arquivo do resumo extendido - Sociedade Brasileira de Ciência do

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X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
Núcleo Regional Sul
Crescimento Inicial de Posoqueria latifolia na Região do Médio Alto Uruguai do
Rio Grande do Sul com Diferentes Sistemas de Adubação
Kauana Engel(1); Clovis Orlando Da Ros(2); Franciel Rex(1); Pâmela Kafer(1); Isadora
Rangel(1); Daylien Mayane Sossmeier Albring Prediger(1); Lucindo Somavilla(3)
(1)
Estudante, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Linha 7 de Setembro, s/n, BR 386,Km 40, 98400-000 - Frederico
Westphalen - RS; [email protected]; (2)Professor, UFSM, campus de Frederico Westphalen; (3)Eng. Agrônomo, Servidor
Público da UFSM.
RESUMO – Existem poucas informações sobre a
adaptação da Posoqueria latifólia na região do Médio
Alto Uruguai do RS e também sobre o requerimento
nutricional da espécie. Com o objetivo de quantificar a
sobrevivência e o crescimento inicial da espécie em
condições de campo, com variação na disponibilidade de
nitrogênio, fósforo e potássio no solo, foi conduzido um
experimento na UFSM, campus de Frederico Westphalen.
O delineamento experimental foi em blocos ao acaso,
com quatro repetições. Foram utilizados oito tratamentos:
N, P, K, NP, NK, PK, NPK e um tratamento sem adição
de NPK. As doses de nutrientes no plantio foram de 40,
90 e 45 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente. Os
fertilizantes foram aplicados no fundo da cova e
misturados com o solo, imediatamente antes do plantio
das mudas. Em cobertura, aos 160 dias do plantio, foram
aplicados 30 kg ha-1 de N, na forma de ureia, na projeção
da copa das mudas. A implantação da mudas foi no dia
04/10/2013, após a abertura de sulcos espaçados de 3 m e
covas a cada 2 m. Em intervalos de aproximadamente 30
dias foi avaliada a altura das plantas e identificadas as
plantas mortas. Os resultados foram submetidos à análise
de variância (p ≤ 0,05) e as médias de tratamentos
comparadas pelo teste de Tukey. A sobrevivência das
plantas de P. latifólia foi 74,5%, afetada principalmente
pelo estresse hídrico e alta temperatura. A altura de
plantas não foi afetada pela adição individual ou
combinada de nitrogênio, fósforo e potássio no período de
10,6 messes do plantio.
Palavras-chave: altura de plantas, baga-de-macaco,
nitrogênio, fósforo, potássio.
INTRODUÇÃO - A Posoqueria latifolia (Rudge) Roem
& Schult pertence à família das Rubiaceaes. É uma
espécie de clima tropical e subtropical, que ocorre
naturalmente desde o México até o Brasil. No território
nacional ocorre predominantemente na mata atlântica, da
Bahia até Santa Catarina (Lorenzi, 2002). Anteriormente
esta espécie foi classificada como Posoqueria acutifolia
Mart (Backes & Irgang, 2009). Também recebe os nomes
de Landim, Laranja-de-Macaco, Bacupari-do-Brejo e
Baga-de-Macaco (Lorenzi, 2002; Muniz, 2009).
É uma espécie que apresenta grande produção de
frutos e que é muito apreciada por diversas espécies de
animais (Muniz, 2009). A madeira é média-pesada,
apresentando 700 kg m-3, sendo desta forma apreciada
para o uso em marcenaria, apesar de o caule ser tortuoso
que dificulta o beneficiamento da madeira (Backes &
Irgang, 2009).
Sabe-se que pode ser implantada em todo o Brasil, em
qualquer altitude, pois as plantas resistem à geadas de até
-3◦C graus e a estiagem de até cinco meses. É
característica de terrenos aluviais férteis e úmidos, fundos
de vales e beiras de rios ou mesmo em banhados com
parte das raízes submersa na argila (até em solos brejosos
e em lugares onde haja enchentes periódicas). É adaptado
a solo argiloso com pH entre 4,7 a 5,7, com alto teor de
matéria orgânica e solos cobertos com grande quantidade
de resíduas vegetais (Muniz, 2009).
Apesar destas informações, ainda não existem estudos
específicos sobre adaptação desta espécie na região do
Médio Alto Uruguai do Rio Grande do Sul e nem sobre o
potencial de sobrevivência e crescimento às condições de
clima, solo e adubação. Com base nestas informações, o
objetivo do trabalho foi de quantificar a sobrevivência e o
crescimento inicial de mudas P. latifolia em condições de
campo com variação na disponibilidade de nitrogênio,
fósforo e potássio no solo.
MATERIAL E MÉTODOS - O experimento foi
conduzido a campo, na área experimental da Universidade
Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen,
RS, localizado na latitude de 27°23'41"S, longitude de
53°25'36"O e com elevação média de 481 m do nível do
mar. O clima da região é do tipo Cfa segundo a
classificação de Köppen. A temperatura média anual é de
18ºC, com máximas no verão podendo atingir 41ºC, e
mínimas no inverno, atingindo valores inferiores a 0ºC
(Mota, 1981).
A produção das mudas de P. latifolia foi no Viveiro
Florestal, com sementes obtidas da Laboratório de
Silvicultura do Departamento de Engenharia Florestal,
campus de Frederico Westphalen, em tubetes preenchidos
com substratos. A implantação no campo foi no dia
04/10/2013, em área de vegetação predominantemente de
gramíneas rasteiras, após a abertura de sulcos espaçados
de 3 m e covas a cada 2 m, para facilitar a mistura dos
fertilizantes e do calcário. O solo da área experimental é
classificado como Nitossolo (Embrapa, 2006), com os
seguintes atributos na camada de 0 – 20 cm: 710 e 28 g
dm-3 de argila e matéria orgânica, respectivamente; 2,3 e
45,0 mg dm-3
de fósforo e potássio extraível,
respectivamente (extrator Mehlich-1) e pH(água 1:1) de 5,1.
O delineamento experimental foi em blocos ao acaso,
com quatro repetições. Em cada bloco foram utilizadas
mudas com o mesmo padrão de altura, pois as mudas
apresentavam variação de 35 a 46 cm. As unidades
experimentais foram compostas por três plantas,
totalizando 12 plantas por tratamento. Foram utilizados
oito tratamentos, usando a técnica da adição de um ou
mais nutrientes (NPK): três tratamentos com adição
individual de N, P ou K; três tratamentos com adição
combinada de NP, NK ou PK; um tratamento com adição
de NPK e um tratamento sem adição de NPK.
As doses de nutrientes no plantio foram de 40, 90 e 45
kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente. As fontes de
fertilizante foram a ureia, super fosfato triplo e cloreto de
potássio, nas doses de 51, 128 e 75 g planta-1,
respectivamente, acrescido de 190 g planta-1 de calcário
dolomítico. Os fertilizantes foram aplicados no fundo da
cova e misturados com o solo, imediatamente antes do
plantio das mudas. Em cobertura, aos 160 dias do plantio
(14/03/2014), foram aplicados 30 kg ha-1 de N, na forma
de ureia, na projeção da copa das mudas, a lanço e sem
incorporação ao solo.
Para o controle do mato-competição foram realizadas
capinas periódicas no coroamento das mudas e roçada
mecânica nas entre linhas. Para evitar a competição da
grama com as mudas, foi dessecada uma faixa de 1,0 m
com glyfosate, aos 5,0 meses do plantio. A partir do
terceiro mês do plantio (final de dezembro), início dos
períodos de estiagens e de alta temperatura, as mudas
foram irrigadas por gotejamento, pois já apresentavam
sintomas de estresse hídrico (murchamento), ocasionando
morte de algumas plantas. As plantas mortas foram
repostas com o banco de mudas do Viveiro Florestal.
Em intervalos de aproximadamente 30 dias foi
avaliada a altura das plantas, com auxílio de uma régua
graduada, e identificada as plantas mortas. No final do
período (10,6 meses) foi quantificado o incremento de
altura de plantas. Os resultados foram submetidos à
análise de variância a 5% de probabilidade de erro e as
médias de tratamentos foram comparadas pelo teste de
Tukey, por meio do programa Sisvar 5.3 (Ferreira, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO - A figura 1a mostra a
distribuição parcial das mudas de P. latifolia na área
experimental aos quatro meses do plantio, bem como o
detalhe da planta no tratamento com NPK (Figura 1b) e
sem NPK (Figura 1c). Observa-se também a faixa
dessecada com glyfosate, com o objetivo de diminuir a
competição das mudas com a vegetação de gramínea, por
água e nutrientes.
A taxa de sobrevivência das mudas de P. latifólia foi
em média de 74,5%. Observou-se que a sobrevivência
das mudas estava relacionada, principalmente, à baixa
disponibilidade hídrica e alta temperatura, em função dos
períodos de estiagem (dezembro, janeiro, fevereiro e
março), que foi minimizado com a introdução do sistema
de irrigação por gotejamento, a partir do terceiro mês do
plantio (final de dezembro/2013). Estas informações
mostram que a planta em estágio inicial de
desenvolvimento é sensível ao estresse hídrico. Lorenzi
(2002) especifica que a P. latifolia é uma planta higrófita,
ou seja, está adaptada em solos ou atmosfera com muita
umidade.
No cultivo para restauração de solo em planície do Rio
Itajaí-Acú, SC (Cambissolo Flúvico), Pozzobon et al.
(2010) observaram sobrevivência de 50 e 73 %, aos 26
meses do plantio, no espaçamento de 1 x 1 e 2 x 1 m,
respectivamente. Ressalta que neste tipo de solo o déficit
hídrico é minimizado, mas a sobrevivência das mudas
também é afetada por um conjunto de fatores abióticos
(luz, temperatura, água e nutrientes) e bióticos
(competidores, herbívoros, patógenos e simbiontes)
(Pookter & Garnier , 2007).
(a)
(b)
(c)
Figura 1. Visualização geral das mudas da Posoqueria
latifolia na área experimental (a); detalhe da planta aos 4
meses do plantio, no tratamento com NPK (b) e sem NPK
(c). UFSM, Campus de Frederico Westphalen, 2014.
A análise da variância não mostrou diferença
significativa no incremento de altura de plantas no
período de 313 dias (10,6 meses) do plantio das mudas
com as diferentes adubações e nem mesmo diferença em
relação ao tratamento sem adubação (Figura 2). O
incremento médio na altura de plantas foi de 27,3 cm,
mostrando que a espécie apresenta crescimento lento, com
média de 2,6 cm mês-1. Em um estudo com nove espécies
florestais arbóreas, Pozzobon et al. (2010) destacaram que
2
Incremento de altura (cm)
a P. latifólia foi uma das três espécies que apresentou o
menor crescimento na fase inicial de implantação.
35
DMS = 12,7 (p ≤ 0,05)ns
30
25
20
CONCLUSÕES
– As mudas de P. latifolia implantadas a campo
apresentam sobrevivência de 74,5% no período de 10,6
meses do plantio.
– O crescimento inicial das plantas de P. latifolia, no
período de 10,6 meses, avaliada pela altura de plantas,
não é afetado pela adição individual ou combinada de
nitrogênio, fósforo e potássio.
15
10
REFERÊNCIAS
5
BACKES, P; IRGANG, B. Árvores do Sul: Guia de
identificação e Interesse Ecológico. Porto Alegre, 2009. Ed.
Paisagem do Sul, 2009, 332p.
0
Sem Com Com Com Com Com Com Com
NPK N
P
K
NP NK PK NPK
Tipo de adubação
Figura 2.
Incremento de altura de plantas de
Posoqueria latifolia aos 10,6 meses do plantio em
condições de diferentes adubações. UFSM, Campus de
Frederico Westphalen, 2014. ns diferença mínima não
significativa (p ≤ 0,05) do teste de Tukey.
Quando compara o crescimento das plantas de P.
latifolia com os diferentes tipos de adubação, observa-se
que não houve diferença significativa na altura das plantas
em nenhuma das 10 avaliações realizadas (Figura 3). Isto
pode estar relacionado ao crescimento lento da espécie,
que apresentou baixa exigência em nutrientes.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio
de Janeiro: 2.ed. Embrapa Solos, 2006. 306 p.
FERREIRA, D. F. Sisvar: a computer statistical analysis system.
Ciência e Agrotecnologia, 35:1039-1042, 2011.
FURTINI NETO, A. E.; SIQUEIRA, J. O.; CURI, N.;
MOREIRA, F. M. S. Fertilização em Reflorestamento com
Espécies Nativas: In: GOLSALVES, J. L. M.; BENEDETTI, V.
(Eds). Nutrição e fertilização florestal. Piracicaba: IPEF, 2005.
p.351 - 383.
LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e
Cultivos de Plantas Arbóreas do Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Nova
Odessa. 2002.
90
MOTA, F.S. Meteorologia Agrícola. São Paulo: Editora Nobel,
1981. 376p.
Altura de plantas (cm)
80
70
60
MUNIZ, H. J. T. Colecionando Frutas. Editora: Arte e Ciência.
352p. 2009. ISBN 9788561165222
50
40
30
Sem NPK
Com N
Com P
Com K
20
Com NP
Com NK
10
Com PK
Com NPK
PORTER, H.; GARNIER, E. Ecological Significance of
Inherent Variation in Relative Growth Rate and its Components.
In: PUGNAIRE, R.; VALLADARES, F. (eds). Functional plant
ecology: 2a ed. Boca Raton: CRC, 2007. p.67-100.
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Meses após o plantio
9
10
11
Figura 3. Altura de plantas de Posoqueria latifolia no
período de 10,6 meses do plantio em condições de
diferentes adubações. UFSM, Campus de Frederico
Westphalen, 2014. Barras verticais indicam a diferença mínima
POZZOBON, M.; CURCIO, G. R.; UHLMANN, A. GALVÃO,
F.; ZIMMER, L. Restauração de Planície do Rio Itajaí-Acú, SC:
sobrevivência e crescimento inicial de espécies arbóreas nativas
por tipo de solo. Pesquisa Florestal Brasileira. Colombo, 63:171189, 2010.
significativa (p ≤ 0,05) do teste de Tukey.
Normalmente, as espécies pioneiras, de crescimento
rápido, mostram-se mais responsivas a fertilização com
NPK, em relação às secundárias, que apresentam
crescimento inicial lento, no caso da espécie em estudo
(Furtini Neto et al., 2005). Apesar disso, esperava-se
resposta, principalmente a nitrogênio e fósforo, devido
aos baixos teores de matéria orgânica e de fósforo
disponível no solo. Provavelmente, com maior tempo de
crescimento poderá ocorrer resposta aos nutrientes
aplicados. Destaca-se que o tempo de avaliação é pequeno
e a ausência de resposta a fertilização é específico para
um período de apenas 10,6 meses.
3
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