XIX Domingo do Tempo Comum (Ano B) O texto – Jo 6,41-51 41 42 43 44 45 46 Os judeus murmuraravam, então, contra Ele porque disse: ‘Eu sou o PÃO descido DO CÉU’. E diziam: «Não é Ele JESUS, o filho de José, nós não conhecemos o pai e a mãe? Como diz agora: ‘EU desci DO CÉU’?» Respondeu Jesus e disse-lhes: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode VIR A MIM, se o PAI, que me enviou, o não atrair; e Eu o RESSUSCITAREI no último dia. Está escrito nos profetas: "E todos serão ensinados por DEUS". Todo aquele que escuta e aprendeu do PAI VEM A MIM. Não que alguém tenha visto o PAI, só aquele que vem de junto do PAI viu o PAI. 47 48 49 50 51 EM VERDADE, EM VERDADE VOS DIGO: aquele que CRÊ tem a VIDA ETERNA. Eu sou o PÃO da VIDA. Os vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este PÃO é o que desce DO CÉU para que NÃO PEREÇA que dele comer. Eu sou o PÃO VIVO descido DO CÉU: Quem comer deste PÃO, VIVERÁ ETERNAMENTE. O PÃO que eu darei é a MINHA CARNE para a VIDA do mundo». Breve comentário O texto lido neste domingo é retirado dum longo discurso que Jesus profere à multidão de galileus no dia a seguir à multiplicação de pães. Na primeira parte o discurso, escutada no passado domingo, Jesus refere uma pretensão incrível: «O pão de Deus é o que desce do céu... Eu sou o pão da vida». Quando Jesus se apresenta como o Pão descido do céu, isto é, como o Messias, naturalmente a multidão reage: «Os judeus murmuravam...». O evangelista está a referir-se, naturalmente a galileus. O termo «judeus», no evangelho de João, designa habitalmente aqueles que recusam a revelação de Jesus e são hostis a ele. O verbo «murmurar» no Antigo Testamento descreve a atitude do povo ou duma parte dele que contesta o agir de Deus, o modo como Deus realiza o seu desígnio, conduzindo, por exemplo, Israel no deserto e alimentando-o com o maná. Uma atitude que manifesta falta de confiança em Deus. No texto de hoje os «judeus» recusam Jesus como «pão do céu» e o dom que Deus oferece por meio dele. Os opositores têm boas razões para contestar: conhecem a sua família e, portanto, Jesus tem uma origem humana conhecida, pelo que não pode ter descido do céu. Além disso, segundo a concepção corrente, ninguém podia conhecer o lugar de proveniência do Messias. Logo, Jesus não pode ser o Messias. Em lugar de discutir a questão da sua origem divina, Jesus prefere denunciar aquilo que está por detrás da atitude negativa dos judeus face à proposta que lhes é feita: eles não têm o coração aberto aos dons de Deus e recusam-se a aceitar os seus desafios… O Pai apresenta-lhes Jesus e pede-lhes que vejam em Jesus o «pão» de Deus para dar vida ao mundo; mas os judeus, instalados nas suas certezas, amarrados às suas seguranças, acomodados a um sistema religioso ritualista, estéril e vazio, já decidiram que não têm fome de vida e que não precisam do «pão» de Deus. Não estão, portanto, dispostos, a acolher Jesus, «o pão que desceu do céu». Conciliar a origem humana de Jesus com a sua origem divina só se consegue com o dom da fé que é sempre um dom de Deus. Ninguém consegue captar esta dupla dimensão se não for atraído pelo Pai, o único que pode ensinar. Quem crê em Jesus tem a vida para sempre. Na origem da fé em Cristo há uma acção misteriosa do Pai no coração do homem que o atrai a coloca em contacto com Jesus. E assim, crendo em Jesus, o homem recebe a vida divina que terá o seu final na ressurreição do corpo: «e eu o ressuscitarei no último dia». A acção interior de Deus é uma acção didáctica, uma relação dialógica entre mestre e discípulos, pois o Pai não se revela a si mesmo senão através de Jesus. Por isso, esta instrução interior do Pai coincide com o ensinamento de Jesus. Todo este processo comporta naturalmente a livre resposta do homem. A fé, se é dom, é também uma tomada de posição do homem, o seu abandonar-se livremente a Deus que o quer encontrar em Jesus. Sendo assim, estamos em condições de compreender toda a profundidade da solene afirmação de Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: quem crê tem a vida eterna». A parte final do texto dá um passo em frente. Já não se trata duma comparação com o maná do deserto mas da declaração da necessidade de comer a sua carne para ter a Vida. Devemos recordar que a primeira grande afirmação inicial do evangelho de S. João: «O Verbo fez-se Carne». Comer a carne de Jesus significa assimilar a plenitude da vida de Jesus que garante e antecipar a posse da vida eterna. P. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro