ENTEROPARASITOSE EM CRIANÇAS COM IDADE DE 1 A 12 ANOS NO BAIRRO VICENTE CORDEIRO NO MUNICÍPIO DE SÃO CAITANO – PE. RAFAELA DJANIRA DE SOUZA1 ; RISOLANGE MARIA LEMOS1; HENRYZALVA BRAGA LIMA ALVES2 1 2 Discentes da Escola Estadual Agamenon Magalhães – São Caitano-PE ([email protected]) Especialista em Ciências Biológica. Docente da Escola Estadual Agamenon Magalhães – São Caitano-PE São Caitano – PE 2008 RESUMO: As infecções parasitárias constituem um importante problema de saúde pública, principalmente em populações de baixo nível social, econômico e educacional, cujas condições de higiene e moradias são insatisfatórias. Dentre os indivíduos acometidos por enteroparasitoses, as crianças representam um grupo em que o problema se agrava, já que essa patologia pode afeta o equilíbrio nutricional, além do desenvolvimento físico e cognitivo. Este trabalho teve como objetivo estabelecer a real prevalência de enteroparasitoses presentes em crianças carentes de 1 a 12 anos de idade residentes no Bairro Vicente Cordeiro, localizado no Município de São Caitano (PE), Brasil. Foram analisadas 80 amostras, no período de março a maio de 2008, segundo o método de sedimentação espontânea de Hoffman. Após a análise estatística dos resultados dos exames, observou uma positividade de 37,5% das crianças avaliadas, dos quais foram registrados maiores índices de infecção por Ascaris lumbricoides (53,3%), seguidos por Giardia intestinalis (20,0%), Entamoeba coli (13,3%) e Trichuris trichiura (13,3%). Não houve associação estatística significativa entre faixas etárias e condições parasitárias. Mediante os resultados obtidos concluímos que a prevalência de enteroparasitose no grupo estudado é menor que o esperado, já que a comunidade apresenta um cenário de elevada suscetibilidade, onde o fator sócio-econômicoeducacional da população e das condições sanitárias do bairro são pontos imprescindíveis para a origem do problema exposto. PALAVRAS – CHAVES: Enteroparasitoses, Crianças carentes, Prevalência. INTRODUÇÃO: As infecções parasitárias constituem um importante problema de saúde pública, principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (PRADO, et al., 2001). Dentro deste contexto, as crianças, principalmente as de baixa idade, representam uma população em que o problema se agrava. Apesar de isoladamente não apresentarem alta letalidade, as enteroparasitoses podem ser analisadas como co-fatores da morbi – mortalidade infantil, considerando que infecções por parasitos intestinais podem afetar o equilíbrio nutricional, e o desenvolvimento físico e cognitivo da criança (BARRETO, 2006). A elevada prevalência destas parasitoses está relacionada, na maioria das vezes, com as condições sócioeconômicas, sanitárias e educacionais da população. (LUDWIG et al., 1999). E a contaminação da água, solo e alimentos pelos ovos, cistos ou larvas destes parasitos contribuem facilmente com a disseminação dessas patologias, causando reais danos à saúde humana. Diante dessa realidade, torna-se de suma importância conhecer o índice dessas parasitoses, bem como os fatores de risco que implicam a sua difusão, visando a baixa qualidade de vida justificada pela falta de moradia adequada, alimentação básica, saneamento básico e escolaridade. O objetivo desse estudo foi estabelecer a real prevalência de enteroparasitoses presentes em crianças carentes de 1 a 12 anos de idade residentes no Bairro Vicente Cordeiro, localizado no Município de São Caitano (PE), Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS: O presente estudo apresentou caráter descritivo-analítico com vista a avaliar a ocorrência de enteroparasitoses em crianças de 1 a 12 anos de idade no período de março a maio de 2008. Inicialmente foi explanado aos pais e moradores o objetivo e a importância do estudo. Após o consentimento informado pelo responsável da família foi aplicado um questionário padronizado pelos pesquisadores. Foram cadastradas 100 crianças, onde apenas 80 participaram da pesquisa. As amostras foram colhidas em recipientes estéreis, acondicionadas em depósito resfriado e encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia da Faculdade do Agreste de Pernambuco (FAAPE), no qual sob a orientação da professora desenvolvemos o procedimento técnico do exame. O diagnóstico laboratorial foi processado utilizando o método de sedimentação espontânea de Hoffman, no qual é altamente eficiente para a pesquisa de todos os parasitas. A técnica foi desenvolvida com cerca de 4 g de fezes recém emitidas, dissolvidas num recipiente utilizando água destilada, em seguida o material foi filtrado em peneira contendo gazes e transferido para um cálice de decantação. Posteriormente acrescentou até ¾ do volume de água destilada e deixou repousar em superfície firme por no mínimo 2 horas. Após o tempo determinado retirou o sedimento com uma pipeta de Pasteur e transferiu para uma lâmina de vidro adicionando 1 gota de solução de Lugol e cobrindo com uma lamínula. Finalizando com a observação ao microscópio em objetiva de 10x. Todos os laudos com resultados positivos foram encaminhados ao Posto de Saúde do Município com a expectativa das mães receberem orientações sobre medidas profiláticas contra parasitose, bem como a medicação específica para o tratamento da criança. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nesta pesquisa, foi realizado o processamento parasitológico de 80 amostras, sendo que destas, 30 (37,5%) foram positivas para enteroparasitose, enquanto que 50 (62,5%) foram negativas conforme demonstra o Gráfico 1. 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% Positivo 30,00% Negativo 20,00% 10,00% 0,00% Gráfico 1- Freqüência relativa de exames positivos e negativos verificado durante o período de março a maio de 2008 nas crianças de 1 a 12 anos na Comunidade Vicente Cordeiro no Município de São Caitano-Pernambuco/Brasil Na análise de distribuição e freqüências dos parasitos, observou-se que Ascaris lumbricoides foi o parasita mais comum nas crianças infectadas (53,3%), seguidos por Giardia intestinalis (20,0%), Entamoeba coli (13,3%) e Trichuris trichiura (13,3%) – Gráfico 2. Estas ocorrências provavelmente foram devido aos fatos das residências do bairro não apresentarem o sistema de água encanada ligado à rede tratada, galerias fluviais construídas de forma inadequada, educação sanitária, acúmulo de lixo e a convivência contínua com insetos.Verificou-se também que não foram encontradas associações entre parasitas em uma mesma amostra. 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% Ascaris lumbricoides Giardia intestinalis Entamoeba coli Trichuris trichiura 10,00% 0,00% Gráfico 2 - Freqüência relativa de enteroparasitas verificados durante o período de março a maio de 2008 nas crianças de 1 a 12 anos na Comunidade Vicente Cordeiro no Município de São Caitano-Pernambuco/Brasil A correlação entre a prevalência de enteroparasitoses e idade , não foi significativa nos diversos grupos – Gráfico 3. Isto evidencia que , independentemente da faixa etária ocorreu um acometimento homogêneo, devido às crianças estarem sujeitas aos mesmos fatores de riscos para doença parasitária. 35,00% 30,00% 25,00% Ascaris lumbricoides 20,00% Giardia intestinalis 15,00% Entamoeba coli 10,00% Trichuris trichiura 5,00% 0,00% 1 - 3 anos 4 - 6 anos 7 - 9 anos 10 - 12 anos Gráfico 3 - Freqüência (%) de prevalência de enteroparasitose de acordo com a faixa etária durante o período de março a maio de 2008 nas crianças de 1 a 12 anos na Comunidade Vicente Cordeiro no Município de São Caitano - Pernambuco/Brasil. Na avaliação sócio-econômica, nossos dados demonstram que todos os participantes estão incluídos nas classes salariais mais baixas e com menor grau de escolaridade. Em relação aos hábitos higiênicos, observou que as crianças têm maior conhecimento acerca de procedimentos simples, como por exemplo à importância da lavagem adequada das mãos, refletindo uma necessidade de educação sanitária para pais e/ou responsáveis. Entre estas crianças 90,0% lavam as mãos sempre após ir ao banheiro e antes das refeições, enquanto que 10,0% o fazem às vezes. Apenas 6,6% afirmaram que não tem o hábito de andarem descalços, portanto 93,4% apresentam a freqüência de andarem descalços diariamente. Em relação às instalações sanitárias, na maioria dos casos (56,7%) estão localizadas fora das residências. O destino do esgoto no bairro é depositado a céu aberto podendo contaminar diretamente os indivíduos, ou indiretamente quando atinge lençóis e águas como poços e rios, onde estas fontes são utilizadas pela comunidade sem que haja tratamento antes do consumo. Estudo realizado por Prado (2001) também mostram que a infestação por enteroparasitas está claramente relacionada com a pobreza e precariedade das condições de higiene e saneamento. CONCLUSÃO: Diante dos resultados observados é relevante destacar que o bairro Viscente Cordeiro apresenta um cenário de suscetibilidade compatível com o nível elevado de enteroparasitose, porém os índices encontrados neste trabalho foram baixos, onde houve dificuldades relacionadas ao número mínimo de crianças, uma única amostra, bem como a escolha de apenas um método parasitológico. Fazendo-se necessário um estudo mais detalhado. Portanto constatamos que o fator sócio-econômico-educacional da população e das condições sanitárias do bairro são pontos imprescindíveis para a origem do problema exposto. Desta forma se faz necessário o acompanhamento das condições de saúde da comunidade local, além da implantação de medidas que visem conscientizar e orientar a população sobre a transmissão das enteroparasitoses, já que um dos pontos chave para combater as doenças infecto-contagiosas é a Educação. AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Laboratório de Parasitologia da Faculdade do Agreste de Pernambuco – FAAPE e a comunidade Viscente Cordeiro pelo apoio recebido para a concretização deste estudo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: BARRETO, J.G. Detecção da incidência de enteroparasitos nas crianças carentes da cidade de Guaçuí – ES. Revista Brasileira de Análise Clínica, v. 38, n. 4, p. 223-221, ago. 2006. LUDWIG, K. M.; FREI, F.; ALVARES FILHO, F.; RIBEIRO-PAES, J. T. Correlação entre condições de saneamento básico e parasitoses intestinais na população de Assis, Estado de São Paulo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.32, n. 5, p. 555-547, out. 1999. PRADO, M.S.; BARRETO, M.L.; STRINA, A. ;FARIA, J.A.S.; NOBRE, A.A.; JESUS, S.R. Prevalência e intensidade da infecção por parasitas intestinais em crianças na idade escolar na cidade de Salvador (Bahia, Brasil). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 34, n.1, p. 101-99, fev. 2001.