baseada nos gêneros do discurso, Santos (2007,
p. 18).
Essas transformações no ensino de língua portuguesa ocorreram devido às alterações
do conceito de gramática ocorridas ao longo dos anos.
A princípio, há várias classificações para o sintagma gramática e seu conceito
obviamente leva em conta cada uma delas.
Dessa maneira, a gramática descritiva ou sincrônica estuda o mecanismo pelo qual
uma dada língua funciona, num dado momento, como meio de comunicação entre os falantes,
e na análise da sua estrutura. Nas palavras de Crystal (2000 apud JUNQUEIRA, 2003, p. 54).
Uma gramática descritiva é, em primeiro lugar, a DESCRIÇÃO de uma LÍNGUA da
forma como ela é encontrada em amostras da fala e da escrita (em CORPUS do
material e/ou extraídas dos FALANTES NATIVOS). /.../ Na tradição mais antiga, a
abordagem “descritiva” se opunha à abordagem PRESCRITIVA de alguns
gramáticos, que tentavam estabelecer REGRAS para o uso social ou
ESTILISTICAMENTE correto da língua (CRYSTAL, 2000 apud JUNQUEIRA,
2003, p. 54).
Contudo, o conjunto de regras linguísticas que o falante domina é chamado de
gramática internalizada conforme conceitua Perini (2001 p. 78) “uma disciplina ocupada,
como as demais disciplinas científicas, em estudar um aspecto do mundo, a saber, a estrutura
e o funcionamento das línguas”.
Os conceitos de gramática abordados acima tem regido o ensino de língua portuguesa
no Brasil, se sobrepondo ainda, na prática docente, a gramática normativa sobre as demais.
A música e suas múltiplas relações com o ensino
A música, desde os primórdios, teve função reflexiva, contemplativa e artística. O
termo Mousikē, oriundo do grego, significa arte das musas que organizam sensivelmente sons
e silêncio.
Para os cristãos, a música surgiu no céu, criada pelo próprio Deus, para ser usada em
atos de adoração e louvor a Ele mesmo. Devido a isso, os cristãos fazem uso até hoje dela
como parte integrante e essencial em cultos. No livro de Apocalipse 5:8-9 é mencionado um
desses momentos, vejamos: “Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de
ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos; e eles cantavam um cântico novo”.
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Devido a isso, a música é considerada a expressão artística mais antiga da
humanidade, por meio dela, o homem pode se comunicar interagindo-se com seus
semelhantes. De acordo com Alvarez (2008 apud MELLO, 2012, p.32):
Muitos filósofos dedicaram especial atenção à música em seus estudos e a
consideraram desde sempre uma parte importante da educação. Platão afirmava que
o ritmo e a harmonia chegam a todas as áreas d’alma e toma posse delas, outorgando
graça ao corpo e mente que apenas se encontram em quem tenha sido educado de
forma correta. Aristóteles também promoveu a educação musical integral, pois
estava convencido de que alcançamos uma certa qualidade de personalidade graças a
ela. Confúcio considerava que a música exercia influência tanto pessoal como
política: ‘O homem superior pretende promover a música como meio de
aperfeiçoamento da cultura humana. Quando a música prevalecer e conduzir as
pessoas para seus ideais e aspirações, contemplaremos o panorama de uma grande
nação. (ALVAREZ, 2008 apud MELLO, 2012, p.32)
Dessa maneira, não é de hoje que pode-se perceber a grande influência positiva que a
música proporciona em quase todas as áreas cognitivas humanas.
A música provoca sensações, emoções, lembranças, desperta a memória e aumenta o
raciocínio lógico. Loureiro (2003, p. 14) afirma que a mesma “é cada vez mais usada para
alfabetizar, resgatar a cultura e ajudar na construção do conhecimento de crianças carentes.
Projetos que envolvem a música na integração social se espalham por todo país e são
exemplos de sucesso”. Isso ocorre devido a música contribuir para um melhor desempenho do
pensamento, da memória e do raciocínio lógico, pois como afirma Milhano (2008 p. 9)
A música é actualmente considerada a única actividade conhecida que proporciona
de modo mais expressivo e destacado o desenvolvimento global do cérebro.
Promove não só o desenvolvimento da literácia musical, mas também das
capacidades linguísticas, motoras e de coordenação, sociais, emocionais e cognitivas
(MILHANO, 2008, p. 9).
Dessa maneira, fica evidenciado que a atividade musical contribui para o
desenvolvimento integral do ser. O simples ato de cantar uma música “pode ativar os sistemas
da linguagem, da memória, e de ordenação seqüencial, entre outros.” Beatriz Ilari (2003, p.
15).
Música e práticas variacionais discursivas: uma relação possível e necessária à escola
O discurso pode ser considerado elemento distintivo para a sociedade, ou seja, julga-se
o indivíduo de acordo com sua forma de falar. A norma padrão, culta sempre foi sinônimo de
status e privilégios para os poucos que a “dominam”, enquanto que os demais falares são
desconsiderados, sobretudo, no ambiente escolar. Dessa maneira, a língua representa para
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seus falantes um condicionamento para aceitabilidade ou refutação do sujeito em meio à
sociedade.
Assim, na intenção de nivelar o discurso, os professores de língua portuguesa
trabalham normalmente em suas aulas somente regras gramaticais acreditando serem
suficientes para o domínio efetivo da mesma. Contudo, o que se vê são desajustes sociais,
uma vez que tal prática docente não supre as demandas sociais vividas pelo aluno, pois
somente as regras não são capazes de promoverem uma plena participação social, acesso a
informação, partilha e construção de uma visão crítica de mundo. De acordo com Antunes
(2003, p. 130).
Para uma língua que é produção e expressão de sentidos, de representações sociais,
que é atividade textual-discursiva de interação e de intervenção, não basta o ensino
das regularidades inerentemente lingüísticas da gramática. Menos ainda, o ensino da
terminologia e da classificação das unidades lingüísticas. Não basta mesmo
(ANTUNES, 2003, p.130).
A língua é mais que regras fixas. Ela faz uso de sistemas complexos de comunicação,
para Saussure (1966, p. 25).
[...] ela não se confunde com a linguagem, ela é apenas uma parte dela, essencial, é
verdade. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para possibilitar o
exercício de tal faculdade pelos indivíduos. Considerada em sua totalidade, a
linguagem é multiforme e heteróclita; cavalgando sobre diferentes domínios, ao
mesmo tempo físico, fisiológico e psíquico, ela pertence ainda ao domínio individual
e ao domínio social; ela não se deixa classificar em nenhuma categoria dos fatos
humanos, e é por isso que não sabemos como determinar sua unidade. A língua, ao
contrário, é um todo em si mesmo e um princípio de classificação. Uma vez que nós
lhe atribuímos o primeiro lugar entre os fatos da linguagem, introduzimos
uma ordem natural num conjunto que não se presta a nenhuma outra classificação.
(SAUSSURE 1966, p. 25).
Assim, faz-se necessário que o professor perceba que uma aula pautada somente em
torno de regras gramaticais contribui muito pouco para o discente que precisa perceber marcas
dos sujeitos enunciadores em textos lidos por eles, bem como deixar impressas as suas
próprias ao elaborar um texto oral ou escrito.
Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Bráulia Gurjão, situada na zona urbana da cidade de Conceição do Araguaia – Pará, em duas
turmas de 8º ano do Ensino Fundamental do período matutino.
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A turma do 8º ano 01 é composta por 40 alunos, enquanto que a turma 02 possui
somente 25. O conteúdo gramatical que deveria ser trabalhado no bimestre era verbo, por
isso, foi realizado pelas pesquisadoras, o planejamento de uma sequência didática que
explorasse o assunto envolvendo também a música. Foi solicitado ao professor regente que
trabalhasse o assunto na turma 02 conforme planejado por ele mesmo, ou seja, aula sem
utilização de música, enquanto que na turma 01 foi desenvolvida a sequência didática
elaborada pelas pesquisadoras.
No intuito de não comprometer a pesquisa, a turma 02 foi selecionada para controle,
por conter menos alunos que a turma experimental 01, pois poderia – se pensar que os
possíveis resultados positivos se dariam devido ao número menor de discentes e a
predisposição de tempo do professor para atendê-los melhor.
O resultado da pesquisa foi coletado por meio da prova escrita que o próprio professor
havia elaborado para aplicação no decorrer do bimestre. Assim, a prova foi igual para ambas
as turmas, somente a metodologia e os recursos didáticos diferiram-se entre as mesmas.
Dessa maneira, as aulas transcorreram como de costume na turma 02, enquanto que na
turma 01, o conteúdo, verbo, girou em torno da música “Os cegos do castelo” de Nando Reis.
A escolha da música foi criteriosa, pois deveria levar em conta a predileção geral da
faixa etária dos alunos pesquisados. Assim, buscou-se evitar a utilização de músicas que
contivessem qualquer tipo de depreciação e violência, o que não foi fácil, pois elas são
“febre” entre os adolescentes. Procurou-se evitar também, as músicas consideradas de alta
qualidade, não que elas não fossem importante, mas o objetivo era encontrar algo que fizesse
parte do cotidiano dos alunos, dessa forma, por meio de uma sondagem improvisada
(observação) na hora do intervalo percebeu-se, que a música “Os cegos do castelo” na versão
dos Titãs era apreciada, via celular, por algumas alunas.
Assim, a sequência didática foi elaborada levando-se em conta também a obra “Verbo
e práticas discursivas” de Maria Valíria Vargas (2011).
As aulas a respeito do assunto abordado se desenvolveram em três semanas,
totalizando 18 ao final, sendo que a atividade avaliativa foi aplicada pelo professor na última
delas que se deu dia três de março do corrente ano.
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Resultados e discussões
A pesquisa se desenvolveu no primeiro bimestre do ano de letivo de 2014, por isso,
não há como comparar as notas atuais com bimestres anteriores. Assim, somente foi
comparado o resultado das duas turmas, 8º ano 01 experimental e 8º ano 02 controle.
As notas obtidas pelos alunos do grupo experimental, na mesma avaliação aplicada ao
grupo controle foi superior, em alguns casos, em até 50%.
Vejamos:
Gráfico 01 – Grupo Experimental
Fonte: Pesquisa de campo (autoras)
Gráfico 02 – Grupo Controle
Fonte: Pesquisa de campo (autoras)
Conforme podemos ver nos gráficos acima os resultados positivos advindos do grupo
experimental em relação ao grupo controle são significativos. Acredita-se que a distinção nos
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resultados tenha ocorrido por causa da metodologia adotada. Na turma do grupo controle é
possível notar algumas vantagens em sua predisposição, como por exemplo, o número
pequeno de discentes que favorece um melhor desempenho do professor e do aluno, pois o
docente pode dar maior atenção às necessidades individuais dos educandos durante as aulas.
Apesar disso, a metodologia do professor não contribuiu para a compreensão do
assunto tratado, pois as aulas expositivas exploravam somente regras e conceitos gramaticais
a respeito do verbo e suas classificações. Os textos abordados nas aulas eram utilizados
somente como pretexto para compreensão de normas, contrariando o que afirma os PCN’S
que defendem a ideia de que “as propostas didáticas de ensino de LP devem organizar-se
tomando o texto (oral ou escrito) como unidade básica de trabalho, considerando a
diversidade de textos que circulam socialmente.”
Além disso, foram aplicados vários exercícios de fixação, alguns deles, copiados no
quadro, outros do livro didático e ainda, conjugação verbal oral. Contrariando o que Luft
(1985, apud JUNQUEIRA, 2003, p. 62) afirma, pois para ela “é fundamental uma intimidade
gramatical com a língua e não uma intimidade gramaticalista com a gramática.”
No grupo experimental, as aulas se deram de forma diferenciada, pois foram
planejadas objetivando o incentivo das práticas de linguagem no ambiente escolar. O texto
abordado, nesse caso a música, se tornou o centro das atividades para que os alunos
percebessem como os fenômenos gramaticais se organizavam para dar sentido a ele, ao seu
discurso.
Assim, audição, interpretação, cantoria, discussão e reescrita de texto trocando os
tempos verbais e os sentidos do discurso presente no texto foram atividades frequentes
durante os 17 dias de aula, pois no décimo oitavo ocorreu a avaliação escrita acerca do
assunto.
Conforme Vargas (2011, p. 88)
É necessário que os alunos compreendam primeiramente os fenômenos gramaticais,
conforme se realizam nos textos e no uso efetivo da linguagem, para, depois,
organizar sistematicamente os conteúdos, fase também importante no aprendizado
da língua (VARGAS 2011, p. 88).
Dessa maneira, o ensino de gramática pode e deve estar presente nas aulas de LP,
contudo, tendo por base, o texto oral ou escrito, isto é, o discurso. Para Vargas (2011, p.105)
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O estudo da gramática deve levar o aluno a tornar-se leitor e produtor eficiente de
textos orais e escritos que circulam socialmente. Para isso, é preciso que ele se
acostume a estabelecer relações de sentido, compreendendo, de fato, o significado e
a verdadeira função da palavra no contexto (VARGAS 2011, p.105).
A música por sua vez, tornou a aula mais animada e compreensível, a exibição de seu
vídeo-clip trouxe significados distintos para a turma que até então havia compreendido
superficialmente o assunto. Vários pontos de vista foram expostos pelos discentes a respeito
do tema abordado. Foi comentado pelo professor que a turma estava demonstrando uma maior
concentração e desempenho linguístico durante as aulas o que confirma o que diz Cícero
(2005 apud SIMIONATO, TOURINHO, 2007, p.370).
Desde que nascemos já estamos predispostos aos sons, vocalizações e melodias,
nosso primeiro universo de linguagem; por isso, o contato precoce com a música é
capaz de favorecer positivamente o desenvolvimento de nossas habilidades
cognitivas, lingüísticas e motoras (CÍCERO, 2005 apud SIMIONATO,
TOURINHO, 2007, p.370).
Dessa maneira, percebe-se que os resultados advindos de uma metodologia que faz
uso de música faz diferença no ambiente escolar.
Considerações Finais
De acordo com os resultados obtidos verificou-se que a interdisciplinaridade tem um
papel fundamental para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras, pois ela
permite a ocorrência de um trabalho interligado entre os conteúdos e as disciplinas que
compõe o currículo escolar brasileiro.
Devido a isso, é possível que haja um trabalho com a música em suas diversas formas
na escola, propiciando ao educando a possibilidade de refletir a respeito de determinado tema
sobre vários enfoques.
O trabalho docente que envolve música e o ensino de gramática pode contribuir para
quebra de paradigmas arraigados a educação por muitos anos, como o enfoque as regras da
gramática normativa em detrimento das demais, bem como, o preconceito linguístico advindo
de tal prática pedagógica, que impõe a ideia de que ela, a norma culta, é uma forma superior
de expressão.
Dessa maneira, a música proporciona as atividades gramaticais, uma análise crítica
discursiva que somente o estudo isolado das regras não permite. Assim sendo, fica
evidenciado sua importância no processo cognitivo do educando, uma vez que permite aguçar
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a curiosidade, desenvolve a criticidade, o raciocínio lógico e também desperta para a poesia,
estimulando várias formas de expressões, tornando a aprendizagem mais significativa aos
alunos, sendo isto evidenciado com os resultados alcançados por esta pesquisa.
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