AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DAS LEIS DE MENDEL POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE DUAS ESCOLAS DE MANAUS Carla Karoline Gomes Dutra Borges – [email protected] Escola Normal Superior - Universidade do Estado do Amazonas – UEA Manaus – Amazonas Cirlande Cabral da Silva – [email protected] Departamento de Ensino Superior – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas Manaus – Amazonas Andreza Rayane Holanda Reis – [email protected] Escola Normal Superior - Universidade do Estado do Amazonas – UEA Manaus – Amazonas Resumo: A genética hoje em dia é considerada difícil pela maioria dos discentes, pela questão da sua ramificação que abrange outros campos de ensino. Por isso, abordamos no presente estudo as dificuldades na aprendizagem das Leis de Mendel por alunos do Ensino Médio de duas escolas de Manaus - Amazonas. Como instrumentos de coleta de dados tivemos a observação participante assistemática, o questionário e a entrevista. Posteriormente os dados foram analisados à luz da Análise de Conteúdo, assim obtivemos as seguintes categorias analíticas: dificuldades na assimilação dos conceitos das Leis de Mendel; Ausência de aulas práticas e dinâmicas com materiais didáticos e dificuldades nos cálculos matemáticos expressivos do quadro de Punnett. A partir dessas categorias, construímos um texto dissertativo mostrando assim que além das dificuldades presentes, o modo como a genética é abordada em sala de aula e a sua contextualização, é o diferencial para que os conhecimentos genéticos apresentados aos alunos sejam mais significativos. Palavras-chave: Análise de Conteúdo, Genética, Dificuldades e Leis de Mendel. 1 INTRODUÇÃO A genética é uma das áreas do ensino mais abrangentes que podemos observar. Se trata de um conteúdo transdisciplinar, onde engloba a matemática, a física, a interpretação, a lógica, a razão, entre uma infinidade de fatores presentes que norteiam o seu estudo. Por essa gama de fatores que a rodeiam, a genética sob o olhar dos alunos do ensino médio, que estão tendo o contato inicial com a mesma, a rotulam de uma forma preliminar, sendo considerada complexa e não aceita pela maioria deles. Moura (2013, p. 169), diz que: “No Brasil, os tópicos de genética fazem parte do conteúdo de Biologia ensinado na 3ª série do ensino médio. Porém, ela, enquanto disciplina, não é bem aceita pela maioria dos discentes do ensino público em função de sua complexidade”. Há fatores presentes que fazem com que este tipo de “rotulação” da genética seja realizado, sendo alguns deles a forma como o assunto é abordado em sala de aula, o preparo do material para a apresentação da aula, as ferramentas que estão sendo utilizadas, o conhecimento prévio do aluno, entre uma infinidade de fatores atuantes. Ainda Moura (2013, p.168) complementa quando diz que: Atualmente no Brasil, apesar das inovações científicas e tecnológicas fazerem parte dos currículos escolares das escolas públicas, grande parte dos alunos não contextualiza o ensino de biologia, com destaque aos conteúdos de genética, que se tem na escola com a sua realidade. Assim, as dificuldades estão relacionadas as mais diversas formas de compreensão como os cálculos expressivos, terminologias, conceitos, materiais didáticos e muitos outros fatores. Diante disse, percebemos a dificuldade que os alunos apresentam na compreensão dos assuntos abordados em sala de aula. Uma das áreas de difícil compreensão para o ensino de biologia devido à complexidade dos fenômenos a que se refere e a discussão sobre a sua construção conceitual é a genética, e vários estudos mostram que os conceitos de genética são difíceis de serem trabalhados no ensino de biologia, sendo apresentados de forma distorcidas por estudantes em diferentes níveis de ensino, incluindo o ensino universitário (Lima, Pinton e Chaves, 2007, p.3). Lorbieski (2010) diz que, não está sendo feita uma interconexão entre os conteúdos de genética e sua relação com o cotidiano, sendo que os estudantes não estão conseguindo relacionar divisão celular, perpetuação da vida e transmissão de características. Para Carabetta (2010), esta dificuldade que os estudantes apresentam acontece com certa frequência porque os conhecimentos de Genética adquiridos na escola não possibilitam que os sujeitos ultrapassem as primeiras impressões adquiridas no cotidiano prevalecendo assim às concepções intuitivas. Por isso, um dos motivos para que essa problemática se evidencie, talvez seja o fato de o próprio educador não conhecer a genética tão bem como deveria, ou por que não foi estudada no tempo em que o mesmo se graduou, ou quem sabe, pelo fato dele não compreender corretamente os conceitos genéticos durante a sua vida acadêmica. Em contrapartida, observamos também que apesar das dificuldades de compreensão conceitual, terminológica e outras, a genética tem ocupado grande espaço no debate biológico nas últimas décadas, tendo um grande número de realizações científicas, tais como pesquisas genômicas, clonagem, emprego de células – tronco e utilização de organismos transgênicos, divulgados nos meios de comunicação em massa (LIMA, PINTON e CHAVES, 2007). A partir do descrito acima, compreendemos que o papel do professor deve ser o de viabilizar meios para tornar esse aluno, crítico e reflexivo quanto a aplicabilidade da genética. Por outro lado, o aluno também tem seu papel e o mesmo deve ter vontade de aprender sempre, construir e reconstruir seus conceitos e de sempre estar insatisfeito somente com o que já sabe. Concordamos com Silva (2013, p. 5) quando diz que: Ensinar deve ser parte de um processo criativo, no qual professores e alunos sejam desafiados a todo instante a sempre procurarem mais e, após encontrarem o objeto procurado, tenham a inquietação de procurar por outro, conscientes da importância de mentes ávidas pela construção constante do conhecimento. Ainda, de acordo com o autor supracitado, aprender exige esforço, dedicação, questionamentos, hábito por pesquisas e prudência para não tornar o aprendizado em tarefa mecânica e de procedimentos institucionais com finalidades diversas como obter boas notas, por exemplo. Aprender não é ser adestrado a pensar de certa forma para continuar pensando igual ao professor e repetindo velhas fórmulas e copiando velhos conceitos. Aprender é entender algo de tal forma, tão completa e genuinamente, que possa ser possível transformálo, melhorá-lo e até modificá-lo. Diante dos motivos descritos acima, e entendendo a importância da investigação na área do ensino de genética, este trabalho procurou compreender as dificuldades que os alunos de duas escolas da cidade de Manaus-AM apresentam ao estudar as Leis de Mendel. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quando se inicia uma pesquisa sabemos que há vários caminhos que podem ser tomados. E conosco não foi diferente, porém, durante o momento da construção do corpus da análise, surgiram alguns questionamentos quanto a metodologia que seria utilizada. Após verificar, estudar e compreender o universo da pesquisa qualitativa escolhemos a AC como base para análise de nossos resultados. Assim, seguimos passos pertinentes e cronológicos para que a análise ocorresse de forma coerente. Minayo (2012 apud MACIEL, 2013) dizem que, a metodologia inclui simultaneamente, o método, as técnicas e a criatividade do pesquisador, bem como sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade e também a análise dos dados. Partimos desses pressupostos para os passos propriamente ditos da pesquisa. Para o desenvolvimento da presente pesquisa utilizamos como instrumento de coleta principal de dados, a observação participante assistemática, na qual, o observador não é apenas um expectador, mais está entre o objeto e o fenômeno estudado. Richardson (2014) diz que, a observação assistemática indica que a tarefa de observar será mais livre, sem fichas ou listas de registro, embora tenha de cumprir as recomendações do plano de observação que deve estar determinado pelos objetivos da pesquisa. Por isso, podemos dizer que um dos pontos positivos quando se trata do uso da observação, é a possibilidade de se obter o dado na hora em que está ocorrendo o fato, e isso é importante, pois é possível notar pontos e detalhes que não poderiam terem sido observados em outros momentos ou circunstâncias. O local de estudo foi dividido em dois locais específicos. Sendo o primeiro em uma escola pública de ensino regular normal na cidade de Manaus-AM, localizada no bairro Cidade Nova. E o segundo foi o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) Campus Manaus Centro. Os motivos dessas escolhas ocorreram pelo fato do primeiro ser o local em que realizamos o estágio curricular supervisionado por dois anos e já tínhamos uma certa abertura para a realização do mesmo. O segundo local foi escolhido por se tratar de um Instituto Federal e que para os alunos adentrarem passam por processo seletivo, além de a mesma possuir um público heterogêneo de todas as partes da cidade de Manaus. Os sujeitos da pesquisa foram os alunos dos terceiros (3º) e segundos (2º) anos do ensino médio, pois em ambas as séries os alunos já estavam estudando e tendo contato com as leis de Mendel. Foram escolhidos 15 alunos do turno noturno (da escola pública) e 15 alunos do 2º ano do ensino médio técnico do Instituto Federal do Amazonas. A coleta de dados ocorreu através da observação assistemática, questionários e entrevista individual. A fase da observação foi bastante válida, pois nela foi possível conseguir informações e proporcionar ao observador a utilização do seu discernimento quanto à relevância do que está sendo observado. Marconi e Lakatos (2010), dizem que a observação não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar. As observações ocorreram diretamente enquanto os alunos respondiam a entrevista e durante as aulas observadas em sala de aula de forma assistemática. O segundo momento da coleta foi por meio de questionários. Apolinário (2011) afirma que, o questionário é um documento contendo uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas pelos sujeitos por escrito, geralmente sem a presença do pesquisador. Para a elaboração dos questionários fizemos leituras que nos orientaram em como organizar e como elaborar as perguntas de acordo com o que precisávamos. Os questionários foram realizados somente com os alunos da escola pública pelo fato da dificuldade de expressão dos mesmos durante as entrevistas, pois eles se envergonhavam na hora de falar. Esses questionários foram organizados com questões abertas e fechadas em um total de sete perguntas, dispostas a orientar a pesquisa. O terceiro momento da coleta foram as entrevistas. Ainda Apolinário (2011) diz que, a entrevista é um procedimento que envolve o encontro de duas pessoas, entrevistador e entrevistado. As entrevistas foram realizadas em espaço de tempo de um mês, e à medida que foram realizadas, iam sendo transcritas e armazenadas em arquivo digital. Elas foram realizadas em salas de aulas somente o entrevistador, o entrevistado, gravador, caderneta, caneta, roteiro de perguntas previamente elaborado e papel rascunho para o aluno. As perguntas utilizadas na entrevista foram dispostas a manter um diálogo com o aluno de forma a obter conhecimento sobre as dificuldades em aprendizagem de genética. Segue os tópicos relacionados de objetivos e perguntas. PEEGUNTAS: Você já estudou as Leis de Mendel? (1) Você as considera difíceis? (1) Você considera alguma parte em específico que você tem uma certa dificuldade? (2) Você tem dificuldade nos cálculos matemáticos? (2) Você tem dificuldade nos conceitos e nos nomes serem parecidos? (3) Você entende em que as Leis de Mendel se aplicam em sua vida? (3) OBJETIVOS Avaliar o grau de conhecimento dos alunos sobre as Leis de Mendel. (1) Verificar uma dificuldade em específico sobre as Leis de Mendel. (2) Verificar o conhecimento do conceito da primeira e segunda Lei de Mendel. (3) 2.1 Analisando os dados: O que eles nos dizem? Após a coleta dos dados através dos instrumentos citados acima, esses materiais foram analisados à luz da AC. Esse momento não foi um momento à parte da pesquisa, porém, foi a fase na qual foi dada continuidade ao tratamento dos dados coletados. Nesse momento foi analisado ainda os dados adquiridos através das entrevistas, dos questionários e das observações. Segundo Bardín (2011), a AC é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção destas mensagens. Durante a análise realizamos a ordem de desenvolvimento a seguir: a pré – análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados (Bardín (2011). Na etapa de pré – análise foi feita a retomada do objeto de pesquisa. Foi propriamente o momento de organização do trabalho. Nesse momento, fizemos a leitura flutuante onde ocorreu o primeiro contato com os textos que tratavam sobre AC. Além disso, foram lidos 42 artigos e 11 dissertações de mestrado, a priori, e posteriormente mais 34 artigos já específicos agrupados em três áreas, a saber: Ensino de Genética, Vida de Mendel e Análise de Conteúdo e agrupados em pastas nomeadas. Foi feito também fichamentos dos textos em forma eletrônica e manual em um caderno específico. A partir dos fichamentos partimos para a construção do corpus da pesquisa, que nada mais é do que, a elaboração do corpo textual a partir dos fichamentos dos textos, dos questionários e das entrevistas, isto é, o conjunto de documentos que foram submetidos à análise. Na fase de exploração do material ocorreu a elaboração das categorias. “Esse momento pode ser considerado o mais exaustivo e detalhado. As categorias consistem em recortes de textos que são desmembrados e que são utilizados para a categorização de cada uma das informações” (BARDÍN, 2011, p.133). Além de serem relacionadas com as falas das entrevistas e dos questionários para serem validadas mutuamente. Nessa fase foi selecionado minuciosamente um conjunto de categorias que geraram informações relevantes para o processo posterior, ou seja, o processo de inferência. Bardín (2011), argumenta que é preciso interpretar descrições minuciosamente. O analista tira partido do tratamento das mensagens que manipula para inferir (deduzir de maneira lógica) conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou sobre o seu meio, por exemplo. Para a escolha dessas categorias verificamos todas as pastas agrupadas que foram citadas anteriormente e destas escolhemos 14 artigos. As categorias presentes tanto nos artigos lidos e interpretados, quanto nas entrevistas dos 30 alunos foram relacionadas do seguinte modo: A dificuldade na assimilação dos conceitos relacionados às Leis de Mendel; Ausência do desenvolvimento de aulas práticas e dinâmicas por meio de materiais didáticos; Dificuldades nos cálculos matemáticos expressivos relacionados ao quadro de Punnett. A última etapa da análise foi o tratamento dos resultados, que foi verificado sob a luz das interpretações e das inferências. A partir desses dados foi feita uma análise do que realmente os dados queriam nos mostrar, onde estavam presentes as concordâncias e discordâncias, discrepâncias e incongruências presentes na análise. Nesse momento foi realmente observado o que cada uma das informações queriam dizer em relação à dificuldade de compreensão dos assuntos de genética mendeliana. Para esse momento foi construído um texto dissertativo para cada uma das categorias apresentadas. Como dito anteriormente, fizemos um pequeno texto dissertativo para cada uma das categorias encontradas, através da triangulação dos dados pois, Bardín (2011) afirma que esses elementos (as categorias) são imprescindíveis quando se trata de AC. As categorias são elementos importantes e indispensáveis quanto a análise dos dados coletados. Discorreremos sobre elas, sendo as seguintes categorias dispostas: A dificuldade na assimilação dos conceitos relacionados às Leis de Mendel; Ausência do desenvolvimento de aulas práticas e dinâmicas por meio de materiais didáticos; Dificuldades nos cálculos matemáticos expressivos relacionados ao quadro de Punnett. Categoria 1: A Dificuldade na assimilação dos conceitos relacionados ás Leis de Mendel As dificuldades na assimilação dos conceitos relacionados ás Leis de Mendel é alvo de muitos estudos atuais, pelo fato das Leis de Mendel serem a base da genética clássica, ou seja, é quando os alunos têm o primeiro contato com a genética. Por esse motivo é importante ela ser compreendida pelos alunos de forma correta. Os autores Melo e Carmo (2009) dizem que a análise dos conhecimentos e da compreensão da genética por parte dos jovens estudantes vem sendo muito investigada, assim como pesquisas tem sido realizadas com esse objetivo atentando para a percepção de problemas propostos que envolvam o uso das novas tecnologias genéticas em contextos variados, em questões suscitadas nessa área do conhecimento biológico. A partir de estudos realizados, é possível encontrar muitas dificuldades emaranhadas e retardando o processo de aprendizagem, sendo uma delas a possível falta de compreensão correta acerca dos conceitos básicos de genética. Concordamos com Soares et al., (2005) quando diz que uma das principais dificuldades dos alunos nas aulas de biologia é a compreensão de conceitos genéticos. Corroborando essa afirmação, destacamos trechos de duas entrevistas que realizamos em duas escolas distintas, quando fizemos a seguinte pergunta: Você teve dificuldade em relação aos conceitos e aos nomes biológicos serem parecidos? Obtivemos as seguintes respostas: “Um pouco quanto a questão dos conceitos de cromossomos e genes, das leis... da parte de genótipo e de fenótipo [...]”. Aluno 01 IFAM/ Entrevista 001. “A dificuldade que eu encontrei mais nas leis de Mendel foi sobre os nomes”. Aluno 11 EP/ Entrevista 011. Observamos que independentemente de ser uma escola técnica ou mesmo uma escola pública regular, a dificuldade relacionada aos nomes e conceitos estão presentes em ambos. Concordamos também que as dificuldades enfrentadas pelos alunos podem ser atribuídas a vários fatores, sendo um deles a questão das terminologias utilizadas em livros didáticos, acerca dos conceitos. Radford e Birdstewart (1982) destacam as similaridades superficiais entre mitose e meiose, que levam a confusões terminológicas que terminam por obscurecer, por sua vez, importantes diferenças entre estes processos. Este é um perigo constante e muito presente nas escolas. Os alunos a partir de uma abordagem fragmentada, descontextualizada ou não bem explorada passam a ter essa confusão mental em relação aos próprios conceitos por conta das terminologias que são parecidas. Evidenciando essa dificuldade temos a fala de um aluno da Escola Pública – EP que respondeu durante a entrevista a seguinte pergunta? Qual a dificuldade encontrada no estudo das Leis de Mendel? “Nos nomes, por que são muito parecidos[...]”. Aluno 12 EP/ Entrevista 012. Realizamos também a mesma pergunta aos alunos do IFAM, e obtivemos as seguintes respostas: “Eu um pouco quanto a questão dos conceitos de (Sic), cromossomos e genes, das Leis da parte do genótipo e fenótipo[...]”. Aluno 01 IFAM/ Entrevista 001. “Eu tive alguns problemas nos nomes de cada coisa, como proporção genotípica e fenotípica, eu já trocava […]”. Aluno 02 IFAM/ Entrevista 002. Observamos que diretamente associada a essa dificuldade de aprendizagem das Leis de Mendel está a dificuldade conceitual em que as terminologias estão diretamente ligadas. A relação de eventos com determinados nomes parecidos, induz aos alunos a um possível erro, pois se não houver a compreensão correta dos nomes haverá uma confusão entre os conceitos em si e suas aplicações. O uso errôneo e ambíguo de termos da genética em livros didáticos, como, por exemplo, o uso indiscriminado de “gene” e “alelo”, sem esclarecer as diferenças de significado entre os dois termos mais uma vez abre espaço para a indução ao erro do aluno (CHO et al., 1985). Há de se observar que esses erros ocorrem tanto nos livros didáticos fornecidos aos alunos, quanto na explicação do professor, pelo fato, como já mencionado anteriormente, dele não ter tido o estudo de genética de forma adequada, no seu período de formação. Em função disso, pode ocorrer uma sucessão de erros, que caso não seja corrigido a tempo, provocará danos futuros na formação dos alunos. Pelos motivos destacados, fica claro que o livro didático também possui um papel fundamental nesse processo de alfabetização dos alunos. Levando em consideração as causas aqui evidenciadas, a primeira causa das dificuldades acerca da aprendizagem das Leis de Mendel é atribuída as terminologias. No entanto, se as mesmas forem trabalhadas com cautela serão ferramentas úteis no ensino aprendizagem das leis de Mendel. Destacamos aqui as falas de dois alunos, sendo um do IFAM e outro da escola pública normal regular, onde fizemos a seguinte pergunta: Você teve dificuldade em relação aos conceitos, a questão dos nomes serem parecidos? E os alunos nos forneceram as seguintes respostas: “Sim, difícil de guardar e decorar”. Aluno 05 EP/ Entrevista 005. “[...] se a questão tá pedindo genótipo ou fenótipo, a gente encontra dificuldades muitas vezes nessa parte”. Aluno 05 IFAM/ Entrevista 005. Dificuldades nas terminologias são um fator limitante para a compreensão dos conceitos em genética mendeliana. Isso compromete drasticamente a aprendizagem dos processos em genética que são essenciais para que os alunos possam seguir os próximos passos ainda mais complexos nesse assunto. Sabemos que a aprendizagem conceitual é muito importante e é a base da compreensão do aluno em genética clássica. Categoria 2: Ausência do desenvolvimento de aulas práticas e dinâmicas por meio de materiais didáticos Sabemos que uma aula prática sozinha não pode abordar um conteúdo em sua totalidade. Porém, serve como uma ferramenta, que se for bem utilizada torna-se um aliado de muito valor para a formação e a compreensão do assunto pelo aluno. Nas aulas práticas, o aluno tem um contato maior com o objeto estudado, pode ver, tocar, sentir e quando isso ocorre o assunto não passa mais a ser algo abstrato para ele. Os alunos de ambas as escolas, destacaram que um dos principais fatores que dificultam tal abordagem é a carência de materiais didáticos. Utilizaremos aqui trechos de entrevistas de alunos nos quais eles relacionam seus anseios sobre o assunto. Fizemos a seguinte pergunta: Qual tipo de material, além do livro didático, você gostaria de poder ter nas aulas para que o assunto fosse melhor compreendido? Obtivemos as seguintes respostas: “Mais (aulas) práticas, mais laboratório para poder entender...a gente tem na teoria e falta fazer a parte prática”. Aluno 06 IFAM/ Entrevista 006. “O uso num (Sic) do laboratório...para gente se dedicar mais”. Aluno 09 EP/ Entrevista 009. Das 30 entrevistas realizadas 7 citaram o uso do laboratório como forma de melhoramento das aulas e dos 10 questionários aplicados, 5 citaram o uso dos laboratórios também como forma de melhoramento da compreensão acerca das Leis de Mendel. Isso mostra a necessidade que os alunos têm de poder sentir e participar do processo de ensino e aprendizagem. O fato de estarem no laboratório e poderem ver algo que contribua na compreensão do assunto é algo muito válido. Pavan et al., (1998), diz que, a utilização de ferramentas para tornar o processo de aprendizagem desses conceitos mais efetiva e dinâmica é importante, pois a dinamização dos meios de ensino – aprendizagem pode contribuir para o melhor aprendizado dos estudantes, tanto quando se proporciona o maior envolvimento dos alunos quanto na reestruturação da prática em fuga ao tradicionalismo, este muitas vezes exacerbado, que pode contribuir negativamente no aprendizado dos alunos. Verificamos a necessidade que os alunos possuem de terem uma aula fora do padrão “tradicional” fugindo da lousa, pincel e, algumas vezes, ao livro didático. Essa questão é algo que deve ser pensado. Bromemberg (2007) afirma que o material didático, em muitos momentos para o professor, é um elemento norteador do ensino, e, por assumir tal importância é um instrumento valorizado na prática de ação docente. Este material (didático) pode ser utilizado para facilitar e ampliar as condições de aprendizagem do aluno, colaborando para a transformação social na medida em que favorece a elaboração constante do conhecimento como resultado de experiências interativas, propiciando o crescimento de um cidadão criativo, crítico e produtivo, pronto a enfrentar a vida com mais segurança. Quando um professor com suas limitações de compreensão da genética insiste em ensinála sem os devidos conhecimentos, ou seja, superficialmente, possivelmente a sua aula estará fadada ao insucesso. Carboni e Soares (2006), dizem que, o que se observa hoje nas escolas de ensino médio é que os conteúdos relacionados à genética (molecular) apesar de sua relevância, têm sido abordados superficialmente. Isso é decorrente tanto pelas dificuldades encontradas pelos professores, pois se tratam de assuntos relativamente novos, os quais na maioria das vezes não foram abordados durante o seu período de formação acadêmica, quanto pelos próprios alunos, por considerarem os conteúdos abstratos e difíceis de serem compreendidos. Categoria 3: Dificuldade nos cálculos matemáticos expressivos relacionados ao quadro de Punnett Uma das dificuldades apontadas pelos alunos em relação ao ensino de genética mendeliana especificamente, nas Leis de Mendel, são os cálculos matemáticos expressivos e também a construção do quadro de Punnett. No primeiro contato dos alunos com a construção do diagrama há uma certa resistência, pois é algo novo que os alunos nunca viram. Segundo Goldbach (2008), as dificuldades envolvidas com a resolução de problemas estão também relacionadas ao nível de habilidade matemática e a capacidade analítica necessária para lidar com problemas de genética com sucesso. Sabemos que muitos dos alunos que saem do ensino fundamental, normalmente possuem muitas dificuldades em porcentagem, multiplicação, divisão e até adição e subtração, por isso os cálculos expressivos em genética tornam-se algo muito pesado para que os mesmos resolvam. Destacamos aqui que das 30 entrevistas realizadas, 15 responderam ter dificuldades nos cálculos matemáticos expressivos, mostrando assim que essa categoria de dificuldade é bem presente nas salas de aula. Quando fizemos a seguinte pergunta: Você tem ou teve dificuldade nos cálculos matemáticos? Obtivemos as seguintes respostas: “Foi pra decorar...esqueci o nome agora...as regrinhas do quadro de Punnett, que precisa de umas regrinhas pra montar foi pra decorar essas regras a minha primeira dificuldade”. Aluno 05 IFAM/Entrevista 005. “Sim, eu acho que todos tem”. Aluno 06 EP/Questionário 006. “Nomes por que são muito parecidos e um pouco dos cálculos direito dele que eu não entendi”. Aluno 02 EP/Entrevista 002. “Tive[...] quando em relação a porcentagem”. Aluno 13 IFAM/Entrevista 013. É importante salientar que muitas vezes os professores dotam os alunos de estratégias e habilidades, das quais eles se tornam aptos a resoluções de problemas e de exercícios, mas não criam neles a construção significativa do saber, os alunos acabam não compreendendo o significado do que aprenderam (OLIVEIRA, 2011). Esta é uma situação muito comum que observamos. O aluno até sabe fazer o cálculo, no entanto, não sabe em que ele se aplica em sua vida; é interessante mostrar a cada um deles a aplicabilidade para que eles compreendam o significado do que estão fazendo. Por isso Lima (2007) e Durbano et al., (2008), afirmam que boa parcela dos alunos brasileiros sai do ensino médio entendendo que as Leis de Mendel são apenas “letras” que se combinam em cruzamento, não conseguindo fazer a associação de que essas letras como AA ou Aa, que são apenas símbolos, são sequências nucleotídicas, que representam os genes, e estão localizadas nos cromossomos, se segregando durante a meiose para a formação dos gametas. Mais do que isso as leis de Mendel são a base para a compreensão das características hereditárias passadas de geração a geração como o aparecimento em uma geração da prole de uma determinada doença, ou então para produzir uma prole de animais de interesse econômico. Moura (2013) diz que, para a oferta de um bom ensino de biologia, com destaque a genética, se faz necessário que o professor tenha a sua disposição recursos, didáticos que propiciem a relação teoria – prática. A falta de recursos didáticos pode colaborar para má formação de conceitos e incompreensão de conteúdos. Ou seja, o ensino de genética voltado a matemática não pode ser algo ensinado mediante e somente utilizando a matemática como forma de resolução, porém recursos didáticos devem ser aliados nesse ensino pois, os alunos poderão ver de fato em que se aplica e além do mais, utilizando materiais didáticos palpáveis, os alunos perderão aquele senso de abstração que é tão presente durante as aulas de genética. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A genética mendeliana é a base para todo e qualquer estudo mais complexo nas mais diversas ramificações. Salientamos aqui, que a partir da compreensão e da maneira como a pesquisa ocorreu pudemos observar que há fatores presentes e perceptíveis que interferem na compreensão e no ensino de genética. Destacamos, no presente estudo, a partir da análise de conteúdo as três categorias que evidenciam essas dificuldades. Diante disso, é possível inferir que o modo como a genética é abordada em sala de aula, influencia muito o modo de resposta do aluno e em relação ao seu estudo. Também os conhecimentos de outras disciplinas devem aliar-se para que o aluno tenha êxito, na compreensão e resolução de problemas genéticos. Outro fator que interfere nesse processo, é a falta de materiais didáticos na escola, ou seja, a utilização somente do livro didático não levará os alunos a uma reflexão e compreensão do que está estudando. E por fim a contextualização, deve ser a base para que os alunos saibam em que se aplica o que ele está estudando, pois do contrário a resposta será negativa, quando os assuntos de genética forem abordados em sala de aula. Salientamos, também, que se faz imprescindível a realização de mais estudos que tratem das dificuldades de compreensão das Leis de Mendel, porém, que possam mostrar a vivência e a realidade da forma como os assuntos complementares a genética estão sendo estudados, se é tomado esse cuidado de o aluno de fato aprender as disciplinas competentes, e de conseguir relacionar seus conhecimentos e unir a resolução de problemas Salientamos também que a análise de conteúdo é uma forma bastante significativa de analisar e de mostrar as dificuldades de forma criteriosa, pois seu corpo analítico é bastante consistente, e fornece passos para que o pesquisador possa seguir com segurança. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPOLINÁRIO, F. (2011). Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do conhecimento científico. 2.ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2011. BARDÍN, L. (2011). Análise de Conteúdo. 1.ed. São Paulo, Ed. Edições 70, p. 125 – 126. BANET, E.; AYUSO, G. E. (2003). 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From these categories, we built an argumentative text thus showing that in addition to these difficulties, how genetics is discussed in the classroom and their context is the differential for that genetic knowledge presented to students are more significant. Key-words: Content Analysis, Genetics, Difficulties and Mendel's laws.