A formação do cérebro pode tornar

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HEALTH
INDUSTRY
INTERVIEW
A formação do cérebro
pode tornar-se tão
importante quanto o
treinamento físico Danny Dankner,
desenvolvedor do
Intelligym
26 04 2016
por Ben Deighton
Danny Dankner desenvolveu um software de treinamento para jogadores de futebol melhorarem seu desempenho. Imagem cortesia de
Danny Dankner
Um software que pode melhorar suas habilidades cognitivas se tornará tão comum quanto as
instalações esportivas o são hoje, de acordo com Danny Dankner, presidente da Engenharia
Cognitiva Aplicada, que desenvolveu o Intelligym, software de treinamento do cérebro.
Você está desenvolvendo um software de treinamento do cérebro para jogadores de futebol,
você pode explicar como isso funciona?
Fazemos uma análise muito completa de uma jogada específica. Isto é feito através de uma série de
observações e análises de vídeos. Em seguida, montamos um mapa cognitivo muito detalhado que
envolve todas as habilidades cognitivas que um jogador de futebol precisa para ser eficaz, tais como
consciência espacial, capacidade de antecipação, memória de trabalho e assim por diante.
Com esse mapa na mão, montamos um ambiente de treinamento parecido com um jogo de vídeo que
estimula exatamente as mesmas habilidades cognitivas.
Você pode dar um exemplo?
Descobrimos que a memória de trabalho parece ser uma habilidade importante para os jogadores de
futebol, o que também é verdade, aliás, para outros esportes de equipe. Pense num jogador que corre
em campo com a bola, com outros jogadores correndo atrás dele. Ele olha rápido para ver quem está
atrás dele e, em seguida, continua correndo para a frente. Então, ele precisa processar em seu
cérebro onde os outros jogadores estão localizados e quais são as suas trajetórias, mesmo que não os
veja naquele momento. Esse tipo de processamento, de ter uma visão do olho do pássaro de onde
cada jogador está localizado, embora sem vê-los, é uma habilidade que pode ser aprendida e treinada.
O nosso ambiente de treinamento é projetado como um jogo de vídeo. No caso do futebol, usamos
uma metáfora de espaço de batalha. Imagine um bando de naves espaciais, divididas em duas
equipes, sendo que algumas dessas naves espaciais se tornam invisíveis. Elas ainda estão lá, elas
ainda fazem parte dessa batalha, mas se você quiser ter êxito nesse jogo você realmente precisa
saber onde elas estão, mesmo sem poder vê-las. Então, começamos o jogo no nível básico, onde
apenas uma nave fica invisível e a batalha avança bem devagar, para depois se tornar cada vez mais
rápida à medida que mais e mais navios ficam invisíveis. Verificou-se que quando você faz isso
repetidas vezes no contexto do treinamento, você alcança um nível mais alto de desempenho, e isso
se traduz muito eficazmente para o campo. Então da próxima vez que você jogar futebol vai saber
onde todo mundo está localizado mesmo sem olhar para eles.
Porquê o foco especificamente no esporte?
Esta tecnologia não se limita só ao esporte, mas no mundo do esporte sua eficácia será mais evidente,
será mais fácil ver a diferença entre um jogador treinado e alguém que não fez esse treinamento. No
mundo de hóquei no gelo, posso dizer que desde que começamos a treinar a equipe nacional sub-18
dos Estados Unidos, em 2009, eles ganharam o título de campeão mundial por seis vezes, o que
nunca aconteceu antes na história do hóquei no gelo. Assim, a diferença no desempenho é realmente
muito significativa, não é negligenciável.
Quão predominante será a formação do cérebro?
A melhor comparação é a aptidão física ou fitness, que não era tão difundida 30 anos atrás. Agora, se
você pensar nas academias, no número de pessoas que treinam na esteira ou levantam pesos,
perceberá que a aptidão física é muito difundida. Sempre haverá pessoas que são sedentárias, que
não querem investir no seu cérebro ou no seu corpo. Mas eu acho que veremos um número crescente
de indivíduos que percebem a importância de investir no seu cérebro, nas suas habilidades cognitivas,
no seu nível de desempenho. Se você treinar o cérebro com regularidade, sua qualidade de vida vai
melhorar.
Assim, um dia a formação do cérebro será tão prevalente quanto o treinamento físico?
Essa é nossa visão. E há cada vez mais dados que suportam essa visão. Veja só este exemplo: duas
pessoas que estão prestes a completar a mesma idade, digamos, 70 anos. Elas têm áreas brancas em
seus cérebros, as áreas brancas são áreas mortas, conforme se vê num exame do cérebro. A
quantidade de tecido impactado é praticamente a mesma. Prosseguindo com o exemplo: uma delas
está em uma cadeira de rodas e mal consegue funcionar, mas a outra parece perfeitamente normal e
você conversa com ela sem saber que alguma coisa está acontecendo em seu cérebro. Me diga, como
é que isso acontece? Há dados que indicam que quanto mais ativo é o cérebro, mais ele pode
compensar a deterioração associada à idade. Assim, há um número crescente de dados que mostram
que a atividade cerebral, na verdade, tem um papel importante na qualidade de vida e no
funcionamento das pessoas, quando souberem isso as pessoas vão investir mais tempo nessa
questão.
"Um crescente número de
pessoas (irá) se dar conta
que investir no seu
cérebro, nas suas
capacidades cognitivas e
no seu nível de
performance é
importante."
Danny Dankner Presidente, Applied
Cognitive Engineering
Você coordena o projeto BrainPEER, financiado pela UE, para desenvolver o software Intelligym
para o futebol. Qual tem sido o papel desempenhado pelo financiamento público de pesquisa
no desenvolvimento desse produto?
Quando você parte da ciência básica e a aplica para produzir algo novo, a quantidade de esforço, a
pesquisa, o desenvolvimento, os testes, a calibração e a medição que são necessários para criar o
novo produto é imensa. Então, em grande medida, o que posso dizer especificamente é que sem esse
financiamento público, não haveria forma alguma de ter conseguido tudo isso.
Qual é o próximo passo depois de focalizar no futebol?
Nós realmente gostaríamos de podermos entrar em outros mercados profissionais. Se pudéssemos
ajudar outros profissionais, médicos, profissionais de saúde a tomar decisões melhores, isso poderia
ser algo muito positivo. Outro domínio interessante é o dos motoristas. Se você tiver motoristas que
são cognitivamente treinados para manter sua concentração por mais tempo, para antecipar melhor o
fluxo do tráfico, você poderá reduzir o número de acidentes e lesões corporais que hoje em dia é
enorme. Há outras áreas sobre as quais temos sido consultados, que é a aplicação da lei. Pense na
polícia, nos bombeiros, nas forças de segurança nacional, se você pudesse treiná-los e torná-los mais
eficazes na tomada de melhores decisões, isso também poderia ser muito útil. Se você pensar nos
estudantes, jovens ou universitários, podemos ajudá-los a ter melhor desempenho. As oportunidades
estão aí e são muitas.
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