UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento ANA MIRIÃ PACIFICO Avaliação da expressão gênica do sistema ocitocinérgico em ratos expostos ao status epilepticus neonatal São Paulo 2016 ANA MIRIÃ PACIFICO Avaliação da expressão gênica do sistema ocitocinérgico em ratos expostos ao status epilepticus neonatal Dissertação vinculada à linha de pesquisa básica em Neurobiologia e Comportamento no Desenvolvimento e seus transtornos, apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Monterazzo Cysneiros SÃO PAULO 2016 Roberta P117a Pacifico, Ana Miriã. Avaliação da expressão gênica do sistema ocitocinérgico em ratos expostos ao status epilepticus neonatal / Ana Miriã Pacifico – São Paulo , 2016. 50 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Distúrbio do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016. Orientador: Profa. Dra. Roberta Monterazzo Cysneiros Referência bibliográfica: p. 37-50. 1. Status epilepticus neonatal. 2. Ocitocina. 3. Memória social. 4. Ansiedade. 5. Modelo Animal. I. Título. CDD 616.8982 Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz e Silvia. Por sempre me incentivar a encarar os obstáculos da vida. Por estarem sempre presentes em cada passo que dou. Esse trabalho não seria possível sem o apoio de vocês! AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus, meu senhor, minha fortaleza. Sem Ele não conseguiria enfrentar os desafios e obstáculos que me ocorreram durante o caminho. À Ele toda honra e glória para sempre! Aos meus pais, Luiz e Silvia. Companheiros de todas as horas, incentivadores e amigos. Eu não teria conseguido sem o apoio e amor de vocês. Amo vocês! Aos meus queridos avós, Paulo e Valdete, que me incentivaram e torceram por mim em cada etapa do trabalho. Aos meus irmãos, Rafael e Felipe, que mesmo sem perceber me apoiaram em vários momentos de fraqueza. A minha cunhada querida, Gabriela, que já considero uma irmã por todas as palavras de incentivo e apoio. A minha orientadora Profª. Roberta, por todo incentivo. Por ter me acolhido em seu grupo de pesquisa, ter me ensinado e me apoiado em todos os momentos deste trabalho. Agradeço pela amizade e compreensão em vários momentos difíceis que enfrentei durante a minha caminhada. Sem a sua orientação e paciência eu não teria conseguido, os meus mais sinceros agradecimentos. Aos Professores Miriam Ribeiro e Sérgio Gomes da Silva, integrantes da banca examinadora, por todas as contribuições ao trabalho. Aos professores Sérgio Tufik, e Mônica Levy Andersen do departamento de Psicobiologia da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP), por ter cedido o espaço e possibilitado à execução de parte desse trabalho. Ao meu querido amigo Geraldo, pelo auxilio, amizade e companheirismo durante toda a minha jornada. Obrigada pelas conversas, pelo auxilio nos experimentos, pela solidariedade e apoio. Aos alunos de iniciação cientifica: Letícia, Dayane, Ingrid, Samuel e Pedro. Obrigada pelas palavras de incentivo, pelas conversas e por todo o companheirismo no laboratório. Á todos que de alguma forma ajudaram na execução do trabalho no Departamento de Psicobiologia na UNIFESP, em especial ao Hélio, a Sueli e a Laura que sempre foram muito prestativos. Muito Obrigada por todo o auxílio. As queridas amigas: Ana Paula, Larissa e Lílian por todo incentivo e apoio que sempre me deram. Aos meus amigos: Bruno, Jônatas, Débora, Camila, Silvia, Mauricio, Martha, Matheus, Fernanda e Lucas por todas as palavras de incentivo, pelo apoio e pela compreensão durante todo o curso. Amo vocês. Aos queridos amigos de trabalho: Rubens, Luciana, Beatriz, Verônica e Cristiane. Por todo carinho e incentivo que me deram do começo ao fim do curso. Agradeço à todos os professores do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, por todos os ensinamentos e por terem contribuído na minha formação. Ao veterinário Alexandre e aos técnicos do Biotério: Domingos e Junior por todo o auxílio prestado durante os experimentos. Aos técnicos do Laboratório: Lucas e Nathalia por toda a ajuda, que nunca me foi negada em todos os momentos em que precisei. À Daniele, da secretaria do programa, por todo auxilio prestado durante o curso. Aos colegas do laboratório por toda ajuda. À todas as pessoas que não foram citadas aqui, mas que de alguma forma contribuíram com o trabalho. À Universidade Presbiteriana Mackenzie pela estrutura prestada, e pelo incentivo a pesquisa por meio do MackPesquisa. RESUMO Estudos experimentais mostram evidências de que ratos adultos submetidos às convulsões neonatais apresentam mudanças morfológicas e cognitivas, exibindo também comportamento autista caracterizado pela baixa preferência pela novidade social, déficit de discriminação social e comportamento tipo ansioso. Porém, os mecanismos que respondem por estas alterações ainda não são conhecidos. Várias evidências demonstram que a ocitocina (OT) está presente em regiões importantes para reconhecimento social, tais como a amígdala medial e o hipocampo. Postulamos que a deficiência na sinalização mediada pela OT na rede neural relacionada com o cérebro social responda pelo prejuízo na sociabilidade e pelo aumento da emocionalidade subsequente à convulsão neonatal. Este trabalho tem como objetivo avaliar a memória de reconhecimento social e a expressão gênica da OT e do seu receptor (OTR) em animais submetidos ao status epilepticus neonatal. Foram utilizados ratos Wistar machos adultos submetidos ao status epilepticus no nono dia de vida (P9) pela administração da pilocarpina (350 mg/kg, ip) e os controles receberam salina 0.9% (0,1 mL/10 g). Em P90 foi avaliada a memória social pelo paradigma de habituação/desabituação. Ao fim dos testes comportamentais, os animais foram anestesiados e decapitados para a retirada das estruturas de estudo (amígdala, hipocampo, e hipotálamo). Posteriormente foi realizada a análise da expressão gênica da ocitocina e seu receptor nos tecidos citados, por meio da PCR em tempo real. No teste de memória social os animais experimentais apresentaram menor tempo de investigação social, indicativo de prejuízo no sistema de motivação/recompensa e prejuízo de habituação/desabituação, sugestivo de prejuízo na memória de reconhecimento social. A expressão gênica da ocitocina não diferiu entre os grupos nas estruturas analisadas, mas observou-se uma pequena redução na expressão gênica do receptor de ocitocina no hipocampo. Com isso conclui-se o status epilepticus neonatal em ratos produz déficit na memória de reconhecimento social e do sistema de motivação / recompensa mesolímibico. O presente trabalho mostrou que animais submetidos ao status epilepticus neonatal apresentam redução da exploração da novidade social, sugestivo de prejuízo no sistema de motivação/recompensa mesolímbico e da memória de reconhecimento social que pode estar relacionada a redução da expressão dos receptores da ocitocina no hipocampo. Palavras – chave: status epilepticus neonatal, ocitocina, memória social, modelo animal ABSTRACT Experimental studies show evidence that rats subjected to neonatal seizures have morphological and cognitive changes, also exhibiting autistic behavior characterized by low preference for social novelty, social discrimination deficits and behavior type anxious. However, the mechanisms that account for these changes are not yet known. Several lines of evidence show that Oxytocin (OT) is present in key regions for social recognition, such as the medial amygdala and the hippocampus. We postulate that the deficiency in signaling mediated by OT on neural network related to the social brain responds by impaired sociability and increased emotionality subsequent neonatal seizure. This study aims to assess the social recognition memory and gene expression of OT and its receptor (OTR) in animals with neonatal status epilepticus. Wistar rats were adult males submitted to status epilepticus on the ninth day of life (P9) the administration of pilocarpine (350 mg / kg, ip) and the controls received saline 0.9% (0.1 ml / 10 g). In P90 social memory was evaluated by habituation/deshabituation paradigm. At the end of behavioral testing, the animals were anesthetized and decapitated to remove the structures of study (amygdala, hippocampus, and hypothalamus). Thereafter it was performed gene expression analysis of oxytocin and its receptor in the aforementioned tissues by real-time PCR. In social memory test experimental animals had shorter social research, injury indicative of the motivation system / reward and loss of habituation / deshabituation, suggesting impairment in social recognition memory. The gene expression of oxytocin did not differ between the groups in the analyzed structures, but there was a small decrease in gene expression of oxytocin receptor in the hippocampus. Thus concludes the neonatal status epilepticus in rats produces memory deficits in social recognition and motivation /mesolímibic reward systems. This work demonstrated that animals subjected to neonatal status epilepticus have reduced exploration of social novelty, suggesting impairment in motivation system / mesolimbic reward and social recognition memory that may be related to reduced expression of oxytocin receptors in the hippocampus. Key - words: neonatal status epilepticus, oxytocin, social memory, animal model LISTA DE FIGURAS Fig. 1- Protocolo do teste comportamental (habituação/desabituação).....................22 Fig. 2 – Representação gráfica do teste comportamental........................................26 Fig. 3- Expressão do RNAm para o receptor de ocitocina.........................................27 Fig. 4- Expressão do RNAm para a de ocitocina.......................................................28 SUMÁRIO 1. Introdução ............................................................................................................. 10 1.1 Crises epilépticas neonatais ............................................................................ 10 1.2. Estudos Clínicos ............................................................................................. 11 1.3 Estudos em Modelos Experimentais ................................................................ 13 1.4. Reconhecimento Social .................................................................................. 14 1.6. Ocitocina ......................................................................................................... 16 2. Hipótese ................................................................................................................ 21 3. Objetivos ............................................................................................................... 22 3.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 22 3.2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 22 4. Método .................................................................................................................. 23 4.1. Animais ........................................................................................................... 23 4.3. Teste de memória social ................................................................................. 23 4.4. Análise de Expressão Gênica ......................................................................... 24 4.4.1. Extração do RNA Total ............................................................................. 24 4.4.2. Eletroforese em gel de Agarose e Quantificação ...................................... 26 4.4.3. Transcrição Reversa ................................................................................. 26 4.4.4. PCR de tempo real ................................................................................... 27 4.5. Análise Estatística ........................................................................................... 27 5. Resultados ............................................................................................................ 28 5.1. Teste de Memória Social ................................................................................ 28 5.2. PCR em tempo real ......................................................................................... 28 6. Discussão .............................................................................................................. 31 7. Conclusão ............................................................................................................. 35 Referências ............................................................................................................... 36 1. Introdução 1.1 Crises epilépticas neonatais As crises convulsivas são o distúrbio neurológico mais frequente no período neonatal (WIRRELL et al., 2011; VASUDEVAN; LEVENE, 2013). Apesar de cerca de 40%-50% das crianças afetadas se desenvolverem normalmente, as crises podem causar lesões que afetam funções cerebrais importantes causando epilepsia, prejuízos cognitivos, atraso do desenvolvimento, paralisia cerebral e até mesmo óbito (RONEN et al., 2007; TUCHMAN; CUCCARO, 2011; BERG; PLIOPLYS, 2012; FRIEDMAN; HU, 2014). A interação entre epilepsia e o autismo é sugerida por vários pesquisadores, isto porque, estudos demonstram que a epilepsia está presente em até 46% dos pacientes com autismo e que a co-ocorrência da epilepsia e autismo ocorre em cerca de 30% das crianças com outras desordens (BROOKS-KAYAL, 2010; JENSEN, 2011). Muitos fatores no período neonatal contribuem para um alto risco de convulsões (NARDOU et al., 2013). As intercorrências perinatais mais frequentes são a encefalopatia hipóxico-isquêmica, trauma no parto, infecções perinatais, hemorragia intracraniana, intoxicação e distúrbios metabólicos (THIBEAULT-EYBALIN et al., 2009; HUANG et al., 2011, FABBRONI; CYSNEIROS, 2014). Além de anormalidades cerebrais congênitas e desordens genéticas que também podem desencadear crises neonatais. Em humanos a etiologia mais comum para convulsões neonatais é a encefalopatia hipóxico-isquêmica, que afeta aproximadamente 1-3 de 1000 nascidosvivos e é responsável por 60% das convulsões em recém-nascidos (FABBRONI; CYSNEIROS, 2014; SYLVERTSEN, et al., 2015). Essas crises podem ser sintomáticas ou idiopáticas. As sintomáticas têm etiologia causada no parto ou no pós-parto. Já as crises idiopáticas, quando não há uma etiologia ou fator de risco, na maioria das vezes, as causas são parte de síndromes epilépticas geneticamente determinadas, como convulsões benignas neonatais familiares ou não (HUANG et al., 2011). Essa propensão do cérebro imaturo para gerar crises deriva de vários fatores (HUANG et al., 2012). O cérebro imaturo possui propriedades fisiológicas que incluem correntes iônicas neuronais que diferem marcadamente das do cérebro adulto, sendo 10 tipicamente mais duradouras e menos seletivas, caracterizado principalmente por aumento de excitação e redução da atividade inibitória (MOSHE, 1993; SWANN, 2005; BEN-ARI; HOLMES, 2006; NARDOU et al., 2013). O GABA (ácido gama-aminobutírico), é o principal transmissor inibitório no cérebro adulto, porém exibe atividade excitatória nos neurônios imaturos e isto acontece devido a uma elevada concentração intracelular de íons cloreto levando a um efluxo quando à ativação de receptores do tipo GABAA (BEN-ARI, 2002; BEN-ARI; HOLMES, 2006; NARDOU et al., 2013). Já o glutamato é o principal neurotransmissor excitatório e se expressa depois do GABA nos neurônios imaturos. Isto porque, o receptor NMDA (N-metil D-Aspartato) alcança a maturação no final da primeira semana, e o receptor AMPA (alfa-amino-3-hidroxi-metil-5-4-isoxazolpropiónico) tem o seu pico de expressão em aproximadamente 10 dias de vida (SANCHEZ; JENSEN, 2001) e a maturação da rede inibitória do GABA, acontece durante as primeiras três semanas pós-natais. Essa diferença temporal de expressão cria um desequilíbrio dos receptores excitatório sobre os receptores inibitórios no início do neurodesenvolvimento (THIBEAULT-EYBALIN et al., 2009; NARDOU et al., 2013). Outros fatores que contribuem para a suscetibilidade do cérebro imaturo para convulsões incluem a arquitetura sináptica imatura, os padrões de voltagem, e as funções das células glia de apoio. O aumento da atividade neural associada com a aprimorada excitação no cérebro imaturo é essencial para numerosas atividades e processos do desenvolvimento, mas predispõe à geração de eventos sincrônicos, o que torna o cérebro mais suscetível às convulsões (NARDOU et al., 2013). Estudos em animais e em humanos têm mostrado evidências sugerindo que crises convulsivas prolongadas durante o desenvolvimento cerebral podem resultar em sequelas permanentes (GARFINKLE; SHEVELL, 2011; CASTELHANO et al., 2010, 2013, 2015). 1.2. Estudos Clínicos 11 Como citado anteriormente, as crises neonatais são o sinal clínico mais comum de disfunção cerebral em recém-nascidos (HOLMES, 2005). Essas crises estão relacionadas a fatores etiológicos, associadas a altas taxas de mortalidade e ou prejuízo do desempenho neurológico. Com os avanços na área da neonatologia, a taxa de sobrevivência de recém-nascidos tem aumentado e as técnicas avançadas de investigação ajudaram a descobrir diferentes fatores etiológicos, e assim o espectro de diagnóstico diferencial tem aumentado (YILDIZ et al., 2012). Porém, a asfixia perinatal continua a ser o fator mais comum, sendo a etiologia mais frequente (5060%) de crises neonatais (RONEN et al., 2007; TEKGUL et al., 2006; YILDIZ et al., 2012). No geral, para os bebês nascidos a termo, a mortalidade após as crises diminuiu na última década, e há registro de 10% de óbitos após as crises, uma queda de 33% em relação aos relatórios dos anos 1990. Em contraste, a prevalência de sequelas adversas no neurodesenvolvimento permanece relativamente estável, tipicamente 46% (URIA-AVELLANAL et al., 2013). Entre as consequências neurológicas adversas associadas às crises neonatais estão: paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento global, e crises epilépticas (GARFINKLE; SHEVELL, 2011; LAI et al., 2013). As taxas de presença de sequelas variam entre 25-35%, e não apresentam relação com a idade gestacional (YILDIZ et al., 2012). Muitos estudos clínicos demonstram as possíveis sequelas das crises neonatais associadas às etiologias (GARFINKLE; SHEVELL, 2011; LAI et al., 2013; YILDIZ et al., 2012). Em um estudo longitudinal, Yildiz e colaboradores (2012) avaliaram as repercussões da convulsão no período neonatal em pacientes com idades cronológicas de 23-44 meses. Dos 112 recém-nascidos, 33 eram prematuros, e 79 eram a termo. A asfixia perinatal (28,6%) e hemorragia intracraniana (17%) foram as causas mais comuns das crises neonatais. Os pacientes apresentaram as seguintes sequelas: 27,6% paralisia cerebral, 35,7% epilepsia e quase 50% dos pacientes manifestou atraso no desenvolvimento em uma ou mais áreas. Atraso no desenvolvimento global foi o distúrbio neurológico mais comum (50,8%) neste estudo. Segundo revisão de literatura de Fabbroni e Cysneiros (2014), embora os estudos clínicos apontem que a etiologia subjacente às crises neonatais esteja relacionada à gravidade do prognóstico, existem outros fatores que também aparecem como preditores independentes para o prognóstico, entre eles: a semiologia das crises neonatais, a ultrassonografia craniana anormal, o índice de resistência anormal da 12 artéria cerebral anterior, o eletroencefalograma anormal e doenças cardíacas congênitas. Por exemplo, um estudo realizado com bebês nascidos a termo que tiveram convulsões neonatais posteriores à asfixia intraparto mostrou as principais sequelas que podem ocorrer com as crianças. Ao todo foram analisadas 62 crianças, destas 23 (37%) crianças tiveram um resultado normal, 34 (55%) sobreviveram com uma ou mais deficiências do desenvolvimento neurológico (23 paralisia cerebral, 28 atraso no desenvolvimento global, 15 epilepsia, 18 com combinação de dois e 9 com todos os três), além de 5 (8%) que foram à óbito (GARFINKLE; SHEVELL, 2011). Os autores apontam que a semiologia e anormalidades no EEG em crianças que tiveram crises são preditores de prognósticos adversos. 1.3 Estudos em Modelos Experimentais Considerações éticas se opõem a maioria dos estudos sobre o cérebro de recém-nascidos humanos (NARDOU et al., 2013). Então, estudos com modelos animais são realizados em larga escala, uma vez que as variáveis podem ser controladas, podem-se replicar as evidências observadas em humanos como também permitir a investigação de mecanismos moleculares subjacentes aos danos ocasionados pelas crises neonatais (HOLMES, 2005; CASTELHANOS et al., 2010). Os modelos de crises neonatais em roedores utilizam animais com idades entre P7 e P10, uma idade que se assemelha a maturação estrutural e funcional do cérebro neonatal humano (BERNARD; BENK, 2015; NARDOU et al., 2013). Em modelos animais, os danos neurológicos de longo prazo decorrentes das crises epilépticas estão relacionados com a idade do animal no momento da convulsão. Comparados com ratos adultos, roedores jovens têm menos perda celular, ao invés disso, apresentam extensa plasticidade e reorganização sináptica (HOLMES et al., 1998; SOGAWA et al., 2001; NISHIMURA et al., 2011; CORNEJO et al, 2007; SAYIN et al., 2015). Esta resistência relativa pode ser devido a menor densidade de sinapses ativas, menor consumo de energia, e, em geral, a imaturidade relativa de cascatas bioquímicas que conduzem à morte celular (HOLMES, 2005). Estudos experimentais têm demonstrado que as convulsões neonatais produzem aumento da excitabilidade cortical e hipocampal (ISAEVA et al., 2010; HERNAN et al., 2013; BERNARD et al., 2014), déficits na aprendizagem e na 13 memória viso-espacial (HOLMES et al., 1998; HUANG et al., 1999; LUGO et al., 2014b) e na flexibilidade cognitiva (KLEEN et al., 2011). Além destas, pesquisas conduzidas pelo nosso grupo (CASTELHANO et al., 2010, 2013 e 2015) e por outros pesquisadores (LUGO et al., 2014, BERNARD; BENK,2015; HOLMES et al. 2015) mostram evidências que ratos adultos submetidos às convulsões neonatais exibem comportamento autista caracterizado pela baixa preferência pela novidade social, déficit de discriminação social e comportamento tipo ansioso (SAYIN et al., 2004; SHI et al., 2007; CASTELHANO et al., 2013, 2015; LUGO et al., 2014). Os mecanismos que respondem por estas alterações ainda não são conhecidos. 1.4. Reconhecimento Social A interação social no início da vida é crucial para o desenvolvimento de respostas fisiológicas e do comportamento animal, uma vez que favorece a reprodução, proteção contra predadores e mudanças ambientais, além de promover o desenvolvimento do cérebro (VIERO et al., 2010, CUSHING, KRAMER, 2005). A interação social é entendida como a aproximação de dois ou mais indivíduos que compartilham um mesmo ambiente. Os animais tendem a se manter em um mesmo espaço para obter algumas vantagens como, por exemplo: garantir proteção, alimentação, reprodução, facilitando assim a sua sobrevivência (KEVERNE; CURLEY, 2004). Em ratos, os principais comportamentos sociais observados incluem; cheirar o corpo do animal, cheirar a região genital e o lutar de brincadeira, que também inclui o boxear. Tais interações são essenciais para o desenvolvimento das respostas sociais e cognitivas do animal na idade adulta (TODESCHIN, et al., 2009). Os comportamentos sociais são complexos porque exigem a integração de processos emocionais, cognitivos e motivacionais com estímulos gratificantes internos e externos (ALBERS, 2012). Segundo Bos e colaboradores (2012), o comportamento social só pode existir quando os animais são capazes de reconhecimento social. Para o reconhecimento social é essencial a memória social. (VAN WIMERSMA GREIDANUS, MAIGRET, 1996; HOLLANDER et al., 2007). A memória social é um componente importante de sobrevivência em grupos de animais, e é baseada na aprendizagem relacional de estímulos complexos em um ambiente social (LAI et al., 2005). Ela é caracterizada por alguns autores como uma memória especifica, pois tem 14 duração maior que a da memória operacional, mas menor que uma do tipo espacial ou aversiva (FERGUNSON, 2002). O reconhecimento social foi estudado em roedores ao longo do tempo e tem sido definido como a capacidade de reconhecer um familiar co-específico ao longo de um período relativamente curto de tempo (BIELSKY; YOUNG, 2004). O reconhecimento social permite que o animal possa reagir adequadamente a estímulos sociais através de uma variedade de contextos que envolvem a detecção, incorporação, integração, reconhecimento e processamento de informações sobre indivíduos da mesma espécie. Ele ocorre pelo simples fato de um animal reconhecer o outro como familiar (MARKHAM, JURASKA, 2007; CLIPPERTON-ALLEN, et al., 2012). Esse processo simples envolve uma série de mecanismos como a detecção inicial do sujeito, pela memória, com a lembrança eventual do encontro posterior (MARKHAM, JURASKA, 2007). Memória de reconhecimento social pode ser definida por uma diminuição na frequência de investigação social depois de repetidas exposições a um co-específico, esse processo pode ser chamado de "habituação" (THOR, HOLLOWAY, 1982). Com isso o animal passa a reconhecer o outro por memória de encontros anteriores e por isso, a necessidade de investigar mais profundamente o familiar co-específico é reduzida. Este processo tem três características principais: aquisição, retenção e transferência de informação, sua contraparte é o processo de desabituação, resultando em uma rápida recuperação da atividade sensorial inicial de investigação (MONNIER, BOHEMER, SCHOLER, 1976; MOURA, XAVIER, 2010). Esta forma de aprendizagem pode ser modulada por uma variedade de neuropeptídios, como a ocitocina e vasopressina, em diferentes espécies de mamíferos, incluindo seres humanos (MEYER-LINDENBERG et al., 2011). Os paradigmas de reconhecimento social são muito utilizados para avaliar a memorial social de animais sem a necessidade de treinamento prévio (ENGELMANN; WOTJAK; LANDGRAF, 1995). O paradigma habituação-desabituação envolve exposição do animal teste para um animal estímulo uma única vez (THOR, HOLLOWAY, 1982) ou repetidas exposições (GUAN, DLUZEN, 1994; CHOLERIS et al., 2003). Quando o mesmo animal estímulo é apresentado repetidamente, o animal teste tipicamente exibe uma diminuição na investigação social (habituação, passo 1). 15 Quando um novo estímulo social é posteriormente apresentado, ocorre o aumento da investigação social pelo animal teste (desabituação; passo 2). Esta desabituação permite descartar que a resposta de habituação foi simplesmente devido a uma perda de interesse para todos os estímulos sociais (ENGELMANN et al., 1995; CHOLERIS et al., 2003). É bem estabelecido que o reconhecimento social é uma forma única de aprendizagem e de memória que utiliza mecanismos neurais distintos específicos para o processamento social, e é um componente importantíssimo para o “cérebro social” (BIELSKY, YOUNG, 2004). Depois de reconhecido o outro indivíduo como familiar, há uma resposta de investigação olfativa. Desse modo, ratos podem diferenciar membros da colônia, de intrusos, sendo assim muito importante para a demarcação do território e formação de grupos (MOURA, XAVIER, 2010; LUKAS et al., 2011). Em roedores, o reconhecimento de um indivíduo co-específico depende principalmente de pistas de natureza olfativa, da sensibilidade para a mescla de odores que define cada indivíduo, conhecida como sua “assinatura olfativa” (THOR, HOLLOWAY, 1982; BURMAN, MOURA, XAVIER, 2010). No cérebro de roedores, quando essas assinaturas olfativas se ligam aos receptores expressos pelos neurônios sensoriais do principal epitélio olfativo e do órgão vomeronasal, esses neurônios transmitem a informação sensorial para o bulbo olfatório e bulbo olfatório acessório, respectivamente. Estes se projetam para a amígdala medial que transfere a informação até o hipocampo pelo septo lateral, mas a contribuição de cada uma dessas estruturas no processamento da informação social ainda não está clara (BIELSKY, YOUNG, 2004; GUR, TENDLER, WAGNER, 2014). Há uma ampla evidência que mostra que a amígdala medial é importante para reconhecimento social (BIELSKY; YOUNG, 2004; CHOLERIS et al., 2007), assim, como é uma estrutura onde a OT (ocitocina) é abundante (FERGUSON et al., 2001), é concebível, então, que as ações de estrogênio e da ocitocina dentro desta estrutura estão envolvidas no reconhecimento social. 1.6. Ocitocina 16 A Ocitocina (OT) é um neuropeptídio formado por nove aminoácidos cíclicos produzida no núcleo paraventricular (PVN) e no núcleo supra-ótico (SON) do hipotálamo dos mamíferos. A OT atua influenciando um imenso número de funções fisiológicas complexas do sistema nervoso central e periférico. Fisiologicamente, ela é liberada na corrente sanguínea pelo lobo posterior da hipófise, principalmente por exocitose, a partir dos terminais dos neurônios magnocelulares em resposta a vários estímulos e é distribuída pelo cérebro de acordo com mecanismos diferentes para cada estímulo (FERGUSON, YOUNG, INSEL, 2002; VIERO et al., 2010). Esses neurônios também podem atingir outras regiões do cérebro, como o sistema límbico via axônios colaterais ou por populações de neurônios parvocelulares no PVN que atingem regiões como: o septo medial, hipocampo, e a amígdala (LUKAS; NEUMANN, 2013). Além de liberar a OT pelos terminais de axônios como uma neurotransmissora, a liberação central da OT como uma neuromoduladora pode ocorrer tanto a partir de dendritos como do corpo celular, explicando os níveis basais no fluido extracelular de regiões distintas do cérebro (NEUMANN; LANDGRAF, 2012). No cérebro, a OT é projetada ao longo das projeções axonais para diferentes áreas incluindo o núcleo estriado, o núcleo supraquiasmático, a substância negra, área tegmental ventral, núcleo da rafe, o locus coeruleus e densamente ao longo do tronco cerebral e da medula espinhal, podendo atuar como neuromoduladora ou neurotransmissora, e, assim, influenciar a neurotransmissão nestas áreas (MEYERLINDENBERG et al., 2011; GORDON et al., 2013; CARSON et al., 2013). As dinâmicas temporal de liberação central e periférica de OT podem diferir substancialmente dependendo do estímulo. Além disso, vários fatores de estresse mostraram que provocam a liberação de OT no hipotálamo e nas regiões límbicas, enquanto a secreção do neuropeptídio no sangue permanece praticamente inalterada (NEUMANN; LANDGRAF, 2012). Ivell e Richter (1984) clonaram o gene da OT, o que permitiu um melhor mapeamento da distribuição do mRNA de OT em todo o sistema nervoso dos mamíferos. O receptor de OT (OTR) é um poliptídeo de 389 aminoácidos que possui sete domínios transmembrana que pertencem à classe de receptores acoplados à proteína G e são expressos em diversas regiões anatômicas como: nas glândulas mamarias, nos ovários, nos rins, no útero, no coração, nos ossos e nas células de diversas regiões do sistema nervoso central dos mamíferos como: no bulbo olfatório 17 e tubérculo, no neocórtex, no hipocampo, na amígdala, no núcleo acumbens e no hipotálamo ventromedial (GIMPL; FAHRENHOZ, 2001; LEE et al., 2009). Juntamente com a distribuição regional e densidade de OTR, a quantidade de OT liberada em cada local determina, em grande parte, a atividade do sistema ocitocinérgico no cérebro, contribuindo assim, para a regulação do comportamento emocional e social (NEUMANN; LANDGRAF, 2012). OT é bem conhecida por seu papel na formação de pares e no cuidado parental (DONALDSON, YOUNG, 2008; INSEL et al., 2010; BARTZ et al., 2010). Contudo, pode também desencadear a agressão materna contra indivíduos de mesma espécie, especialmente contra outros do sexo feminino, isto porque, enquanto OT inibe agressão dirigida aos filhotes, ela pode aumentar simultaneamente ataques contra intrusos (DEBIEC; 2005; PEDERSEN; BOCCIA, 2006). A agressão maternal é estudada em roedores, introduzindo um estranho de ambos os sexos na gaiola da mãe, na presença de seus filhotes (ALMEIDA et al., 2014). Essa agressão materna pode estar associada a baixos níveis de medo (GAMMIE et al, 2004;. LONSTEIN; GAMMIE, 2002). O medo, o estresse e a ansiedade também estão relacionados com a OT. Em roedores, por exemplo, a administração de OT exerce efeitos ansiolíticos em ambos os gêneros (NEUMANN, 2008; BOS et al. 2012). Isto porque ela inibe respostas do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal a uma variedade de fatores de estresse (NEUMANN, 2008). A administração de OT atenuou o sistema neuroendócrino induzido por eventos estressores e as respostas moleculares do eixo HPA em roedores (WINDLE et al., 2004) e em seres humanos (HEINRICHS; DOMES, 2008). Estes efeitos são, pelo menos parcialmente, mediados por ações da OT no núcleo central da amígdala e no PVN (NEUMANN, 2008). Isto porque, a OT diminui as respostas ao medo através dos seus efeitos nas projeções inibitórias gabaérgicas, que se originam no núcleo central da amígdala, perturbando a integração das informações, e as inibindo de forma que elas não sejam projetadas para outras áreas do cérebro que respondem ao medo (VIVIANI et al. 2011; GORKA et al., 2015). Porém, as associações de estresse e ansiedade com a OT e seus papéis comuns na modulação do comportamento social, ainda não são totalmente compreendidos (CRESPI, 2015). 18 A OT também é liberada durante as relações sociais e sexuais, altas concentrações são detectadas no líquido cérebro-espinhal em ratos machos após a ejaculação. Em fêmeas, injeções de OT aumentam a receptibilidade aos machos, enquanto que injeções do antagonista para o receptor de ocitocina (OTRA) inibe o comportamento sexual (CALIGIONI et al., 2007). As respostas comportamentais, que são dependentes de estímulos sociais, estão relacionadas com a OT. Evidências em estudos sugerem que as respostas mediadas pela OT aos estímulos sociais de um co-específico familiar levam a interação social (BAUMGARTNER, et al., 2008; FERGUSON et al., 2001). O papel da OT no reconhecimento social foi confirmado em estudos com camundongos knockout para o OTR, que exibiram prejuízo da memória social (CHOLERIS et al., 2003; TAKAYANAGI et al., 2005). Por outro lado a administração intranasal de OT afeta muitos aspectos da sociabilidade humana, podendo aumentar o olhar em direção à região dos olhos (GAMER et al, 2010; GUASTELLA et al, 2010), proporcionando um maior reconhecimento de expressões faciais (DOMES et al, 2007; SAVASKAN et al, 2008) e comportamentos sociais complexos, como: confiança, avaliação de risco social e empatia (BAUMGARTNER et al, 2008; HURLEMANN et al, 2010; KOSFELD et al, 2005). Atualmente, estudos de administração intranasal de OT foram realizados em pacientes com vários transtornos psiquiátricos, incluindo os Transtornos do Espectro do Autismo (ANDARI et al., 2010; GUASTELLA et al., 2010), Depressão (PINCUS et al., 2010; MAH et al., 2013), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (SENG et al., 2013), Esquizofrenia (AVERBECK et al., 2011; GOLDMAN et al., 2011; PEDERSEN et al., 2011) e Fobia Social (GUASTELLA et al., 2009 ; LABUSCHAGNE et al., 2011). A administração de OT em pacientes com esquizofrenia, melhorou o reconhecimento de emoções (GOLDMAN et al., 2011). A OT pode promover a aproximação social e compreensão social, em pacientes com autismo (ANDARI et al., 2010). Estudos em humanos mostraram que a ocitocina pode estar relacionada a esses comportamentos, pois, quando administrada por via intranasal pode reduzir comportamentos repetitivos em indivíduos com autismo (HOLLANDER et al., 2003). Todos os animais, ao longo de suas vidas, enfrentam constantemente situações que fornecem desafios (por exemplo, agressão e 19 predação) ou oportunidades (por exemplo, reprodução, seleção de habitat) e em todos os casos faz-se necessário avaliar a relevância do estímulo externo e integrá-los com o sistema neurofisiológico e experiências anteriores para configurar uma resposta adaptativa a cada uma das situações que são apresentadas. Neste contexto, dois importantes circuitos neurais exercem um papel crucial, a saber, a rede neural do comportamento social e o sistema de recompensa. A rede neural do comportamento social descrita por Newman (1999) é formada por estruturas reciprocamente conectadas, como hipotálamo anterior, area pré-óptica medial, hipotálamo ventromedial, substância cinzenta periaquedutal, septo lateral e amígdala estendida (leito do núcleo da estria terminal e amígdala medial). O sistema de recompensa é também formado por estruturas reciprocamente conectadas tais como, o septo lateral, núcleo accumbens, estriado, ventral pálido, amígdala lateral, área tegmental ventral e hipocampo. Esses dois circuitos estão interconectados pelo septo lateral e pela amígdala estendida (leito do núcleo da estria terminal e amígdala medial) e ambas as regiões desempenham um papel importante no comportamento social, bem como no processamento da recompensa. A partir do conhecimento dos papéis desempenhados pelas diferentes estruturas, isoladamente ou funcionalmente integradas, e da sinalização neuroquímica envolvida com ambos os sistemas ( por exemplo, ocitocina, dopamina e vasopressina), O’CONNELL e HOFMANN (2011) propôs que ambos os circuitos formam uma rede ampla de tomada de decisão social, denominada em inglês de social decision-making (SDM) que regula o comportamento adaptativo. Os comportamentos sociais são complexos porque exigem a integração de processos emocionais, cognitivos e motivacionais e a atividade da rede codifica as informações sociais de uma forma altamente dinâmica, de tal maneira que o comportamento social adaptativo é mais fortemente dependente do padrão de atividade da rede, do que da atividade de locus individuais (GOODSON; KABELIK, 2009). Levando-se em consideração o papel da ocitocina na emocionalidade e no comportamento social (NEUMANN; LANDGRAF, 2012; DONALDSON, YOUNG, 2008; ENGELMANN et al., 1996; MORGAN et al., 2004; MATSUZAKI et al., 2015), este trabalho irá explorar o envolvimento do sistema ocitocinérgico no comportamento autista de ratos submetidos às convulsões neonatais. 20 2. Hipótese A deficiência na sinalização mediada pela ocitocina na rede neural relacionada com o cérebro social responde pelo prejuízo na sociabilidade e no aumento da emocionalidade subsequente à convulsão neonatal. 21 3. Objetivos 3.1. Objetivo Geral Avaliar a memória de reconhecimento social e a expressão gênica da ocitocina (OT), do receptor de OT (OTR) em animais submetidos ao status epilepticus neonatal. 3.2. Objetivos Específicos Comparar a memória de reconhecimento social entre os animais controles e os submetidos ao status epilepticus neonatal. Comparar a expressão do RNA mensageiro da ocitocina, do receptor OTR nas regiões cerebrais relevantes para a memória social. 22 4. Método 4.1. Animais Foram utilizados ratos Wistar machos adultos submetidos ao status epilepticus neonatal aos 9 dias pós-natal e controles que receberam salina 0.9%. Com o intuito de reduzir o uso de animais, segundo a lei Arouca - nº 11.794, de 8 de Outubro de 2008, foram utilizados os animais do projeto de pesquisa previamente aprovado pelo CEUA (106/02/2014) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foram utilizados 16 animais do grupo controle e 17 experimentais que foram mantidos no Biotério Central do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 4.2 Indução de Status Epilepticus (SE) Ratos Wistar machos com 9 dias pós-natal, que corresponde o período de neonato a termo (HALOPAINEN, 2008) foram divididos aleatoriamente em 2 grupos. O grupo experimental recebeu pilocarpina (350 mg/kg, ip) e grupo controle recebeu salina 0,9% (0,1 mL/10 g) (CASTELHANO et al., 2010, 2013, 2015). Quatro horas após a indução do status epilepticus os animais retornaram para as respectivas gaiolas. 4.3. Teste de memória social Os testes comportamentais foram iniciados aos 90 dias de vida pós-natal. Para avaliar a memória social do animal, foi realizado o paradigma de habituação e desabituação. O teste foi filmado para auxiliar na avaliação e mensuração dos parâmetros observados. Os animais foram habituados na sala de experimentação 60 minutos precedentes às sessões. O teste sempre foi realizado no mesmo horário para diminuir os efeitos circadianos, sendo os animais dos diferentes grupos observados de forma alternada. No intervalo entre as sessões, os equipamentos foram limpos com 23 uma solução de etanol 5%, a fim de evitar possíveis rastros de odor deixados pelo sujeito anterior. Fig. 1- Protocolo do teste comportamental (habituação/desabituação). O protocolo utilizado foi adaptado do descrito por Guan e Dluzen (1994). Para habituação com o ambiente do teste, o animal foi colocado no centro de uma arena circular de acrílico branco com 60 cm de diâmetro x 50 cm de altura (Insight Ltda, Brasil) concomitantemente com uma caixa de acrílico (23.5 cm x 21 cm x 32 cm) contendo pequenos orifícios para permitir detecção das pistas olfativas, vazia. Após esse período, deu-se início ao teste. Para a primeira exposição, um rato adulto, desconhecido (estímulo social), foi introduzido dentro da caixa de acrílico por 3 minutos. O procedimento foi repetido 3 vezes (S1 –S3) com intervalos de 6 minutos. Nos intervalos, o animal teste foi removido da arena, e o equipamento foi limpo com etanol 5%. Nas duas sessões subsequentes (S4-S5), um novo animal estímulo da mesma idade do anterior foi utilizado. Foram mensurados o tempo dos contatos olfativos entre os animais. Ao final do teste de memória social os animais foram anestesiados e decapitados, os cérebros de 5 animais do grupo controle e 5 animais do grupo experimental foram dissecados para a análise da expressão gênica os demais foram armazenados para análises futuras. 4.4. Análise de Expressão Gênica 4.4.1. Extração do RNA Total 24 Os animais foram mortos por decapitação sob anestesia profunda (Uretana 1,2 mg.kg) em seguida, os tecidos foram dissecados (hipotálamo, amígdala e hipocampo) e armazenados em freezer -80C até o momento da análise. A determinação da expressão gênica dos genes da ocitocina e do receptor de ocitocina, foi realizada por meio da extração do RNA mensageiro (RNAm) e da análise do mesmo por PCR em tempo real, sendo que para isso o RNA total do tecido foi extraído com o auxílio da solução de Trizol (Invitrogen, Carlsbad, CA, EUA). Os tecidos foram pesados tendo todos no máximo 100mg cada. Primeiramente foi adicionado o Trizol (400µl) e o tecido foi triturado no homogeneizador (IKA T25 digital Ultra-Turrax). Após cada tecido o homogeneizador foi higienizado (Extran 10%, álcool 70%, HCL 0,1M, água destilada, RNAse e água destilada autoclavada). Depois de homogeneizado foi adicionado 600µl de Trizol e foi deixado por 5 minutos em temperatura ambiente. Após os 5 minutos foi adicionado 200µl de clorofórmio, os tubos foram homogeneizados por 15 segundos e deixados por 3 minutos em temperatura ambiente. Então, os tubos (Eppendorf 5415R) foram centrifugados à 4°C por 15 min a 12000g rcf. Após a centrifugação o material apresentava-se em 3 fases: transparente (RNA), branca (DNA) e rosada (Trizol). Foi retirado então a primeira fase (transparente), procurando se retirar o máximo sem encostar na segunda fase (DNA) para evitar contaminação. O RNA, então, foi precipitado com 500µl de isopropanol e as amostras ficaram incubando por 10 minutos à temperatura ambiente. Foram levadas novamente à centrifuga refrigerada à 4°C por 10 minutos a 12000g rcf. O sobrenadante dos tubos foi retirado cuidadosamente para não movimentar o pellet. Então, foi adicionado 1ml de etanol 75%. Os tubos foram passados no vórtex (Thermolyne Type 16700 Mixer) até o pellet se soltar do fundo do tubo. Novamente o material foi levado à centrifuga refrigerada, à 4°C por 5 minutos a 10.000g rcf. Foi retirado novamente o sobrenadante com muito cuidado para que o pellet continuasse no fundo do tubo. O material foi secado à temperatura ambiente por 3 minutos. Com o material seco foi adicionado de 30 a 40µl de H2O DEPEC (dependendo do peso inicial do tecido). Então, os tubos foram incubados por 10 minutos à temperatura entre 55°C-60°C no banho seco (Boekel Model 110002). Após esse período de incubação os tubos foram colocados em gelo por 1 hora e posteriormente armazenados no freezer -80°C. 25 4.4.2. Eletroforese em gel de Agarose e Quantificação Após a extração do RNA foi realizada uma eletroforese em gel de agarose para a determinação da presença do RNA. Para isso foi preparado o gel de agarose a 1% (1gr de agatose, 100 ml de solução tampão diluída 10x, 1µL de Brometo). O gel foi preparado e deixado polimerizando previamente. Para a corrida em gel foram utilizados 2µl de amostra em 2µl de loading. Para o marcador foi adicionado 2µl de tampão em 2µl de loading. O gel foi acomodado na cuba e as amostras foram colocadas uma em cada poço sendo o primeiro poço do marcador. A fonte de eletroforese (Biotech ESP 301 e ESP 1001) foi acertada para 20 minutos de corrida ( 395 A, 100 W, 9V). Após a corrida, o gel foi levado à um Transiluminador UV (Uvitec Cambridge - software FireReader) onde foi fotografado. Após a constatação da presença de RNA, foi realizada a quantificação no Nanodrop (ThermoScientific ND-8000). O equipamento foi limpo com H20 MiliQ, e a mesma água foi utilizada para quantificar o branco. Após a quantificação do branco, o software da maquina foi configurado para quantificação de RNA e as amostras foram identificadas. Então, foi utilizado 2µl de cada amostra para a quantificação. Após a quantificação os valores foram salvos. O RNA foi armazenado em freezer -80°C. 4.4.3. Transcrição Reversa Para a realização da transcrição reversa foi utilizado o Kit: High-Capacity cDNA Reverse Transcription. Utilizando as instruções do fabricante primeiramente foram realizados os cálculos necessários para a diluição do RNA afim de que o mesmo fique com a concentração entre 80-100ng/µl. A diluição foi realizada utilizando H2O Nuclease-free completando com as amostras de RNA. Foram preparados 25µl de RNA diluído para cada amostra. Após a diluição o material foi quantificado no Nanodrop ThermoScientific ND-8000) e os resultados salvos. Após a diluição o material foi armazenado em gelo seco durante a preparação do Mix de reagentes para a transcrição reversa contidos no Kit. Os reagentes (10X RT Buffer, 25x dNTP Mix e 10x RT Random Primers) foram descongelados. A enzima (MultiScribeTM Reverse Transcriptase) foi adicionada rapidamente e novamente armazenada no freezer. O volume do Mix de reagentes mais a enzima foi de 10µL e foi adicionado à esta mistura mais 10µl de RNA diluído para cada amostra. Totalizando 20µl de volume total. Então, 26 os tubos foram colocados no termociclador (Biometra T3000) com a seguintes condições de ciclagem: 10 min à 25°C, 120 min à 37°C, 5 min à 85°C e mantidos a 4°C ao fim da reação. Após o tempo de ciclagem o cDNA foi armazenado no freezer -20°C. 4.4.4. PCR de tempo real Para a realização do PCR de tempo real as placas (MicroAmp® Optical 96-Well Reaction Plate - Applied Biosystems®) foram montadas da seguinte forma: 18µl de Mix mais 2µl de cDNA. O Mix foi preparado utilizando os seguintes componentes por amostra: 10µl de TaqMan® Universal Master Mix II, with UNG , 1µl TaqMan® Gene Expression Assay, 7µl de H2O RNAse-free. Os primers utilizados foram: A placa foi montada em triplicata para cada amostra, cada placa foi realizada com um tecido para 2 genes (OT e OTR) mais o endógeno (GAPDH). Após a montagem da placa a mesma foi selada e centrifugada (centrifuga Eppendorf 5810) para eliminar possíveis bolhas de ar. Então, o software da máquina foi configurado para os seguintes parâmetros de ciclagem: 2 min à 50°C, 10 Min à 95°C e depois 40 ciclos de: 15 seg à 95°C e 1 min à 60°C. Ao final da ciclagem os dados foram coletados e salvos para análise. Por fim, os valores referentes à amplificação do mRNA de cada um dos genes analisados foram determinados por meio de métodos de fluorescência e quantificados por um termociclador e detector ThermoScientific 7500 Real-time System. 4.5. Análise Estatística Os dados foram expressos como média + erro padrão. Os resultados dos experimentos comportamentais foram analisados com ANOVA Mista seguido pelo pós-teste de Bonferroni e considerados significantes para p<0.05. Os resultados da expressão gênica foram comparados pelo teste T-Student e considerados significantes para p<0.05. 27 5. Resultados 5.1. Teste de Memória Social A Anova Mista revelou diferença significante entre os grupos (F(1,124)=5,64, p= 0,0239) e entre as sessões F(4,124)= 7,604, p<0,0001), mas sem interação entre os fatores (F(4, 124) = 2,267, p=0,0657). O grupo controle exibiu memória de reconhecimento social, uma vez que observamos redução gradativa do tempo de investigação mediante a exposição seriada ao mesmo animal (sessão 1-3), e aumento do tempo de investigação na presença da novidade social (sessão 4). O grupo experimental exibiu menor interesse em explorar o animal não familiar comparativamente ao grupo controle, bem como não exibiu redução significante no tempo de investigação no decorrer da exposição seriada ao mesmo animal, tampouco aumento significante da investigação na presença da novidade social. Os dados sugerem que os animais do grupo experimental apresentam menor motivação para iniciar o contato social, bem como prejuízo na memória de reconhecimento social. Habituação /Desabituação A EXP CTR *** 20 ** 15 ** 10 5 0 25 Investigação (seg) Investigação (seg) 25 B 20 *** ## && 15 * 10 Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 5 0 1 2 3 4 5 CTR EXP Sessões Fig. 2 –Teste de habituação/desabituação, representada como média + erro padrão, para grupos controle (n=16) e experimental (n=17). 5.2. PCR em tempo real Na análise expressão gênica para ocitocina não observamos diferença significante para o RNAm entre os grupos nas estruturas analisadas hipocampo (t= 28 , t(8) = 0,53, p=0,61), hipotálamo (t(8) = 0,82, p= 0,10 ) e amígdala (t(8) = 0,81, p= 0,43.), fig 3 A,B e C. Expressão da Ocitocina Hipotálamo 8 Amígdala 15 A B 6 Ct Ct 10 4 5 2 0 0 CTR CTR EXP EXP Hipocampo 15 C Ct 10 5 0 CTR EXP Fig. 3- Expressão do RNAm da ocitocina representados como média + epm no hipotálamo (A), amígdala (B) e hipocampo (C) de 5 animais por grupo. Não foram observadas diferenças entre os grupos nas estruturas analisadas.*, p= 0,04. Para o receptor de ocitocina, a expressão do RNAm foi significantemente menor no hipocampo do grupo experimental em comparação com o grupo controle (t(8)=2,43, p= 0,04), porém sem diferenças entre os grupos para a análise do RNAm na amígdala (t(8)=0,8543, p= 0,457) ou hipotálamo (t(8)=0,58, p= 0,58). 29 Expressão do Receptor de Ocitocina Hipotálamo 10 Amígdala 15 A B 10 6 Ct Ct 8 4 5 2 0 0 CTR EXP CTR EXP Hipocampo 15 C * Ct 10 5 0 CTR EXP Fig. 4- Expressão do RNAm do receptor de ocitocina representados como média + epm no hipotálamo (A), amígdala (B) e hipocampo (C) de 5 animais por grupo. Não foram observadas diferenças entre os grupos nas estruturas analisadas. 30 6. Discussão Esse trabalho investigou o envolvimento do sistema ocitocinérgico por meio da expressão dos RNAm da ocitocina e do seu receptor em estruturas relevantes desta rede (hipotálamo, hipocampo e amígdala) e a memória de reconhecimento social em animais expostos ao SE neonatal e que exibem comportamento autista de acordo com pesquisas do nosso grupo (CASTELHANO et al., 2010, 2013 e 2015, LEITE et al., 2016) e de grupos independentes (LUGO et al., 2014, BERNARD; BENK,2015; HOLMES et al. 2015). Os resultados monstraram que os animais expostos ao SE neonatal apresentaram menor tempo de exploração e prejuízo de habituação/desabituação frente às repetidas exposições ao estímulo social, sugerindo que a existência de um prejuízo no circuito de motivação/recompensa e na memória de reconhecimento social. Os resultados também demonstraram que a expressão do RNAm da ocitocina não diferiu entre os grupos nas estruturas analisadas, porém observamos uma pequena redução na expressão gênica do receptor somente no hipocampo, sugerindo o envolvimento do sistema ocitocinérgico nos prejuízos observados contudo, realçamos a necessidade de se avaliar a expressão das proteínas nas estruturas analisadas. O processamento da novidade é essencialmente baseado em dois componentes: o componente motivacional envolvido na excitação e motivação para reagir a estímulos biologicamente relevantes, além de um componente cognitivo necessário para processar a nova informação relacionada com a identidade do estímulo (LEONIBUS et al., 2006). O processamento de eventos completamente novos, em que uma recompensa primária desconhecida é apresentada, é indicada principalmente pela relevância motivacional intrínseca. Quando um novo estímulo não é uma novidade primária e é apresentada dentro de um evento familiar, o processamento da novidade exige uma discriminação entre os estímulos familiares (anteriormente experimentados) e desconhecidos (LEONIBUS et al, 2006; PETRULIS et al, 2005), e baseia-se principalmente nos processos cognitivos mais sofisticados, tais como a elaboração de relevância do estímulo, estímulo de discriminação e memória de trabalho. Como a gama de funções que abrangem os mecanismos emocionais e motivacionais incluem o reconhecimento social e a modulação da memória social, (FEBO; FERRIS, 2014), pode-se sugerir que, além do prejuízo no reconhecimento social no teste de memória social que realizamos, os animais 31 apresentaram baixa motivação pela novidade, isto porque o tempo de investigação em cada sessão foi menor nos animais experimentais em comparação com os controles. As experiências emocionais positivas durante a interação social é uma característica importante das relações sociais. A recompensa social e o apego são cruciais para o bem-estar emocional, e deficiências neste domínio constituem um elemento importante nos transtornos psiquiátricos, como o autismo, esquizofrenia e transtornos de personalidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). No entanto, os mecanismos neurais que medeiam as propriedades de recompensa das interações sociais não são totalmente compreendidos, apesar do amplo conhecimento a cerca do papel da dopamina e da ocitocina. Os déficits na sociabilidade em indivíduos com TEA, tem sido atribuídos a hipótese da baixa motivação social, na qual há falta de motivação para o engajamento em atividades sociais por serem menos gratificantes, uma vez que em indivíduos com autismo as áreas do sistema de recompensa são menos ativadas por estímulos sociais do que no grupo com desenvolvimento típico (STAVROPOULOS; CARVER, 2013). A ocitocina participa deste circuito e interage estreitamente com as vias neurais responsáveis pelo processamento de estímulos motivacionais relevantes (GORDON, et al., 2011). A ocitocina estimula a via dopaminérgica mesocorticolímbica, que é crucial para a recompensa e o comportamento motivado (LOVE, 2014). A alteração na expressão gênica do receptor de OT no hipocampo pode somente ter prejudicado a memória de reconhecimento social bem como ter reduzir a ativação do núcleo accumbens e a relevância do estímulo. Corroborando com a nossa hipótese de que o prejuízo do circuito de motivação/recompensa possa estar envolvido com os prejuízos na sociabilidade no nosso modelo, FINK e SMITH (1980) observaram que a destruição dos terminais dopaminérgicos na via mesolímbica reduziu o comportamento exploratório social e que foi restaurado pela apomorfina (agonista dopaminérgico). WATSON et al., (2012) observaram que o bloqueio dos receptores D3 de dopamina aumenta tanto a discriminação social quanto a de objeto, enquanto a ativação do receptor D3 ou bloqueio do receptor D2 de dopamina prejudica a cognição nesses paradigmas. Finalmente, Li et al., (2009) demonstram que o SE neonatal pela administração do lítio-pilocarpina em ratos alterou a transmissão dopaminérgica do circuito pré-frontal32 estriado. Menores níveis de dopamina e seus metabólitos foram mensurados no estriado e no córtex pré-frontal. Esse trabalho também demonstrou que os animais submetidos ao SE neonatal apresentaram maior sensibilização a metanfetamina na adolescência, o que é compatível o com prejuízo no sistema de recompensa mesolímbico. O sistema opioidérgico está também envolvido da rede de tomada de decisão social, embora a sua sinalização seja menos explorada e conhecida comparativamente a ocitocina, vasopressina e dopamina. SMITH et al., (2015) demonstraram que o bloqueio dos receptores opióide do tipo µ, reduziu o tempo de investigação direcionada a novidade social sem alterar o tempo de investigação direcionada a um co-específico do mesmo núcleo social. Argumentamos que o sistema opioidérgico pode estar envolvido nas alterações comportamentais observadas no nosso modelo. Os animais expostos ao SE neonatal apresentam comportamento do tipo ansioso (CASTELHANO et al., 2013, 2015) e recentemente demonstramos que o controle da ansiedade pelo tratamento prévio com diazepam não minimizou o déficit de discriminação social, embora tenha reduzido comportamento relacionado a ansiedade (Leite et al., 2016). Levando-se em conta, que os receptores opióides µ exercem um papel relevante na modulação do medo e da ansiedade, e que a morfina quando administrada no núcleo accumbens, hipocampo ventral ou no septo lateral reduz o comportamento relacionado à ansiedade (LE MERRER et al., 2007, ZARRINDAST et al., 2008) e que o antagonista do receptor quando administrado na amígdala central produz efeito oposto (WILSON e JUNOR, 2008), é lícito argumentar que redução da sinalização media pelo sistema opioidérgico possa contribuir para a expressão do comportamento do tipo ansioso e para o prejuízo da sociabilidade. Corroborando com esta hipótese, BAUSCH e CHAVKIN (1997) relataram redução da imunoreatividade dos receptores opioide µ no hilo e na camada granular no giro denteado no modelo animal de epilepsia do lobo temporal. Estudos futuros precisam ser conduzidos para confirmar ou refutar essa hipótese no modelo do SE neonatal. Considerando que vários mediadores e estruturas participam da rede de tomada de decisão social (O’CONNELL e HOFMANN, 2011) e que poucos estudos estão sendo realizados para se compreender os mecanismos envolvidos com o 33 prejuízo da sociabilidade neste modelo, estudos futuros deveram explorar o sistema opioidérgico, dopaminérgico e vasopressinérgico. 34 7. Conclusão O presente trabalho demostrou que animais submetidos ao status epilepticus neonatal apresentam redução da exploração da novidade social, sugestivo de prejuízo no sistema de motivação/recompensa mesolímbico e da memória de reconhecimento social que pode estar relacionada a redução da expressão genética dos receptores da ocitocina no hipocampo. 35 Referências ACHTERBERG, E.J.M.; VAN KERKHOF L.W.M.; SERVADIO, M.; VAN SWIETEN, M.M.H.; HOUWING, D.J.; AALDERINK, M.; DRIEL, N.V.; TREZZA, V.; VANDERSCHUREN, L.J.M.J. Contrasting Roles of Dopamine and Noradrenaline in the Motivational Properties of Social Play Behavior in Rats. 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