ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ATRAVÉS DA ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM PILOTOS DE HELICÓPTERO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO A. P. O. Mafuz1, G. C. Silva1, A. S. I. Salgado1, N. P. C. Figueira1, F. A. B. Amaro1, L. V. F. Oliveira1 1 Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP Laboratório de Distúrbios do Sono /Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento – IP&D, Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, São José dos Campos-SP, [email protected] Resumo- O comportamento do sistema nervoso autônomo (SNA) tem sido estudado através da análise da variabilidade cardíaca a qual pode revelar um estado de estresse observando-se o aumento da atividade simpática e/ou redução da atividade parassimpática. O estresse está ligado a uma condição de adaptação bem sucedida ou não, conforme a teoria da Síndrome da Adaptação Geral (SAG). Neste estudo objetivouse analisar o comportamento do sistema nervoso autônomo em situação de estresse nos pilotos de helicóptero da polícia militar pré e pós-treinamento, através da ferramenta Nerve-Monitor. Segundo os valores encontrados, podemos observar um aumento da atividade simpática antes do treinamento caracterizando a presença de estresse, e a diminuição deste ao término do treinamento, levando-nos a crer que, a situação de tensão pela atividade a ser realizada e pós relaxamento, justificam o comportamento do SNA aqui revelado. Palavras-chave: Frequência cardíaca, sistema nervoso autônomo, estresse. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde Introdução A análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) tem sido empregada como recurso para a mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo (SNA) em diversas situações, baseando-se na identificação da força das bandas de baixa e alta freqüência da função espectral dos intervalos R-R da freqüência cardíaca (FC) (NOTARIUS, 2001). A literatura científica mostrou que, o tônus parassimpático está relacionado à banda de alta freqüência responsável pelo estado de repouso, enquanto o exercício é associado a uma ativação simpática, ligada à banda de baixa freqüência (GUZZETTI, 2005). O SNA tem um papel importante na mediação das alterações cardiovasculares provocadas pelo estresse. O estresse se faz presente em todas as reações do organismo desencadeadas por agressões de ordem física, psíquica ou infecciosa (AIDLEY, 1998). O fenômeno do estresse está intimamente ligado a tentativas de adaptação, bem sucedidas ou não, conforme a teoria da Síndrome da Adaptação Geral (S.A.G.), desenvolvida por Hans Selye (1956). Quando o organismo é estimulado em um certo nível, mecanismos de compensação atuam para responder a um aumento das necessidades fisiológicas. Esses estímulos são denominados agentes estressores ou estressantes e a reação psicofisiológica conseqüente, é o que se conhece por estresse. Nestas circunstâncias, surge a seguinte questão a ser definida: “lutar ou fugir?”, na expressão do próprio Selye. Durante a realização de suas atividades, os pilotos de helicóptero são submetidos a diversos fatores que podem predispor ao surgimento do estresse psicofísico tais como: elevada responsabilidade exigida na profissão; horários de serviço variados e descontínuos; dificuldade na manutenção de um programa de treinamento físico ideal; cansaço provocado pelas vibrações e pelo nível de ruído da própria aeronave (MARQUES, 1999). Nas ocorrências policiais mais complexas, onde a ação da equipe que compõe a aeronave pode fazer a diferença entre uma solução a contento ou um desfecho trágico, é exigido dos pilotos policiais a manutenção de uma elevada condição de serenidade e autocontrole, situação a que está diretamente relacionada (MOREIRA, 1992). Estudos desenvolvidos em psicofisiologia constataram uma consistente relação entre níveis de estresse físico e mental com alterações nas respostas fisiológicas, tais como as freqüências cardíaca e respiratória, as taxas séricas de cortisol, pinefrina, norepinefrina e alterações na concentração do lactato sangüíneo durante as atividades físicas e laborais (AIDLEY, 1998). Para a atividade aérea, estas respostas psicofisiológicas revestem-se da maior importância, tendo em vista o grande percentual do fator humano observado nas ocorrências aeronáuticas, 90% dos casos, verificados no período de 1989 a 1999 (WILSON, 2002). neste estudo, analisar o Objetivou-se, X Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2638 desempenho psicofisiológico dos pilotos de helicópteros sob a influência da fadiga central, típica da pilotagem, em grupos com condições físicas aeróbicas distintas. Materiais e Métodos A presente pesquisa trata-se de um estudo clínico, prospectivo, consecutivo, em base individual do tipo descritivo, caracterizado como série de casos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade do Vale do Paraíba – UniVap, sendo acatado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de todos os participantes. Como sujeitos da pesquisa, foram triados 06 indivíduos adultos sadios, do sexo masculino, oficiais pilotos de helicóptero da Polícia Militar do Estado de São Paulo, baseados na cidade de São Paulo - SP. Foram adotados como critérios de exclusão a não aceitação na participação no presente protocolo de pesquisa. Foi utilizado como ferramenta o Nerve-Express, o qual é composto de uma acoplado ao corpo do sujeito, o qual avalia através da análise da variabilidade cardíaca o comportamento do sistema nervoso autônomo sob uma situação específica, neste caso os pilotos em situação de treinamento. O Nerve-Express é um sistema computadorizado totalmente automático e nãoinvasivo, destinado à análise quantitativa da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático baseado na análise da variabilidade da frequência cardíaca. O equipamento registra a atividade parassimpática no eixo X ou horizontal e a atividade simpática no eixo Y ou vertical. O ponto de intersecção dos eixos simpático e parassimpático é o ponto de equilíbrio autonômico. Para a direita e acima deste ponto de equilíbrio, o NE mostra uma área de atividade simpática e parassimpática aumentada em 4 graduações. As diminuições nas atividades do SNS e SNPS são mostradas à esquerda e abaixo do ponto de equilíbrio. SNPS TOTAL SNS TOTAL Pré -0,75±1,17 1,16±1,06 Pós -0,75±0,8 0,41±0,58 ns p=0,04 Nota: Valores expressos em média e desvio padrão, intervalo de confiança de 95%, p < 0,05. Tabela 2 – Nível de atividade do SNPS e SNS dos sujeitos estudados. Vale ressaltar o valor de p, mostrado na tabela 2, o qual apresenta-se significativo para os valores do sistema nervoso autônomo pré e póstreinamento, confirmando, a diferença nos valores médios do sistema nervoso simpático e parassimpático pré e pós-treinamento. Os gráficos abaixo mostram a localização dos sujeitos estudados, indicando que estes encontravam-se em sua maioria no quadrante esquerdo superior indicando zona de estresse pré-treinamento (gráfico 1), enquanto que no pós estes localizavam-se mais próximos do ponto central, indicando maior equilíbrio do sistema nervoso autônomo (gráfico 2). Gráfico 1: Comportamento do sistema nervoso simpático pré-treinamento. Resultados Os valores antropométricos mostraram o perfil dos pilotos participantes da pesquisa revelando pessoas sadias de idade média de 33 anos com índice médio de massa corporal dentro dos valores normais, o que revela uma condição de estabilidade da freqüência cardíaca e conseqüentemente do sistema nervoso autônomo, de acordo com a análise da ferramenta utilizada. Com relação ao sistema nervoso autônomo, foi aplicado o teste t, comparando-se os valores do sistema nervoso simpático e parassimpático pré e pós-treinamento. Gráfico 2: Comportamento do sistema nervoso simpático pós-treinamento. X Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2639 Discussão Referências A situação de risco e tensão a que são submetidos os pilotos da polícia militar em suas atividades diárias, sendo estas treinamento ou ocorrências reais levam ao aumento da situação de estresse como observado através do comportamento do sistema nervoso autônomo (CUSATIS, 2003). Antes do treinamento os sujeitos encontravam-se em situação de estresse pelo fato de serem submetidos a situação de teste e risco. O estresse é definido como uma mobilização química coordenada do corpo humano para atender à demanda de adaptação do organismo frente a uma situação ameaçadora da homeostase, seja a natureza do estressor real ou imaginária (ROSA, 2004). E após o treino estes mostravam-se aliviados pelo dever cumprido e por desvendar o desconhecido, devendo-se levar em consideração o relaxamento mental e físico. Pode-se observar no gráfico abaixo uma redução nos valores médios do sistema nervoso simpático, confimando o aumento da atividade deste antes do treino caracterizando o estresse e sua diminuição após o treinamento, ilustrando o relaxamento. O comportamento do sistema nervoso simpático em manter-se inalterado, mostra manutenção do estado de alerta, porém sem estresse. - Aidley, D. J. The physiology of excitable cells(1998). 4ªed., Cambridge University Press, NY, 228p. - Berne, R. M.; Levy, M. N. Physiology (1998). 4ªed, Mosby. 11431p. - Guzzetti, S. et al. Different spectral components of 24h heart rate variability are related to different modes of death in chronic heart failure (2005). European Heart Journal, v. 26, p357-62. - Marques, A. C. O treinamento físico militar no combate ao estresse. Monografia do Curso de Altos Militares. ECEME, 1999. - Moreira, S. B. O comportamento do ritmo cardíaco nos vôos de caça. Tese de Livre Docência. UFG, 1992. - Notarius, C. F.; Floras, J. S. 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Conclusão Concluímos que os treinamentos representaram uma situação de estresse para os pilotos avaliados nesta pesquisa, considerando que estes encontravam-se em alerta com estresse segundo os dados do exame pré-treinamento, enquanto que no exame pós-treinamento pode-se observar um maior equilíbrio do sistema nervoso autônomo, de acordo com a localização dos sujeitos nos gráficos. Afirmamos também que a ferramenta utilizada se mostrou eficaz na análise do comportamento do sistema nervoso autônomo em situação de estresse. X Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2640 X Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2641