Diabetes e Atividade Física

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Texto de apoio ao curso de Especialização
Atividade Física Adaptada e Saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
Diabetes e Atividade Física
Introdução
O nome diabetes foi dado pelo romano Aretaeus (séc.1), pois os pacientes urinavam muito ,
parecendo , para a época , que a urina passava por um sifão ( tubo em curva ) que fazia uma
espécie de via direta entre a boca e a bexiga . Em 1660 ,Thomas Willis descobre o gosto
açucarado da urina de diabéticos , dando origem ao termo melito .
Sifão = diabetes , em latim
Melito = adocicado , urina com muito açúcar .
Em 1775 , Matthew Dobson reconhece a glicose como sendo responsável pelo gosto açucarado da
urina de diabéticos , mas foi Appolinaire Bouchardat (1806-1886) o primeiro a utilizar os exercícios
físicos no tratamento .
A insulina foi descoberta em 1921 por Banting e Best , passando a ser utilizada como tratamento
em 1922 . Em 1955 , foi descoberto o primeiro remédio via oral .
Classificação
A diabetes pode ser de dois tipos :
1. Tipo 1 , ou insulino dependente (infanto - juvenil)
2. Tipo 2 , ou não insulino dependente (adulto) . às vezes é necessário o uso de insulina .
Mecanismo do diabetes tipo 2
A ação é feita nos receptores celulares de insulina , que são os locais onde a insulina vai se unir às
células , levando a glicose para seu interior (célula) , permitindo liberar , então , a energia nele
contida .Os receptores são como uma espécie de fechadura nas células e a insulina é a chave que
abre as portas para o açúcar entrar . No diabetes tipo 2 os receptores se tornam mais resistentes
aos efeitos da insulina . Essa resistência à ação da insulina se torna mais acentuada e precoce
com o excesso de peso (80% dos diabéticos são obesos). A resistência celular aumenta com a
ociosidade e diminui com a atividade física .
Efeitos da Insulina
Para que o objetivo desse estudo seja alcançado , se faz necessário , uma pequena descrição de
alguns efeitos da insulina sobre o organismo :
1. Estimula a formação de glicogenio hepático . Essa forma de estoque de glicose funciona
como uma espécie de "reservatório de emergência", de que o organismo lança mão toda vez
que a glicemia ( quantidade de glicose no sangue) baixa . É valido ressaltar que o glicogenio
hepático se quebre em glicose ( manutenção da glicemia) , é necessária a presença de
outro hormônio , o gulcagon .
2. Provocam rápido transporte de glicose para dentro das fibras musculares . A ação da
insulina ocorre na membrana da célula muscular , favorecendo a entrada de glicose na
célula .
3. Diminui o consumo de ácidos graxos . Essa situação é uma conseqüência direta da função
anterior , uma vez que a célula muscular passa a utilizar os carboidratos (glicose estocada
nos músculos) , devido à grande oferta , como fonte de energia .
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4. A insulina promove também a síntese de ácidos graxos , formando-se daí os triglicerídeos
(forma em que a gordura é estocada nas células de gordura). Esse fenômeno ocorre no
fígado , sendo , por conseguinte , transportado pelo sangue até as células de gordura .
5. A insulina tem papel anabólico importante , pois além de estimar a biossíntese de proteínas
a partir de aminoácidos ,evita também a sua degradação .
O treinamento corporal parece causar um aumento na sensibilidade dos tecidos à insulina ,
diminuindo , assim , a necessidade orgânica de insulina .Esse fato representa uma economia de
insulina , efeito esse muito importante no tratamento da diabetes .
Glucagon
Ele é secretado toda vez em que o nível de insulina diminui . É um hormônio que tem funções
opostas à insulina , ou seja :
1. Aumentar a taxa glicêmica , liberando glicose hepática .
2. Aumentar a oferta de ácidos graxos para o sistema energético .
É válido lembrar que toda vez em que o organismo estiver com alta glicêmica é diminuída a taxa de
glucagon no plasma , ocorrendo o inverso quando o organismo estiver em baixa taxa glicêmica .
Então , em relação às taxas de glucagon no plasma , seu comportamento , quando em
comparação com a insulina é justamente o oposto .
Alta taxa glicêmica - insulina>glucagon
Baixa taxa glicêmica - insulina<glucagon
Durante o exercício , o nível de glucagon aumenta em até 5 vezes . Esse efeito evita que ocorra
queda brusca da glicemia durante o exercício , uma vez que , ainda por mecanismo pouco
explicado ,a célula muscular durante o exercício se torna permeável à glicose , sem a necessidade
de grandes quantidades de insulina (a taxa de insulina cai durante o exercício) . Em conseqüência
desse mecanismo inesplicado , a taxa de glicose no sangue baixa , sendo necessário que o
organismo lance mão do glucagon para que o glicogênio hepático seja quebrado e com isso
lançada mais glicose no sangue (manutenção da glicemia).
Mecanismo do diabetes tipo 2
Acontece quando o próprio sistema imunológico da pessoa destrói as células beta ( responsáveis
pela secreção de insulina , como visto anteriormente) do pâncreas .
Essas células passam a ser reconhecidas pelo organismo como estranhas . A partir desse
momento o sistema imunológico se encarrega de destrui-las , levando ao quadro de dependência
desse hormônio , isto é , a pessoa torna-se insulino dependente .Quando se iniciam as queixas do
quadro clinico (poliúria , polidipsia , polifagia etc.) , normalmente já foram , quase que por completo
(mais ou menos 90%), destruídas as células beta do pâncreas ( responsável pela insulina) .
Outros casos
Representam um pequeno percentual da população diabética :
 Má nutrição crônica .
 Doenças endócrinas , liberam grandes quantidades de hormônios antagônicos à insulina.
Quadro clínico
Poliúria Devido a quantidade alta de glicose no sangue é eliminada pela urina , passando a
pessoa a urinar com freqüência.
Polidipsia Devido a poliúria , para que não ocorra a desidratação , a pessoa passa a Ter muita
sede e a beber muita água .
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Polifagia O que o diabético come não é devidamente aproveitado , ficando circulante no sangue .
As células dos diabéticos são como crianças pobres , famintas , olhando pelas vidraças dos
restaurantes , vendo passar um monte de comida , sem poder comê-las . As células mandam sinais
aos centros nervosos dizendo : estamos com fome queremos comer , surgindo uma vontade
grande de comer .
Apesar de comer muito , os tecidos do diabéticos não aproveitam adequadamente os nutrientes da
alimentação (1) , além disso , como a urina é freqüente e abundante , o diabético mesmo bebendo
muita água , acaba desidratando (2) . Enfim , pela associação dos mecanismos 1 e 2 , o diabético
perde peso ( emagrecimento ).
Como a glicose não é aproveitada se insulina , o organismo lança mão de outros nutrientes para
fornecer energia , tais como as gorduras e as proteínas .
Na ausência de insulina , as gorduras são mal utilizadas , favorecendo o acúmulo de ácidos
cetônicos , levando o paciente a um quadro de acidose (origem do alito de maçã verde , comum ao
diabético) , chamado coma diabético , que freqüentemente leva ao óbito .
Então os componentes do quadro clinico , são : políuria , polidipsia , polifagia , perda de peso ,
sonolência , cansaço fácil , confusão mental , e coma diabético devido a produção de ácidos que
destróem as estruturas cerebrais , podendo levar à morte .
Taxa de glicose e atividade física :
80 ou menos - paciente hipoglicêmico . Contra indicado o exercício .
80 a 110 - nível glicêmico normal . Exercício liberado .
110 ou mais - aluno hiperglicêmico . Contra indicado o exercício . Nesse item se faz uma ressalva
ao aluno que apresente uma taxa glicêmica entre 110 e 140 , podendo , nesse caso , o mesmo ,
praticar exercício .
Diabetes e o exercício
A diabetes é caracterizada pela deficiência ou falta de insulina , que possui uma ação anabólica e
hipoglicimiante (diminuição da taxa de açúcar no sangue) , facilitando a penetração de glicose nas
células .
A deficiência causa um aumento exagerado na glicemia (hiperglicemia) . Nesse contexto a
atividade é indicada porque ajuda no tratamento da diabetes podendo oferecer um melhor controle
da glicose .
O exercício obriga o organismo a utilizar maiores quantidades de glicose , melhorando , como visto
anteriormente , a relação glicose - insulina - tecidos , através da aumento da sensibilidade dos
tecidos à insulina , diminuindo , desta maneira , a necessidade de insulina no transporte de glicose
para dentro dos tecidos . Esse efeito pode levar à redução na administração de insulina . O
diabético que pratica esporte rotineiramente tem um controle mais estável com menos doses de
insulina .
Pode durante o exercício ocorrer hipoglicêmia . É valido lembrar que durante o exercício físico a
entrada de glicose na fibra muscular está facilitada , ainda que por mecanismos não
compreendidos pela ciência . Essa condição (hipoglicemia) pode ser facilitada pela administração
de insulina exógena imediatamente antes da sessão de exercícios , ocorrendo dessa maneira uma
grande utilização de glicose , causando , enfim hipoglicemia . Este fato confirma a necessidade de
um bom relacionamento unidade professor - aluno - médico . Outro cuidado é não exercitar o local
onde a insulina é injetada . Em outras palavras , no diabetes tipo 1 , o exercício tem que ser
condicionado à dose de insulina , podendo ser:
Lenta início , duas horas e meia e duração de aproximadamente 24 h.
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NPH início , uma hora e meia e duração de aproximadamente 24h. É o tipo mais utilizado .
No caso de hipoglicemia durante o exercício , é conveniente que logo após o aparecimento dos
sintomas de hipoglicemia (náuseas , tremores , câimbras e fraqueza) interrompa-se a atividade e
mande o aluno chupar uma bala , tomar um suco ou água açucarada .
Diabéticos não devem levar aplicações de insulina nos membros inferiores , isso porque esse local
é muito utilizado durante os exercícios , sendo o tronco o lugar mais indicado .Durante o pico de
ação da insulina deve ser evitada a atividade física .
NPH 4 a 12 horas
Lenta 7 a 15 horas
Outro cuidado seria não utilizar o mesmo local sempre ao se aplicar insulina , pois essa manobra
pode levar à lipodistrofia , formação de buracos no local devido a mobilização de gordura localizada
.
Em relação ao grupo que utiliza hipoglicimiante , deve-se dar um espaço de tempo entre a dose e a
atividade física , sendo este intervalo variável em função do tipo do hipoglicimiante .Ex. no caso de
ser utilizado o dianicron , o intervalo entre a dose e o exercício é de 4 a 6 h .
A atividade física , principalmente a aeróbica , aumenta a quantidade das lipoproteínas de alta
densidade , que protegem o organismo contra problemas coronarianos .
O aumento da vascularização é uma adaptação fisiológica do organismo que ocorre ,
principalmente , através de estímulos aeróbicos .
É recomendado que os diabéticos envolvidos em exercícios físicos utilizem doses de vitaminas E e
C , selenium quelado , zinco e caroteno ( antioxidantes) . A diabetes , como a maioria dos
processos degenerativos e destrutivos , vem acompanhada de elevação dos radicais livres .
A obesidade aumenta a resistência à insulina , sendo que a obesidade é um dos principais fatores
desencadeado de diabetes em indivíduos geneticamente predispostos 9historico familiar de
diabetes) .
O consumo de insulina pela gordura é muito grande , Portanto , em alguns casos (tipo2) , a simples
diminuição no % de gordura pode controlar a glicemia . Sabe-se que a formula para um bom
emagrecimento , ou seja , o emagrecimento sadio é o exercício em conjunto com a dieta adequada
.
Algumas recomendações
1. Ter sempre contato com o médico do aluno , observando a evolução do seu quadro clinico e
físico.
2. Freqüência semanal , pelo menos 3 vezes em dias alternados .
3. Progressividade no aumento das cargas .
4. Distribuir de maneira estratégica , tanto o horário , quanto os músculos que serão utilizados
por sessão . Observando o horário e o local da aplicação de insulina .
5. O professor e o aluno devem estar atentos a possíveis casos de hipoglicemia .
Alguns objetivos gerais
 Controlar o peso corporal .
 Regular o nível de glicose sangüínea .
 Diminuir o risco de doença coronariana .
 Elevar a auto estima .
 Prevenção da nefropatia hepática - através da melhora do controle da diabetes (
medicamentos , alimentação adequada e atividade física) , pode-se , prevenir casos de
nefropatia hepática , que é uma complicação renal grave e surge , principalmente , em
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pessoas com mais de 10 anos de diabetes mal controlada . Uma vez instalado o tratamento
, pode-se Ter apenas o controle , porque não existe cura para a nefropatia . Essa doença
eleva também a pressão arterial do paciente . É considerada por alguns médicos como a
principal complicação da diabetes .
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