JC Relations - Jewish

Propaganda
Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Lapide, Ruth; Schottroff, Luise em colóquio com Peter Rosien e T
Contra a maça de Judas ...
Ruth Lapide, Luise Schottroff em colóquio com
Peter Rosien e Thomas Seiterich-Kreuzkamp
Ruth Lapide, teóloga judaica e historiadora, escreveu, com o seu recentemente falecido
marido, o professor Pinchas Lapide, num desempenho de muitos anos, cerca de 60 livros e
muitas monografias sobre o fundo judaico da história da origem da Cristandade. Continua o
comum desempenho pelo entendimento de cristãos e judeus na Alemanha. Faz palestras
em todo o país e organiza muitas transmissões de rádio ou televisão.
Luise Schottroff é neotestamentóloga, desde as meadas do ano passado emérita, da
Universidade de Kassel. Trabalhou durante vinte anos no desenvolvimento duma não-antijudaica
teologia e exegese na Alemanha. Conseguiu, durante anos, estabelecer um centro de pesquisa de
"Teologia Feminista de Libertação" numa universidade alemã. Atualmente, trabalha com Dorothee
Sölle num livro sobre Jesus.
Publik-Forum: Quando uma judia versada em teologia e uma teóloga evangélica conversam sobre
o Novo Testamento, o antijudaísmo cristão está em discussão. Sobretudo na Alemanha. Porquê,
perguntamos a senhora, senhora Lapide, e a senhora, senhora Schottroff, esse antijudaísmo parece
continuamente voltar a dar rebentos?
Ruth Lapide: Muitos cristãos querem pôr um ponto final ao passado, a todas as coisas horríveis
que foram feitas aos judeus. Seria bonito, se pudesse-se fazer isso afinal. Mas acho: As profundas
causas desse para judeus tão penoso e mortífero passado continuam ainda não sendo
reconhecidas nem realmente postas em dia. Antijudaísmo permanece vivo na Alemanha, antes de
tudo porque a teologia cristã não se mete com bastante conseqüência às raízes desses problemas
no Novo Testamento e nas interpretações deste, apesar de todos os eclesiais documentos oficiais.
Ao lado desse inconveniente, ainda há mais um outro, que, independentemente de qualquer
discussão de especialistas em teologia, deve e pode ser acatado concretamente: o dirigir litúrgico
contra a horrível história efetiva contra robustos antijudaísmos lidos para dentro do Novo
Testamento. Um exemplo: No Dia Eclesiástico evangélico em Stuttgart cem mil pessoas celebraram
a Última Ceia. E muito evidentemente caem as palavras litúrgicas: "Jesus, na noite em que foi
traído..." Quando Martin Walser acha precisar de falar hoje da "maça moral de Auschwitz", uma
pessoa judaica precisa aqui corretamente falar da "maça Judas", arrojada contra nós desde dois mil
anos. Esse "ser traído" por um discípulo, que precisamente ainda tem o nome de Judas,
simplesmente não concorda com o texto original, este que reza em grego "quando se entregou"
(1Cor 11,23: ‘paredídeto’. Trad.), sendo "paradidónai" um conceito que ocorre nas narrativas de
paixão sete vezes. Isso quase não é mais controverso entre teólogos. Então, porquê continua sendo
publicamente celebrado assim? Na base, então entre pessoas cristãs simples, produz algo como
latentes sentimentos de ira antijudaicos: "Traição!"
Publik-Forum: Uma neotestamentóloga judaica lê os evangelhos de outra forma que uma
neotestamentóloga cristã, senhora Schottroff?
1/5
Schottroff: Queria referir-me a esse ponto. Porquê continuar traduzindo ainda "traição"? Há
bastantes argumentos para traduzir diferente. Nem me quero referir aos aspetos históricos, mas
sim referir-me à questão de: porquê a discussão sobre o aspeto de que possa ser traduzido
diferente está tão marginalizada, tão fora dos eixos? E quero me referir à questão precisamente
como cientista teológica na Alemanha. Não temos, nas universidades, uma discussão de primeira
linha sobre essas questões. Isso é um escândalo.
Publik-Forum: E porquê?
Schottroff: Não me quero ainda referir às razões teológicas, que vejo na cristologia, na doutrina
sobre Cristo. Mas essas faculdades teológicas são todas juntas um grande aparelho de poder que
se agarra e orienta no próprio consenso. E aí não entra ninguém que tocar uma outra melodia.
Por isso, esses assuntos simplesmente não entram na maioria das publicações científicas, na
formação dos futuros párocos e párocas. Examinei durante muitos anos, primeiro exame teológico.
E quando pus um assunto de Paulo na clausura, quase não importa qual, veio sempre à luz toda a
fila de teologia antijudaica, até à interpretação de que o judeu queira arranjar a salvação ele
mesmo. Então, todos aqueles clichês.
E depois eu reclamei isso crítica e francamente aos candidatos. Mas também não dei notas ruins,
porque pensei: Eles não sabem coisa diferente.
Lapide: Mas isso tem efeitos assustadores até para os "não-mais-cristãos", cuja vida de fé se
perde em trivialidades. Estes levam aqueles preconceitos consigo a um campo pós-cristão. E aqui
vêm junto, ao que a senhora aludiu com toda a razão, também os muitos conceitos caluniadores:
como p. ex. a pretensa religião de lei do Antigo Testamento vis-a-vis a pretensa religião de amor no
Novo Testamento, ou o "Deus de vingança" vis-a-vis ao "Deus do amor". Isso se deve esclarecer às
pessoas e exigir delas e especialmente dos estudantes que seguem.
Schottroff: Enquanto os estudantes, nas suas obras de consulta, livros didáticos e dicionários
receberem o antijudaísmo com naturalidade e sem indicação, não vai modificar nada.
Lapide: Isso, lamentavelmente, continua ainda indo até nas traduções da Bíblia com seus muitos
erros. Ainda assim: Na tradução de Lutero revista, graças a Deus, o lugar foi corrigido: Os judeus ali
não são mais erroneamente titulados de "inimigos de Deus", isto que não ocorre no texto original
grego de modo nenhum. Na tradução conjunta isso não foi corrigido, e há muitas, muitíssimas,
traduções erradas com longa, para judeus nefasta, história de efeito (Wirkungsgeschichte).
Publik-Forum: Como se pode lidar com tais cientificamente guardadas, atmosfericamente
flutuantes ofensas à religiosidade judaica?
Schottroff: Há bastante conhecimentos históricos para ler hoje o Novo Testamento de outro
modo. E há realmente um bom número de cientistas homens e mulheres que nesse campo de
informação da tradição antijudaica muito realizaram.
Lapide: Certo.
Schottroff: Por exemplo o grupo de neotestamentólogos que Peter von Ostensacken tem
2/5
convocado há muitos anos, para um projeto dum comentário que pusesse criticamente em dia o
antijudaísmo cristão.
Outro grupo que queria mencionar são bibliólogas feministas. Sou co-editora dum compêndio de
exegese feminista, o qual abrange breves comentários a todos os livros da Bíblia. Pertence aos
partidos editoriais que o antijudaísmo seja criticamente posto em dia. Sessenta autoras
colaboraram, e estas estavam nessa questão profundamente de acordo.
Acho que não devamos desencorajar com o apontamento de que, nos inícios da teologia feminista
há 15 a 20anos, tivera-se insinuado um antijudaísmo irrefletido.
Lapide: Mas não o fazemos.
Schottroff: Que ao lado disso há aquela teimosa situação de discussão na teologia de primeira
linha é para lamentar, e é para perguntar: o quê podemos fazer contra isso?
Publik-Forum: A senhora disse, senhora Schrotthoff, que o próprio núcleo do problema jazia na
doutrina do Cristo, na cristologia. Quem era Jesus, quem era ou é Cristo?
Schottroff: Tradicionalmente, Jesus é apresentado com o instrumento da diferença do Judaísmo
como folha negra. Daí destaca-se o Jesus claro. E isso é um modelo de interpretação
profundamente arraigado e muito penoso a desaprender. Com meios históricos, assim, a cristologia
dogmática, em última conseqüência, está sendo demonstrada.
Publik-Forum: Se Jesus era completa e inteiramente judeu, ficando inteiramente na margem do
modo de pensar judaico, um profeta carismático em que muitos dos seus compatriotas e
contemporâneos viam o Messias, então para cristãos coloca-se a pergunta pela sua identidade. Sou
então propriamente um judeu que inadvertidamente se chama de cristão? Porquê Jesus chegou a
ser para mim um homem especial?
Schottroff: O antijudaísmo na teologia cristão não será superado antes de que soletremos a
cristologia completamente de novo, quando conseguirmos sair do falar sobre Cristo proposições de
validade geral e sobretemporais. Isto considero como o mal fundamental, porque então são
imediatamente faladas proposições que dizem solus Christus, só em Cristo há salvação, e então
temos imediatamente, para assim dizer, todo o modelo outra vez aí dentro, a velha linguagem de
dominação.
Lapide: Tudo o que nessa linguagem considerar como "estouro" do Judaísmo, a crucificação
romana, a ressuscitação, a messianidade de Jesus, tudo isso fica compreensível dentro do
Judaísmo. Pertencia naquela época ao modo de pensar da população judaica. Isso não era um
escândalo. O rompimento entre cristãos e judeus veio pela posterior divinização de Jesus e a
"doutrina das duas naturezas". E a senhora acredita que o Rábi Jesus teria algo compreendido do
par de conceitos "verdadeiro Deus e verdadeiro homem", da Trindade e da reivindicação da
posterior Igreja de ser o "verdadeiro Israel novo"?
Schottroff: Disso sofrem ainda hoje os estudantes de teologia.
Lapide: É notório que muitos teólogos cristãos têm hoje dificuldade no lidar com a teologia de
sacrifício. Mas essa dificuldade não deve ser imputada aos judeus; finalmente, o Deus cristãmente
entendido da carta aos Romanos 8 (32) e o Evangelho de João 3 (16) dá o seu filho unigênito como
3/5
sacrifício.
Schottroff: A mitologia de morte sacrificial, no seu núcleo, é teologia judaica de mártir. Ajudou-me
muito uma escrita judaica denominada "O Quarto Livro dos Macabeus". Nela se trata de mártires
judeus e judias. Aí aparecem todos os motivos, da morte expiatória ao sofrimento de substituto. Aí
se diz que pela morte dos e das mártires o poder dos inimigos sobre o povo oprimido é quebrado.
Isso é teologia de mártir. E no Novo Testamento refere-se continuamente a essa teologia de mártir,
especialmente a respeito da crucificação. Mas a crucificação não chega a ser o símbolo da morte
expiadora, mas sim o símbolo da libertação. Através da morte de mártir acontece libertação.
Publik-Forum: Isso soa como conversão do entendimento cristão.
Schottroff: Isso não é conversão. Não é mais que uma interpretação da mitologia
neotestamentária e da cristologia no quadro, no horizonte de entendimento da história social do
Judaísmo no tempo da sua origem.
Publik-Forum: Mas o quê um pároco deve pregar? Fala dum homem Jesus que fez muita coisa, ao
redor de quem giram várias histórias. Este Jesus cria de certo modo em Deus, no Deus da sua
religião.
Schottroff: Sim. E no mesmo também nós cremos.
Publik-Forum: Sim, assim, e aí não temos diferenças absolutamente nenhumas?
Schottroff: Então não é para mim problema teológico nenhum que o Deus de Jesus Cristo é o
Deus da Igreja Cristã, e que este é o Deus do povo judaico e de Abraão e de Sarah.
Publik-Forum: Isso quer dizer que, em última análise, cremos em Deus através de Jesus?
Schottroff: Sim. Jesus nos tem, por assim dizer, aberto a porta para que nós também possamos
crer nesse Deus. No centro da fé está a promissão do Deus de Israel de que está no lado dos que
estão sendo oprimidos. Jesus pronunciou e viveu, para seu tempo, essa promessa. Juntou pessoas
ao redor de si que realmente, sim na base, praticavam. E a esse Jesus gostaria de seguir, quero
também crer em Jesus Cristo e penso que não seja necessário ligar essa fé com desqualificação de
outras religiões, nem somente com a reivindicação de que não haja salvação senão em Cristo. E
para mim, a verdade se decide na prática de viver e não em dogmas cristológicos.
Lapide: Nos seus frutos os deveis conhecer, não na sua tagarelice. É que já uma vez alguém tem
dito isso no Novo Testamento.
Jüdisch-christlicher Dialog, Wider die Judas-Keule der amtlichen Christuslehre, Von dogmatischen
und liturgischen Kränkungen jüdischer Religiosität. Ruth Lapide und Luise Schottroff im Gespräch
mit Peter Rosien und Thomas Seiterich-Kreuzkamp, Publik-Forum NR. 5-2000, pp. 28-30.
© 2000 Publik Forum. Publicação com benévola permissão da revista Publik-Forum
Tradução: Pedro von Werden SJ
4/5
5/5
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
Download