INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA Kelvin determinou que a Terra deveria ter entre 20 e 400 milhões de anos. Em 1897 considerou 24 milhões como o valor mais provável” Cap 2 – A Idade da Terra 2.1 IDADES RADIOMÉTRICAS DAS ROCHAS No princípio do século XX, Rutherford e Holmes concluiram que o decaimento dos isótopos radioactivos instáveis, descoberto por Henri Becquerel em 1896, podia ser utilizado para quantificar a idade das formações geológicas. Até então, os princípios da sedimentologia tinham sido utilizados em exclusivo para a obtenção de uma cronologia relativa do passado geológico da Terra. Do ponto de vista da Física, a mais importante determinação da Idade da Terra foi realizada por Lord Kelvin, que a partir da aplicação da 1ª e 2ª Leis da Termodinâmica conclui que a idade da Terra se deveria situar entre 20 e 400 milhões de anos. Esta determinação incorrecta estava profundamente afectada pelo desconhecimento da contribuição do decaimento radioactivo para o balanço térmico da Terra. Só na década de 50 é que a precisão dos métodos laboratoriais permitiu generalizar o uso das datações radiométricas. O princípio físico em que assenta estas medições é o seguinte : A lei de decaimento radioactivo indica que o número de átomos que se desintegra por unidade de tempo é proporcional ao número de átomos presentes no estado inicial, ou seja dN = −λ N dt (2.1) onde λ é a constante de decaimento. Integrando a equação anterior podemos escrever: N 0 = Ne − λt (2.2) onde N0 representa o número de átomos radioactivos no estado inicial e N é o número de átomos radioactivos no estado actual. O número de átomos radiogénicos (gerados pelo processo de decaimento que estamos a estudar) designa-se por NR, sabendo-se que, N0 = NR + N (2.3) Pelo que podemos reescrever (2) em função de NR como : NR = N (eλt-1) (2.4) Diversas formas destas expressões são utilizadas em geocronologia. É também vulgar a utilização do parâmetro “meia-vida” que é o período de tempo necessário para que uma dada quantidade de um radionuclideo decaia para metade do seu valor inicial. A relação entre T1/2 e λ é dada por : Pag 19 II – A IDADE DA TERRA T1/2 = 0.693/λ (2.5) 2.2 O MÉTODO DO RUBÍDIO ESTRÔNCIO O Rubídio é um elemento raro na natureza, que não forma qualquer mineral, mas que aparece a substituir o Potássio, dadas as similaridades entre ambos no que diz respeito ao raio iónico e à carga. Os dois isótopos naturais do Rubídio são o 85Rb e o 87Rb, cujas abundâncias atómicas são de 72.8% e 27.2%, respectivamente. O 87 Rb é um isótopo radioactivo que decai da forma : Rb -> 87Sr + β 87 (2.6) Neste caso, a formação de átomos radiogénicos de forma seguinte : N87Sr = N87Rb (eλt-1) 87 Sr pode ser explicitada da (2.7) Uma vez que os espectrómetros de massa medem com maior precisão razões entre dois elementos do que valores absolutos e uma vez que o isótopo 86Sr não é radioactivo nem radiogénico - a sua quantidade pode ser considerada constante - é preferível escrever (2.6) sob a forma : 87 Sr = 86 Sr 87 86 Rb λ t ( e −1 ) Sr (2.8) Um problema existe, no entanto, no que diz respeito à fracção de 87Sr formado antes da génese da amostra, que tem que ser subtraido dos dois membros de (2.8) : Sr = 86 Sr 87 Sr + 86 Sr 0 87 87 86 Rb λ t ( e −1 ) Sr (2.9) A razão isotópica inicial varia com a história geológica da unidade em estudo. As rochas privenientes do manto superior, por exemplo, possuem razões isotópicas iniciais muito baixas uma vez que o manto superior possui razões Rb/Sr muito baixas. No extremo oposto temos a crusta continental caracterizada por razões Rb/Sr elevadas. A expressão anterior mostra que a razão 87Sr/86Sr depende linearmente da razão 87 Rb/86Sr para um conjunto de amostras da mesma idade. Numa representação linear simples do tipo : Fig. 2.1 – Isócrona Rb/Sr para um conjunto de amostra de igual idade radiométrica. Na altura da formação a razão 87Sr/86Sr é suposta ser idêntica mas as razões 87Rb/86Sr poderão ser diferentes. O declive da isócrona permite a determinação de t. Pag 20 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA Desde que se disponha de um conjunto de amostras com razões pai/filho diferentes. Contudo, existem ainda duas condições para que a medição da idade radiométrica seja significativa : a primeira é a de que os processos de alteração ou de metamorfismo não tenham afectado as razões isotópicas do mecanismo de decaimento utilizado na datação; a segunda é a de que todas as amostras utilizadas possuam a mesma razão isotópica inicial. Esta ultima condição é de mais fácil realização nas rochas igneas do que nas rochas metamórficas ou sedimentares, uma vez que aquelas cristalizam a partir de um magam único. No que diz respeito às rochas metamórficas esta condição pode também verificar-se desde que o metamorfismo tenha sido suficientemente intenso para homogeneisar as razões isotópicas. Nas rochas sedimentares,o facto de os seus elementos poderem provir de fontes distintas torna impossível a datação directa da idade da sedimentação. As idades relativas obtidas a partir do estudo das colunas sedimentares consituiem, contudo, a principal fonte de informação da estratigrafia, pelo que a sua calibração exige a necessidade de se obterem datações radiométricas indirectas, usualmente, a partir da datação das rochas ígneas que se encontram intercaladas nas sequências sedimentares ou as intruem, o que fornece limites inferiores das idades dos horizontes sedimentares intruidos. Pai 14 C 87 Rb 40 K 40 K 138 La 147 Sm 176 Lu 187 Re 230Th 232 Th U 235 U 238 U 234 Filho 14 N 87 Sr 40 Ca 40 Ar 138 Ce 143 Nd 176 Hf 187 Os 226 Ra 208 Pb 230 Th 207 Pb 206 Pb λ 1.21 x 10-4 1.42 x 10-11 4.962 x 10-10 5.81 x 10-9 6.54 x 10-12 6.42 x 10-12 1.96 x 10-11 1.52 x 10-11 9.217 x 10-6 4.9475 x 10-11 2.794 x 10-6 9.8485 x 10-10 1.55125 x 10-10 Vida média 5730 a 4.88 Ga 1.40 Ga 110 Ma 106 Ga 108 Ga 35.3 Ga 45.6 Ga 75.2 ka 14 Ga 248 ka 704 Ma 4.468 Ga Tabela 2.I – Constantes de decaimento e vidas médias de um conjunto de pares de elementos utilizáveis em datação radiométrica O método Rb/Sr é utilizado para quase todas as idades geológicas, se bem que a precisão das datações é reduzida no que diz respeito aos últimos 10/20 Ma. 2.3 IDADES RADIOMÉTRICAS DE MINERAIS E TEMPERATURA DE BLOCAGEM Uma parte importante da geocronologia é realizada, não a partir do estudo da rocha “total” – onde se pulveriza uma quantidade de alguns quilogramas de rocha para a obtenção de amostras aliquotas - mas sim a partir do estudo das razões isotópicas de alguns dos seus minerais. Este facto pode provir, por exemplo, do interesse em utilizar minerais porque as suas razões isotópicas iniciais são muito elevadas (o Pag 21 II – A IDADE DA TERRA que gera decaimentos rápidos), o que, em princípio, permite a obtenção de estimativas mais precisas das idades radiométricas. Este é o caso da biotite e da granada, que possuiem razões isotópicas - Rb/Sr no primeiro caso e Sm/Nd no segundo - muito mais elevadas do que as rochas de que faz parte. Uma outra situação tem a ver com o facto de as rochas no seu conjunto e os seus minerais, tomados isoladamente, poderem gerar idades radiométricas distintas, ambas geologicamente significativas, que indiciam a sobreposição de acontecimentos geológicos determinantes. Um exemplo importante desta situação é a dos zircões, que podem ser datados pelo método U/Pb, e que são minerais suficientemente robustos para se manterem preservados durante os ciclos de erosão e deposição. Exemplo sesmelhante é o da granada, que pode ser datada pelo métido do Sm/Nd. A situação inversa, na qual a idade radiométrica dos minerais é inferior à idade radiométrica da rocha total ocorre quando as rochas são metamorfizadas, e os minerais crescem num ambiente mais jovem que o da formação da matriz. Na figura seguinte apresenta-se uma situação onde é possível diferenciar as idades radiométricas da rocha total e de alguns minerais. Fig.2.2 – Isócrona Rb/Sr para a rocha total e para um conjunto de minerais num granito metamorfisado. A rocha total é aqui definida como a correspondente às amostras suficientemente grandes para que as razões isotópicas (e pai-filho) não tenham sido perturbadas pelo processo metamórfico. 2.4 A IDADE DA TERRA Onde se localizam as rochas mais antigas sobre a Terra ? Rochas com mais de 3,000 Ma são raras na Terra, onde a parte dos registos geológicos mais familiar cobre apenas os últimos 570 Ma. No fundo dos oceanos, a crusta terrestre é ainda mais nova. Como veremos mais à frente, isto é um resultado do processo de formação contínua de crusta nas dorsais oceânicas. Os cratões continentais estáveis da América do Norte, da África, da Europa do Norte da Austrália ou da Gronelândia possuem unidades com cerca de 2,500 Ma e, nalgumas formações específicas, 3,500 a 3,800 Ma. A datação mais antiga já realizada foi feita em zircões de quartzitos do Monte Narreyer, na Autrália Ocidental, tendo sido obtido o valor de 4,200 Ma com a utilização de técnicas de microsonda iónica. Pag 22 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA 2.5 A IDADE DA LUA Os 381.69 kg de rochas trazidos da alunagem da sexta missão Apollo assemelhavam-se a lavas basálticas terrestres. Contudo, a sua constituição química é distinta. O mais significativo dos resultados das missões Apollo surgiu da datação radiométrica das primeiras amostras trazidas pela Apolo 11. Estas tinham 3,800 Ma. Se admitirmos que a idade mais antiga que se pode encontrar no sistema solar é de 4,600 Ma (como veremos mais à frente na análise dos meteoritos) podemos concluir que a Lua se manteve geologicamente activa durante um curto período de tempo após a sua formação. As terras altas de tons claros da Lua, são provavelmente mais antigas que os “mares”, porque os estudos foto-geológicos indicam que o material dos "mares" se sobrepõe ao material das Terras Altas. Quando foram obtidas amotras das Terras Altas descobriu-se que faziam parte de um grupo de rochas ígneas dominadas por plagioclase e feldspato, cujos parentes terrestres mais chegados são rochas do Arqueano e do Proterozóico conhecidas por anortosites. As anortosites lunares tinham idades superiores a 4,000 Ma, algumas delas com idades perto dos 4,600 Ma. É possível explicar o porquê da curta vida geológica da Lua, já que esta é muito mais pequena que a Terra - com apenas 1/100 da massa - e portanto, possui uma menor quantidade incial de elementos radioactivos produtores de calor. Igualmente, dadas as suas pequenas dimensões, a energia perdida por radiação é mais importante que na Terra, devido a uma maior área de superfície relativamente ao seu volume. Vinte anos depois da missão Apollo 11, os estudos petrológicos das amostras recolhidas continuam e sem prespectivas de um fim rápido. Fazem-se agora estudos meticulosos de fragmentos individuais, e da multitude de finas partículas obtidas de amostras do núcleo através do solo lunar. Aparece então uma teoria consistente e global sobre a evolução lunar, sugerindo que a Lua se formou há 4,600 Ma, como resultado de um mega impacto entre a Terra primordial e um "impactor" com as dimensões do planeta Marte. O material do manto do impactor foi grandemente vaporizado e recondensado para formar a Lua. Pouco depois da formação da Lua, uma parte do núcleo separou-se do centro e o restante foi derretido formando um vasto oceano de magma com quilómetros de profundidade. Olivinas e depois ortopiroxenas iniciaram a cristalização no exterior instalando-se na direcção do núcleo. Cálcio e Alumínio iniciaram uma migração para o exterior cristalizando como feldespatos e plagioclase. Há cerca de 4,500 Ma, a plagioclase ascendeu à superfície para formar uma crusta contínua de anortosites, enquanto o interior estava já cristalizado. Parte do material fundido no interior por calor radiogénico ou outras fontes de calor produziu basaltos que encontraram o seu caminho até à superfície. À medida que as fontes de calor iam decaindo com a passagem do tempo, a profundidade a que o material era fundido ia aumentando, com consequências na composição do magma. Há cerca de 3,200 Ma a actividade vulcânica à superfície cessou e a Lua tornou-se geologicamente extinta. A Lua, presentemente, não possui campo magnético mas algumas amostras de basalto recolhidas revelaram um magnetismo remanescente ou fóssil pouco intenso. Pag 23 II – A IDADE DA TERRA É possível efectuar estudos estatísticos sobre o tamanho/frequência das crateras e determinação da idade por radiometria das amostras recolhidas na Lua. Estes estudos estão na base das regras empíricas que utilizámos no Cap 1 para concluir que uma superfície planetária com maior densidade de crateras corresponde a uma superficie mais velha. No caso da Lua, é possível ainda concluir que bombardeamento da Lua por meteoritos durou desde a sua formação até há cerca de 3,800 Ma, altura em que abrandou significativamente. Os impactos continuam, mas nos últimos 570 Ma só um pequeno número de crateras significativas foi produzido. A existência de uma assinatura actual correspondente às crateras de impacto é assim uma consequência provável da inexistência de rejuvenescimento crustal, como conhecemos na Terra e que é responsável pela escassez de rochas muito antiga na superfície do nosso planeta 2.5 OS METEORITOS Muito antes da missão Apollo fornecer as primeiras amostras de rochas lunares, havia uma só fonte directa de dados sobre a composição do Sistema Solar: os meteoritos. Os meteoritos são conhecidos desde a pré-história, mas só agora são intensamente estudados, por serem as únicas amostras palpáveis de material dos primeiros dias do sistema solar. Há já bastante tempo que os meteoritos são encarados como tendo composições análogas às dos planetas do sistema solar. As estruturas internas dos planetas terrestres deverão ser constituidas por um núcleo metálico sobreposto por um manto de sílica - à semelhança do que sabemos quanto à Terra. Esta separação está também presente nos meteoritos, que se apresentam agrupados em três tipos fundamentais: os meteoritos condríticos, os meteoritos de ferro-níquel e os meteoritos acondríticos. 2.5.1 Meteoritos Condríticos As condrites são o tipo de meteoritos mais representado. São rochosas (por oposição a ferrosas), e caracterizam-se pela presença de côndrulos, glóbulos refractários de Cálcio e Alumínio (meteoritos de tipo CAl) com dimensões de milímetros a centímetros. Os côndrulos estão embebidas numa matriz formada habitualmente por uma mistura de silicatos cristalinos, por vezes incluindo grãos ou filamentos de níquel e ferro. Este tipo de constituição não foi nunca encontrado na Terra. A idade radiométrica dos meteoritos condríticos é estimada como sendo 4,555 ± 4 Ma, ligeiramente inferior à idade obtida para as suas próprias inclusões de CAl. As condrites são classificadas de acordo com a sua constituição química e o seu grau de metamorfismo. As condrites que possuem menor grau de metamorfismo são aquelas que mais interessam ao estudo da composição primitiva da nébula. É esse o caso das Condrites Carbonáceas, assim designadas pela presença de compostos de Carbono. São escuras e friáveis, mais ricas em voláteis, mas muito raras, devido provavelmente à dificuldade de atravessamento da atmosfera. O meteorito mais importante desta classe – Allende – atingiu o México, em 1969, sob a forma de milhares de pequenas pedras, dispersas por mais de 300 km2. Cerca de 2000 kg de material foi recolhido, se bem que se pense que esta quantidade representa apenas uma pequena fracção do total. Pag 24 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA É habitual dividir as condrites carbonatadas em três sub-grupos, C1, C2 e C3, de acordo com o grau crescente de metamorfismo. Allende é do tipo C3. Os condrulos são maioritariamente constituidos por silicatos e são pobres em elementos siderófilos, metais, sulfuretos e alguns elementos litófilos voláteis. Acredita-se que as condrites representam um estado primitivo de evolução da nébula solar, um condensado representativo da constituição primitiva, disperso por elementos suficientemente pequenos para que se tenha tornado inviável a sua transformação em rochas cristalinas. O cenário mais provável, é o de terem sido fundidos a partir de poeiras oxidadas pré-existentes. Embora tenha ocorrido alguma redução de Ferro, a deplecção de elementos siderófilos, calcófilos e de alguns voláteis, durante a formação de condrules, a maior parte destas fases e elementos, ocorreu aparentemente antes do evento da fusão dos condrulos. A produção de condrulos deverá ter ocorrido muito cedo e ser muito eficiente, uma vez que estes são muito abundantes. O tempo de arrefecimento dos condrulos (< 1 hora) deve ter sido muito rápido, pelo que o processo deverá ter tido lugar num ambiente frio. Para além deste facto, as anomalias isotópicas detectadas nas inclusões de CAl, e as variações de Oxigénio isotópico são incompatíveis com um meio onde tudo seria homogeneizado. Os condrulos têm variações individuais na composição de elementos e isótopos de Oxigénio, mas em média a composição é relativamente uniforme para todos os grupos de meteoritos: a matriz nos diferentes grupos de meteoritos diz respeito às variações na composição dentro dos grupos. 2.5.2 Meteoritos de Ferro e Níquel Uma percentagem significativa dos meteoritos encontrados é constituida por ferro metálico ou ligas de ferro e níquel. Uma vez que não existe ferro metálico na crusta terrestre, este tipo de meteorito é imediatamente reconhecido como extraterrestre. Os meteoritos de ferro e níquel foram provavelmente dos últimos objectos a diferenciarem-se da nébula primitiva. A grande importância deste tipo de meteoritos prende-se com o facto de os elementos que os constituem – Ferro e Níquel – terem um papel muito importante no que diz respeito à composição actual do núcleo da Terra, como veremos no capítulo 3. 2.5.3 Acondrites Alguns meteoritos são formados por rochas ígneas com um grau de evolução superior às condrites, sendo a sua idade radiométrica média um pouco menor que a das condrites. Angra dos Reis, por exemplo, é um meteorito ígneo com idade de 4,551 ± 2 Ma. As acondrites basálticas são verdadeiros basaltos semelhantes aos basaltos lunares. Têm, em média, idades de cristalização da ordem de 4,539 ± 4 Ma, notoriamente com 20 Ma a menos, relativamente ao material mais antigo datado do Allende. Para além destes tipos de meteoritos, é ainda importante considerar o tipo SNC (de shergottites, nakhlites e chassignites). A importância deste tipo provém do facto de as idades radiométricas respectivas serem muito inferiores aos dos outros tipos de metoritos (da ordem de 1000 Ma), pelo que se admite terem como origem um planeta evoluido do sistema solar. Uma vez que a composição química dos gases Pag 25 II – A IDADE DA TERRA retidos nestesmeteoritos correspondem à composição da atmosfera de Marte, como foi medido pela sonda Viking, é assumida a sua origem marciana. 2.6 COMPOSIÇÃO DOS PLANETAS TERRESTRES Como vimos o termo "elementos voláteis" é normalmente usado para referir alguns elementos, como H, He, C, S e os compostos que contêm estes elementos, que são gasosos até temperaturas muito baixas. Pelo contrário, compostos que contêm elementos refractários como o Mg, Si, Ca, Al, Fe, etc, encontram-se no estado sólido a temperaturas relativamente altas e são facilmente incorporados em planetas em formação. Elementos como o K, Na, Rb e Pb são elementos voláteis intermédios e aparentemente podem ser parcialmente perdidos durante as altas temperaturas nos estágios iniciais de agregação de um planeta. CAIXA 3 - Elementos Voláteis, Refractários e Afinidades Geoquimicas O termo gasoso é usado para referir os elementos H, C, N, O e os gases nobres. Outros elementos são classificados como muito voláteis (e.g. Bi, T1), voláteis (e.g. Rb, Cs), moderadamente voláteis (e.g. K, Mn), moderadamente refractários (e.g. V, Eu), refractários (e.g. Ca, Al, U, La) e super refractários (e.g. Zr, Sc). Os termos litófilo (e. g. Si, Al, Mg, K, U), calcófilo (e.g. S, Cu) e siderófilo (e.g. Fe, Ni, Co, Ir) serão utilizados para descrever a afinidade com os silicatos, sulfuretos ou os metais, respectivamente O Sol é composto essencialmente por H, He e C, que são elementos muito voláteis mas contém também pequenas quantidades de Mg, Si, Ca, Al e O que são os principais constituintes dos meteoritos e dos planetas rochosos. Depois da formação do Sol, a maior parte dos elementos mais voláteis foram lançados para fora do alcance da parte interior do Sistema Solar, provavelmente num período inicial de formação do sistema, quando o vento Solar era ainda muito mais intenso. Os planetas terrestres são compostos essencialmente por elementos condensáveis ou não voláteis, enquanto que os elementos voláteis são os principais constituintes do Sol, dos planetas gasosos e de alguns satélites da parte mais externa do Sistema Solar. Os cometas são também essencialmente constituidos por elementos e compostos voláteis. O espectro solar do Sol permite obter uma estimativa dos indíces de elementos refractários como Fe/Si, Mg/Si, Al/Si, etc.. Estes indíces são normalmente próximos dos da Terra tomada como um todo. Têm sido feitas várias aproximações para estimar a composição da nébula solar, combinando dados da composição química do sol e dos meteoritos. Estas são as chamadas “abundâncias cósmicas”, que são a composição de referência para planetas e outros meteoritos. Materiais que têm quase abundâncias cósmicas de um grupo de elementos, são chamados “primitivos” ou “indiferenciados” ou “condríticos”. As condrites carbonatadas C1, são mais “tipo-solar” na sua composição e têm maior abundância de elementos voláteis do que qualquer outro tipo de meteoritos. São por isso chamadas de “primitivas”, embora existam razões para acreditar que já experimentaram alterações de baixa temperatura, possivelmente na superfície de um objecto do Sistema Solar ou no interior de um cometa. Outros meteoritos parecem ter sido processados a temperaturas superiores, tenha sido no espaço ou em pequenos corpos como asteróides, satélites ou perto da superfície de pequenos planetas. Pag 26 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA As composições dos planetas terrestres incluem um largo número de elementos que são voláteis abaixo dos 1000 K, e que diferem dos meteoritos de tipo C1. Na Mg Al Si P S K Ca Ti Fe Ni Sol 0.067 1.089 0.0837 1 0.0049 0.242 0.0039 0.082 0.0049 1.270 0.0465 C1 0.0574 1.074 0.0849 1 0.0010 0.0515. 0.00377 0.0611 0.0024 0.900 0.0493 Tabela 2.II - Comparação de abundâncias atómicas entre o Sol e Condrites Carbonatadas de tipo C1 (in Breneman et al. 1985 e Anders et al, 1989, citados por Don Anderson em Understanding the Earth, 1992. A tabela 2.II dá-nos a composição do Sol (obtida a partir de estudos espectroscópios e da análise de partículas emitidas) e a composição dos meteoritos denominados por condrites carbonatadas, Tipo C1. Estes meteoritos têm composições aproximadas da porção refractária do Sol e também contêm uma grande fracção de elementos voláteis (como S e C). Uma das observações geoquímicas mais significativas sobre os planetas terrestres, é a sua depleção em gases nobres e elementos voláteis relativamente aos planetas exteriores e mais ainda, relativamente aos meteoritos. Os meteoritos providenciam-nos o tempo da depleção dos voláteis na nébula interior, uma vez que Pb-Pb e Rb-Sr dão as idades de separação e de depleção de Chumbo e Rubídio voláteis, relativamente a Urânio e Estrôncio refractários. Todos os dados fornecidos pelos meteoritos apontam efectivamente para uma mesma idade deste acontecimento, indicando que a depleção de elementos voláteis deverá ter acontecido há cerca de 4,560 Ma. A depleção de Potássio (um elemento volátil moderado) pode ser comparada com a de Urânio (um elemento refractário). Uma vez que ambos os elementos são emissores de raios gama, esta é uma das poucas medidas geoquímicas disponíveis para a Terra, Vénus e Marte Embora o Potássio e o Urânio sejam diferentes nas propriedades químicas, partilham uma característica comum, o que os torna úteis como indicadores geoquímicos da composição planetária; são ambos excluídos dos minerais comuns nas formações rochosas dos basaltos (são elementos “incompatíveis”). Estão por isso concentrados nos resíduos fundidos durante a cristalisação de silicatos basálticos, e assim preservaram o seu índice planetário bruto durante a diferenciação dos planetas. Assim os índices de K/U providenciam informação sobre a depleção de voláteis relativamente aos elementos refractários no mesmo corpo. Pag 27 II – A IDADE DA TERRA Os índices primordiais, assumindo que são os que correspondem aos meteoritos C1, são de aproximadamente 60,000, enquanto que os índices terrestres são de 10,000. Uma questão inicial, é a de se saber se a depleção de Potássio observada em amostras terrestres é um efeito planetário bruto ou é local e superficial. Esta questão, só pode ser indirectamente respondida pela informação disponível na Terra. Contudo, o Potássio parece ser depletado, relativamente ao Urânio, nas rochas da superfície de Marte e Vénus assim como da Terra. Medições dos índices de K/U para Vénus, feitas por sondas soviéticos, indicam sobreposição com os valores da superfície terrestre. Os índices de K/U para os meteoritos SNC, que provavelmente provêm de Marte, são mais altos (1,500), de acordo com as tendências voláteis do planeta, também mais altas, mas ainda assim, inferiores aos valores primordiais. O maior conteudo volátil de Marte é também suportado pelos dados dos isótopos de Nd e Sr dos meteoritos SNC Pode concluir-se firmemente que o Potássio, e presumivelmente outros elementos voláteis, são depletados das rochas superficiais de Marte, Terra e Vénus, relativamente aos valores das nébulas primordiais. Tem sido sugerido que o Potássio pode comportar-se como metal a elevadas pressões, e assim estar actualmente concentrado nos núcleos dos planetas. Contudo, a pressão no centro de Marte (r = 3,390 km) é de apenas 400 kbar. Esta pressão, é insuficiente para permitir ao Potássio entrar no núcleo de Marte. Então a depleção em Marte deve ser devida a outro processo. Muitos outros elementos voláteis, em adição ao Potássio, são também depletados na Terra relativamente às abundâncias primordiais. A grande maioria tem propriedades químicas que tornam pouco provável a hipótese de entrarem em fases metálicas. O Potássio é um elemento moderadamente volátil. Poderá ter estado sujeito a altas temperaturas durante a fase de acrecção planetária? Acontece que, elementos com o peso atómico do Potássio, não podem ser perdidos dos planetas terrestres, mesmo a elevadas temperaturas uma, vez que estes corpos já atingiram as suas presentes dimensões. Se tivessem estado sujeitos, de algum modo, a elevadas temperturas durante a accretisação, os índices de K/U, seriam variáveis com o tamanho dos planetas. O que aparentemente não acontece. Para além da evidência química, os dados do isótopo Rb/Sr, indicam também que a Terra está depletada de Rb volátil relativamente a Sr refractário. Amostras do manto, indicam que os índices de Rb/Sr, são muito mais baixos do que os índices primordiais dados pelos meteoritos CI. Uma vez que o Rubídio tem propriedades muito semelhantes às do Potássio é muito pouco provável que tanto o Potássio como o Rubídio mantenham no manto as concentrações que possuiam na nébula solar primordial, e é provável que o Rubídio e outros elementos voláteis, tenham já sido depletados do material precursor utilizado na formação dos planetas. 2.7 MODELO DE FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR 2.7.1 Fase de Nébula Estima-se que o sistema solar, tal como existe, teve inicío há cerca de 4600 Ma. A nébula formou-se quando uma massa de gás e pó se libertou de uma muito maior nuvem molecular, num braço espiral da Via Láctea e colapsou num disco sobre a acção da atracção gravitacional. A massa flutuou para o interior do disco, o Sol formou-se no centro e o momento angular foi transferido para o exterior, de tal forma que agora reside principalmente nos planetas. Na nébula, pequenos corpos Pag 28 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA (de dimensão métrica), iniciaram o seu crescimento até atingirem dimensões quilómetricas. Mais tarde, na história recente do Sol, o fluxo de massa foi invertido, ventos violentos e descargas solares conduziram o Hidrogénio, o Hélio, gases nobres e muitos elementos voláteis para distâncias da rdem das 4-5 UA (1 unidade astronómica (UA) = distância Terra - Sol), onde estes accrecionaram, para formar os planetas gigantes. A água foi capaz de condensar na nébula à temperatura de 160 K, como gelo, numa “linha de gelo” a cerca de 4-5 UA, ficando retida nos satélites dos planetas gelados. Esta fase de nébula teve curta duração (cerca de 105 a 106 anos). A nébula solar primitiva deverá ter consistido essencialmente em Hidrogénio e Hélio, que são os principais constituintes do Sol, Júpiter e Saturno. Assume-se, geralmente, que a composição, para elementos não gasosos, da primordial nébula solar é semelhante às condrites carbonáceas do Tipo C1. Este raciocínio assenta na semelhança entre a abundância de elementos químicos não gasosos na camada mais externa do Sol (a fotosfera, cuja concentração de elementos pode ser obtida do espectro solar) e as condrites C1. Qual o estado inicial da matéria na nébula? Existem dois modelos opostos, um frio e o outro quente. No primeiro, a condensação de uma nébula quente produz, com descida da temperatura, uma sequência de óxidos, silicatos, metais de Fe e sulfuretos. No segundo, num cenário de temperatura mais baixa, as poeiras no disco de gás em rotação foram oxidadas. Um grande paradoxo é que as evidências astrofísicas e isotópicas sugerem uma nébula fria (umas poucas centenas de kelvin quando muito até à cintura de asteróides), enquanto que a evidência mineralógica indica altas temperaturas (> 1500 K), dentro da cintura de asteróides até uma distância do Sol de 2-3 UA. Um dos argumentos mais fortes, para uma nébula fria e heterogénea, vem da evidência dos isótopos de Oxigénio, que indica claramente a existência de variadas reservas de isótopos de Oxigénio para a Terra e para diferentes classes de meteoritos. Estes teriam sido homogeneizados numa nébula quente (> 1,500 K). No presente contexto, podem fazer-se duas observações. As assinaturas dos isótopos de Oxigénio nos grupos de meteoritos, são na sua maioria distintas e não coincidem com os valores para a Terra e para Marte. Um grupo de meteoritos, que provavelmente veio de Marte (SNC) forma um grupo separado, que também não se sobrepõe com nenhum outro grupo de meteoritos ou com o sistema Terra-Lua. Esta é uma evidência adicional para o leque de homogeneidade na nébula e daí a nébula fria a uma distância de 1-3 UA. Pode admitir-se que a nébula evoluiu com o tempo : durante a fase inicial de colapso, o material flutuou na direcção do interior para formar o Sol. As temperaturas na nébula eram altas, provavelmente da ordem dos 1,500 K nas regiões interiores (onde mais tarde se formariam os planetas terrestres), durante este curto estágio de influxo, que terá durado cerca de 105 anos. Nesta altura não deverá ter estado presente nenhum material sólido condensado. Quando o Sol em crescimento atingiu uma massa crítica e se deu início ao processo termonuclear, essa actividade acabou com o restante gás da nébula interior. Neste estágio, material condensado da nébula interior, planetesimais (dimensão métrica) sobreviveram e subsequentemente agregaram nos planetas terrestres. As temperaturas da nébula, eram nesta altura bastante mais frescas, umas poucas centenas de Kelvin a 2-3 UA de distância da Terra. Grande parte do debate sobre uma nébula fria versus uma nébula quente, refere-se a estágios de difereciação da Pag 29 II – A IDADE DA TERRA evolução da nébula. Tem-se tornado mais claro, que a nébula solar primitiva era um ambiente bastante mais turbulento do que se imaginava. 2.7.2 Deplecção de voláteis Os planetas terrestres são assim diferentes, em composição, da nébula primitiva: parece ter ocorrido uma substancial fraccionisação química na nébula interior, antes da acreção final dos planetas terrestres. Isto foi devido provavelmente à intensa actividade solar inicialmente (e.g. fortes ventos solares), com o assentar do Sol na sequência principal, e depois de limpa a nébula inicial dos voláteis e da água a cerca de 4 UA, numa “linha de gelo”, nos confins da cintura de asteróides. Este processo parece ter demorado cerca de um milhão de anos. 2.7.3 Fase planetesimal Júpiter cresceu rapidamente, talvez como consequência de massiva perda de gás. Na nébula interior, só restaram os corpos com dimensão suficiente (na ordem de metros), para sobreviver aos episódios iniciais de calor solar intenso. A agregação terá sido gerada por colisões entre planetésimais, alguns dos quais atingindo as dimensões de Marte, para finalmente accrecionarem nos actuais Mercúrio, Vénus, Terra e Marte, processo que levou cerca de 100 Ma. De acordo com a corrente hipótese dos planetésimais, num estado muito precoce da nébula solar, as poeiras no disco em rotação começaram a juntar-se formando assim uma hireraquia de corpos, começando por pequenos grãos, passando por corpos com dimensões de metros , depois com quilómetros, até que finalmente atingiram dimensões da ordem das centenas de milhar de quilómetros, no final do período da fase pré-planetária. Estes objectos são chamados de plnetésimais e na corrente linha de pensamento são vistos como os “blocos” usados na “construção” de planetas. Que evidências temos nós destes objectos já desaparecidos? Existem várias e diferentes linhas de convergência : os asteróides são restos planetésimais. Phobos um dos satélites marcianos, aparenta ser um objecto primitivo, e pode muito bem, ser um asteróide capturado. Assim é análogo de um plenetésimal. A ausência de um planeta na cintura de asteróides, na qual mais de 4,000 corpos foram já numerados (não contando com outros muito mais pequenos), deve-se provavelmente à forte influência do massivo Júpiter, que já capturou ou ejectou muitos dos corpos. A massa total da miríade de pequenos objectos na cintura, é 5 % inferior à massa da Lua (as pequenas dimensões de Marte são provavelmente devido a causas semelhantes; “fome”, causada pelo massivo Júpiter, que se formou mais cedo e depletou as áreas vizinhas). Uma evidência directa, para os já existentes corpos com diâmetros superiores a 100 km, vem da observação de todas as mais antigas superfícies preservadas de planetas e satélites, que estão saturadas de crateras. A superfície da Lua é um exemplo clássico, mas fotografias, desde Mercúrio, perto do Sol, até satélites de Urano, mostram claramente que, planetas e satélites estiveram sujeitos a bombardeamentos massivos. Estão presentes crateras de todos os tamanhos, desde dimensões micrómetricas, causadas por impactos de pequenos grãos, até enormes bacias com mais de mil quilómetros de diâmetro. A extensão deste bombardeamento na Lua, como vimos, depois de ter atingido as dimensões actuais e depois de a crusta lunar se ter formado, é revelada pela Pag 30 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA evidência, de pelo menos, oitenta bacias com cerca de 300 km e 10 000 crateras com de dimensões entre 30 e 300 km, formadas antes do principal bombardeamento ter cessado há cerca de 3 800 Ma. A grande bacia anelada, Mare Orientale, que se formou na Lua há cerca de 3 800 Ma, é um exemplo. Uma vez que um semelhante, mas provavelmente mais intenso, impacto atingiu a Terra, justifica a ausência de identificação de rochas, com idade superior a 3,800 Ma. Actuais estimativas indicam que 200 bacias aneladas com diâmetros superiores a mil quilómetros, se formaram na Terra devido ao impacto de corpos com poucas centenas de quilómetros de diâmetro, há cerca de 4,400-3,800 Ma, isto é, logo a seguir à accretisação da Terra. Na Terra, contrariamente ao que acontece na Lua, a evidência foi removida, uma vez que brechas esmagadas tinham sido carne fácil para os agentes erosivos terrestres. Embora este bombardeamento tenha sido catastrófico para a crusta terrestre inicial, a adição de material à superfície da Terra teria sido pouco significativa. Alguns sobreviventes destes planetésimais, continuam por aí. Existem cerca de 120 asteróides identificados com órbitas aproximadas ou cruzadas com a da Terra. Entre 100 e 1,000 toneladas de material meteoritíco, sobre tudo poeiras, caem na Terra todos os dias. Todos os 20-30 Ma, um asteróide grande o suficiente para provocar uma cratera de 20 km, atinge a Terra. A extinção dos dinossauros no fim do Cretácio, há cerca de 65 Ma, está provavelmente relacionada com o impacto de um asteróide com cerca de 10 km de diâmetro. A evidência para tal colisão, está no facto de existir uma fronteira exacta no Cretácio-Terciário, de uma vasta camada mundial de Irídio (raro na Terra, mas muito abundante nos meteoritos), que é interpretado como o resultado de um mega impacto que se relaciona com a desaparecimento de de algumas espécies animais. A mais recente cratera lunar, Thyco, com 85 km de diâmetro, formada por um impacto semelhante há cerca de 100 ma, indica que impactos relativamente grandes ocorreram recentemente na escala de tempo geológica e bastante perto da Terra (um impacto falhado ocorreu em Março de 1989, quando um asteróide com cerca de 100 metros, capaz de formar uma cratera com dimensões de quilómetros, passou a uma distância duas vezes a da Terra-Lua). Assim, são muitas as evidências para a existência de planetésimais com diâmetros superiores a 100 km no Sistema Solar, juntamente com alguns restos dos seus sobreviventes. Teriam os planetas sido formados a partir destes, ou existiriam corpos maiores de dimensões intermédias (tipo Lua, Marte, ou Mercúrio), na hierarquia de objectos que accrecionaram, para formar os planetas terrestres? A maior evidência para a existência prévia de objectos muito grandes (com massas de dimensões da Terra, Lua ou Marte) numa nébula inicial, vem da inclinação dos planetas relativamente ao seu eixo de rotação (ver tabela I deste capítulo). Um dos maiores impactos foi o sofrido por Urano, cálculos mostram que era necassário um impactor de dimensões tipo Terra, para colidir com o planeta e colocá-lo com uma inclinação perto dos 90°. São necessárias colisões mais pequenas para justificar a inclinação dos outros planetas mas, no entanto alguns pelo menos tão grandes como Marte (com 1/10 da massa da Terra), teriam de ser responsáveis, já que impactores mais pequenos (tipo Phobos), não seriam significativos. Quantos destes objectos grandes seriam necessários e quais as suas dimensões? Têm sido levados a cabo cálculos, mas só na região dos planetas interiores (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte). Simulações em computador dos processos de agregação, mostram que cerca de 100 planetesimais tipo Lua, 10 tipo Mercúrio e 3-5 tipo Marte, deveriam formar a população final de planetesimais. Pag 31 II – A IDADE DA TERRA Um grande impacto é provavelmente o responsável pelo estranho facto de Mercúrio possuir tão pouco material rochoso no seu manto, um núcleo de Ferro enorme e uma órbita inclinada tão próxima do Sol. Existem duas explicações correntes. A primeira propõe que os silicatos tenham sido volatilizados num inicial evento de altas temperaturas, relacionado com a inicial actividade do Sol (Mercúrio está tão próximo do Sol que, presentemente, a temperatura do lado iluminado é 425 °C, suficiente para fundir Chumbo). No entanto, para derreter um manto rochoso, são necessárias temperaturas da ordem de vários milhares de graus. A alternativa, e correntemente a explicação mais aceite, é que Mercúrio foi atingido por um corpo com cerca de 1/6 da sua massa num estado tardio da sua agregação. A colisão fragmentou o planeta: a maior parte dos silicatos foi perdida para o espaço, mas o núcleo de Ferro voltou a agregar com uma pequena parte do manto de silicatos. Finalmente, a corrente explicação para a origem da Lua involve a colisão de um impactor, maior que Marte, com a Terra. Sumariamente existem amplas evidências para a existência de grandes corpos percursores ou planetesimais, no Sistema Solar inicial. Os planetas incluiram, de algum modo, diferentes tipos de planetésimais, o que não representa necessáriamente uma zonação horizontal estritamente original. Mais tarde, neste estado de acreção, talvez cerca de 100 Ma depois de o sistema se ter separado da nuvem molecular, um planetésimal massivo, com dimensões semelhantes a Marte, chocou com a Terra. O manto do impactor foi colocado em órbita formando a Lua. Outras colisões a alta velocidade, arrancaram parte da sílica do manto de Mercúrio, colocaram Vénus com uma rotação no sentido contrário. A “limpeza” de planetesimais residuais continuou até há cerca de 3800 Ma, produzindo as superfícies craterizadas de Mercúrio e da Lua, as já desaparecidas de Marte e destruindo a inicial crusta terrestre. Uma questão básica sobre este modelo de formação da Terra e dos outros planetas interiores diz respeito às dimensões do material acrecionário. Os planetas formaram-se directamente a partir das poeiras e do material disperso na nébula, ou são produto final de uma sequência hierárquica de accreção sucessiva ? Várias observações parecem apontar na direcção da última hipótese. Em primeiro lugar, é de ampla evidência observacional, que as superfícies dos planetas e satélites do Sistema Solar são o resultado de inúmeros e sucessivos impactos de grandes corpos (dimensões superiores a 100 km). Em segundo lugar, as obliquidades dos planetas são consistentes com colisões de objectos muito grandes (superiores a 1000 km de dimensão característica). Em terceiro lugar, a hipótese mais razoável para a origem da Lua, requer que a Terra tenha sido atingida por um objecto de massa igual a 10 % o 20 % da Terra, num estado tardio da história da accreção, quando tanto a Terra como o impactor tinham já crusta formada. A elevada densidade de Mercúrio é interpretável se admitirmos que parte da sílica do seu material mantélico foi removida por uma colisão com um corpo massivo. Em quarto lugar, é de esperar que a acrecção a partir da nébula primitiva, conduza a uma composição planetéria uniforme, em vez da observada diversidade química e isotópica de ambos meteoritos e planetas. A evidência meteorítica é consistente com estas observações : os meteoritos não correspondem a fases individuais e são sempre misturas de vários componentes (e.g. grãos minerais, inclusões ricas de Al e Ca, sem condrulos ou partículas metálicas) ou são fragmentos de corpos maiores. Pag 32 INTRODUÇÃO À FISICA DA TERRA Uma consequência desta hipótese de acrecção hierarquizada é a de que a fraccionização interna pode ocorrer nestes corpos antes de se tornarem planetas, pelo que a separação entre as diferentes fases pode ocorrer em objectos pequenos antes da acrecção planetária. Assim, a Terra deve ter-se formado a partir de corpos que tinham já iniciado a diferenciação em “núcleos” metálicos e “mantos” silicatados. 2.8 BIBLIOGRAFIA Brown, G. C., Hawkesworth, C. J., Wilson, R. C. L. (eds), “Understanding the Earth”, Cambridge University Press, 1992, pp 1-551 Frank D Stacey, “Physics of the Earth”, Brookfield Press, Brisbane, Australia, 1992, pp 1-513. 2.9 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO Ex. 1. Demonstre a expressão 2.5. Pag 33