6 ciência e meio ambiente Recife I 16 de abril de 2013 I terça-feira www.jconline.com.br Saída é monitorar o oceano de mil metros, enquanto o alcance dos satélites é inferior a 10 metros. “As correntes transportam as águas do fundo para a superfície, causando alterações na temperatura que influenciam no clima. Alimentar os modelos disponíveis com esses dados permitirá um prognóstico climático mais preciso, e com maior antecedência, o que ajudará nas ações governamentais preventivas. Do ponto de vista econômico, uma coisa é saber que vai acontecer uma seca daqui a meses, outra é daqui a anos”, avalia. As bóias existentes no Atlântico Sul integram a rede do Projeto Pirata (sigla para Pilot Research Moored Array in the Tropical Atlantic), cooperação entre os governos brasileiro, francês e norte-americano. O Pirata, iniciado em 1997, conta com dez bóias na porção tropical do oceano. “Para a ampliação da rede, espera-se a colaboração financeira do governo brasileiro.” A reunião, que prossegue até hoje, é realizada na sede regional do MCTI, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. O encontro é preparatório para o 7º Fórum Mundial de Ciência (World Science Forum, em inglês), marcado para novembro, no Rio de Janeiro. O tema do evento local é “Oceanos, Clima e Desenvolvimento.” A primeira edição do fórum ocorreu em 2003 e, desde então, é realizado bianualmente em Budapeste, capital da Hungria. Pela primeira vez, sai da Europa. Samantha Shelley/AFP S ecas como a que atinge o semiárido podem ser previstas com anos de antecedência, afirma o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias, se ampliada a rede de monitoramento climático no Oceano Atlântico Sul. O pesquisador, que participa no Recife da 5ª Reunião Preparatória para o Fórum Mundial de Ciência, recomenda dobrar a quantidade de bóias para medir parâmetros como temperatura, salinidade, vento, pressão e correntes marinhas. De acordo com o especialista, a influência do Atlântico no clima do Nordeste é maior que a do Pacífico. “O el niño, resultante do aquecimento da temperatura da superfície do mar no Pacífico, está relacionada à seca, sim. Recentemente, no entanto, temos verificado que a temperatura no Atlântico Equatorial é uma variável ainda mais fundamental nos modelos de previsão”, afirma Pedro Leite da Silva Dias. Há 10 bóias, segundo o meteorologista, na porção sul do Atlântico. “São necessárias pelo menos 20”, diz o diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), com sede em Petrópolis (RJ) e vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A medição com bóias, explica Petro Leite da Silva Dias, é mais indicada que a aferição dos parâmetros por satélites. É que as bóias medem as correntes e temperatura da água do mar a profundidades da ordem Alexandre Gondim/JC Imagem CLIMA Para prever estiagem, meteorologista que participa de evento no Recife defende mais estudos de parâmetros do Atlântico Sul TEMPO Pernambuco vive maior seca dos últimos 40 anos. No Sertão e Agreste, os animais sofrem consequências. Na Antártida, estudo revela que gelo tem derretido mais rapidamente Degelo fica dez vezes mais rápido SIDNEY – O degelo da Antártida durante o verão é dez vezes mais rápido que há 600 anos e acelerou nas últimas cinco décadas, segundo estudo internacional divulgado ontem. Os cientistas perfuraram a 364 metros de profundidade na ilha de James Ross, norte da geleira antártica, para medir as temperaturas de centenas de anos. As camadas sucessivas mostram revelam o movimento de degelo e de congelamento. “Constatamos que há 600 anos havia condições mais frias na península antártica e uma menor quantidade de gelo derretido”, explicou Nerilie Abram, do British Antarctic Survey de Cambridge. “Naquela época, as temperaturas eram aproximadamente 1,6 grau centígrado menor que as temperaturas registradas no fim do século 20 e a quantidade de neve que derretia a cada ano e depois voltava a congelar era de 0,5%. Hoje, a quantidade de neve que derrete a cada ano é 10 vezes maior.” Apesar do aumento regular das temperaturas há centenas de anos, o degelo se intensificou a partir da metade do século 20, registra o estudo publicado na revista Nature Geoscience.