Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 97 ESTADO NUTRICIONAL E DIETÉTICO DE PACIENTES COM CÂNCER DE ESÔFAGO DURANTE O TRATAMENTO DE RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA NUTRITIONAL AND DIETARY STATUS OF PATIENTS WITH ESOPHAGUS CANCER DURING THE RADIATION AND CHEMOTHERAPY TREATMENT Jarbas Batista Camargos1 Leonardo Augusto Couto Finelli2 Joyce Kelle Nunes3 Amanda Gomes Oliveira3 RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar, mediante questionário e avaliação antropométrica, o estado nutricional e dietético de pacientes com câncer durante o tratamento de radioterapia e quimioterapia. A amostra se constituiu de oito pacientes do sexo masculino, com diagnóstico de câncer de esôfago. As entrevistas foram realizadas em dois momentos, com a aplicação de questionários e avaliação antropométrica. Solicitou-se autorizações ao paciente ou responsável através do termo de consentimento livre e esclarecido. A idade mínima foi de 64 anos e a máxima de 79. Com relação à raça foi identificado que 50,0% (4) pessoas eram brancos, quanto ao estado civil 50,0% (4) eram casados. De acordo com a escolaridade, 62,5% (5) não estudaram, e 62,5% (5) têm renda de 2 salários mínimos. Sobre a história familiar, 62,5% (5) não há casos de doenças oncológicas na família. De acordo com a alimentação 75% (6), se alimentam com o auxilio de sonda. Conforme os sintomas apresentados 50% (4), apresentam vômito, intestino preso e boca seca. O diagnóstico precoce do câncer de esôfago, concedido através da aplicação dos questionários, é de notável importância na evolução do tratamento, pois torna possível a aplicação de intervenções imediatas e, por isso, mais eficientes, podendo contribuir na melhora do prognóstico da doença e no alívio dos sinais e sintomas presentes nos pacientes. Palavras-Chave: Câncer. Sintomas. Quimioterapia. Radioterapia. Esôfago. ABSTRACT This study aims to analyze, through a questionnaire and anthropometric evaluation, nutritional and dietary status of cancer patients during radiotherapy and chemotherapy. The sample consisted of eight male patients, diagnosed with esophageal cancer. Interviews were conducted in two phases, with the application of questionnaires and anthropometric assessment. Permits were applied to the patient or responsible through free and informed consent. The minimum age was 64 years and a maximum of 79. Regarding the race was identified that 50,0% (4) people were white, as marital status 50,0% (4) were married. According to education, 62,5% (5) were analphabets, and 62,5% (5) have an income of two minimum wages. About family history, 62,5% (5) there are no cases of cancer in the family. According to the 75% power (6), with the feed probe aid. As the symptoms in 50% (4), have vomiting, constipated, and dry mouth. Early diagnosis of esophageal cancer, granted through the application of questionnaires, is of considerable importance in the evolution of treatment, because the application of immediate intervention is possible and therefore more efficient and can contribute in improving the prognosis of the disease and in the relief of the signs and symptoms present in patients. Keywords: Cancer. Symptoms. Chemotherapy. Radiotherapy. Esophagus. 1 Mestre em Biotecnologia (Unincor), Graduado em Química (Unifor). Docente das Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE, Docente das Faculdades Prisma – FAP, Coordenador do Pibid, FAP, Membro da Equipe de Pesquisa do Centro de Pesquisa da rede SOEBRAS. 2 Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), Graduado em Psicologia (UFMG), Graduado em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE, E-mail: <[email protected]> 3 Graduada(s) em Nutrição (FUNORTE). Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 98 INTRODUÇÃO O câncer pode ser definido como uma enfermidade multicausal crônica, caracterizada pelo crescimento descontrolado de células. Seu desenvolvimento envolve alterações do DNA celular, que se acumulam com o tempo (OLIVEIRA; BONELI; PIZZATO, 2010). Segundo dados do Ministério da Saúde, em especial do Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2010), a cada ano o câncer atinge pelo menos nove milhões de pessoas e mata cerca de cinco milhões, sendo atualmente a segunda causa de morte por doença na maioria dos países, inclusive no Brasil. No Brasil, o câncer de esôfago é o sexto caso mais freqüente entre os homens e décimo quinto entre as mulheres. O tipo de câncer de esôfago mais freqüente é o carcinoma epidermoide escamoso, responsável por 96% dos casos (INCA, 2011). Segundo Cuppari (2005), a idade avançada é considerada o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer. Com o aumento da expectativa de vida da população, há também um esperado incremento da incidência de neoplasia maligna. Os fatores de risco importantes para o câncer de esôfago é o álcool, tabaco, consumo de bebidas quentes e uma alimentação contaminada por fungos (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 2000; ROLÓN et al., 1995). Geralmente, o diagnóstico para câncer é tardio, pois o carcinoma é insidioso, ou seja, quando a disfagia se manifesta no organismo o câncer já se espalhou. Os pacientes demonstram sintomas alterando progressivamente a sua dieta, substituindo os alimentos sólidos pelos líquidos, levando a uma redução de peso que resulta em desnutrição (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 2000; GARCIA-LAMÔNICA et al., 2008). Cerca de 80% dos pacientes com câncer apresentam desnutrição já no momento do diagnóstico. Essa desnutrição é do tipo calórico-proteica e ocorre devido a um desequilíbrio entre a ingestão e as necessidades nutricionais desses pacientes (ALFONSI et al., 2006; FEARON; VOSS; HUSTEAD, 2006; SILVA, 2006). A prevenção do câncer é dividida em primária, secundária e terciária. A prevenção primária evita que a doença ocorra reduzindo a exposição a fatores de risco. A prevenção secundária detecta a doença antes que ela se torne sintomática, é quando uma intervenção pode preveni-la. A prevenção terciária reduz as complicações da doença quando ela já é clinicamente evidente (ANDREOLI et al., 2002). A agressão do tratamento cirúrgico, quimioterápico e radioterápico conduz a anorexia e, conseqüentemente, a piora no estado nutricional do paciente. Os efeitos colaterais geralmente aparecem após a primeira semana de tratamento. Os mais freqüentes são anorexia, xerostomia, disfagia, mucosite e alteração do paladar (CUPPARI, 2005). Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 99 O tratamento para o paciente é paliativo, uma vez que o paciente já chega ao médico em estado grave com metástase em outros órgãos, fazendo com que não seja mais passível de ser curado da doença (QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2006; THULER; FORONES; FERRARI, 2006). A três formas de tratamento para o câncer são radioterapia, quimioterapia e cirúrgica. Essas são usadas em conjunto e de acordo com a ordem de sua indicação (BRASIL, 2014). Segundo Dias et al. (2006), o tratamento quimioterápico é constituído por medicamentos que podem controlar ou curar o câncer, os medicamentos destroem as células malignas, que impedem a formação de um novo DNA, induzindo a apoptose ou bloqueando as funções importantes da célula. Já para Lopes, Coletta e Alves (1998), a radioterapia é uma modalidade terapêutica para o tratamento na região do câncer que atinge células neoplásicas e as células normais. Por fim, Eldridge (2005), entende a cirurgia ou remoção de qualquer parte como uma intervenção de tratamento. Pode ser usada como um único meio de tratamento de câncer ou ser combinada com a quimioterapia e radioterapia. A avaliação do estado nutricional como parte do tratamento do câncer vem sendo utilizada por ser considerada de grande importância, devido ao estado nutricional tratar-se de um fator preditor de morbidade (ANDRADE; KALNICKI; HERON, 2004; WAITZBERG, 2004). A finalidade da avaliação nutricional é reunir informações adequadas para fazer um julgamento profissional sobre o estado nutricional. A avaliação nutricional é a primeira etapa do processo de tratamento nutricional (A.S.P.E.N., 2002; LACEY; PRITCHETT, 2003). A terapia nutricional entra com o papel de minimizar os efeitos colaterais, prevenir e tratar a desnutrição, garantindo a oferta adequada de nutrientes para minimizar o catabolismo protéico e a perda nitrogenada (ELDRIDGE, 2005). Segundo Salas e Peiro (2013), o consumo de verduras e frutas há um efeito protetor, pois contém um grande número de agentes anticancerígenos com mecanismos complementares. As carnes vermelhas processadas estão vinculadas a causas de cânceres. Os cereais com alto teor de fibras são associados a um menor risco de câncer. O binômio dieta e nutrição tem relação com causas e consequências do câncer. Quando há depleção do estado nutricional, associa-se diminuição da função imune, o que favorece o avanço da doença. Para isso a nutrição pode colaborar com a diminuição da taxa de infecções e do tempo de hospitalização no tratamento de pacientes com câncer, além de melhorar a qualidade de vida do mesmo (OLIVEIRA; BONELI; PIZZATO, 2010). Segundo Eldridge (2005), as recomendações nutricionais importantes são o consumo de alimentos saudáveis; adotar um estilo de vida fisicamente ativo; atingir e manter um peso corporal adequado e limitar o consumo de bebidas alcoólicas. Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 100 Segundo Queiroga e Pernambuco (2006), o câncer de esôfago é uma neoplasia de prognóstico reservado e todos os esforços devem ser dirigidos para o desenvolvimento de programa de detecção precoce da doença. O objetivo deste estudo foi analisar, mediante questionário e avaliação antropométrica, o estado nutricional e dietético de pacientes com câncer durante o tratamento de radioterapia e quimioterapia. MATERIAL E MÉTODOS Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) pela plataforma Brasil, sob resolução CNS n° 466/12, foi obtido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de todos os participantes. Foi realizado estudo clínico de caráter descritivo, corte transversal e análise quantitativa, com pacientes portadores de câncer de esôfago em tratamento quimioterápico e radioterápico. O período analisado foi de agosto a setembro de 2015, e todos os pacientes atendidos eram do Sistema Único de Saúde (SUS). A amostra se constituiu de 8 pacientes do sexo masculino, acima de 18 anos de idade, com diagnóstico de câncer de esôfago. Foram incluídos pacientes com câncer de esôfago em tratamento radioterápico e quimioterápico com idade maior ou igual à 18 anos que aceitaram participar da pesquisa. As entrevistas foram realizadas em dois momentos, no primeiro foram aplicados dois questionários, um socioeconômico e outro de avaliação nutricional. No segundo momento foi feita uma avaliação antropométrica onde foi aferido peso, altura e circunferência do braço. 1. Questionário socioeconômico, este instrumento foi composto por questões como: idade, estado civil, estilo de vida, raça, escolaridade, renda familiar, tipo de moradia, meio de transporte, número de pessoas que residem com o paciente, história familiar, diagnóstico e tratamento da doença. 2. Questionário de avaliação nutricional ASG-PPP, Gonzalez et al. (2010), validado na versão em português da avaliação subjetiva global produzida pelo paciente. Composto por questões como: Avaliação antropométrica, alimentação, sintomas e atividade diária. Os pacientes foram submetidos à avaliação antropométrica, por meio do peso e altura e classificados pelo Índice de Massa Corporal – IMC, segundo o INCA (2010), Circunferência do Braço – CB pelos critérios de Blackburn et al. (1977). Foi aferido o peso corporal dos pacientes por meio de uma balança digital da marca Britânia, com capacidade de 150 kg e precisão de 100g. Foi utilizada uma fita métrica não elástica para aferir Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 101 a CB e a altura. As entrevistas foram efetuadas pelas mesmas pesquisadoras, em ambos os atendimentos. Para análise estatística, os dados foram registrados no programa Microsoft Excel, para posterior análise descritiva das variáveis coletadas, utilizando gráficos, tabelas e artigos para posteriores comparações dos dados. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, na Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012, inciso III, alínea G é necessário contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou representante legal. O projeto de pesquisa obedeceu aos critérios dessa resolução, danos previsíveis foram evitados e foi comprometido com o máximo de benefícios e o mínimo de dados e riscos. Foram pedidas autorizações ao paciente ou responsável através do termo de consentimento livre e esclarecido. RESULTADOS Participaram do estudo 8 pacientes com câncer de esôfago que estavam no tratamento de radioterapia e quimioterapia, sendo todos do sexo masculino. A idade mínima foi de 64 anos e a máxima de 79. Com relação à raça foi identificado que 50% (4) pessoas eram brancos, quanto ao estado civil 50% (4) eram casados. De acordo com a escolaridade, 62,5% (5) não estudaram, e 62,5% (5) têm renda de 2 salários mínimos. O tempo de diagnostico foi 50% (4) de 6 meses a um ano. Sobre a história familiar, 62,5% (5) não há casos de doenças oncológicas na família, conforme tabela 1. Tabela 1 - Perfil socioeconômico dos pacientes em estudo com câncer de esôfago Variável Raça Estado Civil Escolaridade Renda Tempo de diagnostico História Familiar Negros Brancos Pardos Casados Viúvos Separados Solteiro Não estudou Da 1° a 4° série fundamental 2 salários mínimos De 2 á 4 salários mínimos Menos de 6 meses De 6 meses a 1 ano De 1 ano a 2 anos Há casos de doenças oncológicas na família Não há casos de doenças oncológicas na família N° 2 4 2 4 2 1 1 5 3 5 3 3 4 1 % 25,0 50,0 25,0 50,0 25,0 12,5 12,5 62,5 37,5 62,5 37,5 37,5 50,0 12,5 3 37,5 5 62,5 Fonte: dados da pesquisa. Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 102 Pela avaliação antropométrica, o IMC mínimo foi de 13,04 e o máximo de 17,5, sendo que todos os pacientes se encontravam no grau de magreza ou desnutrição, de acordo com Lipschitz (1994) o IMC ideal é de 22,0 - 27,0. Foi observado que durante as duas ultimas semanas todos os pacientes tiveram uma perda de peso significativa. A tabela 2 apresenta os resultados em estudo encontrados no questionário de avaliação subjetiva global - ASG-PPP. De acordo com a alimentação 75% (06), se alimentam com o auxilio de sonda. Conforme os sintomas apresentados 50% (04), sentem ânsia de vômito, intestino preso e boca seca. Quanto à atividade diária 50% (04), sentem-se capazes de fazer pouca atividade e passam a maior parte do dia na cadeira, ou na cama. De acordo com o estilo de vida, todos 100% (08) eram ex-tabagistas e ex-alcoolistas. Tabela 2 - Avaliação Nutricional Subjetiva de pacientes em estudo com câncer de esôfago Variável Alimentação Sintomas Atividade Diária Estilo de Vida No momento minha alimentação é feita com auxilio de sonda Estou comendo menos que o normal Vômito, intestino preso e boca seca Vômito, intestino preso Vômito Não tenho problemas para me alimentar, mas estou sem vontade de comer Não no meu normal, mas consigo realizar minhas atividades satisfatoriamente Sinto-me capaz de fazer pouca atividade e passo a maior parte do dia na cadeira ou na cama Ex-tabagista Ex-alcoolista N 6 2 4 2 1 % 75,0 25,0 50,0 25,0 12,5 1 12,5 4 50,0 4 50,0 8 8 100% 100% Fonte: dados da pesquisa. DISCUSSÃO Neste estudo foi observado que a maioria dos pacientes avaliados eram do sexo masculino, idosos, casados, com baixa escolaridade e baixa renda. De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que a prevalência de câncer de esôfago foi no sexo masculino e em idosos. Resultados encontrados na literatura afirmam que, no que se refere ao câncer de esôfago, há prevalência de homens e assim como em outras doenças, a incidência de CA aumenta marcadamente com a idade. O nível socioeconômico baixo, de forma isolada não é um fator que aumenta o risco de CA, mas sim da co-relação com vários fatores de risco como hábitos alimentares e uso do tabaco. Os dados associados á baixa escolaridade podem encontrar justificativa no desconhecimento que os pacientes têm acerca dos fatores de risco do CA, e nas dificuldades de compreensão dos fatores de prevenção e tratamento (CAMPELO; LIMA, 2012; QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2006). Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 103 Nos resultados obtidos neste estudo realizado foi verificado que a maioria dos pacientes era de cor branca e a minoria de cor negra e parda, então foi observado que há uma predominância da cor branca em relação ao câncer de esôfago. Na América do Norte e na Europa Ocidental, a doença é muito mais comum em negros do que em brancos. Uma característica interessante é a sua rara ocorrência antes dos 30 anos (DEVESSA; BLOT; FRAUMENI JUNIOR, 1998). No estudo foi observado que 50% dos pacientes tiveram o diagnóstico da doença durante seis meses a um ano. A neoplasia de esôfago é geralmente diagnosticada em fase tardia, quando a doença já se apresenta localmente avançada ou metastática (WATSON, 2003). De acordo com Lipschitz (1994), os indivíduos são classificados como baixo-peso com IMC < 22kg/m²; eutrofia, IMC entre 22kg/m² e 27kg/m²; e sobrepeso IMC > 27kg/m². Resultados obtidos neste estudo constataram que todos os pacientes estavam com uma perda de peso significativa, pois todos os pacientes avaliados estavam no grau de desnutrição e tendo uma baixa ingestão de alimentos. Segundo Dias et al. (2006), foi encontrado em seu estudo uma prevalência de 55% de perda de peso, sendo que a metade dos pacientes avaliados apresentou também manifestações gastrintestinais e diminuição da ingestão energética, tornando ainda maior o risco de desnutrição. No estudo foi observado que a maioria dos pacientes se alimentavam com o auxílio de sonda e os que se alimentavam por via oral comiam menos que o normal, devido aos sintomas apresentados durante o período do tratamento. As aversões alimentares aconteciam devido a esses problemas acometidos, pois os pacientes tinham dificuldade para se alimentar com alimentos sólidos e suas preferências eram por alimentos líquidos e pastosos. Segundo Malafaia (2005), de acordo com os sintomas da doença o paciente modifica sua dieta passando a ingerir alimentos sólidos em menor quantidade e, posteriormente, pastosos e líquidos. A quimioterapia, o tratamento cirúrgico e a radioterapia, apresentam como efeitos colaterais náuseas, vômitos, significativa redução na quantia de alimentos ingeridos, anormalidades no paladar, alterações de preferências alimentares, mucosite, estomatite, diarreia e constipação, resultando em baixa da ingestão alimentar e consequente piora do estado nutricional, elevando assim os índices de morbimortalidade (ARGILÉS et al., 2010; DIAS et al., 2006). O agravo do quadro de desnutrição pode ainda levar ao estado de caquexia oncológica. Ou seja, “uma síndrome multifatorial caracterizada por uma contínua perda de massa muscular esquelética”, podendo, ou não ser acompanhada por perda de tecido adiposo, e que resulta em dano funcional ao paciente (FEARON et al., 2011). Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 104 Acrescenta-se ainda, que a desnutrição advinda de câncer, pode acometer também pacientes neoplásicos submetidos a tratamento cirúrgico, que de acordo com o tipo e o estágio do tumor, podem vir a requerer mais energia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Estudos sugerem que o tratamento nutricional traz resultados positivos ao paciente, tanto em relação à sua resposta à cirurgia, prevenindo a interrupção e reduzindo o número de complicações provenientes dos tratamentos, como também melhorando a qualidade de vida dos pacientes, possibilitando a redução do período de internação e dos custos hospitalares (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009; OLIVEIRA, 2007). Neste estudo os sintomas mais freqüentes foram vômito, intestino preso e boca seca, fazendo com que o paciente não se alimentasse corretamente entrando para o grau de desnutrição. A dietoterapia é importante para melhorar o estado nutricional do paciente e assim minimizar os riscos de desnutrição. A dietoterapia vem então com o intuito de melhorar a alimentação dos pacientes durante o tratamento, com ela podemos incluir as seguintes medidas: consumir alimentos e preparações de maior preferência, que nauseiem menos; consumir devagar e várias vezes ao dia, líquidos em pequena quantidade e que tolere melhor (podem ser sucos, chás ou água de coco) (EBERHARDIE, 2002; WHO, 2004). No caso de intestino preso a dietoterapia visa aumentar a hidratação e o teor de fibras alimentares na dieta. As principais medidas dietoterápicas que podem ser adotadas são: fracionar a dieta em seis refeições por dia ou mais, dependendo da aceitação alimentar; estimular a ingestão de líquidos, em cerca de 1,5 litros a 2 litros por dia, que também variará em função da presença de edemas. Pode ser através do consumo de preparações e alimentos com maior teor hídrico (SANTOS, 2002; WHO, 2004). As principais recomendações alimentares no caso de boca seca (xerostomia) são: se bem tolerado, chupar frutas cítricas, para estimular a salivação; ingerir líquidos em pequenos volumes e várias vezes ao dia, inclusive durante as refeições, para facilitar a deglutição e a mastigação (EBERHARDIE, 2002; WHO, 2004). De acordo com o IBGE (2010), dos seis tipos de câncer com maior índice de mortalidade no Brasil, metade (pulmão, colo de útero e esôfago) tem o cigarro como um de seus fatores de risco. A associação do fumo e consumo de bebidas alcoólicas potencializam o risco de desenvolver câncer de esôfago (GAROFOLO et al., 2004; KAMANGAR et al., 2007; TANABE et al., 2001). Neste estudo foi constatado que todos os pacientes com câncer de esôfago já fizeram o uso do tabaco e álcool por mais de trinta anos. O uso de tabaco e álcool mostrou-se como um fator de risco predominante para o câncer de esôfago. Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 105 O tabagismo, portanto, desfavorece a longevidade, sendo um dos fatores de risco para o câncer de esôfago. Os efeitos benéficos da suspensão do fumo são evidentes, em todas as faixas etárias, até mesmo nos idosos, pois todos os pacientes tiveram que suspender o uso do tabaco após o diagnóstico da doença favorecendo assim, uma maior qualidade e expectativa de vida. Os benefícios com a interrupção do hábito de fumar são maiores entre os mais jovens, porém o abandono do cigarro, em qualquer idade, reduz o risco de morte e melhora a condição geral de saúde. Após o abandono do cigarro, espera-se um aumento de dois a três anos na expectativa de vida entre idosos com 65 anos ou mais, que fumam até um maço de cigarros por dia (GOURLAY; BENOWITZ, 1996, COX, 1993). Resultados encontrados na pesquisa mostraram que a maioria dos pacientes avaliados não tinha fator hereditário do câncer, porém caso há algum membro na família acometido por câncer devem ser instruídas quanto à possibilidade desse ser herdado e sobre a realização de um diagnóstico precoce, fazendo assim com que haja uma menor taxa de mortalidade na família e a melhoria da qualidade de vida. Foi verificado neste estudo que o câncer de esôfago pode ser acometido devido ao estilo de vida, pois o álcool e tabaco são fatores predominantes para este tipo de patologia. Foi observado no estudo que os pacientes conseguiam realizar suas atividades diárias, mas não satisfatoriamente, fazendo com que passe a maior parte do tempo na cama ou cadeira. A presença do sintoma obtido no tratamento interfere na capacidade funcional, limita a realização de atividades habituais levando a maior dependência do paciente em relação ao cuidador (CARVALHO; PEREIRA JUNIOR; NEGREIROS, 2009; MELIN-JOHANSSON et al., 2010). CONCLUSÃO O câncer de esôfago é uma neoplasia relativamente comum e seu diagnóstico é feito tardiamente dificultando assim uma boa melhora no tratamento. Conclui-se então que os pacientes submetidos ao processo de tratamento tendem a ter uma maior chance de desnutrição. Desta forma, é evidente a importância da avaliação nutricional e dietética desses pacientes, ofertando uma dieta equilibrada minimizando assim, os sintomas que interferem no estado nutricional. REFERÊNCIAS A.S.P.E.N. BOARD OF DIRECTORS. Guidelines for the use of parenteral and enteral nutrition in adults and pediatric patients. J Parenter Enteral Nutr., v. 26, n. 1, supl. 2002. Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016. Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago 106 ALFONSI, F. L.; CAMPELO, M. R. G.; PATO, G. C.; CALVO, O. F. Nutrición en el paciente com cancer. Guías Clínicas, v. 6, n. 14, 2006. ANDRADE, R. S.; KALNICKI, S.; HERON, D. E. Considerações nutricionais na radioterapia. In: D. L. WAITZBERG. Dieta, nutrição e câncer. São Paulo: Atheneu; 2004. p. 106-16. ANDREOLI, T.; CARPENTER, C. J.; BENNETT, J. C.; GRIIGS, R. C.; LOSCALZO, J. Cecil Medicina Interna Básica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. ARGILÉS, J. M. et al. Consensus on cachexia definitions. J Am Med Assoc., v. 11, n. 4, p. 229-30, mai. 2010. BLACKBURN, G. L.; BISTRAIN, B. R.; MAINI, B. S.; SCHLAMN, H. T.; SMITH, M. F. Nutritional and metabolic assessment of hospitalized patients. J Parenter Enter Nutr., v. 1, p. 1132, ago. 1977. BRASIL. Ministério da Saúde/Secretaria de Atenção a Saúde/Departamento de Regulação, Avaliação e Controle/Coordenação Geral de Sistemas de Informação. 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