Aspectos clínicos, epidemiológicos e correlação de microcefalia

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ISSN 2176-9095
Science in Health
jan-abr 2016; 7(1): 38-49
ASPECTOS CLÍNICOS, EPIDEMIOLÓGICOS E CORRELAÇÃO DE MICROCEFALIA
CONGÊNITA PELA INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA NO BRASIL
CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS AND CONGENITAL MICROCEPHALY
CORRELATION BY ZIKA VIRUS INFECTION IN BRAZIL
Francisco Sandro Menezes Rodrigues 1
Rodrigo Ippólito Bouças 2
Paolo Ruggero Errante 3
RESU MO
A febre causada pelo vírus Zica se tornou uma doença emergente, em função de sua disseminação através do trânsito internacional em massa de pessoas pelo mundo. A copa do mundo de futebol de 2014 fez com que o vírus Zica da linhagem asiática
atingisse o Brasil. A primeira região acometida foi a Região Nordeste do país, com surgimento de importante surto de doença exantemática transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, contaminado pelo vírus Zika. Em função disso, foram relatados
casos de Síndrome de Guillain-Barré associados à infecção pelo Zika vírus e, recentemente, esse vírus foi implicado com o
aumento anormal de casos de microcefalia em bebês no Nordeste do Brasil. Uma vez que não existe tratamento ou vacina
específica, as ações de controle são dirigidas no intuito de se diminuir a densidade de vetores, associados à transmissão de
três arboviroses no Brasil: Dengue, Chikungunya e Zika.
Palavras-chave: Microcefalia • Aedes aegypti • Arboviroses • Zika • Chikungunya • Guillain-Barré.
ABST R ACT
The fever caused by Zika virus has become an emerging disease, due to its spread through the international transit mass of
people around the world. The cup 2014 football world has made the Zika virus of Asian lineage to reach Brazil. The first
affected region is the northeastern region with the emergence of major outbreak of rash illness transmitted by the Aedes
aegypti mosquito infected by Zika virus. As a result, there have been reports of Guillain-Barré syndrome associated with infection by Zika virus and recently this virus has been implicated in the abnormal increase in cases of microcephaly in babies
in northeastern Brazil. There is no treatment or specific vaccine and control actions are addressed in order to reduce the
vector density, associated with the transmission of three arboviruses in Brazil: Dengue, Chikungunya and Zika.
Key words: Microcephaly • Aedes aegypti • Arboviruses • Zika • Chikungunya • Guillain-Barré.
1 Prof. Dr. do Departamento de Farmacologia, Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, SP, Brasil.
2 Prof. Dr. do Curso de Biomedicina e Medicina da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID
3 Prof. Dr. do Departamento de Imunologia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, USP, SP, Brasil. - E-mail: [email protected]
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em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) passou
a monitorar o registro de casos de síndrome exantemática indeterminada, na Região Nordeste do
Brasil. Os casos apresentavam exantema maculopapular; prurido e febre ausente ou baixa, acompanhada de cefaleia; hiperemia conjuntival não pruriginosa e não purulenta; dor e edema nos punhos
e tornozelos3. Segundo as características clínicas
apresentadas, as principais hipóteses para os prováveis agentes etiológicos foram vírus da Dengue,
vírus Chikungunya e vírus Zika.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, tem-se observado uma grande preocupação associada ao potencial de disseminação de doenças emergentes pela crescente mobilidade de pessoas (turistas, migrantes, refugiados,
profissionais, expatriados) através de fronteiras nacionais e internacionais.
Em 2014, o número de turistas internacionais
no mundo atingiu 1.138 milhões; 51 milhões a mais
que em 2013; apresentando um aumento de 4,7%
e, nas Américas, esse crescimento foi de 7%1.
O vírus Zika tem sido responsável por importante surto de doença exantemática no Brasil,
ocorrido no primeiro e segundo semestres de 2015.
Em maio de 2015 o Ministério da Saúde registrou a
circulação do vírus Zika em diferentes unidades da
federação, especialmente no Nordeste do Brasil4,5
e, no segundo semestre de 2015, foram descritos
casos acima do normal de microcefalia em área do
Nordeste do país, onde o vírus foi notificado.
Uma vez que o vírus Zika se disseminou além da
África e da Ásia, ele passou a ser considerado transmissor de uma doença emergente (Figura 1), e tem
sido sugerido que a realização da copa do mundo
de futebol no Brasil, em 2014, ampliou o fluxo de
pessoas ao país, o que culminou com a entrada do
vírus Zika 2.
Em fevereiro de 2015, a Secretaria de Vigilância
Figura 1. Países com casos comprovados da presença do vírus Zika. (Adaptado de http://www.cdc.gov/zika/geo/index.html).
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Diante da limitação de informações sobre essa
doença, esta revisão tem como objetivo apresentar
estudos atuais sobre o vírus Zika, suas características clínicas, epidemiológicas e ambientais.
mente, incluindo 35 casos importados11.
Em fevereiro de 2014, identificou-se o primeiro
caso de transmissão autócrina de febre pelo vírus
Zika no Chile, em paciente residente da Ilha de
Páscoa, seguido de novos casos identificados na região12. A mesma condição foi observada em outros
focos de transmissão em ilhas do Oceano Pacífico,
como Polinésia Francesa, Nova Caledônia e Ilhas
Cook 10.
EPIDEMIOLOGIA
Em 1952, a partir de amostras sanguíneas e
exames sorológicos, foi descrito o primeiro caso de
infecção humana pelo vírus Zika no leste da África
(Uganda e Tanzânia), e em 1968 o vírus foi isolado
a partir de amostras humanas na Nigéria 6-8.
ETIOLOGIA
O vírus Zika é um arbovírus membro da família
Falviviridae e gênero Flavivírus. É um RNA vírus,
com genoma de 11 kilobases de tamanho, contendo
10.794 nucleotídeos, codificando 3.419 aminoácidos. Filogeneticamente, encontra-se próximo aos
vírus Ilhéus, Rocio e vírus da encefalite de Saint
Louis. O vírus da febre Amarela é o protótipo da
família, que inclui o vírus da Dengue, Encefalite
japonesa e vírus do Nilo Ocidental 13, 14.
Em 2007 ocorreu um grande surto do vírus
Zika na ilha de Yap e em outras ilhas próximas dos
Estados Federados da Micronésia, onde foram notificados 185 casos suspeitos, sendo 49 casos considerados positivos e 59 prováveis. O vetor implicado com a transmissão foi o Aedes hensilii. Durante
o surto, 70% dos residentes na ilha de Yap foram
afetados 9.
Entre outubro de 2013 a fevereiro de 2014,
8.264 casos suspeitos de febre pelo vírus Zika foram notificados por meio de vigilância sindrômica na Polinésia Francesa, e 746 amostras encaminhadas para diagnóstico laboratorial; 53,1% foram
positivas por técnica de biologia molecular. Foram
identificados 38 casos de síndrome de Guillain-Barré após infecção pelo vírus Zika, quando 25
pacientes apresentaram complicações neurológicas
(encefalite, meningoencefalite, parestesia, paralisia
facial e mielite), e 7 pacientes apresentaram outras
complicações (trombocitopenia, leucopenia, complicações oftalmológicas e cardíacas). Os vetores
relacionados à transmissão foram o Aedes aegypti e
Aedes polynesiensis 10.
O vírus é inativado na presença de permanganato de potássio, temperaturas superiores a 60oC, e
não é neutralizado na presença de etanol a 10% 6.
O vírus Zika foi isolado em 1947 em macacos
Rhesus utilizados como sentinelas para detecção de
febre amarela, na floresta Zika, em Uganda, o que
lhe conferiu o nome de vírus Zika 13.
Na África Oriental, o vírus Zika é mantido em
ciclo silvestre em florestas tropicais, com ciclo de
epizootia envolvendo primatas não humanos e mosquitos do gênero Aedes (Aedes furcier, Aedes taylori,
Aedes luteocephalus, Aedes vitattus, Aedes opock, Aedes
africanus). Os humanos são ocasionalmente infectados, podendo apresentar ausência de sintomas, ou
síndrome semelhante à gripe por influenza. Esses
achados são semelhantes ao observado na febre por
Dengue e Chicungunya 6,13.
Na Nova Caledônia, os primeiros casos de febre
pelo vírus Zika tiveram origem a partir do vírus
oriundo da Polinésia Francesa no final de novembro
de 2013, e os primeiros casos autóctones ocorreram em janeiro de 2014. Em fevereiro de 2014, um
total de 1.385 casos foi confirmado laboratorial-
Na África Ocidental e na Ásia (Sudeste Asiático), além do vírus ter sido isolado em macacos
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(Cercopithecus aethiops e Erythrocebus patas), inquéritos sorológicos indicam sua circulação em diferentes espécies de animais vertebrados, incluindo
mamíferos de grande porte como orangotangos,
elefantes, zebras, búfalos e roedores. Entretanto,
os primatas não humanos são considerados os reservatórios naturais silvestres13.
gerem que, a partir de 1966, o vírus se disseminou
para o continente asiático16.
No Oeste Africano, o programa de vigilância
sorológica e entomológica descreve a circulação
periódica do vírus Zika desde 1968 (http://www.
pasteur.fr/recherche/banques/CROCHA/), sendo notificados 606 casos entre 1968 a 2002, obtidos
a partir de material entomológico (594), primatas
não humanos (9) e seres humanos (3). Atualmente, existem registros de circulação do vírus Zica na
África (Nigéria, Tanzânia, Egito, África Central,
Serra Leoa, Gabão, Senegal, Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, Quênia, Somália e Burkina Faso),
Atualmente, são conhecidas duas linhagens do
vírus Zika; uma africana e outra asiática. A linhagem africana pode ser subdividida nas linhagens do
Leste e do Oeste da África15. O vírus Zica é considerado endêmico no Leste e Oeste do continente
Africano e evidências sorológicas em humanos su-
Figura 2. Estados brasileiros com casos de vírus Zika confirmados laboratorialmente até o período de novembro de 2015. (Adaptado de European
Centre for Disease Prevention and Control. Rapid risk assessment: Zika virus epidemic in the Americas: potential association with microcephaly and
Guillain-Barré syndrome – 10 December 2015. Stockholm: ECDC; 2015).
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na Ásia (Malásia, Índia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Vietnã, Camboja, Índia, Indonésia) e na
Oceania (Micronésia, Polinésia Francesa, Nova
Caledônia/França e Ilhas Cook)17,18.
mosquitos Aedes africanus. A transmissão vetorial
foi observada, de maneira experimental, a partir de
mosquitos Aedes aegypti, utilizando-se um roedor e
um macaco infectados como modelos animais, em
1956. O principal modo de transmissão do vírus
Zika é vetorial, através de mosquitos do gênero
Aedes spp., embora existam relatos de transmissão
ocupacional, perinatal e sexual, devido às altas taxas de infecções assintomáticas, como relatado na
Dengue, febre do Nilo Ocidental e febre do Chikungunya4, 5,22-25,.
Recentemente, casos importados de febre pelo
vírus Zika foram descritos no Canadá, Alemanha,
Itália, Japão, Estados Unidos, Austrália, Chile e
Brasil4,5,12,18-20.
Estudos filogenéticos demonstraram que a cepa
emergente isolada no Brasil é a mesma descrita em
casos observados na Polinésia Francesa e que se disseminou para as ilhas do Oceano Pacífico, ambas
derivadas de linhagem asiática5. Tem-se assumido
que o vírus Zika foi introduzido no Brasil durante
a copa do mundo de futebol em 2014, uma vez que
foi verificado, durante este período, um número
maior de turistas asiáticos que de africanos21.
Os principais vetores para o vírus Zika são os
mosquitos do gênero Aedes: Aedes africanus na África
e Aedes aegypti, na Malásia e no Brasil 16. No Gabão,
em estudos experimentais e em vida silvestre, já
se comprovou a capacidade do Aedes albopictus em
transmitir o vírus Zika10. Na Polinésia Francesa e
no Brasil, o Aedes aegypti é o vetor urbano do vírus
Zika, em função de sua ampla distribuição em regiões tropicais e subtropicais do mundo 4, 5, 10.
Contudo, em agosto de 2014, ocorreu a copa
do mundo de canoagem no Rio de Janeiro, com
participação de atletas da Polinésia Francesa, Nova
Caledônia, Ilhas Cook e Ilhas Easter. Esses eventos estão de acordo com os resultados filogenéticos
obtidos por Zanluca e colaboradores4, sugerindo
que o vírus Zika foi introduzido no Brasil através
de pessoas assintomáticas que participaram desses
dois eventos. Entretanto, afirma-se que a entrada
do vírus possa ter ocorrido em 2013 durante a copa
das confederações de futebol5.
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA
Estima-se que somente 18% das infecções humanas pelo vírus Zika apresentem manifestações
clínicas, sendo mais frequente a infecção assintomática. O vírus Zika causa uma doença febril aguda, autolimitada, sem registro de mortes, que leva
a uma baixa taxa de hospitalização6, 12.
Quando sintomática, a infecção pelo vírus Zika
causa febre baixa, exantema maculopapular, artralgia, mialgia, cefaleia e hiperemia conjuntival.
Outros sintomas menos frequentes incluem odinofagia, tosse seca e alterações gastrointestinais.
A infecção pelo vírus Zika leva ao surgimento de
exantema e hiperemia conjuntival mais exuberante
em comparação à infecção pelo vírus da Dengue,
Chikungunya e sarampo, e uma menor alteração
no número de leucócitos e plaquetas24. Os sintomas
desaparecem de 3 a 7 dias após o início dos sintomas, embora a artralgia possa apresentar maior
duração (até 30 dias)17.
O vírus Zika foi reconhecido simultaneamente,
em fevereiro de 2015, na Bahia e em São Paulo,
e a circulação da doença causada pelo vírus Zika
foi subsequentemente confirmada pelo uso de métodos de diagnóstico molecular no Rio Grande do
Norte, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí, Alagoas, Maranhão, Amazonas, Rondônia, Roraima,
Tocantins, Pará, Mato Grosso, Espírito Santo, Rio
de Janeiro e Paraná (Figura 2)5,21.
TRANSMISSÃO
Historicamente, o vírus foi isolado a partir de
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Na Micronésia, a incidência histórica de Síndrome de Guillain-Barré é de 5 casos por ano e,
durante um surto epidêmico de vírus Zika, foram
diagnosticados 40 novos casos de Síndrome de
Guillain-Barré16. Situação semelhante foi observada na Polinésia19.
cefalia, como distúrbios genéticos, exposição a
substâncias químicas e radiação. Também estão
incluídas infecções por vírus (citomegalovírus) e
protozoários (toxoplasmose) que interferem na formação do feto causando malformações, geralmente
no primeiro trimestre da gestação26.
No Brasil, em 2015, foi observada uma correlação positiva entre a infecção pelo vírus Zika e a
Síndrome de Guillain-Barré em locais com circulação simultânea do vírus da Dengue e vírus Chikungunya4.
Atualmente, existe uma preocupação de que o
Zika vírus possa estar relacionado ao aumento de
casos de microcefalia acima do esperado em estados do nordeste do Brasil (Figura 3). Em outubro
de 2015 em Pernambuco e Rio Grande do Norte,
foi observado um alto número de casos de microcefalia nas maternidades da região metropolitana.
Em Pernambuco, em quatro maternidades-referência para gestação de alto risco, foram identificados
38 casos de microcefalia no período de outubro de
201527.
MICROCEFALIA
A microcefalia corresponde a uma malformação
congênita e o recém-nascido já nasce com perímetro cefálico igual ou menor que 33cm, avaliado por
ultrassonografia após o nascimento. Em 90% dos
casos de microcefalia existe associação com retardo
mental, exceto na microcefalia de origem familiar,
onde pode ocorrer um desenvolvimento cognitivo
normal.
Em Natal e em outras cidades do Rio Grande do
Norte, um total de 21 casos de microcefalia foi registrado no mesmo período, elevando a média histórica de 2/1000 nascidos vivos com má-formação
do sistema nervoso central para 24/1000 nascidos
Existem inúmeras causas que levam à micro-
Figura 3. N
otificação de casos de microcefalia em 14 estados do Brasil entre o período de 2010 a 2015. (Adaptado de European Centre for
Disease Prevention and Control. Rapid risk assessment: Zika virus epidemic in the Americas: potential association with microcephaly and
Guillain-Barré syndrome – 10 December 2015. Stockholm: ECDC; 2015).
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vivos, inclusive com um neomorto. No primeiro
semestre de 2015, um total de 75 casos de infecção pelo vírus Zika, em pessoas saudáveis, foram
confirmados por reação em cadeia da polimerase
por transcriptase reversa (RT-PCR)28. 63% por
cento das gestantes em Pernambuco e 80% no Rio
Grande do Norte apresentam relatos de doença
exantemática no primeiro trimestre da gravidez,
período em que as infecções congênitas levam a
malformações. As pacientes realizaram protocolos
padronizados de pesquisa de infecções congênitas
no período pré-natal e perinatal para toxoplasmo-
se, rubéola, citomegalovírus (CMV), herpes e sífilis, que foram negativos29.
Os recém-nascidos descritos com suspeita de
microcefalia associada ao vírus Zika apresentam
acentuada microcefalia, geralmente com perímetro cefálico menor que 29cm. A ultrassonografia
transfontanela e a Tomografia computadorizada
apresentaram algumas características em comum
como microcalcificações periventriculares e tálamo-estriada, hipoplasia do vernix cerebelar e, em
alguns casos, lisencefalia30.
Figura 4. R
elato de casos de microcefalia no Brasil até novembro de 2015. (Adaptado de European Centre for Disease Prevention and Control.
Rapid risk assessment: Zika virus epidemic in the Americas: potential association with microcephaly and Guillain-Barré syndrome – 10
December 2015. Stockholm: ECDC; 2015).
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Para esses casos incomuns de microcefalia, foi
levantada a possibilidade de infecção por arbovírus,
baseada nos seguintes argumentos: infecções congênitas no período pré-natal e natal por toxoplasmose; rubéola, citomegalovírus, herpes e sífilis não
estão associadas a grandes surtos, ou ocorrendo simultaneamente em diferentes cidades e estados31;
surgimento de um grande número de casos em um
curto espaço de tempo, com alta taxa de ataque e
dispersão, sugestivo de transmissão por vetores32;
relato materno de quadro viral com manifestação
exantemática no primeiro trimestre da gestação,
coincidente com surto de vírus Zika nessas áreas geográficas; tropismo do vírus Zika ao sistema
nervoso central5, e relatos de casos neurológicos
na Polinésia Francesa associados à infecção pelo
vírus Zika19; ausência de relatos de má-formação
pela infecção pelo vírus da Dengue e/ou Chikungunya33,34.
absorbância (ELISA) específico para a detecção de
IgM ou IgG e ensaio de neutralização20. Sugere-se
avaliação de amostras pareadas do título de anticorpos em intervalo de uma a duas semanas e confirmação dos resultados positivos através do teste de
neutralização mediante redução em placa (PRNT),
com aumento de pelo menos quatro vezes no título
de anticorpos neutralizantes contra o vírus Zika.
Contudo, pode existir reatividade cruzada com o
vírus da Dengue, vírus da febre Amarela e vírus
do Nilo Ocidental, o que faz com que os resultados
sejam interpretados com cuidado 24.
O diagnóstico laboratorial específico do vírus
Zika baseia-se na detecção de RNA viral a partir de
espécimes clínicos por reação em cadeia da polimerase por transcriptase reversa (RT-PCR). O período virêmico é curto e permite a detecção direta do
vírus em até 4 a 7 dias após o início dos sintomas,
sendo ideal que o exame do material seja realizado
até o quinto dia do aparecimento dos sintomas. Os
ácidos nucleicos do vírus foram detectados em humanos entre 1 e 11 dias após o início dos sintomas
e o vírus foi isolado em primata não humano até 9
dias após inoculação experimental4,10.
Dessa forma, existe uma grande preocupação
em relação ao alto número de casos de microcefalia
e possível correlação com o vírus Zika em 2015,
concentrados principalmente na Região Nordeste
do Brasil (Figura 4). No Brasil, todo caso de microcefalia deve ser notificado por meio de formulário
específico desenvolvido pelo Ministério da Saúde, que pode ser acessado no endereço eletrônico
www.resp.saude.gov.br.
Em estudo conduzido em Singapura e na Indonésia, não foram verificadas reações cruzadas entre
o vírus Zika e vírus da Dengue (sorotipos DEN-1 a
-4), encefalite japonesa, febre amarela, hepatite B e
C, febre do Chikungunya, Ross River, citomegalovírus, Epstein-Barr, varicela zóster, herpes simplex
1, herpes-vírus B19, adenovírus e alguns subtipos
de enterovírus humanos, como enterovírus humano 71, echovírus 6, poliovírus Sabin tipo 1, 2, e 3 e
os coxsackievírus A10 e B 417.
ASPECTO LABORATORIAL E
DIAGNÓSTICO
Durante o curso da doença, é observada de discreta a moderada leucopenia e trombocitopenia
e ligeira elevação da desidrogenase láctica sérica,
gama glutamiltransferase e marcadores de atividade inflamatória (proteína C reativa, fibrinogênio e
ferritina)8, 15.
No Brasil, o exame para confirmação de infecção pelo vírus Zika consiste na reação em cadeia
da polimerase por transcriptase reversa (RT-PCR),
realizada em laboratórios de referência da rede do
Sistema Único de Saúde (SUS).
Não existem ensaios sorológicos comerciais
disponíveis para a detecção de anticorpos específicos para o vírus Zika até o momento. Os estudos
sorológicos incluem o ensaio imunoenzimático de
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TRATAMENTO
evitar a picada pelo mosquito, através da utilização
de repelentes, roupas apropriadas que minimizem
a exposição da pele, inseticidas e mosquiteiros, e
evitar lugares infestados por mosquitos36.
Não existe tratamento específico para a infecção pelo vírus Zika, sendo recomendado nos casos
sintomáticos o uso de acetaminofeno (paracetamol)
ou dipirona para controle da febre e dor. No caso
de erupções pruriginosas, anti-histamínicos podem ser considerados. Não é recomendado o uso
de ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios
em função do risco aumentado de complicações hemorrágicas descritas nas infecções por outros flavivírus10.
Portanto, as medidas de prevenção e controle
são semelhantes às da Dengue e Chikungunya, com
redução da densidade vetorial, mantendo o domicílio sempre limpo, eliminando os possíveis criadouros. Não existem medidas de controle específicas
direcionadas ao homem, uma vez que não se dispõe
de nenhuma vacina ou drogas antivirais para o vírus Zika.
PREVENÇÃO
CONCLUSÃO
Uma vez que o vírus Zika é transmitido pelo Aedes aegypti, as ações de prevenção têm por objetivo
o controle da densidade do vetor, através da participação e colaboração de todos os níveis do governo
e de setores da saúde, educação, meio ambiente,
desenvolvimento social e turismo 7.
A febre pelo vírus Zika é uma doença transmitida pelo Aedes aegypti no Brasil. No Brasil, em função
da possível sobreposição de áreas de transmissão do
vírus Zika com áreas onde já ocorra a circulação
de outros flavivírus, como vírus da Dengue e Chikungunya, o diagnóstico do vírus Zika figura como
grande desafio aos profissionais da saúde e ao sistema de vigilância.
Devem-se fortalecer as ações de ordem ambiental, principalmente na eliminação de criadouros
do vetor em domicílios e áreas comuns de bairros
e cidades, como parques, escolas e cemitérios. É
fundamental a organização de campanhas de saneamento intensivo para a eliminação de criadores do
vetor em zonas específicas, deficientes em saneamento básico33.
Embora não comprovada experimentalmente, existe uma grande suspeita da associação entre microcefalia e infecção gestacional pelo vírus
Zika no Brasil. Casos de infecção pelo vírus Zika e
surgimento de Síndrome de Guillain-Barré foram
descritos em ilhas da Oceania e no Brasil. Diante
da inexistência de kits comerciais para realização
de sorologia específica para o vírus Zika no Brasil,
como ocorre com a Dengue, é importante destacar
que a realização do diagnóstico clínico e diferencial com Dengue e Chikungunya é a principal ação
a ser adotada. Sugere-se que diante de resultados
negativos/não reagentes em pacientes com suspeita de Dengue, deve ser considerada, a critério da
vigilância epidemiológica, a investigação para outros flavivírus cujas infecções possam cursar com
quadro clínico semelhante como na infecção pelos
vírus Zika e Chikungunya.
É crucial a determinação de zonas de alto risco de transmissão, dando prioridade àquelas onde
exista uma grande concentração de pessoas (escolas, terminais de transporte, hospitais, centros de
saúde), com eliminação do mosquito em um raio de
pelo menos 400 metros. Em zonas de transmissão
ativa, deve-se fazer a utilização de tratamento adulticida do vetor (fumigação), possibilitando maior
tempo para a eliminação de criadouros de larvas
do mosquito35.
As autoridades de saúde devem informar aos
viajantes que se dirigem a zonas de circulação do
vírus Zika que tomem medidas necessárias para
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Diante desse quadro, é fundamental ressaltar
a necessidade de melhora do controle vetorial nos
municípios infestados com Aedes aegypti, uma vez
que essa espécie, até o momento, no Brasil, está associada à transmissão de três arboviroses: Dengue,
Chikungunya e Zika.
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