Área: CV ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Coordenadoria de Pesquisa – CPES Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 E-mail: [email protected] AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE SAÚDE PERIODONTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO Letícia de Lima Brito (Voluntária/ICV), Simone Sousa Lobão Veras Barros (Orientadora, Depto. de Patologia e Clínica Odontológica - UFPI) INTRODUÇÃO: A quimioterapia, isolada ou associada à cirurgia e à radioterapia, constitui um dos principais dispositivos do tratamento do câncer infantil e, embora eficaz na destruição das células malignas, não diferencia estas das células normais que apresentam comportamento mitótico semelhante, como é o caso das células da mucosa bucal (BARBOSA et al., 2010). Mucosite, infecção, dor, sangramento, distúrbios do paladar e disfunção das glândulas salivares, tem sido as complicações bucais mais relatadas quando da utilização de drogas citotóxicas. (BARASCH & COKE, 2000). Aumentar os conhecimentos acerca destas complicações, que afetam a qualidade de vida dos pacientes, permite que se trabalhe na perspectiva de prevenção ou minimização dos seus efeitos. O objetivo desse trabalho foi avaliar o estado de saúde periodontal de crianças e adolescentes submetidos à quimioterapia antineoplásica, antes do início do tratamento e durante sua fase inicial. METODOLOGIA: O presente estudo é do tipo observacional longitudinal prospectivo. Utilizou uma amostra de conveniência de pacientes tratados com quimioterapia no Hospital São Marcos (HSM) na cidade de Teresina, Piauí, Brasil, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí UFPI (parecer 12225713.0.0000.5214). O estudo foi conduzido de acordo com as normas da resolução 466/2012 e Declaração de Helsinque e os sujeitos da pesquisa e seus responsáveis concordaram com a participação, através do consentimento declarado por escrito. Foram incluídos neste estudo crianças e adolescentes com idades entre 1 e 17 anos, diagnosticados com neoplasias hematológicas ou tumores sólidos e admitidos na ala de oncopediatria do HSM para tratamento quimioterápico. Não participaram da pesquisa, pacientes que já haviam iniciado o tratamento de quimioterapia no momento do exame inicial, aqueles que tiveram cirurgia como única forma de tratamento antineoplásico, pacientes submetidos à radioterapia e os que fizeram tratamento odontológico durante o período de avaliação. Inicialmente, o responsável respondeu a um questionário aplicado pelo pesquisador, referente às variáveis sociais, econômicas e demográficas, hábitos de higiene bucal e dieta. Os exames da cavidade bucal foram realizados antes de iniciar o tratamento de quimioterapia (To), no leito hospitalar, e a cada cinco dias, durante todo o período da coleta de dados, em local variável, de acordo com o protocolo de tratamento de cada paciente: em casa, no leito hospitalar ou na sala de quimioterapia. O intervalo de tempo entre os exames foi estabelecido com base na observação de que os medicamentos quimioterápicos geralmente causam granulocitopenia e linfocitopenia, após o 5º dia de terapia, aumentando a susceptibilidade dos pacientes a infeções bacterianas, fúngicas e virais. Os pacientes foram examinados sob iluminação ambiente, artificial local e portátil (lanterna), utilizando-se abaixador de língua, espelho bucal e sonda exploradora preconizada pela OMS. Todos os exames clínicos foram realizados por um único examinador, que foi treinado e calibrado (concordância intra-examinador de 90%). A cavidade oral foi examinada utilizando-se o índice gengival modificado(IGM), índice de placa visível (IPV). Para evitar sangramento induzido, foram utilizados índices não invasivos para o exame gengival. Os dados foram analisados com a utilização do aplicativo: Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 20.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Neste estudo, evidenciou-se um maior acometimento do câncer em pacientes do gênero masculino (55,6%), em concordância com a literatura consultada (JUNIOR & TROVÃO, 2010; LOPES; LOPES; NOGUEIRA, 2011; BARBOSA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2010). Quanto à faixa etária de ocorrência do câncer, observou-se que na amostra estudada houve maior prevalência entre crianças de 1 e 9 anos de idade, com distribuição similar entre os intervalos de 1 a 4 anos (37,0%) e de 5 a 9 anos (37,0%). Leucemia linfoide aguda correspondeu ao tipo de neoplasia mais prevalente na referida amostra, correspondendo a 55, 6% do total de diagnósticos. Dentre todas as neoplasias que acometem o paciente infantil, as leucemias são as mais frequentemente diagnosticadas, representando, em média, 25% a 35% de todas as neoplasias malignas pediátricas (JUNIOR & TROVÃO, 2010). De acordo com o questionário de avaliação de cuidados e hábitos de higiene bucal, realizado no início do estudo (n=27), 12 pacientes (44,4%) relataram ter visitado o dentista, e destes, 58,3% a visita ocorreu há mais de um ano. Vinte e quatro (88,9%) dos jovens avaliados realizaram higiene bucal durante a internação hospitalar, dos quais 40,7% apenas uma vez ao dia, sendo 37% ao acordar. Dificuldade de realizar a higiene bucal no hospital foi relatada por 63% dos pacientes, sendo a locomoção como maior dificuldade encontrada (40,6%). Todos os pacientes do estudo (100%) relataram não ter recebido orientação sobre os cuidados de saúde bucal no momento da admissão hospitalar e antes de iniciar o tratamento quimioterápico. Em casa, todos os pacientes (n=27) realizavam higiene bucal, porém quase metade (48,1%) com frequência de apenas duas vezes ao dia (ao acordar e antes de dormir). Esses resultados reforçam a importância da atuação de um cirurgião-dentista na equipe oncológica, que vem sendo ressaltada em alguns trabalhos (MARTINS; CAÇADOR; GAETI, 2002; BARBOSA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2010; FRAZÃO et al., 2012; MORAIS; LIRA; MACEDO, 2014) , a fim de minimizar os danos orais provenientes do tratamento oncológico Na avaliação da condição de saúde periodontal, no tempo inicial (T 0), o IGM médio (±DP) foi de 0,74 (± 0,20) e IPV médio (±DP) de 44,91 (± 30,31). Ambos os índices avaliados oscilaram com o tempo. Todavia as médias de IGM mostraram-se menores em todos os tempos após T0, ao passo que a o IPV médio mostrou-se superior em T3, T9 e T12, se comparados com o tempo inicial (T0). Valores menores de IGM podem estar relacionados, no presente estudo, ao despertar para o cuidado bucal decorrente da presença dos exames frequentes, adotados na metodologia, como já foi observado na literatura (MORAIS et al., 2014). Médias elevadas de IPV nos tempos supracitados, podem, por sua vez, ser reflexo da dificuldade de realizar higiene oral no período de internação hospitalar, relatada pelos pacientes e/ou seus responsáveis. CONCLUSÃO: Com base no presente estudo, pode-se verificar elevada incidência de manifestações bucais decorrentes do tratamento quimioterápico antineoplásico, ainda que expressas em graus leves de inflamação gengival. Valores elevados de IPV, por sua vez, revelam deficiência de higiene oral, quer seja pelas dificuldades encontradas no período de internação, quer seja pela falta de orientação sobre os cuidados com a saúde da boca durante a terapia oncológica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARASCH, A.; COKE, J.M.. Cancer therapeutics: an update on its effects on oral health. Journal of the Periodontology, Michigan, v. 44, n. 1, p. 44-54, 2007. BARBOSA, A.M.; RIBEIRO, D.M.; TEIXEIRA, A.S.C.. Conhecimentos e práticas em saúde bucal com crianças hospitalizadas com câncer. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 1113-1122, 2010. FREITAS, D.A.; CABALLERO, A.D.; PEREIRA, M.M. et al.. Sequelas bucais da radioterapia de cabeça e pescoço. Revista CEFAC, São Paulo, mar./abr. 2011. JÚNIOR, J.C.E.M.; TROVÃO, M.M.A.. Avaliação dos índices de placa e gengival de crianças portadoras de neoplasias submetidas a tratamento antineoplásico. Revista Brasileira de Odontologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p.101-5, jan./jun. 2010. LOPES, I.A.; LOPES, I.A.; NOGUEIRA, D.N.. Manifestações orais decorrentes da quimioterapia em crianças de um centro de tratamento oncológico. Revista Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, João Pessoa, v. 12, n. 1, p. 113-119, jan./mar. 2011. Palavras-Chave: Câncer. Quimioterapia. Saúde Bucal.