avaliação do estado nutricional e dietético de pacientes com câncer

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Estado nutricional e dietético de pacientes com câncer de esôfago
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ESTADO NUTRICIONAL E DIETÉTICO DE PACIENTES COM CÂNCER DE ESÔFAGO
DURANTE O TRATAMENTO DE RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA
NUTRITIONAL AND DIETARY STATUS OF PATIENTS WITH ESOPHAGUS CANCER
DURING THE RADIATION AND CHEMOTHERAPY TREATMENT
Jarbas Batista Camargos1
Leonardo Augusto Couto Finelli2
Joyce Kelle Nunes3
Amanda Gomes Oliveira3
RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar, mediante questionário e avaliação antropométrica, o estado
nutricional e dietético de pacientes com câncer durante o tratamento de radioterapia e
quimioterapia. A amostra se constituiu de oito pacientes do sexo masculino, com diagnóstico de
câncer de esôfago. As entrevistas foram realizadas em dois momentos, com a aplicação de
questionários e avaliação antropométrica. Solicitou-se autorizações ao paciente ou responsável
através do termo de consentimento livre e esclarecido. A idade mínima foi de 64 anos e a máxima
de 79. Com relação à raça foi identificado que 50,0% (4) pessoas eram brancos, quanto ao estado
civil 50,0% (4) eram casados. De acordo com a escolaridade, 62,5% (5) não estudaram, e 62,5% (5)
têm renda de 2 salários mínimos. Sobre a história familiar, 62,5% (5) não há casos de doenças
oncológicas na família. De acordo com a alimentação 75% (6), se alimentam com o auxilio de
sonda. Conforme os sintomas apresentados 50% (4), apresentam vômito, intestino preso e boca
seca. O diagnóstico precoce do câncer de esôfago, concedido através da aplicação dos
questionários, é de notável importância na evolução do tratamento, pois torna possível a aplicação
de intervenções imediatas e, por isso, mais eficientes, podendo contribuir na melhora do
prognóstico da doença e no alívio dos sinais e sintomas presentes nos pacientes.
Palavras-Chave: Câncer. Sintomas. Quimioterapia. Radioterapia. Esôfago.
ABSTRACT
This study aims to analyze, through a questionnaire and anthropometric evaluation, nutritional and
dietary status of cancer patients during radiotherapy and chemotherapy. The sample consisted of
eight male patients, diagnosed with esophageal cancer. Interviews were conducted in two phases,
with the application of questionnaires and anthropometric assessment. Permits were applied to the
patient or responsible through free and informed consent. The minimum age was 64 years and a
maximum of 79. Regarding the race was identified that 50,0% (4) people were white, as marital
status 50,0% (4) were married. According to education, 62,5% (5) were analphabets, and 62,5% (5)
have an income of two minimum wages. About family history, 62,5% (5) there are no cases of
cancer in the family. According to the 75% power (6), with the feed probe aid. As the symptoms in
50% (4), have vomiting, constipated, and dry mouth. Early diagnosis of esophageal cancer, granted
through the application of questionnaires, is of considerable importance in the evolution of
treatment, because the application of immediate intervention is possible and therefore more efficient
and can contribute in improving the prognosis of the disease and in the relief of the signs and
symptoms present in patients.
Keywords: Cancer. Symptoms. Chemotherapy. Radiotherapy. Esophagus.
1
Mestre em Biotecnologia (Unincor), Graduado em Química (Unifor). Docente das Faculdades Unidas do Norte de
Minas – FUNORTE, Docente das Faculdades Prisma – FAP, Coordenador do Pibid, FAP, Membro da Equipe de
Pesquisa do Centro de Pesquisa da rede SOEBRAS.
2
Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), Graduado em Psicologia (UFMG), Graduado
em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE, E-mail:
<[email protected]>
3
Graduada(s) em Nutrição (FUNORTE).
Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016.
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98
INTRODUÇÃO
O câncer pode ser definido como uma enfermidade multicausal crônica, caracterizada pelo
crescimento descontrolado de células. Seu desenvolvimento envolve alterações do DNA celular,
que se acumulam com o tempo (OLIVEIRA; BONELI; PIZZATO, 2010).
Segundo dados do Ministério da Saúde, em especial do Instituto Nacional de Câncer (INCA,
2010), a cada ano o câncer atinge pelo menos nove milhões de pessoas e mata cerca de cinco
milhões, sendo atualmente a segunda causa de morte por doença na maioria dos países, inclusive no
Brasil.
No Brasil, o câncer de esôfago é o sexto caso mais freqüente entre os homens e décimo
quinto entre as mulheres. O tipo de câncer de esôfago mais freqüente é o carcinoma epidermoide
escamoso, responsável por 96% dos casos (INCA, 2011).
Segundo Cuppari (2005), a idade avançada é considerada o principal fator de risco para o
desenvolvimento de câncer. Com o aumento da expectativa de vida da população, há também um
esperado incremento da incidência de neoplasia maligna. Os fatores de risco importantes para o
câncer de esôfago é o álcool, tabaco, consumo de bebidas quentes e uma alimentação contaminada
por fungos (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 2000; ROLÓN et al., 1995).
Geralmente, o diagnóstico para câncer é tardio, pois o carcinoma é insidioso, ou seja,
quando a disfagia se manifesta no organismo o câncer já se espalhou. Os pacientes demonstram
sintomas alterando progressivamente a sua dieta, substituindo os alimentos sólidos pelos líquidos,
levando a uma redução de peso que resulta em desnutrição (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 2000;
GARCIA-LAMÔNICA et al., 2008).
Cerca de 80% dos pacientes com câncer apresentam desnutrição já no momento do
diagnóstico. Essa desnutrição é do tipo calórico-proteica e ocorre devido a um desequilíbrio entre a
ingestão e as necessidades nutricionais desses pacientes (ALFONSI et al., 2006; FEARON; VOSS;
HUSTEAD, 2006; SILVA, 2006).
A prevenção do câncer é dividida em primária, secundária e terciária. A prevenção primária
evita que a doença ocorra reduzindo a exposição a fatores de risco. A prevenção secundária detecta
a doença antes que ela se torne sintomática, é quando uma intervenção pode preveni-la. A
prevenção terciária reduz as complicações da doença quando ela já é clinicamente evidente
(ANDREOLI et al., 2002).
A agressão do tratamento cirúrgico, quimioterápico e radioterápico conduz a anorexia e,
conseqüentemente, a piora no estado nutricional do paciente. Os efeitos colaterais geralmente
aparecem após a primeira semana de tratamento. Os mais freqüentes são anorexia, xerostomia,
disfagia, mucosite e alteração do paladar (CUPPARI, 2005).
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O tratamento para o paciente é paliativo, uma vez que o paciente já chega ao médico em
estado grave com metástase em outros órgãos, fazendo com que não seja mais passível de ser
curado da doença (QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2006; THULER; FORONES; FERRARI,
2006).
A três formas de tratamento para o câncer são radioterapia, quimioterapia e cirúrgica. Essas
são usadas em conjunto e de acordo com a ordem de sua indicação (BRASIL, 2014).
Segundo Dias et al. (2006), o tratamento quimioterápico é constituído por medicamentos
que podem controlar ou curar o câncer, os medicamentos destroem as células malignas, que
impedem a formação de um novo DNA, induzindo a apoptose ou bloqueando as funções
importantes da célula. Já para Lopes, Coletta e Alves (1998), a radioterapia é uma modalidade
terapêutica para o tratamento na região do câncer que atinge células neoplásicas e as células
normais. Por fim, Eldridge (2005), entende a cirurgia ou remoção de qualquer parte como uma
intervenção de tratamento. Pode ser usada como um único meio de tratamento de câncer ou ser
combinada com a quimioterapia e radioterapia.
A avaliação do estado nutricional como parte do tratamento do câncer vem sendo utilizada
por ser considerada de grande importância, devido ao estado nutricional tratar-se de um fator
preditor de morbidade (ANDRADE; KALNICKI; HERON, 2004; WAITZBERG, 2004).
A finalidade da avaliação nutricional é reunir informações adequadas para fazer um
julgamento profissional sobre o estado nutricional. A avaliação nutricional é a primeira etapa do
processo de tratamento nutricional (A.S.P.E.N., 2002; LACEY; PRITCHETT, 2003).
A terapia nutricional entra com o papel de minimizar os efeitos colaterais, prevenir e tratar a
desnutrição, garantindo a oferta adequada de nutrientes para minimizar o catabolismo protéico e a
perda nitrogenada (ELDRIDGE, 2005).
Segundo Salas e Peiro (2013), o consumo de verduras e frutas há um efeito protetor, pois
contém um grande número de agentes anticancerígenos com mecanismos complementares. As
carnes vermelhas processadas estão vinculadas a causas de cânceres. Os cereais com alto teor de
fibras são associados a um menor risco de câncer.
O binômio dieta e nutrição tem relação com causas e consequências do câncer. Quando há
depleção do estado nutricional, associa-se diminuição da função imune, o que favorece o avanço da
doença. Para isso a nutrição pode colaborar com a diminuição da taxa de infecções e do tempo de
hospitalização no tratamento de pacientes com câncer, além de melhorar a qualidade de vida do
mesmo (OLIVEIRA; BONELI; PIZZATO, 2010).
Segundo Eldridge (2005), as recomendações nutricionais importantes são o consumo de
alimentos saudáveis; adotar um estilo de vida fisicamente ativo; atingir e manter um peso corporal
adequado e limitar o consumo de bebidas alcoólicas.
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100
Segundo Queiroga e Pernambuco (2006), o câncer de esôfago é uma neoplasia de
prognóstico reservado e todos os esforços devem ser dirigidos para o desenvolvimento de programa
de detecção precoce da doença.
O objetivo deste estudo foi analisar, mediante questionário e avaliação antropométrica, o
estado nutricional e dietético de pacientes com câncer durante o tratamento de radioterapia e
quimioterapia.
MATERIAL E MÉTODOS
Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) pela plataforma Brasil, sob
resolução CNS n° 466/12, foi obtido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de todos os
participantes.
Foi realizado estudo clínico de caráter descritivo, corte transversal e análise quantitativa,
com pacientes portadores de câncer de esôfago em tratamento quimioterápico e radioterápico. O
período analisado foi de agosto a setembro de 2015, e todos os pacientes atendidos eram do Sistema
Único de Saúde (SUS).
A amostra se constituiu de 8 pacientes do sexo masculino, acima de 18 anos de idade, com
diagnóstico de câncer de esôfago. Foram incluídos pacientes com câncer de esôfago em tratamento
radioterápico e quimioterápico com idade maior ou igual à 18 anos que aceitaram participar da
pesquisa.
As entrevistas foram realizadas em dois momentos, no primeiro foram aplicados dois
questionários, um socioeconômico e outro de avaliação nutricional. No segundo momento foi feita
uma avaliação antropométrica onde foi aferido peso, altura e circunferência do braço.
1. Questionário socioeconômico, este instrumento foi composto por questões como: idade,
estado civil, estilo de vida, raça, escolaridade, renda familiar, tipo de moradia, meio de transporte,
número de pessoas que residem com o paciente, história familiar, diagnóstico e tratamento da
doença.
2. Questionário de avaliação nutricional ASG-PPP, Gonzalez et al. (2010), validado na
versão em português da avaliação subjetiva global produzida pelo paciente. Composto por questões
como: Avaliação antropométrica, alimentação, sintomas e atividade diária.
Os pacientes foram submetidos à avaliação antropométrica, por meio do peso e altura e
classificados pelo Índice de Massa Corporal – IMC, segundo o INCA (2010), Circunferência do
Braço – CB pelos critérios de Blackburn et al. (1977).
Foi aferido o peso corporal dos pacientes por meio de uma balança digital da marca Britânia,
com capacidade de 150 kg e precisão de 100g. Foi utilizada uma fita métrica não elástica para aferir
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a CB e a altura. As entrevistas foram efetuadas pelas mesmas pesquisadoras, em ambos os
atendimentos.
Para análise estatística, os dados foram registrados no programa Microsoft Excel, para
posterior análise descritiva das variáveis coletadas, utilizando gráficos, tabelas e artigos para
posteriores comparações dos dados.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, na Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012,
inciso III, alínea G é necessário contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da
pesquisa e/ou representante legal. O projeto de pesquisa obedeceu aos critérios dessa resolução,
danos previsíveis foram evitados e foi comprometido com o máximo de benefícios e o mínimo de
dados e riscos. Foram pedidas autorizações ao paciente ou responsável através do termo de
consentimento livre e esclarecido.
RESULTADOS
Participaram do estudo 8 pacientes com câncer de esôfago que estavam no tratamento de
radioterapia e quimioterapia, sendo todos do sexo masculino. A idade mínima foi de 64 anos e a
máxima de 79. Com relação à raça foi identificado que 50% (4) pessoas eram brancos, quanto ao
estado civil 50% (4) eram casados. De acordo com a escolaridade, 62,5% (5) não estudaram, e
62,5% (5) têm renda de 2 salários mínimos. O tempo de diagnostico foi 50% (4) de 6 meses a um
ano. Sobre a história familiar, 62,5% (5) não há casos de doenças oncológicas na família, conforme
tabela 1.
Tabela 1 - Perfil socioeconômico dos pacientes em estudo com câncer de esôfago
Variável
Raça
Estado Civil
Escolaridade
Renda
Tempo de
diagnostico
História
Familiar
Negros
Brancos
Pardos
Casados
Viúvos
Separados
Solteiro
Não estudou
Da 1° a 4° série fundamental
2 salários mínimos
De 2 á 4 salários mínimos
Menos de 6 meses
De 6 meses a 1 ano
De 1 ano a 2 anos
Há casos de doenças oncológicas
na família
Não há casos de doenças
oncológicas na família
N°
2
4
2
4
2
1
1
5
3
5
3
3
4
1
%
25,0
50,0
25,0
50,0
25,0
12,5
12,5
62,5
37,5
62,5
37,5
37,5
50,0
12,5
3
37,5
5
62,5
Fonte: dados da pesquisa.
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Pela avaliação antropométrica, o IMC mínimo foi de 13,04 e o máximo de 17,5, sendo que
todos os pacientes se encontravam no grau de magreza ou desnutrição, de acordo com Lipschitz
(1994) o IMC ideal é de 22,0 - 27,0. Foi observado que durante as duas ultimas semanas todos os
pacientes tiveram uma perda de peso significativa.
A tabela 2 apresenta os resultados em estudo encontrados no questionário de avaliação
subjetiva global - ASG-PPP. De acordo com a alimentação 75% (06), se alimentam com o auxilio
de sonda. Conforme os sintomas apresentados 50% (04), sentem ânsia de vômito, intestino preso e
boca seca. Quanto à atividade diária 50% (04), sentem-se capazes de fazer pouca atividade e
passam a maior parte do dia na cadeira, ou na cama. De acordo com o estilo de vida, todos 100%
(08) eram ex-tabagistas e ex-alcoolistas.
Tabela 2 - Avaliação Nutricional Subjetiva de pacientes em estudo com câncer de esôfago
Variável
Alimentação
Sintomas
Atividade
Diária
Estilo de Vida
No momento minha alimentação é feita com auxilio de sonda
Estou comendo menos que o normal
Vômito, intestino preso e boca seca
Vômito, intestino preso
Vômito
Não tenho problemas para me alimentar, mas estou sem
vontade de comer
Não no meu normal, mas consigo realizar minhas atividades
satisfatoriamente
Sinto-me capaz de fazer pouca atividade e passo a maior parte
do dia na cadeira ou na cama
Ex-tabagista
Ex-alcoolista
N
6
2
4
2
1
%
75,0
25,0
50,0
25,0
12,5
1
12,5
4
50,0
4
50,0
8
8
100%
100%
Fonte: dados da pesquisa.
DISCUSSÃO
Neste estudo foi observado que a maioria dos pacientes avaliados eram do sexo masculino,
idosos, casados, com baixa escolaridade e baixa renda. De acordo com os resultados obtidos,
verificou-se que a prevalência de câncer de esôfago foi no sexo masculino e em idosos.
Resultados encontrados na literatura afirmam que, no que se refere ao câncer de esôfago, há
prevalência de homens e assim como em outras doenças, a incidência de CA aumenta
marcadamente com a idade. O nível socioeconômico baixo, de forma isolada não é um fator que
aumenta o risco de CA, mas sim da co-relação com vários fatores de risco como hábitos alimentares
e uso do tabaco. Os dados associados á baixa escolaridade podem encontrar justificativa no
desconhecimento que os pacientes têm acerca dos fatores de risco do CA, e nas dificuldades de
compreensão dos fatores de prevenção e tratamento (CAMPELO; LIMA, 2012; QUEIROGA;
PERNAMBUCO, 2006).
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Nos resultados obtidos neste estudo realizado foi verificado que a maioria dos pacientes era
de cor branca e a minoria de cor negra e parda, então foi observado que há uma predominância da
cor branca em relação ao câncer de esôfago.
Na América do Norte e na Europa Ocidental, a doença é muito mais comum em negros do
que em brancos. Uma característica interessante é a sua rara ocorrência antes dos 30 anos
(DEVESSA; BLOT; FRAUMENI JUNIOR, 1998).
No estudo foi observado que 50% dos pacientes tiveram o diagnóstico da doença durante
seis meses a um ano. A neoplasia de esôfago é geralmente diagnosticada em fase tardia, quando a
doença já se apresenta localmente avançada ou metastática (WATSON, 2003).
De acordo com Lipschitz (1994), os indivíduos são classificados como baixo-peso com IMC
< 22kg/m²; eutrofia, IMC entre 22kg/m² e 27kg/m²; e sobrepeso IMC > 27kg/m². Resultados
obtidos neste estudo constataram que todos os pacientes estavam com uma perda de peso
significativa, pois todos os pacientes avaliados estavam no grau de desnutrição e tendo uma baixa
ingestão de alimentos.
Segundo Dias et al. (2006), foi encontrado em seu estudo uma prevalência de 55% de perda
de peso, sendo que a metade dos pacientes avaliados apresentou também manifestações
gastrintestinais e diminuição da ingestão energética, tornando ainda maior o risco de desnutrição.
No estudo foi observado que a maioria dos pacientes se alimentavam com o auxílio de sonda
e os que se alimentavam por via oral comiam menos que o normal, devido aos sintomas
apresentados durante o período do tratamento. As aversões alimentares aconteciam devido a esses
problemas acometidos, pois os pacientes tinham dificuldade para se alimentar com alimentos
sólidos e suas preferências eram por alimentos líquidos e pastosos.
Segundo Malafaia (2005), de acordo com os sintomas da doença o paciente modifica sua
dieta passando a ingerir alimentos sólidos em menor quantidade e, posteriormente, pastosos e
líquidos.
A quimioterapia, o tratamento cirúrgico e a radioterapia, apresentam como efeitos colaterais
náuseas, vômitos, significativa redução na quantia de alimentos ingeridos, anormalidades no
paladar, alterações de preferências alimentares, mucosite, estomatite, diarreia e constipação,
resultando em baixa da ingestão alimentar e consequente piora do estado nutricional, elevando
assim os índices de morbimortalidade (ARGILÉS et al., 2010; DIAS et al., 2006).
O agravo do quadro de desnutrição pode ainda levar ao estado de caquexia oncológica. Ou
seja, “uma síndrome multifatorial caracterizada por uma contínua perda de massa muscular
esquelética”, podendo, ou não ser acompanhada por perda de tecido adiposo, e que resulta em dano
funcional ao paciente (FEARON et al., 2011).
Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016.
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104
Acrescenta-se ainda, que a desnutrição advinda de câncer, pode acometer também pacientes
neoplásicos submetidos a tratamento cirúrgico, que de acordo com o tipo e o estágio do tumor,
podem vir a requerer mais energia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Estudos sugerem que o tratamento nutricional traz resultados positivos ao paciente, tanto em
relação à sua resposta à cirurgia, prevenindo a interrupção e reduzindo o número de complicações
provenientes dos tratamentos, como também melhorando a qualidade de vida dos pacientes,
possibilitando a redução do período de internação e dos custos hospitalares (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2009; OLIVEIRA, 2007).
Neste estudo os sintomas mais freqüentes foram vômito, intestino preso e boca seca, fazendo
com que o paciente não se alimentasse corretamente entrando para o grau de desnutrição. A
dietoterapia é importante para melhorar o estado nutricional do paciente e assim minimizar os riscos
de desnutrição.
A dietoterapia vem então com o intuito de melhorar a alimentação dos pacientes durante o
tratamento, com ela podemos incluir as seguintes medidas: consumir alimentos e preparações de
maior preferência, que nauseiem menos; consumir devagar e várias vezes ao dia, líquidos em
pequena quantidade e que tolere melhor (podem ser sucos, chás ou água de coco) (EBERHARDIE,
2002; WHO, 2004).
No caso de intestino preso a dietoterapia visa aumentar a hidratação e o teor de fibras
alimentares na dieta. As principais medidas dietoterápicas que podem ser adotadas são: fracionar a
dieta em seis refeições por dia ou mais, dependendo da aceitação alimentar; estimular a ingestão de
líquidos, em cerca de 1,5 litros a 2 litros por dia, que também variará em função da presença de
edemas. Pode ser através do consumo de preparações e alimentos com maior teor hídrico
(SANTOS, 2002; WHO, 2004).
As principais recomendações alimentares no caso de boca seca (xerostomia) são: se bem
tolerado, chupar frutas cítricas, para estimular a salivação; ingerir líquidos em pequenos volumes e
várias vezes ao dia, inclusive durante as refeições, para facilitar a deglutição e a mastigação
(EBERHARDIE, 2002; WHO, 2004).
De acordo com o IBGE (2010), dos seis tipos de câncer com maior índice de mortalidade no
Brasil, metade (pulmão, colo de útero e esôfago) tem o cigarro como um de seus fatores de risco.
A associação do fumo e consumo de bebidas alcoólicas potencializam o risco de
desenvolver câncer de esôfago (GAROFOLO et al., 2004; KAMANGAR et al., 2007; TANABE et
al., 2001).
Neste estudo foi constatado que todos os pacientes com câncer de esôfago já fizeram o uso
do tabaco e álcool por mais de trinta anos. O uso de tabaco e álcool mostrou-se como um fator de
risco predominante para o câncer de esôfago.
Revista Bionorte, v. 5, n. 1, fev. 2016.
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O tabagismo, portanto, desfavorece a longevidade, sendo um dos fatores de risco para o
câncer de esôfago. Os efeitos benéficos da suspensão do fumo são evidentes, em todas as faixas
etárias, até mesmo nos idosos, pois todos os pacientes tiveram que suspender o uso do tabaco após o
diagnóstico da doença favorecendo assim, uma maior qualidade e expectativa de vida.
Os benefícios com a interrupção do hábito de fumar são maiores entre os mais jovens,
porém o abandono do cigarro, em qualquer idade, reduz o risco de morte e melhora a condição geral
de saúde. Após o abandono do cigarro, espera-se um aumento de dois a três anos na expectativa de
vida entre idosos com 65 anos ou mais, que fumam até um maço de cigarros por dia (GOURLAY;
BENOWITZ, 1996, COX, 1993).
Resultados encontrados na pesquisa mostraram que a maioria dos pacientes avaliados não
tinha fator hereditário do câncer, porém caso há algum membro na família acometido por câncer
devem ser instruídas quanto à possibilidade desse ser herdado e sobre a realização de um
diagnóstico precoce, fazendo assim com que haja uma menor taxa de mortalidade na família e a
melhoria da qualidade de vida. Foi verificado neste estudo que o câncer de esôfago pode ser
acometido devido ao estilo de vida, pois o álcool e tabaco são fatores predominantes para este tipo
de patologia.
Foi observado no estudo que os pacientes conseguiam realizar suas atividades diárias, mas
não satisfatoriamente, fazendo com que passe a maior parte do tempo na cama ou cadeira.
A presença do sintoma obtido no tratamento interfere na capacidade funcional, limita a
realização de atividades habituais levando a maior dependência do paciente em relação ao cuidador
(CARVALHO; PEREIRA JUNIOR; NEGREIROS, 2009; MELIN-JOHANSSON et al., 2010).
CONCLUSÃO
O câncer de esôfago é uma neoplasia relativamente comum e seu diagnóstico é feito
tardiamente dificultando assim uma boa melhora no tratamento.
Conclui-se então que os pacientes submetidos ao processo de tratamento tendem a ter uma
maior chance de desnutrição. Desta forma, é evidente a importância da avaliação nutricional e
dietética desses pacientes, ofertando uma dieta equilibrada minimizando assim, os sintomas que
interferem no estado nutricional.
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