Introdução à Morfologia de Língua Alemã Rafael Alexandrino Malafaia1 Morfologia A nível etimológico, morfologia vem das formas gregas morphê, “forma”, e logos, “estudo” – logo, tem-se “estudo da forma”. Porém, a nível de linguística, a morfologia é compreendida como o campo de estudo que trata da estrutura das palavras. Todavia, pode-se aqui compreender forma em dois sentidos: os sons, então sem significado, mas que se combinam e formam unidades com significado; e as palavras, estas já com regras próprias de composição para então constituição de unidades maiores. Estas unidades menores ainda sem significado são os morfemas, as menores unidades gráficas e sonoras que contêm significado ou função gramatical. A palavra a ter seus morfemas aqui estudados é Unfruchtbarkeitsgottheiten. Un- Prefixo de derivação Frucht- Substantivo -bar Sufixo de derivação -keit Sufixo de derivação -s- Elemento de junção (Fugenelement) Gott- Substantivo -heit Sufixo de derivação -en Sufixo de derivação Funções da Morfologia: Segmentar as palavras de qualquer idioma em morfemas isolados; inventariar os morfemas; procurar as regras de combinação dos morfemas até as classes de palavras para enfim formar palavras que possuam significado. Tipos de Morfemas: 1 Rafael Alexandrino Malafaia é graduando do curso Licenciatura em Letras: Habilitação em Língua Alemã, da Universidade Federal do Pará. Formas simples São formas que, mesmo isoladas, possuem enunciado para comunicação. Formas presas São formas que, mesmo isoladas, não constituem significado suficiente para comunicação. Caso especial: Afixos Pode-se dizer sobre os afixos é que – junto aos radicais – são morfemas aditivos. Os afixos são elementos que podem ser identificados devido ao lugar que se anexam junto à base. A Morfologia tem dois campos de atuação, que assim se subdividem: Flektion Wortbildung Deklination Komparation Konjugation Derivation Zusammenstung Os morfemas flexionais podem ser compreendidos em duas formas: nominais e verbais. Na língua alemã, os primeiros são /(e)s/, /(e)n/, /e/, /er/, /em/, /ens/, /st/, /Umlaut/; já os segundos são /e/, /(e)st/, /(e)t/, /(e)n/, /nd/, /t/, /Ablaut/, /Umlaut/, e o prefixo /ge/. Os nominais são utilizados em declinações e construção do plural. Já os verbais são utilizados em conjugações tanto de verbos regulares quanto em verbos irregulares. Ainda mais, os morfemas podem também se combinar, sendo que as vogais negritadas e em itálico e com o Umlaut - /a/, /o/, /u/ se tornam /ä/, /ü/ e /ö/, como podese ver abaixo) caracterizam quando a palavra – geralmente uma monossilábica que contenha uma das vogais em questão – está em sua forma plural, como pode se observar em: Lied Bank Feder Lied-er Bänk-e Feder-e Lied-er-n Bänk-e-n Feder-e-n dümm-e-r-e dümm-e-r-e-n krank kränk-e kränk-e-r dumm kränk-e-r-e dumm-e kränk-e-r-e-n dümm-e-r Construção de Palavras Na língua alemã, existem características particulares a construção de palavras, sendo que os plurais, dependendo da terminação da palavra em questão, podem terminar em /e/, /en/ ou mesmo não haver mudança na mesma ou caso a palavra seja monossilábica, como visto no tópico anterior, há a mudança na vogal do radical, podendo haver ou não a adição do /e/ ou /en/ em seu final. Exemplos: die Unfruchtbarkeitsgottheit (fem. sing.) → die Unfruchtbarkeitsgottheiten (plural) das Pferd (neut. sing.) → die Pferde (plural) der Tanker (masc. sing.) → die Tanker (plural) Um caso a se notar são as contrapartes femininas e plurais dos substantivos masculinos, com se pode notar em: der Freund (masc. sing.) – die Freundin (fem. sing) die Freunde (masc. plural) – die Freundinnen (fem. plural) der Lehrer (masc. sing.) – die Lehrerin (fem. sing) die Lehrer (masc. plural) – die Lehrerinnen (fem. plural) Para a formação de palavras compostas de duas palavras (como a utilizada no começo deste artigo), pode-se utilizar tanto de substantivos com substantivos, substantivos e adjetivos, entre outras combinações que apresentem sentido no alemão. Lehr- Lehr-e-r Lehr-e Lehr-e-r-in Lehr-e-r-in-nen Lehr + Körper = Lehrkörper Lehr + Plan = Lehrplan Lehr + Buch = Lehrbuch Lehr + Stuhl = Lehrstuhl Lehr + Jahr = Lehrjahr Categorias de Palavras As Categorias de palavras na língua alemã têm as seguintes caracterizações: Adjetivos: podem seguir ou não a declinação dos artigos que os antecedem, tal como podem ser simples (froh, heiss, böse) ou compostos (vorsichtig, entrüstet, herablassend). Advérbios: podem ser simples (wo, wie, seit) ou compostos (warum, wohin, hinaus), dependendo da significação que se deseja no contexto. Conjunções: são usadas para conectar partes de frases, orações principais e orações subordinadas. Algumas das mais frequentes são und, oder, aber, wenn, als, dass e aber. Preposições: São palavras que representam substantivos, com a função de evitar repetições pesado e esclarecimento de várias relações entre os mesmos. Existem vários tipos, como pessoais (ich, du, ihr), reflexivos (sich, uns, dir), relativos (deren, welchem, denen) etc. Artigos: obedecem aos substantivos na oração, podendo ser masculinos, femininos, neutros, ou plural, dependendo da declinação regida pelo verbo ou pela preposição e, tal como em nossa língua mater, definidos ou indefinidos. Numerais: seguem regras particulares de construção, que vão dos simples – eins, zwei, drei, etc. – até os compostos com sufixos – zwanzig, dreißig, fünfzig – ou outros números – fünfundfünfzig, dreihundert. Pronomes: São termos que identificam a relação entre as diferentes palavras de classes diferentes, podendo ser locais (exs.: hinter, in, neben), temporais (exs.: binnen, durch, innerhalb), causais (exs.: anlässlich, mangels, trotz) e modais (exs.: auf, gemäß, statt), também variando de acordo com o contexto em que se encontram, sendo regidas por um ou mais casos da língua alemã. Substantivos: começam sempre com letras maiúsculas. Ex.: Krieg, Traurigkeit. Os substantivos podem ser masculinos, femininos ou neutros. Verbos: podem ser simples – ex.: gehen, sagen, sein – ou compostos, i.e.: acompanhados de radicais separáveis ou não – ausdrücken, übernehmen, verlieren. Processos Morfológicos São as associações de dois elementos mórficos, produzindo novos signos linguísticos, obedecendo princípios estabelecidos, que variam de possibilidade de combinação em quaisquer idiomas. São quatro os processos morfológicos – Adição, Reduplicação, Alternância e Subtração –, mas somente os dois primeiros possuem relevância na língua alemã, como poderá ser compreendido adiante. (a) Adição: quando um ou mais morfemas são adicionados à base, que pode ser um radical. Em glücklich, têm-se os morfemas glück-lich, onde -lich é um morfema aditivo, também conhecido como afixo, que tem cinco tipos de função em relação à base. (i) Sufixo: situado depois do radical Ex: Haus – Häuser – häuslich (ii) Prefixo: situado antes do radical. Ex: prefixos verbais, como ver- (ändern → verändern), be- (zeichnen → bezeichnen); e a partícula da-, como em davon, dafür e dagegen. (iii) Os infixos acontecem em casos bem particulares: na junção de palavras através de conectivos – na língua alemã, os conhecidos Fugenelemente, as partículas de ligação –, que são o /s/, o /n/ e o /en/, como em: Frauenbewegung, (iv) Circunfixos: anexam-se ao radical de modo descontínuo. Em alemão, sua principal ocorrência acontece em verbos conjugados no Particípio do Passado iniciados com a partícula ge e terminados tanto em -t quando em -en ou mesmo em -et. ge_en ge_t ge_et fahren gefahren fühlen gefühlt heiraten geheiratet rufen gerufen reisen gereist senden gesendet Porém deve-se compreender que os circunfixos não possuem regras para serem conjugados no Pretérito Perfeito dos verbos, uma vez que os verbos começados, como, por exemplo, be-, ver-, er- e zer-, não possuem o ge em suas formas pretéritas. com be-: kommen + be- = bekommen → (habe) bekommen; não begekommen com ver-: stehen + ver- = verstehen → (habe) verstanden; não vergestanden com er-: farhen + er- = erfahren → (habe) erfahren; não ergefahren com zer-: schlagen + zer- = zerschlagen → (habe) zerschlagen; não zergeschlagen (v) Os transfixos são descontínuos e trabalham do mesmo modo. Em idiomas germânicos – aqui, o alemão – são comuns na conjugação de verbos irregulares, como nos exemplos: nehmen: ich nehme, du nimmst (presente); ich nahm (pretérito); ich habe genommen (particípio do passado) laufen: ich laufe, du läufst (presente); ich lief (pretérito); ich bin gelaufen (particípio do passado) finden: ich finde, du findest (presente); ich fand (pretérito); ich habe gefunden (particípio do passado) essen: ich esse, du isst (presente); ich aß (pretérito); ich habe gegessen (particípio do passado) (b) Reduplicação: é um tipo especial de afixo, repetindo um fonema do radical, com ou sem modificação. Segundo Rosa (2005), nas línguas clássicas – grego, latim e sânscrito – está associado à flexão verbal. Já na língua alemã, é comum no particípio do passado do verbo geben (e, em um caso particular, no particípio do passado do verbo essen), e na preposição gegen. geben → gegeben; Ex: angegeben e aufgegeben essen → gegessen Conclusão Deve-se observar que esta produção acadêmica não passa de um ponto de partida para um estudo mais aprofundado da morfologia de língua alemã. O estudo deste campo de pesquisa da linguística para este idioma germânico é de vital importância para a compreensão do mesmo, seja ensinado em qualquer nível escolar ou mesmo em cursos livres, para que o aprendente possa obter a fluência e o entendimento necessários para uma melhor aquisição da língua, seja a nível escrito e/ou falado. Um último fato a ser observado e considerado reside em como trabalhar a Morfologia nos diferentes níveis de escolaridade, sendo que nem todos os aprendentes estão capacitados a receber tal carga de conhecimento específico de forma imediata. Relevando isto, o(a) professor(a) deve ter discernimento suficiente de como ministrar tal conteúdo em classe para que a classe em questão possa usufruir e receber o mesmo. Referências Bibliográficas CARONE, F. B. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, Série Fundamentos, 2002. HEIBIG, G; BUSCHA, J. Deutsche Grammatik: ein Handbuch für den Auslanderunterricht. Berlim: Langenscheidt, 1996. LYONS, J. Language and Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 1981. MÜLLER, M et. al. Optimal A2: Lehrwerke für Deutsche als Fremdsprache. Berlim: Langenscheidt, 2005. PETTER, M. M. T. Morfologia. In: Introdução à lingüística II: princípios de análise. José Luiz Fiorin (org.). 3. ed. São Paulo: Contexto, 2004. ROSA, M. C. Introdução à morfologia. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2003. SANDALO. F. Morfologia. In: Introdução a lingüística: domínios e fronteiras, v.1. Fernanda Mussalin e Anna Christina Bentes (orgs.). São Paulo: Cortez, 2001. SPENCER, A. Morphological Theory. 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