Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais 1 AMOSTRAGEM DE INSETOS EM FLORESTAS O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas-alvo e de seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das condições climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas nessa amostragem. a) Métodos de amostragem Para avaliação correta das populações de pragas e inimigos naturais é necessário que, se realizem amostragens. Para tanto, é importante o desenvolvimento de pesquisas que permitam obter metodologias de avaliação populacional, plano de amostragem e tipo de caminhamento a ser adotado na amostragem. No MIP são empregados dois métodos de avaliação de populações de pragas e de seus inimigos naturais: Métodos relativos: representado pelo número de indivíduos presentes numa amostra. Esta avaliação pode ser feita através de contagem direta das pragas existentes numa amostra, como, por exemplo, conta-se o número de lagartas por árvore ou o número de formigueiros por parcelas. É o método mais utilizado em agroecossistemas por ser mais rápido, barato e eficiente que os demais. O tamanho de uma estimativa relativa é afetado por mudanças no tamanho da população e sofre influência da fase do ciclo biológico, da atividade do inseto, da eficiência da armadilha ou do método de inspeção e das espécies e sexo. Índices populacionais: é a medida dos produtos metabólicos ou efeitos dos insetos presentes numa amostra. Ex: percentagem de desfolha, peso de excrementos e outros, por unidade amostral. É, também, bastante utilizado em agroecossistemas e é semelhante ao método relativo, exceto pelo fato de não amostrar o inseto diretamente, mas seus produtos ou efeitos. b) Distribuição espacial de insetos Refere-se à forma de distribuição dos insetos no campo. A determinação prévia da distribuição dos organismos é importante no estabelecimento do plano de amostragem e essa distribuição pode ser ao acaso, quando a distribuição dos organismos ocorre de maneira inteiramente casualizada (seguem uma distribuição de Poisson); agregada, quando os organismos tendem a se reunir em grupos (seguem uma distribuição binomial negativa) e regular, quando os organismos Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected] 2 Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais estão uniformemente distribuídos em uma população (seguem uma distribuição binomial). c) Plano de amostragem • • A amostragem pode ser: Comum: baseada no número fixo de amostras por unidade de área. Ex. 1 ramo/planta, 20 plantas/talhão, etc. Mais usada em agroecossistemas do que a amostragem seqüencial. Seqüencial: envolve um número variável de amostras. As partes são examinadas ao acaso, seqüencialmente, até que a densidade acumulada atinja uma das classes de abundância previamente estipulada. Sua vantagem em relação à amostragem comum é o de menor custo e tempo para amostrar a população do inseto alvo. Não tem sido utilizada em florestas. d) Tipo de caminhamento Representa a maneira como se deve deslocar no campo para realizar a amostragem. A forma de caminhamento depende do tipo de amostragem, sendo espiral quando a amostragem é seqüencial e ziguezague, cruz, U ou pontos, quando a amostragem é do tipo comum. e) Componentes da amostragem • • • • Pessoal: refere-se ao conhecimento da pessoa que faz a amostragem. Devem-se utilizar pessoas com certo grau de instrução para realizar a amostragem (pelo menos 1o grau completo). Mecânico: refere-se à precisão dos aparelhos ou equipamentos utilizados na amostragem. Estatístico: refere-se à intensidade de amostragem a ser adotada (varia de 2 a 10% da área, na maioria dos casos). Econômico: refere-se ao custo da amostragem. Deve-se calcular este custo para saber se compensa ou não a realização da amostragem. Esse custo não pode passar de 10% do valor do custo de combate. f) Instrumentos de amostragem Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected] 1 Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais 3 São equipamentos utilizados para auxiliar a amostragem de insetos. Existem diversos tipos, sendo que os mais utilizados são: Ø rede entomológica: trata-se de um aro de metal preso a um cabo de madeira, que sustenta um saco de filó com fundo arredondado. É utilizada para selecionar alguns exemplares. É mais usada para estudos de diversidade de insetos do que para quantificar suas populações. Assim, dependendo da fauna de insetos que se pretende levantar, o uso de redes é recomendável; Ø rede de varredura: semelhante à rede entomológica, porém mais reforçada, principalmente o pano, para suportar o atrito da rede com a vegetação; Ø armadilhas de solo: é constituída por um recipiente de boca larga enterrado no solo de maneira que a abertura fique ao nível da superfície. São especialmente voltadas para insetos que caminham sobre o solo por incapacidade de vôo ou por preferência de habitat. Essas armadilhas podem ter sua eficiência aumentada pela presença de iscas, podendo assim capturar uma variedade de insetos como besouros, formigas etc.; Ø malaise : é uma armadilha que “intercepta” o vôo de insetos, contendo uma barreira pouco visível para eles, feita de filó e com a qual os insetos colidem e são capturados num recipiente situado no topo da armadilha. Utilizada para amostrar himenópteros, principalmente parasitóides; Ø frasco caça-mosca: recipiente plástico ou de vidro, contendo orifícios em forma de cone. No interior contém substâncias atrativas aos insetos. Utilizada para coleta de mosca-das-frutas, principalmente; Ø armadilha luminosa : consiste de uma lâmpada fluorescente que emite luz negra, atrativa a insetos de habito noturno que voam. Esses são capturados num recipiente cônico situado logo abaixo da lâmpada. Utilizada para amostrar lepidópteros principalmente. g) Tipos de amostragem de insetos em florestas Para se conhecer a densidade de insetos de uma área florestal podem ser utilizados alguns métodos como o método da parcela ao acaso (amostragem direta), o método do transecto em faixas, o método de sensoriamento remoto, da pesagem de excrementos, do uso de inseticidas e de armadilhas. Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected] 4 Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais Parcela ao acaso: é o método mais comum para se quantificar a população dos insetos. Consiste na marcação de parcelas de tamanho fixo, distribuídas ao acaso ou sistematicamente na área, e na contagem do número de insetos presentes nelas, que permitirá estimar a densidade da praga na área. No caso de amostragem de formigas cortadeiras, por exemplo, marcam-se parcelas nas áreas dos talhões, contam-se os formigueiros presentes nelas e estima-se o número de formigueiros de diferentes tamanhos por hectare. No caso de amostragem de lagartas desfolhadoras, cada parcela pode ser representada por um galho de uma árvore, possibilitando estimar o número de lagartas por metro quadrado de folhagem. Este método poderá também ser realizado para contagens de insetos em outras partes da árvore, no solo, no subbosque etc. Transecto: o método do transecto consiste na marcação de uma linha imaginária principal de comprimento predeterminado e na contagem da população de insetos em uma largura predefinida ao longo do transecto. Pode ser utilizado para amostrar formigas cortadeiras, cupins, besouros e lagartas desfolhadoras em áreas de plantio, contando-se as mudas atacadas ao longo do transecto, que geralmente corresponde à linha de plantio. Sensoriamento remoto: o método do sensoriamento remoto consiste na utilização de fotografias aéreas ou imagens de satélite para detectar a ocorrência de focos de insetos-praga. Através destas técnicas é possível observar a fenologia, regeneração, áreas danificadas, avanço de epidemias, fogo etc. No caso de epizootias é fácil investigar se os ataques estão se estendendo, onde existem áreas potencialmente em perigo e onde se deve efetuar o combate e concentrar as medidas de controle. As imagens aéreas constituem o método mais rápido e eficiente para amostragem de danos em grandes áreas de florestas, sejam elas nativas ou cultivadas. Este método normalmente quantifica os danos, mas não a população do inseto. Esta é estimada baseando-se no tipo de dano e extensão da área afetada. A análise das imagens deve ser acompanhada por uma amostragem de campo, na qual se identifica o inseto, ou grupo que está causando danos, bem como outros fatores que poderiam afetar a interpretação das imagens. Este método pode ser utilizado para amostrar formigas cortadeiras, lagartas desfolhadoras, broqueadores, cupins; entretanto, esses levantamentos não são comuns no Brasil e sim na Europa e América do Norte. Os principais sistemas de imagem orbital disponível no Brasil e que poderiam ser utilizados para amostragem de insetos em reflorestamentos são: Landsat (pixel de 20x20m) e o Spot (pixel de 5x5m). Pesagem de excrementos: a pesagem de excrementos consiste na coleta dos excrementos dos insetos com um coletor de pano estendido sob a planta e depois, Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected] Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais 5 aplicando-se índices de digestibilidade, estima-se a população presente. Conhecendo-se a digestibilidade aparente e o peso seco dos excrementos é possível estimar o peso seco das folhas e a área foliar consumido, além do tamanho da população de insetos. Estes dados podem ser facilmente obtidos em laboratório, bastando-se criar os insetos e medir, para cada estádio: a área foliar consumida; o tamanho e o peso seco das fezes e a relação área-peso das folhas. Foi utilizado em poucos casos para amostrar lagartas desfolhadoras no Brasil. Choque de inseticidas: consiste na aplicação de um produto potente sobre uma área ou plantas que estão sendo atacadas. Os insetos mortos por sua ação são coletados em panos ou plásticos de área conhecida, que devem ser previamente estendidos sob as plantas. A seguir procede-se à contagem dos insetos que caíram nos panos, e estima-se a população total da área infestada. Este método pode ser, ainda, utilizado para testar produtos e dosagens de inseticidas: colocam-se os panos distribuídos na área; pulveriza-se a área com o produto e/ou dosagens a serem testadas; contam -se os insetos que caíram nos panos; pulveriza-se novamente a área com uma “bomba” (um produto ou mistura altamente potente); contam-se novamente os insetos e calcula-se a percentagem de eficiência dos tratamentos. Armadilhas luminosas: baseia-se na distribuição aleatória das armadilhas no campo, as quais permanecem ligadas por um período pré-fixado. No final de cada período, os insetos coletados são levados ao laboratório para contagem e identificação. Em empresas florestais, a utilização de armadilhas luminosas tem sido muito eficiente na amostragem de lepidópteros e coleópteros. Amostragens regulares durante todas as estações do ano têm permitido estabelecer curvas de flutuação populacional das espécies mais freqüentes. Este método é um dos mais eficientes para a amostragem de insetos noturnos, podendo também, em algumas situações, ser aplicado no controle de algumas pragas. Armadilha com atrativos: utilizam-se armadilhas de diferentes formas contendo atrativos como feromônios ou outras substâncias. Esse tipo de armadilha é usado na amostragem de escolitídeos (broqueadores) e para serradores. Os atrativos mais usados são o etanol e alguns feromônios como o Pheroprax e o Linoprax, para o caso de escolitídeos, e melaço de cana para o caso de serradores. No caso desses feromônios, as distâncias entre armadilhas devem ser de 100 e 30 m, respectivamente, ambas instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a 3/ha. O melaço de cana é colocado em frascos caça-mosca, que são distribuídos na periferia do reflorestamento. Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected] 6 Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integado de Pragas Florestais Árvores armadilha: empregadas para detectar e amostrar a vespa-da-madeira (broqueador). Consiste em escolher 5 árvores agrupadas de diâmetro menor que 20 cm, numerá-las e matá-las para atrair as vespas. Após a vistoria deve-se inocular o nematóide (Beddingia siricidicola) com um martelo aplicador de 30 em 30 cm no tronco da árvore derrubada. Prof. Ronald Zanetti - DEN/UFLA, CP 3037, 37200-000, Lavras, MG. [email protected]