BOA ALIMENTAÇÃO, ESTÔMAGO SAUDÁVEL. Aproximadamente 25% dos adultos apresentam dores ou desconfortos estomacais. O alarmante número justifica-se nos hábitos de vida adotados por esta população: estresse, má alimentação, uso de álcool e fumo são fatores de risco para as patologias do estômago. As doenças do estômago mais comuns são a dispepsia funcional (na qual há desconforto gástrico sem alterações estruturais), a gastrite (caracterizada por inflamação visível do órgão) e a úlcera gástrica, na qual a mucosa estomacal apresenta ulcerações. Em todos os casos citados, a patogênese inclui colonização gástrica pela bactéria Helicobacter pylori, secreção deficiente de muco, inflamação da mucosa e aumento do estresse oxidativo. Tais fatores sofrem grande influência da dieta, ou seja, uma boa alimentação pode prevenir ou tratar eficientemente as doenças do estômago. Um grande mito que permeia o tratamento de úlceras e gastrites é o de que a ingestão de leites e derivados é benéfica nestas desordens. O leite até pode aliviar os sintomas em curto prazo, pois reduz a acidez estomacal, mas como é um alimento extremamente rico em proteínas, estimula ainda mais a secreção ácida, causando piora dos sintomas, minutos depois. Há também grande possibilidade de uma alergia às proteínas deste alimento aumentar a inflamação gástrica, agravando o quadro. Alimentos contendo cafeína podem predispor o estômago à infecção por H. pylori. Por isso, café, chá mate, chocolate e refrigerante podem piorar quadros de gastrites e úlceras. O sal em excesso é outro potente agressor do estômago que pode causar dano tecidual e até aumentar o risco de câncer gástrico. Sendo assim, alimentos demasiadamente salgados, além de enlatados e embutidos, são também contraindicados em doenças gástricas. Bebidas alcoólicas agridem diretamente as células estomacais, aumentando o estresse oxidativo sendo também prejudiciais ao tratamento de doenças do estômago. A ciência, porém, tem demonstrado atividade antiulcerogênica de alguns temperos naturais, como a cúrcuma e o alecrim. A piperina presente na pimenta do reino, porém, tem demonstrado aumentar a secreção ácida no estômago, tendo efeito negativo sobre o tratamento de úlceras e gastrites. Quanto à tão temida pimenta vermelha, não há indícios de que possa agravar quadros de doenças gástricas. Têm sido descritos como antiulcerogênicos também vegetais da família das brássicas, como couve e repolho, e fitoterápicos, como Aloe vera e espinheira santa (Maytenus officinalis). Como cada organismo é único, indivíduos diferentes podem apresentar reações distintas à ingestão de diferentes alimentos e assim, a tolerância individual deve ser sempre respeitada. O tratamento medicamentoso incorreto de tais patologias, visando redução dos sintomas sem focar em suas causas, pode acarretar em consequências sérias. Os medicamentos redutores da acidez estomacal podem aliviar sintomas das doenças do estômago, mas seu uso em longo prazo ou em casos desnecessários resulta em um ciclo vicioso, em que as deficiências de micronutrientes e a baixa acidez estomacal facilitam a colonização por H. pylori. Sendo assim, o paciente não consegue se livrar do medicamento ou da doença. A elevada ingestão de leite e derivados, alimentos salgados, frituras, bebidas alcoólicas e alimentos contendo cafeína contribuem fortemente para a grande prevalência de dores e desconfortos estomacais em países ocidentais. A nutrição exerce papel central na homeostase do estômago, sendo essencial para a prevenção e o tratamento de suas doenças. Déborah Leite Teixeira Nutricionista - CRN: 2976