1. O que é. Chamamos mito a um tipo de narrativa que tenta dar

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MITO
1.
O que é.
Chamamos mito a um tipo de narrativa que tenta dar sentido ao mundo relatando “como algo
começou”. Portanto, o mito sempre se refere à origem ou narra como algo veio à existência, seja a
criação do mundo, dos homens, a origem da morte, etc. É característico do mito situar este começo,
ou seja, a origem em um passado longínquo, imemorial. Além disso, os acontecimentos que o mito
narra são (ou acorrem), tais como são por interferência de “seres sobrenaturais”.
Uma vez que o mito é uma tentativa de compreender a realidade, então é fácio perceber que
ele é um modo de pensar a realidade e explicá-la. Por isso, podemos dizer que o mito, mais do que
uma simples narrativa com características determinadas, é um modo de pensar: o pensar mítico.
2.
Como é.
O homem, ao se sentir impotente e separado das forças naturais, tenta religar-se, ordenando a
multiplicidade dos fenômenos (o sol, o trovão, o mar, etc.) e atribuir a esses fenômenos origens
divinas. A esses deuses, que encarnam os fenômenos, são concedidas características humanas, ou
seja, o mito é antropomórfico (anthrópos – homem + morphé – forma). Por isso, dizemos que o mito é
uma forma de pensar imagética e antropomórfica, que, ao personificar forças da natureza e
sentimentos, estabelece, por isso mesmo, um vínculo de familiaridade indissolúvel entre homem e
divindade. E sendo, por ligar o sagrado ao profano, tem um caráter mágico-religioso. Religar é ligar
novamente, isto é o que faz a religião, re-liga, o homem ao mundo e os homens entre si.
É um modo de pensar mágico, ao tornar o mundo “animado” (do latim animar = dar alma),
povoado por seres sobrenaturais. Mas, é também religioso porque o homem se prende, se liga à
realidade através de seres sobrenaturais aos quais presta reverência por meios de ritos.
Ritos que são conjuntos de atos e atitudes que servem justamente para religar. Através dos
ritos os homens se beneficiam das forças que promoveram as origens. Ao repetir práticas rituais, o
homem se sente partícipe da eternidade, libertando-se de sua transitoriedade. A realidade demonstra a
repetição dar origens nos ciclos da vida, e estes, por se repetirem, são perenes. O mito consiste nessa
“história perene”, história dos acontecimentos eternos, porque se repetem.
O mito não é, portanto mera fantasia sem relação com a forma de vida das comunidades, mas
exerce nestas um papel fundamental de orientação da ação. Pode-se perguntar, sobrenaturais e
antropomórficos na sua explicação? Por que necessita introduzir elementos sobrenaturais e
antropomórficos na sua explicação?
Para compreender este fenômeno é preciso atentar a peculiar relação entre natureza e
subjetividade no pensamento mítico. Não há nem uma natureza externa nem um mundo subjetivo
interno, isolados um do outro. A natureza seria o mundo subjetivo ampliado e projetado para o
exterior, sendo as coisas “externas” concebidas em analogia com a subjetividade. Por sua vez, a
psique não é concebida como independente do mundo Ester, mas em seu interior atuam forças divinas
que estão além do indivíduo. Assim a natureza a primeira visão impessoal e perigosa torna-se
assimilável para o homem quando este é capaz de torná-la de algum modo familiar, fazendo-a possuir
características humanas ainda sob a forma de divindades. Ao se tornarem assimiláveis, tornam-se
também de algum modo controláveis.
Por isso podemos dizer que o mito seria uma forma de pensar predominantemente afetiva,
onde as coisas ganham sentimentos e em virtude desses sentimentos nos relacionamos com elas de
maneiras diferentes.
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3. Por quê é .
Ao pensarmos a estrutura do mito, já adiantamos, em parte, sua finalidade. Vimos que o homem precisa
encontrar segurança e que o mito, de algum modo, é capaz de tranqüilizá-lo, buscando satisfazer
Às necessidades profundas de ordem psicológica, moral, social e políticas, de compreensão e controle da realidade.
No entanto, o critério de adesão ao mito não é a evidência racional que o pensamento lógico exige, mas a crença, a
fé, à qual se concede assentimento não pela via reflexiva, mas através da emoção e da afetividade.
O mito é um elemento cultural fundamental, à medida que os feitos de seus personagens heróicos servem
de modelo para o comportamento da comunidade. Fornece os valores referenciais a serem seguidos, tais como a
coragem, a integridade, etc.
Uma vez que o grupo pratica os mesmos ritos, o mito serve como fator de coesão social que mantém a
organização social. E, como o grupo participa do mesmo conjunto de ritos, o mito garante a identidade cultural,
assinalando o papel social de cada indivíduo.
4. Problematização.
A verdade do mito não exige comprovação nem pede verificação. A verdade do mito se afirma
enquanto verdade intuída e garantida pela coletividade. O pensamento mítico é essencialmente comunitário,
o coletivo prepondera sobre o individual, de tal modo que a consciência individual está presa à trama de
relações sociais, submersa em uma consciência coletiva.
Por um lado, essa consciência coletiva acolhe seus membros, no sentido de situá-los no seio da sociedade e
toma todos os seus participantes membros pertencentes ao grupo. Mas, por outro lado, não há individualização e a
consciência coletiva é dogmática. Ou seja, a consciência mítica é ingênua, uma vez que não questiona crítica ou
problematiza, mas aceita passivamente os mitos, os rituais e os papéis sociais.
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Texto 5 - Filosofia e mito
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais
entre forças sobrenaturais que governam o mundo c o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do
mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias.
(...) Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: a filosofia, ao nascer, como já dissemos: uma
cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e
repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical
com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia?
Duas foram às respostas dadas.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um
grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então que a
filosofia nasceu com uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da
realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados de nosso século, quando os estudos dos
antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das
sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma
sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e
que a filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização
deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que, a filosofia, percebendo as
contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformandoas numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.
Quais são as diferenças entre filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes:
1-
2-
3-
O mito pretendia narrar as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e
fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A
Filosofia, ao contrário , se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no
futuro (isto é, na totalidade do tempo) as coisas são como são,
O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas
sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia , ao contrário , explica a produção natural das
coisas por elementos e causas naturais e impessoais.
O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mar e terra O mito*narra a
origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos
casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses seres por
composição, combinação e separação dos quatro elementos – Úmido, Seco, Quente e Frio, ou água,
terra, fogo e ar.
O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque
esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito
vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições,
fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional,
além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma
em todos os seres humanos.
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