COLÉGIO PESSOA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA Professor Dr. Alvaro Maia (UnB e UNESP) - e textos selecionados e adaptados de Marilena Chauí e Renato Jeanine Ribeiro (USP) UNIDADE I – A SOCIOLOGIA E SEUS TEMAS >>> CONCEITUAÇÃO A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo. O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo "objeto" de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e científico, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. Na Revolução Francesa, encontram-se filósofos que desejam transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição de um estudo científico da sociedade. Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma "física social", criada por Comte, discípulo de Saint-Simon, "pais da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipá-la como disciplina científica. Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como "objeto de estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Comte e Émile Durkheim. >>> TRABALHO E SOCIEDADE O TRABALHO NA HISTÓRIA Nas sociedades tribais, o trabalho era uma forma de a tribo sobreviver através da caça, da pesca e da coleta. Também o trabalho tinha por finalidade os ritos e mitos da tribo. Outra característica era a divisão do trabalho por sexo; além disso, o curto período de trabalho era completado por longos períodos de lazer e convivência. A sociedade greco-romana dividiu o trabalho em três categorias: labor, poiesis e práxis. O labor era um trabalho dedicado à produção de alimentos para a sobrevivência do corpo. A poiesis era o trabalho do artesão e do escultor, seja para a fabricação de ferramentas, seja para o mero fim estético. A práxis se entendia como atividade política (do cidadão da polis). Na práxis a palavra e o discurso eram ferramentas de trabalho para encontrar soluções a fim de proporcionar o bem estar dos cidadãos Na sociedade feudal, época em que a maioria das pessoas se encontrava no campesinato, havia arrendamento de terras onde o camponês trabalhava para si e para o dono do feudo (extensão de terra). O servo camponês também era obrigado a pagar altos impostos ao senhor feudal pelo uso da terra, além de pagar imposto ao Estado e à Igreja. Com crescimento dos burgos (cidades), os artesãos ganham importância e começam a se organizar, comprando e adaptando ferramentas de forma a constituírem pequenas indústrias, destinadas a produzir suas peças em maior quantidade. Muitos artesãos se organizam e passam a produzir em conjunto, formando as corporações de ofício, embrião do segmento industrial futuro. Com a chegada das grandes navegações, no Mercantilismo, a falência do modelo feudal, e a crescente mecanização dessas indústrias nas cidades, surgiu uma classe que começou a contratar o trabalho dos artesãos e até dos camponeses para dar conta da produção. O artesão é separado de suas ferramentas de trabalho, deixa definitivamente sua oficina particular, para tornar-se assalariado, com sua força de trabalho transformando-se em uma mercadoria. O trabalhador, aqui, deixa de ser o dono do produto final e passa ser mero instrumento de produção, cujo resultado final é alheio a ele, não lhe pertence. Com a evolução do capitalismo, os sistemas de produção foram sendo aperfeiçoados e o trabalhador precisou se especializar em uma determinada função no todo da produção, havendo assim a divisão do trabalho. Com Frederick Taylor (1865-1915) surgiria, então, uma racionalização do processo produtivo. Essa era passou a ser chamada de fordismo-taylorismo, pois Henry Ford, desde 1914, implantou este modelo na sua fábrica de automóveis. Com a crise do petróleo em 1973, e com o anseio de valorizar o capital, o capitalismo pensa novas formas de elevar a produtividade e os lucros. A partir de 1970, desenvolve-se o que seria chamado de pós-fordismo ou acumulação flexível, com características como a automação da indústria (eliminação do controle manual), flexibilização dos mercados de trabalho como trabalho doméstico, autônomo, trabalho temporário, por hora ou por subcontratação; além disso, os produtos começam a ser pensados para diminuir o seu tempo de uso, tornando-os facilmente descartáveis, aumentando assim o consumo. Um problema, hoje, para a questão do trabalho é o desemprego, bem como o excesso de produção em detrimento do pequeno mercado de consumo ou de poder aquisitivo. Eis algumas das tarefas a solucionar! >>> DEMOCRACIA, ESTADO E PODER No estudo das sociedades clássicas costumamos destacar especialmente o incisivo papel em que as práticas e instituições nascidas no mundo grego influenciaram a formação do mundo contemporâneo. Entre as várias instituições consolidadas no mundo grego, a noção de democracia é uma das que mais despertam nosso interesse na busca por paralelos que aproximem o mundo antigo do contemporâneo. A história da democracia ateniense pode ser compreendida à luz de uma série de transformações sofridas pela sociedade e economia ateniense. Até os séculos VII e VI, o poder político ateniense era controlado por uma elite aristocrática detentora das terras férteis de Atenas: os eupátridas ou “bem nascidos”. Nesse meio tempo, uma nascente poderosa classe de comerciantes, os demiurgos, exigia participação nos processos decisórios da vida política ateniense. Além disso, pequenos comerciantes e proprietários acometidos pela escravidão por dívidas, exigiam a revisão do poder político ateniense. Com isso, os eupátridas viram-se obrigados a reformular as instituições políticas da cidade-Estado. Em resposta, as elites agrárias atenienses rivalizaram com esse primeiro conjunto de mudanças. A agitação política do período deu margem para que ações golpistas abrissem espaço para a ascensão dos governos tirânicos. Os principais tiranos foram Psístrato, Hiparco e Hípias. No fim do século VI a.C. a retração dos direitos políticos mais amplos incentivou uma mobilização popular que levou à ascensão política de Clístenes, em 510 a.C.. Em seu governo, os atenienses passavam a ser divididos em dez tribos que escolhiam seus principais representantes políticos. Todo ateniense tinha por direito filiar-se a uma determinada tribo na qual ele participaria na escolha de seus representantes políticos no governo central. Dessa maneira, o grau de participação entre os menos e mais abastados sofreu um perceptível processo equalização. Outra ação importante, a medida de Clístenes foi a adoção do ostracismo. Por meio desta, todo e qualquer indivíduo considerado uma ameaça ao governo democrático seria banido por dez anos. Apesar de seu isolamento, o punido ainda teria direito de posse sobre suas terras e bens. De forma geral, esse foi um importante dispositivo que impedia o surgimento de novos tiranos em Atenas. Aparentemente, podemos concluir que Clístenes foi o reformador capaz de estabilizar o regime democrático ateniense. Alem disso, ficamos com a ligeira impressão de que a igualdade entre os cidadãos de Atenas fora realmente alcançada. Porém, o conceito de cidadania dos atenienses não englobava, de fato, a maioria da população. Somente os homens livres, de pai e mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade eram considerados cidadãos. As mulheres, escravos e estrangeiros não desfrutavam de nenhum tipo de participação política. Dessa forma, a democracia ateniense era excludente na medida em que somente um décimo da população participava do mundo político ateniense. A REPUBLICA REPRESENTATIVA - ROMA No fim do século VI a.C., os romanos estabeleceram uma profunda transformação em suas instituições políticas. Na época, o rei Tarquínio, o Soberbo, foi deposto por meio de uma revolta protagonizada pelos membros da classe patrícia. As sessões do Senado eram sempre convocadas por um magistrado que organizava os trabalhos e pautas a serem discutidas naquela ocasião. A cada ano, a Assembleia Curiata, formada somente por patrícios adultos, escolhia dois cônsules. Sendo o mais importante cargo das magistraturas, os cônsules tinham como funções primordiais a organização dos cultos públicos, o comando dos exércitos e a convocação do Senado. Em tempos de instabilidade, poderiam indicar um ditador que teria poder absoluto por seis meses. Em um primeiro momento, observamos que a maioria dos cargos públicos e postos políticos era controlada por indivíduos provenientes da classe patrícia. Contudo, os conflitos sociais que se desenvolveram em Roma transformaram o quadro político romano. Progressivamente, membros da classe militar e os plebeus também puderam ocupar cargos de magistratura e votar leis de seu interesse ao criarem, por exemplo, a representação pelos tribunos da plebe. A GÊNESE DEMOCRÁTICA A palavra democracia vem do grego (demos, povo; kratos, poder) e significa poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo. Pode estar no governo uma só pessoa, ou um grupo, e ainda tratar-se de uma democracia – desde que o poder seja do povo. O fundamental é que o povo escolha o indivíduo ou grupo que governa, e que controle como ele governa. O grande exemplo de democracia, no mundo antigo, é Atenas, especialmente no século V antes de Cristo. A Grécia não era um país unificado, e portanto Atenas não era sua capital, o que se tornou no século XIX. O mundo grego, ou helênico, se compunha de cidades independentes. Inicialmente eram governadas por reis: assim lemos em Homero. Mas com o tempo ocorre uma mudança significativa. O poder, que ficava dentro dos palácios, oculto aos súditos, passa à praça pública, vai para tó mésson, "o meio", o centro da aglomeração urbana. Adquire transparência, visibilidade. Assim começa a democracia: o poder, de misterioso, se torna público, como mostra Vernant. Em Atenas se concentra esse novo modo de praticar – e pensar – o poder. Os gregos distinguiam três regimes políticos: monarquia, aristocracia e democracia. A diferença é o número de pessoas exercendo o poder – um, alguns ou muitos. Monarquia é o poder (no caso, arquia) de um só (mono). Aristocracia é o poder dos melhores, os aristoi, excelentes. São quem tem aretê, a excelência do herói. Assim, a democracia não se distingue apenas do poder de um só, mas também do poder dos melhores, que se destacam por sua qualidade. A democracia é o regime do povo comum, em que todos são iguais. Não é porque um se mostrou mais corajoso na guerra, mais capaz na ciência ou na arte, que terá direito a mandar nos outros. As festas Mas o que esses cidadãos mais decidem? A sociedade grega não conhece a complexidade da economia moderna. Os cidadãos tratam da guerra e da paz, de assuntos políticos, mas parte razoável das discussões parece girar em torno da religião e das festas, também religiosas. Imaginemos o que é uma pólis grega. Uma assembleia a cada nove dias, sim, mas não para tratar de assuntos como os de grêmio estudantil (que é o órgão moderno mais próximo de sua militância). E sim, com alguma frequência, para discutir festas e dividir as tarefas nelas. Não é fora de propósito imaginar que o Rio de Janeiro, Salvador, o Recife e Olinda dariam excelentes cidades-Estado, se decidissem adotar a democracia direta. Fariam constantes festas ao deus Dionísio (o Baco dos romanos), e à volta disso organizariam a vida social. E é bom pensar numa comparação nada acadêmica como esta, porque a tendência dominante, falando da democracia grega, é acentuar sua seriedade – como se fosse um regime feito para tratar das mesmas questões que nos ocupam. Não é o caso. A política era provavelmente mais divertida, até porque era bem próxima da vida cotidiana. E poucos foram aqueles, como Platão e outros críticos da democracia, que questionaram a competência do povo simples para tomar as decisões políticas, alegando que para governar seria preciso ter ciência. Ora, um princípio da democracia grega – e de todo espírito democrático – é que, se há ofícios em que o fundamental é a capacitação técnica, a cidadania não está entre eles. Aqui, na decisão do bem comum, na aplicação dos valores, todos são iguais – não há filósofo-rei ou tecnocrata. O SOCIAL E O DESEJO Muito do que se leu até aqui pode ser encontrado em qualquer manual decente sobre a democracia. Mas compliquemos as coisas com matéria nova. Pode-se formular esta matéria em forma de teses. A primeira tese é: o avanço da democracia moderna (ou do caráter democrático da política moderna) é provocado pelos direitos, não pela representação. A representação é importante, mas ela é o aporte negativo da modernidade à democracia. É o que faz a urna ser menos democrática que a praça ateniense. Já com os direitos, a coisa é diferente. Eles são o motor das reivindicações. Através deles se exprime a pressão popular sobre o poder. O social nasce do desejo Vimos que o caráter democrático da política moderna depende dos direitos, mais que da representação; que esses direitos são de teor cada vez mais social; que na Grécia o político e o social estavam próximos ou unidos. Falta acrescentar que esses direitos remetem a algo que chamaremos de desejo. Quando os críticos gregos da democracia alertam para o perigo de que o povo pobre confisque os bens dos ricos, esse perigo é análogo ao que existe na tirania ou na oligarquia. Para Aristóteles, há três regimes puros e três deformações dos mesmos. São puros a monarquia, a aristocracia e um regime que ele chama de politeia, palavra que quer dizer constituição. São suas deformações – respectivamente – a tirania, a oligarquia e o regime que ele chama de demokratia. Nos regimes puros, o poder é exercido dentro da lei. Nas deformações, exerce-se o poder pelo capricho, pelas paixões, pela desmedida. Por isso não há grande diferença entre tirania, oligarquia e "demokratia". Nas três, quem tem o poder é movido por um desejo desgovernado. Confiscar os bens dos ricos é tão errado quanto o tirano oprimir os pobres, ou os oligarcas usarem da lei a seu arbítrio. A quarta tese será que a democracia é o regime do desejo. Ela assim é vista por seus críticos, mas também por parte de seus defensores. O desejo é a matéria-prima dos direitos. Seria errado imaginar que estes surjam de um céu límpido e esplêndido. Eles nascem do desejo. NO BRASIL Pode-se dizer que no Brasil há um partido de convicção democrática, que é o PT, e outro, de discurso republicano, que é o PSDB. Não se quer com isso desqualificar outros partidos, mas apenas esclarecer as ideias desta introdução e, em especial, mostrar a tensão existente entre democracia e república. O Partido dos Trabalhadores tem, de democrática, a aposta na organização de baixo para cima das massas não apenas carentes, mas desejantes. É bom que ele não assuma integralmente o discurso da carência. Isso porque, se chamo alguém de carente, já digo carente do quê: de tantas proteínas, calorias, vitaminas, de casa, de transporte etc. E assim já indico como ele deve suprir sua carência. Privo-o da liberdade de escolher seu rumo. Isso não é democrático. É positivo, no PT, que ele organize as massas sem pré-determinar como os sem-tudo devam suprir suas carências. Também é positivo que ele, mesmo sem o formular nestes termos, aposte nos desejos das massas, procurando convertê-los em direitos. Afinal, a democracia expressa o desejo de ter, e de ser, mais. Mas, nesse paciente trabalho de organização dos de baixo, nem o PT nem ninguém consegue encontrar o demos, o velho povo único. Sua unidade não existe mais. Toda a política moderna, ao menos a democrática, foi construída em torno da ideia de haver um povo para cada nação ou Estado. Na democracia, o governo representa este povo. E a condição para as revoluções, que deram o tom às democracias nestes duzentos anos, foi que se faziam em nome do povo – tanto as revoluções nacionalistas, que chegaram ao auge de 1950 em diante na África e Ásia, quanto as sociais, que marcaram a Europa da Revolução Francesa até a Russa. O pressuposto era a unidade do povo, mas hoje não há mais como encontrá-la, nem construí-la. Por outro lado, é republicano o cerne do discurso do PSDB, nosso partido que mais insiste na idéia de coisa pública – do espaço que é de todos e, por isso mesmo, não pode ser apropriado por ninguém em particular. O PSDB acusa o PT de ser corporativista, isto é, de defender os interesses e desejos das corporações – ou grupos – em detrimento do bem comum. Mas com o esvaziamento do grande demos a tendência democrática, como sugerimos, é apostar em demos menores, que são o que o PSDB chama de corporações. Eis o problema que opõe nossos dois partidos mais ideológicos: o PT aposta na democracia possível, que é a da organização de baixo para cima, mas para ser consequente teria com isso de abrir mão do grande demos, daquele que desde a Revolução Francesa faz um com a nação e legitima o Estado, ao torná-lo democrático. Evidentemente, isso torna menos legítimas as reivindicações desses sub-povos, que podem entrar – e entram – em conflito até antagônico entre si. Já o PSDB, apostando num espaço comum, numa identidade coletiva, e portanto se filiando a um ideário de cidadania republicana, acaba condenado a condenar a prática democrática que de fato existe. É levemente trágico que os defensores da república, isto é, da participação, venham a atacar a participação que chega a existir. OS TRÊS PODERES A teoria dos três poderes foi consagrada pelo pensador francês Montesquieu. Baseando-se na obra Política, do filósofo Aristóteles, e na obra Segundo Tratado do Governo Civil, publicada por John Locke, Montesquieu escreveu a obra O Espírito das Leis, traçando parâmetros fundamentais da organização política liberal. O filósofo iluminista foi o responsável por explicar, sistematizar e ampliar a divisão dos poderes que fora anteriormente estabelecida por Locke. Montesquieu acreditava também que, para afastar governos absolutistas e evitar a produção de normas tirânicas, seria fundamental estabelecer a autonomia e os limites de cada poder. Criouse, assim, o sistema de freios e contrapesos, o qual consiste na contenção do poder pelo poder, ou seja, cada poder deve ser autônomo e exercer determinada função, porém o exercício desta função deve ser controlado pelos outros poderes. Assim, pode-se dizer que os poderes são independentes, porém harmônicos entre si. Essa divisão clássica está consolidada atualmente pelo artigo 16 da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e é prevista no artigo 2º na nossa Constituição Federal. >>> COMUNICAÇÃO DE MASSA – DISCURSOS E INDÚSTRIA CULTURAL A Modernidade de certa forma marca o fim de uma conquista que se iniciou com a filosofia grega e que fez a humanidade passar do mito à razão, da magia à ciência. Passado algum tempo, na sociedade pós-industrial (a partir de 1970), o pensamento e as artes passaram a uma nova servidão: em vez de ser vinculadas à religião ou à nobreza, começaram a servir ao mercado capitalista e à indústria cultural. Foi uma espécie de retorno aos tempos anteriores a Parmênides e Heráclito. O consumo dos produtos culturais seguem no ritmo da fabricação em série. A arte, de mítica passa a material de consumo rápido e fácil, ditado por uma questão de moda volátil, mera propaganda e publicidade. Ao se massificar (mas sem se democratizar), a arte perde suas três características principais: De expressivas, acabam como reprodutivas e repetitivas; De criação, acabam como evento de consumo rápido e fácil; De experimentação do novo, acabam como consagração do consagrado, sem qualquer inovação. A questão da nova "modalidade" artística passou a ser valorizada pela exposição, pela contemplação. Mas, com os novos patronos da arte - empresas de produção artística -, os interesses são voltados à fruição rápida, o que deixa de lado todo o trabalho individual e exclusivo do artista. Não se preocupa mais em conhecer o artista, mas sim se a arte será aceita pelo mercado. Alguns exemplos de bandas que todos os anos repetem fórmulas consagradas para fazer sucesso de vendas nos carnavais. Como dito anteriormente, a arte não se democratizou. Afinal, a Cultura deixou de ser direito universal para se tornar privilégio de poucos. O que seria teoricamente ampliado a todos pela massificação cultural, na prática, funciona de uma maneira mais perversa: Por separar os bens culturais pelo valor de mercado, uma elite cultural consome o que há de melhor, enquanto o povo recebe algo sem qualidade, massificado, sem identidade. Isto introduz uma divisão social na arte, pobres e ricos em lados opostos; A ilusão de que todos têm acesso à Cultura também é falsa, pois a divulgação cultural pré-seleciona, por horários e por público-alvo, o que cada um pode e deve ouvir, ver e ler; O formato da arte considera que seu receptor será um espectador médio (ou, se preferir, medíocre), com capacidade mental mediana. Entenda médio como o senso comum cristalizado, algo massificado pela aceitação do mercado e que é repassado como novidade (para ser consumido avidamente e logo ser substituído por outra pseudo-novidade); Cultura passa a ser lazer e entretenimento de fácil fruição, e não mais expressão artística e intelectual, o que vulgariza a arte e o conhecimento. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Por outro lado, os meios de comunicação são os responsáveis por dividir a programação em público (e seu respectivo poder aquisitivo) e horários, o que está intimamente ligado aos patrocinadores, que financiam tal programação através do intervalo comercial: ou seja, o conteúdo, a forma e o horário do programa são nada além de uma marca do patrocinador, mera imagem de sua empresa. O vínculo entre a verba oferecida pelos patrocinadores às emissoras de rádio e televisão é tão alto que tudo o que se noticia deve estar de acordo com o que agrada aos financiadores: assim, o direito à informação (que, em teoria, seria independente e imparcial) desaparece, dissipa-se. A desinformação atua por: Falta de referência espacial (o espaço real é substituído pelo virtual, onde São Paulo, China, São Carlos e a Europa parecem igualmente próximos e, ao mesmo tempo, identicamente distantes); Ausência de referência temporal (sem continuidade no tempo, causa ou consequências). A substituição do mundo real por um mundo virtual, composto de retalhos e fragmentos da realidade, sem âncoras no espaço e no tempo. Esta inversão entre realidade e ficção é notável principalmente nas novelas, através de três procedimentos ideologicamente trabalhados: O tempo da narração é lento, dando a ilusão que cada curto capítulo fosse um dia de nossas vidas; As personagens, seus hábitos, linguagem, casas, etc, passam a impressão de um realismo tão grande para que a distância entre o espectador e a novela seja a mínima. Embutido nisso, estão as marcas dos produtos e os modos de vida e de pensar que se divulgam na novela; Assim, a novela passa por relato do real, enquanto o noticiário (que perdeu as referências temporais e espaciais) torna-se irreal. A prova disso são telespectadores que se comovem em demasia com a morte de uma personagem, enquanto um desastre real em algum lugar do mundo (seja na Rússia ou na Vila Pureza) passa por ouvintes inertes e insensíveis ao fato. A realidade dos telejornais é passada como algo distante e irreal, enquanto as novelas emocionam o país como se fossem problemas reais que afetam a todos. Mais um detalhe importante enquanto função da mídia contemporânea na deformação de mentes e intelectos: a dispersão da atenção e a infantilização. A mídia divide a programação em blocos de sete a onze minutos, separados por intervalos comerciais. Essa divisão do tempo condiciona o espectador a concentrar sua atenção durante os sete ou onze minutos e a desconcentrá-la durante a pausa publicitária. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e o exercício do livre pensar foram destruídos. Enquanto isso, a mídia também infantiliza seu público, pois uma atitude declaradamente infantil é não suportar a distância temporal entre seu desejo e a satisfação deste: uma criança chora muito exatamente porque é intolerável para ela a espera para realizar seus desejos. E, assim, a mídia vem com promessas de gratificação instantânea. Cria o desejo ao mesmo tempo que oferece seus produtos (através da publicidade e da programação) para satisfazê-los. Se um canal ou uma estação de rádio não atraem, gira-se o dial, troca-se de canal e logo se tem novamente desejos e produtos para satisfazê-los. Também a programação se volta à modelos já consagrados, ao que já sabe-se e gosta-se, e como temos a Cultura como lazer e entretenimento, a mídia satisfaz exatamente nossos desejos mais primitivos, por não exigir atenção, concentração, crítica ou reflexão. Cultura cobra paciência, reflexão, concentração e espírito crítico, em outras palavras, maturidade. A mídia satisfaz por nada cobrar, a não ser que permaneçamos sempre infantis. No cinema, assim como em toda arte, é possível notar como filmes de qualidade são taxados de chatos e cansativos (por exigir reflexão e maturidade), enquanto as bilheterias de Hollywood fazem fortunas com lazer e entretenimento medíocre. Mais um de seus traços característicos é um Autoritarismo disfarçado, sob falsa aparência de Democracia. Programas de aconselhamento sempre trazem a opinião de um especialista, que ensina como cuidar dos filhos, como criar cabras, como ver um jogo de futebol, um filme, uma foto, como viver e como pensar. Mas, ao tornar o público infantil, esta postura está carregada de intimidação social, pois o espectador, dócil e passivo, não só é ausente de crítica como acaba absorvendo os hábitos "recomendados" sem qualquer reflexão, tornando-se incompetente para viver e agir sem o apoio do especialista da mídia. Perversa. Assim é a mídia, enquanto formadora de opinião de nosso país. UNIDADE II – OS SOCIÓLOGOS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS >>> EMILE DURKHEIM – COESÃO SOCIAL Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a existência de uma sociedade e a coesão social que assegura sua continuidade só se torna possível quando os indivíduos se adaptam ao processo de socialização, ou seja, quando são capazes de assimilar valores, hábitos e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do grupo social a qual pertencem. A consciência coletiva constitui o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria". A consciência coletiva é capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta prevalecentes. A consciência coletiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade e não o contrário. Fatos sociais Em 1895, Durkheim publica o estudo denominado "As Regras do Método Sociológico", onde define o objeto por excelência da sociologia: os fatos sociais. Fato social é tudo o que é coletivo, exterior ao indivíduo e coercitivo. Durkheim demonstra que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Ele atribui três características que caracterizam os fatos sociais: Primeira: coercitividade, que pode ser entendido como a força que exercem sobre os indivíduos obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as regras, normas e valores sociais vigentes; Segunda: exterioridade, que pode ser entendida como a existência de um fenômeno social que atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais; Terceira: generalidade, que pode ser entendida como a manifestação de um fenômeno que permeia toda a sociedade. O suicídio, por exemplo, a primeira vista pode ser encarado como um fenômeno individual, mas a constatação da sua regularidade ao longo do tempo (de acordo com os dados estatísticos) fez com que Durkheim o concebesse como um fenômeno social, mas propriamente um fato social, que é explicado pelo autor como uma crise moral da sociedade. Durkheim elenca três tipos de suicídio: a) o egoísta, em que o suicida considera-se à margem da sociedade, vê a sociedade como inimiga, e que pode trazer concomitantemente o homicídio; b) o altruísta, em que o suicida considera-se muito integrado na sociedade sente-se no dever de matar-se, voluntariamente (facultativo) ou por que esperam isso dele (obrigado); c) anômico, próprio de tempos de crise, em que momentaneamente tudo parece perder sentido, sem regras, sem rumos. >>> MAX WEBER – AÇÃO SOCIAL O Capitalismo não pode utilizar-se do trabalho das vítimas de um indisciplinado livre arbítrio, da mesma forma que não pode utilizar-se do empresário que parece totalmente inescrupuloso nos seus negócios com outros. Aqueles que se submetem a ele sem reserva alguma, como um impulso incontrolável, não são absolutamente os representantes daquele estado de espírito do qual deriva o capitalismo moderno. Em todos os períodos da História, sempre que foi possível, ocorreram brutais aquisições de valores, desligados de qualquer norma ética. Para Weber a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Estas são todo tipo de ação que o indivíduo faz, orientando-se pela ação de outros. Só existe ação social, quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Estes são conceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social: 1 – ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado; 2 – ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais; 3 – racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; 4 – racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. Nos conceitos de ação social e definição de seus diferentes tipos, Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Para ele as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais. Na sua concepção o método deve enfatizar o papel ativo do pesquisador em face da sociedade. O desenvolvimento do capitalismo pode ser melhor compreendido como parte do desenvolvimento do racionalismo como um todo, diante dos problemas da vida. Se considerarmos como "racionalismo prático" este tipo de atitude que julga o mundo em termos de interesses mundanos do ego individual, então esta visão de vida passa a ser peculiar aos povos adeptos do "liberum arbitrium", como os italianos e franceses. Já nos convencemos de que este não foi o terreno no qual a relação do homem com os seus apelos, tão necessária ao capitalismo, tenha crescido. >>> KARL MARX – PRAXIS E LUTA DE CLASSES O conceito de práxis é muito anterior à filosofia marxista, com raízes no pensamento de Aristóteles, mas foi por intermédio do pensador alemão Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se aprofundou, passando a ser o elemento central do materialismo histórico. No âmbito da filosofia marxista, o conceito de práxis passa por processos de desconstrução e reconstrução, tendo como referência as teses do filósofo Feuerbach, com as quais Marx estabelece uma interlocução. Homem e natureza Marx concebe a práxis como atividade humana prático-crítica, que nasce da relação entre o homem e a natureza. A natureza só adquire sentido para o homem à medida que é modificada por ele, para servir aos fins associados à satisfação das necessidades do gênero humano. Para Marx, a natureza compreende todas as coisas materiais de que o homem se apropria, bem como a sociedade em que vive. A práxis medeia essa relação (ou intercâmbio) entre o homem e a natureza, que é conscientemente transformada no processo produtivo que lhe define a utilidade. A práxis expressa, precisamente, o poder que o homem tem de transformar o ambiente externo, representado, em Marx, pela natureza e pelo meio social em que está inserido. Ainda segundo o pensamento marxista, a práxis é atividade humana prático-crítica na medida em que é atividade sensível subjetiva; ou seja, uma atividade plenamente perceptível e consciente para o homem. História e luta de classes A partir do pensamento do filósofo marxista italiano Antônio Gramsci, o conceito de práxis adquire uma conotação diferenciada: práxis passa a ser entendida como história, como o fazer-se da própria história, processo que se dá com a interferência do gênero humano nas condições ambientais, para consecução dos seus propósitos e necessidades. Na perspectiva de Gramsci, a práxis permanece como uma atividade humana racional, mas o filósofo introduz um elemento novo na relação que medeia a ação do homem em sua atividade transformadora das condições ambientais: a luta de classes. Desse modo, o gênero humano não é mais concebido como o agente unitário que intervém nas condições ambientais de maneira harmônica. A intervenção na natureza e na sociedade ocorre de modo conflituoso - e o conflito se dá entre as classes sociais. O conflito de classes é inerente às relações de produção características da sociedade capitalista - que emergiu, com a ascensão da burguesia, à condição de classe dominante. O conflito de classe, por sua vez, engendra um modo específico de intervenção do homem nas condições ambientais, de maneira que a classe dominante (a burguesia) conseguiu impor um tipo de organização social (ou seja, um modo de produção) que serve aos seus interesses. A sociedade burguesa, portanto, produziu um rearranjo das forças e das relações produtivas - e esse rearranjo se manifesta num modo específico de transformação e utilização do meio ambiente. >>> CULTURA E IDEOLOGIA – MOVIMENTOS SOCIAIS Para Augusto Comte a ideologia é uma atividade filosófico-científica que estuda a formação das idéias a partir da observação do homem no seu meio ambiente. Por outro lado, o sociólogo francês Émile Durkheim usa o termo de maneira distinta. Para Durkheim, os fatos sociais são considerados objetos únicos de estudo da sociologia. Na perspectiva durkheimiana, as ideias e valores individuais (ou seja, a ideologia) são irrelevantes porque os fatos sociais são manifestações externas, isto é, estão fora e acima das mentes de cada sujeito que integra a sociedade. Portanto, para Durkheim, a ideologia é negativa porque nasce de uma noção "pré-científica" e, por isso mesmo, imprópria para o estudo objetivo da realidade social. A ideologia segundo Marx A referência ao pensador e filósofo alemão Karl Marx, é muito importante para qualquer estudo sobre os significados do termo ideologia. O estudo mais relevante de Marx sobre o tema é o texto chamado de "A Ideologia Alemã". Para Marx, a produção das ideias não pode ser analisada separadamente das condições sociais e históricas nas quais elas surgem. Em "A Ideologia Alemã", o fundador do marxismo dirige inúmeras críticas a vários filósofos e ideólogos alemães justamente para demonstrar que o pensamento, as idéias e as doutrinas produzidas por eles não são neutras. Muito pelo contrário, elas estão impregnadas de noções, isto é, de ideologias provenientes das condições sociais particulares da Alemanha daquele período. Marx também distingue tipos de ideologias que são produzidas: política, jurídica, econômica e filosófica. Com base nos pressupostos teóricos do materialismo histórico, o pensador alemão demonstra que a ideologia é determinada pelas relações de dominação entre as classes sociais. Ao se referir à ideologia burguesa, Marx entende que as idéias e representações sociais predominantes numa sociedade capitalista são produtos da dominação de uma classe social (a burguesia) sobre a classe social dominada (o proletariado). A existência da propriedade privada e as diferenças entre proprietários e não-proprietários aparecem, por exemplo, nas representações sociais dos indivíduos como algo que sempre existiu e que faz parte da "ordem natural" das coisas. Essas representações sociais, porém, servem aos interesses da burguesia, classe social que controla os meios de produção numa sociedade capitalista. Função social da ideologia Na perspectiva marxista , a ideologia é um conceito que denota "falsa consciência": uma crença mistificante que é socialmente determinada e que se presta a estabilizar a ordem social vigente em benefício das classes dominantes. Quando a ideologia da classe dominante sofre sérios abalos, devido ao surgimento de conflitos sociais (contradições sociais), há riscos de ocorrer uma ruptura da ordem social vigente por um movimento revolucionário. Historicamente, a burguesia também foi uma classe revolucionária que rompeu com a ordem social do feudalismo e impôs o modo de produção capitalista. Portanto, Marx argumenta que na ordem social capitalista, o proletariado, ou seja, todos aqueles que não são proprietários dos meios de produção e precisam vender sua força de trabalho para sobreviver - são os sujeitos depositários da esperança de uma ruptura revolucionária. Para que isso ocorra, entretanto, o proletariado precisa primeiramente romper com a ideologia burguesa. E isso só se torna possível quando ele toma consciência de sua condição de classe dominada e explorada. Uso corrente do termo "ideologia" Nas pesquisas sociológicas empíricas (ou seja, de caráter não-teórico), é bastante comum o emprego do termo ideologia. Porém, ele é utilizado como recurso metodológico. O objetivo é somente descrever o conjunto de idéias, valores ou crenças que orientam a percepção e o comportamento dos indivíduos sobre diversos assuntos ou aspectos sociais, como, por exemplo, as opiniões e as preferências que os indivíduos têm sobre o sistema político vigente, a ordem pública, o governo, as leis, as condições econômicas e sociais, entre outros. OS MOVIMENTOS SOCIAIS Os movimentos sociais são manifestações de caráter popular cuja ação social é orientada a fim de obter transformações políticas e econômicas. Longe de serem espasmos irracionais da massa, possuem, em geral, algum grau de solidariedade interna e muitos revelam elevados níveis de institucionalização, atuando de maneira tão organizada quanto empresas, partidos políticos e instâncias do Estado. Sua existência costuma ser associada a grandes eventos históricos, como lutas por independência de nações, insurreições socialistas ou comunistas, ações pela reforma agrária e a emancipação dos trabalhadores e revoluções culturais. A temática, como se pode notar, é ampla. Os movimentos sociais tratam de questões como a religião, a cultura popular, o antiescravismo, o meio ambiente e o trabalho. A partir da década de 90, o tema globalização ganhou espaço na agenda de lutas. O grande marco fundador de boa parte dos movimentos sociais surgidos nos últimos dois séculos é a expansão do modo de produção capitalista, sobretudo, através de sua vertente industrial no século 19. Seu enorme potencial de geração de riquezas, com base na propriedade privada, no trabalho assalariado e na expansão do mercado livre produziu também uma série de contradições sociais, que atingiram tanto a milenar classe dos camponeses quando a nascente classe dos operários.