Ver PDF - Revista Panamericana de Infectología

Propaganda
Rev Panam Infectol 2014;16(1):5-6
EDITORIAL / EDITORIAL
Alterações osteoarticulares em pessoas
convivendo com HIV/AIDS
Osteoarticular disorders in people living with HIV/AIDS
Ana Lucia L. M. Lima1
Priscila R. Oliveira2
Vladimir C. Carvalho3
Rev Panam Infectol 2014;16(1):5-6
Recebido em 20/2/2014
Aprovado em 7/4/2014
Médica Infectologista. Chefe do Serviço
de Infecção do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas
HC-FMUSP, São Paulo, SP. Professora
Colaboradora do Departamento de Ortopedia
e Traumatologia da Faculdade de Medicina da
USP (FMUSP), São Paulo, SP. Coordenadora
do Comité de Infecciones Ortopédicas da
Associación Panamericana de Infectología
(API), São Paulo, SP, Brasil.
2
Médica Infectologista. Mestre em Ciências pela
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), São
Paulo, SP. Médica Assistente do Departamento
de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das
Clínicas HC-FMUSP, São Paulo, SP, Brasil.
3
Médico Infectologista. Doutor em ciências pela
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), São
Paulo, SP. Médico Assistente do Departamento
de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das
Clínicas HC-FMUSP, São Paulo, SP, Brasil.
1
D
esde o início da década de 1980, a pandemia da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) assola o mundo com conseqüências devastadoras para muitas regiões, gerando um impacto social sem precedentes. Nos primeiros anos de observação da
AIDS, os pacientes apresentavam-se aos serviços de saúde já muito
doentes, com a imunidade extremamente reduzida, o que acarretava
uma gama de infecções e tumores oportunistas que culminavam no
êxito letal rapidamente.
Com o passar dos anos, o conhecimento da Síndrome e especialmente do agente causador, o Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV), possibilitou uma melhora na abordagem diagnóstica e terapêutica das infecções e tumores oportunistas e conseqüentemente
melhora na sobrevida dos pacientes acometidos pela AIDS, mas,
efetivamente, o tratamento da agressão do sistema imune pelo HIV
é que possibilitou uma mudança radical no panorama da pandemia.
Objetivamente, a partir de 1996 o conceito da utilização de associações de drogas antirretrovirais (alta potência) para o tratamento
dos pacientes portadores de HIV e AIDS fizeram com que houvesse
profunda mudança na sobrevida dos pacientes e na qualidade de
suas vidas.
Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil foram notificados 608.230 casos de AIDS de 1980 a junho de 2011, com
prevalência de 0,61%. O índice de mortalidade é estimado em 6,4
para 100.000 habitantes ou 6,4X105 (1).
O Brasil rapidamente entendeu a necessidade de garantir o
acesso dos pacientes aos medicamentos antirretrovirais para que
houvesse essa mudança de perfil da pandemia, para reduzir a gravidade dos casos gerando menor número de internações e de pessoas socialmente inativas, bem como para interferir na cadeia de
transmissão por diminuir a circulação do HIV. Desde 1983 existiu
uma participação muito ativa do governo brasileiro e da sociedade
civil nessa problemática. Fazendo valer a Constituição de 1988, que
5
Campos
XLetetalal••Alterações
Factores deosteoarticulares
riesgo de infecciones
respiratorias
altascom
recurrentes
en menores de 5 años
Lima
ALM
em pessoas
convivendo
HIV/AIDS
garante o acesso a tratamento a todos os cidadãos, o
governo brasileiro possibilitou a distribuição gratuita
dos medicamentos aos pacientes, com força da Lei
9313 de 1996, programa executado pelo Ministério
da Saúde, conhecido e elogiado em todo o Mundo.
Essa terapêutica é distribuída em todo território nacional segundo prescrição baseada em critérios clínicos
e laboratoriais descritas no Consenso de Tratamento
Antirretroviral para AIDS, documento produzido pelo
Ministério da Saúde em parceria com especialistas da
área de todo o país. Segundo dados do Ministério da
Saúde, ao final de 2011, aproximadamente 200.000
pacientes recebiam medicação antirretroviral fornecida pelo programa nacional(1).
Esta iniciativa impactou fortemente a mortalidade por essa causa em nosso país como demonstram
os dados a seguir, também provenientes do Boletim
Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2011. De
1980 a 2010, no Brasil, ocorreram 241.469 óbitos
por AIDS. Em 2010 ocorreram 11.965 óbitos, com
coeficiente bruto de mortalidade de 6,3/100.000 habitantes. Considerando o coeficiente de mortalidade
padronizado (População brasileira de 2000, IBGE),
nos últimos 10 anos observa-se redução de 11,1% na
mortalidade por AIDS no Brasil(1).
Com o aumento considerável da expectativa de vida
dos pacientes infectados pelo HIV na era do tratamento antirretroviral de alta potência, têm sido observadas
algumas conseqüências do prolongado tempo de infecção viral e deste tratamento. As conseqüências metabólicas ocorrendo neste contexto têm sido exploradas
em várias publicações na literatura, principalmente no
que diz respeito à síndrome lipodistrófica. Atualmente,
a observação crescente de alterações osteoarticulares
nesses pacientes é objeto de estudo mais detalhado no
intuito da detecção de suas eventuais causas e abordagem terapêutica mais adequada(2-5).
Dentre as complexas alterações metabólicas da
infecção crônica pelo HIV e seu tratamento, se observa diminuição da mineralização óssea numa grande
porcentagem dos doentes, resultante de vários fatores
presentes no próprio hospedeiro, no vírus e nos antirretrovirais. O osso é constantemente remodelado pelo
sincronismo entre sua formação e reabsorção, que
pode ser desregulado durante a infecção pelo HIV.
Quando a mineralização óssea diminui, a osteopenia
ocorre, podendo resultar em osteoporose(2).
As alterações osteoarticulares mais freqüentemente relatadas na literatura como relacionadas aos
pacientes infectados pelo HIV por longo período e
que utilizam tratamento antirretroviral de alta potência são a osteopenia/osteoporose, osteonecrose,
síndrome do túnel do carpo e capsulite adesiva de
ombros(2,6-7).
6
É necessário esclarecer as alterações mais comumente encontradas e alertar os profissionais que atendem os pacientes HIV/AIDS para que identifiquem as
manifestações o mais precocemente possível.
REFERÊNCIAS
1. Boletim Epidemiológico - AIDS e DST. Ano VIII - nº 1 27ª a 52ª - semanas epidemiológicas - julho a dezembro
de 2010, Ano VIII - nº 1 - 1ª a 26ª - semanas epidemiológicas - janeiro a junho de 2011. Ministério da Saúde
- Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de
DST, AIDS e Hepatites Virais, 2012.
2. Lima AL, Zumiotti AV, Camanho GL, Benegas E, dos Santos AL, D’Elia CO, Oliveira PR. Osteoarticular complications related to HIV infection and highly active antiretroviral therapy. Braz J Infect Dis. 2007;11:426-9.
3. Mondy K, Tebas P. Emerging bone problems in patients
infected with human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 2003; 36(Suppl 2): S101-5.
4. Jain RG, Furfine ES, Pedneault L, White AJ, Lenhard JM.
Metabolic complications associated with antiretroviral
therapy. Antiviral Res 2001; 51(3):151-77.
5. McComsey GA, Tebas P, Shane E, Yin MT, Overton ET,
Huang JS, et al. Bone disease in HIV infection: a practical review and recommendations for HIV care providers.
Clin Infect Dis. 2010;51(8):937-46.
6. Mahoney CR, Glesby MJ, DiCarlo EF, Peterson MG,
Bostrom MP. Total hip arthroplasty in patients with human immunodeficiency virus infection. Acta Orthop.
2005; 76(2):198-203.
7. De Ponti A, Vigano MG, Taverna E, Sansone V. Adhesive
capsulitis of the shoulder in human deficiency víruspositive patients during highly active antiretroviral therapy. J Shoulder Elbow Surg. 2006; 15(2): 188-90.
Correspondência
Ana Lucia L. M. Lima
Serviço de Infecção do Instituto de Ortopedia e
Tramatologia (IOT) do Hospital da Clínicas HC-FMUSP.
São Paulo, SP, Brasil.
E-mail: [email protected]
Download