UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS THIAGO TADEU SOARES PITHON ECONOMIA VERDE: Uma nova proposta para manter o atual modelo desigual de desenvolvimento Florianópolis, 2013 THIAGO TADEU SOARES PITHON ECONOMIA VERDE: Uma nova proposta para manter o atual modelo desigual de desenvolvimento Monografia apresentada ao Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. Lauro Francisco Mattei Florianópolis, 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 9,5 ao aluno Thiago Tadeu Soares Pithon na disciplina CNM 7107 – Monografia, pela apresentação deste trabalho. Banca Examinadora: ------------------------------------------------Prof. Dr. Lauro Francisco Mattei (Orientador) -------------------------------------------------Prof. Dr. Clecio Azevedo Da Silva -------------------------------------------------Prof. Dr. Valdir Alvim Da Silva AGRADECIMENTOS É com imensa satisfação que chego a conclusão de mais um objetivo e por isso não poderia deixar de agradecer aqueles que tiveram um papel importante nessa conquista. Em primeiro lugar agradeço a Deus e aos bons espíritos por me guiarem e por colocarem obstáculos necessários em minha caminhada, se não fosse por tais obstáculos não seria possível dar valor ao que tenho e ao que conquistei, além de não ser possível evoluir e me tornar quem eu sou hoje. Em segundo lugar quero agradecer aos meus pais Roberto Giannini Pithon e Rose Mary Soares Pithon, além de minha amada Kiara Maria Urnau, sem eles realmente não conseguiria buscar minha evolução. Meu pai, um exemplo de honestidade, sempre solícito com aqueles que recorrem a ele e um exemplo de caráter. Minha mãe com sua delicadeza rara, alegria irradiante e com uma presença que ilumina os lugares por onde passa. Minha amada Kiara, companheira, mulher, amiga para todas as horas, não tenho palavras para descrever o quanto agradeço por sua presença em minha vida, se todas as dores, todos os sofrimentos, todas as decepções que tive me levaram até você então todas valeram a pena e agradeço por todas elas, se não fosse por você tenho certeza que este trabalho não estaria pronto. Obrigado a minha tia “dinda” Laura, ser humano maravilhoso, fico realmente comovido com a amizade e o carinho que tem por minha mãe e por nossa família. Agradeço a toda minha família e a família da Kiara, especialmente meus tios Pierre e Angela, meu primo-irmão Diogo, minha tia Eliana, meus falecidos avôs e avós, minha sogra Iraci, meu falecido sogro Elói, Valmir, minha cunhada Lilian e seu marido Carlos Obrigado a todos meus amigos. Meus amigos de infância Leandro Murad, ser humano raríssimo que merece sempre ser exaltado, e Paulo Brant, outra figura acima da média. Meu amigo Gustavo Maia, parceiro de viagem e grande incentivador para todas as horas, amigo de rara lealdade. Meu amigo André Paganella, parceiro para todas as horas e grande exemplo de pessoa. O grande casal Rafael e Carolina. O grande “bugreiro” Marcelo leite. Meus amigos de faculdade Vicente Paganella, outro ser humano destacável que terá certamente um caminho iluminado pela frente, Luiz Guilherme, o “LG”, grande figura que conheci nesses anos de UFSC, além de outros como Gunther, Lincon, Henrique, Douglas e Guilherme. Meu amigo Eduardo Guimarães, grande figura, grande amigo. Therezinha e Reinaldo, grande casal, obrigado a toda força que deram e que ainda dão a minha família. Meus amigos da banda, sempre juntos nos “perrengues” e fazendo o possível para levar nossa música para as pessoas. Meu muito obrigado a todos os professores com quem tive aula, especialmente meu orientador Lauro Francisco Mattei, exemplo de conhecimento e didática, além de sua conduta reta para com a Universidade e a sociedade em geral. Meus agradecimentos especiais também ao professor Hoyêdo, excelente professor e sempre cordial com todos os alunos, ao professor Gueibi que sempre foi solicito as minhas demandas acadêmicas, ao professor Valdir Alvim por seu esforço em trazer diferentes elementos para a sala de aula que muito colaboram para o aprendizado dos alunos e por estabelecer uma relação muito sadia e cordial com todos, ao professor Marcos Valente e ao professor Pablo por serem sempre solícitos em conversar e dar opiniões sobre temas acadêmicos e diversos e aos professores Carmem, Daniel e João Artur por serem sempre solícitos, cordiais e dispostos a ajudarem os alunos a qualquer momento. RESUMO O presente trabalho tem como tema problema de pesquisa levantar como a Economia Verde se enquadra na discussão relativa à economia e o meio-ambiente, como se relaciona com os fundamentos teóricos e outros conceitos anteriores, e quais as possíveis virtudes e possíveis falhas de sua proposta dentro dos objetivos inclusos na mesma. Neste estudo é apresentado um apanhado histórico da evolução do debate que concerne à relação entre meio ambiente e economia, tanto em âmbito acadêmico como na agenda política internacional. Dentro dessa perspectiva histórica do debate, são discutidos os dois fundamentos teóricos da Economia Ambiental Neoclássica e da Economia Ecológica e a evolução das conferências mundiais desde a conferência de Estocolmo até à Rio +20, passando pelos conceitos de Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento Sustentável até se chegar a noção de Economia Verde, objeto central deste trabalho. A Economia Verde foi analisada através do relatório Economia Verde, produzido pelo PNUMA, e de diversos artigos e livros direcionados a este tema. A partir dessa análise bibliográfica foi possível elencar os principais objetivos e instrumentos da proposta Economia Verde e de apontar suas possíveis virtudes e lacunas, o que possibilitou fazer uma análise crítica da noção relativa à Economia Verde, além de apontar as posições dos diferentes países em relação a ela e seu papel na conferência Rio+20. A principal conclusão a partir deste trabalho reside no fato da Economia Verde ser uma noção ainda em desenvolvimento, mas que não se coloca como uma novo modelo econômico por não romper com o objetivo da economia dominante de perpetuar um contínuo crescimento econômico. Palavras-chave: Economia Verde, Economia Ambiental Neoclássica, Economia Ecológica, crescimento econômico, Desenvolvimento Sustentável. ABSTRACT The present work has as its theme of research an evaluation on how the Green Economy falls into the discussion regarding the economy and the environment, how it relates to the theoretical foundations and other previous concepts, and what are the possible virtues and gaps of this proposal within the objectives included in it. This study presented an overview of the historical evolution on the debate regarding the relationship between environment and economy, taking in account both academic and international policy agenda. Within this historical perspective of the debate both theoretical foundations of Environmental Economics and Ecological Economics are discussed as well as the evolution of world conferences since the Stockholm Conference to the Rio+20, passing by the concepts of eco-development and Sustainable Development until the rise of the Green Economy notion which is the main object of this work. The Green Economy notion was analyzed through the Green Economy report produced by UNEP along with several articles and books regarding the theme. From this literature analysis it was possible to list the main objectives and instruments of the Green Economy as well as pointing their possible virtues and gaps thus allowing to make a critical analysis of the Green Economy proposal and also pointing the positions of different countries in relation to it and its role in the Rio + 20 conference. The main conclusion obtained through this work lies in the fact that the Green Economy is still a notion under development, but it certainly does not arise as a new economic model due to the fact that it does not change the main goal of the dominant economy which is perpetuating a continuous economic growth. Key words: Green Economy, Enviornmental Economics, Ecological Economics, Economic growth, Sustainable Development. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Dados dos índices de desenvolvimento humano ..................................................... 51 LISTA DE ABREVIAÇÕES BAU - Business as Usual CDB - Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica CDS - Comissão de Desenvolvimento Sustentável CMMAD - Comissão Mundial sobre o Meio-Ambiente e Desenvolvimento CNUDS - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento CNUMAH - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio-Ambiente Humano CO2 - Gás Carbônico CQNUMC - Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima DS - Desenvolvimento Sustentável EUA - Estados Unidos das Américas FAO - Food and Agriculture Organization FMI - Fundo Monetário Internacional GEE - Gases efeito estufa GGND - Global Green New Deal JUSCANZ - Japão, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ODM - Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio ODS - Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável OGM - Organismos Geneticamente Modificados OMC - Organização Mundial do Comércio ONG´s - Organizações não governamentais ONU - Organização das Nações Unidas P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PIB - Produto Interno Bruto PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente REDD - Redução e emissões por desmatamento e degradação florestal REV - Relatório de Economia Verde UNEP - United Nations Enviornmental Program SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - TEMA E OBJETIVOS DO ESTUDO ......................................................... 10 1.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10 1.2 OBJETIVOS............................................................................................................................ 14 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 14 1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 14 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 14 1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ..................................................................................... 16 CAPÍTULO 2 - ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA E ECONOMIA ECOLÓGICA E ECONOMIA VERDE .................................................................................. 17 2.1 ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA ..................................................................... 17 2.2 ECONOMIA ECOLÓGICA .................................................................................................. 20 2.3 A ECONOMIA VERDE E SUA RELAÇÃO COM OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS . 23 CAPÍTULO 3 - DAS CONFERÊNCIAS MUNDIAIS ATÉ A EMERGÊNCIA DA ECONOMIA VERDE ................................................................................................................. 27 3.1 CLUBE DE ROMA ................................................................................................................ 27 3.2 A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE HUMANO 28 3.2.1 Ecodesenvolvimento ...................................................................................................... 31 3.2.2 Relatório de Brundtland ............................................................................................... 32 3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................... 34 3.4 CUPÚLA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...................... 37 3.5 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................................................................................................... 40 CAPÍTULO 4 - A ECONOMIA VERDE ................................................................................. 46 4.1 A CONCEPÇÃO DE ECONOMIA VERDE ........................................................................ 46 4.2 PROPOSTAS DE TRANSIÇÃO PARA A ECONOMIA VERDE EM CADA SETOR .... 52 4.2.1 Agricultura ...................................................................................................................... 52 4.2.2 Construção Civil ............................................................................................................ 54 4.2.3 Setor energético .............................................................................................................. 54 4.2.4 Pesca................................................................................................................................. 55 4.2.5 Silvicultura ...................................................................................................................... 56 4.2.6 Indústria .......................................................................................................................... 57 4.2.7 Turismo ............................................................................................................................ 58 4.2.8 Transportes ..................................................................................................................... 58 4.2.9 Gestão de resíduos ......................................................................................................... 58 4.2.10 Água ............................................................................................................................... 59 4.3 POSSÍVEIS VIRTUDES E LACUNAS DA ECONOMIA VERDE ................................... 60 CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 68 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 71 10 CAPÍTULO 1 - TEMA E OBJETIVOS DO ESTUDO 1.1 INTRODUÇÃO É notório que a questão ambiental e seu papel no processo de crescimento econômico são pontos fundamentais discutidos desde meados do século passado, quando a população mundial cresceu exponencialmente, o que consequentemente levou a um número cada vez maior de consumidores de produtos industrializados. A relação da sociedade com a natureza começou a se deteriorar a partir da ascensão do sistema capitalista e sofreu uma piora drástica com o início da revolução industrial, pois a capacidade de intervenção humana na natureza aumentou consideravelmente desde então, impulsionada principalmente pelo uso intensivo de grandes reservas de combustíveis fósseis. “Isso abriu caminho para uma expansão inédita da escala das atividades humanas, que pressiona fortemente a base de recursos naturais do planeta” (ROMEIRO, 2003, p. 5). Essa perspectiva histórica é corroborada no relatório Rumo a uma Economia Verde do PNUMA no seguinte trecho: O custo do uso dos recursos naturais de modo ineficiente geralmente nunca foi, sob o ponto de vista histórico, um fator limitante para a civilização humana, por causa de uma mentalidade “fronteiriça” exploradora em um mundo amplamente não populado permitindo assim a descoberta de novos recursos. (PNUMA, 2011, p. 23) É pertinente apontar que antes da ascensão capitalista vigorava o sistema feudal e essa mudança organizacional de um sistema econômico para outro significou um rompimento radical com as estruturas vigentes no sistema feudal, que se baseava em um arcabouço social que objetivava sujeitar a racionalidade econômica a uma série de restrições de caráter altruísta. Em oposição à realidade feudal surge uma nova forma de organização social e econômica, baseada na liberação de restrições que cerceavam atividades econômicas que visavam a acumulação de capital e a exploração do trabalho. Essa transposição afetou também a relação da sociedade com os recursos naturais e só em tempos recentes que agentes econômicos começaram a sofrer restrições em relação ao uso inconsequente dos recursos naturais existentes, mas mesmo assim essas restrições se resumiam a questões pontuais no que tange a piora na qualidade de vida de certas populações em determinadas regiões. A partir dessa evolução e da percepção latente da deterioração ambiental, fundamentos teóricos e conceitos foram idealizados com o intuito de analisar e buscar soluções para o dilema entre crescimento econômico e esgotamento de recursos naturais, já que o aumento do bem-estar social gerado pelo crescimento econômico está diretamente ligado as alterações no 11 ecossistema e a depleção dos recursos naturais. O próprio relatório “Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”, produzido pelo PNUMA realça essa realidade ao afirmar que “[...] uma das questões essenciais na economia enfoca a aparente permuta entre desenvolvimento e qualidade ambiental” (PNUMA, 2011, p. 23). Hoje não há mais possibilidade de se discutir a economia sem se compreender a relação conturbada entre o meio ambiente e as sociedades modernas, os economistas da atualidade devem incorporar cada vez mais esse tema em sua formação. O ponto fundamental é que meio ambiente e sistema econômico interagem e essa interação deve ser cada vez mais analisada extensivamente. De acordo com Alier (2011), os conflitos ambientais serão cada vez mais recorrentes no mundo moderno e o acesso à recursos naturais terá cada vez mais um papel central na eclosão de tais divergências. Uma frase emblemática da obra “Muito além da Economia verde” de Abramovay (2012) ilustra bem a crescente escassez que permeará as tensões em torno da acessibilidade à recursos provenientes da natureza: “A destruição ou a séria ameaça a nada menos que 16 dos 24 serviços prestados pelos ecossistemas à sociedade mostra que a pujança tem pés de barro” (ABRAMOVAY, 2012, p. 15). A escassez ecológica crescente está afetando diversos setores econômicos que são a base para o fornecimento alimentar humano e dos quais uma significante população carente depende exclusivamente para se sustentar. Os dados referentes a essa problemática são cada vez mais assustadores. Um exemplo, baseado no Relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio, mostra que no período entre 2001 e 2005, a exploração excessiva e inadequada dos recursos naturais, tais como alimentos, água, madeira, fibras e combustíveis, representaram 60% do total de serviços ambientais extraídos (PAVESE, 2011). Os reflexos dessas mudanças atingem não somente a economia de países em desenvolvimento, mas em especial as comunidades dos países que dependem preponderantemente destes serviços para sua sobrevivência. Desta forma observa-se que ao longo dos últimos tempos esse fato tem, não somente se prolongado, como se deteriorado cada vez mais, ressaltando a premência de um novo modelo econômico, o que na concepção do PNUMA (2008) se traduz pela iniciativa em Economia verde. No modelo em que vivemos tem-se ainda como pensamento dominante que o objetivo primordial das empresas é a geração de lucros, independente do que as externalidades provocadas pela busca por ela possam acarretar. Nesse contexto “[...] investimentos são motivados pela acumulação rápida do capital físico, financeiro e humano, desconsiderando o capital natural” (PAVESE, 2011, p. 16), fazendo com que os impactos negativos irradiados 12 sobre os recursos naturais tenham como consequência efeitos prejudiciais no bem-estar humano e o recrudescimento da pobreza. A afirmação “Nosso mundo de abundância vem com uma etiqueta de preço oculta.” (GOLEMAN, 2009, p. 2) é uma excelente ilustração do que o crescimento desenfreado da produção de bens e serviços pode ocultar em termos dos custos e impactos sociais e ambientais gerados neste processo. O centro do debate atual e objeto de pesquisa deste trabalho é a Economia Verde, que tem como proposta geral ser uma iniciativa de mudança no modelo de negócios que temos atualmente para um modelo onde impere as praticas sustentáveis. Uma das grandes questões é que devido a uma definição de certa forma lacônica, a Economia Verde é uma expressão de significados e implicações ainda controversos e a discussão em torno de sua proposta ainda está aberta, não existindo consenso entre os economistas em relação a ela e suas bandeiras (DINIZ; BERMANN, 2012). É importante ressaltar que o conceito de Economia Verde é resultado de um processo histórico gradual, relativo ao abrangente tema da relação entre meio ambiente e economia, o qual passou a ter grande relevância a partir do final da década de 60, início de 70, como resultado do grande crescimento econômico ocorrido em quase todo mundo a partir da década de 50, crescimento esse que foi impulsionado pela atividade industrial e pelo aumento populacional, o que teve como consequência a ampliação do número de consumidores de produtos industrializados, gerando um aumento na poluição atmosférica e no uso de recursos naturais (INPE, 2012). A importância do debate acerca da relação complexa entre economia e meio ambiente tem crescido de forma consistente e contínua, tanto no mundo acadêmico quanto fora dele. A busca por um modelo sustentável, que amenize o impacto da ação do homem sobre a natureza e ao mesmo tempo não coloque em xeque o crescimento econômico nos moldes capitalistas, tem sido uma das discussões prioritárias nas últimas décadas. Fundamentos teóricos como a Economia Ecológica e a Economia Ambiental foram criados para solidificar as teorias e estudos relativos a vinculação entre economia e meio ambiente - apesar da discrepância entre essas vertentes - e conceitos pontuais para a solução dos impactos do desenvolvimento econômico no meio ambiente, como o Eco-Desenvolvimento e, posteriormente, o conceito de Desenvolvimento Sustentável, também surgiram a partir de diferentes necessidades. O dilema que permeia essa discussão consiste no que realmente significa desenvolvimento sustentável dentro do modelo capitalista e qual a eficácia dessa “sustentabilidade” para o meio ambiente, afinal dentro do paradigma atual o meio ambiente e os ecossistemas vêm sendo continuamente alterados e destruídos o que significa que uma 13 proposta de desenvolvimento sustentável de qualquer espécie soa como uma medida com o propósito de diminuir a proporção de alteração e destruição da natureza, mas que não cessa esse processo e muito menos recupera aquilo que foi danificado. Dentro do Âmbito deste debate, a iniciativa em Economia Verde foi lançada como um novo conceito criado pelo PNUMA (2008) e foi assim definida por este órgão: “Uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica” (PNUMA, 2008, p. 1). Além dessa definição, a iniciativa se apoia em três estratégias principais: (1) a redução das emissões de carbono, (2) uma maior eficiência energética e no uso de recursos e (3) a prevenção da perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos (PAVESE, 2011, p.16). Considerando o momento em que esta iniciativa foi lançada, em plena crise financeira mundial, podemos notar já um pouco do caráter dicotômico de sua abordagem, a qual tentava unir, com igual prioridade, a solução para a retomada do crescimento da economia mundial e para a deterioração e esgotamento dos recursos naturais, essa visão é expressa por Péret (2012) ao afirmar que: “A Economia Verde é uma grande estratégia que vem sendo construída pelo capital como saída para a crise (financeira, energética, de alimentação e climática na qual o mundo se encontra)” (PÉRET, 2012, p. 42). Isso pode ser visto no trecho a seguir: “Mobilizar e reorientar a economia global para investimentos em tecnologias limpas e infraestrutura ‘natural’ [...] é a melhor aposta para o crescimento efetivo, o combate às mudanças climáticas e a promoção de um boom de emprego no século XXI” (UNEP, 2008, p.1). De acordo com tal conceituação podemos sintetizar a economia verde como uma economia de baixo carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva (PNUMA, 2011). Dessa forma, o tema problema dessa pesquisa levantou como a Economia Verde se enquadra na discussão relativa a economia e o meio-ambiente, como se relaciona com os fundamentos teóricos e outros conceitos anteriores, e quais as possíveis virtudes e possíveis lacunas de sua proposta dentro dos objetivos inclusos na mesma. O principal intuito deste trabalho foi descrever e analisar o que a iniciativa da Economia Verde apresenta, quais suas virtudes e lacunas, quais podem ser as barreiras para sua aplicabilidade e qual a eficácia das ferramentas sugeridas por ela para a superação dos problemas econômicos e ambientais atuais. Com o intuito de propor uma possível resposta, ou tecer argumentos em direção a um esclarecimento em relação a questão central deste trabalho que foi: o que realmente significa Economia Verde e qual a aplicabilidade de suas propostas? 14 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho foi discutir a “Iniciativa Economia Verde” apresentada pelo PNUMA em 2008, realçando os principais instrumentos sugeridos por esta proposta. 1.2.2 Objetivos específicos a) Apresentar o conceito de Economia Verde, destacando as principais correntes do pensamento econômico neste campo. b) Analisar a proposta “Iniciativa Economia Verde” elaborada pelo PNUMA, apresentando seus principais componentes. c) Analisar a coerência entre os pressupostos da Economia Verde e sua aplicabilidade, destacando as principais virtudes e lacunas dessa proposição. 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Ao tratar dos aspectos metodológicos da pesquisa foi levado em conta as características essenciais do objeto de estudo e do núcleo científico que o cerca. Apesar do objeto principal do trabalho ter um caráter fundamentalmente multidisciplinar, no que tange ao seu valor científico, a pesquisa tomou como referência a Economia como ciência social e empírica, no seu tratamento de fatos e processos que necessitam de uma observação extensiva para confirmar suas conjecturas (GIL, 1991). A escolha do instrumental metodológico está relacionado diretamente com o problema proposto pela pesquisa. De acordo com Lakatos e Marconi (2010) é fundamental adequar os métodos e as técnicas utilizadas ao tema a ser estudado. O trabalho será desenvolvido por meio de uma revisão histórica acerca da discussão sobre os impactos ambientais no desenvolvimento da atividade econômica, e como a Economia Verde se insere neste contexto. A partir deste ponto o trabalho será focado na análise da Economia Verde tendo como alicerces artigos e livros referentes ao tema, assim como o documento “Rumo a uma Economia Verde” que traz toda a concepção da proposta relativa a Economia Verde. O material bibliográfico, juntamente com este documento, forma a 15 base da concepção do tema. Devido ao fato do objeto principal deste trabalho ter sido até o momento pouco explorado e analisado, o tipo de pesquisa mais adequada será a exploratória, baseada em fontes secundárias como livros, artigos publicados, dissertações, teses, relatórios, publicações avulsas, pesquisas e sítios eletrônicos especializados que abordam o tema específico e que são fontes características da pesquisa bibliográfica. Esta classificação está ligada a objetividade da pesquisa e “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.” (GIL, 1991, p. 38). Devido a variedade de fontes neste tipo de pesquisa é importante que seja atribuído tratamento específico a manipulação e aos procedimentos de cada um delas. Será necessário também algum nível de pesquisa documental, pois a proposta da Iniciativa em Economia Verde foi formalizada pelo PNUMA (2008), que faz parte da ONU, e discutida no evento oficial Rio+20. Com isso, pretende-se usar certas fontes primárias para proporcionar uma maior familiaridade e conhecimento acerca do debate relativo à noção de Economia Verde, pois trata-se de um objeto novo e ainda passível de debate. Os dados presentes neste trabalho foram extraídos da ainda limitada literatura referente ao tema e dos documentos que foram concebidos para serem os pilares da proposta de Economia Verde, o que justifica a classificação quanto ao objetivo da pesquisa ser de caráter exploratório, já que notadamente este tipo de pesquisa é tipicamente utilizado quando o tema escolhido é pouco explorado e se desenvolve de forma a proporcionar uma visão geral do assunto. Além disso, foram coletados dados a partir de fontes bibliográficas ligados a conceitos e fundamentos teóricos que dão suporte ao problema proposto. Quanto a forma de abordagem, esta será basicamente qualitativa, por ter característica descritiva e de análise indutiva. Como suporte, algumas informações e dados se apresentarão de forma quantitativa, mas a forma de abordagem será preponderantemente qualitativa. De acordo com Gil (2002), as hipóteses costumam aparecer como produto final em pesquisas exploratórias como o presente trabalho, isto porque o intuito dessa abordagem em relação a Economia Verde é explorar o significado de seus objetivos e proporcionar hipóteses em relação a aplicabilidade e efetividade dos mesmos, além de analisar possíveis falhas e virtudes da proposta. 16 1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA Este trabalho foi dividido em 5 capítulos, sendo o primeiro uma breve apresentação do tema, dos objetivos e dos procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento da pesquisa. No capítulo 2 foi feita uma abordagem resumida dos dois principais fundamentos teóricos que tratam da relação entre Economia e Meio Ambiente, sendo estes a Economia Ambiental Neoclássica e a Economia Ecológica. Nesta parte buscou-se estabelecer um cenário teórico para averiguar onde as teses da Economia Verde se inserem. A partir da descrição e caracterização resumida destes fundamentos teóricos analisou-se a relação entre a noção de Economia Verde e os posicionamentos anteriores. No capítulo 3 analisou-se a perspectiva histórica relativa ao objeto principal, por se entender que a Economia Verde deve ser analisada também a partir dos conceitos anteriores e das mutações que os mesmos sofreram. Para isso, foram descritas as conferências e as propostas resultantes destas para a solução dos problemas vigentes. Nestas conferências foram criados conceitos que foram analisados, relacionando-se estes à nova noção de Economia Verde, que foi o objeto principal deste trabalho. O capítulo 4 apresenta os principais elementos da proposta Economia Verde tomandose por base o documento no qual a proposta de baseia. Além disso, foram usados como referência diversos artigos, sites e livros que debatem o tema ou assuntos fortemente relacionados à noção de Economia Verde. No capítulo 5, a partir de uma análise minuciosa dos capítulos anteriores, foram apresentadas as considerações finais do trabalho, com ênfase nos avanços e lacunas que a noção de Economia Verde apresenta. 17 CAPÍTULO 2 - ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA E ECONOMIA ECOLÓGICA E ECONOMIA VERDE São duas as principais correntes que dividem o debate acadêmico no que tange a relação entre Economia e Meio Ambiente: Economia Ambiental Neoclássica e a Economia Ecológica. A economia ambiental incorpora a questão ambiental dentro do arcabouço da economia capitalista dominante, cujo viés é preponderantemente neoclássico, enquanto a economia ecológica se apresenta como um novo paradigma. Ambas as correntes são fruto de uma necessidade crescente de se pesquisar e propor soluções com base científica para a relação problemática entre economia e meio ambiente. Está amplamente evidenciado que há uma interação entre o meio ambiente e o sistema econômico, seja através dos impactos causados pelo sistema econômico ao meio ambiente ou pelo impacto que os recursos naturais causam na economia (MARQUES; COMUNE, 1997). É objetivo comum das duas correntes estabelecer uma forma de valoração dos ativos ambientais, mas a abordagem e as formulações destes valores diferem bastante de uma escola para a outra. Segundo Marques e Comune (1997) a maioria dos bens e serviços ambientais não são transacionados no mercado, com isso surgiu a necessidade gradativa de se desenvolver técnicas para a estimação de valores destes. Já para Ortiz (2003), do ponto de vista econômico “o valor de um recurso ambiental é a contribuição do recurso para o bemestar social” (ORTIZ, 2003, p. 81). Isso implica na ideia de trade-offs entre recursos disponíveis na economia e recursos disponíveis no sistema natural. Também de acordo com Marques e Comune (1997), a valoração tem um papel preventivo contra uma degradação irreversível de alguns ativos ambientais. A valoração ambiental decorre da importância latente que os bens e recursos naturais tem para a sobrevivência das espécies e esses valores podem ter caráter moral, ético ou econômico (ORTIZ, 2003). 2.1 ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA A economia ambiental neoclássica se apoia, como o próprio nome indica, nos preceitos da teoria econômica neoclássica. Assim como em relação à ciência econômica como um todo, a teoria neoclássica também é preponderante em termos de aplicação e uso no âmbito da relação entre economia e meio ambiente. É interessante mencionar que o surgimento desta escola se deu apenas pelo crescimento de uma pressão extrínseca sobre o 18 mainstream econômico para que este incorporasse fatores relativos a problemática ambiental e ao uso de recursos naturais em suas análises. Essa demanda sobre a corrente dominante se deve ao fato do sistema econômico ser visto como a principal fonte de pressão sobre o meio ambiente (ANDRADE, 2008). Ao incorporar a questão ambiental pela economia capitalista dominante (neoclássica), a Economia Ambiental neoclássica se baseia em conceitos dessa corrente econômica tais quais a preferência do consumidor, a escassez relativa dos recursos, a ação limitada do Estado, substitutibilidade perfeita entre capital, trabalho e recursos naturais, equilíbrio através dos mecanismos de mercado e a internalização das externalidades. Esta corrente não acredita que a possibilidade de finitude dos recursos naturais seja uma restrição em relação a expansão econômica, pois de acordo com sua concepção há uma situação de substitutibilidade perfeita entre capital, trabalho e recursos naturais, na qual o progresso técnico faz o papel de transgressor de limites ao substituir recursos naturais por capital ou trabalho indefinidamente. Isto denota que, na concepção desta corrente, a restrição imposta pela disponibilidade de recursos naturais ao crescimento econômico existe, mas é apenas relativa e pode ser sempre superada pelo progresso científico e tecnológico e uma concomitante alocação intertemporal ótima da utilização dos recursos através do mecanismo de preços (ROMEIRO, 2003). Esta desconsideração dos recursos naturais como elemento limitador do crescimento econômico pode ser observada na especificação da função de produção desta escola, onde uma relação entre os montantes de fatores produtivos da qual apenas capital (K) e trabalho (L) são consideradas como componentes da atividade econômica que geram o produto (Y), desconsiderando assim os recursos do ecossistema de qualquer participação neste cálculo. A variável recursos naturais (N) passou a ser considerada com o tempo por essa escola, porém na forma multiplicativa, denotando uma situação de substitutibilidade perfeita entre capital, trabalho e recursos naturais, sendo que dentro da concepção desta corrente, os limites impostos pela disponibilidade de recursos naturais poderiam ser sempre superados pela tecnologia, que teria a habilidade de substituí-los por capital ou trabalho. Com a ideia de substitutibilidade entre capital natural e capital construído, a noção de irreversibilidade perde sentido, pois não há perda irreversível em uma situação na qual qualquer perda pode ser reposta sem prejuízos. A esse conceito se atribuiu o a designação sustentabilidade fraca. Em relação à valoração, a Economia Ambiental Neoclássica propõe um sistema numerário comum para a valoração tanto do capital produzido quanto do natural, ou seja, os recursos naturais devem ter como referência os preços correntes e como afirma Andrade 19 (2008) “Baseia-se nas hipóteses do individualismo metodológico, utilitarismo e equilíbrio, e tem a welfare economics como substrato teórico, entendendo que o bem-estar é o fim último das relações econômicas” (ANDRADE, 2008, p.12). Isso significa que os recursos naturais devem ser manipulados por mecanismos de mercado, o que implica que em situações de escassez de um determinado recurso ocorreria uma elevação proporcional de seu preço, a qual induziria a criação de inovações para poupar tal recurso e aumentar a eficiência de seu uso, ao mesmo tempo em que outros recursos mais abundantes possam substituí-lo. O problema é que nem todos os recursos naturais, além de outros aspectos ambientais, são transacionados no mercado, o que gera uma falha relativa a tais recursos e traz a necessidade de intervenção para a conservação destes. Essas falhas são chamadas de externalidades e de acordo com esta corrente estas devem ser internalizadas (MARQUES; COMUNE, 1997). De acordo com Ortiz (2003), as técnicas de valoração econômica ambiental tem como parâmetro as preferências individuais das pessoas e são estas as grande balizadoras relativas a mudanças na qualidade ou quantidade do recurso ambiental. Isso significa que não é o valor do bem em si que importa, mas sim o valor que as pessoas atribuem a este a partir de suas preferências individuais. Esse pensamento pode ser resumido no seguinte trecho: “[...] o valor total do ambiente é revelado pelas preferências individuais das pessoas. Compete, pois, aos economistas a tarefa de desvendar tais valores.” (MARQUES; COMUNE, 1997, p.32). As soluções propostas por essa corrente são basicamente relacionadas a uma maior autonomia dos mecanismos de mercado. Duas soluções ideais, partindo de condições onde os mecanismos de mercado teriam liberdade de funcionamento, emergiram dessa escola. A primeira seria direta e postula eliminar o caráter público dos serviços ambientais, ou seja, esta solução propõe o estabelecimento de direitos de propriedade sobre estes serviços. Isso significa a privatização de recursos básicos como a água, o que teria como obstáculos para sua aplicação o elevado custo de transação decorrente de processos de barganha nos quais estariam envolvidos milhares de agentes (ROMEIRO, 2003). A segunda teria caráter indireto e é baseada na valoração econômica da degradação desses bens aliado a imposição desses valores pelo Estado através de taxas. Essa valoração seria estabelecida a partir de uma curva marginal de degradação ambiental. Essa curva relaciona os custos (marginais) que o agente tem com o controle da poluição e os custos (marginais) dos impactos ambientais provocados pela produção do agente, os quais ele teria que arcar a partir do pagamento de taxas. O objetivo do agente seria chegar a um ponto de equilíbrio denominado “poluição ótima” (ROMEIRO, 2003). Essa segunda solução esbarra em princípios básicos e características intrínsecas a estes 20 tipos de bens e serviços. A evolução das consequências de impactos ambientais é de uma imprevisibilidade incomensurável devido a fatores como efeitos sinérgicos e reações defasadas. 2.2 ECONOMIA ECOLÓGICA A Economia Ecológica é um fundamento teórico que foi alicerçado no fim dos anos 80 e sua estruturação como novo ramo do conhecimento ocorreu devido a insatisfação de estudiosos e pesquisadores tanto das ciências econômicas, quanto das ciências naturais, em relação as soluções propostas pela teoria neoclássica para problemas ambientais. A complexidade da problemática ambiental não comportava que somente uma disciplina a analisasse segundo essa escola, por isso seria necessária a integração de diferentes ramos da ciência nessa abordagem, o que acarretou no caráter transdisciplinar da Economia Ecológica, que pretende ser uma junção melhorada da Economia capitalista dominante (neoclássica) - ao considerar outras espécies, além da humana, em seus estudos - com a Ecologia convencional ao incluir a espécie humana na avaliação desta (ANDRADE, 2008; CAVALCANTI, 2010). Essa nova corrente parte da constatação de que o ecossistema global é finito, gerido por leis naturais e sem possibilidade de crescer além de suas fronteiras físicas, sendo assim o crescimento populacional e das atividades econômicas provocam um ambiente no qual há cada vez menos espaço para a expansão. A economia é vista como um subsistema deste ecossistema global e finito (ALIER, 2011). Ao contrário da Economia Ambiental Neoclássica, a Economia Ecológica não está ligada aos preceitos da economia capitalista dominante (neoclássica) e por isso deve ser tratada como um novo paradigma baseado na ideia de que a Economia é parte de algo maior e está inserida nele, ou melhor, “o sistema econômico seria um subsistema de um todo maior que o contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão” (ROMEIRO, 2003, p.11), ou seja, a economia deve funcionar desde que de acordo com o limite absoluto estabelecido pelo sistema natural. Uma base na qual a Economia Ecológica se debruça para avaliar a relação conturbada entre economia e meio ambiente são as duas primeiras leis da termodinâmica, sendo a primeira a lei da conservação da matéria e energia e a segunda a lei da entropia. Essas duas leis tem implicações diretas no principal problema da economia, qual seja, a escassez. “Como recursos escassos, matéria e energia devem ser alvo da análise econômica” (ANDRADE, 2008, p.19). Essa análise econômica proposta pela Economia Ecológica passa pela atribuição 21 de valores monetários aos serviços e às perdas ambientais e a tentativas de correção da contabilidade macroeconômica vigente, porém seu grande diferencial é o desenvolvimento de indicadores e referências físicas de sustentabilidade (ALIER, 2011). De acordo com Cavalcanti (2010), a óptica mecanicista prevalecente na economia dominante impede que esta institua um indicador do nível de produção que englobe o meio ambiente e que mantenha a produção em um nível que não constitua uma ameaça às gerações futuras. Na física, a mecânica implica somente locomoção que, além de reversível, não abrange mudanças qualitativas, o contrário do que acontece na natureza, onde imperam os fenômenos irreversíveis. O problema é que a atividade econômica consiste em produzir e consumir, transformando recursos brutos em produtos finais e, depois, em lixo, de maneira irreversível, em um processo que requer energia, que não pode ser reciclada, ou seja, um tópico que pertence à esfera da termodinâmica, e não da mecânica. Dentro dessa conceituação podemos apontar o fator principal de rompimento com a Economia Ambiental, e esse seria o fato dessa corrente estabelecer a existência de um limite para a expansão econômica, sendo impossível, mesmo através do progresso científico, superar os limites impostos pelo sistema natural. Autores modernos como Abramovay (2012) afirmam que apenas o reconhecimento destes limites dos ecossistemas pode permitir que existam novas possibilidades, nos dias atuais, para o processo de desenvolvimento. Alier (2011) reforça esse ponto ao ressaltar que há uma incompatibilidade do crescimento econômico com a conservação em longo prazo dos recursos e serviços ambientais. Esses limites estão fora do raio de alcance do conhecimento científico e por isso não é possível designá-los, sendo necessário agir de forma preventiva com o intuito de impedir a ocorrência de perdas irreversíveis. Os instrumentos sugeridos por esta corrente para solucionar esta problemática são a precaução, a adoção de uma escala de produção e consumo e o progresso técnico. Apesar de ser primordial para aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais em geral, “o progresso técnico pode atenuar relativamente a pressão exercida pela sociedade ao meio ambiente, mas não eliminá-la” (ROMEIRO, 2003, p.5). Mais do que isso, como afirma Abramovay (2012) ao dizer que “a ideia predominante no pensamento econômico do século XX mostra-se tragicamente equivocada e as mudanças climáticas são a expressão mais cabal desse engano” (ABRAMOVAY, 2012, p. 18). A ideia a que este autor refere-se é a capacidade infinita do engenho humano em substituir recursos exauridos e corrigir os danos causados na produção e no consumo. A Economia Ecológica rechaça a ideia de que a sustentabilidade pode ser alcançada através de conceitos individualistas como a preferência do consumidor e o livre 22 funcionamento dos mecanismos do mercado. Sob a ótica da Economia Ecológica, apenas por um esforço coletivo, que englobe ações do Estado ou de outras formas de organização coletiva, pode-se atingir uma sustentabilidade do sistema econômico, sendo para isso imprescindível a estabilização dos níveis de consumo per capita de um modo que se respeite a capacidade de carga do planeta. Em termos de valoração, esta corrente preconiza que bens e serviços ambientais devem ser incorporados à contabilidade econômica dos países para que seja possível perseguir um desenvolvimento sustentável. Deve-se atribuir valores aos bens e serviços ambientais comparáveis aos que são atribuídos a bens e serviços econômicos produzidos pelo homem e transacionados no mercado. O sistema de valoração proposto pela teoria neoclássica é criticado pela Economia Ecológica, especialmente no que tange ao princípio da soberania do consumidor e na revelação da preferência que, apesar de adequadas para bens e serviços que produzem pouco ou nenhum impacto no longo prazo, são inadequadas para aqueles que tem um caráter de longo prazo. Além disso, há uma discordância em relação ao método de simulação de mercado proposto pela teoria neoclássica para valorar bens e serviços ambientais não transacionados no mercado por ser considerado um método eivado de falhas relativas a qualidade da informação obtida. (MARQUES; COMUNE, 1997). Segundo Marques e Comune (1997) a alternativa apresentada pela Economia Ecológica para a valoração de bens e serviços ambientais é um método de base biofísica que avalie os objetos de acordo com o custo, o qual é determinado perante seu grau de organização em relação ao ambiente. A Economia Ecológica não resume a valoração ambiental a uma só abordagem e de acordo com Alier (2011) “[...] ela abarca a valorização monetária, mas também avaliações físicas e sociais das contribuições da natureza e os impactos ambientais da economia humana mensurados nos seus próprios sistemas de contabilidade” (ALIER, 2011, p.53). Nicolas Georgescu-Roegen foi quem elaborou uma crítica pioneira e sistemática da desconsideração em relação a restrição imposta por forças naturais a expansão econômica infinita propagada pela escola neoclássica. Seu pensamento se apoia nas leis da termodinâmica (ABRAMOVAY, 2012; CAVALCANTE, 2010; ROMEIRO, 2003). O fato é que a capacidade de carga da Terra não poderá ser ultrapassada sem que ocorram grandes catástrofes ambientais. O grande dilema nesta questão é que não se sabe qual seria essa capacidade de carga e deve-se agir com precaução para evitá-la. Essa precaução passa por ações de que estimulem o progresso técnico poupador de recursos naturais e por 23 uma mudança nos padrões de consumo vigentes, especialmente no que tange ao crescimento desenfreado do uso de recursos naturais per capita. Esta segunda ação é complicada de ser perpetuada, pois transgride a lógica do processo de acumulação de capital no qual se baseia o capitalismo. A criação contínua de novas necessidades de consumo é um dos baluartes da economia capitalista dominante (neoclássica). A Economia Ecológica refuta os métodos de valoração sugeridos pela Economia Ambiental Neoclássica por estes desconsiderarem princípios ecológicos fundamentais. A Economia Ambiental Neoclássica, por colocar o equilíbrio econômico como o centro de sua análise e submeter o meio ambiente aos mecanismos de mercado, desconsidera a capacidade de assimilação de componentes do sistema natural, sendo que cada vez que esta capacidade sofre uma deterioração ela enfraquece, até o ponto em que não há como reverter este processo. Assim, uma situação de “poluição ótima” denota um forma de equilíbrio econômico e não ecológico. Por isso, em termos de valoração dos recursos ecológicos, a Economia Ecológica se baseia nos fluxos de energia líquida dos ecossistemas (MARQUES; COMUNE, 1997). Há uma inversão de papéis entre as duas escolas no que diz respeito ao estabelecimento de parâmetros. Dentro da visão da Economia Ambiental Neoclássica os parâmetros não físicos (tecnologia e preferências) devem determinar uma posição de equilíbrio na qual uma escala das variáveis físicas deve ser definida e se ajustar enquanto na Economia Ecológica ocorre o contrário e os parâmetros não físicos devem se ajustar a escala definida pelas variáveis físicas. O grande obstáculo a ser superado pela fundamentação da Economia Ecológica é a transformação radical necessária no bojo das sociedades existentes hoje. Essas sociedades são incessantemente incentivadas pelo consumo e pela criação de novas necessidades, muitas delas consideradas supérfluas. A capacidade de consumo material é um fator de diferenciação social predominante nas sociedades atuais e para que se tenha uma mudança na relação entre sociedade e natureza na direção dos preceitos da Economia Ecológica, essa mudança deve ocorrer no seio da sociedade em termos de seus valores éticos e morais. 2.3 A ECONOMIA VERDE E SUA RELAÇÃO COM OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS 24 É fato que a Economia Verde não consiste em um fundamento teórico, mas é certo também que suas ideias podem ser relacionadas com os dois fundamentos teóricos apresentados. Apesar de podermos afirmar que a Economia Verde não é um fundamento teórico, é difícil dizer de maneira assertiva exatamente o que é este termo que, por enquanto, se trata de uma noção. Há uma imensa incógnita acerca de seu significado, pode-se dizer que se trata de um conceito, de um modelo de economia ou de um conjunto de instrumentos para se conceber um desenvolvimento sustentável ou, para aqueles que preferem e acreditam em um termo mais embaraçoso, um “crescimento” sustentável. Em alguns trechos do relatório Rumo a uma Economia Verde do PNUMA podemos ver tentativas de rotulação da definição essencial da Economia Verde como no que se segue: “[...] tivemos várias evidências do caminho a ser seguido, um novo paradigma econômico, no qual a riqueza material não é alcançada necessariamente à custa de um crescente risco ao meio ambiente, escassez ecológica e disparidades sociais.” (PNUMA, 2011, p.1). Nesta parte há uma grande contradição, fala-se em um novo paradigma econômico no qual a riqueza material não é alcançada pela depleção dos recursos naturais, sendo que o problema é justamente que o núcleo do pensamento capitalista é a acumulação de capital, ou seja, a acumulação de riqueza, e esse modelo sempre irá provocar algum nível de escassez ecológica e disparidades sociais. Como vimos anteriormente o fundamento teórico da Economia Ecológica coloca-se como um novo paradigma por romper com as ideias centrais do pensamento neoclássico e não é este o mesmo caso da Economia Verde, pois esta corrobora com o mantra neoclássico fundamental do crescimento econômico contínuo, sendo a única mudança um deslocamento setorial radical da produção visando o uso de tecnologias limpas e eficientes, ou seja, parece que a intenção é apenas pintar a economia como ela é de verde. Avaliando superficialmente podemos achar que a Economia Verde se aproxima dos preceitos da Economia Ecológica ao aceitar a ideia de uma possível escassez absoluta de recursos e ao se colocar como um novo paradigma, ou de forma semelhante, como um novo modelo econômico. Em relação à segunda afirmação vimos que se trata de uma falácia e no que tange a primeira podemos explorar alguns trechos do relatório para mostrar as contradições existentes neles. Vejamos alguns exemplos: “[...] o crescimento econômico mundial – sob o prisma do modelo atual – ainda será limitado pelo aumento da escassez de energia e recursos naturais.” (PNUMA, 2011, p.23) ou “[...] a atividade econômica [...] se baseia na desvalorização do capital natural ..., isso está causando o esgotamento dos recursos 25 naturais e acabando com a habilidade dos ecossistemas de fornecerem benefícios econômicos” (PNUMA, 2011, p.4). Apesar de todas essas frases de efeito podemos ver claramente que a proposta da Economia Verde contradiz fortemente a ideia de limite biofísico característico da Economia Ecológica ao ter como um de seus objetivos principais a retomada do crescimento econômico após a crise de 2008. O trecho a seguir é um bom exemplo disso: O conceito de uma “economia verde” não substitui desenvolvimento sustentável, mas hoje em dia existe um crescente reconhecimento de que a realização da sustentabilidade se baseia quase que inteiramente na obtenção do modelo certo de economia. Décadas de criação de uma nova riqueza através de um modelo de “economia marrom” não lidaram de modo substancial com a marginalização social e o esgotamento de recursos, e ainda estamos longe de atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A sustentabilidade continua sendo um objetivo vital a longo prazo, mas é preciso tornar a economia mais verde para chegarmos lá. (UNEP. 2011, p.1) Nesse trecho temos grandes contradições e imensos pontos de interrogação com relação ao posicionamento da economia verde. O conceito de desenvolvimento sustentável foge dos limites em que se baseia a economia capitalista dominante (neoclássica) e a economia verde tenta se desvencilhar da mesma ao afirmar que é necessário a obtenção de um modelo certo de economia. Porém, em nenhum momento a Economia Verde advoga a favor de uma contenção do crescimento econômico e muito menos se coloca numa posição contrária ao capitalismo e sua necessidade intrínseca de acumulação de capital, apenas prega uma acumulação centrada no “capital natural”, no “esverdeamento” da economia como ela é. A frase final é ainda mais inquietante, pois ao falar “a sustentabilidade continua sendo um objetivo final a longo prazo” fica difícil não parafrasear Keynes com um senso de “timing” perfeito: “No longo prazo estaremos mortos” (KEYNES, 1923, p. 100). Talvez a única exceção a esse distanciamento entre Economia Verde e Economia Ecológica seja com relação a não concordância de ambas na confiabilidade do PIB como principal indicador de desempenho econômico. De acordo com Alier (2011) e também do ponto de vista da Economia Ecológica, considerar a valorização do desempenho macroeconômico apenas pelo prisma de um indicador como o PIB (produto interno bruto) pode encobrir um uma vasta gama de trabalho não remunerado perpetuado no âmbito das relações familiares e sociais, assim como danos sociais e ambientais não reparados. A Economia Verde também coloca em xeque a validade de se mensurar o desempenho econômico através do PIB, pois segundo seus formuladores indicadores econômicos convencionais como o PIB “não refletem a extensão com a qual as atividades de produção e o consumo podem estar drenando o capital natural.” (PNUMA, 2011, p.4). 26 Por outro lado, podemos inferir algumas concordâncias claras entre a posição do fundamento teórico da Economia Ambiental Neoclássica e a Economia Verde. Um ponto fundamental de concordância é o coro pelo crescimento econômico emanado tanto pela Economia Ambiental Neoclássica como pela Economia Verde, em termos macroeconômicos a Economia Verde é extremamente ligada ao paradigma econômico convencional. Relativamente a sua abordagem com os recursos naturais podemos dizer o mesmo, sendo uma constatação disso o seguinte trecho do relatório Rumo a uma Economia Verde do PNUMA: “O caminho do desenvolvimento deve manter, aprimorar e, quando possível, reconstruir capital natural como um bem econômico crítico e como uma fonte de benefícios públicos [...]” (PNUMA, 2011, p.1). Esse trecho traduz de forma clara a intenção da Economia Verde em elaborar ações que mantenham o domínio do modelo econômico atual e que, apesar de mudanças relativas aos meios, continuam a explorar a natureza vendo-a como um bem econômico com o intuito de manter o crescimento e a acumulação de capital (PÉRET, 2012). Também de acordo com o relatório, o mercado pode ser um ator fundamental na transição para a Economia Verde, sendo que suas ferramentas podem ser muito eficientes para estimular investimentos. Essa concepção relativa a importância dos mecanismos e ferramentas do mercado aproxima bastante a Economia Verde dos fundamentos da Economia Ambiental Neoclássica, sendo que uma das soluções propostas para a transição para a Economia Verde inclui a internalização das externalidades que figura como uma das bases do pensamento ambiental neoclássico. Ao abordar os impactos das externalidades negativas de setores como o de transportes e de resíduos o relatório afirma que estes não são refletidos nos custos e preços de produtos ou serviços não-sustentáveis, o que pode ter como possibilidade de solução para este problema a incorporação do “custo das externalidades no preço de um bem ou serviço através de um imposto corretivo, encargo ou tributo ou, em alguns casos, por meio de outros instrumentos baseados no mercado [...]” (PNUMA, 2011, p.31). 27 CAPÍTULO 3 - DAS CONFERÊNCIAS MUNDIAIS ATÉ A EMERGÊNCIA DA ECONOMIA VERDE Para se compreender a evolução do debate acerca da interação entre economia e meio ambiente até o lançamento da iniciativa em Economia Verde pelo PNUMA se faz necessário uma recapitulação histórica das principais conferências que levaram até este lançamento. Apesar do crescimento da importância da discussão sobre a temática ambiental remontar ao fim da década de 1960, este tema só começou a ser tratado oficialmente pela ONU no início década de 1970. Antes disso a temática ambiental ganhou força em âmbito global a partir do descontentamento da classe média dos países desenvolvidos com as consequências negativas da industrialização, cujos efeitos maléficos ao meio ambiente já se faziam sentir neste nicho social dos países desenvolvidos. Por representar a maior parte da população nos países desenvolvidos e devido a seu nível educacional, a classe média desses países possuía poder social e político para expressar suas insatisfações e com isso irradiar um movimento em direção a uma mudança de prioridades. Algumas obras como Silent Spring (1962), de Rachel Carson, e This Endangered Planet (1971), de Richard Falk, além de ensaios e livros de Garrett Hardin, como The Tragedy of Commons (1968) e Exploring New Ethics for Survival (1972) influenciaram profundamente a opinião pública dos países desenvolvidos. Este capítulo tem como objetivo mostrar um resumo cronológico dos eventos que caracterizaram o debate sobre a relação entre economia e meio ambiente e fazer algumas análises referentes aos principais conceitos, resoluções e princípios produzidos até se chegar a concepção da iniciativa em Economia Verde e a conferência Rio + 20. 3.1 CLUBE DE ROMA O Clube de Roma foi constituído em 1968 e pode ser considerado o primeiro marco no aprofundamento da temática ambiental. O Clube de Roma era um agrupamento de cientistas, empresários e políticos que se reunia com o intuito de discutir e analisar os limites do crescimento econômico levando em conta o uso crescente dos recursos naturais (MATTEI; BESKOW, 2012). Este grupo possuía um forte viés neomalthusiano, no qual a ideia de um crescimento demográfico implicaria em um ritmo cada vez maior de uso e consequente depleção de recursos naturais, o que acarretaria em um futuro desastre ambiental irremediável. 28 Em março de 1972, pouco antes da abertura da conferência de Estocolmo, o Clube de Roma lançou a obra The limits of growth que a tornou um proeminente expoente da temática ambiental. Essa obra, baseada nos resultados de um modelo desenvolvido pelo professor do MIT Jay Forrester que simulava a evolução da economia global, é resultado da união de pesquisadores coordenados por Dennis L. Meadows e tem no centro de suas análises a ideia de que os recursos naturais do planeta são finitos e que há única forma de se superar esta situação seria o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial. O modelo de desenvolvimento econômico sugerido por este trabalho e, consequentemente, pelo Clube de Roma, baseava-se na ideia de crescimento zero (MATTEI; BESKOW, 2012). Do trabalho produzido a partir da concepção do Clube de Roma, quatro pontos foram levantados como questões que deveriam ser solucionadas para que se alcançasse a sustentabilidade: o controle do crescimento populacional; o controle do crescimento industrial; a insuficiência da produção de alimentos; e o esgotamento de recursos naturais (PASSOS, 2009). Apesar de ter um caráter um tanto utópico quando relacionado ao modelo dominante, esse documento suscitou recorrentes debates que intencionavam a formulação de soluções que visassem a proteção do meio ambiente. A importância dessa obra e do Clube de Roma foi muito significativa para a realização da primeira conferência global voltada para o meio ambiente. 3.2 A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE HUMANO A primeira reunião oficial realizada pela ONU envolvendo a temática ambiental aconteceu em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1972 sob o cunho “Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano”. Participaram da conferência 113 países e 250 ONG's, além de organismos da ONU. De acordo com Lago (2005), a convocação da CNUMAH foi fruto de uma crescente demanda internacional para a preservação da natureza e da insatisfação de variados setores da sociedade em relação as consequências da poluição sobre a qualidade de vida das populações. Já Le Prestre (2005) cita quatro fatores como principais para motivar a realização da CNUMAH, sendo eles: o aumento da cooperação científica nos anos 60; aumento da publicidade dos problemas ambientais; o crescimento econômico acelerado e outros problemas como a poluição do Mar Báltico, a acumulação de metais pesados,pesticidas que impregnavam peixes e aves, entre outros. 29 Em termos históricos, a conferência foi marcada pela Guerra Fria, o que resultou em um boicote da União Soviética ao evento em protesto à ausência da Alemanha Oriental, país que não fazia parte da ONU nessa época. Nesse panorama, aflorou-se uma polêmica que foi proeminente durante a conferência, sendo esta a discussão conflituosa entre países desenvolvidos do Norte e países em desenvolvimento do Sul. Essa situação se caracterizava pela defesa do direito à industrialização e ao desenvolvimento econômico pelos países do Sul enquanto os países do Norte apoiavam políticas rigorosas de controle da poluição, sem que isso incidisse numa revisão de seus padrões de produção e consumo. Os países do Sul alegavam que os países desenvolvidos do Norte estavam tentando frear seu desenvolvimento com tais políticas. Por ter sido a primeira conferência global direcionada ao meio ambiente, a CNUMAH é considerada um marco na política internacional relacionada ao meio ambiente e pode-se dizer que de sua ocorrência “resultaram inúmeras questões que continuam a influenciar e a motivar as relações entre os atores internacionais, colaborando para a notável evolução que eclodiu após a Conferência.” (PASSOS, 2009, p.7). Um dos personagens mais importantes da conferência e que merece ser destacado foi o canadense Maurice Strong, Secretário-Geral da CNUMAH. Antes da conferência de Estocolmo, Strong convocou em junho de 1971 uma reunião em Founex, na Suiça, com o Grupo de Peritos sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente como uma estratégia para obter o apoio da maioria dos países em desenvolvimento e para estabelecer o escopo que teria a conferência. A partir de um relatório produzido durante a Founex, o debate ambiental ganhou força nos países em desenvolvimento e trouxe um embasamento maior para a ocorrência da CNUMAH. (LAGO, 2006). Sachs (1993) afirma que o relatório Founex estabeleceu um meio termo entre a “aterrorizante” visão de crescimento zero e o crescimento econômico desenfreado balizado pelo avanço tecnológico. A conferência foi organizada muito em virtude da emergência de se propor soluções e diretrizes para as relações entre o homem e o meio ambiente principalmente no que concernia a problemas relacionados a mudanças climáticas, quantidade e qualidade das águas disponíveis, modificação de paisagens,crescimento econômico desenfreado e extirpador de recursos naturais, chuvas ácidas, poluição, entre outros. Pode-se dizer que o objetivo geral da CNUMAH era disseminar a importância do meio ambiente e das ações antrópicas em relação a ele, assim buscava-se “definir padrões de conduta adequados à conservação da natureza, do meio ambiente e, consequentemente, da sociedade humana global.” (PASSOS, 2009, p.12). 30 Aliado a esses pontos, a conferência objetivou trazer a tona o reconhecimento pelos Estados dos problemas ambientais, explicitamente perceptíveis na época, além de fazer despertar a urgência de ações providenciais para lidar com tais problemas de forma global. A conferência também teve importância fundamental na conscientização dos países em desenvolvimento em relação ao tema para que estes pudessem se imbuir de responsabilidade nos seus papéis de atores no desenvolvimento de ações em prol do meio ambiente. A dicotomia dos interesses que englobavam a conferência foi expressa de duas formas, sendo uma a posição de corte neomalthusiano defensora de um “crescimento zero” contra os desenvolvimentistas que clamavam por um crescimento econômico contínuo sem grandes restrições (AMAZONAS, 2012) e a outra que separava os interesses de países desenvolvidos e países em desenvolvimento. O conflito de interesses entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento se configurava mais latente, inclusive, no final da década de 1960. A visão dos países em desenvolvimento era de que a transposição da agenda ambiental recém elaborada pelos países desenvolvidos para o âmbito internacional seria prematura. No entanto a convocação da CNUMAH obrigou os países em desenvolvimento a se interarem na temática e estabelecer estratégias que defendessem suas posições na conferência. Enquanto isso nos países desenvolvidos a internacionalização do tema só aumentou a urgência de ações internas relativas à sua agenda ambiental doméstica. A partir dessas perspectivas, a conferência de Estocolmo foi responsável direta tanto pela evolução da temática ambiental em nível internacional quanto no plano interno de grande número de países, além de permitir uma inserção pujante do tema no contexto político e econômico (LAGO, 2006). Como resultado geral pode-se inferir que a conferência “introduziu alguns conceitos e princípios que, ao longo dos anos, se tornariam a base sobre a qual evoluiria a diplomacia na área do meio ambiente.” (LAGO, 2006, p.18) Já como medidas específicas deve-se destacar a aprovação da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, com 26 princípios, e o Plano de Ação para o Meio Ambiente Humano, com 109 recomendações. Além do fortalecimento das Nações Unidas como consequência da conferência de Estocolmo, pode-se destacar outros grandes avanços nas questões ambientais tais como: a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA; inclusão do tema ambiental na agenda multilateral determinando as prioridades das futuras negociações; incentivos à criação de órgãos nacionais voltados à questão de meio ambiente; consolidação das organizações não-governamentais e um estímulo a maior participação da sociedade nas 31 questões ambientais. A criação do PNUMA, por exemplo, foi fundamental para a manutenção e progresso dos debates sobre meio ambiente no âmbito das Nações Unidas no decorrer dos anos seguintes. De acordo com Lago (2006), pode-se inferir que a CNUMAH fundamentou de forma pioneira alguns dos conceitos e princípios que se tornariam a base sobre a qual evoluiria a diplomacia na área do meio ambiente. Os principais pontos dessa evolução serão revisados no decorrer desse capítulo. 3.2.1 Ecodesenvolvimento O termo Ecodesenvolvimento nasceu da necessidade de se conciliar crescimento econômico e preservação ambiental. Este conceito foi lançado por Maurice Strong em 1973, após a conferência de Estocolmo, e foi definido por este como “um estilo de desenvolvimento adaptado às áreas rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilização criteriosa dos recursos locais, sem comprometer o esgotamento da natureza” .(LAYRARGUES, 2007, p.3) Esse conceito se sustentava na ideia de que as sociedades dessas regiões ainda se mantinham afastadas do ideal doutrinário baseado na noção de crescimento a partir do aprendizado em relação aos países já desenvolvidos. Os ecodesenvolvimentistas rejeitavam a ideia de crescimento zero, assim como as demais correntes, porém se diferenciavam do mainstream econômico no que tange a sua apreensão com relação à perdas ambientais potencialmente relevantes, assim como a pobreza e concentração de renda. Já perante as correntes marxistas-estruturalistas, a discordância era expressa na suposição que a situação dos países pobres resultava de fatores eminentemente endógenos (ROMEIRO, 2012). Na década de 1980 o economista Ignacy Sachs desenvolve de forma abrangente esse conceito e cria um quadro de estratégias baseado em três pilares: eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica (MATTEI; BESKOW, 2012). Além disso, este autor desenvolveu as cinco dimensões de sustentabilidade do Ecodesenvolvimento, sendo elas: a sustentabilidade social, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade espacial, a sustentabilidade ecológica e a sustentabilidade cultural. Segundo Layrargues (2007), o ecodesenvolvimento traz uma nova visão em termos de horizonte temporal no que se refere à sua abordagem desenvolvimentista ao abranger à satisfação das necessidades das gerações futuras, numa espécie de solidariedade intergeracional, sem que com isso se prejudique a satisfação das necessidades da geração 32 presente. Montibeller Filho (1993) corrobora essa visão ao apontar a posição ética do Ecodesenvolvimento, na qual o desenvolvimento seria “voltado para as necessidades sociais mais abrangentes [...] e o cuidado com a preservação ambiental como uma responsabilidade para com as gerações que sucederão” (MONTIBELLER FILHO, 1993, p. 133). Dentre as condições estipuladas por Sachs para se conferir aplicabilidade ao conceito destacam-se: a necessidade do amplo conhecimento das culturas e dos ecossistemas, o envolvimento dos cidadãos no planejamento das estratégias por serem os maiores conhecedores da realidade local e o pluralismo tecnológico. Esse autor também advoga a favor da precaução em relação à atuação sem limites do mercado e urge pela necessidade de certa regulação estatal para que o desenvolvimento ocorra sem que se sofram efeitos colaterais graves, efeitos esses que são característicos de processos de desenvolvimento que se apoiam na ação sem limites do mercado (LAYRARGUES, 2007). O Ecodesenvolvimento pode ser visto como um conceito que tenta, de forma pioneira, encontrar um meio termo entre desenvolvimento e sustentabilidade. Apesar de se afastar dos extremos do debate centrado no meio ambiente, o Ecodesenvolvimento não refuta o paradigma proposto pelo mainstream econômico, apenas insere e incorpora, a partir de sua conceituação, elementos mais heterodoxos como a importância da dimensão cultural, da precaução ambiental e do papel do Estado no desenvolvimento. 3.2.2 Relatório de Brundtland A conferência de Estocolmo, a partir de princípios e conceitos alçados durante sua ocorrência, instaurou as bases que sustentariam o complexo debate que tinha como tema central o meio ambiente e os dilemas político e econômico relacionados a ele em âmbito internacional. O debate foi retomado no início da década de 1980 pela ONU. Em 1982 uma avaliação dos dez anos da conferência de Estocolmo aconteceu sob a supervisão do PNUMA na cidade de Nairóbi e, em 1983, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), chefiada pela primeiraministra da Noruega Gro Harlem Brundtland e composta por 23 comissários de 22 países, com o intuito de manter o debate ativo através da promoção de audiências em todo o mundo e da compilação dos resultados de maneira formal. O documento final elaborado pela comissão foi intitulado de Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, resultado de cerca de quatro anos de trabalho da CMMAD. De acordo com Lago (2006) “O 33 relatório introduziu, igualmente, novos enfoques e cunhou o conceito de desenvolvimento sustentável, objetivo que exige equilíbrio entre “três pilares”: as dimensões econômica, social e ambiental” (LAGO, 2006, p.18). Para a produção deste documento, que teve impacto no público não-especializado comparável a obra The Limits To Growth na conferência de Estocolmo, foram visitados inúmeros países por membros da Comissão, nas quais foram realizadas reuniões com comunidades locais para se debater questões ambientais e relativas ao desenvolvimento. O conceito de Desenvolvimento Sustentável foi formalizado e lançado em 1987 no relatório de Brundtland como sendo o “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades” e pode ser considerado um dos eixos centrais do relatório. Entretanto, este termo não foi criado pelo relatório, tendo aparecido inicialmente em 1980 na reunião da World Conservation Strategy e posteriormente em 1982 na reunião do PNUMA em Nairobi. A definição de desenvolvimento, de acordo com Nascimento (2012), traz consigo uma série de incógnitas já que não especifica quais seriam as necessidades humanas atuais e muito menos as das gerações futuras. Entretanto, esta definição incorpora a noção de intergeracionalidade no conceito de sustentabilidade e incrementa algumas ideias alçadas na definição do conceito de Ecodesenvolvimento como as relativas a justiça social e valores éticos. Romeiro (2012) destaca a característica de continuidade e sucessão que o conceito desenvolvimento sustentável tem em relação ao de Ecodesenvolvimento ao alertar o risco ambiental do crescimento econômico e propor políticas e medidas conciliatórias que possibilitem o crescimento e a preservação ambiental. Para Layrargues (2007) apesar de compartilharem um objetivo comum, sendo esse a consecução de uma sociedade ecologicamente sustentável, o Ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentável possuem diferenças referentes às suas estratégias para o alcance deste objetivo, como por exemplo: a visão neoliberal incorporada no Desenvolvimento Sustentável que postula a retirada de cena por parte do Estado no que concerne ao fomento da competitividade no mercado enquanto o Ecodesenvolvimento afirma ser necessária uma participação ativa do Estado nesse âmbito; uma abordagem não restritiva em relação ao consumo por parte do Desenvolvimento Sustentável centrada na erradicação da pobreza e no estabelecimento de um piso de consumo material, ao contrário do Ecodesenvolvimento que proclamava o encontro de um equilíbrio entre o padrão de consumo do norte e do sul, no qual os países do norte deveriam diminuir seu nível de consumo ao mesmo tempo em que os países do sul aumentassem seu nível de consumo, nesse caso seria estabelecido um teto de consumo 34 material; por fim há uma discrepância entre as estratégias de execução do Desenvolvimento Sustentável e do Ecodesenvolvimento no que tange a tecnologia, onde o primeiro advoga a favor do potencial ilimitado da tecnologia moderna, sendo favorável a ideia de transferência tecnológica do norte para o sul, enquanto o segundo alerta para a crença ilimitada no poder dessa tecnologia e é favorável a criação de tecnologias endógenas. Nascimento (2012), questiona se as três dimensões (econômica, ambiental e social) propostas pelo Desenvolvimento Sustentável são suficientes para se atingir uma almejada sustentabilidade. Este autor pondera sobre a ausência das dimensões política e cultural nas proposições do Desenvolvimento Sustentável, sendo a necessidade da primeira inerente a qualquer processo de mudança, seja ela de cunho social ou econômico, e a segunda diretamente relacionada à mudanças de valores e comportamentos, que por sua vez tem consequência direta em mudanças relativas a padrões de consumo e estilos de vida. Layrargues (2007) destaca alguns pontos importantes levantados no relatório e que tem relação direta com o conceito Desenvolvimento Sustentável como a responsabilidade compartilhada por todos os atores sociais na busca e implementação das soluções referentes aos problemas de degradação ambiental, o papel da tecnologia e da organização social na formulação de um crescimento econômico adequado aos preceitos da sustentabilidade e a erradicação da pobreza. Segundo Romeiro (2012), essas premissas e condições podem ser alcançadas a partir de um conjunto de políticas capazes de garantir, ao mesmo tempo, o aumento da renda nacional, o acesso a direitos sociais básicos e a redução do impacto proveniente do aumento da produção e do consumo no meio ambiente. A principal recomendação do relatório Brundtland, segundo Nascimento (2012), refere-se a realização de uma conferência mundial que direcionasse as questões do meio ambiente e do desenvolvimento ali levantadas, a qual viria a ocorrer em 1992 na cidade do Rio de janeiro sob o título de Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e que veremos a seguir. 3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Também conhecida como Rio-92, Cúpula da Terra ou Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento foi convocada dois anos após a publicação do relatório de Brundtland - fator decisivo para a convocação da conferência - e ocorreu no ano de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, reunindo delegações de 172 países, além 35 de 108 chefes de Estado ou de governo. O Secretário-Geral da conferência foi, novamente, Maurice Strong e os três fatores que viabilizaram a conferência foram: a Convenção de Viena, o Protocolo de Montreal e o Relatório Brundtland. É importante apontarmos os principais elementos históricos que circundaram o planejamento e ocorrência da conferência. O fim dos anos 80 e início dos 90 foram marcados pelo fim da Guerra Fria, o progresso do tratamento multilateral relativo às questões comerciais, a ausência de ditaduras militares nos países em desenvolvimento e o crescente interesse da academia pelo tema da sustentabilidade são pontos a serem destacados em relação a este período. O fim da Guerra Fria, principalmente, trouxe uma grande dose de otimismo político e econômico devido ao novo contexto que se desenlaçava, com muitas oportunidades de investimento nos mercados do leste europeu e chinês recém abertos para as economias desenvolvidas. Isso propiciou grande confiança em uma nova fase de crescimento econômico mundial que se deflagrou nos 10 anos seguintes a conferência do Rio, sendo considerado o período de maior crescimento econômico da história. Além do aspecto histórico, esse crescimento foi possibilitado também pela ocorrência de grandes avanços tecnológicos e um exponencial aumento no fluxo de transações comerciais e financeiras (LAGO, 2006). Essa também é a visão de Sequinel (2002) que afirma que a conjuntura geopolítica e mundial relativa a Rio-92 favorecia a ideia de cooperação internacional. Esse evento foi organizado de forma conjunta pela ONU e pelo governo brasileiro. Pode-se dizer que foi pioneiro em colocar a temática ambiental no centro dos debates, a partir do momento em que foi estabelecida uma gama de acordos políticos com metas e objetivos a serem seguidos nas décadas seguintes por todos os países que assinaram o documento produzido no fim da conferência (MATTEI; BESKOW, 2012). Além disso, foi nessa conferência que o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi consagrado e que se verificou um certo consenso relativo a noção de que os problemas ambientais eram, em sua maioria, responsabilidade dos países desenvolvidos. O propósito da convocação da conferência era a elaboração de estratégias e medidas que revertessem as consequências da degradação ambiental de uma forma a promover o desenvolvimento sustentável alicerçado nos crescentes esforços tanto nacionais como internacionais para atingir adequação e sustentabilidade ambiental. As diferenças em relação à conferência de Estocolmo são latentes no que se refere à percepção pela opinião pública da importância da temática ambiental - o que justificava o deslocamento de tantos Chefes de Estado e Governo para uma única reunião - e também em relação ao fato dessa reunião ser realizada em um país em desenvolvimento, o que denotava a 36 necessidade de uma cooperação coletiva dentro da comunidade internacional. Lago (2006) destaca que os três pilares - o econômico, o social e o ambiental - pelos quais se baseava a noção do Desenvolvimento Sustentável, favoreceram as prioridades de ambos países desenvolvidos como aqueles em desenvolvimento. Outra particularidade relativa à Rio-92 foi o papel importante atribuído às organizações não-governamentais, o que ocorreu desde de sua convocação devido ao crescimento em termos de influência na área ambiental das ONG’s em relação à diferentes nichos como governos, a organismos multilaterais, à mídia e à opinião pública. Os efeitos mais visíveis da CNUMAD “[...] foram a criação da Convenção da Biodiversidade e das Mudanças Climáticas – que resultou no Protocolo de Kyoto – a Declaração do Rio e a Agenda 21” (NASCIMENTO, 2012, p. 55). Dos citados por este autor, a Agenda 21 se tratava de um programa de ação global com 40 capítulos enquanto a Declaração do Rio se apresentava como um conjunto de 27 princípios pelos quais deveria ser conduzida a interação dos seres humanos com o planeta. Além deste destaca-se a Declaração de Princípios sobre Florestas (MATTEI; BESKOW, 2012). De acordo com Andrade (2012), a Declaração do Rio foi responsável pela consolidação de princípios solidificados hoje como: responsabilidades comuns, no entanto diferenciadas; conceitos de poluidor-pagador e de direito ao desenvolvimento, ao passo que a Agenda 21 formulou objetivos de curto e de longos prazos a serem concebidos voluntariamente. Ainda segundo este autor, apesar de não vinculantes, a Agenda 21 e a Declaração do Rio podem ser considerados como os documentos determinantes da abordagem do tema ambiental em nível multilateral. Basicamente a Agenda 21 se tratava de um programa de ação que atribui novas faces a cooperação internacional os diferentes atores a planejar e colocar em prática programas que visassem alterar os conceitos tradicionais de desenvolvimento econômico e de proteção do meio ambiente. Estava organizada em quatro seções: as dimensões social e econômica do desenvolvimento sustentável; gestão dos recursos naturais para o desenvolvimento sustentável; fortalecimento dos grupos sociais na implementação do objetivo do desenvolvimento sustentável; meios de implementação. Outras conquistas atingidas pela conferência foram: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC) vigora desde março de 1994, esta convenção reconhece que o sistema climático é um recurso compartilhado cuja estabilidade pode ser afetada por atividades humanas que liberam dióxido de carbono e outros gases que aquecem o planeta, os chamados gases de efeito estufa; a Convenção das nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) aberta para a assinatura na Rio-92 e validada a partir de 37 dezembro de 1993; a Convenção sobre Combate à Desertificação que foi adotada em junho de 1994, após ser solicitada na Rio-92, e entrou em vigor no fim de 1996 com o objetivo de lidar com os desafios de superação da pobreza em regiões áridas e semiáridas, além de elaborar medidas de controle da desertificação. Pode-se dizer que um grande resultado geral da CNUMAD foi o de ter colocado definitivamente o meio ambiente entre os temas prioritários da agenda mundial (LAGO, 2006). O grande problema decorrente da conferência foi ter alçado o conceito de Desenvolvimento Sustentável a um status de novo paradigma sedimentado na cooperação internacional. Muito dessa ideia veio do processo de globalização que o mundo passava na época, que clamava por mais interação internacional, especialmente no que tangia ao meio ambiente. Entretanto a globalização se mostrou uma grande barreira ao desabrochar do Desenvolvimento Sustentável como um novo paradigma, já que a globalização implicava numa manutenção e alargamento dos padrões de produção e consumo. Cinco anos após a conferência do Rio, em 1997, ocorreu a Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, conhecida como Rio+5, no intuito de se revisar a implementação da Agenda 21. Segundo Sequinel (2002), muitas lacunas foram apontadas nessa ocasião e foi reforçada a necessidade de ratificação do que ficou acordado na Rio-92, além de se obter maior eficiência na implementação do crescente número de convenções e acordos internacionais referentes ao meio ambiente e desenvolvimento. A partir dessa perspectiva a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU sugeriu que se realizasse uma nova cúpula mundial em 2002, desta vez centrada no conceito de Desenvolvimento Sustentável. Essa cúpula ocorreu na cidade de Joanesburgo, na África do sul e será o próximo ponto a ser explorado nesse capítulo. 3.4 CUPÚLA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Em 2002, os países membros foram convocados pela ONU para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, África do Sul. Esse evento também ficou conhecido como Rio +10 e, de acordo com Mattei e Bescow (2012), teve como objetivo principal analisar e avaliar os possíveis avanços ocorridos nos compromissos estabelecidos durante a Rio-92, especialmente as metas propostas pela Agenda 21, além de trazer um plano de ação global definido e capaz de conciliar as necessidades legítimas de desenvolvimento econômico e social da humanidade com a obrigatoriedade de se manter o planeta habitável para as gerações futuras. Sequinel (2002), corrobora com essa visão e adiciona que além de 38 reavaliar as metas propostas pela agenda 21, era objetivo da cúpula direcionar as realizações às áreas que necessitam de um esforço adicional para sua consecução. Participaram desse evento representantes de governos de mais de 150 países, grandes empresas, associações setoriais, organizações não-governamentais, além de milhares de pessoas e diversos membros da imprensa internacional. O Secretário-Geral da cúpula foi o indiano Nitim Desai, indicado por Koffi Annan, que na época exercia a função de Secretário Geral da ONU. Diferentemente do otimismo que se irradiou a partir de acontecimentos históricos, durante e após a Rio-92, a Rio +10 foi cercada pelo recrudescimento do fenômeno da globalização, o qual não ia de encontro aos preceitos do Desenvolvimento Sustentável, pois a globalização era calcada na uniformização dos padrões de produção e consumo presentes no ocidente e gerida, principalmente, por três instituições, sendo elas o FMI, o Banco Mundial e a OMC. Isso demonstra que o contexto histórico no qual foi elaborada e concebida a cúpula de Joanesburgo não foi das mais favoráveis, tendo que conviver com eventos como graves crises financeiras nos países em desenvolvimento (México em 1994, Ásia em 1997, Rússia em 1998, Brasil em 1999 e Argentina em 2001), a IV Conferência Ministerial da OMC realizada em Doha no ano de 2001 e a Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento realizada em Monterrey no ano de 2002. Sequinel (2002) destaca que o cenário hostil em que transcorreu a Rio +10, marcado cada vez mais pelo conflito e pela desigualdade social crescente, tanto nos países ricos quanto nos países em desenvolvimento, prejudicou densamente o resultado final da cúpula. Aliado a esses fatores pode-se dizer que a pujança do crescimento econômico da última década do século XX deu lugar a protestos antiglobalização, devido principalmente a disparidade notável entre os países nesse processo de crescimento econômico. Como se não bastassem os problemas e discrepâncias em torno da economia mundial vieram também os atentados de 11 de setembro de 2001, que mudaram radicalmente as prioridades da agenda política internacional, dividindo a atenção desta tanto com a discussão em torno do casamento entre desenvolvimento e sustentabilidade, como com a própria cúpula de Joanesburgo. Dentre os temas tratados na cúpula destaca-se o da energia, no qual o Brasil teve papel proeminente ao tentar levar a cabo uma proposta ousada de substituição das matrizes energéticas poluidoras por fontes renováveis de energia em 10% até 2010, o que possibilitaria a mitigação dos efeitos causadores das mudanças climáticas e poluição atmosférica, por meio da substituição gradual dos combustíveis fósseis, tal proposta teve o apoio da poderosa União Europeia. Esse tema foi recheado de desavenças e tanto a proposta brasileira quanto a postura 39 da União Europeia enfrentaram e sucumbiram aos interesses do bloco JUSCANZ (Japão, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), que sob a liderança dos norteamericanos, e apoiado irrestritamente pelos países árabes produtores de petróleo, teve força suficiente para boicotar as intenções do Brasil e da União Europeia. Vale dizer que esse embate não se resumiu somente a negativa da JUSCANZ em cooperar, mas também no âmbito do G77/China o Brasil encontrou forte resistência em relação à sua proposta (SEQUINEL, 2002). Apesar dessa associação de fatores problemáticos, houve uma evolução substancial em termos de conhecimento científico, progresso tecnológico, envolvimento do setor privado, fortalecimento da legislação ambiental na maior parte dos países, aumento da informação e participação por parte da sociedade civil, o que se refletiu no cumprimento de muitos compromissos assumidos por governos na Rio-92 através do esforço de comunidades e governos locais juntamente com empresas e organizações não-governamentais e que possibilitou, graças a essa evolução, a estruturação da cúpula de Joanesburgo. Por outro lado, também houve um progresso demasiado lento na implementação dos compromissos firmados durante a Rio-92 e um agravamento relevante dos problemas relacionados ao meio ambiente. Via-se muita negociação e muita retórica por parte dos governos, porém existia um abismo que separava estes de ações concretas da consecução dos compromissos, ou seja, o consenso verbalizado em torno de questões centrais e os acordos multilaterais estabelecidos não se manifestaram na prática, isso levou a um grande distanciamento da opinião pública em relação ao assunto. De acordo com Lago (2006), os resultados mais relevantes da Cúpula de Joanesburgo foram: a fixação ou a reafirmação de metas para a erradicação da pobreza, água e saneamento, saúde, produtos químicos perigosos, pesca e biodiversidade; a inclusão dos temas relativos à energias renováveis e responsabilidade corporativa que foram de difícil progresso em inúmeras negociações anteriores; a decisão política de criação de fundo mundial de solidariedade para erradicação da pobreza; e o fortalecimento do conceito de parcerias entre diferentes atores sociais para a dinamização e eficiência de projetos. Já Andrade (2012), aponta que foram logrados pífios êxitos em Joanesburgo, dentre eles um acordo para restaurar áreas marítimas ameaçadas e a definição que a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da ONU teria a função de monitorar a implementação da Agenda 21 através de parcerias públicas e privadas. Enquanto Sequinel (2002) aponta que o resultado da cúpula foi “um plano de ação ou de implementação, não-vinculativo, de 153 longos parágrafos, sem qualquer sistema de monitoração ou sanção e uma Declaração Política aprovada às pressas, 40 sem o peso e a legitimidade da Declaração do Rio.” (SEQUINEL, 2002, p. 3) Esse plano de implementação foi o principal documento produzido pela conferência e seus pontos mais positivos foram o fortalecimento do papel da CDS, a reiteração das metas para reduzir a perda de biodiversidade até 2010 e o objetivo estabelecido de cortar pela metade a população sem acesso à água potável até 2015. Para Lago (2006), as críticas suplantaram vastamente as conquistas da Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável, no entanto seus resultados tiveram grande significância para o tratamento das questões ligadas ao meio ambiente, assim como para a manutenção da continuidade do caminho traçado no Rio, a despeito dos óbices econômicos e políticos da década que separa as duas Conferências. Segundo Sequinel (2002), não é correto comparar as conferências Rio-92 e Rio +10 no que tange aos seus resultados, visto que os dois eventos se propunham a alcançar objetivos distintos, sendo o objetivo da primeira obter um consenso em relação a questão ambiental e que resultou na elaboração da Agenda 21, enquanto a segunda objetivava apenas avaliar os avanços da Agenda 21 nesses dez anos e criar mecanismos que facilitassem medidas efetivas para a sua consecução. Exemplos de conquistas da Rio +10 a serem destacadas são o fortalecimento do papel das ONG’s e a participação mais efetiva e construtiva do empresariado nas discussões internacionais sobre desenvolvimento sustentável, sendo o maior desafio e obstáculo que assombrou todo o planejamento e consecução do evento a nova relação problemática que se impunha entre globalização e desenvolvimento sustentável. Para Sequinel (2002), há uma lacuna relativa a dimensão política nesse tipo de debate e que deve ser preenchida a partir de ações autônomas provenientes da sociedade em âmbito internacional. 3.5 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Dez anos após a cúpula de Joanesburgo ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), mais conhecida como Rio +20, realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro e considerada o maior evento já realizado pelas Nações Unidas até os dias atuais. A CNUDS foi formalizada por uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas e teve como característica sua extensa abrangência temática que englobava a reavaliação das duas últimas décadas de debate sobre meio ambiente e desenvolvimento e a proposição das bases fundamentais de ação para as próximas duas décadas. 41 Segundo Mattei e Bescow (2012), a razão e ponto de partida para realização da conferência Rio +20 foi a necessidade inexorável de se buscar uma solução que agregasse as esferas econômica, social e ambiental de forma conjunta, a partir de uma perspectiva holística na construção do desenvolvimento sustentável, passando pela reafirmação dos compromissos estabelecidos durante a Rio-92. Perante um cenário de crise financeira e foco no desenvolvimento “a CNUDS foi concebida como um instrumento de aproximação entre a preservação ambiental e o desenvolvimento social e econômico.” (ANDRADE, 2012, p.18) Além disso, Guimarães e Fontoura (2012) destacam o caráter de continuísmo presente na concepção da CNUDS, no qual via-se como objetivo principal da Rio +20 a renovação do compromisso político relativo a busca do desenvolvimento sustentável estabelecido durante as principais cúpulas anteriores voltadas para o tema pelos governos dos países participantes, com o intuito de avaliar a evolução daquilo que foi acordado e propor ações para aquilo que foi negligenciado. Em termos de implementação, foram avaliados dois dos cinco documentos finais acordados em 1992 durante a CNUDS, sendo estes a Declaração do Rio e a Agenda 21. Adicionalmente a Rio +20 deveria dar prosseguimento a outros marcos em meio ambiente como o Consenso de Monterrey (2002), a Declaração de Johanesburgo (2002) e o Protocolo de Nagoya (2010). Sendo o aspecto de continuidade intrínseco aos propósitos da conferência, o conceito de desenvolvimento sustentável foi questão central nos debates, sendo que sua definição ganhou novas nuances e uma nova roupagem. Devido a amplitude de sua conceituação e do fato de ter sido o epicentro do debate internacional acerca da problemática ambiental nas décadas que antecederam a Rio +20, o Desenvolvimento Sustentável foi visto sob uma nova ótica, adequada a um contexto de crise. Essa junção entre um conceito demasiadamente abrangente e uma conjuntura de crise trouxe a necessidade de se iniciar as negociações referentes a conferência com grande antecedência, sendo que essa antecipação é característica das conferências internacionais, nas quais o documento final geralmente é produzido antes do evento principal, e que neste caso, foi uma característica potencializada na CNUDS. A partir dessa perspectiva de antecedência, o primeiro esboço do documento final produzido pela Rio +20 ficou conhecido como “Rascunho Zero” (zero draft em inglês) e já estava pronto em janeiro de 2012. Segundo Abramovay (2012), o zero draft foi capaz de enumerar vários pontos de extrema importância dentro do contexto da conferência como a exclusão da fome, a erradicação de todas as formas de pobreza, o empenho na ampliação da participação dos stakeholders na governança das transformações tecnológicas necessárias ao uso mais sustentável dos recursos naturais vitais, além de citar sem muitos pormenores temas 42 centrais como mudanças climáticas, água, energia e biodiversidade. Entretanto, esse mesmo autor, afirma que o zero draft se abstém de qualquer pronunciamento referente à duas questões de essenciais para o futuro da organização social contemporânea, quais sejam: desigualdades e limites. Esse documento foi finalizado em janeiro de 2012 e a partir disso foi iniciada a consecução do documento final, chamado “O futuro que queremos”, e que ficou pronto em 19 de junho de 2012. Durante o processo de elaboração desses documentos e durante o próprio processo e preparação da Rio +20, tentou-se expandir a participação de diferentes atores, especialmente a presença da sociedade civil foi elevada nesse contexto. Isso possibilitou a votação dos tópicos a serem debatidos por parte de indivíduos de todo o mundo, mas que acabou não tendo a efetividade esperada devido a complexidade dos temas tratados e o contexto relativamente adverso em que se situavam as discussões. Isso reverberou de forma negativa na passagem do zero draft para o documento final e culminou com a geração de um documento repleto de objetivos pouco audaciosos e que se esquivava de proposições mais específicas e detalhadas. Essa visão é compartilhada por Amazonas (2012), que aponta a condução de longas agendas de discussão antes e durante a conferência, as quais careciam de articulação nas pautas de negociação, impedindo assim a produção de acordos e resultados mais palpáveis e tangíveis, o que ocasionou a ausência de uma agenda de compromissos e metas de médio e longo prazo, deixando para o futuro importantes definições e decisões. Segundo Andrade (2012), o objetivo central da conferência foi robustecer os preceitos do desenvolvimento sustentável, de forma vinculada à economia verde e ao combate a pobreza, na agenda internacional. Ainda de acordo com este autor, destacam-se cinco pontos que se relacionam diretamente com o objetivo principal da conferência, sendo esses: a reafirmação das principais decisões de cúpulas anteriores; a criação de um marco conceitual para aplicação do desenvolvimento sustentável, incluindo os temas da economia verde e do combate à pobreza; a consolidação da estrutura organizacional para meio ambiente e desenvolvimento sustentável; a criação dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS); e a definição de meios de implementação para o desenvolvimento sustentável. Para Sachs (2012), o objetivo essencial da segunda Cúpula da Terra no Rio de Janeiro era traçar direções no intuito de auxiliar os países membros das Nações Unidas à restabelecerem suas estratégias de longo prazo para que possam garantir até 2050, de forma conjunta, condições de vida dignas para uma população de nove bilhões de pessoas, além de amenizar efeitos perversos de problemas ambientais como a nociva realidade das mudanças climáticas. Já Mattei e Bescow (2012) pontuam que a ONU definiu os seguintes objetivos da Conferência 43 Rio+20: assegurar um comprometimento político renovado para o desenvolvimento sustentável; avaliar o progresso obtido até o momento, analisando as lacunas existentes na implementação das metas e objetivos definidos nos diversos encontros mundiais sobre desenvolvimento sustentável; abordar os novos desafios e temas emergentes, merecendo destaque as questões relativas à economia verde e à governança internacional. Os temas centrais que dominaram os debates da Rio +20 foram: a Economia Verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; o papel da governança global para o desenvolvimento sustentável; e a reafirmação dos princípios e decisões definidos na Rio-92. Esses três assuntos dominaram o e permearam todo o evento, apesar da ONU ter indicado sete áreas essenciais para os debates (emprego, energia, alimentos, água, oceanos, cidades e desastres) antes do início da conferência, tudo sob a sombra de discussões sobre a crise econômica mundial e suas possíveis soluções. Além dos temas centrais, outras proposições debatidas merecem destaque como: segurança alimentar; a insuficiência do Produto Interno Bruto (PIB); a credibilidade científica; e a importância do setor privado para o desenvolvimento sustentável. Um grande desafio vivido na Rio +20 foi tentar conciliar os diferentes interesses dos países participantes, fato que impôs grande dificuldade no curso das negociações realizadas antes e durante a conferência. A preponderância das discordâncias eram aquelas que colocavam Norte (União Europeia, EUA, Japão, Austrália, Canadá, etc..) e Sul (basicamente o G-77) em lados opostos da mesa, formando uma dicotomia praticamente inquebrantável. De acordo com Mattei e Bescow (2012), grande parte dos impasses vividos na fase preparatória e no desenrolar da conferência tinham a ver com esse conflito, especialmente com a posição dos países desenvolvidos em não querer assumir qualquer compromisso com metas de sustentabilidade, o que impedia qualquer espécie de regulamentação em nível internacional. Para Andrade (2012), o intuito dos países desenvolvidos era repartir de forma equilibrada os custos provenientes da implementação de programas ambientais e sociais decorria de dois fatores essenciais: a crise financeira contemporânea e o crescimento econômico dos países do Sul. A crise financeira foi inclusive um grande óbice ao estabelecimento de compromissos em direção ao desenvolvimento sustentável devido aos custos substanciais que envolvem a implementação de tais compromissos, o que levou a uma postura extremamente hesitante dos países desenvolvidos nesse tocante. Dos pontos de controvérsia entre Norte e Sul destaca-se o do financiamento, no qual a posição dos países desenvolvidos era, na maioria das vezes, irredutível. Exemplo disso foi a rejeição, por parte dos países desenvolvidos, em se consolidar um fundo verde como proposto 44 pelos países em desenvolvimento. O destaque de irredutibilidade pode ser dado aos EUA que, além de rejeitar grande parte das propostas, posicionou-se contra críticas relativas a um ritmo de produção e consumo insustentáveis, característico desse país, e contra a formulação de uma medida alternativa para o PIB. Entretanto, existiram também pontos de convergência entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, no qual viu-se uma mobilização conjunta como a proposta para criar um índice de medida de riqueza que inclua as variáveis sociais e ambientais, proposta essa que foi aprovada com o apoio das Nações Unidas e da maioria dos países, mesmo com a oposição dos EUA. De acordo com Mattei e Bescow (2012), grande parte das críticas que emergiram após a conferência são centradas na superficialidade das proposições, visto que elementos preponderantes no que tange a causalidade de processos de degradação social e ambiental são deixados de lado nos documentos oficiais da conferência. Já Andrade (2012), tem outra visão, e de acordo com esse autor a CNUDS atingiu de forma positiva seus objetivos perante as adversidades vigentes, pois não era objetivo que suas proposições primassem pela especificidade, já que seu papel seria de sedimentar o debate para os anos seguintes. Esse mesmo autor destaca que o contexto no qual se concebeu a conferência era inoportuno para a adoção de compromissos práticos, não sendo fixadas metas ou prazos concretos sobre temas específicos no documento final, o qual teria como principal contribuição o incentivo aos diversos atores à transformarem vontade política em medidas efetivas de sustentabilidade e fomentar o caminho no qual a agenda internacional seja uma agenda do desenvolvimento sustentável. Para Andrade (2012), os resultados gerais da CNUDS foram satisfatórios dentro das circunstâncias adversas que lhe foram impostas e da amplitude das demandas que diferentes atores direcionaram a ela, por isso a ambiguidade das reações em relação a esses resultados se deve muito mais à expectativas incongruentes com os objetivos da conferência do que com o que ela produziu. Além disso, este autor afirma que a finalidade da Rio +20 era de moldar o debate das próximas décadas e expandir os meios de colaboração relacionados ao tema, o que podia ser visto nos objetivos principais delineados antes e durante a conferência. Em direção completamente oposta a essa visão, Guimarães e Fontoura (2012) afirmam que os líderes mundiais ignoraram o caráter de urgência que o tema central do evento defendia, o que foi evidenciado pela ausência de resultados concretos no documento final “O Futuro que Queremos”, repleto de decisões vagas e ênfase nos discursos pouco consistentes, transparecendo a falta de compromisso dos governos presentes na Rio +20 com a evolução da agenda global de meio ambiente, sendo esta preterida por interesses econômicos, estratégicos 45 e de curto prazo. Esses autores vão mais longe e afirmam que predominou como resultado da conferência uma “ reafirmação dos valores econômicos com base no capitalismo neoliberal (principais responsáveis pelas crises econômicas, ambientais e sociais), [...] ressaltando o poder do setor privado e dos interesses dos países desenvolvidos na atual governança ambiental global.” (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012, p.522). Guimarães e Fontoura (2012) destacam várias lacunas nos resultados e no documento final produzido pela Rio +20 como: a falta de propostas concretas e efetivas para a segurança alimentar, um dos pontos mais fundamentais da conferência, já que um dos temas chave da conferência era o combate a fome e a pobreza; ausência de menção à um indicador que pudesse substituir o PIB, sendo que há apenas um trecho no qual os governos simplesmente reconhecem a necessidade de medidas mais amplas de progresso que possam trabalhar de forma complementar ao PIB, sendo que em nenhum momento o índice IRI é mencionado; a falta de posicionamento com relação à Organismos Geneticamente Modificados (OGM) no campo, tema relativo à biossegurança. 46 CAPÍTULO 4 - A ECONOMIA VERDE 4.1 A CONCEPÇÃO DE ECONOMIA VERDE Desde 2007, o planeta tem testemunhado uma intensa crise global dos alimentos, volatilidade nos preços do petróleo e produtos primários, crescente instabilidade climática e a pior crise financeira mundial desde a grande depressão que ocorreu em 1929. Após anos de declínio, a pobreza, a fome e a desnutrição voltaram a aumentar e a esperança de realizar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) até 2015 está ameaçada, sendo que esses ODM são: erradicar a pobreza extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater o HIV, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. É dentro desse contexto que surge, com mais vigor, a noção de Economia Verde. Com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de um plano global de transição para uma economia verde, dominada por investimentos e consumo de bens e serviços de promoção ambiental, a Iniciativa Economia Verde foi lançada pelo PNUMA no fim de 2008, no contexto de uma crise financeira e econômica que havia se colocado como uma assustadora ameaça em um mundo altamente globalizado. A essa crise aliava-se o recrudescimento de outras como as ligadas ao clima, à biodiversidade, ao combustível, aos alimentos e à água. De acordo com o Relatório de Economia Verde (REV) do PNUMA (2011), essas crises partilham algo em comum: um significativo uso inadequado do capital. Sendo grande parte desse uso inadequado do capital direcionado à pobreza, combustíveis fósseis e bens financeiros estruturados com derivativos incorporados, enquanto uma pequena parte foi alocada em energias renováveis, eficiência energética, transporte público, agricultura sustentável, proteção dos ecossistemas e da biodiversidade, e conservação da terra e das águas, o que denota um crescimento e desenvolvimento baseados em um rápido acúmulo de capital físico, financeiro e humano em detrimento do capital natural, que levou a uma intensa degradação desse. Esse panorama culmina em uma situação prejudicial para o bem estar das gerações atuais e altíssimo risco para as gerações futuras, em uma direção radicalmente oposta aos preceitos do desenvolvimento sustentável. A Economia Verde foi elaborada a partir de análises minuciosas sobre suas perspectivas e os dois relatórios responsáveis por sua concepção mostraram quais seriam os cenários de curto, médio e longo prazo de tais análises. O primeiro relatório foi o Global 47 Green New Deal (GGND), publicado em 2009, com a intenção de recomendar incentivos a tecnologias verdes nas estratégias de recuperação econômica que os países lançaram para abrandar as consequências deteriorantes da crise financeira global que teve início nos EUA em setembro de 2008, após a falência do tradicional banco de investimentos Lehman Brothers. O GGND foi um resultado inicial da Iniciativa Economia Verde das Nações Unidas, coordenada pelo PNUMA, mostrando-se uma importante peça para aumentar a visibilidade da noção de Economia Verde e também, através de suas recomendações, para se conceber os instrumentos que iniciariam a transição em direção à uma Economia Verde. O segundo documento é o REV (principal ferramenta de análise da Economia Verde no presente trabalho), que consistiu em uma das principais contribuições do PNUMA para a Rio +20. Ele foi publicado em fevereiro de 2011 e é resultado de um trabalho de diversos especialistas de diferentes partes do mundo. O objetivo principal do relatório é demonstrar que uma transição para a Economia Verde acarretaria em taxas superiores de crescimento global do PIB e do nível de emprego nos cenários de médio e longo prazos, em comparação ao cenário atual. Para chegar a esse objetivo, o relatório concentra-se em dez setores estratégicos da economia, considerados os propulsores das tendências definidoras da transição para uma Economia Verde, sendo essas o crescente bem-estar humano e igualdade social, além da redução de riscos ambientais e da escassez ecológica. A Economia Verde foi um dos eixos centrais de debate na CNUDS e, segundo Mattei e Bescow (2012), o elo que liga a crise de 2008 ao papel central da Economia Verde na Rio +20 é o fato da Economia Verde ter sido concebida e apresentada como a solução que levaria à recuperação do crescimento econômico capaz de promover o uso eficiente do meio ambiente e, concomitantemente, erradicar a pobreza através da adoção de uma estratégia voltada para se tentar produzir cada vez mais com métodos cada vez melhores, ou melhor, a nova dinâmica da economia deve ser dada pela expansão de setores de baixo impacto ambiental (CECHIN; PACINI, 2012). Segundo Mattei e Bescow (2012), a proposta suscitou diferentes reações entre os diferentes atores, sendo que alguns setores governamentais e da sociedade civil foram a favor de sua proposta por ela incorporar as demandas sociais e ambientais nas atividades econômicas, enquanto outros setores à consideraram um risco por incentivar a expansã o de processos de mercantilização da natureza e dos bens comuns da humanidade. Estando no centro dos debates da Rio +20, a Economia Verde foi vista como uma válvula de escape com a qual os diferentes atores poderiam articular propostas de alcance mais específico e retomar o crescimento econômico baseado na promoção de processos limpos de produção e consumo e 48 na redução das iniquidades. Para Guimarães e Fontoura (2012) tamanho era o foco nos debates relacionados à Economia Verde durante a CNUDS, que temas de extrema importância como energia, florestas, biodiversidade e saúde humana, acabaram sendo deixados em segundo plano, negligenciando assim, necessidades reais na agenda de desenvolvimento sustentável. Dentro dessa conjuntura, o PNUMA (2011) definiu a Economia Verde em seu relatório como sendo “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica.” (PNUMA, 2011, p.2), de forma que ela tem baixa emissão de carbono, é eficiente em seu uso de recursos e é socialmente inclusiva. Com tal definição, não é objetivo da Economia Verde se sobrepor ao consagrado conceito de Desenvolvimento Sustentável, mas ser uma forma de se alcançar esse desenvolvimento em nível regional, nacional e global, além de dar continuidade e ampliar a implementação da Agenda 21, tal como concebida na Rio-92. Segundo Amazonas (2012), assim como o Desenvolvimento Sustentável, o conceito de Economia Verde “vem ocupar um papel de desaguadouro de expectativas de convergências, buscando firmar-se enquanto um espaço de consensos e entendimento comum, na busca do estabelecimento de caminhos efetivos de ação” (AMAZONAS, 2012, p. 33). Além disso, o intuito da Economia Verde é fazer com que o conjunto de processos produtivos da sociedade e suas consequentes transações contribuam de forma progressiva para o Desenvolvimento Sustentável, englobando suas esferas social e ambiental e colocando a esfera econômica como fio condutor dessa mudança. Segundo o REV, a Economia Verde seria o modelo certo de economia para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável. Para Sawyer (2011), tanto a Economia Verde quanto e o Desenvolvimento Sustentável devem ser promovidos, destacando a instrumentalidade e a concretude do primeiro, enquanto o segundo tem como características ser mais abstrato e diplomático. Esse autor comenta que o adjetivo verde pode sensibilizar tomadores de decisão, mas alerta para que se mantenham os avanços de 1992 e que se tomem todas as medidas para priorizar a manutenção das funções ecossistêmicas para atendimento das gerações futuras, independente de recursos adicionais, novas tecnologias e novas formas de governança. Segundo o PNUMA (2011), dois mitos que assombram a ideia de uma transição para a Economia Verde devem ser derrubados. O primeiro afirma existir um trade-off inexorável entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental, enquanto o segundo mito argumenta que a transição representa um luxo pelo o qual somente os países desenvolvidos podem pagar e também uma forma de países ricos estancarem o crescimento de países em 49 desenvolvimento. A ferramenta usada para essa desmistificação foi o modelo de projeção T21 (Theshold 21), apresentado no REV. Nesse modelo, foram analisados os comportamentos de algumas variáveis na simulação de cenários da Economia Verde, os resultados dessas simulações mostraram as várias vantagens de modelo Economia Verde quando comparado ao modelo tradicional (BAU - Business as usual). O modelo T21 foi criado para dar suporte a um processo de planejamento global e integrado, além de ser composto por três pilares: econômico, social e governo (D’AVIGNON;CARUSO, 2011). D’Avignon e Caruso (2011) adicionam que para se derrubar o segundo mito devem ser realizados investimentos para a geração e difusão de tecnologias mais limpas, no entanto a difusão de uma gama de tecnologias mais limpas está condicionada a mudanças no marco institucional que ofereçam sustentação às atividades econômicas, também sendo necessária uma reorientação das políticas educacionais e de ciência e tecnologia, além uma integração das políticas ambientais com as de outras áreas. Na Economia Verde, o crescimento da renda e do emprego, variáveis que estão atreladas diretamente a retomada do crescimento econômico, deve ser fomentado por investimentos públicos e privados baseados em três estratégias fundamentais, quais sejam: a redução das emissões de carbono; uma maior eficiência energética e no uso de recursos; e a prevenção da perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. A mudança de um crescimento “marrom”, baseado em políticas e incentivos de mercado que contribuem para o uso inadequado do capital, em direção à um crescimento “verde”, representaria um salto qualitativo que levaria a uma geração de empregos decentes e representaria uma estratégia vital para a erradicação da pobreza. Pelo lado do setor público, os esforços devem ser feitos em direção à eliminação progressiva de ultrapassados subsídios, à reforma de políticas e o fornecimento de novos incentivos, ao fortalecimento da infraestrutura de mercado e mecanismos de base de mercado, ao redirecionamento do investimento público e a tornar mais verdes os contratos públicos. Já o setor privado deve aproveitar a verdadeira oportunidade representada pela transição das economias verdes em relação a um número de setores chave, e responder a reformas políticas e aos sinais dos preço através de níveis cada vez mais altos de financiamento e investimento. Para se aplicar as ações voltadas para a Economia Verde, é necessário que essas sejam incentivadas por condições facilitadoras que consistem em um panorama de regulamentos nacionais, políticas, subsídios e incentivos, mercado internacional, infraestrutura legal, assim como protocolos comerciais e de apoio. Na atual conjuntura as condições facilitadoras incentivam e tem um papel considerável na predominante economia marrom que, dentre 50 outras características, depende excessivamente da energia proveniente dos combustíveis fósseis. A partir do estabelecimento de condições facilitadoras para promoção da transição para a Economia Verde, é possível se chegar a uma situação na qual sustentabilidade ambiental e progresso econômico são conciliáveis e com tais condições, qualquer país pode ser beneficiado pela Economia Verde, não sendo ela restrita a países desenvolvidos apenas. O REV mostra que o “esverdeamento” das economias é um novo mecanismo de crescimento e não um obstáculo a ele. O relatório traz três formas para se fomentar os investimentos na transição para uma Economia Verde, sendo eles: a apresentação de um argumento econômico para o deslocamento de investimentos públicos e privados para transformar setores chave considerados críticos para “esverdear” a economia global; a Economia Verde como instrumento para reduzir a pobreza através de uma série de setores importantes - agricultura, silvicultura, água doce, pesca e energia - e através de políticas para atingir essa mudança, baseadas na redução e eliminação de subsídios prejudiciais e contrários ao meio ambiente, lidando com falhas de mercado criadas por externalidades, por um quadro adequado de regulamentos e pelo estímulo de investimentos. De acordo com o REV, apesar de afirmar que todos os países são capazes de se beneficiar pela Economia Verde, a transição para tal vai variar de forma significante entre as nações por depender das especificidades de três fatores dentro de cada país, sendo eles o capital humano, o capital natural e o seu nível relativo de desenvolvimento. Conforme ilustrado no gráfico 01, observa-se que há diferenças situacionais de um país para outro. Enquanto os países desenvolvidos, em sua maioria, devem reduzir suas pegadas ecológica s per capita sem trazer prejuízos à sua qualidade de vida, a maioria países em desenvolvimento devem aumentar o nível de bem-estar de seus cidadãos sem aumentar potencialmente suas pegadas ecológicas. 51 Gráfico 1 - Dados dos índices de desenvolvimento humano Fonte: PNUMA, 2011, p. 3. O relatório aponta para a necessidade de se usar indicadores adequados na transição para uma Economia Verde em ambos níveis macroeconômico e setorial. Nessa perspectiva o PIB, indicador econômico mais presente nas análises de desempenho econômico da maioria dos países, é considerado um indicador incompleto, que traz uma imagem distorcida da situação pois tal indicador não traz em seu bojo a informação de quanto capital natural está sendo deteriorado. Sendo o PIB apenas um exemplo de indicador convencional que não abrange de forma correta todas as esferas a serem analisadas, a sugestão do relatório é que mudanças em reservas de capital natural sejam mensuradas em termos monetários e incorporadas nas contas nacionais e menciona como instrumento para tal o contínuo desenvolvimento do Sistema Integrado Ambiental e Econômico pela Divisão de Estatística da ONU, e pelos métodos ajustados de valores líquidos das reservas nacionais do Banco Mundial. O capital natural é o grande veículo apontado pelo REV para se trilhar o caminho do desenvolvimento como proposto pelo modelo baseado na Economia Verde, sendo necessário mantê-lo, aprimorá-lo e reconstruí-lo como um bem econômico crítico e como uma fonte de benefícios públicos, especialmente para a parcela mais pobre da população que depende diretamente da natureza para seu sustento. O capital natural está ligado a diversos aspectos da 52 biodiversidade que, em todos os seus níveis, contribui para o bem-estar humano, proporcionando importantíssimos serviços ecossistêmicos que até hoje foram invisíveis em termos econômicos. Na concepção da Economia Verde, valores econômicos devem ser estimados para esses serviços ecossistêmicos, sendo o valor atual deles uma parte essencial do capital natural. Esses serviços são de extrema importância para assegurar a estabilidade do ciclo de água, além do ciclo do carbono e seu papel na mitigação climática. No modelo de investimento proposto pelo relatório, 0,5% do PIB mundial seria destinado a setores de capital natural, sendo eles a silvicultura, a agricultura, água doce e indústria pesqueira. A proposição geral do relatório é que para se realizar uma transição para a Economia Verde deve-se investir 2% do PIB global em dez setores chave, sendo eles: agricultura, construção, pesca, silvicultura, abastecimento de energia, indústria, turismo, transportes, manejo de resíduos e água. O valor corresponde a US$1,3 trilhões por ano e estimularia o crescimento da economia global a níveis provavelmente superiores em relação ao do atual modelo econômico. Os valores anuais propostos para cada setor seriam os seguintes: US$110 bilhões para a agricultura; US$134 bilhões para a construção civil; acima de US$360 bilhões para o setor energético; US$110 bilhões para a pesca; US$15 bilhões para a silvicultura; US$75 bilhões para a indústria; US$135 bilhões para o turismo; US$190 bilhões para o setor de transportes; US$110 bilhões para a gestão de resíduos; e US$110 bilhões para investimentos relacionados à água. (PNUMA, 2011) 4.2 PROPOSTAS DE TRANSIÇÃO PARA A ECONOMIA VERDE EM CADA SETOR O REV traz uma série de argumentos relativos à transição de cada setor para uma Economia Verde, destacando quais as virtudes de cada setor para realizar essa transição assim como os desafios a serem enfrentados durante a mesma. A partir disso, o relatório aponta as oportunidades que seriam geradas para cada setor ao realizar a transição, além de apresentar os resultados que seriam alcançados com a transição. A seguir veremos um breve resumo das recomendações e análises para cada setor. 4.2.1 Agricultura O relatório PNUMA (2011) destaca que o grande desafio para a agricultura é alimentar 53 9 bilhões de pessoas até 2050 sem comprometer os ecossistemas e a saúde humana a partir das externalidades geradas pelas práticas atuais desse setor, que atualmente usa mais de 70% dos recursos de água doce do mundo e contribui com mais de 13% das emissões de gases efeito estufa (GEE). De acordo com o relatório, a redução do desmatamento e o aumento do reflorestamento são positivos não somente no sentido econômico, mas também colaboram para a agricultura e o modo de vida rural, e podem ser alcançadas por mecanismos e mercados econômicos como certificação para produtos florestais, pagamentos por serviços do ecossistema, esquemas para compartilhar benefícios até parcerias com base na comunidade. Vale dizer que a agricultura e a pecuária tem uma boa cota de responsabilidade nas altas taxas de desmatamento e degradação florestal. No que tange ao “esverdeamento” da agricultura visando uma solução para a problemática alimentar necessita-se de bens de capital físico, investimentos financeiros, pesquisa e investimento em capacitação, treinamento e educação em cinco áreas fundamentais: gerenciamento de fertilidade do solo, uso mais eficiente e sustentável da água, diversificação de culturas e animais, gerenciamento da saúde animal e vegetais biológicos, e um nível adequado de mecanização agrícola. O papel do setor público, através de um fortalecimento institucional, também é de vital importância para se chegar a uma transição plena e positiva na agricultura. Isso passaria por políticas centradas na redução e eventual remoção de subsídios ecologicamente prejudiciais que distorçam os verdadeiros custos de contribuições agrícolas insustentáveis, além da incitação de preços e reformas regulamentares que seriam responsáveis pelos referentes custos de degradação ambiental em alimentos e preço de mercadorias. Os resultados que podem ser atingidos a partir de uma transição da agricultura em direção a Economia Verde podem trazer os seguintes benefícios: a melhora na regulação climática alcançada com a redução do desmatamento pela metade traz ganhos que equivalem ao triplo do valor dos custos; aumento da qualidade do solo e da produção mundial para maiores culturas a partir de investimentos em agricultura verde; redução da pobreza nos países em desenvolvimento com foco no pequeno agricultor; aumento da disponibilidade de alimentos e maior facilidade no acesso aos mercados internacionais emergentes para produtos verdes através da adoção de práticas sustentáveis; e redução do desmatamento e do uso de água em 55% e 35%, respectivamente. 54 4.2.2 Construção Civil O setor de construção civil é, segundo o REV (PNUMA, 2011), aquele que mais colabora para as emissões globais dos gases de efeito estufa, o que está diretamente relacionado ao fato de um terço do total da energia mundial ser consumido em construções. Além disso, esse setor é responsável por mais de um terço do consumo mundial de recursos, incluindo 12% de toda a água doce, e contribuindo de maneira substantiva para a geração de resíduos sólidos (cerca de 40%). A previsão em relação a pegada climática gerada pelo setor também não é nada agradável, representando o dobro do que é hoje em 2030. Através de tecnologias já existentes, o setor tem potencial para reduções significativas de emissões de baixo-custo. A evolução do fornecimento de energia renovável também pode trazer muitos benefícios para o setor. O relatório aponta também que a Iniciativa para a Construção Sustentável do PNUMA (2011) e parceiros tem demonstrado que as políticas mais eficientes e rentáveis são aquelas relacionadas à aplicação de padrões sustentáveis no setor de construção civil, grande parte das vezes apoiadas por incentivos econômicos e fiscais, assim como capacitação. Os principais resultados que devem ser atingidos a partir da transição desse setor para a Economia Verde são: investimentos na melhoria da eficiência energética na construção civil poderia gerar um grande número de empregos a mais; investimentos de US$300 a 1000 bilhões por ano até 2050 podem resultar na economia de um terço de energia nos setores de construção civil no mundo inteiro comparando-se com as projeções relativas às práticas correntes; fortalecimento da economia doméstica; melhoria da saúde ambiental; aumento da eficiência do uso de materiais, terra e água; redução do desperdício e os riscos associados a resíduos perigosos; e redução da poluição do ar em recintos fechados. 4.2.3 Setor energético Esse é um setor chave e que tem grande influência nos demais setores e na transição para a Economia Verde no seu todo. Segundo o REV (PNUMA, 2011) existem 1,6 bilhão de pessoas no mundo que não têm eletricidade e, além de não ser sustentável, o sistema de energia atual é também altamente desigual, deixando 2,7 bilhões de pessoas dependendo da biomassa tradicional para cozinhar, o uso de biomassa tradicional e carvão deverão causar mais de 1.5 milhão de mortes prematuras por ano até 2030. Além disso, deve-se destacar que o crescimento urbano é cada vez mais intenso e As cidades atualmente são responsáveis por 55 75% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono. Garantir acesso à eletricidade para todos deve exigir, de acordo com o relatório e baseado em estimativas da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, US$756 bilhões – ou US$36 bilhões por ano – entre 2010 e 2030. Atualmente o setor de energia é baseado preponderantemente em combustíveis fósseis e representa a principal origem da mudança climática, sendo responsável por dois terços das emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a volatilidade do preços dos combustíveis fósseis afeta os países que dependem de sua importação, especialmente os países em desenvolvimento são prejudicados por essa volatilidade. De acordo com o PNUMA (2011), deve-se substituir os investimentos em fontes de energia intensivas em carbono por investimentos em energia limpa, bem como se realizar aprimoramentos na eficiência. Os governos podem incentivar a transição no setor a partir de tarifas diferenciadas de alimentação da rede, subsídios diretos e créditos tributários, os quais podem tornar o perfil risco/receita dos investimentos em energia renovável mais atraente. O setor de energia renovável vêm crescendo profusamente e há um grande potencial para um crescimento ainda maior do setor que empregava em 2006 mais de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo direta ou indiretamente. Investir em fontes renováveis que estão disponíveis localmente, muitas vezes de maneira abundante, poderia aumentar substancialmente a garantia no fornecimento de energia e, consequentemente, traria benefícios econômicos, financeiros e relacionados a segurança. Além disso, o crescimento do setor de energia renovável pode reduzir os riscos de aumentos e servir de proteção contra a volatilidade dos preços para os combustíveis fósseis. A partir do modelo proposto pelo REV, estima-se que quase metade do total de investimentos foram direcionados para eficiência de energia e energia renovável, resultando em 20% empregos a mais do que as práticas atuais até 2050, ao mesmo tempo em que permitiria um crescimento econômico substancial e uma queda nas emissões. Somado a isso, “um acordo mundial sobre emissões de carbono e a garantia resultante de que haverá um mercado de carbono futuro e a fixação de preços é um forte incentivo para mais investimentos comerciais em energia renovável” (PNUMA, 2011, p. 15). 4.2.4 Pesca A pesca é um dos setores que representa uma fonte vital para sustento e sobrevivência de uma boa parcela da população carente mundial e a escassez de recursos em decorrência da 56 deterioração ambiental afeta de forma avassaladora esse setor. A situação descrita pelo REV (PNUMA, 2011) mostra que subsídios em torno de US$27 bilhões por ano, sendo que no mínimo 60% desse valor foi destinado a práticas prejudiciais, ocasionaram um excesso de capacidade duas vezes maior que a habilidade de reprodução dos peixes. Estima-se que o esgotamento da pesca tenha como resultado a perda do benefício econômico no montante de US$50 bilhões ao ano. De acordo com o REV, para tornar esse setor verde é preciso haver uma reorientação dos gastos públicos com o objetivo de revigorar o gerenciamento dessa indústria e financiar uma contenção do excesso de capacidade através da desativação de navios e equitativamente realocar empregos no curto prazo, todas essas ações voltadas para o reestabelecimento das reservas pesqueiras que ou foram pescadas além do cabível ou se esgotaram. No curto e médio prazos esse setor sofreria com quedas tanto na produção quanto no nível de emprego, pois passaria por ajustes como a necessidade de se reduzir a extração excessiva de recursos e dos esforços de pesca. Para combater esses efeitos colaterais deve-se adotar medidas como demissões em um número reduzido na pesca em larga escala, além dos pescadores obterem a possibilidade de ser treinados para meios alternativos de subsistência como a participação na reconstrução das reservas de peixes. Como pudemos ver amenidade não é uma característica do setor da pesca na transição para uma Economia Verde. Porém, de acordo com o REV, os esforços serão recompensados e entre 2030 e 2050, esses investimentos verdes levariam a um aumento no número de empregos para igualar-se às atividades regulares, onde o crescimento de empregos seria mais limitado pela escassez de recursos e energia. A partir de 2050 esse crescimento seria ainda maior com a recuperação constante dos estoques de pesca. 4.2.5 Silvicultura Segundo o REV “A silvicultura sustentável e os métodos de cultivo ecologicamente corretos ajudam a conservar a fertilidade do solo e recursos hídricos em geral [...]” (PNUMA, 2011, p.2) com destaque para a agricultura de subsistência, da qual 1,3 bilhão de pessoas dependem para auferir seu sustento. Assim sendo, esse setor tem um papel fundamental para a transição em direção à Economia Verde e de uma maior preservação dos serviços ecossistêmicos. O objetivo central com relação a esse setor seria redução de 50% no desmatamento até 2030 com o concomitante aumento das florestas plantadas para sustentar a produção de silvicultura. 57 A principal proposta de transição para a Economia Verde no setor de Silvicultura seria o desenvolvimento de acordos nacionais e internacionais em torno de um regime REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Lançado em setembro de 2008 pelas organizações FAO, PNUD e PNUMA e originalmente chamado de REDD, tratava-se de um mecanismo que aufere valor ao carbono absorvido pelas florestas, o que implica em uma maior preservação das florestas e consequentemente uma contenção nas emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento e degradação florestal. A partir da ampliação do conceito para REDD+, o mecanismo ganhou contornos políticos ao contemplar formas de prover incentivos positivos aos países em desenvolvimento quando esses gerirem sustentavelmente e conservarem suas florestas, reduzirem as emissões de gases e aumentarem reservas florestais de carbono. O REDD+ chega como uma alternativa para os países em desenvolvimento alcançarem fundos na escala necessária para uma transição eficaz para uma economia verde. Como resultado da transição haverá um aumento do valor adicionado na indústria florestal para mais de 20% em comparação com o modelo das práticas atuais a partir do pagamento aos proprietários de terras florestais para que eles as conservem aliado à investimentos privados para reflorestamento, o que também levaria a impulsionar o trabalho formal neste setor e elevar robustamente o carbono armazenado em floresta. Em relação ao REDD+, o REV mostra que há evidências crescentes de suas vantagens não somente para a regulamentação climática e os serviços de conservação da biodiversidade, mas também na ampliação da escala de recursos para as comunidades que são as guardiãs a nível paisagístico 4.2.6 Indústria A indústria pode ser vista como a grande barreira a ser enfrentada para uma transição rumo a Economia Verde, pois como consta no REV (PNUMA, 2011) esse setor é responsável por cerca de 35% do uso global de eletricidade, mais de 20% das emissões de CO2 e mais de 25% da extração de recursos primários, além de representar 10% da demanda de água atual. Segundo as orientações do REV, para tornar esse setor verde deve-se ampliar a vida útil dos produtos manufaturados através de maior ênfase em reprojetar, refabricar e reciclar. A soma dessas medidas e investimentos verdes proporcionará uma redução no consumo de energia industrial para quase metade em comparação ao modelo atual. 58 4.2.7 Turismo O turismo convencional certamente provoca alterações significativas no meio ambiente como, por exemplo, a geração de lixo e o dano à biodiversidade terrestre e marítima locais, entretanto o crescimento anual de 20% do ecoturismo, em torno de seis vezes a taxa de crescimento do restante do setor, vem para contrabalançar essa tendência (PNUMA, 2011). Por ser uma importantíssima fonte de recursos humanos, o setor representa uma grande oportunidade em termos de mão de obra para uma transição rumo a Economia Verde. A expectativa é que, com a transição, esse potencial seja reforçado aumentando-se o envolvimento da comunidade e fomentando a economia local, levando assim, a uma redução da pobreza na região (PNUMA, 2011). 4.2.8 Transportes No que tange ao setor de transportes o REV (PNUMA, 2011) aborda essencialmente dois pontos: as formas preponderantes de transporte e a eficiência dos combustíveis por eles usados. Os meios de transportes preponderantes hoje no meio urbano são responsáveis por mais da metade do consumo mundial de combustíveis fósseis líquidos e por quase um quarto do CO2 relacionado à energia lançada na atmosfera segundo o REV. Esses custos sociais e ambientais chegam atualmente a 10% do PIB de um país ou região. As estratégias de transição destacadas pelo REV para esse setor são: reduzir viagens através da integração do planejamento do uso do solo e dos transportes, e da produção e consumo local; transportes públicos e não motorizados para passageiros e transportes marítimos e ferroviários para fretes; e aperfeiçoar tecnologias relacionadas à produção de veículos e de combustível. Além disso, incentivos econômicos podem estimular tais estratégias. Essas medidas aumentariam o emprego no setor cerca de 10% acima do modelo atual e contribuiria para diminuir a dependência por combustíveis baseados em petróleo. 4.2.9 Gestão de resíduos Esse setor é realmente promissor na transição para um mundo mais sustentável e seu “esverdeamento” implica na certeza de se transformar um passivo ambiental e econômico em um ativo ambiental e econômico. Com o crescimento populacional e o aumento da riqueza, 59 crescerá também, de forma pujante, a produção de resíduos. A estimativa é que sejam produzidos mais de 13,1 bilhão de toneladas de resíduos em 2050 (PNUMA, 2011). As atividades relacionadas à gestão de resíduos estão se tornando cada vez mais lucrativas e essa tendência deve persistir, já que os recursos desperdiçados tornam-se cada vez mais valiosos. Atualmente, somente 25% de todo o lixo é recuperado e reciclado, o que mostra que há um terreno fértil para transformar esse passivo em ativo. De acordo com o PNUMA (2011), a separação e o processamento de itens recicláveis sustentam 10 vezes mais empregos que aterros sanitários ou incineração em termos de tonelada métrica. Com a transição rumo a Economia Verde, estima-se que o crescimento de empregos no setor seja de 10% acima das tendências atuais, o desafio nesse caso estaria ligado aos aspectos qualitativos desses empregos, para que esses sejam realmente empregos “verdes”. Além disso, o REV do PNUMA mostra que com investimentos “verdes”, a taxa de reciclagem em 2050 seria mais de três vezes o nível projetado sob o modelo atual, e a quantidade de lixo destinado a aterros seria reduzido em mais de 85%. No que tange à benefícios para o clima, entre 20-30% das emissões de metano dos aterros projetadas para 2030 seria reduzido com custos negativos, e 30-50% a custos menores que US$20/tCO2-eq/ano. 4.2.10 Água É fato amplamente difundido que a água que consumimos está se tornando escassa e as previsões são de uma piora nesse quadro, caso mantenham-se os padrões de produção, distribuição e consumo atuais. A falta de acesso à água por boa parte da população carente faz com que esse extrato da população tenha que gastar boa parte de sua renda com a compra de água de fornecedores, além do tempo gasto para seu transporte. Somado a esses fatores, serviços sanitários inadequados trazem elevados gastos com doenças transmitidas pela água para países em desenvolvimento. De acordo com o REV (PNUMA, 2011), essa crescente escassez pode ser mitigada por políticas que visem a melhoria da eficiência e fornecimento de água através de investimentos em infraestrutura, melhores de acordos institucionais, sistemas de posse e verbas, expansão do uso de pagamento por serviços ecossistêmicos, redução de subsídios ao custo de produção, aperfeiçoamento da tarifação de água e um progresso nos acordos financeiros. Além disso, a partir de investimentos verdes, uma melhoria na agricultura, nos setores industrial e municipal, incidiriam em uma redução da demanda por água para cerca de um quinto até 2050, em comparação com tendências projetadas, o que diminuiria a pressão sobre as águas 60 subterrâneas e de superfície tanto a curto quanto a longo prazo. Através de investimentos verdes no montante de 0,16% do PIB mundial por ano, o uso de água a nível global pode ser mantido dentro de limites sustentáveis e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para água seriam alcançados até 2015. Em relação a oferta de empregos nesse setor, haveria um período de ajuste no qual a oferta seria reduzida de 20% a 25% até 2050 devido a melhorias na eficiência e redução do consumo total. Entretanto, essas estimativas desconsideram oportunidades de novos empregos gerados pelo desenvolvimento da infraestrutura voltada à eficiência do uso da água. 4.3 POSSÍVEIS VIRTUDES E LACUNAS DA ECONOMIA VERDE Para muitos autores a grande falha estrutural da proposta Economia Verde está no fato de seu objetivo principal ser a retomada do crescimento econômico sob os moldes do mainstream econômico, apresentando apenas mudanças mercadológicas pontuais em sua estratégia (PÉRET, 2012;ABRAMOVAY, 2012; SAWYER, 2011; et al). Mattei e Bescow (2012) argumentam que os problemas ambientais e sociais atuais urgem pela conformação de projetos menos pautados pelo crescimento econômico e mais conectados a uma perspectiva holística. Para Abramovay (2012), economia verde é aquela voltada à diminuição radical no uso de materiais e da energia presentes na produção de bens e serviços, a qual seria capaz de atingir os objetivos socioambientais que se pode esperar do sistema econômico. Entretanto, segundo este autor, essa conclusão não se sustenta, pois por mais que se aumente a eficiência material e energética da economia contemporânea, a pressão sobre os ecossistemas continua a aumentar, mesmo que em menor escala, o que incompatibiliza o crescimento econômico propagado pela economia capitalista dominante (neoclássica) e referendado, apesar de uma abordagem mais qualitativa, pela Economia Verde. O reconhecimento dos limites impostos pelos ecossistemas é uma condição sine qua non para um processo de desenvolvimento que possa ser visto como sustentável. O progresso técnico não é capaz de corrigir os danos causados na produção e no consumo e nem de substituir infinitamente os recursos exauridos, sendo as mudanças climáticas um exemplo disso. Além disso, o petróleo juntamente com um imenso conjunto de matérias primas possui um pico de extração. Péret (2012), é categórico ao dizer que “ a economia verde não aponta para uma nova relação entre as culturas humanas e a natureza.” (PÉRET, 2012, p.46) Para Abramovay (2012), uma nova economia deve ser concebida justamente a partir de uma mudança na 61 relação entre sociedade e natureza, no caso da Economia Verde a relação que sofre uma limitada mudança é aquela entre Economia e Natureza. Seguindo na direção de uma nova economia baseada na sustentabilidade e na ética, a inovação deve andar junto com a perspectiva de limite, sendo que essa inovação se refere à produzir mais com cada vez menos trabalho ou menos capital, e não com o aumento desenfreado da produtividade. Esse conceito de inovação deve estar alinhado com a ideia de se “reduzir a dependência em que se encontra a vida econômica no uso crescente de recursos materiais e energéticos.” (ABRAMOVAY, 2012, p.19). Abramovay (2012) destaca que a proposta possui um lado virtuoso, pois faz emergir uma importância enorme a oportunidades de ganho econômico com base no emprego mais eficiente dos materiais, da energia e da própria biodiversidade, além de poder provocar uma reflexão convergente entre empresas, sociedade civil e governos no que concerne ao sentido e a utilidade do que se produz para o processo de desenvolvimento. Comparado a essa visão a proposta feita pelo PNUMA para se implantar um novo modelo baseado na Economia Verde se resume a uma mudança qualitativa radical na produção, mas mantendo o mesmo arcabouço político e econômico vigente, sugerindo apenas mínimas alterações que não levam a uma mudança real no bojo do modelo vigente. Em termos quantitativos, a Economia Verde indica ser conveniente manter a ideia de crescimento e expansão da produção. Essa ideia é corroborada por Amazonas (2012), que afirma que a Economia Verde é uma proposta que fica muito distante de contestar as bases e os valores fundamentais do modelo econômico vigente, que tem como objetivo último o crescimento econômico, sendo assim a estratégia da Economia Verde se resume em dar continuidade ao modelo de produção e consumo como ele é, só que provendo esse modelo de sustentabilidade, ou seja, a palavra sustentabilidade está muito mais ligada à continuidade do objetivo final econômico como ele é, e a questão ambiental é vista como o preço a se pagar para se conquistar essa continuidade. Péret (2012), afirma que a Economia Verde não questiona os paradigmas atuais no que concerne à relação entre produção e consumo, desenvolvimento e crescimento, além dos três pilares básicos: propriedade, lucro e acumulação. No trecho a seguir, Abramovay (2012) mostra como o modelo proposto pela Economia Verde pode ser apenas um remédio paliativo e não uma solução de caráter definitivo: O avanço extraordinário das energias renováveis, os progressos químicos e biológicos no manuseio das plantas e do solo e as conquistas tecnológicas na reciclagem e na reutilização dos detritos não conduzem a espécie humana a um graal energético e material no qual a noção de limite se tornaria supérflua. (ABRAMOVAY, 2012, p.18) 62 Estudos mostram que, nos países mais ricos, a elevação na disponibilidade de bens e serviços materiais e de renda nem de longe é proporcional ao sentimento de melhoria na qualidade de vida. Isso levanta a questão de qual a vantagem de um modelo que se baseia na expansão incessante da economia nesses locais. Reformular macroeconomicamente esse modelo implica que se reformule ele microeconomicamente também no que tange a formular novas metas para as firmas, que alterem o sentido da ação empresarial e as medidas de sua eficiência. Uma constatação de que um constante aumento na disponibilidade de bens e serviços materiais e de renda não gera um constante aumento de bem-estar global é que apesar da produção material ter atingido uma escala impressionante, nunca houve tantas pessoas em situação de miséria extrema, ainda que proporcionalmente representem parcela da população menor que em qualquer momento da história moderna, ou seja, a questão das desigualdades persiste e não é bem abordada na Economia Verde. De acordo com Abramovay (2012), uma nova economia deve apoiar-se em um metabolismo industrial que reduz de forma robusta o uso de carbono na base material e energética da sociedade, além de oferecer oportunidades para que as necessidades básicas dos seres humanos sejam preenchidas. Nesse ponto o autor vai de acordo a ideia inicial propagada pela Economia Verde, porém ele afirma que isso deve ser feito dentro dos limites das possibilidades dos ecossistemas, e como vimos, esse conceito de limites das possibilidades do ecossistema é um tanto obscuro no discurso da Economia Verde. Indo mais a fundo, “um novo metabolismo se apoia na revisão dos objetivos da própria economia” (ABRAMOVAY, 2012, p. 21). o que passa longe dos preceitos da Economia Verde, pelo contrário, a Economia Verde busca manter os objetivos da economia vigente, mudando apenas os meios para alcançá -lo. Abramovay (2012) aponta também a ética como elemento central de uma nova economia, na qual a justiça e a virtude sejam grandes balizadoras nas decisões sobre o uso dos recursos materiais e energéticos e na organização do próprio trabalho das pessoas. A ética deve estar no centro da vida econômica e das decisões empresariais. Não se pode, por exemplo, uma empresa que produz refrigerantes estimular a reciclagem de água e achar que está fazendo um belo papel, quando na verdade seu produto está diretamente vinculado a epidemia da obesidade, ou seja, não adianta ter os melhores métodos e práticas e ao mesmo tempo provocar resultados de caráter social negativos. Nas palavras de Abramovay (2012) isso “é a dimensão micro do macrodesafio, que consiste em fazer do crescimento econômico um meio e não uma finalidade irredutível a qualquer coisa que não seja ela mesma.” (ABRAMOVAY, 2012, p. 22). Alguns autores como Mattei e Bescow (2012), D’Avignon e Caruso (2011) e Sawyer 63 (2011) alertam para o caráter superficial da Economia Verde no que tange ao termo “verde”, pois ao pretender “esverdear” a economia a Economia Verde pode apenas estar colocando uma máscara, uma espécie de véu verde, sem necessariamente mudar a economia em seu bojo. Um exemplo prático do chamado “greenwashing” foi dado por Goleman (2009) em sua obra “Inteligência Ecológica” na qual ele narra uma ocasião em que comprou uma camiseta na qual tinha uma etiqueta que dizia “100% algodão orgânico: faz um mundo de diferença”. Nesse caso podemos ver um marketing sustentável de grande apelo, mas apesar de não se utilizar pesticidas no cultivo de tal algodão, outros fatores nada sustentáveis merecem nossa atenção como a necessidade de se dispor de dez mil litros de água para se confeccionar uma única camiseta, o fato da camiseta ser tingida com alguma cor, os fio de algodão serem alvejados e depois tingidos, além das substâncias químicas industriais presentes na produção da camiseta (cromo, cloro e formaldeído). Isso representa bem um exemplo de “greenwashing” e que mostra sua ambiguidade, podendo ser uma manobra de mercado apenas para “inglês ver” ou um primeiro passo em direção a real sustentabilidade. Essa alusão ao “greenwashing” pode ser transportada para a economia como um todo como visto em Guiommarães e Fontoura (2012), Amazonas (2012), D’Avignon e Caruso (2011), Péret (2012) e Sawyer (2011). Os autores citados conjecturam que a Economia Verde pode simplesmente ser a Economia Neoclássica pintada de verde, ou seja, que as bases do pensamento neoclássico podem trazer resultados positivos para a economia global através da impulsão de novos segmentos de mercado e da priorização do crescimento da renda e do emprego. Assim como no exemplo da camiseta feita de algodão orgânico, a perspectiva macro do “greenwashing” também pode acarretar em um resultado ambíguo no qual pode se incitar a aurora de uma mudança maior e consistente ou onde se alcance um resultado superficial e pífio, que só leve a uma maior deterioração do problema. A maioria dos autores tem uma visão crítica com relação a natureza neoclássica da Economia Verde. Guimarães e Fontoura (2012) consideram ingênua a ideia de se utilizar premissas econômicas para o desenvolvimento sustentável e mencionam a ineficácia dos mecanismos de mercado para a economia e a sociedade em geral. Esses autores alertam para a gravidade das consequências que esses mecanismos podem trazer e fazem uma pergunta irônica: “seria “green economy” (em português, economia verde) ou “greed economy” (em português, economia gananciosa)?” (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012, p. 520). Amazonas (2012) mantém esse discurso no seguinte trecho “a crença na suficiência das forças de mercado em conduzir aos resultados mais desejáveis para a sociedade é, pela experiência histórica ou pelo bom senso, algo ingênuo, pretensioso ou puramente dogmático.” 64 (AMAZONAS, 2012, p. 34). D’Avignon e Caruso (2011) adicionam que esses mecanismos não são capazes de trazer uma mudança radical para a economia global, de forma que acarrete em uma alteração positiva na relação entre as atividades humanas e o meio ambiente, enquanto Sawyer (2011), alerta para a possibilidade da Economia Verde ser apenas um gesto simbólico para uma estratégia de manutenção do atual status quo. Um dos grandes questionamentos relacionados a Economia Verde é direcionado ao fato do objetivo final de suas recomendações ser a retomada do crescimento econômico e da ligação desse objetivo com o alcance do bem-estar pelos diferentes nichos sociais. Abramovay (2012), afirma que o crescimento econômico não é o caminho para o bem-estar, mas adverte que sua supressão generalizada não é uma solução. O caminho mais coerente, segundo esse autor, seria uma modificação na forma como o crescimento se materializa e como exemplo ele destaca a produção de automóveis individuais, que deve ser alterada com vistas a diminuir de forma significativa a quantidade de veículos em circulação. O autor mostra que apesar de uma mudança restritiva nesse setor, apresenta-se também uma grande oportunidade para a realização de novos negócios e cita o exemplo da empresa zipcar.com. Nesse ponto a visão do autor converge com a da Economia Verde, pois o setor de transporte é uma dos setores analisados pela Economia Verde e o exemplo da zipcar se configura como um caso de reformulação sustentável o setor. Para Amazonas (2012), essas janelas de oportunidade para o desenvolvimento de mercados verdes e de energias renováveis ficaram visíveis a partir da crise financeira, que impactou mais fortemente estruturas produtivas mais tradicionais, o que pode ser visto pelos níveis de investimento mais elevados nos mercados verdes do que nos setores ligado ao petróleo. Apesar da atratividade que tem se irradiado dos potenciais mercados verdes, deve-se fazer algumas ressalvas em relação à mudança radical proposta pela Economia Verde no que tange a uma realocação vigorosa de investimentos em direção ao “esverdeamento” de setores chaves. Segundo D’Avignon e Caruso (2012), foi feita uma opção de desenvolvimento baseada em combustíveis fósseis em detrimento de se investir em inovações relacionadas à fontes alternativas como energia solar térmica e fotovoltaica, eólica, hidrogênio, acumuladores mais eficientes, entre outros. Estes mesmos autores dão como exemplo os veículos com motores elétricos originados na França, no início do século XX, e que foram preteridos por veículos de combustão interna. Caso não tivesse ocorrido uma imposição destes setores econômicos específicos, inovações tecnológicas nos outros setores citados poderiam ter convivido e possibilitado um compartilhamento de todos os investimentos de sistemas nacionais, mas invés disso essa imposição deixa como legado as mudanças 65 climáticas e a destruição da camada de ozônio vigentes. Abramovay (2012) reforça essa posição e a coloca em uma posição ainda mais delicada ao argumentar que um dos grandes óbices ao avanço da ecoeficiência está ligado as oportunidades de ganho econômico oferecidas pelas práticas que incorrem em métodos predatórios. Exemplo disso é o fato de três das quatro maiores empresas do mundo, no início da segunda década do século XXI, serem petrolíferas: Shell, Exxon e BP. Estão conectadas a essas grandes corporações da energia cerca de 500 empresas que, no mundo todo e em diferentes setores, faturam todos os anos cerca de um terço do PIB global. Mais do que isso, no que concerne aos setores elencados pelo PNUMA para serem os principais impulsionadores da transição rumo a uma Economia Verde, nota-se a significativa ausência da pecuária, essa palavra, inclusive, aparece apenas uma vez em todo o relatório. Como se pode fazer uma transição rumo a uma economia que tem como características a baixa emissão de carbono e a eficiência no uso de recurso sem se fazer menção alguma a mudanças (drásticas) no setor pecuarista? Em primeiro lugar o crescimento agropecuário é baseado em um modelo intensivo em energia, sendo que para se produzir 1 quilo de carne de gado estabulado deve-se utilizar 9 quilos de produtos vegetais. Em segundo lugar 30% da superfície terrestre tomados hoje pela atividade pecuária eram ocupados, originalmente, por rica biodiversidade, sendo que dos trinta e cinco ambientes mais importantes do mundo em riqueza biológica, vinte e três estão ameaçados pela pecuária. E em terceiro lugar é importantíssimo apontar que a pecuária representa 18% de todas as emissões mundiais de gases de efeito estufa. Soma-se a esses pontos o fato do consumo de carne ser responsável pelo alto risco de diversas enfermidades como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. (ABRAMOVAY, 2012). Como explicar o fato do Relatório Economia Verde não incorporar e dar atenção especial a esse setor na transição em direção a Economia Verde? Cechin e Pacini (2012) questionam a substitutibilidade dos setores na economia que, segundo os autores, seria uma ilusão criada pela métrica monetária. Os instrumentos monetários podem ser facilmente transacionados, mas o mesmo não ocorre com bens e serviços reais produzidos nem com recursos naturais e serviços ecossistêmicos, por isso a comparação apenas em termos de preços é muito limitada. Outro ponto abordado entre diferentes autores é a relação entre os termos Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde. Para Sawyer (2011), apesar de vago e limitado o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi consagrado na Rio-92 por todos os países do mundo, o que não representaria um problema grave, pois se trata de um conceito de cunho diplomático e político, enquanto a Economia Verde não possui respaldo político e 66 devido a forma como foi concebida pode reduzir tudo a valoração monetária e trazer soluções baseadas somente em instrumentos econômicos, o que poderia acarretar na predominação dos interesses dessa esfera. Amazonas (2012), traz argumentos parecidos e adiciona que a Economia Verde é, na verdade, um recorte que reduz o Desenvolvimento Sustentável, redução essa que pode tanto trazer mais foco aos seus propósitos através da concretude de interesses econômicos e ocasionar mudanças reais ou pode provocar resultados isolados que não ensejem em mudanças alguma nos objetivos maiores ligados ao meio ambiente, a inclusão social e a redução das desigualdades. d’Avingnon e Caruso (2011) apontam a equidade temporal como elemento explícito no Desenvolvimento Sustentável e implícito na Economia Verde, onde aparece quando se aborda a prevenção da perda ou esgotamento de serviços ambientais e de biodiversidade. Já Almeida (2012), menciona a ausência da definição de uma escala sustentável compatível com os limites biofísicos dados, questão formulada e apontada pela Economia Ecológica, tanto por parte do Desenvolvimento Sustentável como pela Economia Verde. Muito relevante também é a discussão da forma como diferentes países podem realizar uma transição rumo a Economia Verde, principalmente o debate que divide países desenvolvidos de países em desenvolvimento. Para Andrade (2012), as controvérsias relativas à noção de Economia Verde que envolviam países desenvolvidos e países em desenvolvimento se intensificaram durante a Rio +20 e estavam ligadas principalmente com um certo receio, por parte dos países menos desenvolvidos, à possibilidade de restrições às suas opções de crescimento econômico por meio da Economia Verde através de padrões tecnológicos obrigatórios e de barreiras comerciais a produtos poluentes. D’Avignon e Caruso (2011), apontam a grande diferença na capacidade de se gerar inovações entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, o que traz a necessidade de políticas nacionais claras nos países em desenvolvimento e a adoção regulações internacionais que favoreçam a transferência de tecnologias dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, além do desenvolvimento de tecnologias compatíveis com as características das vocações regionais e a não imposição de uma rota tecnológica proveniente de ganho de escala e lucro no curto prazo. Amazonas (2012), corrobora dessa visão e complementa afirmando que países desenvolvidos detentores de maior capacidade de investimento tecnológico em P&D serão favorecidos dentro de um regime de comércio internacional que opere critérios de barreiras 67 comerciais “verdes” caso não seja contemplada uma ampla política de transferência tecnológica. O comércio internacional, como alertam Cechin e Pacini (2012), pode também ser usado como um véu com o qual países desenvolvidos podem esconder sua parcela de poluição na atmosfera. Isso ocorre porque as emissões são atribuídas ao país produtor, ou seja, se um país desenvolvido decide importar certos bens no lugar de produzi-los internamente, os impactos ambientais na produção desse bem serão atribuídos ao país produtor, assim os países desenvolvidos que adotarem essa estratégia podem passar a impressão de um crescimento ecologicamente limpo, o que configura em uma desconsideração dos efeitos fronteiriços. Segundo Abramovay (2012), o bom desempenho em ecoeficiência dos países da OCDE durante o século XX, não se resumem aos ganhos tecnológicos perpetuados por esses, pois grande parte de suas atividades tipicamente industriais foram transferidas para países emergentes, o que pode obscurecer os reais indicadores de desempenho em termos de ecoeficiência dos países desenvolvidos. Simionatto (2003) argumenta através da teoria de Gramsci, que para se alterar os atuais padrões e formas de domínio no campo econômico é necessário também reestruturar a socialização de valores e regras de comportamento vigentes, de modo a transformar tanto a esfera da produção quanto a da reprodução social. Como vimos, a Economia Verde sugere uma mudança limitada ao campo econômico. No que tange ao discurso da Economia Verde como instrumento para erradicar a pobreza e minorar as desigualdades temos um grande paradoxo. Como mencionado em alguns trechos desse trabalho a Economia Verde não surge como um novo modelo econômico, apesar de se declarar como tal, na verdade a Economia Verde pode ser vista como uma nova estratégia do modelo econômico atual (capitalismo) para retomar seu crescimento. O paradoxo mencionado é o fato de uma das bases de sustentação do capitalismo ser a desigualdade entre classes e entre nações, sendo que só assim o padrão de produção e consumo atribuído à poucos pode ser sustentado, ou melhor, procrastinado dentro dos limites da biosfera (AMAZONAS, 2012). 68 CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Os debates em torno da problemática ambiental tem se tornado cada vez mais vitais na agenda internacional. Entretanto a repetição de cenários, documentos com resoluções superficiais e compromissos não cumpridos conforme acordados, segue sendo a rotina. Neste trabalho vimos que o debate internacional emergiu no fim da década de 1960, quando a relação entre sociedade, economia e meio ambiente já estava se deteriorando. O grande propulsor do debate internacional foi o Clube de Roma e a obra The limits to growth lançada por ele e que acabou sendo o pavio a acender a primeira conferência mundial sobre meio ambiente, a conferência de Estocolmo na Suécia. Essa conferência seria o embrião da agenda internacional e teve como destaque a criação do PNUMA, além da criação do termo ecodesenvolvimento logo após sua ocorrência. No âmbito acadêmico a discussão se dividiu entre a proposta de um novo paradigma alicerçado nas duas primeiras leis da termodinâmica que ficou conhecido como o paradigma da Economia Ecológica e a proposta da economia capitalista dominante (neoclássica) denominada Economia Ambiental Neoclássica que nada mais era que um instrumental criado pelo mainstream econômico para se adequar a problemática ambiental. A Economia Ecológica acabou sendo considerada uma utopia e ficou escondida nas sombras enquanto a Economia Ambiental Neoclássica foi adotada por ser mais aplicável e manter o status quo. Com o relatório de Brundtland criou-se o conceito de desenvolvimento sustentável que substituiu totalmente o conceito de ecodesenvolvimento, sendo que o último se mostrava muito mais completo e elaborado enquanto o primeiro teve uma definição abrangente e superficial e foi abraçado pela maioria dos países do mundo. O conceito de desenvolvimento sustentável foi o centro da Rio-92, considerada a continuação da conferência de Estocolmo e maior evento na agenda internacional até então. Ao fim da Rio-92 teve-se a impressão de que muito progresso foi feito em relação a problemática ambiental com a criação de diversos compromissos e acordos e a elaboração de documentos considerados robustos na época. Destaca-se a Agenda 21 e a Declaração do Rio entre esses documentos e nos quais foram estabelecidos uma gama de compromissos entre países. Dez anos depois da Rio-92 aconteceu a cúpula de Joanesburgo, considerada quase um total fracasso e uma decepção em relação a Rio-92, entretanto vale mencionar que os compromissos e acordos da Rio-92 não vinham sendo cumpridos, principalmente pelos países desenvolvidos. A Cúpula de Joanesburgo tinha como missão a reafirmação de tais acordos e compromissos sob o peso dos recentes ataques de 11 de setembro de 2011 nos EUA. 69 Mais 10 anos se passaram e com uma panorama de recrudescimento global dos problemas ambientais, foi convocada a Rio +20, que se tornou o maior evento global desde o início das conferências em Estocolmo. Considerada um fracasso para alguns e um sucesso dentro de suas proposições por outros, a Rio + 20 teve a Economia Verde e a erradicação da pobreza como eixos centrais de debate, além de outros importantes temas como governança global. Principal tema de estudo desse trabalho, a Economia Verde vêm como uma nova noção após o consagrado conceito de Desenvolvimento Sustentável, porém não vêm para suplantar este e sim para complementá-lo, trazer um conjunto de instrumentos e ações que levem concretude deste que é ainda o objetivo final propagado nas conferências relativas ao tema. A Economia Verde, além de se proclamar um conjunto de instrumentos para atingir o Desenvolvimento Sustentável, também se autodenomina um novo modelo econômico, pelo qual se tornaria possível uma passagem para o Desenvolvimento Sustentável. Essa afirmaçã o foi refutada nesse trabalho através dos argumentos de diversos autores. A Economia Verde foi concebida sob uma perspectiva de crise financeira e coloca como seu objetivo principal a retomada do crescimento econômico sob os preceitos do mainstream econômico e alguns poucos aditivos estratégicos como investimentos públicos para impulsionar setores chaves e uma realocação setorial baseada em inovações e tecnologias limpas. A Economia Verde se abstém de ser uma mudança radical e se mostra mais uma solução paliativa, não enfrentando os reais desafios que são os limites impostos pela biosfera e o mar de desigualdade propagado pelo capitalismo. O que a Economia Verde deveria propor seria uma nova guinada baseada em um modelo realmente novo, que ensejasse um novo processo evolutivo, uma nova economia com uma perspectiva qualitativa em detrimento da perspectiva quantitativa atual. Nesse processo evolutivo, que substitui a perspectiva quantitativa aliada ao crescimento pela perspectiva qualitativa aliada ao desenvolvimento, a transição se exprime não pela confecção de objetivos por uma autoridade central, mas no surgimento de modos de organização empresarial e em aspirações individuais que começam a ter peso decisivo na gestão privada e na maneira como os indivíduos se relacionam com o mundo do consumo. Deve haver uma revolução de dentro pra fora e não de fora pra dentro como advoga o PNUMA em seu REV, uma revolução de cunho cultural e concebida no seio da sociedade civil, no melhor estilo Gramsciano, uma transformação endógena que obrigue o Estado e o empresariado, de forma implícita, a se adequarem e nutrirem uma nova ordem social e 70 econômica balizada pela mudança de duas relações: a primeira refere-se à relação entre sociedade e natureza e a segunda à relação entre Economia e ética. A Economia Verde surge como uma proposta conciliatória para a relação conflituosa entre economia e meio ambiente, entretanto a nova noção propagada pela Economia Verde foca na esfera econômica como ela é, sem buscar alterações em outras esferas que urgem por mudanças, como a social e a cultural. O que se percebe da Economia Verde é que ela não apresenta instrumentos capazes de alterar o modelo vigente e nem tem essa intenção. Esse modelo lesiona cada vez mais a espinha dorsal da humanidade, qual seja o meio ambiente. A Economia Verde não provoca a fratura necessária no modelo atual para o estabelecimento de um novo paradigma, ela se configura mais como a égide protetora que irá permitir a sobrevivência de tal modelo. 71 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da economia verde. São Paulo: Abril, 2012. ALIER, Joan Martínez. O Ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. São Paulo: Contexto, 2011. ALMEIDA, Luciana Togeiro de. 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