Conhecimento e uso de plantas medicinais por

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Artigo Original
DOI: 10.15253/2175-6783.2014000300002
www.revistarene.ufc.br
Conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas
unidades básicas de saúde
Knowledge and use of medicinal plants for users of two basic health units
Conocimiento y uso de plantas medicinales para usuarios de dos unidades básicas de salud
Diego Florêncio Lima1, Débora Linsbinski Pereira1, Fábio Francoly Franciscon1, Claudia dos Reis1, Valfran da
Silva Lima1, Pacífica Pinheiro Cavalcanti1
Objetivou-se verificar o conhecimento e o uso de plantas medicinais entre os usuários de duas Unidades de Saúde da
Família. Trata-se de uma pesquisa quantitativa desenvolvida entre junho e agosto de 2010, no município de Sinop, Mato
Grosso, Brasil. Foi utilizado um roteiro de entrevista estruturado, no qual participaram 302 pessoas de ambos os sexos,
que apontaram 77 plantas utilizadas para o tratamento das mais diversas afecções; somente 7,67% não utilizavam plantas
medicinais. Entretanto, foram descritas as 10 plantas mais citadas, a parte usada de cada uma e sua forma de preparo.
Somente 0,9% da população entrevistada adquiriram informações sobre tais plantas com os profissionais da saúde. Faz-se
necessário investir em ações que promovam uma maior integração do uso de plantas medicinais dentro dos programas
desenvolvidos nas Unidades de Saúde da Família, bem como uma maior capacitação desses profissionais, por meio da
incorporação de conteúdos que contemplem a fitoterapia nos cursos de graduação.
Descritores: Plantas Medicinais; Fitoterapia; Terapias Complementares.
We aimed at verifying the knowledge and use of medicinal plants among users of two Family Health Units. This was a
quantitative survey carried out between June and August 2010 at Sinop, Mato Grosso, Brazil. We used a structured interview
guide, attended by 302 people of both sexes, which indicated that 77 plants are used for the treatment of several diseases,
only 7.67% did not use medicinal plants. However, we described the 10 most reported plants, the part used for each form and
its preparation. Only 0.9% of the population interviewed acquired information about such plants with health professionals.
It is necessary to invest in initiatives that promote greater integration of the use of medicinal plants within the programs
developed at Family Health Units, as well as a greater training of these professionals, by incorporating content that include
herbal medicine in undergraduate courses.
Descriptors: Plants, Medicinal; Phytotherapy; Complementary Therapies.
El objetivo fue verificar conocimiento y uso de plantas medicinales entre usuarios de dos Unidades de Salud Familiar.
Estudio cuantitativo, llevado a cabo entre junio y agosto de 2010, en Sinop, Mato Grosso, Brasil. Se utilizó guía de entrevista
estructurada, a la que participaron 302 personas de ambos los sexos, que señalaron 77 plantas utilizadas para el tratamiento
de varias enfermedades; sólo 7,67% no utilizaban plantas medicinales. Sin embargo, fueron descritas 10 plantas más citadas,
la parte utilizada de cada una y su preparación. Sólo 0,9% de la población entrevistada adquirieron informaciones acerca
de tales plantas con profesionales de la salud. Es necesario invertir en iniciativas que promuevan mayor integración de la
utilización de plantas medicinales en los programas desarrollados en las Unidades de Salud de la Familia, así como mayor
formación de estos profesionales, mediante la incorporación de contenidos que incluyen las hierbas medicinales en los
cursos de graduación.
Descriptores: Plantas Medicinales; Fitoterapia; Terapias Complementarias.
Universidade Federal de Mato Grosso. Sinop, MT, Brasil.
1
Autor correspondente: Pacífica Pinheiro Cavalcanti
Avenida André Maggi, 1616 – Jardim Paraíso. CEP: 78556-198. Sinop, MT, Brasil. E-mail: [email protected]
Submetido: 28/08/2013; Aceito: 23/07/2014.
Rev Rene. 2014 maio-jun; 15(3):383-90.
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Lima DF, Pereira DL, Franciscon FF, Reis C, Lima VS, Cavalcanti PP
Introdução
As plantas medicinais são definidas como
aquelas capazes de produzir princípios ativos que
possam alterar o funcionamento de órgãos e sistemas,
restaurando o equilíbrio orgânico ou a homeostasia nos
casos de enfermidades(1). Assim como outras terapias,
fazem parte da chamada Medicina Tradicional, a qual
se refere a conhecimentos, habilidades e práticas
baseadas na teoria, crenças, experiências indígenas
e de outras culturas, usadas na manutenção da saúde
e na prevenção, na melhoria ou no tratamento de
doenças físicas e mentais, podendo ainda ser chamada
de Medicina Alternativa ou Complementar(2).
A primeira Lei relacionada à utilização de
plantas no Brasil data de 17 de abril de 1996, em
que foram elaboradas as diretrizes sobre as plantas
medicinais, tanto sobre sua utilização, quanto sobre a
pesquisa na área. A partir desta, várias outras Leis e
Portarias foram criadas, mas a principal é a Portaria
nº 971, de 3 de maio de 2006, que aprova a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
no Sistema Único de Saúde. Essa portaria permite que
usuários destes serviços tenham acesso a informações
referentes aos fitoterápicos e as plantas medicinais
diretamente na Unidade de Saúde da Família(3).
Essas
possibilidades
alternativas
de
tratamento levam a uma melhora no atendimento
da população pelo Sistema Único de Saúde, em razão
de proporcionar outra forma de tratamento e de
prevenção de doenças(4).
O uso de plantas medicinais pela população
tem contribuído não só para a terapia complementar,
como também para o direcionamento de estudos
fitoquímicos e de atividade biológica, como toxicidade,
propriedade antiinflamatória e atividade antioxidante.
Assim as plantas medicinais podem ter as ações
terapêuticas conhecidas para serem posteriormente
comprovadas cientificamente(5).
Deste modo, a inclusão da terapêutica com
plantas medicinais na comunidade não só traria
benefícios à saúde das pessoas, mas também benefícios
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de ordem econômica, já que a população, em alguns
casos, não necessitaria comprar medicamentos
alopáticos(6).
A busca pela utilização de plantas a partir de
conhecimento empírico já existente, muitas vezes
consagrado pelo uso contínuo, tem direcionado muitas
pesquisas, no entanto, grande parcela da população
faz uso de plantas medicinais sem o conhecimento
de sua toxicidade, forma de preparo ou indicação
clínica(6).
O enfermeiro que trabalha na Estratégia de
Saúde da Família poderia atuar de maneira eficaz na
orientação da adequada utilização dessa terapêutica
complementar, tendo em vista a ampla utilização de
plantas medicinais pela população que é atendida
em uma Unidade de Saúde da Família. Sendo assim,
para a apropriada atuação, o enfermeiro deve
primeiramente investigar o uso de plantas medicinais
pela comunidade, tendo em vista a obtenção de
informações sobre como essa população utiliza
a planta, para então elaborar uma estratégia de
educação em saúde e assistência de melhor qualidade.
O objetivo desta pesquisa foi verificar o
conhecimento e o uso de plantas medicinais entre os
usuários da área de abrangência de duas Unidades de
Saúde da Família.
Método
Trata-se de pesquisa com abordagem
quantitativa, desenvolvida no Município de Sinop,
norte do Estado de Mato Grosso, localizado às margens
da BR-163. Sinop possui cerca de 114 mil habitantes(7),
imigrantes de diversas regiões do pais, onde se pode
observar uma enorme diversidade cultural.
A cidade é dotada de atenção primária,
mediante ações da Estratégia Saúde da Família,
e possui 17 Unidades de Saúde da Família. Duas
unidades que se destacam por maior demanda no
atendimento são as Unidades de Saúde da Família
do Boa Esperança e do Jardim das Nações que
juntas atendem aproximadamente 3000 famílias
Conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas unidades básicas de saúde
cadastradas. Deste modo, as duas unidades foram
intencionalmente escolhidas para o desenvolvimento
da presente investigação.
A coleta de dados foi realizada por meio de um
roteiro de entrevista semiestruturado, nos meses de
junho a outubro de 2010. Participaram 302 usuários
dos serviços (100 na Unidade de Saúde da Família
Jardim das Nações e 202 na Unidade de Saúde da
Família Boa Esperança), nos meses de junho a outubro
de 2010, escolhidos aleatoriamente.
Como critério de inclusão para participação
ao estudo, adotou-se: indivíduos com idade igual ou
superior a 18 anos, não havendo distinção de sexo e
que residiam nos respectivos bairros definidos no
estudo e que esperavam atendimento nas Unidades
de Saúde.
O instrumento de coleta de dados foi dividido
em duas partes. A primeira parte continha variáveis
relativas de identificação do usuário e motivo de
comparecimento à Unidades de Saúde da Família.
Na segunda parte, o usuário foi questionado pelo
entrevistador se usava ou não plantas medicinais
como remédio e, em caso afirmativo, quais eram
essas plantas. Os dados foram analisados por meio da
estatística.
Os aspectos éticos da pesquisa com seres
humanos foram respeitados. O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário
Júlio Muller (Cuiabá-MT), sob nº 802/CEP-HUJM/10.
Os participantes fizeram anuência formal no Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual eram
explicados os objetivos da pesquisa e as informações
solicitadas, sendo garantida a confidencialidade das
informações e o anonimato dos participantes.
Resultados
Mediante aos dados coletados, observou-se
que a maioria dos entrevistados apresentaram entre
34 e 41 anos (25%) e 76,8% eram do sexo feminino,
demonstrando que as mulheres buscam mais
frequentemente os serviços de saúde (Tabela 1).
No que se refere à renda per capita de ambas as
amostras, 90,07% dos entrevistados faziam parte das
Classes Econômicas D e E, com renda mensal bruta
familiar inferior a R$776,00.
Em relação à escolaridade, grande parte dos
entrevistados (46,7%) tinha o ensino fundamental
incompleto e apenas 2% havia terminado o ensino
superior (Tabela 1).
Tabela 1 - Variáveis sociodemográficas da população
amostrada
Unidade Saúde da Família
Boa
Esperança
(N=202)
Jardim das
Nações
(N=100)
Total
n (%)
18 – 25
19
17
18
42 – 49
15
27
19
Variáveis
Idade (anos)
26 – 33
25
34 – 41
27
50 – 57
8
≥ 58
6
Sexo
Feminino
74
Masculino
Escolaridade
Analfabeto
26
Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Renda per capita
≤ R$ 776,00
> R$ 776, 00
3
17
21
6
12
82
18
3
22
25
8
8
76,8
23,2
3
62
53
61,5
90,6
89
90,4
29
6
9,4
33
11
11
29,5
6
9,6
Os principais motivos de comparecimento
no serviço foram decorrentes do acompanhamento
de familiares em consultas ou exames (65%),
coleta de sangue e outras secreções (25%) e outros
procedimentos (10%).
No que diz respeito ao uso de plantas medicinais,
92,3% afirmaram que as utilizam como terapia
alternativa, e citaram 77 plantas de uso habitual para
o tratamento das mais diversas afecções. Optou-se por
descrever as dez plantas mais citadas, a parte usada
de cada uma e sua forma de preparo (Tabelas 2 e 3).
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Tabela 2 - Lista das dez plantas medicinais mais citadas, os principais usos e os responsáveis pelo preparo
Planta
Responsável pelo preparo
Nome popular
Nome científico
Uso principal
Hortelã grande
Mentha piperita L.
Gripe, calmante e vermífugo
Boldo
Plectrathus barbatus Andrews
Mentha pulegiumL
Dor estomacal e ressaca
Mentruz
Lepidium Sativum L.
Feridas, luxações e vermífugo
Terramicina
Alternanthera brasiliana (L.) O. Kunt
Babosa
Aloe vera (L.) Burm.
Capim cidreira
Poejo
Erva cidreira de arbusto
Algodão
Camomila
Cymbopogon citratus Staf
Libia Alba (Mill) N. E. Brown
Gossypium hirsutum L.
Chamomilla recutita (L.) Rauschert
Entrevistado (%)
Outro (%)
86,7
13,3
94
6
Calmante, gripe e anti-hipertensivo
92,9
7,1
Gripe, cólica e calmante
91,7
8,3
Calmante e gripe
78,6
21,4
Infecções e infecções urinárias
92,3
7,7
85
Infecções, feridas e dor estomacal
Feridas, queimaduras e diabetes
Calmante, cólica e dor estomacal
15
85,7
14,3
91,7
100,0
8,3
-
Tabela 3 - Principais plantas utilizadas para fins terapêuticos, de acordo com forma de preparo e partes usadas
Planta (Nome popular) Citações (%)*
Hortelã grande
Algodão
Babosa
Camomila
36
Folhas
2,0
4
3
3
3
3
2
Completa
Parte aérea
Completa
41
54
-
-
-
59
-
-
-
-
42
-
92
47
-
26
27
-
-
-
41
-
Completa
36
57
Folhas e raiz
46
23
Completa
Folhas
Flores
* Um indivíduo pode ter citado uma ou mais planta medicinal
Quando foram questionados sobre o local de
aquisição de cada planta citada para uso, a maioria
(56%) respondeu que cultivava as plantas no próprio
domicilio; em relação à indicação da planta, 68,7%
comentou que o uso foi indicado por familiares.
No relacionado à indicação do uso das plantas
para fins terapêuticos, a principal fonte de informação
foram os familiares (68,7%), seguido pelos amigos
386
Suco (%)
11
5
Terramicina
Compressa (%)
53
Poejo
Erva cidreira de arbusto
Decocção (%)
Parte aérea
12
Mentruz
Formas de preparo
Infusão (%)
16
Capim cidreira
Boldo
Partes da planta utilizada
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43
-
64
36
-
-
23
42
-
e vizinhos (24,3%), profissionais de saúde (0,9%) e
outros modos de informação (6,1%).
Para o consumo, a maioria (56%) possui a
planta no próprio domicílio ou tem outras fontes de
fornecimento, como os vizinhos (15,9%), parentes
(10,3%), aquisição em mercados (8,8%) e outros
modos de obtenção (9,3%).
Conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas unidades básicas de saúde
Discussão
Estudos indicam que pessoas com idade
superior a 35 anos são os detentores do conhecimento
sobre a utilização de plantas medicinais, apontando
que a informação sobre este assunto é mantida por
pessoas mais velhas, o que retrata, provavelmente,
que indivíduos mais jovens não se interessam tanto
por esse tipo de conhecimento(6,8).
Outro dado que deve ser ressaltado é que o
conhecimento sobre as plantas medicinais é detido,
principalmente, pelas mulheres; fato corroborado
por outras pesquisas e que pode estar relacionado ao
papel das mulheres no passado, uma vez que elas que
cuidavam da casa, da horta, dos maridos e filhos, além
dos idosos e doentes(5,8-12). Essas diferenças sobre o
conhecimento tradicional e a utilização de plantas
medicinais entre grupos de homens e mulheres é
esperada, provavelmente pelos motivos citados acima
e pelo fato das mulheres estarem acompanhando
algum familiar, uma vez que o “papel feminino” na
sociedade é “cuidar”(13). Entretanto, em um estudo
realizado em Itaqui/RS, não houve diferença
significativa entre usuários homens e mulheres(14).
Em relação à renda per capita, apesar de
muitos estudos não levarem em consideração a renda
dos entrevistados, pode-se considerar que pessoas
com renda mais baixa e que não tem condições de
comprar medicamentos, buscam formas alternativas
de tratamento para a cura de seus males(9,14). Dados
verificados em outros estudos(9,14) indicam que a
população que faz uso das plantas medicinais pertence
a classes mais pobres.
Analisando os resultados obtidos neste
estudo e os dados de outras pesquisas em relação
à escolaridade da população pesquisada, fica
evidenciado que a maior parte das pessoas que
procuram os serviços de atenção básica à saúde, assim
como usuários de plantas medicinais, são indivíduos
com baixa escolaridade e renda e que, provavelmente,
não possuem condições financeiras para procurar
serviços particulares de saúde(5-6,8). Além disso, o
baixo poder aquisitivo dessas pessoas não permite a
compra de medicamentos caros(5-6,8).
Ressalta-se também que, na maioria das
pesquisas que envolve o uso de plantas medicinais pela
comunidade, grande parte dos indivíduos utilizam as
plantas como terapias alternativas de tratamento da
saúde(6,14).
De acordo com o perfil da população
amostrada, das dez plantas mais citadas, apenas sete
estão descritas no Formulário Nacional Fitoterápico
como plantas com fins terapêuticos (Hortelã, Capim
Cidreira, Poejo, Erva Cidreira, Babosa e Camomila).
Segundo esse documento, cada uma delas deve ser
preparada de uma maneira(15). Verificou-se, entretanto,
que algumas plantas são usadas erroneamente pela
população.
As plantas mencionadas, e que fazem parte
do Formulário, são indicadas para cólicas em geral
(hortelã), flatulências (hortelã e erva cidreira),
distúrbios hepáticos (hortelã), cólicas intestinais
e uterinas (capim cidreira), calmante (capim
cidreira, erva cidreira e camomila), quadros leves de
ansiedade e insônia (capim cidreira e erva cidreira),
dispepsia e hipotensão (boldo); expectorante (poejo
e erva cidreira), estimulador de apetite, perturbações
digestivas, espasmos gastrointestinais, cálculos
biliares e colecistite (poejo); cólicas abdominais,
distúrbios estomacais e como digestivo (erva
cidreira); cicatrizante e para o tratamento de
queimaduras (babosa); cólicas intestinais, contusões
e processos inflamatórios da boca e da gengiva
(camomila)(16). É interessante notar que a maioria dos
usos terapêuticos das plantas não corroboram com a
citação dos entrevistados, exceto o capim cidreira, a
erva cidreira e a camomila, que são utilizadas como
calmante; a camomila para cólica e a babosa, usada
para queimaduras. Além disso, a hortelã, citada neste
estudo como tratamento para distúrbios hepáticos,
não é indicada em caso de danos hepáticos severos; e
a erva cidreira pode causar irritação gástrica(16).
As formas de preparo indicadas pelo
Formulário e as citadas pelos entrevistados, em sua
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Lima DF, Pereira DL, Franciscon FF, Reis C, Lima VS, Cavalcanti PP
maioria, também foram diferentes. Em grande parte
das plantas, usa-se o método de infusão de caules,
folhas e/ou flores (hortelã, capim cidreira, boldo,
poejo, erva cidreira e camomila).
No Brasil, a regulamentação do uso de plantas
medicinais dentro dos serviços de saúde, está
vinculada ao Formulário Nacional Fitoterápico que faz
parte da Farmacopéia Brasileira, e traz as diretrizes
para a utilização de várias plantas medicinais. Todas
as recomendações feitas por este formulário são
baseadas em estudos científicos realizados nos mais
diversos países(15).
Nota-se que o uso de plantas com fins
terapêuticos é corriqueiro e que grande parte da
comunidade faz uso de espécies que estão listadas
na Farmacopéia Brasileira(5,9,10,17). Esses dados
demonstram que os estudos realizados com as
plantas utilizadas popularmente para tratamentos
alternativos são muito importantes para validar o seu
potencial medicinal.
Pode-se perceber também que grande parte
dos usuários cultiva a planta em casa; o que corrobora
com a maioria dos estudos realizados com usuários de
plantas medicinais(6,9,14). Isso ocorre, provavelmente,
porque o cultivo das plantas facilita a obtenção das
mesmas pelos próprios usuários; além disso, existe a
facilidade do consumo fresco e imediato(6).
Outro dado importante é que a indicação de uso
das plantas foi feito principalmente por familiares, o
que representa que o conhecimento e uso das espécies
vegetais é proveniente da tradição familiar e que vai
sendo repassado de geração a geração(5,9).
É importante destacar que o uso de plantas
medicinais, na maioria das vezes, não foi indicado
por um profissional habilitado, tal como um
enfermeiro, farmacêutico ou médico. Constata-se,
portanto, que a população está fazendo uso de tais
terapias sem o devido acompanhamento, o que
pode trazer riscos para a saúde, uma vez que muitas
dessas espécies apresentam registro de toxicidade
e contraindicações(18). Entretanto, muitos desses
profissionais de saúde, geralmente não consideram
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as plantas medicinais como uma fonte terapêutica
justamente pelo fato de desconhecerem os benefícios
e os riscos das mesmas(19).
Nota-se, entretanto, a maioria dos usuários de
plantas medicinais acredita que “planta não faz mal
a saúde”, o que pode levar a quadros de intoxicação
severas. Assim, é necessário que a comunidade
seja orientada quanto à forma de uso e preparo
das mesmas, contribuindo para uma terapêutica
alternativa na saúde da população, melhorando a
qualidade de vida e minimizando os custos para o
Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, é importante
que os profissionais da saúde, principalmente os
enfermeiros, sejam capacitados para que possam
contribuir com a correta utilização de terapias
alternativas na Atenção Primária à Saúde e que essa
prática deve ser incorporada nas Unidades de Saúde
da Família(18).
A promoção da saúde na Estratégia Saúde
da Família é uma metodologia que pode propiciar
qualidade de vida e saúde a população, isso se
deve a resolução dos problemas de saúde e seus
determinantes(12). Desta forma o uso da fitoterapia,
como uma terapêutica complementar, pode funcionar
como uma ferramenta de baixo custo econômico, eficaz
e no atendimento das necessidades da população.
Considerações Finais
A analise do conhecimento e uso de plantas
medicinais entre os usuários de duas Unidades
de Saúde da Família no município de Sinop-MT
demonstrou que 92,3% citaram 77 plantas de
uso habitual para o tratamento das mais diversas
afecções e somente 7,6% não utilizavam essa terapia
complementar. Os principais usos clínicos dessas
plantas foram: gripe, cólica, calmante, dor estomacal,
ressaca, feridas, luxações, vermífugo, queimaduras,
controle do Diabetes Mellitus, infecções, infecções
urinárias e anti-hipertensivo.
As formas de preparo mais utilizadas foram:
Conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas unidades básicas de saúde
infusão, decocção, suco, compressa, sendo que as
partes das plantas mais empregadas foram: partes
aéreas (folhas e flores), raiz e também a planta toda.
É notório também que ainda falta maior
integração do uso de plantas medicinais dentro dos
programas desenvolvidos nas Unidades de Saúde
da Família, visto que apenas 0,9% da população
entrevistada adquiriram informações sobre tais
plantas com os profissionais da saúde. Logo, podese afirmar que a população pesquisada não recebe
nenhum subsídio referente ao uso correto das plantas
medicinais por parte do serviço de saúde local, uma
vez que, ainda, não há a implantação da Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
nas Unidades onde foi realizada a pesquisa.
O enfermeiro, como um profissional inserido
na Estratégia Saúde da Família, exerce um papel
fundamental na minimização ou mesmo, no
impedimento da ocorrência de casos de intoxicação ou
de outros agravos à saúde decorrentes do uso indevido
das plantas medicinais, por meio de atividades de
educação em saúde.
A maior parte da população que faz uso de
plantas medicinais em ambas as comunidades estão
nas classes econômicas D e E, isso é comum, pois
por não disponibilizarem de renda suficiente para
adquirir fármacos utilizam plantas como terapia. No
entanto, para que uma planta medicinal seja efetiva
como forma terapêutica complementar é necessário
o acompanhamento de um profissional competente,
que seja capaz de elaborar programas de educação em
saúde que contemplem esta temática e as necessidades
dos usuários.
Para tanto, faz-se necessário maior capacitação
desses profissionais, com a incorporação de conteúdos que contemplem a fitoterapia nos cursos de graduação, os quais deverão contribuir para a correta utilização destes recursos terapêuticos, proporcionando
melhores condições de saúde com uma terapêutica de
baixo custo e resgatando valores da cultura popular.
O estudo apresenta como limitação o fato de
abranger apenas duas comunidades do município de
Sinop. Logo, propõe-se que outras pesquisas sejam
desenvolvidas, com vistas a conhecer a realidade de
outras comunidades. Verificar a consonância das
indicações de uso, forma de preparo e dosagem junto
a esses indivíduos em relação àquelas referidas na
bibliografia com comprovação científica também não
foi possível. Pesquisas com este fim poderiam servir
de referencial para estudos adicionais no sentido
de ampliar as possibilidades de uso das espécies
indicadas, ou mesmo comprovar a ineficácia ou
impropriedade de sua utilização.
Colaborações
Lima DF, Cavalcanti PP participaram da
concepção e elaboração do projeto, coleta e análise de
dados, redação e análise crítica do artigo. Pereira DL,
Franciscon FF e Lima VS contribuíram com a confecção
do artigo científico. Reis C foi responsável por toda a
revisão crítica do projeto e do artigo.
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