SALVI, Rosana Figueiredo. Panorama atual sobre os trabalhos

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Marcelo Augusto Rocha
Mestrando do Programa de Ensino de Ciências e Educação Matemática, da
Universidade Estadual de Londrina (PECEM/UEL)
<[email protected]>
Rosana Figueiredo Salvi
Professora Doutora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de
Londrina. (UEL) Londrina, PR.
<[email protected]>
PANORAMA ATUAL SOBRE OS TRABALHOS DE CAMPO EM
PERIÓDICOS DA ÁREA DE ENSINO DE CIÊNCIAS (2005-2009)
RESUMO
O presente estudo traz um recorte de um trabalho de dissertação, ainda em andamento,
cuja preocupação esta centrada na investigação de aspectos relacionados às funções
desempenhadas pelo trabalho de campo em pesquisas da área de Ensino de Ciências,
reunindo informações sobre a forma como este vem sendo utilizado e em quais
contextos, por pesquisadores desta área nos últimos cinco anos. Buscou-se, além de
expor os motivos pelos quais se optou por este tema de pesquisa, descrever e evidenciar
aspectos metodológicos utilizados e, por meio destes, discutir resultados decorrentes da
primeira fase da pesquisa.
Palavras-chave: Trabalho de Campo, Ensino de Ciências, Analise Textual Discursiva,
Geociências.
INTRODUÇÃO
Indicam-se, neste estudo, alguns dos motivos que fizeram com que se optasse
por utilizar, como tema de pesquisa, o trabalho de campo no contexto do Ensino de
Ciências; apresenta-se ainda, parte dos objetivos da pesquisa e uma sintetize de alguns
dos resultados quantitativos que se tem até o momento. Por meio destes, já é possível
perceber algumas conexões e congruências entre os dados.
Para se alcançar estas percepções, utilizaram-se como fontes, artigos publicados
em alguns dos principais periódicos da área 46 (Ensino de Ciências) e de qualis A e B
da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Optou-se
por utilizar as revistas científicas, como fonte de pesquisa, pelo fato destas
concentrarem grande parte da produção teórica produzida atualmente e, naturalmente,
por estas se firmarem como o veículo de circulação mais rápido e prático entre
pesquisadores, professores e especialistas das mais diversas áreas. O recorte temporal da
pesquisa compreende os anos de 2005 a 2009, ou seja, os últimos cinco anos de
publicações e, como metodologia de coleta de dados e pesquisa, faz-se uso da Análise
Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). Ao longo do texto fazem-se
algumas considerações sobre esta metodologia de analise, evidenciando as suas
principais etapas. Em seguida apresentam-se as categorias, unidades e subunidades de
analise, desenvolvidas até o presente momento. Finaliza-se com uma visão geral sobre a
efetiva participação do trabalho de campo na área de Ensino de Ciências.
OBJETIVOS
Na busca pela quantificação dos artigos voltados para o tema do trabalho de
campo (doravante utiliza-se a sigla TC), deparou-se com um número reduzido de
exemplares, uma vez que, ainda que o TC seja uma ferramenta didática interdisciplinar
é nas Geociências que esta preocupação se intensifica; havendo nas revistas de sua área,
diversos artigos tratando de questões envolvendo a natureza, o funcionamento e a
eficácia do TC, enquanto instrumento prático de ensino no trato de determinados
conteúdos científicos, como se pode observar nos trabalhos realizados por: Rocha,
2009; Lacoste, 2006; Serpa, 2006; Sansolo, 1996 e 2000; Calvente, 1998; Suertegaray,
1996, entre outros.
Mas, como se busca desvendar o panorama do TC na área de Ensino de Ciências
e, como as Geociências ainda estão apenas se firmando nessa conjuntura, sabe-se que
existem hoje, poucos pesquisadores dedicando-se a investigações de cunho
geocientífico, voltadas para esta púbere, mas, expressiva área do conhecimento. Isto, em
tese, aliado ao fato da área de Ensino de Ciências, não dispor tanto quanto poderia das
atividades de campo, preferindo frequentemente, ao invés disso, a utilização e o estudo
de atividades de experimentação em laboratório, explicaria o pouco volume de
publicações voltadas para as inquietações relacionadas ao TC. Como é possível inferir
das palavras de Dourado, (2009, p. 676):
Embora a importância do trabalho laboratorial e de campo no ensino
das Ciências Naturais seja genericamente reconhecida, a realização
destas atividades assume habitualmente caráter excepcional, sendo
mais frequente a realização de trabalho laboratorial.
Este é um dado valioso que, por sua vez, faz com que este estudo ganhe em
importância, se o considerarmos como uma janela para a área de Ensino de Ciências, na
qual se pode observar o funcionamento e o desenvolvimento epistemológico desta
importante ferramenta didática interdisciplinar, tão valorizada nas Geociências.
Entre os objetivos a priori desta fase do estudo, reside o fato de poder de alguma
forma auxiliar geógrafos e outros profissionais das Ciências da Terra interessados em
adentrar a área de Ensino de Ciências, a alcançar uma visão geral sobre um dos recursos
metodológicos de ensino/aprendizagem mais utilizados no Ensino de Geociências: o TC
e/ou estudo do meio. (COMPIANI e CARNEIRO, 1993; LIMA e ASSIS, 2005;
LESTINGE e SORRENTINO, 2008).
Pensando assim, pode ser muito bem vinda esta possibilidade de auxiliar
pesquisadores das Geociências interessados numa maior aproximação com este outro
campo do pensamento científico, por meio da analise do perfil do TC o qual se busca
traçar a partir dos dados preliminares coletados até o momento. Sobretudo porque
acredita-se ser possível encontrar certas características inerentes ao TC que somente
seriam visíveis por meio das lentes da Geociência com os preceitos e fundamentos do
campo de Ensino de Ciências no qual este estudo encontra-se inserido.
Ao familiarizar-se com a produção literária nos periódicos da área de Ensino de
Ciências sobre o tema “TC” é possível perceber, entre outras coisas, a forma como a
temática vem sendo trabalhada, quais resultados vêm sendo alcançados com a sua
adequação e utilização em outras disciplinas, ao mesmo tempo em que se pode ter
contato com uma visão interdisciplinar dificilmente encontrada em outras áreas do
conhecimento científico. Isto porque os pesquisadores deste campo são constituídos por
diversas áreas do saber, como a própria Geociência, a Física, a Biologia, a Química, a
Matemática, a História e a Filosofia. O fato de seus pesquisadores serem de diferentes
áreas pode favorecer o desenvolvimento de estudos interdisciplinares, ao mesmo tempo
em que pode corroborar para a ampliação do conhecimento científico, na medida em
que é possível observar determinado fenômeno por vários prismas e por meio das lentes
de múltiplas Ciências.
Segue abaixo, um quadro evidenciando a quantidade de artigos encontrados
sobre o tema e a diversidade de áreas presentes nestas pesquisas:
Quadro 2: Artigos sobre trabalhos de campo encontrados em periódicos da
área 46 da CAPES, organizados de acordo com áreas do conhecimento.
AREAS DO CONHECIMENTO NUMERO DE ARTIGOS
%
BIOLOGIA
GEOLOGIA
PSICOLOGIA
GEOGRAFIA
QUÍMICA
OCEANOLOGIA
SOCIOLOGIA
ANTROPOLOGIA
COMUNICAÇÃO SOCIAL
LETRAS
CIÊNCIAS SOCIAIS
ENGENHARIA FLORESTAL
ZOOTECNIA
PEDAGOGIA
EDUCAÇÃO FÍSICA
HISTÓRIA
MATEMÁTICA
AGRONOMIA
ADM. EM TURISMO
CIÊNCIAS NATURAIS
NÃO ENCONTRADO
16
12
5
4
3
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
26, 22%
19, 67%
8, 19%
6, 55%
4, 91%
3, 27%
3, 27%
3, 27%
3, 27%
3, 27%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
1, 63%
TOTAL DE ARTIGOS
61
100,00%
Apesar da área de Biologia aparecer no início da lista, com maior número de
artigos, em diversos estudos, inclusive em outras áreas do conhecimento, havia vínculos
com autores das Geociências. Ainda que muitas destas áreas compartilhem certos
interesses científicos comuns, esta aliança, entre pesquisadores das mais variadas áreas
e, pesquisadores advindos das Geociências, em publicações que trazem o TC, apenas
como pano de fundo ou mesmo como temática principal, corrobora com a idéia de que
existe uma predisposição evidente desta área, para a investigação desta temática.
METODOLOGIA
O critério adotado para selecionar e acervar as revistas analisadas é o Sistema de
Avaliação e Qualificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), o Qualis. Utilizou-se como fontes, artigos publicados nos principais
periódicos da área 46 (Ensino de Ciências) e de qualis A e B da CAPES. O recorte
temporal desta pesquisa compreende os anos de 2004 a 2009, ou seja, os últimos cinco
anos de publicações.
Para realizar a seleção destas publicações, optou-se por considerar apenas os
artigos presentes em periódicos, disponíveis online, não necessariamente apenas os
nacionais, uma vez que, encontraram-se artigos, pertinentes, em pelo menos dois
periódicos originários de outros países.
Os artigos foram selecionados, não apenas com base em seu título, resumo e
palavras-chave, como se costuma fazer neste tipo de pesquisa, mas sempre que tratavam
em algum momento, mesmo em seu corpo de texto, das diversas possibilidades acerca
da utilização de trabalhos de campo, estudos do meio, trilhas interpretativas, e saídas a
campo de uma maneira geral. Optou-se por essa ação analítica, pelo fato deste tema,
como já mencionado antes, não aparecer com freqüência no campo do Ensino de
ciências.
Sendo assim, por meio da triagem e leitura integral dos artigos selecionados e de
alguns resultados quantitativos, já articulados, fazem-se algumas constatações. Abaixo,
segue o quadro quantitativo da pesquisa que mostra a quantidade total de 5.504 estudos
pesquisados, em 42 periódicos dos quais, em apenas 22 deles, foi possível encontrar
investigações pertinentes ao tema desta pesquisa, somando um total de 61 artigos.
Quadro 1: Aspectos quantitativos da pesquisa:
ESTATISTICAS DA PESQUISA
TOTAL DE REVISTAS CONTENDO ARTIGOS SOBRE TC
22
TOTAL DE REVISTAS PESQUISADAS
42
TOTAL DE ARTIGOS
61
TOTAL DE ARTIGOS PESQUISADOS
5.504
O fato de se encontrar poucos estudos investigando essa temática indica a
necessidade de mais investimentos em pesquisas teóricas, que permitam reflexões mais
profundas e uma melhor compreensão das muitas dimensões possíveis, envolvendo o
TC, ao longo do processo educativo científico, na área de Ensino de Ciências.
Com relação à metodologia de coleta de dados e pesquisa, faz-se uso da análise
textual discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). Segundo Moraes, esta metodologia
pode ser compreendida como:
[...] um processo auto-organizado de construção de compreensão em
que novos entendimentos emergem de uma seqüência recursiva de três
componentes: desconstrução dos textos do corpus, a unitarização;
estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a
categorização; o captar do novo emergente em que a nova
compreensão é comunicada e validada (MORAES, p. 192, 2003).
Moraes (2003), afirma ainda que, as pesquisas qualitativas, estão cada vez mais
se valendo de análises textuais. Às vezes, partindo de textos pré-existentes, como livros
ou artigos, como no caso deste estudo, e, por outras vezes, por meio da produção do
próprio material de investigação, a partir de entrevistas e observações. Para este autor, o
objetivo deste tipo de analise é:
[...] aprofundar a compreensão dos fenômenos que investiga a partir
de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de informação, isto é,
não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final
da pesquisa; a intenção é a compreensão (MORAES, p. 191, 2003).
No entanto, para melhor compreender esta metodologia de análise, apresenta-se
na sequencia, a forma como Moraes (2003, p. 191-192), a organiza, delimitando-a em
quatro etapas subsequentes:
A desmontagem dos textos, também denominada de unitarização que implica na
analise detalhada dos materiais em estudo, subdividindo-os ou fragmentando-os até se
chegar a unidades constituintes.
Para esta etapa do estabelecimento de relações ou da categorização é preciso
combinar e classificar as unidades obtidas na fase anterior para que possam ser reunidas
em grupos mais complexos, ou seja, em categorias de analise.
Já na fase de captação do novo emergente, uma vez impregnado com os dados e
com a combinação da analise das etapas anteriores é possível desenvolver um maior
entendimento do todo, fazendo com que novos fatos emirjam, representando o produto
de uma nova combinação de dados, constituindo-se em um metatexto, resultado de todo
o processo.
Por ultimo é preciso que se diga que, apesar deste caminho analítico descrito até
aqui, se tratar de um processo de auto-organização, apresentado como um processo
racionalizado e planejado a partir do qual novas concepções poderão surgir, é preciso
salientar que os resultados finais, fecundos e novos, não podem ser previstos com
exatidão; por conta do fator imprevisibilidade existente nos dados e, dos limites e
possibilidades que se apresentam ao longo de todo o processo.
RESULTADOS PRELIMINARES
Com base na análise prévia dos dados, é possível agrupar as categorias, unidades
e subunidades de analise alcançadas até o momento da seguinte forma:
Categoria I: “Papel do TC no Ensino de Ciências”: Esta primeira categoria
aborda aspectos relacionados às funções desempenhadas pelo TC, em pesquisas da área
de Ensino de Ciências, Reunindo informações sobre a forma, como este vem sendo
utilizado, por pesquisadores da área. Suas unidades e subunidades de analise se
estruturaram da seguinte forma:
a) Utilização por professores:
- Apenas como instrumento de analise e coleta de dados;
- Com o intuito de sensibilização/conscientização;
- Como instrumento de apoio às aulas tradicionais em salas de aula.
b) Utilização com alunos:
- Séries iniciais do Ensino Fundamental;
- Séries finais do Ensino fundamental;
- Ensino médio;
- Graduação/Pós-Graduação.
c) Utilizado apenas como atividade extraclasse:
- Esporadicamente;
- Eventualmente;
- Frequentemente.
d) Sua Disposição em sequencias de Ensino:
- Ponto central;
- Instrumento complementar.
Categoria II: “Evolução Epistemológica do TC”: Esta categoria reúne
informações sobre os avanços do TC enquanto instrumento metodológico de ensino e
suas contribuições para a evolução do pensamento Científico. Suas unidades e
subunidades de analise se estruturaram da seguinte forma:
a) Preocupação com o desenvolvimento teórico-metodológico dos trabalhos de
campo enquanto ferramenta didática:
- Contribuições teóricas;
- Críticas quanto à falta de contribuições teóricas.
b) Desenvolvimento de propostas didático-pedagógicas:
- Com o intuito de facilitar o ensino-aprendizagem de conteúdos científicos, por
meio do TC;
- Com o intuito de promover a sensibilização ou conscientização ecológica;
- com o intuito de promover e divulgar espaços não-formais de ensino com alto
potencial didático.
Nesta primeira fase da pesquisa, pôde-se perceber que, uma das principais
preocupações desta área, está centrada nos experimentos científicos; foi possível
observar, diversos artigos voltados para este tema, envolvendo vários campos do saber,
como a Química, Física e a Biologia. Em uma primeira análise, estes artigos,
envolvendo experimentação, se dividem em dois grupos: um preocupado com o
desenvolvimento de novas abordagens didáticas, com o intuito de promover novas
reflexões e de favorecer a aprendizagem dos alunos. E o outro grupo preocupado em
investigar as causas e as possíveis soluções para o problema da falta de atenção e de
interesse por parte dos alunos; ambos sugerem que a utilização de experimentos por
parte do professor pode minimizar o problema do desinteresse no alunato,
proporcionando ao mesmo tempo o favorecimento de sua aprendizagem.
Situação parecida pode-se encontrar em relação ao TC, também em relação ao
Ensino de Ciências, onde foi possível perceber que, em geral, este tema aparece, na
maior parte das vezes, atrelado ao desenvolvimento de novas abordagens de ensinoaprendizagem; nas quais se discute novas maneiras de ensinar determinados conteúdos,
por meio do TC, estudos do meio, trilhas interpretativas, enfim, por meio de aulas de
campo.
Em outro momento, a exemplo do que acontece com os artigos vinculados ao
uso de experimentos, surgem investigações que atestam que o TC, quando desenvolvido
de maneira correta, pode se constituir, em uma ferramenta adequada a facilitação e
assimilação dos mais diversos conteúdos; vinculados, sobretudo, as Ciências Naturais,
com destaque para a Biologia e para as Geociências; mas, por vezes, foi possível
encontrar artigos neste contexto, vinculados a outras Ciências, como a Física e a
Química.
CONCLUSÃO:
As explanações e resultados iniciais aqui apresentados, além de poderem auxiliar
pesquisadores das Geociências interessados numa maior aproximação com este outro
campo do pensamento científico, também podem contribuir para uma maior
aproximação entre os pesquisadores da área de Ensino de Ciências com o TC; na
medida em que estes passem a refletir sobre a possibilidade de utilizá-lo,
conjuntamente, com o trabalho laboratorial, amplamente valorizado nesta área.
A percepção que temos, na conclusão dessa etapa da pesquisa é que, este campo
que trata do Ensino de Ciências, esta carente de pesquisas voltadas para certas
inquietações inerentes as Geociências, ao mesmo tempo em que se encontra repleto de
possibilidades. Reflexões vinculadas a este campo investigativo possibilitariam o
desenvolvimento de inúmeras pesquisas, direcionadas a múltiplos interesses
geográficos.
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