Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Alessandra Casadei Marques – [email protected] Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica Instituto de Pós Graduação (IPOG) São Paulo, SP, 22 de Março de 2013 Resumo O artigo foi elaborado com o objetivo de demonstrar as principais interações medicamentosas em pacientes que são submetidos a tratamentos com anti-hipertensivos com diuréticos (tiazídicos, de alça e poupadores de potássio), inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II (BRA), bloqueadores dos canais de cálcio, betabloqueadores, bloqueadores de ação central e vasodilatadores de ação central. Com o envelhecimento da população mundial, houve também o crescimento das doenças crônicas, o que leva a um risco maior de interações medcamentosas, uma vez que a maioria dos idosos fazem uso de polifarmácia. A partir desse estudo podemos concluir que a prescrição consciente e uma avaliação constante do tratamento pelos profissionais da saúde são essenciais. O trabalho em conjunto é necessário para o esclarecimento e o estímulo à adesão ao tratamento dos pacientes. Palavras-chave: Interação medicamentosa. Hipertensão Arterial. Polifarmácia. Abstract The article was developed with the goal of demonstrate the main drug interaction in an antihypertensive treatment with diuretics (thiazide, loop and potassium-sparing), angiotensinconverting enzyme (ACE) inhibitors, Angiotensin II receptor blockers (ARB), calcium channel blockers (CCB), beta blockers, centrally acting blockers and centrally acting vasodilators. With an aging population, there is the increase of chronic diseases and bigger risk of drug interaction, since most elderly people use polypharmacy. From this review, we can conclude that a conscious prescription and a continuous evaluation of the treatment by healthcare professionals are essential. The team work is necessary for the clarifying and stimulus of adherence to the treatment. Key words: Drug interaction. Hypertension. Polypharmacy. 1. Introdução A população mundial está envelhecendo cada vez mais e um dos principais motivos são os avanços da medicina. No Brasil a situação não é diferente. Em 2008, o Brasil tinha 21 milhões de idosos (cerda de 11% da população local). Porém com a senescência, há também o aumento de doenças crônicas, que representam um risco à saúde do idoso, não somente pela gravidade das enfermidades em si, mas pelo maior risco de interações medicamentosas, devido aos tratamentos múltiplos, e reações adversas a medicamentos, que agravam a morbimortalidade (BRASIL, 2010). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Para o tratamento dessas doenças é necessária a prescrição, que é somente o início do tratamento medicamentoso e um ato que pode finalizar de formas diferentes. O paciente tem um papel fundamental neste processo. É imprescindível que ele esteja comprometido com sua saúde física, busque ajuda de um profissional de saúde e siga corretamente suas orientações. Faz parte do ato de prescrever o estímulo à adesão ao tratamento (BRASIL, 2010). Estudo realizado em Fortaleza mostra que 56,4% das consultas resultam em prescrição médica. Apenas em 30% das vezes se pergunta sobre reações alérgicas e uso de outros medicamentos. Em relação à orientação ao paciente, reações adversas são citadas em 26,7% dos casos e interações de medicamentos em 41,8%. (ARRAIS, 2007). O presente artigo tem como objetivo principal avaliar os tratamentos medicamentosos mais utilizados em pacientes hipertensos e suas principais interações medicamentosas incluindo os medicamentos anti-hipertensivos e aqueles mais utilizados em conjunto visando promover o uso racional de medicamentos. 2. Interações medicamentosas 2.1. Conceito As interações medicamentosas ocorrem quando os efeitos de um medicamento são alterados pela presença de outro. Essa alteração pode resultar na diminuição/anulação da eficácia terapêutica ou aumento dos efeitos farmacodinâmicos, podendo levar a produção de eventos adversos (MORENO, 2007). A politerapia é recomenda pelo Ministério da Saúde quando as associações forem adequadas e portanto, devem ser prescritas de maneira racional conforme necessidade de cada indivíduo (VERONEZ, 2008). Como objetivos de uma associação medicamentosa temos a potencialização de efeitos terapêuticos, redução de eventos adversos, diminuição de doses terapêuticas, prevenção de resistência e obtenção de ações múltiplas (OGA, 1994). Porém associações feitas sem fundamentos farmacológicos, recomendadas por leigos ou causadas por automedicação, podem ser nulas ou até mesmo prejudiciais. (MORENO, 2007). Segundo estudo realizado por Santos (2012), 49,70% das prescrições avaliadas continham interações medicamentosas, sendo classificadas como leve (3,10%), moderada (23,60%) e grave (5,0%). Em 17,90% das prescrições foram encontradas mais de uma interação medicamentosa. 2.2. Tipos de interações medicamentosas 2.2.1. Interações farmacocinéticas São interações em que um dos medicamentos é capaz de modificar a absorção, distribuição, metabolismo e eliminação de outro administrado concomitantemente (OGA & BASILE, 1994). a. Absorção ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 A absorção oral pode ser alterada por fármacos que inibem ou aceleram o esvaziamento gástrico, formação de complexos, ou para medicamentos injetáveis, pode causar vasoconstrição local, diminuindo a absorção e prolongando efeito local (RANG & DALE, 2004). b. Distribuição A alteração na distribuição pode provocar toxicidade devido ao aumento do fármaco livre, mas isso é seguido por eliminação aumentada, até obter novamente o equilíbrio dinâmico (RANG & DALE, 2004). c. Metabolismo Os fármacos podem induzir ou inibir as enzimas que metabolizam fármacos. A indução enzimática pode reduzir a atividade farmacológica de outros medicamentos. Já na inibição ocorre o inverso, o aumento da ação de fármacos metabolizados pela enzima inibida. (RANG & DALE, 2004). d. Eliminação A eliminação pode ser modificada pela alteração de ligação à proteína, e consequentemente, a filtração, pela inibição da secreção tubular e pela alteração do fluxo sanguíneo e/ou pH urinário (RANG & DALE, 2004). 2.2.2. Interação farmacodinâmica Os efeitos finais são resultados de ações farmacodinâmicas dos fármacos, podendo causar adição ou potencialização em medicamentos com efeitos semelhantes ou o antagonismo, quando seus efeitos são opostos (OGA & BASILE, 1994). 2.2.3. Interações medicamento-alimento Do ponto de vista clínico, as interações entre medicamentos e alimentos são importantes quando houver alteração nos efeitos farmacocinéticos ou farmacológicos dos fármacos levando à diminuição da eficácia terapêutica e/ou aumento de efeitos tóxicos ou quando resultarem em má absorção e utilização incompleta de nutrientes, comprometendo o estado nutricional. O volume, a temperatura, a viscosidade, a pressão osmótica e o caráter ácido/básico dos alimentos alteram o tempo de esvaziamento gastrintestinal e condições de solubilização, consequentemente alterando a absorção de medicamentos. Por outro lado, os fármacos também modificam a motilidade gastrintestinal, pH intraluminal, morfologia celular da mucosa, atividade enzimática, flora bacteriana, alterando a solubilização e absorção de nutrientes (PORTAL EDUCAÇÃO, 2010). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 3. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) 3.1. Conceito A HAS é uma doença em que o paciente apresenta níveis elevados da pressão arterial (PA) e pode ser causada por diversos fatores. Frequentemente está associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, cérebro, rins e vasos sanguíneos) e alterações metabólicas, com aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais como consequência. A HAS possui diversos fatores de risco, como idade, gênero, etnia, excesso de peso, obesidade, ingestão de sal, ingestão de álcool, sedentarismo, fatores socioeconômicos, genética e outros fatores de risco cardiovascular (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010). 3.2. Epidemiologia A HAS é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A prevalência na população urbana adulta brasileira varia de 22,3% a 43,9%. No Brasil, 33% dos óbitos com causas conhecidas são causados por doenças cardiovasculares (CRF, 2010). 3.3. Tratamento Em muitos casos, mudanças nos hábitos de vida não são suficientes para a normalização da PA. O tratamento medicamentoso diminui a mortalidade por acidente vascular encefálico (AVE) e cardiopatia isquêmica (CRF, 2010). A decisão da terapêutica utilizada na hipertensão arterial varia conforme risco cardiovascular do paciente. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Figura 1 – Fluxograma de classificação de risco cardiovascular Fonte: Cadernos de Atenção Básica: prevenção clínica de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais (2006) Categoria de risco Sem risco adicional Risco adicional baixo Estratégia Tratamento não-medicamentoso isolado Tratamento não-medicamentoso isolado por até seis meses. Se não atingir a meta, associar ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Risco adicional médio Risco adicional alto Risco adicional muito alto Dezembro/2013 tratamento medicamentoso Tratamento não-medicamentoso + tratamento medicamentoso Tratamento não-medicamentoso + tratamento medicamentoso Tratamento não-medicamentoso + tratamento medicamentoso Tabela 1 – Decisão terapêutica da hipertensão arterial segundo risco cardiovascular Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) Existem medicamentos de diferentes classes farmacológicas que, através de diferentes mecanismos de ação, contribuem para redução da PA e dos riscos associados à HÁ (CRF, 2010). Em 2/3 dos casos, a monoterapia não é suficiente para atingir as metas de PA. (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010), dessa forma, a terapêutica combinada é mandatória para se obter efeito sinérgico e/ou aditivo, aumentando as chances de sucesso no tratamento (CAMPANA, 2009). A associação de dois medicamentos antihipertensivos, ocorre em 66% das prescrições. Os tratamentos com três ou mais medicamentos correspondem a 34%, sendo observadas variações de prescrições (VERONEZ, 2008). Além disso, frequentemente, o paciente hipertenso muitas vezes faz uso de outros medicamentos de uso contínuo para patologias associadas e/ou para complicações do quadro hipertensivo (MORENO, 2007). 3.4. Tratamento medicamentoso – principais interações 3.4.1. Diuréticos Diuréticos, especialmente tiazídicos e correlatos, têm sido utilizados no tratamento da HAS há mais de 40 anos e permanecem como uma das cinco classes de medicamentos antihipertensivos de primeira linha (BATLOUNI, 2009). Os diuréticos tendem a aumentar a excreção renal de outros fármacos, mas isso é raramente é clinicamente importante (LIMA et. al., 2011). a. Diuréticos tiazídicos Os diuréticos tiazídicos agem preferencialmente na inibição do transporte de sódio e cloro na membrana da parte proximal do túbulo contorcido distal, promovendo redução do volume plasmático e extracelular (PIMENTA, 2008). a.1. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Interação Agonistas β2 (fenoterol, formoterol, Hipocalemia salmeterol, salbutamol, entre outros) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Anfotericina B e corticoides Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) Ginkgo biloba Metenaminas Quinidina Sequestradores de ácido biliar Dezembro/2013 Hipocalemia Reduz eficácia dos diuréticos tiazídicos Hipotensão arterial devido as suas propriedades vasodilatadoras Reduz eficácia dos diuréticos tiazídicos pois alcaliniza a urina Risco de morte: ocorre indução de taquicardia ventricular, que pode evoluir para uma fibrilação ventricular fatal Reduz eficácia dos diuréticos tiazídicos devido a redução de sua absorção Tabela 2 – Principais interações dos diuréticos tiazídicos Fonte: CRF, 2010 b. Diuréticos de alça São os mais poderosos dos diuréticos. Sua ação é no segmento espesso da alça ascendente de Henle. Promovem de 15-25% da eliminação de sódio do filtrado devido a inibição do transporte de cloreto de sódio (NaCl) para fora do túbulo e para o interior do tecido intersticial ao inibir o carreador de Na+/K+/2Cl- na membrana luminal (RANG & DALE, 2004). b.1. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Agonistas β2 AINEs Diurético de alça Interação Não especificado Não especificado Aminoglicosídeos Anfotericina B Não especificado Não especificado Anticoagulantes Não especificado Ciclosporina Não especificado Cisplatina Não especificado Hipocalemia Reduz eficácia dos diuréticos de alça. Pacientes com insuficiência cardíaca e cirróticos com ascite podem aumentar risco aumentado de interação Sinergismo da ototoxicidade Nefrotoxicidade e intensificação do desequilíbrio hidroeletrolítico Aumento da ação dos anticoagulantes Nefrotoxicidade e intensificação do desequilíbrio hidroeletrolítico Risco aumentado de ototoxicidade ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Digoxina Furosemida Diuréticos tiazídicos Não especificado Fenitoína Não especificado Propranolol Não especificado Sulfonilureias Não especificado Dezembro/2013 Arritmia devido à intoxicação digitálica Sinergismo da ação diurética causando diurese profunda Reduz eficácia dos diuréticos de alça Aumento dos níveis plasmáticos de propranolol, causando consequente hipotensão Hiperglicemia Tabela 3 – Principais interações dos diuréticos de alça Fonte: CRF, 2010; GOODMAN & GILMAN, 2005, LIMA et al., 2011 c. Diuréticos poupadores de potássio Interferem na troca de sódio e potássio no túbulo contorcido distal do rim. A espironolactona atua como um antagonista de aldosterona, que promove a retenção de sódio e água. Dessa forma, ocorre o aumento do volume urinário (COLLARD & JOHNSON, 2001). c.1. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa AINEs Diuréticos tiazídicos Diuréticos poupadores Interação de potássio Não especificado Hipercalemia Não especificado Efeito benéfico: hipocalemia Medicamentos que contém Não especificado Hipercalemia potássio (acetato de potássio, bicarbonato de potássio, citrato de potássio, cloreto de potássio, fosfato de potássio, entre outros) Salicilatos Espironolactona Reduz eficácia espironolactona Reduz da Tabela 4 – Principais interações dos diuréticos poupadores de potássio Fonte: CRF, 2010 3.4.2. Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) Os IECA regulam o balanço entre as propriedades vasodilatadoras e natriuréticas da bradicinina e as propriedades vasoconstritoras e de retenção de sal da Angiotensina II pela redução da formação de Angiotensina II e degradação de bradicinina (BROWN & VAUGHAN, 1998). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa AINEs Alopurinol IECA Interação Não especificado Não especificado Antiácidos Não especificado Azatiopina BCC Enalapril Não especificado Capsaicina Clomipramina Não especificado Enalapril Clorpromazina Digoxina Captopril Captopril Reduz efeito anti-hipertensivo Reações cutâneas graves com febre e artralgia (eritema multiforme, necrólise epidérmica tóxica e síndrome de Stevens-Johnson) Diminui biodisponibilidade dos IECAs. Reduz absorção do captopril em até 45% (para evitar deve-se aumentar o intervalo de administração entre os medicamento para no mínimo 2 horas) Mielosupressão Aumenta efeito antihipertensivo Agravamento da tosse Toxicidade por clomipramina: confusão, insônia e irritabiliade Hipotensão severa e síncope Leva aos níveis tóxicos de digoxina devidos à inibição do clearance da digoxina Hipotensão severa Hipercalemia Diuréticos Diuréticos potássio e potássio Furosemida poupadores suplementos Não especificado de Não especificado de Captopril Lítio Captopril, lisinopril Metformina Rifampicina Trimetoprima Vanlafaxina Enalapril Enalapril Enalapril Captopril Perda excessiva de sódio e potássio enalapril, Aumento dos níveis séricos de lítio, podendo levar à intoxicação (caracterizado por distúrbios hidroeletrolíticos e sinais neurológicos) Acidose lática hipercalêmica Reduz eficácia do enalapril Hiperpotassemia Aumento da pressão arterial Tabela 5 – Principais interações dos IECAs ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Fonte: CRF, 2010; CORDAS & BARRETO, 1998; LIMA et al., 2011 3.4.3. Bloqueadores do Receptor AT1 da Angiotensina II (BRA) Os BRAs bloqueiam o receptor AT1 da angiotensina II. Esse receptor media as principais ações da Angiotensina II, que são relevantes na fisiopatologia e na manutenção da hipertensão arterial (RIBEIRO, 2007; RIBEIRO & FLORÊNCIO, 2000). a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Interação AINEs, incluindo inibidores seletivos da Reduz efeito anti-hipertensivo. Aumento da COX-2 deterioração da função renal incluindo possível insuficiência renal aguda em pacientes com função renal comprometida Diuréticos poupadores de potássio Hipercalemia Lítio Reduz excreção de lítio Tabela 6 – Principais interações dos BRAs Fonte: CRF, 2010 3.4.4. Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCC) Os BCC bloqueiam a entrada de cálcio causada por despolarização nos tecidos, principalmente músculo cardíaco e músculo liso, promovendo efeito vasodilatador (RANG & DALE, 2004). a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Ácido acetilsalicílico BCC Interação Verapamil Aumento do efeito antiplaquetário do ácido acetilsalicílico Aminofilina Verapamil Diminui catabolização hepática da aminofilina, podendo atingir níveis tóxicos Amiodarona Nifedipino Bradicardia, bloqueio atrioventricular e/ou parada cardíaca Barbitúricos Diltiazem, nifedipina e Diminui biodisponibilidade dos verapamil BCCs Cálcio, fenitoína, carbamazepina, Anlodipino Diminuem o efeito do fenobarbital, rifampicina, anlodipino nevirapina ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Carbamazepina Dezembro/2013 Diltiazem Ciclosporina Cimetidina Digoxina Eritromicina Estrógenos conjugados Fenitoína Lítio Rifampicina Betabloqueadores adrenérgicos Inibe catabolização do anticonvulsivante Não especificado Aumento sérico de ciclosporina, podendo atingir níveis tóxicos Nifedipino e diltiazem Aumenta concentrações séricas do nifedipino e diltiazem Não especificado Intoxicação digitálica Felodipina Rubor e calor facial devido à inibição do catabolismo dos BCCs Nifedipina Aumento da pressão arterial Nifedipina Aumento da biodisponibilidade da fenitoína Não especificado Aumento sérico de lítio, causando psicoses e rigidez corpórea Verapamil ou Inativação da ação dos BCCs diltiazem por catabolismo acelerado Verapamil Aumentam o efeito antihipertensivo do verapamil Tabela 7 – Principais interações dos BCCs Fonte: CORDAS & BARRETO, 1998; CRF, 2010; MORENO et al., 2007 3.4.5. Betabloqueadores Os antagonistas dos receptores beta adrenérgicos atuam no sistema cardiovascular e no músculo liso brônquico (RANG & DALE, 2004). Diminuem o efluxo simpático por antagonizar a ação das catecolaminas nos receptores beta no sistema nervoso central e na periferia (TAVARES & PLAVNIK, 1998). a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Agentes hipoglicemiantes Betabloqueadores Interação Propranolol Agonistas β2 adrenérgicos Atenolol Alcalóides do ergot Não especificado Aminofilina Não especificado Mascara sinais de hipoglicemia Antagonismo farmacológico: reduz efeitos dos dois fármacos Isquemia periférica e intensificação da enxaqueca (efeito paradoxal) Inibição mútua dos efeitos terapêuticos ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Amiodarona Atenolol Antiácidos Propranolol e atenolol Antiácidos, carbamazepina agonistas β2 adrenérgicos Antidepressivos e Propranolol Propranolol BCC Propranolol Cimetidina e ranitidina Não especificado Citalopram, escitalopram, Metoprolol bupropiona, terbinafina, hidroxicloroquina, difenidramina, tioridazina, celecoxibe, clorpromazina, delavirdina, fluoxetina, paroxetina, hidralazina, propafenona, quinidina, ciprofloxacino, cimetidina, diltiazem, fenelzina, fluvoxamina, flunarizina, epinefrina, IECA, verapamil, propoxifeno, quinidina, miconazol, ritonavir, fentanila, amiodarona e tiamazol Clonidina Atenolol Clorpromazina Diazepam Propranolol Propranolol Digoxina Atenolol Dezembro/2013 Hipotensão, taquicardia ou parada cardíaca Reduz absorção intestinal dos betabloqueadores (redução de 60% da biodisponibilidade) Reduzem efeito antihipertensivo Diminuem efeitos inotrópicos e cronotrópicos negativos do propranolol Distúrbios da condução cardíaca, depressão miocárdica, bloqueios atrioventriculares, bradicardia, hipotensão, insuficiência cardíaca e morte Aumentas o efeito dos betabloqueadores Metoprolol aumenta o efeito desses medicamentos (toxicidade) Crise hipertensiva na suspensão da clonidina (efeito antiadrenérgico) Hipotensão Aumento dos níveis plasmáticos do diazepam Bloqueio atrioventricular e toxicidade pela digoxina Metoprolol aumenta o efeito desses medicamentos Digoxina, verapamil, diltiazem, Metoprolol epinefrina, fenilefrina, etanol, disopiramida, teofilina Fenobarbital e rifampicina Propranolol e metoprolol Induzem citocromo P450 o ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Fenotiazina Atenolol Fentanila Fluoxetina Atenolol Não especificado Haloperidol Propranolol Hipoglicemiantes Atenolol IECA, diuréticos tiazídicos bloqueadores α1 adrenérgicos Indometacina e AINEs e Propranolol Insulina ou antidiabéticos orais Metoprolol Lidocaína Propranolol Metildopa Atenolol Propranolol Rifampicina, fenobarbital, AINEs, Metoprolol agonistas β2 adrenérgicos, sais de alumínio, barbitúricos, sais de cálcio, colestiramina, ampicilina e sulfimpirazona Rifampicina Não especificado Salbutamol Não especificado Sulfoniluréias Metoprolol Tiamazol Varfarina Atenolol Propranolol Varfarina Atenolol Dezembro/2013 que leva a diminuição da dose efetiva de propranolol e metoprolol Hipotensão e toxicidade pela fenotiazina Hipotensão grave Aumento da biodisponibilidade dos betabloqueadores Aumento do efeito antihipertensivo Mascara sinais de hipoglicemia Aumento do efeito antihipertensivo Reduz efeito antihipertensivo Mascara sinais de hipoglicemia Diminui metabolismo da lidocaína Resposta hipertensiva exagerada e arritmia Metoprolol reduz efeitos desses medicamentos Reduz concentração plasmática dos betabloqueadores Inibição mútua dos feitos terapêuticos Diminui efeito das sulfoniluréias Reduz depuração do atenolol Alteração da biodisponibilidade da varfarina Aumento do tempo de protombina e INR (Internacional Normalized Ratio) Tabela 8 – Principais interações dos betabloqueadores ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Fonte: CORDAS & BARRETO, 1998; CRF, 2010; LIMA et al., 2011; SANTOS, et al., 2012 3.4.6. Bloqueadores de ação central Os bloqueadores de ação central inibem o efluxo simpático nos centros vasomotores cerebrais, principalmente por impedir a liberação de norepinefrina nas sinapses nervosas. Reduzem a resistência periférica vascular, causando redução da pressão arterial, e podem alterar a frequência e o débito cardíacos (TAVARES & PLAVNIK, 1998). a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa Antidepressivos tricíclicos fenotiazinas Antidiabético oral Ferro Bloqueador de ação Interação central e Metildopa e clonidina Reduzem efeito antihipertensivo Metildopa Risco de hipoglicemia Metildopa Reduz efeito antihipertensivo devido a redução da absorção a metildopa Inibidores da monoaminoxidase Metildopa Crise hipertensiva e (MAO) e pseudoefedrina alucinações Tabela 9 – Principais interações dos bloqueadores de ação central Fonte: CRF, 2010; MORENO et al., 2007 3.4.7. Vasodilatadores de ação direta Os vasodilatadores diretos atuam na musculatura lisa vascular, promovendo relaxamento e consequente redução da resistência vascular periférica (CAMPANA, et al., 2009). a. Principais interações Medicamento/classe medicamentosa AINEs, anti-inflamatórios esteroidais e contraceptivos orais Diuréticos Metoprolol e propranolol Propranolol e inibidores da MAO Vasodilatador de ação Interação direta Hidralazina Reduzem efeito hipertensivo Diazóxido Efeito hiperuricêmico e hipertensivo aumentado Não especificado Risco de toxicidade betabloqueadores Hidralazina Aumento do efeito hipertensivo antiantidos anti- ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013 Principais interações medicamentosas em pacientes hipertesos Dezembro/2013 Tabela 10 – Principais interações dos vasodilatadores de ação central Fonte: CAMPANA, et al., 2009; CRF, 2010 4. Conclusão A partir desse estudo observa-se que um número elevado de prescrições contém interação medicamentosa. Foi identificado que 49,7% das prescrições avaliadas continham interações medicamentosas, sendo classificadas como leve (3,1%), moderada (23,6%) e grave (5,0%) e que apenas 41,8% dos pacientes são orientados com relação às interações de medicamentos. O objetivo principal de avaliar os tratamentos medicamentosos mais utilizados em pacientes hipertensos e suas principais interações medicamentosas foi alcançado ao se observar as interações para cada classe de medicamentos anti-hipertensivos. Como limitação ao presente estudo aponta-se a necessidade de entender o motivo das interações medicamentosas em uma mesma prescrição e o porquê da falta de orientação, assim como pesquisar as principais interações de outras doenças crônicas. Dessa forma, como sugestão para um posterior estudo complementar é fazer o levantamento das principais interações medicamentosas em paciente com diabetes, depressão doença de Parkinson e doença de Alzheimer. Além disso, pode-se pesquisar a incidência de pacientes que fazem uso de medicamentos livres de prescrição, uma vez que estes raramente possuem o acompanhamento de um profissional da saúde e em diversos casos não é mencionado ao médico prescritor. 5. Referências ARRAIS, P.S.D.; BARRETO, M.L.; COELHO, H.L. Aspectos dos processos de precrição e dispensação de medicamentos na percepção do paciente: estudo de base populacional em Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad.Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n.4, p.927-937, 2007. BATLOUNI, M. Diuréticos. Rev. Bras. Hipertens. V. 16, n. 4, p. 211 – 214, 2009. BRASIL, Ministério da Saúde. 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