Relatório da Situação da Hipertensão em África i

Propaganda
SA9426
AFRICAN UNION
UNION AFRICAINE
UNIÃO AFRICANA
CONFERÊNCIA DA UA DOS MINISTROS DA SAÚDE (CAMH6)
Sexta Sessão Ordinária
22 a 26 de Abril de 2013,
Adis Abeba, ETIÓPIA
CAMH/Exp/6(VI) iii
TEMA: “O Impacto das Doenças Não Transmissíveis (DNT) e Doenças Tropicais
Negligenciadas (DTN) no Desenvolvimento de África”.
Relatório da Situação da Hipertensão em
África
i
PREFÁCIO
No passado, a hipertensão foi encarada como uma doença dos abastados. No
entanto, esta percepção alterou-se drasticamente nas duas últimas décadas, sendo
a média das tensões arteriais mais alta agora em áfrica do que na Europa e dos
EUA e a prevalência aumenta entre as camadas pobres da sociedade.
A hipertensão é o risco principal para as doenças cardiovasculares (DCV) como os
enfartes miocardias, tromboses e insuficiências renais entre, entre outros.
Consequentemente, as doenças cardiovasculares tornaram-se na principal causa
de morte em África e o número total deverá aumentar ainda mais nas próximas
décadas, reflectindo a crescente urbanização e mudanças relacionadas com o
estilo de vida.
A nova epidemia da hipertensão e as DCV, não só constituem um importante
problema de saúde pública, mas terão igualmente um grande impacto económico
pois a proporção significativa da população produtiva torna-se doente crónica ou
morre deixando as famílias na pobreza.
A hipertensão é um assassino silencioso que, na generalidade, não tem queixas
físicas específicas. Portanto, a hipertensão só pode ser detectada através da
medição regular da tensão arterial. Nesta altura da epidemia da hipertensão e das
DCV, a coisa mais importante é consciencializar acerca da importância e urgência
de conhecer a pressão arterial entre a população, dos pacientes, médicos e
decisores.
A prevenção, através de directrizes padronizadas para a gestão da hipertensão nos
cuidados primários de saúde, é muito mais eficaz em termos de saúde e
financeiros do que o tratamento das complicações no hospital.
É essencial elaborar e partilhar boas práticas para programas comunitários
eficazes e a preços acessíveis na identificação e tratamento da hipertensão. A fim
de prevenir e controlar a hipertensão entre a população, é necessário que a África
formule e implemente políticas mediante uma abordagem multissectorial
envolvendo os Ministérios da Saúde, e outros sectores designadamente educação,
agricultura, transporte e finanças, entre outros.
Com vista a abordar e acompanhar esta epidemia de forma adequada, é
necessário levar a cabo mais investigação sobre a prevalência da hipertensão e
factores de risco nos diferentes cenários no continente, utilizando uma abordagem
padronizada como a metodologia STEPS da OMS.
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |2
H.E. Dr. Mustapha S. Kaloko
AUC Commissioner for Social
Affairs
1- Contexto
i. Perspectiva Global
1.
A hipertensão, também conhecida como pressão arterial alta, é a principal
causa das doenças cardiovasculares (DCV) como o enfarte do miocárdio e
trombose em todo o mundo. A proporção do fardo global da doença atribuível à
hipertensão aumentou significativamente de cerca de 4.5 por cento (quase 1000
milhões de adultos) em 2000 para 7 por cento em 2010. Isto faz da hipertensão a
causa mais importante da morbidade e mortalidade a nível global e realça a
necessidade urgente de acções para abordar o problema.
ii. Hipertensão em África
2.
Tradicionalmente em África, as doenças transmissíveis e as causas
maternas, perinatais e nutricionais, são responsáveis pelo fardo mais pesado em
termos de morbidade e mortalidade. Este fardo está a alterar-se rapidamente para
doenças não-transmissíveis crónicas e, por extensão, as DCV. Este fenómeno
constitui aquilo que é apelidado de “duplo fardo da doença”. Embora a pressão
arterial alta não existia nas sociedades africanas na primeira parte do século vinte,
as estimativas mostram agora que em alguns cenários em África, mais de 40 por
cento dos adultos têm hipertensão. A prevalência da hipertensão aumentou
significativamente ao longo das duas últimas ou três décadas. Em 2000, havia
aproximadamente 80 milhões de adultos com hipertensão na África a sul do Sahara
e as projecções baseadas nos actuais dados epidemiológicos, indicam que este
número irá subir para 150 milhões até 2025. Ademais, há provas que indicam que
as complicações relacionadas com a hipertensão e em particular a trombose e o
ataque cardíaco estão a tornar-se cada vez mais comuns no continente. Estas
tendências têm estado fortemente ligadas com as mudanças nos estilos de vida
individuais e da sociedade, tais como o consumo de tabaco, consumo excessivo de
álcool, redução da actividade física e adopção de dietas “ocidentais” com alto teor
de sal, açúcar refinado e gorduras e óleos pouco saudáveis.
iii. Consequências Médicas da Hipertensão
3.
Embora na generalidade a hipertensão não tenha sintomas, ela conduz a
complicações que são responsáveis pela morbidade e mortalidade consideráveis.
Em geral, a hipertensão pode causar estragos às artérias, ao cérebro, ao coração e
aos rins. Mais especificamente, as principais complicações são:
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |3
a-
bcd-
Cardíacas ou relacionadas com o coração, que compreendem a
insuficiência cardíaca doenças das artérias coronárias e enfarte do
miocárdio ou ataque cardíaco;
Acidente cerebrovascular que afecta o fornecimento de sangue ao
cérebro que provoca o acidente vascular ou o cérebro;
Renal ou relativas ao rim que provoca a insuficiência renal;
Da retina ou que afecta a retina nos olhos que compreende a retinopatia
que pode levar à deficiência visual.
4.
A razão da gestão da hipertensão é primeiramente à prevenção dessas
complicações em vez de controlar a pressão arterial em si.
2- Mudanças na População e Epidemiológica e a Epidemia da
Hipertensão
5.
A nível global, existem tendências na estrutura da população, movimentos
da população, mudanças de estilos de vida e dos padrões da doença que se julga
que explicam o fardo das doenças não transmissíveis incluindo as DCV e as suas
condições precursoras como a hipertensão. São: a transição epidemiológica, a a
urbanização e o envelhecimento da população.
i.
Transição Epidemiológica
6.
Os padrões de saúde e doença alteram-se ao longo do tempo nas
sociedades dependendo, entre outros factores, do grau de mudanças na estrutura
populacional e da taxa de desenvolvimento económico, para resultar na chamada
transição epidemiológica. À medida que as sociedades se desenvolvem, embora as
doenças transmissíveis como a tuberculose prevaleçam, as doenças nãotransmissíveis aumentam a sua prevalência, especialmente entre as populações
urbanas. Isto é resultado das alterações nos determinantes ambientais e
comportamentais tais como o aumento do tabaco, aumento do consumo de gordura
e calorias e diminuição da actividade física bem como longos períodos de
exposição a esses determinantes, em virtude do aumento da esperança de vida.
Tendo em conta que as populações europeias e norte-americanas viveram
mudanças semelhantes na demografia, nos determinantes e nas taxas de doença
ao longo de um século, as populações africanas estão a passar por transições
semelhantes em apenas algumas décadas.
7.
Como noutras partes do mundo, a prevalência da hipertensão na África a
Sul do Sahara aumentou como uma manifestação da transição epidemiológica. A
hipertensão tornou-se num problema substancial em muitos países africanos, que
vivem a transição epidemiológica das doenças transmissíveis para as doenças não
transmissíveis. A migração rural-urbana associada à aculturação e a modernização
da pressão arterial alta conforme observado nos estudos epidemiológicos no
Quénia e Ghana.
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |4
ii.
Urbanização em África
8.
Este aumento da urbanização é uma das razões principais para o aumento
na prevalência da hipertensão em África. Os níveis de hipertensão são
estruturalmente mais altos nos ambientes urbanos do que nos ambientes rurais,
sobretudo por causa dos factores contextuais e comportamentais associados com
os ambientes urbanos como mudanças na dieta e estilos de vida sedentário que
juntos formam um sistema complexo propício para o desenvolvimento da
hipertensão. À medida que o continente se torna mais urbanizado, de acordo com a
tendência actual em África, o mesmo se passará com a prevalência
iii.
Envelhecimento da População
9.
A população do mundo está a envelhecer cada vez mais. Em menos de
vinte anos, haverá no mundo mais pessoas com mais de 60 anos do que crianças
com menos de 10 anos. É importante compreender, que 73% dessas pessoas
idosas viverão em países de rendimento baixo e médio. A África possui também
projecções assinaláveis neste domínio. Apesar de continuar mais jovem do que
todos os outros continentes, a África irá assistir a um crescimento até 13 vezes no
tamanho da sua população idosa - saindo dos actuais 56 milhões para os 716
milhões até ao final do século. Este crescimento irá ultrapassar o crescimento de
qualquer outra região do mundo ou qualquer outro grupo etário. Esta grande
mudança da demografia terá um forte efeito na saúde pública em África. Este
aumento de idosos irá conduzir ao aumento da prevalência das doenças crónicas
como as cardiovasculares. Uma vez que o envelhecimento constitui um factor de
risco para a hipertensão, a prevalência da tensão arterial irá agravar-se ainda mais
nas próximas décadas devido a essa mudança demográfica.
3- Prevalência da Hipertensão nos Vários Cenários em África
10.
Os dados sobre a prevalência da hipertensão são cruciais para a
compreensão da magnitude do problema, identificar os grupos de alto risco para as
DCV e avaliar os efeitos das intervenções na política e na prática. O aumento na
prevalência da hipertensão conduzirá, invariavelmente, ao aumento dramático da
incidência de doenças cardiovasculares e das suas consequências, que é
susceptível de sobrecarregar os sistemas de saúde. Terá também implicações
financeiras para os planos nacionais e locais de tratamento, pois há cada vez mais
provas de que a maioria dos pacientes com hipertensão vai exigir dois ou mais
medicamentos para conseguir controlar a pressão arterial.
11.
A pesquisa STEPS da OMS levado a cabo entre 2003 e 2009 em 20 países
africanos relatou altas taxas da hipertensão na maior parte dos países em
particular entre os homens. A prevalência vai de 19.3 % na Eritreia a 39.6 % nas
Seychelles. A prevalência está na população adulta com 18 anos de idade para
cima. Para estimativas mais específicas em relação aos países, consulte a Figura
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |5
1. Em África, a hipertensão é geralmente mais acentuada entre os homens do que
nas mulheres. Em alguns países, no entanto, houve níveis mais elevados de
prevalência nas mulheres do que nos homens, como é o caso da Argélia com cento
31,6 face aos 25,7 por cento em 2003, Botswana com 37,0 por cento face aos 28,8
por cento em 2006 e Mali com 25,8 por cento face aos 16,6 por cento em 2007,
para os homens e mulheres respectivamente. Além das diferenças de sexo na
prevalência da hipertensão, há também grandes diferenças baseadas na
residência. Em todos os países em que havia dados disponíveis do Estudo Mundial
da Saúde (EMS), a população urbana tem uma prevalência mais alta da
hipertensão do que a população rural.
12.
Na África do Sul e na República Democrática do Congo, a população urbana
tem uma prevalência de quase 10 pontos percentuais a mais do que a população
rural. Isto em comparação a países como a Etiópia e a Tanzânia, onde a
prevalência é apenas um pouco mais de 5 por cento. Importa ressaltar que, uma
vez que os países estão em diferentes fases das transições epidemiológicas,
existem algumas populações rurais em alguns países cuja prevalência é maior do
que algumas populações urbanas noutros países. Por exemplo as populações
rurais no Ghana, África do Sul e RDC, têm uma prevalência mais alta do que as
populações urbanas na Etiópia e Tanzânia.
Figura 1- Prevalência da Hipertensão em Países Africanos Seleccionados que
participaram dos estudos STEPS da OMS (2003 a 2009)
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |6
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
13.
É bem sabido que as médias urbanas ocultam grandes disparidades intraurbanas, em grande parte devido à presença de grandes populações em
assentamentos informais pobres que caracterizam a maioria dos centros urbanos
em África. Dados recolhidos da população adulta em dois assentamentos informais
de Nairobi, mostram uma alta prevalência de hipertensão (total de 19%) com
grandes diferenças específicas de sexo e idade. Os dados dissipam igualmente a
noção de que hipertensão é uma doença dos abastados uma vez que a maioria
dos residentes entrevistados é pobre.
4- Factores para Hipertensão em África
14.
A hipertensão está associada principalmente com os factores ambientais e
estilo de vida em vez da genética e tem uma associação mais forte e nexo de
causalidade com cinco comportamentos particulares: uso do tabaco, consumo
excessivo de álcool, sedentarismo, dieta pouco saudável (alta ingestão de sal e
consumo insuficiente de frutas e legumes) e obesidade. Os factores de risco que
levam à hipertensão podem ser reversíveis (modificáveis), irreversível (não modificáveis), ou associada a outras doenças (lista 1).
Prevalence
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |7
Lista 1: Factores de risco para hipertensião
Factores não-modificáveis
• Idade
• Género (sexo masculino)
• História familiar de ocorrências
cardiovasculares e predisposição
genética
Outros factores
•
•
•
•
•
•
•
•
•
5-
Dislipidemia (alteração do perfil do
lípido sanguíneo)
Aumento de triglicerídeas
Altos níveis de ácido úrico
Aumento da rigidez da artéria
Estado sistémico pró-inflamatório
Nutrição deficiente na infância
Privação de sono
Prescrição de medicamentos (por ex.
medicamentos não esteroidais e próinflamatórios)
Long-term exposure to noise
Factores modificáveis (ambiental ou
estilo de vida)
• Alto consumo de sódio (em casos
sensíveis ao sal)
• Fumar
• Álcool em excesso
• Peso em excesso e obesidade
• Actividade física insuficiente
• Baixa ingestão de potássio
• Dieta pouco saudável
especialmente excesso de calorias,
gorduras e frutose
• Estilo de vida sedentário
• Stress psicológico
• Vida urbana
• Deficiência de vitamina D
• Baixo consume de ácido fólico
Factores de risco modificáveis para a hipertensão
i. Tabagismo
15.
O tabagismo é conhecido por aumentar o risco de desenvolver hipertensão
arterial e doenças cardiovasculares tais como acidente vascular cerebral, trombose
e enfarte. Fumar provoca um aumento imediato da pressão arterial, o que resulta
no aumento dos níveis de pressão arterial ambulatórios mais nos fumadores do
que nos não-fumadores. Para que se deixe de fumar no seio da população, é
importante implementar intervenções multissectoriais como o aumento dos
impostos sobre o tabaco, a proibição da publicidade do tabaco e proibir o acto de
fumar nos espaços públicos.
ii. Consumo de Álcool
16.
O consumo de álcool é relativamente frequente em África. Há um efeito
directo entre os altos níveis e padrões específicos do consumo de álcool (tais como
consumo imoderado) e aumento do risco de hipertensão. A influência do consumo
imoderado no aumento dos níveis de pressão arterial foi descrita na Nigéria.
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |8
Devem ser introduzidas medidas no sentido de limitar o consumo de álcool de
forma multissectorial e adaptadas à situação local. Tais intervenções, como a
redução do consumo de tabaco, incluem o aumento dos impostos e a proibição da
publicidade do álcool especialmente entre os jovens.
iii.
Actividade Física Insuficiente
17.
A actividade física insuficiente demonstrou que tem muitos efeitos
promotores da saúde e um papel directo e independente na redução da
hipertensão. Tradicionalmente, acreditava-se que os altos níveis de actividade
física poderiam explicar, em parte, os baixos níveis de doenças crónicas que se
verificavam na maioria de África. No entanto, os níveis de actividade física têm
vindo a diminuir devido à alta taxa de urbanização que tem estado a verificar-se em
todo o continente. Foram publicados alguns estudos sobre os padrões da
actividade física das populações africanas.
iv.
Alto Consumo de Álcool
18.
A alta ingestão de sódio é comum em África, principalmente a partir de sal
utilizado para conservar os alimentos ou para torná-los mais saborosos. De igual
modo, o sal é adicionado aos alimentos já confeccionados pelo consumidor, já que
os alimentos processados são raros. A diminuição da ingestão de sal não só reduz
o risco da pressão arterial e das doenças cardiovasculares relacionadas, como
também tem outros efeitos cardiovasculares benéficos que são independentes e
adicionais ao seu efeito sobre a pressão arterial. Tem-se dito que tem um efeito
directo na redução dos acidentes vasculares cerebrais, hipertrofia ventricular
esquerda, rigidez da aorta rigidez da aorta e doença renal crónica e proteinúria. Por
essa razão, é razoável deduzir que o impacto total da redução do consumo de sal
sobre os aspectos cardiovasculares poderia ser maior do que o esperados apenas
da redução da pressão arterial.
v.
Consumo insuficiente de Fruta e Legumes
19.
O consumo de fruta e legumes é um elemento de uma dieta saudável e varia
consideravelmente entre os países, reflectindo os ambientes económicos, culturais
e de produção agrícola. A maioria dos benefícios da fruta e das verduras decorre
de redução de doenças cardiovasculares e dos factores de risco, especialmente a
hipertensão. Além da alta ingestão de sal, muitas pessoas em África consomem
geralmente fruta e legumes insuficientes, resultando na baixa ingestão de potássio.
Isto, por sua vez, está associado a uma maior pressão arterial em alguns
pacientes. Recomenda-se uma ingestão de potássio de 90 mmol/dia.
CAMH/Exp/6(VI) iii
Page |9
vi.
Obesidade
20.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a obesidade como uma
condição em que o excesso de gordura corporal se acumula a tal ponto que a
saúde pode ser afectada adversamente. À medida do peso corporal é geralmente
expressa como índice de Massa Corporal (IMC), que é o rácio do peso em
quilogramas em relação ao quadrado da altura em metros. O IMC é utilizado para
classificar o peso corporal de uma pessoa como sendo de baixo peso (se o IMC for
inferior a 18,5), peso normal (se o IMC variar de 18.5 a 24.9), de peso em excesso
(se o IMC variar de 25 a 29.9) ou obeso (se o IMC for superior a 30). A obesidade
aumenta significativamente o risco de hipertensão e foi também demostrado que
ela está associada com a doença arterial coronária e alguns tipos de cancro e com
a redução da esperança de vida. Uma vez que a obesidade está a aumentar
rapidamente em diversos países, será importante partilhar as boas práticas para
reduzir esta tendência.
6-
Custo Económico da Hipertensão em África
21.
O encargo económico das DCV em África é significativo. As doenças
cardiovasculares custarão ao continente milhares de milhões de dólares na
próxima década. Hipertensão continua a ser a principal causa dos encargos
financeiros significativos, incluindo o custo de cuidar de todas as complicações
decorrentes do acidente vascular cerebral como doenças isquémicas do coração e
insuficiência cardíaca congestiva. O encargo financeiro surge na forma de custos
directos de saúde relacionadas com o tratamento das doenças cardiovasculares e
seus factores de risco. Estes custos são suportados pelas pessoas singulares,
governos e pelo sector privado.
22.
Além disso, existem inúmeros custos indirectos relacionados com a
hipertensão, para os quais os dados estão fragmentados para a maioria dos países
africanos. Estes custos compreendem a perda da produtividade dos trabalhadores
afectados por um acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e doença
isquémica do coração. Outros custos são a perda de poupanças e património que é
perdido quando as famílias devem arcar com as despesas de saúde catastróficas
como as associadas com a reabilitação pós-trombótica ou diálise após insuficiência
renal. Adicionado a isto estão os grandes custos económicos e sociais
(oportunidade) para as famílias que – na ausência de sistemas formais de cuidados
– têm que muitas vezes prestar cuidados de saúde de longo prazo aos familiares
mais velhos. Apesar da actual prevalência relativamente baixa da hipertensão em
alguns países, o número total de pessoas com hipertensão arterial nos Países de
Baixo e Médio Rendimento (PBMR) é alto, e uma análise de custo dos
medicamentos anti-hipertensivos indica que os PBMR não conseguem suportar o
mesmo tratamento como nos países de alto rendimento. Isto acontece porque os
países africanos têm recursos limitados para dedicar à hipertensão, por causa das
outras prioridades concorrentes com a saúde.
CAMH/Exp/6(VI) iii
P a g e | 10
23.
O valor médio das despesas de saúde como percentagem do produto
interno bruto (PIB) dos países africanos é de 6,3 por cento. No entanto, há um
grande intervalo nesta variação métrica, desde 2,5% na República Democrática do
Congo para 12,9% do PIB no Malawi. Há também uma grande variação em termos
de despesas de saúde per capita entre os países africanos desde os $6 per capita
na Etiópia até $390 per capita na África do Sul. No entanto, os valores ainda são
muito baixos. No entanto, os montantes são ainda muito pequenos
comparativamente aos US$ 3727 per capita para os países de alto rendimento. A
gestão eficaz da hipertensão requer geralmente tratamento com mais de um
medicamento. Um estudo no Ghana, identificou que apenas 18 por cento de um
grupo de pacientes com hipertensão tinha um medicamento receitado, ao passo
que 60 por cento tinha dois medicamentos e 22 por cento tinha três ou mais
medicamentos receitados. O uso de dois ou mais medicamentos resulta
inevitavelmente num custo mais elevado para os medicamento anti-hipertensivo,
7-
Problemas e Desafios
24.
A África enfrenta uma epidemia nunca vivida de doenças cardiovasculares.
A hipertensão é o principal instigador de complicações cardiovasculares.
Considerando que a pressão arterial elevada quase não existia no seio das
populações nativas africanas na primeira metade do século XX, hipertensão afecta
agora entre 30 e 50 por cento dessas populações. A redução e controlo da
pressão arterial são a chave para a prevenção das doenças cardiovasculares.
Muitos países em África estão a passar por uma rápida transição demográfica e
epidemiológica.
25.
Apesar de se ter concentrado muita atenção no continente nas doenças
transmissíveis como malária, tuberculose e VIH/SIDA, alterações na demografia e
nos determinantes da saúde, particularmente as alterações no estilo de vida
associado à urbanização, resultaram numa transição epidemiológica e nutricional
para uma maior prevalência de doenças não-transmissíveis. O fardo duplo das
doenças infecciosas persistentes e das doenças emergentes crónicas, como
hipertensão, representam uma séria ameaça para a saúde da população no
continente.
26.
A prevalência e a incidência tanto da hipertensão como da pré-hipertensão
são elevadas. Os esforços para prevenir ou atenuar a pressão arterial alta podem
conduzir à uma redução substancial das complicações. As mudanças no estilo de
vida desempenham um papel crucial na prevenção da subida e o melhor controlo
da pressão arterial. A perda de peso, o controlo da ingestão de sódio e da dieta,
bem como a promoção da actividade física, são passos essenciais nesse sentido.
No entanto, quando são necessários medicamentos para reduzir os níveis de
CAMH/Exp/6(VI) iii
P a g e | 11
pressão arterial, é importante seleccionar não apenas o controlo efectivo mas
também reduzir a complicações relacionadas com a hipertensão.
27.
A consciencialização, o tratamento e o controlo da hipertensão estão
atrasados em em África em relação a muitas regiões do mundo. Um número
significativo de pessoas com hipertensão em África não tem conhecimento da sua
condição e, entre aqueles com a hipertensão diagnosticada o tratamento é muitas
vezes inadequado. A detecção, prevenção e tratamento da hipertensão devem
agora ser considerados como uma prioridade alta em África. O estabelecimento
factores associados com a sensibilização e gestão é o ponto de partida para
prevenir um aumento do fardo da hipertensão relacionada com as DCV. Embora
seja verdade que existem enormes desafios no controlo das doenças
transmissíveis em África, as doenças não-transmissíveis como a hipertensão são
também importantes ameaças à saúde da população adulta em muitos países. No
entanto, existe controvérsia em relação à prioridade que essas condições merecem
na concorrência pelos recursos escassos. Infelizmente, estas discussões ocorrem
num vazio de informação, uma vez que é impossível definir a carga de doenças
crónicas nas sociedades onde não há estatísticas de saúde disponíveis. Os
recursos escassos disponíveis devem beneficiar toda a população. A pesquisa
sobre as doenças não-transmissíveis, especialmente as doenças cardiovasculares
em África, devem ser encaradas como vitais especialmente onde podem servir de
base para as decisões de atribuição de recursos.
28.
O problema da definição de uma estratégia para o controlo da hipertensão
confronta a maioria das sociedades. A hipertensão é inteiramente tratável, mas as
condições sociais e económicas em muitos países africanos dificultam a
implementação de programas de controlo de pressão arterial. A falta de uma
estratégia clara, com base em provas factuais prejudicou ainda mais esses
esforços. A insuficiência de fundos, inexperiência e falta de infra-estrutura
continuam a ser barreiras importantes para a detecção e tratamento da
hipertensão. Nesse sentido, a gestão geral da hipertensão é mais um problema
macroeconómico do que um problema terapêutico. A triagem idealmente detecta a
hipertensão mas também constitui a base para a educação e terapia.
29.
A compilação de informações sobre os factores de risco para as doenças
cardiovasculares em África é uma tarefa enorme que só é alcançada através da
colaboração. Os Ministros da Saúde e as organizações locais devem adoptar uma
abordagem activa em relação à hipertensão com o apoio de órgãos influentes
como o Fórum Internacional para Controlo e Prevenção da Hipertensão em África.
O entusiasmo actual pela colaboração é crucial para o desenvolvimento e
implementação de políticas de saúde. Esta colaboração será especialmente
importante quando se tentar validar quaisquer directrizes formuladas para o
tratamento ou prevenção das doenças não-transmissíveis em África. A
epidemiologia da morbidade da hipertensão irá fornecer pelo menos o ponto de
CAMH/Exp/6(VI) iii
P a g e | 12
partida para um melhor planeamento da saúde, que pode espelhar a forma como
as doenças transmissíveis têm sido tratadas.
8-
The Way Forward
i. Formulação de planos de acção nacionais
30.
Deve ser levada a cabo uma análise nos diferentes países sobre que
actores estão envolvidos na prevenção e controlo das doenças cardiovasculares e
que actividades estão actualmente em curso. Deve ser dado espaço e
oportunidade a esses actores para produzirem um plano de acção nacional
seguindo as recomendações da OMS.
ii. dos factores de risco através de políticas
31.
As políticas públicas de saúde devem focalizar-se na redução dos factores
de risco para hipertensão e para as doenças cardiovasculares em geral, como o
consumo de tabaco, consumo excessivo de álcool, sedentarismo e dietas pouco
saudáveis. Isto pode ser feito através da implementação das políticas já existentes,
como o lei de controlo do tabaco atuam e elaboração de novas políticas para atacar
os outros factores de risco.
iii. Vigilância e Monitorização
32.
Os organismos nacionais e regionais devem assumir a liderança no reforço
dos esforços de vigilância da hipertensão e de monitorização. Os dados são
essenciais para determinar o peso económico da hipertensão, caracterizando os
padrões entre os subgrupos da população, avaliando as alterações no problema ao
longo do tempo e avaliando o sucesso das intervenções. Devem ser instituídos
sistemas eficazes de acompanhamento e vigilância para acompanhar o progresso
na redução da prevalência da hipertensão arterial e aumento da sensibilização,
tratamento e controlo da hipertensão.
iv. Melhorar a estrutura dos sistemas de saúde
33.
Além de implementar políticas que cobrem a sociedade em geral, deve
haver também uma forte aposta no desenvolvimento e melhoria do sistema de
prestação de serviços de saúde para solucionar a gestão das doenças não
transmissíveis crónicas. Isto pode ser feito com base em programas comunitários
de triagem e reforço das configurações dos cuidados primários de saúde para gerir
casos simples, bem como criar fortes ligações de referência de modo a assegurar a
continuidade dos cuidados entre pacientes diagnosticados.
v. Melhorar a qualidade dos cuidados
CAMH/Exp/6(VI) iii
P a g e | 13
34.
É essencial que a qualidade da assistência sanitária aos pacientes com
hipertensão melhore, no quadro dos esforços para fortalecer o sistema de
prestação de serviços de saúde para a gestão de doenças não transmissíveis
crónicas. Isto pode ser feito através de uma formação rigorosa dos profissionais de
saúde como enfermeiros, agentes de saúde comunitários e agentes clínicos. A fim
de assegurar a consistência da qualidade dos cuidados de saúde, devem ser
elaborados e implementadas directrizes nacionais dos padrões para o tratamento e
controlo da hipertensão.
vi. Aumentar a alocação de recursos financeiros para controlar a hipertensão
35.
É preciso que os países africanos invistam mais recursos financeiros nas
intervenções eficazes contra a hipertensão. Parte desses recursos podem ser
obtidos através do aumento dos impostos contra o tabaco e álcool.
Lista de acrónimos
IMC – Índice de Massa Corporal
DCV – Doença Cardiovascular
OMS – Organização Mundial da Saúde
Elaborado por
CAMH/Exp/6(VI) iii
P a g e | 14
Steven van de Vijver, Hilda Akinyi, Samuel Oti and Catherine Kyobutungi - APHRC,
African Population and Health Research Center, APHRC Campus, PO Box 1078700100, Nairobi, Kenya
Steven van de Vijver - AIGHD, Amsterdam Institute for Global Health and Development,
PO Box 22700, 1100 DE, The Netherlands
Charles Agyemang - AMC, Academic Medical Center, Meibergdreef 9, Amsterdam
Zuid-Oost, The Netherlands
i
This report was edited WHO
Download