Ovoscopia de ovos de muçuãs - RESUMO ZOOTEC

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XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Ovoscopia de ovos de muçuãs (Kinosternon scorpioides) em cativeiro1
Egg tester of mud turtle eggs (Kinosternon scorpioides) in captivity
Izabele Cristina Santos Costa2, Claudio Douglas de Oliveira Guimarães3, Alanna do Socorro Lima da
Silva4, André Luiz Alves de Sá5, Maria das Dores Correia Palha6, Manoel Malheiros Tourinho7
1
Este trabalho é parte integrante da pesquisa de iniciação científica do primeiro autor, financiada pela CAPES
– CNPq.
2
Estudante do Curso de zootecnia - Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, Pará, Brasil. Bolsista
da CAPES – CNPq. E-mail: [email protected].
3,4,5,6,7
Pesquisador(a) do Projeto Bio-Fauna – Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, Pará, Brasil.
Resumo: O muçuã (Kinosternon scorpioides) é um quelônio típico de regiões de várzea que pode ser
encontrado nas regiões norte, nordeste e centro-oeste do Brasil. Devido ao pouco conhecimento técnicocientífico a cerca das condições ideais para o desenvolvimento embrionário, este trabalho objetivou descrever
a técnica de ovoscopia realizada durante o processo de incubação de ovos de muçuãs em cativeiro. Foram
utilizados 129 ovos incubados artificialmente, com todos sendo submetidos à técnica de ovoscopia a fim de
identificar a viabilidade dos ovos e presença de desenvolvimento embrionário. Neste estudo, foi possível
identificar todos os ovos que continham desenvolvimento embrionário (n=44) pela visualização da silhueta e
estruturas internas do ovo, assim como movimentação dos embriões em seu interior, demonstrando que a
ovoscopia foi efetiva para a seleção de ovos viáveis durante o processo de incubação.
Palavras–chave: desenvolvimento embrionário, quelônios, reprodução
Abstract: The mud turtle (Kinosternon scorpioides) is a typical chelonian of lowland regions that can be
found in the northern, northeastern and central-western Brazil. Due to the lack of technical and scientific
knowledge about the ideal conditions for embryonic development, this study aimed to describe the egg tester
technique performed during the process of egg incubation in captivity. One hundred and twenty-nine (129)
artificially incubated eggs were subjected to candling technique, in order to identify the viability of the eggs
and the presence of embryonic development. In this study, it was possible to identify all the eggs containing
embryonic development (n=44) by the exam of the animal’s silhouette and internal structures of the egg, as
well as the embryos’ movement, showing that candling was effective for the selection of viable eggs during
the incubation process.
Keywords: embryonic development, reproduction, turtles
Introdução
O muçuã (Kinosternon scorpioides) é um quelônio pertencente à família Kinosternidae, grupo que
compreende duas subfamílias (Staurotypinae e Kinosterninae), quatro gêneros (Claudius, Staurotypus,
Sternotherus e Kinosternon) e 25 espécies localizadas no novo mundo (Turtle Taxonomy Woeking Group,
2009). Esta espécie abrange as três Américas, apresentando ampla distribuição geográfica (Somma, 2014) e
pode ser encontrada nos seguintes estados brasileiros do norte, nordeste e centro-oeste (Garrone, 2006;
Barreto et al, 2009; Costa et al. 2010). Apresenta como características principais a presença de três quilhas
longitudinais no dorso da carapaça, um espículo ou espinho ao final da cauda e duas “dobradiças” entre os
lobos anterior, médio e posterior do plastrão, permitindo que o animal se feche quase que completamente em
situações de vulnerabilidade (Thomas; Vinke, 2001; Ruenda-Almonacid et al., 2007; Vogt, 2008).
Devido à carência de literatura técnico-científica que aborde aspectos inerentes ao processo de
incubação de ovos de muçuãs, pouco se sabe sobre as condições ideais para o desenvolvimento do embrião,
assim como as mudanças morfofisiológicas durante esse processo. Atualmente, o conhecimento que se tem
sobre o desenvolvimento embrionário nesta espécie provém de estudos em cativeiro, geralmente em
condições controladas de incubação. Para tal, é fundamental que se adotem técnicas de monitoramento dos
ovos, desde o momento da postura até a eclosão dos filhotes, tal como a realização da ovoscopia, a fim de
que se obtenham filhotes saudáveis e melhor sucesso de eclosão em condições cativas. Esta técnica consiste
em observar o interior do ovo através de uma fonte de luz em ambiente escuro, procedimento que permite a
percepção de defeitos da casca (rachaduras e despigmentação), duplicidade de gema e presença de elementos
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estranhos, tal como é realizado para aves (Sagrilo, 2004). Sendo assim, este trabalho tem como objetivo
descrever a técnica de ovoscopia realizada durante o processo de incubação de ovos de muçuãs em cativeiro.
Material e Métodos
Foram utilizados para esta pesquisa, 129 ovos coletados do tanque de reprodução de muçuãs
(Kinosternon scorpioides) do criadouro científico do Projeto Bio–Fauna (licença 1602685), situado no
campus sede da Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, Pará. Diariamente, a porção seca dos
tanques de reprodução foi monitorada para identificação das posturas, entre 15 de julho e 09 de dezembro de
2013. Os ovos foram retirados, identificados e posteriormente, pesados em balança analítica de precisão
(0,0001g) e medidos quanto ao comprimento e largura com paquímetro analógico com 0,1mm de graduação.
Os ovos foram incubados artificialmente sendo realizada ovoscopia utilizando uma fonte de luz artificial
direcionada contra a superfície do ovo mantido em ambiente escuro, a fim de identificar a ocorrência de
desenvolvimento embrionário, bem como a viabilidade dos embriões (vivo ou morto). A ovoscopia foi
realizada sempre após um período mínimo de 100 dias de incubação. A ocorrência de desenvolvimento
embrionário foi constatada quando o ovo apresentava área escura em seu interior correspondendo à silhueta
do filhote podendo, seu produto, apresentar-se vivo, quando movimentos destes eram verificados ao serem
aproximados da fonte de luz, ou morto quando verificada ausência de movimentos.
Resultados e Discussão
No presente estudo, os 129 ovos coletados apresentaram em média 9,07g de peso, 36,90mm de
comprimento e 19,80mm de largura, formato elipsoide, cor salmão, casca rígida e lisa com alguns
apresentando pequenas rugosidades em suas extremidades, geralmente úmidos logo após a postura. Essas
características corroboram com a descrição feita por Iverson (1979, 1991), Silva (2006), Castro (2006),
Araújo (2009) e Guimarães (2011) para ovos da mesma espécie in situ e ex situ. Essa avaliação macroscópica
inicial é importante, pois anormalidades na casca dos ovos de répteis são frequentes e sua ocorrência implica
em sérias consequências para a viabilidade e a taxa de nascimento. Ovos com defeito de casca, tais como:
casca áspera, casca fina, deposição de cálcio em volta dos poros e ovos com múltiplas camadas de casca são
algumas das variações morfológicas descritas como anômalas em quelônios (Zwart & Vorstenbosch, 2005).
Verificou-se um número médio de 3 ovos por ninhada, com variação de 1 a 10 ovos encontrados no
mesmo local. Esse registro é o maior descrito até agora para espécimes cativas, superando as ninhadas de seis
e sete ovos encontradas por Silva (2006), Castro (2006) e Araújo (2009). No entanto, este número
provavelmente está relacionado a ovos de diferentes posturas, tal como verificado por Castro (2006). Estes
autores observaram diferentes fêmeas realizando posturas em um mesmo local, talvez para poupar a energia
que seria direcionada para construir um novo ninho, ou então por saberem instintivamente que aquele é um
bom local para a deposição de seus ovos, já que outra fêmea havia escolhido esta área.
A técnica de ovoscopia permitiu a visualização da rede de sinuosos vasos sanguíneos,
principalmente próximo à região equatorial do ovo. Além disso, a silhueta dos embriões podia ser visualizada
quando os ovos apresentavam-se embrionados, geralmente sendo identificadas a cabeça e os membros
anteriores (Figura 1), apresentando-se melhor delimitados à medida que se dava o desenvolvimento do
embrião. Observou-se, também, que quando os ovos eram mantidos próximos à fonte de luz, era possível
identificar movimentação da cabeça e dos membros dos embriões, permitindo, com isso, a seleção de ovos
contendo embriões vivos (34,1%; n=44), contaminados (62,7%; n=81) ou consumidos por formigas (3,1%;
n=4). Os ovos inviáveis (65, 9%; n=85) foram retirados da incubadora e descartados posteriormente.
Figura 1. Técnica de ovoscopia utilizada para ovos de Kinosternon scorpioides.
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Conclusões
A técnica de ovoscopia adaptada para o monitoramento do desenvolvimento embrionário de filhotes
de muçuãs mostrou-se efetiva, principalmente quanto à identificação de ovos viáveis e filhotes vivos. Sendo
assim, esta técnica pode ser adotada durante o manejo reprodutivo desta e de outras espécies de quelônios ex
situ.
Agradecimentos
À Capes – CNPq, pela concessão da bolsa de iniciação científica e ao projeto Bio-Fauna/ISARHUFRA por fornecer os animais, bem como o aparato técnico para a realização deste estudo.
Literatura citada
ARAÚJO, J. C. Muçuã (Kinosternon scorpioides Linaeus 1766) – Aspectos teóricos e desempenho
reprodutivo de plantéis selecionados para a criação em cativeiro (Resultados preliminares). 2009. 80 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, Pará, 2009.
CASTRO, A. B. Biologia reprodutiva do muçuã (Kinosternon scorpioides, Linaeus, 1776) em cativeiro.
2006. 101 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal
do Pará, Belém, Pará. 2006.
BARRETO, L.; LIMA, L.C., BARBOSA, S. Observations on the ecology of Trachemys adiutrix and
Kinosternon scorpioides on Curupu Island, Brazil. Herpetological Review, v.40, p.283-286, 2009.
GUIMARÃES, C.D.O. Aspectos da nidificação e incubação de ovos de muçuãs (Kinosternon scorpioides)
em cativeiro. 94f. Trabalho de conclusão de curso em Bacharel em Medicina Veterinária, Universidade
Federal Rural da Amazônia. Belém, 2011.
RUENDA-ALMONACID, J. V.; CARR, J. L.; MITTERMEIER, R. A.; RODRÍGUEZ-MAHECHA, J. V.;
MAST, R. B.; VOGT, R. C.; RHODIN, A. G. J.; OSSA-VELÁSQUEZ, J.; RUEDA, J. N.; MITTERMEIER,
C, G. Las tortugas y los cocodrilianos de los países andinos del trópico. Colômbia: [s.n.], 2007. 274 p.
SILVA, A. S. L. Aspectos biológicos e econômicos da criação de muçuã (Kinosternon scrorpioides, 1766)
em cativeiro. 2006. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal Rural da Amazônia.
Belém, Pará, 2006.
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