Consinca de 15/4/2009 informou que ainda havia 90 mil pessoas sem acesso a tratamento de radioterapia. A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA PRINCIPAIS ACHADOS DO TCU A incidência de câncer tem crescido no Brasil, assim como em todo mundo, acompanhando a mudança do perfil etário da população. Atualmente, o câncer já representa a segunda maior causa de morte no Brasil, sendo responsável por cerca de 17% dos óbitos por causa conhecida. Esse crescimento tem se refletido no aumento do número de tratamentos ambulatoriais, das taxas de internações hospitalares e dos recursos públicos demandados para custear os tratamentos. Os gastos federais com tratamentos ambulatoriais e hospitalares de câncer superaram R$ 1,9 bilhões em 2010 (gráfico 1). As análises realizadas evidenciaram que a rede de atenção oncológica não está suficientemente estruturada para possibilitar aos pacientes de câncer acesso tempestivo e equitativo ao diagnóstico e ao tratamento de câncer. Levantamento da capacidade instalada e da produção da rede de oncologia desenvolvido pelo Inca estimou, para todo o território nacional, a necessidade de 375 unidades de atendimento habilitadas para tratamento de câncer. Esse levantamento evidenciou deficit nas capacidades instaladas de cirurgia, quimioterapia e radioterapia de 44, 39 e 135 unidades de atendimento, respectivamente. O aumento progressivo da demanda por diagnósticos e tratamentos torna especialmente importante que a rede de assistência oncológica esteja adequadamente estruturada e que seja capaz de possibilitar a ampliação da cobertura do atendimento, de forma a assegurar a universalidade, equidade e integralidade da atenção oncológica aos pacientes que dela necessitam. O déficit de 135 equipamentos de radioterapia se reduz a 57, caso se considerem os serviços privados que não atendem pelo SUS. Entretanto, o deficit real é ainda maior que o apontado, pois o Inca não levou em conta a interrupção na prestação dos serviços por parte de alguns estabelecimentos habilitados. Em 2010, seis equipamentos de radioterapia não apresentaram qualquer produção durante todo o ano. A partir do confronto do número de atendimentos realizados com as necessidades estimadas, constatou-se que a produção de 2010 cobriu apenas 65,9% da demanda por radioterapia. A insuficiência na oferta de serviços de radioterapia foi confirmada pelas entrevistas realizadas com médicos e gestores durante os trabalhos de campo. As maiores defasagens, superiores a 50%, foram observadas nos estados de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e no Distrito Federal, além do Amapá e Roraima, que não possuem serviço de radioterapia. A Política Nacional de Atenção Oncológica, instituída com base nesses princípios pela Portaria do Ministério da Saúde 2.439, de 8/12/2005, envolve a promoção da saúde, a prevenção e o diagnóstico do câncer, bem como o tratamento, a reabilitação e os cuidados paliativos com os pacientes. A execução da política deve se dar de forma articulada entre o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Gráfico 1 – Evolução das despesas federais com tratamentos ambulatoriais e hospitalares de oncologia. 2,5 1,92 R$ bilhões 2,0 1,5 1,0 0,81 0,94 1,04 1,21 1,32 1,42 1,48 1,69 0,5 0,0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: Datasus (Bancos de dados do SIA e SIH consultados via Programa Tabnet). OBJETIVOS DA AUDITORIA A auditoria foi realizada no Ministério da Saúde, na Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) e no Instituto Nacional de Câncer (Inca) com o objetivo de avaliar a implementação da Política Nacional de Atenção Oncológica, especialmente em relação à oferta de serviços de diagnóstico e tratamento oncológicos à parcela da população brasileira que deles necessita. As atas das reuniões realizadas no Conselho Consultivo do Inca também expressaram as carências na rede de atenção oncológica em relação à radioterapia. Na ata da reunião de 13/4/2005, constou que mais de 100 mil pessoas não tinham acesso a tratamento em função do déficit de equipamentos. Passados quatro anos, a ata do As carências estruturais encontradas levaram à falta de tempestividade na prestação da assistência oncológica, como se pôde constatar ao se comparar os dados brasileiros com padrões internacionais. Enquanto no Reino Unido, em 2007, mais de 99% dos pacientes receberam seu primeiro tratamento para câncer dentro de um mês a contar do diagnóstico, no Brasil, a análise dos dados dos atendimentos prestados pelo SUS, em 2010, indicou que apenas 15,9% dos tratamentos de radioterapia e 35,6% dos de quimioterapia iniciaram-se nos primeiros 30 dias. Além disso, o tempo médio de espera entre a data do diagnóstico e o início dos tratamentos foi de 76,3 dias no caso de quimioterapia e de 113,4 dias no caso de radioterapia. sistema de regulação de acesso de pacientes; a carência de profissionais, em especial a de médicos patologistas e médicos oncologistas; a estrutura deficiente de rede de saúde de média complexidade, responsável pela realização de procedimentos de diagnóstico oncológico; deficiências na prevenção do câncer; e o despreparo da atenção primária para rastrear precocemente os casos de câncer e encaminhá-los para a atenção especializada. As deficiências na detecção precoce do câncer podem ser vistas pelo grau de estadiamento da doença no momento do diagnóstico (estágio do câncer): análise dos dados do SIA/SUS revelou que 60,5% dos pacientes foram diagnosticados, em 2010, em estadiamento avançado (níveis 3 e 4, gráfico 2). Gráfico 2 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico. 34,1% Corroborando as informações anteriores, dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) de São Paulo do ano de 2009 também indicam grande tempo médio de espera para o início dos tratamentos: 46,6 dias, sendo que apenas 52,4% dos tratamentos foram iniciados em 30 dias. Além disso, os dados do RHC do Inca de 2007 também evidenciaram essa situação: tempo médio de espera para o início dos tratamentos de 70,3 dias e somente 38,4% dos tratamentos iniciados nos primeiros 30 dias. Pesquisa realizada pelo TCU, por correio eletrônico, com gestores, médicos oncologistas e associações de apoio a pacientes também demonstrou problemas de tempestividade para o atendimento da demanda por diagnóstico e por tratamentos de câncer. A maioria dos médicos respondentes classificou como demorados ou excessivamente demorados os tempos de espera para a realização de exames e tratamentos oncológicos. A pesquisa e entrevistas realizadas durante os trabalhos de campo evidenciaram como causas das dificuldades de acesso à assistência oncológica: a incipiência do Tabela 1 – Tempos de espera para iniciar radioterapia a contar da data de diagnóstico – comparação entre Brasil, Reino Unido e Canadá. Local Ano Fonte de dados Tratamentos iniciados em até 30 dias Mediana (dias) Média (dias) Canadá (Província de Manitoba) 2009 Canadian Institute for Health Information 100,0% 6 - Reino Unido 2007 The Royal College of Radiologists 92,0% 15 - Canadá (Província de Nova Escócia) 2009 Canadian Institute for Health Information 62,0% 21 - Brasil 2007 RHC - Inca 15,7% 77 100,6 Brasil 2009 RHC - FOSP 17,1% 80 91,3 Brasil 2010 SIA/SUS 15,9% 89 113,4 Fontes: Conforme tabela. Nota: Entre as dez províncias canadenses constantes da pesquisa do CIHI, são apresentadas apenas a de melhor e a de pior desempenho. 26,4% 23,2% 10,1% 6,2% 0 1 2 3 4 Nível Fonte: Elaboração própria (com base em dados das Apacs de quimioterapia e radioterapia). Nota: Casos diagnosticados em 2010. Além disso, mais de 80% dos oncologistas que participaram da pesquisa do TCU afirmaram que existem exames para diagnóstico e condutas terapêuticas validados pela comunidade científica e importantes para os tratamentos que não são custeados pelo SUS. Ademais, 67% dos respondentes classificaram como inadequada a sistemática atual para a atualização das condutas de oncologia. A partir dessas constatações, concluiu-se que os investimentos governamentais e os mecanismos existentes para a estruturação da rede de atenção oncológica não têm sido suficientes para atender a demanda por tratamento. Essa situação acaba prejudicando o acesso tempestivo ou mesmo inviabilizando o acesso aos tratamentos de câncer para contingentes consideráveis da população brasileira que dele necessita. Os elevados tempos de espera para a realização dos diagnósticos e dos tratamentos de câncer podem produzir consequências graves para os pacientes, como a diminuição das suas chances de cura e do tempo de sobrevida. Além disso, um tratamento realizado tardiamente pode trazer prejuízos à qualidade de vida dos pacientes durante os tratamentos. É importante considerar, ainda, as consequências para o país, como o aumento de gastos com tratamentos mais caros e prolongados para pacientes que poderiam ter sido diagnosticados com baixo estadiamento nas fases iniciais da doença, além dos custos previdenciários decorrentes do prolongado afastamento desses pacientes do trabalho. RECOMENDAÇÕES DO TCU Entre as recomendações e determinações propostas aos gestores, destacam-se: o desenvolvimento de um plano para sanar de forma efetiva a insuficiência da estrutura da rede de atenção oncológica, que preveja a ampliação da oferta de serviços até a completa solução das carências existentes; a adoção de medidas que assegurem a efetividade do RHC, que contemplem o cálculo e a divulgação de indicadores nacionais de tempestividade dos atendimentos e de sobrevida dos pacientes; o estabelecimento de sistemática para a promoção da formação dos profissionais que atuam na assistência aos pacientes de câncer; o estabelecimento de mecanismos para discussão das condutas terapêuticas mais adequadas aos pacientes oncológicos, que possibilitem a divulgação de diretrizes para os casos de câncer mais prevalentes; e a atualização periódica dos procedimentos custeados pelo SUS com a incorporação dos avanços observados na medicina validados pela comunidade científica. Missão Controlar a Administração Pública para promover seu aperfeiçoamento em benefício da sociedade. Visão Ser reconhecido como instituição de excelência no controle e no aperfeiçoamento da Administração Pública. Negócio Controle Externo da Administração Pública e da gestão dos recursos públicos federais AUDITORIA OPERACIONAL Política Nacional de Atenção Oncológica BENEFÍCIOS ESPERADOS Espera-se que a adoção dessas medidas possa contribuir para a garantia do acesso universal da população à assistência oncológica, viabilizando a melhoria das condições de tratamento e dos índices de cura dos pacientes, constituindo-se em um elemento importante para o adequado enfrentamento dos desafios que a progressão da incidência de câncer representa para a saúde pública brasileira. DELIBERAÇÕES DO TCU Acórdão nº 2843/2011 – Plenário Relator: Ministro José Jorge TC nº 031.944/2010-8 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO www.tcu.gov.br Secretaria de Fiscaliazação e Avaliação de Programas de Governo (Seprog). SAFS Qd 4 lote 1 - Anexo II - Sala 451 70042-900 Brasília - DF (61) 3316 7902 Brasília 2011