Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Análise dos Custos de Medicamentos no Tratamento das Dislipidemias em Ribeirão Preto, SP, Brasil Analysis of Dyslipidemia Treatment Drug Costs in Ribeirão Preto, São Paulo State, Brazil Artigo Original 7 Ana Paula Zambuzi Cardoso Marsola1, Maria Aparecida Soares Viana2, Maria Suely Nogueira2, Miyeko Hayashida2, Luiz de Souza3, Evandro José Cesarino1 Resumo Abstract Fundamentos: As dislipidemias representam importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, comprovado por meio de grandes estudos observacionais. Objetivo: Analisar os custos de utilização de atorvastatina, sinvastatina, bezafibrato e ciprofibrato por indivíduos pertencentes ao Programa de Medicamentos Excepcionais do Ministério da Saúde, distribuídos pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP, Brasil, em 2007. Métodos: Estudo observacional, descritivo e de caráter transversal. Casuística composta por 332 (31,11%) indivíduos sorteados aleatoriamente dentre 1067 pacientes, de ambos os sexos, encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e consultórios particulares. Os indivíduos foram entrevistados e seus prontuários médicos analisados. Resultados: Dos 312 pacientes entrevistados, 157 (51%) eram do sexo masculino. A faixa etária variou de 15-63 anos (62,0±12,23 anos). Fizeram uso de estatinas 227 (73,22%) pacientes; 54 (17,42%) de fibratos e 31 (10%) pacientes formavam o grupo-controle. O tratamento do grupo atorvastatina apresentou o maior custo (R$994,69 paciente/ano), já no grupo da sinvastatina (R$337,61 paciente/ano) houve maiores gastos com exames laboratoriais e complementares. No grupo dos fibratos, a categoria de medicamentos foi a que gerou maior gasto em ambos os grupos. Os pacientes do grupo ciprofibrato apresentaram mais necessidade de exames laboratoriais e complementares em relação ao grupo bezafibrato. Conclusões: O tratamento com atorvastatina foi o mais oneroso, entretanto, os pacientes apresentaram menor Background: Dyslipidemias are a major risk factor for the development of cardiovascular diseases, proven through large-scale observational studies. Objective: To analyze the costs of taking atorvastatin, simvastatin, bezafibrate or ciprofibrate for individuals covered by the Exceptional Medicines Program run by the Ministry of Health at the Hospital das Clínicas in Ribeirão Preto, São Paulo State, Brazil, in 2007. Methods: This is an observational, descriptive crosssection study with a sample consisting of 332 (31.11%) persons selected randomly from among 1067 male and female patients referred by the Unified National Health System (SUS) and private clinics, who were interviewed and their medical records were examined. Results: Of the 312 patients interviewed, 157 (51%) were male, between 15 and 63 (62.0±12.23) years old; 227 (73.22%) patients were taking statins and 54 (17.42%) were taking fibrates; 31(10%) formed the control group. The atorvastatin group presented the highest treatment cost (R$ 994.69 patient/year), while the simvastatin group (R$337.61 patient/year) spent more on laboratory examinations and supplementary tests. In the fibrates group, the drugs category resulted in higher expenditures for both groups. Patients in the ciprofibrate group needed more laboratory examinations and supplementary tests than the bezafibrate group. Conclusions: Although treatment with atorvastatin was the most expensive, these patients presented fewer cardiovascular events and procedures, in addition to lower outlays on laboratory examinations and supplementary tests. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP - Brasil Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP - Brasil 3 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP - Brasil 1 2 Correspondência: Ana Paula Zambuzi Cardoso Marsola E-mail: [email protected] Rua Rio Beni, 77 - Vila Albertina - 14060-220 - Ribeirão Preto, SP - Brasil Recebido em: 09/04/2012 | Aceito em: 31/07/2012 313 Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original ocorrência de eventos e procedimentos cardiovasculares, além do menor custo com exames laboratoriais. Palavras-chave: Custos de medicamentos; Anticolesterolemiantes/economia; Dislipidemias/terapia; Economia da saúde Keywords: Drug Costs; Anticholesteremic agents/ economics; Dyslipidemias/therapy; Health economics Introdução saúde. Assim sendo, a introdução dos estudos farmacoeconômicos, no cenário da saúde, tem permitido incorporar um novo critério – o econômico – na escolha de alternativas terapêuticas8. As dislipidemias, em especial as hiperlipidemias, aumentam a formação da placa aterosclerótica, e podem causar alterações do sistema de hemostasia, induzindo a formação de trombos que irão ocluir as artérias, interrompendo o fluxo sanguíneo e causando morte tecidual1 . Dados observados na Campanha Nacional contra o Colesterol de 2002 revelam que 13% da população adulta brasileira apresenta níveis de colesterol total (CT) >240mg/dl 2 , o que corresponderia hoje aproximadamente a 14 milhões de pessoas com hipercolesterolemia que seriam indivíduos para tratamento com estatinas. No Estado de São Paulo, esse número chegaria a 3,2 milhões de pacientes. As dislipidemias, na maioria das vezes, não provocam sintomas e, possivelmente por isso, os indivíduos portadores desse distúrbio metabólico não procuram o SUS. A estratificação de risco deve continuar sendo utilizada para discernir os pacientes que mais se beneficiariam com a utilização da medicação, ou seja, aqueles com manifestações clínicas de doença isquêmica do coração (DIC), pois apresentam risco elevado de desenvolver evento coronariano em 10 anos, ou acima de 20% de acordo com o escore de risco de Framingham, mesmo sendo assintomáticos3-5. A economia da saúde, utilizando-se de instrumentos de avaliação, concilia necessidades de ordem técnica, resultados clínicos e custos de intervenções terapêuticas, com o objetivo de identificar entre duas ou mais alternativas, aquela mais adequada a um grupo de indivíduos, instituição e sociedade6. O objetivo deste estudo foi analisar os custos da utilização de atorvastatina (Atorv), sinvastatina (Sinv), bezafibrato (Bezaf) e ciprofibrato (Ciprof) por indivíduos pertencentes ao Programa de Medicamentos Excepcionais do Ministério da Saúde, distribuídos pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP em 2007. Metodologia Trata-se de um estudo observacional, descritivo e de caráter transversal. A casuística foi composta por indivíduos de ambos os sexos residentes na cidade de Ribeirão Preto, SP, encaminhados pelo SUS e consultórios particulares que fizeram uso de Sinv, Atorv, Bezaf ou Ciprof em 2007, pertencentes ao Programa de Medicamentos Excepcionais do Ministério da Saúde, distribuídos pela Farmácia Ambulatorial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP (HCFMRP-USP). Os indivíduos foram identificados através da Lista de Medicamentos Excepcionais (LME) e foram entrevistados para a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e obtenção de dados através de ficha epidemiológica. Na avaliação econômica global de um medicamento distingue-se a avaliação clínica, baseada na eficácia ou efetividade, e a avaliação farmacoeconômica, baseada na eficiência, em que se inclui o cálculo de custos7. A casuística foi estratificada em três grupos: a) pacientes que durante o ano de 2007 utilizaram estatinas, subdivididos em grupo Atorv e grupo Sinv; b) pacientes que utilizaram fibratos, subdivididos em grupo Bezaf e grupo Ciprof; c) pacientes do grupocontrole (grupo Ctrl) que não fizeram uso de nenhum hipolipemiante no período estudado. A farmacoeconomia representa instrumento de apoio para a tomada de decisões, que envolvem avaliação e direcionamento de investimentos baseados numa distribuição mais racional de recursos, permitindo aos profissionais conciliarem necessidades terapêuticas com possibilidades de custeio individual, das empresas provedoras de serviços ou de sistemas de Os pacientes do grupo-controle, devido à dificuldade de encontrá-los ao acaso, foram selecionados dentro da amostra total, os quais suspenderam, voluntariamente ou por orientação médica, o tratamento com hipolipemiantes, apresentando, na maioria das vezes, níveis lipídicos elevados ou no limite superior de normalidade. 314 Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Os critérios de inclusão e exclusão foram os mesmos que condicionam o fornecimento dos medicamentos excepcionais pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e Ministério da Saúde para pacientes com distúrbios do metabolismo de lipoproteínas. Sendo assim os critérios de inclusão foram: a) pacientes pós-infarto agudo do miocárdio (pósIAM) com LDL >100mg/dL; b) pacientes com nível de colesterol LDL>130mg/dL após três meses de tratamento não farmacológico (dieta e exercícios físicos) e pelo menos uma das seguintes condições: DIC, comprovada por teste ergométrico (TE) ou cintilografia miocárdica (CM), IAM prévio, revascularização miocárdica prévia ou coronariografia com lesões >30% de obstrução; doença aterosclerótica em outros leitos arteriais: vascular periférica com claudicação intermitente ou obstrução ao ecoDoppler >50%, aneurisma de aorta abdominal e/ou doença carotideana sintomática; diabetes mellitus (DM); síndromes genéticas: hipercolesterolemia familiar e hiperlipidemia familiar combinada; escore absoluto de Framingham elevado (≥9 pontos para homens e ≥15 pontos para mulheres); c) pacientes com colesterol LDL>160mg/dL após seis meses de tratamento não farmacológico (dieta e exercícios físicos) e pelo menos uma das seguintes condições: escore absoluto de Framingham elevado (≥6 pontos para homens e ≥10 pontos para mulheres); pelo menos dois dos seguintes fatores: idade >55 anos, hipertensão arterial sistêmica (HAS), HDL <40mg/dL, tabagismo (somente na presença de retardo mental ou distúrbio psiquiátrico grave). Os critérios de exclusão foram: a) gestante ou situações em que a gravidez não pode ser evitada; b) lactação; c) doença hepática ativa ou crônica; d) elevação persistente das transaminases; e) história prévia de hipersensibilidade a estatinas e fibratos; f) miosites ou polimiosites; g) comprovada incapacidade de adesão a programas de exercícios, exceto casos de limitação física ou mental; h) neoplasias ou doenças terminais com sobrevida estimada menor que dois anos; i) hipotireoidismo não tratado; j) etilismo ou abuso de drogas atual; l) continuidade do tabagismo. Os dados referentes aos exames laboratoriais e complementares foram obtidos através de análise dos prontuários, sendo considerados: CT, HDL-C, LDL-C, triglicérides (TG), creatinofosfoquinase (CPK), aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) requeridas trimestralmente no momento da dispensação, realizadas durante o ano de 2007. Os procedimentos médico-cirúrgicos decorrentes de alterações isquêmicas cardíacas, obtidos por meio da Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto ficha epidemiológica e pela análise dos prontuários dos pacientes foram os seguintes: estudo hemodinâmico ou cateterismo cardíaco, angioplastia com stent simples ou duplo ou através de balão, ocorrência de infarto agudo do miocárdio (IAM), angina pectoris, revascularização miocárdica, insuficiência cardíaca (IC), aneurisma de artérias, acidente vascular encefálico (AVE) e aterosclerose. Os exames complementares analisados, obtidos nos prontuários foram os seguintes: eletrocardiograma (ECG), teste ergométrico (TE), cintilografia miocárdica (CM), cineangiocoronariografia (Cat), ecocardiograma (Eco), RX de tórax posteroanterior (PA) e outros eventuais exames como ressonância magnética (RM), ultrassom de carótida ou abdominal e tomografia computadorizada (TC). O trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP sob o nº 2082/2008. Realizou-se a estruturação do banco de dados utilizando-se o programa EPI-INFO versão 6.04 para análise detalhada dos dados e, eventualmente, através do programa Excel 2003 para análises mais simples. Resultados Perfil epidemiológico dos pacientes entrevistados Foram entrevistados 312 pacientes, utilizando-se a ficha epidemiológica e analisados os respectivos prontuários. Do total de participantes da pesquisa, 246 (79,35%) apresentaram informações suficientes e seguras para a realização da análise dos custos do tratamento, visto que para tal era necessário obter todos os quatro últimos valores de exames laboratoriais e complementares além da quantidade total dos medicamentos-alvo deste estudo, utilizados no ano de 2007. A faixa etária dos 312 pacientes analisados variou de 15-63 anos (62±12,23 anos; mediana=63). Observou-se prevalência do sexo masculino (51%). A maioria dos indivíduos era de cor branca (66,7%), seguidos pela cor parda/mulata (19,20%), preta (12,30%), amarela/oriental (1,40%) e indígena (0,5%), estando de acordo com a constituição étnica da população brasileira9. Dos 312 pacientes analisados, 227 (73,22%) foram incluídos no grupo das estatinas (Atorv ou Sinv), 54 (17,42%) no grupo dos fibratos (Bezaf ou Ciprof) e 31 (10%) no grupo-controle. 315 Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Entre todos os hipolipemiantes, Sinv foi o mais utilizado com 39% (n=121), seguido de Atorv, 34% (n=104). No grupo dos fibratos, o Bezaf foi o mais utilizado com 9% (n=29), seguido do Ciprof com 8% (n=25). O grupo-controle representou 10% (n=31). Dos 312 pacientes, 194 (62,5%) eram casados/ amasiados; 146 (47,09%) declararam ser aposentados e 119 (38,38%) informaram ter renda familiar média mensal variando de um a 2,5 salários mínimos (de R$415,00 a R$1037,05). Custo da terapia medicamentosa dos pacientes entrevistados Em relação aos 220 pacientes estudados no que diz respeito à terapia medicamentosa, o medicamento mais utilizado dentre as estatinas foi a Sinv com 32.145 comprimidos distribuídos, sendo a apresentação de 10mg a mais dispensada (74,10%) (Tabela 1). Já em relação à Atorv, foram dispensados 23.405 comprimidos, sendo a apresentação de 20mg a mais utilizada (76,35%). Com relação aos custos gerados pela dispensação desses comprimidos, a Atorv apresentou o maior gasto para o sistema público (R$69.155,40), seguido da Sinv que acarretou um custo menor (R$2.681,85). O custo total com a dispensação das estatinas ficou em R$71.837,25. No grupo dos fibratos, o Bezaf foi o medicamento mais dispensado com 7.080 comprimidos, sendo a apresentação de 200mg a mais utilizada (76,27%), com um gasto total de R$3.399,60. Já para o grupo Ciprof foram dispensados 2.920 comprimidos a um custo de R$2.774,00. Portanto, o gasto total com os comprimidos de fibratos dispensados foi R$6.173,60. Com a dispensação de 65.550 comprimidos de hipolipemiantes para o tratamento de 220 pacientes durante o ano de 2007, calcula-se uma média de consumo de 298 comprimidos por paciente/ano, sendo o gasto gerado por essa dispensação, R$78.010,85, observando-se um custo médio de R$354,59 por paciente/ano. Custo dos diagnósticos clínicos (exames laboratoriais e complementares) Para a análise dos exames laboratoriais e complementares foram considerados 246 pacientes, incluído o grupo-controle (Tabelas 2 e 3). Foram realizados 1.565 exames laboratoriais para o grupo Sinv e 1.154 para o grupo Atorv. Calcula-se um total de 2.719 exames laboratoriais realizados, sendo 57,55% no grupo Sinv, correspondendo a 16,47 exames por paciente/ano neste grupo e 14,4 exames por paciente/ano no grupo Atorv (Tabela 2). Foram realizados 330 exames complementares, sendo 69,09% (n=228) pelo grupo Sinv, representando 2,4 exames por paciente/ano neste grupo e 1,2 exames por paciente/ano no grupo Atorv. Os custos totais relacionados aos exames laboratoriais para o grupo Sinv foram R$4.559,66 e para os exames complementares, R$ 5.205,09. Já para o grupo Atorv esses custos foram R$3.360,09 e R$2.455,16, respectivamente. Os custos totais no grupo Sinv representaram, em relação aos exames laboratoriais e complementares, R$47,99 e R$54,79 por paciente/ano, respectivamente. Já no grupo Atorv os custos por paciente/ano foram R$42,00 e R$30,69, respectivamente. Tabela 1 Quantificação e custos dos medicamentos utilizados pelos pacientes estudados Medicamentos Dosagem (mg) Quantidade (comprimidos) Valor unitário (R$) Valor total (R$) Atorvastatina 10 5.535 1,84 10.184,40 Atorvastatina 20 17.870 3,30 58.971,00 Sinvastatina 10 23.820 0,07 1.667,40 Sinvastatina 20 3.645 0,07 255,15 Sinvastatina 40 4.650 0,16 744,00 Sinvastatina 80 30 0,51 15,30 Bezafibrato 200 5.400 0,25 1.350,00 Bezafibrato 400 1.680 1,22 2.049,60 Ciprofibrato 100 2.920 0,95 2.774,00 65.550 78.010,85 Total 316 Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Tabela 2 Quantificação e custos dos exames laboratoriais e complementares realizados pelo grupo de pacientes que utilizou estatinas Exames (n) Sinvastatina (n=95) Valor unitário Valor total n (R$) (R$) Laboratoriais CT (255) 1,85 Atorvastatina (n=80) Valor unitário Valor total (R$) (R$) 471,75 185 1,85 342,25 LDL-C (249) 3,51 873,99 183 3,51 642,33 HDL-C (254) 3,51 891,54 185 3,51 649,35 TG (252) 3,51 884,52 184 3,51 645,84 AST (195) 2,01 391,95 143 2,01 287,43 ALT (167) 2,01 335,67 129 2,01 259,29 CPK (193) 3,68 710,24 145 3,68 533,6 Complementares Eletro (125) 5,15 643,75 47 5,15 242,05 Eco (28) 30,72 860,16 19 30,72 583,68 TE (13) 30,00 390,00 13 30,00 390,00 CM (8) 352,81 2.822,48 3 352,81 1.058,43 RX de PA (54) 9,05 488,70 20 9,05 181,00 CT=colesterol total; LDL-C=low density lipoprotein; HDL-C=high density lipoprotein; TG=triglicérides; AST=aspartato aminotransferase; ALT=alanina aminotransferase; CPK=creatinofosfoquinase; Eletro=eletrocardiograma; Eco=ecocardiograma; TE=teste ergométrico; CM=cintilografia miocárdica; RX de PA=raio X posteroanterior Tabela 3 Quantificação e custos dos exames laboratoriais e complementares realizados pelo grupo de pacientes que utilizou fibratos e pelo grupo-controle Exames (n) Bezafibrato (n=22) Valor Valor n unitário (R$) total (R$) Ciprofibrato (n=23) Valor Valor n unitário (R$) total (R$) Controle (n=26) Valor Valor unitário (R$) total (R$) Laboratoriais CT (49) 1,85 90,65 61 1,85 112,85 57 1,85 105,45 LDL-C (40) 3,51 140,40 55 3,51 193,05 53 3,51 186,03 HDL-C (49) 3,51 171,99 60 3,51 210,60 57 3,51 200,07 TG (49) 3,51 171,99 60 3,51 210,60 57 3,51 200,07 AST (35) 2,01 70,35 49 2,01 98,49 33 2,01 66,33 ALT (34) 2,01 68,34 44 2,01 88,44 32 2,01 64,32 CPK (35) 3,68 128,80 40 3,68 147,20 31 3,68 114,08 Complementares 4 5,15 20,60 28 5,15 144,20 Eco (2) 30,72 61,44 3 30,72 92,16 7 30,72 215,04 TE (0) 30,00 0 0 30,00 0 2 30,00 60,00 CM (1) 352,81 352,81 3 352,81 1.058,43 2 352,81 705,62 9,05 9,05 5 9,05 45,25 10 9,05 90,50 RX de PA (1) 15,45 Eletro (3) 5,15 CT=colesterol total; LDL-C=low density lipoprotein; HDL-C=high density lipoprotein; TG=triglicérides; AST=aspartato aminotransferase; ALT=alanina aminotransferase; CPK=creatinofosfoquinase; Eletro=eletrocardiograma; Eco=ecocardiograma; TE=teste ergométrico; CM=cintilografia miocárdica; RX de PA=raio X posteroanterior No grupo dos fibratos, foram realizados 281 exames laboratoriais para o grupo Bezaf e 369 para o grupo Ciprof. Calcula-se um total de 660 exames realizados, sendo 55,9% no grupo Ciprof, correspondendo a 13,2 exames por paciente/ano no grupo Bezaf e 16,0 exames por paciente/ano no grupo Ciprof (Tabela 3). Realizou-se um total de 22 exames complementares, 317 Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original sendo 68,18% (n=15) pelo grupo Ciprof, representando 0,33 exames por paciente/ano no grupo Bezaf e 0,65 exames por paciente/ano no grupo Ciprof. Foram analisados o total de procedimentos e os custos dos 201 pacientes referentes ao ano de 2007, todos pagos pelo SUS. Nesta etapa não houve realização de procedimentos referentes aos pacientes dos grupos Bezaf e Ciprof (Tabela 4). Os custos totais relacionados aos exames laboratoriais para o grupo Bezaf foram R$842,52 e para os exames complementares de R$ 438,75. Já para o grupo Ciprof, os custos foram R$1.061,23 e R$1.216,44, respectivamente. Em relação ao número de procedimentos realizados por paciente/ano, encontrou-se para o grupo Sinv, 0,32; para o grupo Atorv, 0,06; e para o grupo Ctrl, 0,15 procedimentos. Os custos totais no grupo Bezaf representaram, em relação aos exames laboratoriais e complementares, R$38,29 e R$20,89 por paciente/ano, respectivamente. Já no grupo Ciprof os custos por paciente/ano foram R$46,14 e R$52,88, respectivamente. Os custos dos procedimentos realizados por paciente/ ano foram R$206,59 para o grupo Sinv, R$57,56 para o grupo Atorv e R$73,21 para o grupo Ctrl. Calcula-se ainda que os gastos com procedimentos cardiovasculares ocorridos no grupo Sinv tenha sido cerca de quatro vezes superior ao grupo Atorv. Em relação ao grupo Ctrl, foram realizados 320 exames laboratoriais, representando 12,3 exames por paciente/ ano com um custo total de R$936,35, correspondendo a R$36,01 por paciente/ano. Custo geral do tratamento das dislipidemias Em relação aos exames complementares, foram realizados 49 exames que representam 1,88 por paciente/ano, com um custo total de R$1.215,36, correspondendo a R$ 46,74 por paciente/ano. Os gastos do SUS para tratamento das dislipidemias por paciente/ano foram: R$337,61 no grupo Sinv, R$994,69 no Atorv, R$212,76 no Bezaf, R$219,63 no Ciprof e R$155,97 no grupo Ctrl, lembrando que no grupo Ctrl não foram contabilizados os custos da categoria medicamentos (Tabela 5). Custo dos procedimentos relacionados às complicações cardiovasculares Na Tabela 5 observa-se a porcentagem de cada categoria de custo e sua relação com as demais, totalizando 100%. Nesta análise, consideraram-se somente os procedimentos que necessitaram de algum tipo de intervenção médica, internação ou emergência. O custo do grupo Atorv foi 2,5 vezes superior ao grupo Sinv, sendo a categoria de procedimentos responsável por 61% dos custos no grupo Sinv, e a categoria de medicamentos responsável por 86,91% dos custos no grupo Atorv. Os custos dos procedimentos analisados neste estudo basearam-se na identificação pelo código da Tabela Unificada do SUS10. Tabela 4 Quantificação e custos dos procedimentos realizados pelo grupo de pacientes que utilizou estatinas e pelo grupocontrole Procedimentos Sinvastatina (n=95) (n) Valor Valor n unitário (R$) total (R$) Cateterismo (8) 614,72 4917,76 Atorvastatina (n=80) Valor Valor n unitário (R$) total (R$) 2 614,72 1229,44 Controle (n=26 ) Valor Valor unitário (R$) total (R$) 1 614,72 614,72 Angioplastia (4)1575,72 6302,88 2 1575,72 3151,44 0 1575,72 0 IAM (6) 2779,20 0 463,20 0 0 463,20 0 463,2 AI (6) 224,07 1344,42 1 224,07 224,07 1 224,07 224,07 IC (2) 635,87 1271,74 0 635,87 0 1 635,87 635,87 AVE (3) 428,87 1286,61 0 428,87 0 1 428,87 428,87 Aneurismas (1) 266,26 266,26 0 266,26 0 0 266,26 0 1457,57 0 1457,57 0 0 1457,57 19626,44 5 4604,95 4 RVM (1) Total (31) 1457,57 0 1903,53 IAM=infarto agudo do miocárdio; AI=angina instável; IC=insuficiência cardíaca; AVE=acidente vascular encefálico; RVM=revascularização miocárdica 318 Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto Tabela 5 Custos dos tratamentos com hipolipemiantes dos indivíduos estudados Categorias de custos Sinvastatina (n=95) R$ % Atorvastatina (n=80) R$ % Medicamentos 2.681,85 8,36 69.155,40 Exames laboratoriais 4.559,66 14,22 3.360,09 Bezafibrato (n=22) R$ % 86,91 3.399,60 72,63 Ciprofibrato (n=23) R$ % Controle (n=26) R$ % 2.774,00 54,91 0 0,00 4,22 842,52 18,00 1.061,23 21,01 936,35 23,09 Exames complementares 5.205,09 16,23 2.455,16 3,09 438,75 9,37 1.216,44 24,08 1.215,36 29,97 Procedimentos 19.626,44 61,19 4.604,95 5,79 0 0,00 0 0,00 1.903,53 46,94 Total 32.073,04 100 79.575,60 100 Observa-se que o grupo Atorv necessitou de uma quantidade muito menor de exames laboratoriais e complementares e também houve menor ocorrência de procedimentos cardiovasculares, diferentemente do grupo Sinv que apresentou um gasto menor com medicamentos. Em contrapartida, seus usuários necessitaram de uma quantidade maior de exames (laboratoriais e complementares) e necessidade de mais realização de procedimentos cardiovasculares. No grupo dos fibratos, a categoria de medicamentos foi a que gerou maior gasto em ambos os grupos (Bezaf e Ciprof). Os pacientes do grupo Ciprof apresentaram maior necessidade de exames laboratoriais e complementares em relação ao grupo Bezaf. Já para o grupo Ctrl, a categoria de procedimentos foi a de maior impacto financeiro. Discussão Constatou-se no presente estudo a prevalência de população idosa. O estudo de Framingham mostrou que o risco cumulativo de DIC aumenta abruptamente após entre 60 anos e 90 anos quando a partir daí o risco cardiovascular atinge um platô11. A incidência de novos eventos de DIC é maior entre pessoas ≥65 anos e esse grupo é responsável por 83% das mortes por DIC12. A análise realizada no presente trabalho demonstrou que o custo com o grupo Atorv foi mais elevado que o grupo Sinv, fato este que pode ser atribuído ao alto custo do medicamento Atorv. A não realização de análise de custo-efetividade (ACE) impossibilita a comparação entre as duas estatinas para a verificação de qual estatina seria mais custoefetiva. Entretanto diversos estudos13,14 demonstram que a Atorv apresenta a melhor ACE quando comparado com as demais estatinas existentes no mercado, com exceção da rosuvastatina que é a estatina mais recentemente lançada no mercado, sendo ainda foco de estudos. 4.680,87 100 5.051,67 100 4.055,24 100 Estudo15 realizado na Espanha demonstrou que, após seis meses, níveis ótimos de LDL-C foram alcançados em 62,5%, 45,5%, 43,8%, e 40,5% dos pacientes tratados com Atorv, Sinv, fluvastatina (Fluv) e pravastatina (Prav), respectivamente. A ACE realizada apresentou o melhor resultado para a Atorv, seguido de Fluv e Sinv, ficando a Prav como a pior opção. Assim, podese inferir que o maior dispêndio financeiro com a compra do medicamento Atorv, seria ainda mais vantajoso quando comparado aos gastos com todos os possíveis procedimentos cardiovasculares que forem realizados futuramente, associados ainda a exames laboratoriais e complementares. O estudo MIRACL16 realizou ACE com a Atorv em pacientes com síndrome coronariana aguda, ocorrendo significativa redução na ocorrência de eventos cardiovasculares e demonstrou que 31-86% do custo com a aquisição do medicamento Atorv foi compensado pela redução no custo associado aos eventos cardiovasculares. A Atorv tem demonstrado efeitos benéficos em vários desfechos cardiovasculares, com benefícios em pacientes com risco moderado a alto, associados a um baixo custo. A ACE verificou uma proporção substancial do custo da aquisição da Atorv compensada pela redução nos gastos com cuidados médicos associados aos eventos cardiovasculares17. Em relação ao grupo dos fibratos, não houve diferenças importantes a serem consideradas entre os medicamentos analisados com relação aos custos. O grupo-controle se apresentou como um viés de seleção, pois representou um grupo não aderente ou com eventos adversos aos medicamentos que motivaram suspensão da terapia medicamentosa ou ainda indivíduos que nem chegaram a iniciar o uso dessa terapia. A presença de outras comorbidades preexistentes nos indivíduos do estudo, como por exemplo, diabetes, distúrbios metabólicos, doenças cardiovasculares congênitas e outros fatores ambientais e sociais 319 Rev Bras Cardiol. 2012;25(4):313-321 julho/agosto poderiam desencadear o aparecimento de doenças cardiovasculares e ocasionar a necessidade de tratamento envolvendo determinados exames laboratoriais e complementares que poderiam atuar como viés ao presente estudo. É importante ressaltar que este estudo se caracteriza por ser descritivo e de caráter transversal, não sendo possível inferir causalidade aos resultados. Assim também não se trata de ensaio clínico que seria o delineamento adequado para questões clínicas. Todos os resultados são apenas descrições dos achados do estudo. Conclusões Observou-se que a população idosa foi a mais prevalente neste estudo. A Sinv foi a estatina e o Bezaf o fibrato mais utilizados pelos pacientes usuários do programa de Medicamentos Excepcionais do Ministério da Saúde, dispensados na Farmácia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP. O grupo Atorv acarretou maior custo de tratamento em relação ao grupo Sinv. Os achados demonstram que os indivíduos estudados constituem uma população de alto risco cardiovascular para a qual os medicamentos prescritos estão corretamente indicados. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Pró-Reitoria da Universidade de São Paulo. Vinculação Acadêmica Este artigo representa parte da dissertação de Mestrado de Ana Paula Zambuzi Cardoso Marsola pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, USP (FCFRPUSP). 320 Marsola et al. Análise dos Custos de Estatinas e Fibratos Artigo Original Referências 1. Miller GJ. Lipoproteins and the haemostatic system in atherothombotic disorders. Baillieres Clin Haematol. 1994;7(3):713-32. 2. Martinez TL, Santos RD, Armaganijan D, Torres KP, Loures-Vale A, Magalhães ME, et al. Campanha nacional de alerta sobre o colesterol elevado. Determinação do nível de colesterol de 81.262 brasileiros. Arq Bras Cardiol. 2003;80(6):631-4. 3. Lerner DJ, Kannel WB. Patterns of coronary heart disease morbidity and mortality in the sexes: a 26-year follow-up of the Framingham population. Am Heart J. 1986;111(2):383-90. 4. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories. 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