avaliação da condição de saúde periodontal de crianças e

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AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE SAÚDE PERIODONTAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES EM TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO
Letícia de Lima Brito (Voluntária/ICV), Simone Sousa Lobão Veras Barros (Orientadora,
Depto. de Patologia e Clínica Odontológica - UFPI)
INTRODUÇÃO: A quimioterapia, isolada ou associada à cirurgia e à radioterapia, constitui um dos
principais dispositivos do tratamento do câncer infantil e, embora eficaz na destruição das células
malignas, não diferencia estas das células normais que apresentam comportamento mitótico
semelhante, como é o caso das células da mucosa bucal (BARBOSA et al., 2010). Mucosite,
infecção, dor, sangramento, distúrbios do paladar e disfunção das glândulas salivares, tem sido as
complicações bucais mais relatadas quando da utilização de drogas citotóxicas. (BARASCH & COKE,
2000). Aumentar os conhecimentos acerca destas complicações, que afetam a qualidade de vida dos
pacientes, permite que se trabalhe na perspectiva de prevenção ou minimização dos seus efeitos. O
objetivo desse trabalho foi avaliar o estado de saúde periodontal de crianças e adolescentes
submetidos à quimioterapia antineoplásica, antes do início do tratamento e durante sua fase inicial.
METODOLOGIA: O presente estudo é do tipo observacional longitudinal prospectivo. Utilizou uma
amostra de conveniência de pacientes tratados com quimioterapia no Hospital São Marcos (HSM) na
cidade de Teresina, Piauí, Brasil, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Piauí UFPI (parecer 12225713.0.0000.5214). O estudo foi conduzido de acordo com as
normas da resolução 466/2012 e Declaração de Helsinque e os sujeitos da pesquisa e seus
responsáveis concordaram com a participação, através do consentimento declarado por escrito.
Foram incluídos neste estudo crianças e adolescentes com idades entre 1 e 17 anos, diagnosticados
com neoplasias hematológicas ou tumores sólidos e admitidos na ala de oncopediatria do HSM para
tratamento quimioterápico. Não participaram da pesquisa, pacientes que já haviam iniciado o
tratamento de quimioterapia no momento do exame inicial, aqueles que tiveram cirurgia como única
forma de tratamento antineoplásico, pacientes submetidos à radioterapia e os que fizeram tratamento
odontológico durante o período de avaliação. Inicialmente, o responsável respondeu a um
questionário aplicado pelo pesquisador, referente às variáveis sociais, econômicas e demográficas,
hábitos de higiene bucal e dieta. Os exames da cavidade bucal foram realizados antes de iniciar o
tratamento de quimioterapia (To), no leito hospitalar, e a cada cinco dias, durante todo o período da
coleta de dados, em local variável, de acordo com o protocolo de tratamento de cada paciente: em
casa, no leito hospitalar ou na sala de quimioterapia. O intervalo de tempo entre os exames foi
estabelecido com base na observação de que os medicamentos quimioterápicos geralmente causam
granulocitopenia e linfocitopenia, após o 5º dia de terapia, aumentando a susceptibilidade dos
pacientes a infeções bacterianas, fúngicas e virais. Os pacientes foram examinados sob iluminação
ambiente, artificial local e portátil (lanterna), utilizando-se abaixador de língua, espelho bucal e sonda
exploradora preconizada pela OMS. Todos os exames clínicos foram realizados por um único
examinador, que foi treinado e calibrado (concordância intra-examinador de 90%). A cavidade oral foi
examinada utilizando-se o índice gengival modificado(IGM), índice de placa visível (IPV). Para evitar
sangramento induzido, foram utilizados índices não invasivos para o exame gengival. Os dados foram
analisados com a utilização do aplicativo: Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão
20.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Neste estudo, evidenciou-se um maior acometimento do câncer em
pacientes do gênero masculino (55,6%), em concordância com a literatura consultada (JUNIOR &
TROVÃO, 2010; LOPES; LOPES; NOGUEIRA, 2011; BARBOSA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2010).
Quanto à faixa etária de ocorrência do câncer, observou-se que na amostra estudada houve maior
prevalência entre crianças de 1 e 9 anos de idade, com distribuição similar entre os intervalos de 1 a
4 anos (37,0%) e de 5 a 9 anos (37,0%). Leucemia linfoide aguda correspondeu ao tipo de neoplasia
mais prevalente na referida amostra, correspondendo a 55, 6% do total de diagnósticos. Dentre todas
as neoplasias que acometem o paciente infantil, as leucemias são as mais frequentemente
diagnosticadas, representando, em média, 25% a 35% de todas as neoplasias malignas pediátricas
(JUNIOR & TROVÃO, 2010). De acordo com o questionário de avaliação de cuidados e hábitos de
higiene bucal, realizado no início do estudo (n=27), 12 pacientes (44,4%) relataram ter visitado o
dentista, e destes, 58,3% a visita ocorreu há mais de um ano. Vinte e quatro (88,9%) dos jovens
avaliados realizaram higiene bucal durante a internação hospitalar, dos quais 40,7% apenas uma vez
ao dia, sendo 37% ao acordar. Dificuldade de realizar a higiene bucal no hospital foi relatada por 63%
dos pacientes, sendo a locomoção como maior dificuldade encontrada (40,6%). Todos os pacientes
do estudo (100%) relataram não ter recebido orientação sobre os cuidados de saúde bucal no
momento da admissão hospitalar e antes de iniciar o tratamento quimioterápico. Em casa, todos os
pacientes (n=27) realizavam higiene bucal, porém quase metade (48,1%) com frequência de apenas
duas vezes ao dia (ao acordar e antes de dormir). Esses resultados reforçam a importância da
atuação de um cirurgião-dentista na equipe oncológica, que vem sendo ressaltada em alguns
trabalhos (MARTINS; CAÇADOR; GAETI, 2002; BARBOSA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2010; FRAZÃO et
al., 2012; MORAIS; LIRA; MACEDO, 2014) , a fim de minimizar os danos orais provenientes do
tratamento oncológico Na avaliação da condição de saúde periodontal, no tempo inicial (T 0), o IGM
médio (±DP) foi de 0,74 (± 0,20) e IPV médio (±DP) de 44,91 (± 30,31). Ambos os índices avaliados
oscilaram com o tempo. Todavia as médias de IGM mostraram-se menores em todos os tempos após
T0, ao passo que a o IPV médio mostrou-se superior em T3, T9 e T12, se comparados com o tempo
inicial (T0). Valores menores de IGM podem estar relacionados, no presente estudo, ao despertar
para o cuidado bucal decorrente da presença dos exames frequentes, adotados na metodologia,
como já foi observado na literatura (MORAIS et al., 2014). Médias elevadas de IPV nos tempos
supracitados, podem, por sua vez, ser reflexo da dificuldade de realizar higiene oral no período de
internação hospitalar, relatada pelos pacientes e/ou seus responsáveis.
CONCLUSÃO: Com base no presente estudo, pode-se verificar elevada incidência de manifestações
bucais decorrentes do tratamento quimioterápico antineoplásico, ainda que expressas em graus leves
de inflamação gengival. Valores elevados de IPV, por sua vez, revelam deficiência de higiene oral,
quer seja pelas dificuldades encontradas no período de internação, quer seja pela falta de orientação
sobre os cuidados com a saúde da boca durante a terapia oncológica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARASCH, A.; COKE, J.M.. Cancer therapeutics: an update on its effects on oral health. Journal of
the Periodontology, Michigan, v. 44, n. 1, p. 44-54, 2007.
BARBOSA, A.M.; RIBEIRO, D.M.; TEIXEIRA, A.S.C.. Conhecimentos e práticas em saúde bucal com
crianças hospitalizadas com câncer. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1,
p. 1113-1122, 2010.
FREITAS, D.A.; CABALLERO, A.D.; PEREIRA, M.M. et al.. Sequelas bucais da radioterapia de
cabeça e pescoço. Revista CEFAC, São Paulo, mar./abr. 2011.
JÚNIOR, J.C.E.M.; TROVÃO, M.M.A.. Avaliação dos índices de placa e gengival de crianças
portadoras de neoplasias submetidas a tratamento antineoplásico. Revista Brasileira de
Odontologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p.101-5, jan./jun. 2010.
LOPES, I.A.; LOPES, I.A.; NOGUEIRA, D.N.. Manifestações orais decorrentes da quimioterapia em
crianças de um centro de tratamento oncológico. Revista Pesquisa Brasileira em Odontopediatria
e Clínica Integrada, João Pessoa, v. 12, n. 1, p. 113-119, jan./mar. 2011.
Palavras-Chave: Câncer. Quimioterapia. Saúde Bucal.
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