Resumo O projeto teve como objetivo desenvolver um método eficaz para descontaminar bivalves mediante combinação de terapia fágica (uso de vírus específicos para inativar bactérias patogénicas) e depuração. Os bivalves estão implicados em muitos surtos infeciosos, não só por se alimentarem por filtração, mas também por serem apanhados/cultivados em leitos contaminados e consumidos crus ou mal processados. Há também a salientar a importância crescente da aquicultura como compensação da progressiva redução das populações naturais de bivalves. Infelizmente, esta é feita muitas vezes em águas contaminadas por microrganismos patogénicos, incluindo bactérias multirresistentes. A depuração é o único processo disponível no mercado para descontaminar bivalves, sendo obrigatória quando os bivalves apresentam teores bacterianos elevados (concentração de Escherichia coli superior a 230 bactérias/g de bivalve). Este método não elimina, contudo, muitas das bactérias presentes nos bivalves. Assim, de um modo geral, o cidadão associa o consumo de bivalves ao risco contrair doenças, devido à presença de microrganismos patogénicos no seu interior, mesmo após depuração. A utilização da terapia fágica permite que as bactérias que não são removidas durante o tratamento sejam inativadas no interior dos bivalves, tornando o seu consumo mais seguro. A terapia fágica é inócua para os bivalves e seus consumidores e para o ambiente. Apresenta alvos específicos, não afetando bactérias não patogénicas; limitado desenvolvimento de resistências bacterianas; baixo impacto ambiental, os fagos só crescem na presença do seu hospedeiro, desaparecendo se este é inativado; os fagos são resistentes às condições ambientais; e a aplicação de uma só dose de fagos é suficiente para inativar as bactérias patogénicas. Como os fagos só se replicam na presença do seu hospedeiro, neste caso bactérias patogénicas, esta tecnologia é segura e amiga do ambiente, constituindo uma vantagem estratégica para o crescimento integrado e sustentado da aquacultura. As principais bactérias patogénicas de bivalves foram identificadas e usadas para seleção dos fagos mais adequados para a sua inativação. Foi estudada a sua interação com os fagos e os fatores ambientais numa depuradora, para desenvolver um protocolo adequado para a sua descontaminação. Os resultados demonstraram que a utilização de fagos durante a depuração de bivalves reduz eficazmente o teor de bactérias patogénicas, reduzindo o tempo de depuração para um sexto do usado no processo convencional (24 h para 4 h). O baixo custo de produção dos fagos e a redução do tempo de depuração, resultam num menor preço final dos bivalves, associado a uma melhor qualidade. A sua colocação mais rápida no mercado, a minimização das perdas associadas a surtos de doenças causadas por bivalves e o aumento da capacidade de produção contribui decisivamente para a sustentabilidade da aquicultura. Por outro lado, sendo a terapia fágica uma tecnologia inócua para os bivalves, para os consumidores e para o ambiente, potenciais riscos que possam afetar a saúde pública e o ambiente são minimizados.