3. Saberá como se constrói o índice de preços ao consumidor (IPC) Cópia dos cap. 23 e 24 do: MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Ed. Compacta. São Paulo: Cengage Learning, 2005. 23 CALCULANDO O CUSTO DE VIDA Em 1931, quando a economia dos Estados Unidos estava mergulhada na Grande Depressão, o famoso jogador de beisebol Babe Ruth ganhou US$ 80 mil. Na época, esse salário era extraordinário, mesmo para um astro do esporte. De acordo com uma história, um repórter perguntou a Ruth se ele achava certo ganhar mais do que o presidente Herbert Hoover cujo salário era de US$ 75 mil. Ruth respondeu, "Meu ano foi melhor". Atualmente o jogador de beisebol médio ganha mais de dez vezes o salário de Ruth em 1931, e os melhores jogadores chegam a ganhar cem vezes esse valor. À primeira vista, este fato pode levá-lo a pensar que o beisebol se tornou muito mais lucrativo nas últimas seis décadas. Mas, como todos sabem, os preços dos bens e serviços também têm subido. Em 1931, uma moeda de cinco centavos pagaria uma casquinha de sorvete e 25 centavos seriam suficientes para pagar um ingresso de cinema. Como os preços eram muito mais baixos no tempo de Babe Ruth do que na atualidade, não fica muito claro se Ruth desfrutava de um padrão de vida mais alto ou mais baixo do que os jogadores de hoje. No capítulo anterior vimos como os economistas usam o produto interno bruto (PIB) para avaliar a quantidade de bens e serviços que a economia produz. Este capítulo examina como os economistas medem o custo de vida. Para comparar o salário de Babe Ruth de US$ 80 mil com os salários atuais precisamos encontrar uma forma de transformar cifras monetárias em medidas signi- Verá por que o IPC é uma medida imperfeita do custo de vida Comparará o IPC e o dejlntor do PIB e1'1.quanto medidas do nível geral de preços Verá como usar um índice de preços para comparar quantias em épocas diferentes Aprenderá a diferença entre taxas de juros nominais e reais 514 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS ficativas de poder aquisitivo. Esta é, exatamente, a tarefa de um indicador denominado índice de'preços ao consumidor. Depois de ver como é construído o Índice de preços ao consumidor, veremos como podemos usá-lo para comparar valores monetários de diferentes épocas. O índice de preços ao consumidor é usado para monitorar mudanças do custo de vida ao longo do tempo. Quando o índice de preços ao consumidor aumenta, a família típica tem que gastar mais dólares para manter o mesmo padrão de vida. Os economistas empregam o termo inflação para descrever uma situação em que o nível geral de preços da economia estáaumentando. A taxa de inflação é a variação percentual do nível de preços em relação a um período anterior. Como veremos nos próximos capítulos, a inflação é um dos aspectos do desempenho macroeconômico observado atentamente e é uma variável-chave na orientação da política macroeconômica. Este capítulo fornece um arcabouço para essa análise mostrando como os economistas medem a taxa de inflação usando o índice de preços ao consumidor. o íNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR índice de preços ao consumidor (IPC) medida do custo geral dos bens e serviços comprados por um consumidor típico O índice de preços ao consumidor (IPC) é uma medida do custo geral dos bens e serviços comprados por um consumidor típico. Todos os meses o Escritório de Estatísticas do Trabalho que é parte do Departamento [Ministério] do Trabalho calcula e divulga o índice de preços ao consumidor. Nesta seção veremos como se calcula o índice de preços ao consumidor e que problemas surgem em sua medição. Veremos também a relação entre este índice e o deflator do PIB, outra medida do nível geral de preços que vimos no capítulo anterior. COMO É CALCULADO O íNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR Quando o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula o índice de preços ao consumidor, ele utiliza dados relativos aos preços de milhares de bens e serviços. Para ver exatamente como estas estatísticas são construídas, imaginemos uma economia simples em que os consumidores só compram dois produtos - cachorros-quentes e hambúrgueres. A Tabela 23-1 mostra os cinco passos seguidos pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho. 1. Determinar a cesta. O primeiro passo para o cálculo do índice de preços ao consumidor é determinar quais os preços mais importantes para o consumidor típico. Se o consumidor típico compra mais cachorros-quentes do que hambúrgueres, então o preço do cachorro-quente é mais importante do que o preço do hambúrguer e, portanto, tem que ter um peso maior no cálculo do custo de vida. O Departamento de Estatísticas do Trabalho determina estes pesos fazendo pesquisas junto aos consumidores e obtendo a cesta de bens e serviços que o consumidor típico compra. No exemplo da tabela, o consumidor típico compra uma cesta de 4 cachorros-quentes e 2 hambúrgueres. 2. Pesquisar os preços. O segundo passo no cálculo do índice de preços ao consumidor é o levantamento dos preços de cada um dos bens e serviços que compõem a cesta em cada ponto do tempo. A tabela mostra os preços de cachorro-quente e de hambúrguer em três anos diferentes. CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO Df VIDA Sl S 4. Calcular o custo da cesta. O terceiro p;;l;SSO é utilizar os dados de preços para calcular o custo da cesta de bens e serviços em diferentes momentos. A tabela mostra este cálculo para cada um dos três anos. Observe que neste cálculo apenas os preços variam. Ao manter fixa a cesta de bens (4 cachorros-quentes e 2 hambúrgueres), está se isolando os efeitos das variações de preço do efeito de qualquer alteração de quantidade que possa estar ocorrendo ao mesmo tempo. 5. Escolher um ano-base e calcular o índice. O quarto passo é determinar qual será o ano-base, que é o padrão em relação ao qual os demais anos serão confrontados. Para calcular o índice, o preço da cesta de bens e serviços em cada ano é dividido pelo preço da cesta no ano-base e o resultado é multiplicado por 100. O número obtido por este processo é o índice de preços ao consumidor. PASSO 1: PESQUISAR os CONSUMIDORES PARA DETERMINAR UMA CESTA DE BENS FIXA 4 cachorros-quentes, 2 hambúrgueres PASSO 2: LEVANTAR O PREÇO DE CADA BEM A CADA ANO ANO 2001 2002 2003 PREÇO DO CACHORRO-QUENTE EM US$ PREÇO DO HAMBÚRGUER EM US$ 2 1 3 2 4 3 PASSO 3: CÁLCULQ DO CUSTO DA CESTA DE BENS A CADA ANO ANO CUSTO DA CESTA 2001 (US$ 1 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 2 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 8 2002 (US$ 2 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 3 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 14 2003 (US$ 3 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 4 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 20 PASSO 4: ESCOLHA DO ANO-BASE (2001) E CÁLCULO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR A CADA ANO ANO 2001 2002 2003 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (US$ 8/US$ 8) x 100 = 100 (US$ 14/US$ 8) x 100 = 175 , (US$ 20/US$ 8) x 100 = 250 PASSO 5: USO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR PARA CÁLCULO DA TAXA DE INFLAÇÃO EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR ANO TAXA DE INFLAÇÃO 2002 (175 -100)/100 x 100 =75% 2003 (250 -175)/175 x 100 = 43% CÁLCULO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR E TAXA DE INFLAÇÃO: UM EXEMPLO. Esta tabela mostra como se calcula o índice de preços ao consumidor e a taxa de inflação para uma economia imaginária em que os consumidores só compram cachorros-quentes e hambúrgueres. Tabela 23-1 516 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS NOTA o que há na cesta do [PC? Ao construir o índice de preços ao consumidor, o Escritório de Estatísticas do Trabalho tenta incluir todos os bens e serviços que o consumidor típico compra. Além disso, ele tenta ponderar esses bens e serviços de acordo com quanto os consumidores compram de cada item. A Figura 23-1 apresenta o desdobramento da despesa do consumidor segundo as principais categorias de bens e serviços. De longe a principal categoria é moradia que representa cerca de 40% do orçamento do consumidor típico. Esta categoria inclui o custo da residência (30%), combustível e outras fontes de energia (5%) e mobília e material de limpeza (5%). A seguir tem-se o transporte que pesa 17%, isto inclui despesas com automóveis, gasolina, passageI}s de ônibus, metrô e assim por diante. A alimentação responde por 16% do orçamento, isto inclui alimentação no domicílio (9%), alimentação fora de casa (6%) e bebidas alcoólicas (1%). Vem então o agregado de despesas com cuidados a saúde (6%), lazer (6%), vestuário e educação e comunicação (5%). Esta categoria inclui, por exemplo, anuidades escolares e computadores pessoais. A última categoria, apresentada na figura, com 5% da despesa, abrange outros bens e serviços. Este agregado é uma mistura de coisas adquiridas pelos consumidores e que não se enquadram nas categorias anteriores, tais como cigarros, cortes de cabelo e despesas com funerais. FONTE: Escritório de Estatísticas do Trabalho. 6. Figura 23-1 A CESTA DE BENS E SERVIÇOS. Esta figura mostra como o consumidor típico divide suas despesas entre as várias categorias de bens e serviços. O Escritório de Estatísticas do Trabalho dá a denominação de "importância relativa" ao percentual da categoria. Recreação Cuidados com a saúde Alimentação e bebidas 16% Outros bens e serviços No exemplo da Tabela 23.1, o ano de 2001 é o ano-base. Nesse ano a cesta de cachorros-quentes e hambúrgueres custa US$ 8. Em conseqüência, o preço da cesta em todos os anos é dividido por US$ 8 e multiplicado por 100. O índice de preços ao consumidor é de 100 em 2001. (O índice é sempre igual a 100 no ano-base.) O índice de preços ao consumidor é de 175 em 2002. Isso significa que o preço da cesta em 2002 é 175% do seu preço no ano-base, ou seja, uma cesta de bens que custa US$ 100 no ano-base custará US$175 em 2002. Da mesma forma, em 2003, o índice de preços ao consumidor é de 250, indicando que o nível de preços em 2003 é 250% do nível de preços do ano-base. CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO DE VIDA 5. Calcular a taxa de inflação. O quinto e último passo é usar o índice de preços ao consumidor para calcular a taxa de inflação, que é a variação percentual do índice de preços em relação a um período anterior. Isto é, a taxa de inflação entre dois anos consecutivos é calculada assim: 517 taxa de inflação variação percentual do índice de preços em relação a um período anterior IPC no ano 2 -IPC no ano 1 x 100 Taxa- e2 açao no ano = -------------IPC no ano 1 Em nosso exemplo a taxa de inflação é de 75% em 2002 e de 43% em 2002 Embora este exemplo simplifique o mundo real ao considerar apenas dois bens, ele mostra como o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula o índice de preços ao consumidor e a taxa de inflação. O Departamento levanta e processa, a cada mês, dados relativos aos preços de milhares de bens e serviços e, seguindo os cinco passos mencionados, determina a velocidade com que o custo de vida do consumidor típico aumenta. Quando o departamento anuncia, mensalmente, o índice de preços ao consumidor, em geral você ouve o número no telejornal da noite ou o vê no jornal do dia seguinte. Além do índice de preços ao consumidor para a economia como um todo, o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula vários outros índices de preços. Informa índices regionais (para Boston, Nova York, Los Angeles e outras cidades) e para algumas categorias restritas de bens e serviços (tais como alimentos, vestuário e energia). Também calcula o índice de preços ao produtor, que avalia uma cesta de bens e serviços adquiridos pelas empresas. Uma vez que as empresas acabam repassando seus custos aos consumidores na forma de preços ao consumidor mais elevados, variações no índice de preços ao produtor são freqüentemente consideradas úteis para previsão de alterações no índice de preços ao consumidor. PROBLEMAS NO CÁLCULO DO CUSTO DE VIDA o objetivo do índice de preços ao consumidor é medir variações do custo de vida. Em outras palavras, o índice de preços ao consumidor tenta avaliar quanto é que as rendas devem aumentar para manter constante o padrão de vida. Contudo, o índice de preços ao consumidor não é uma medida perfeita do custo de vida. Há três problemas amplamente reconhecidos mas difíceis de resolver. a primeiro deles é a tendência à substituição. Quando os preços variam de um ano para outro, eles não variam proporcionalmentesalguns preços aumentam mais do que outros. Os consumidores reagem a esses aumentos de preços diferenciados comprando menos aqueles produtos cujos preços tiveram maior crescimento e comprando mais dos produtos cujos preços aumentaram menos ou até caíram. Isto é, os consumidores substituem os bens mais caros pelos relativamente mais baratos. Todavia, o índice é calculado tomando-se uma cesta de bens fixa. Ao não levar em conta a possibilidade de substituição de produtos, o índice superestima o aumento de preços de um ano para outro. Vejamos um exemplo simples. Imagine que no ano-base as maçãs são mais baratas do que as peras, e que, em conseqüência, os consumidores comprem mais maçãs do que peras. Quando o Departamento de Estatísticas do Trabalho constrói a cesta de bens, incluirá mais maçãs do que peras. Já no ano seguinte as peras estão mais baratas do que as maçãs. Os consumidores reagirão, naturalmente, comprando mais peras e menos maçãs. Contudo, ao calcular o índice de preços ao consumidor, o departamento usa uma cesta fixa, que índice de preços ao produtor medida do custo de uma cesta de bens e serviços comprados pelas empresas 518 DADOS MACROECON;Ô.MIC05 DOS JORNAIS Comprando para o IPC Por trás de cada indicador macroeconômico há milhares de dados individuais sobre a economia. Este artigo acompanha algumas das pessoas que levantam esses dados. o IPC ESTÁ CORRETO? PERGUNTE AOS INVESTIGADORES FEDERAIS QUE OBTÊM OS NÚMEROS CHRISTINA DUFF TRENTON, N.J. - A diretora de finanças do hospital peca pela falta de cooperação, mas não é, de forma alguma, páreo para Sabina Bloom, agente do governo. Sabina deseja conhecer os preços exatos de alguns serviços do hospital. "Nada mudou", diz a mulher. "Bem, você tem os registros?", pergunta Sabina. "Não alteramos nenhum preço", insiste a mulher. A pressão de Sabina finalmente arreda a mulher detrás da sua escrivaninha e ela apresenta os números. Descobre-se que a estada na sala de recuperação pós-cirurgia agora custa US$ 753,80 ao dia, uma queda de US$ 0,04 centavos em relação ao mês passado. Mais um pequeno sucesso para Sabina, uma dos cerca de 300 funcionários do Departamento de Estatísticas do !rabalho que levanta os dados que todo mês alimentam o Indice de Preços ao Consumidor ( ... ) A labuta de Sabina às vezes lembra um romance policial. Todo mês ela cobre quase 1.500 km em seu velho carro (três acidentes nos dezoito meses passados) para visitar cerca de 150 locais. Missão: registrar os preços de itens determinados com freqüência. Se os preços variam, ela deve descobrir o porquê. Todo mês 90 mil preços são enviados a Washington, lançados em um computador, examinados, agregados, ajustados aos altos e baixos sazonais e depois transformados no relatório mensal do IPC. Escolher os itens cujos preços devem ser coletados o carrinho infantil" comum" ou de "luxo" - pode parecer arbitrário. Depois de consultar levantamentos que registram os hábitos de compra do consumidor, o Departamento de Estatísticas do Trabalho seleciona lojas populares e categorias de itens - digamos, blusas femininas. A encarregada da coleta dos preços então consulta uma funcionária da loja para ajudá-Ia a encontrar o item da escolha da agente de coleta. Elas vão refinando a busca: tamanho da blusa, estilo (manga curta ou manga comprida, decote em V ou gola rulê) e assim por diante, os itens que geram maior receita dentro da categoria têm maiores chances de serem selecionados. Compradoras sabem que confiar nas atendentes pode ser arriscado. Em uma loja de departamentos do centro de Chicago (o governo não revela nomes), a agente de coleta Mary Ann Latter pisca na frente de um cartaz anunciando a oferta de uma blusa cor marfim. "Poupe de 45 a 60% ao escolher mais uma mercadoria com preço reduzido de 30%." Confusa, Mary Ann pede esclarecimento à atendente. Uma pausa. "Tem desconto de 30%", diz apressada com o horário do almoço. "Eu sei", diz Mary Ann, "mas não pode conferir para eu ter certeza?" Entre dentes resmunga, "Tão atenciosa". No andar debaixo há um departamento de joalheria, Mary Ann tenta descobrir o preço do único cordão de prata do balcão, mas não há etiqueta à vista. "Tenho que ver agora?", resmunga a atendente atrás do balcão. Mary Ann espera que ela atenda vários outros fregueses e pergunta novamente: "Qual é o preço?" A atendente apressada joga no balcão um pesado catálogo com uma estonteante quantidade de fotos de jóias. Mary Ann finalmente descobre uma fotografia que parece ser igual ao objeto do balcão. Quando o item desejado não pode ser encontrado, as agentes de coleta têm que substituí-Io. Pode ser difícil. Pense em um corte de cabelo: se o cabeleireiro experiente saiu do salão, um cabeleireiro novo deve ter mais ou menos a mesma experiência; um novato poderia cobrar menos. Mary Ann precisa substituir um blazer porque os itens de vestuário em geral ficam poucos meses na prateleira. Tem que ser de tecido misto, com menos de metade de lã em sua composição. Depois de procurar todo o estoque de roupas de inverno, tentando localizar as etiquetas em três departamentos diferentes distribuídos em dois andares, Mary Ann desiste. De qualquer forma, o inverno já passou e ela terá de esperar meses para achar um substituto. Para tomar mais difícil a vida dos detetives de preços em sua perseguição ao verdadeiro custo de vida, a lista principal das 207 categorias cujos preços são pesquisados - chamada de cesta de mercado - só é atualizada a cada dez anos. Telefones celulares? Muito recentes para se encaixarem em qualquer das categorias determinadas nos anos 80. Terão de esperar novas categorias a ser criadas em 1998. Algumas mudanças dentro das categorias são feitas a cada cinco anos. Dentro dos "carros novos", por exemplo, se os carros nacionais ultrapassarem, significativamente, em vendas os importados, os agentes de coleta podem pesquisar mais Ford e menos Toyota. Mas, segundo os críticos, isto não ocorre com freqüência suficiente. Mary Ann, uma mulher moderna e urbana, tem que coletar preços de combinações e deixar de lado os novos modelos de sutiã. A colega de Mary Ann, que faz levantamentos nos subúrbios de Chicago, Sheila Ward afirma: "A manutenção de produtos fora de linha é um de nossos pontos críticos." Ela lembra do dono de uma loja de instrumentos musicais que ficou frustrado porque ela insistia em perguntar os preços de uma guitarra que ele não imaginava pudesse ser tocada ainda - quanto mais vendida. Um dia, ele a expulsou da loja gritando. "Desgraçado de governo! É para isso que eu pago impostos?" Os agentes de coleta pouco podem fazer quanto a esses problemas. Eles apenas podem fazer perguntas. Em um restaurante modesto, Sheila pergunta se não houve alteração nas porções servidas. O dono diz que não. Mas ela lembra que o preço do bacon está em alta e volta a perguntar. De repente o dono se lembra de que reduziu o número de fatias de bacon servidas, de três para duas. E o resultado é um sanduíche bem diferente. FONTE: The Wall Street [ournal, 16 de janeiro de 1997, p. AI. cAPíTua;o 23, CALCULANDO O CUSTO D'~ V/IDA pressupõe que os consumidores continuarão comprando as maçãs que se tornaram caras nas mesmas quantidades de anteriormente. Por este motivo, o índice medirá um aumento do custo de vida muito maior do que o que os consumidores de fato experimentam. O segundo problema do índice de preços ao consumidor é o da introdução de novos bens. Quando um novo bem chega ao mercado, os consumidores podem escolher entre uma maior variedade de produtos. A maior variedade, por sua vez, toma cada dólar mais valioso, de modo que o consumidor precisará de menos dólares para manter qualquer padrão de vida dado. Contudo, como o índice de preços ao consumidor está construído com base em uma cesta de bens fixa, ele não reflete esta alteração no poder aquisitivo do dólar. Mais uma vez, vejamos um exemplo. Quando surgiram os aparelhos de videocassete, os consumidores passaram a poder assistir seus filmes favoritos em casa. O novo bem aumentou o bem-estar dos consumidores ao expandir suas opções de consumo. Um índice de custo de vida perfeito refletiria esta mudança com uma diminuição do custo de vida. Todavia, o índice de preços ao consumidor não se reduziu com o surgimento do videocassete. Só mais tarde, o Departamento de Estatísticas do Trabalho revisou a cesta de bens para incluir o videocassete e subseqüentemente os índices refletiram mudanças nos preços do videocassete. Mas a redução do custo de vida, associada ao surgimento inicial dos aparelhos de vídeo, nunca apareceu nos índices. O terceiro problema do índice de preços ao consumidor é a mudança de qualidade nõo-quantificada. Se a qualidade de um bem se deteriora de um ano para outro, o valor do dólar cai, mesmo se o preço do bem se mantiver igual. O Departamento de Estatísticas do Trabalho faz o possível para levar em conta as mudanças de qualidade. Quando a qualidade de um dos bens da cesta se altera - por exemplo, quando a potência de um modelo de automóvel aumenta ou seu consumo de gasolina diminui - o departamento ajusta o preço do bem para levar em conta a mudança de qualidade. O que se tenta é calcular o preço de uma cesta de qualidade constante. Todavia, as mudanças na qualidade são um problema, porque a medição da qualidade é difícil. Há ainda muito debate entre os economistas a respeito da gravidade desses problemas de medição e das soluções possíveis. O assunto é importante porque muitos programas do governo usam o índice de preços ao consumidor para ajustar os valores às mudanças no nível geral de preços. Os beneficiários da previdência social, por exemplo, têm seus benefícios reajustados anualmente pela variação do índice de preços ao consumidor. Alguns economistas sugeriram modificações dos programas de modo a compensar esses problemas de medição. Por exemplo, muitos estudos concluem que o índice de preços ao consumidor superestima o índice de inflação em algo entre 0,5 a 2% ao ano. Para compensar essa diferença, o Congresso poderia alterar as normas da Seguridade Social de modo que os benefícios fossem reajustados anualmente no equivalente à taxa de inflação registrada menos um ponto percentual. Essa mudança seria uma maneira simples de compensar os problemas de medição e ao mesmo tempo reduziria as despesas do governo em bilhões de dólares ao ano. o DEFLATOR DO PIB E O íNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR No capítulo anterior vimos outro indicador do nível geral de preços da economia - o deflator do PIB. O deflator do PIB é a razão entre o PIB nominal e o PIB real. Como o PIB nominal é igual à produção corrente avaliada a preços correntes e o PIB real é igual à produção corrente avaliada aos preços do 5191 520 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS DOS JORNAIS Um IPC para a terceira idade Embora o índice de preços ao consumidor possa superestimar a verdadeira taxa de inflação do consumidor médio, por subestimar a inflação para alguns tipos de consumidor. Em especial, de acordo com alguns economistas, os idosos têm sofrido aumentos mais acelerados do custo de vida do que a população em geral. PREÇOS QUE NÃo SE ENCAIXAM NO PERFIL: O íNDICE É INADEQUADO PARA A REALIDADE DOS IDOSOS? LAURA CASTANEDA A baixa inflação, uma força que impulsiona a expansão econômica da nação, está tendo efeitos perversos ao tomar a vida mais difícil para milhões de americanos idosos. Isto porque os reajustes nos benefícios da seguridade social são calculados com base num índice - o Índice de Preços ao Consumidor de Assalariados e Funcionários Urbanos - que podem não refletir acuradamente suas despesas. Com base nesse índice os benefícios mensais da seguridade social aumentarão em média 1,3% no ano que vem, mas os custos que pesam mais no bolso de muitos dos aposentados - médicos, re- médios e outros cuidados com a saúde - estão crescendo mais rapidamente do que os preços ao consumidor em geral. Agora, o Departamento de Estatísticas do Trabalho, que calcula os índices, está elaborando um índice experimental que leva em conta algumas das despesas dos americanos idosos e que mostra um hiato crescente entre o aumento das despesas dos idosos e o da população em geral. Entre dezembro de 1982 e setembro de 1998, o índice experimental aumento ou73,9% enquanto que o índice oficial cresceu 63,5%, afirmou Patrick Jackman, um economista do departamento. ( ... ) O índice oficial "subestima a verdadeira taxa de inflação dos idosos", disse Dean Baker, um economista do Economic Policy Institute, uma organização independente de pesquisa de Washington e a disparidade tende a aumentar com o tempo. Mas Baker, autor de Getting Prices Right: the Battle Over the Consumer Price Index, disse que os gastos maiores com alguns bens e serviços não são a única razão. O índice oficial também leva em conta quedas de preços de bens de consumo que eles raramente compram, como televisores e computadores. Embora o Congresso relute em face do custo, acrescenta ele, um índice diferenciado para os idosos "seria a maneira adequada" de corrigir o problema. FONTE: The New York Times, Business Section, 8 de novembro de 1998, p. 10. ano-base, o deflator do PIB reflete a relação entre o nível de preços corrente e o nível de preços do ano-base. Economistas e formuladores de políticas públicas monitoram tanto o deflator do PIB quanto o índice de preços ao consumidor para conhecer o ritmo de crescimento dos preços. Em geral, os dois indicadores contam a mesma história. Todavia há entre eles duas diferenças importantes que podem provocar divergências em seu desempenho. A primeira diferença é que o deflator do PIB considera os preços de todos os bens e serviços produzidos internamente enquanto o índice de preços ao consumidor considera os preços de todos os bens e serviços comprados pelos consumidores. Por exemplo, imagine que o preço de um avião fabricado pela Boeing e vendido à Força Aérea aumente. Mesmo que o avião seja parte do PIB, ele não faz parte da cesta de bens e serviços adquiridos pelo consumidor típico. Portanto, esse aumento de preços aparece no deflator do PIB mas não no índice de preços ao consumidor. Outro exemplo, imagine que a Volvo aumente o preço de seus automóveis. Como os Volvos são fabricados na Suécia, o carro não está incluído no PIB CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO DE VIDA 521 dos Estados Unidos. Mas os consumidores dos Estados Unidos compram Volvo e, portanto, o carro integra a cesta de bens' do consumidor típico. Conseqüentemente, um aumento no preço de um bem de consumo importado, como o Volvo, aparece no índice de preços ao consumidor mas não no deflator do PIB. A primeira diferença entre o índice de preços ao consumidor o deflator do PIB é especialmente importante quando se registram variações no preço do petróleo. Embora os Estados Unidos produzam petróleo, boa parte do petróleo consumido internamente é importada do Oriente Médio. Em conseqüência, o petróleo e seus derivados, como o óleo combustível usado no aquecimento residencial e a gasolina, têm um peso muito maior nas despesas do consumidor do que no PIB. Quando o preço do petróleo aumenta, o índice de preços ao consumidor aumenta muito mais do que o deflator do PIB. A segunda e mais sutil diferença entre os dois indicadores se refere à forma pela qual os vários preços são ponderados para se obter o número que define o nível geral de preços. O índice de preços ao consumidor compara o preço de uma cesta fixa de bens e serviços ao preço da mesma cesta no ano-base. A cesta só é alterada pelo [)epartamento de Estatísticas do Trabalho a intervalos infreqüentes. Já o deflator do PIB compara o preço dos bens e serviços produzidos correntemente com os preços dos mesmos bens e serviços no ano-base. Assim, o conjunto de bens e serviços usados no cálculo do deflator do PIB muda automaticamente ao longo do tempo. Esta diferença não é importante quando todos os preços variam proporcionalmente. Mas se os preços de diferentes bens e serviços variam a taxas diferentes, a forma pela qual os preços são ponderados influi sobre a taxa de inflação agregada. A Figura 23-2 apresenta a taxa de inflação anual medida tanto pelo deflator do PIB quanto pelo índice de preços ao consumidor para o período de 1965 a 1995. Verifica-se que às vezes as taxas divergem. Quando elas divergem, é possível explicar as diferenças recorrendo aos fatores mencionados acima. Contudo, a figura mostra que a divergência entre os dois indicadores é a exceção e não a regra. No fim dos anos 70, tanto o deflator do PIB quanto o índice de e 7. 9. 8. 1970 Variação anual em % 15 1975 1980 1985 1990 1995 1998 DUA S ME DIDAS DE INFLAÇÃO. A figura mostra a taxa de inflação anual - a variação percentual do nível de preços - medida pelo deflator do PIB e pelo índice de preços ao consumidor a partir de 1965. Observe que em geral as duas taxas registram o mesmo movimento. FONTE: Departamento de Trabalho e Departamento de Comércio dos Estados Unidos. 522 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS !ÁUDio -VíDEO ) preços ao consumidor registram altas taxas de inflação. No fim dos anos 80 e no início dos anos 90 ambos os indicadores mostram baixas taxas de inflação. I TE 5 T E R Á P' I D O Explique sucintamente o que é que o índice de preços , ao consumidor tenta medir e como é construído. DESCONTANDO OS EFEITOS DA INFLAÇÃO DAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS " - O preço pode parecer um tanto quanto alto, mas não se esqueça de que está em dólares de hoje." o objetivo da medição do nível geral de preços da economia é permitir a comparação de cifras em dólar em diferentes pontos do tempo. Agora que conhecemos como são calculados os índices de preços, vejamos como eles podem ser utilizados para comparar uma quantia em dólares do passado com uma quantia em dólares atual. CIFRAS MONETÁRIAS DE ÉPOCAS DIFERENTES Voltemos ao salário de Babe Ruth. Seu salário de US$ 80 mil era alto ou baixo quando comparado aos salários dos jogadores da atualidade? Para responder à pergunta, precisamos conhecer o nível de preços de 1931 e o nível de preços de hoje. Parte do aumento dos salários dos jogadores de beisebol apenas repõe o maior nível de preços de hoje. Para comparar o salário de Babe Ruth com o dos jogadores atuais, precisamos inflacionar o salário de Ruth para transformar os dólares de 1931 em dólares de hoje. Um índice de preços determina a grandeza desta correção da inflação. As estatísticas do governo registram um índice de preços de 15,2 para 1931 e de 166 para 1999. Portanto, o nível geral de preços aumentou de um fator de 10,9 (ou 166/15,2). Podemos usar estes números para medir o salário de Ruth em dólares de 1999. O cálculo é: Salário em dólares de 1999 = salário em dólares de 1931 x = _N_í_v_el_d_e-=--p_re_ç _o_s_e_m_19_9_5 Nível de preços em 1931 US$ 80.000 x (166/15,2) = US$ 873.684,00. . :;: Concluímos que o salário de Babe Ruth em 1931 equivale a um salário de pouco menos de US$ 1 milhão atuais. Não é um mau salário, mas é um pouco inferior ao salário de um jogador de beisebol médio nos dias de hoje e está bem aquém do que é pago aos superastros do beisebol. Sammy Sosa, shortstop do Chicago Cubs, por exemplo, ganhou US$10 milhões em 1999. Vejamos também o salário do presidente Hoover em 1931, US$ 75 mil. Para transformar esta cifra em dólares de 1999, temos que, novamente, multiplicá-Ia pela razão dos níveis de preço nos dois anos. Verificamos que o salário de Hoover de US$ 75 mil em 1931 equivale a US$ 75.000 x (166/15,2), ou US$ 819.079,00 em dólares de 1995. Isto está bem acima do salário do presidente Clinton, US$ 200 mil. Parece que, afinal, o presidente Hoover também teve um ano muito bom . CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO DE VIDA 523 ESTUDO DE CASO: O SENHOR íNDICE VAI A HOLLYWOOD Qual o filme mais popular de todos os tempos? A resposta pode surpreendê-Ia. A popularidade dos filmes é aferida, geralmente, pela receita das bilheterias. Segundo esse critério, Titanic é o filme nº 1 de todos os tempos, seguido por Guerra nas Estrelas e ET. Mas esta classificação ignora um fato óbvio mas importante: os preços, incluindo aqueles dos ingressos de cinema, aumentaram ao longo do tempo. Quando descontamos os efeitos da inflação, a história é bem diferente. A Tabela 23-2 mostra os dez maiores filmes de todos os tempos, classificados por receita de bilheteria a preços constantes. O filme nº 1 é E o vento levou, lançado em 1939 e que está situado bem à frente de Titanic. Na década de 1930, antes que todos tivessem televisão em casa, cerca de 90 milhões de americanos freqüentavam o cinema semanalmente contra cerca de 25 milhões em nossos dias. Mas os filmes da época raramente aparecem nas classificações porque os preços dos ingressos giravam em tomo de apenas 25 centavos. Scarlett e Rhett têm um desempenho bem melhor quando levamos em conta os efeitos da inflação. 20 FILMES DE MAIOR BILHETERIA (VALORES CONSTANTES) TíTULO 1. ... E o vento levou 2. Guerra nas estrelas 3. A noviça rebelde 4.Titanic 5.ET 5. Os dez mandamentos 6. Tubarão 7. Doutor Jivago 8. Mowgli, o menino lobo 9. Branca de Neve ANO DE BILHETERIA INTERNA BRUTA LANÇAMENTO EM MILHÕES DE DÓLARES DE 1999 1939 1977 1965 1997 1982 1956 1975 1965 1967 1937 859 628 568 601 552 570 557 540 483 474 FONTE: The Movie Times (www.the-movie-times.com). os FILMES MAIS POPULARES DE TODOS OS TEMPOS, CORRIGIDOS PELA INFLAÇÃO Tabela 23-2 INDEXAÇÁO Como acabamos de ver, os índices de preços são usados para descontar os efeitos da inflação quando se comparam valores monetários de épocas diferentes. Este tipo de correção aparece em muitas circunstâncias da economia. Quando uma quantia é corrigida automaticamente por lei ou contrato, diz-se que houve indexação. Muitos contratos assinados, por exemplo, entre empresas e sindicatos incluem a indexação, total ou parcial, dos salários pelo índice de preços ao consumidor. Esta cláusula chama-se COLA (cost-of-living allowance - reajuste pelo custo de í nd exe ç ê e correção automática, determinada por lei ou contrato, de uma quaruia pela inflação 'J' ,;,':,"~etnarCllnQ Rei. Blb110tecaeamO$ ••••• Ouro BrancO lFMG•• - 524 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS vida). Uma COLA reajusta automaticamente o salário quando o índice de preços ao consumidor aumenta. A indexação é, também, um aspecto de muitas leis. Os benefícios da Seguridade Social, por exemplo, são reajustados a cada ano para compensar os idosos pelo aumento dos preços. As faixas do imposto de renda federal- os níveis de renda em que as alíquotas mudam - também são indexadas. Contudo, há muitos aspectos do sistema tributário que não estão indexados embora talvez isso fosse necessário. Essa questão será detalhadamente examinada quando tratarmos dos custos da inflação, mais adiante. TAXAS DE JUROS REAIS E NOMINAIS taxa de juros nominal taxa de juros sem o desconto dos efeitos da inflação taxa de juros real taxa de juros após o desconto dos efeitos da inflação . . ~ . J ; ;~ ,": . ":' ':. i I' ~;' »-, . r'~; ';1 .. "" i r , ,..~ .', '-'(!..'.'( , .. . ,{,' Corrigir variáveis econômicas pelos efeitos da inflação é muito importante, e às vezes complicado, quando examinamos dados relativos a taxas de juro. Quando deposita suas poupanças em uma caderneta, você deseja obter um juro sobre o depósito. Já quando toma um empréstimo no banco para financiar seus estudos, você terá de pagar um juro sobre seu empréstimo educacional. O juro representa um pagamento no futuro por uma transferência de dinheiro no passado. Em conseqüência, as taxas de juro sempre representam a comparação de quantias monetárias em diferentes pontos no tempo. Para entender completamente as taxas de juro, temos que saber como corrigir os efeitos da inflação. Vejamos um exemplo. Imagine que Suzana deposite US$ 1 mil em uma conta bancária que rende uma taxa de juros anual de 10%. Ao fim dos doze meses, Suzana terá obtido um juro de US$100. Ela, então, levanta seus US$1.100. Suzana estará mais rica do que quando fez o depósito, um ano atrás? A resposta depende do que queremos dizer com a palavra "rica". Suzana tem US$ 100 a mais do que tinha um ano atrás. Em outras palavras, o número de dólares aumentou de 10%. Mas se no mesmo período os preços tiverem subido, cada dólar compra agora menos do que comprava um ano atrás. Portanto, seu poder aquisitivo não cresceu 10%. Se a taxa de inflação foi de 4%, então a quantidade de bens que ela pode adquirir aumentou apenas 6%. E se a inflação tiver sido de 15%, então o preço dos bens aumentou proporcionalmente mais do que o número de dólares de sua conta. Neste caso, o poder aquisitivo de Suzana de fato caiu 5%. A taxa de juros que o banco paga é chamada taxa de juros nominal e a taxa de juros depois de descontados os efeitos da inflação é chamada taxa de juros real. Podemos escrever a relação entre taxa de juros nominal, taxa de juros real e inflação como Taxa de juros real = Taxa de juros nominal- Taxa de inflação A taxa de juros real é a diferença entre a taxa de juros nominal e a taxa de inflação. A taxa de juros nominal diz em que velocidade cresce o número de dólares de sua conta bancária. A taxa de juros real diz em que velocidade cresce o poder aquisitivo de sua conta bancária. A Figura 23-3 apresenta as taxas de juros nominal e real a partir de 1965. A taxa de juros nominal é que vigora para títulos do Tesouro de três meses. A taxa de juros real é calculada subtraindo-se a inflação - a variação percentual do índice de preços ao consumidor - da taxa de juros nominal. Pode-se observar que as taxas de juros real e nominal nem sempre se movem na mesma direção. Por exemplo, no fim dos anos 70, as taxas de juros nominais eram elevadas. Mas como a inflação era muito alta, as taxas de juros reais eram baixas. Na verdade, em alguns anos as taxas de juros reais fo- CAPíTULO 23 10. CALCULANDO O CUSTO DE VIDA 525 Figu •• 23-3 Taxa de juros (variação anual em%) TAXAS DE JUROS NOMINAL E REAL. O gráfiço mostra as 15 1 0 Taxa de juros nominal -- 5 O~--~~~----~------~~--- 197 0 197 5 198 0 198 5 199 0 1995 1998 ram negativas, pois a inflação corroía as poupanças mais rapidamente do que o pagamento de juros as aumentava. Já no fim dos anos 90, as taxas de juros nominais eram baixas. Mas como a inflação também era reduzida, as taxas de juros reais eram relativamente altas. Nos próximos capítulos, quando estudarmos as causas e as conseqüências das variações nas taxas de juros, será importante ter em mente a distinção entre taxas de juros nominais e reais. I TE 5 T E R Á P I D O Em 1914, Henry Ford pagava a seus funcionários US$ 5 ao dia. Se o índice de preços para 1914 é de 11 e para 1999, de 166, quanto valeria o salário dos funcionários da Ford em dólares de 1999? CONCLUSÃO "Uma pratinha de dez centavos já não vale nem cinco centavos", brincou certa vez Yogi Berra, o jogador de beisebol. De fato, ao longo da história recente, os valores reais das moedinhas e das notas bancárias não têm sido estáveis. Aumentos persistentes no nível geral de preços têm sido a norma. Essa inflação reduz o poder aquisitivo de cada unidade monetária ao longo do tempo. Ao comparar dados em dólares de diferentes períodos, é importante ter em mente que um dólar de hoje não é o mesmo dólar de há 20 anos ou, muito provavelmente, de daqui a 20 anos. . Este capítulo mostrou como os economistas medem o nível geral de preços da economia e como utilizam os índices de preços para corrigir variáveis econômicas pelos efeitos da inflação. Esta análise é apenas um ponto de partida. Ainda não examinamos as causas ou os efeitos da inflação ou como a inflação interage com outras variáveis econômicas. Para fazê-Io temos que ir além das questões de medição. Esta é, de fato, nossa próxima tarefa. Após explicar nos dois últimos capítulos como os economistas medem quantidades e preços macroeconômicos, estamos prontos para desenvolver os modelos que explicam os movimentos de longo e curto prazos dessas variáveis. taxas de juros anuais, nominal e real, a partir de 1965. A taxa de juros nominal é que vigora para os títulos do Tesouro de três meses. A taxa de juros real é a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação medida pelo índice de preços ao consumidor. Observe que as taxas de juros nominal e real divergem freqüentemente. FONTE: Departamento do Trabalho e Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. 526 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS Ao comparar quantias expressas em dólar de épocas diferentes, é importante ter em mente que um dólar de hoje não é a mesma coisa que um dólar de vinte anos atrás, ou muito provavelmente, de daqui a vinte anos. Este capítulo tratou da maneira pela qual os economistas medem o nível geral de preços da economia e de como empregam esses índices de preços para descontar a inflação das variáveis econômicas. Esta análise é apenas o ponto de partida. Ainda não examinamos as causas e as conseqüências da inflação ou como a inflação interage com outras variáveis econômicas. Para fazê-lo precisamos ir além das questões de medição. Esta é a nossa próxima tarefa. Tendo explicado como os economistas medem preços e quantidades econômicas nos dois últimos capítulos, agora estamos prontos para ver modelos que explicam os movimentos de curto e longo prazos de tais variáveis. Sumário • O índice de preços ao consumidor mostra o custo de uma cesta de bens e serviços em relação ao custo da mesma cesta no ano-base. O índice é utilizado para medir o nível geral de preços da economia. A variação percentual do índice de preços ao consumidor mede a taxa de inflação. • O índice de preços ao consumidor é um indicador imperfeito do custo de vida por três motivos. Primeiro, não leva em consideração a capacidade dos consumidores de substituir, ao longo do tempo, os bens que se tornam mais caros por outros mais baratos. Segundo, não leva em conta os aumentos do poder aquisitivo do dólar em decorrência da introdução de novos bens. Terceiro, é distorcido por variações não-quantificadas na qualidade dos bens e serviços. Em função desses problemas de medição, o IPC superestima a taxa de inflação anual em cerca de 1 ponto percentual. • Embora o deflator do PIB também avalie o nível geral de preços da economia, ele difere do índice de preços ao consumidor porque inclui bens e serviços produzidos em lugar de bens e serviços consumidos. Em conseqüência, os bens importa- dos afetam o índice de preços ao consumidor mas não o deflator do PIB. Além disso, enquanto o índice de preços ao consumidor usa uma cesta de bens fixa, o deflator do PIB muda automaticamente o conjunto de bens e serviços, na medida em que a composição do PIB varia ao longo do tempo. • Cifras monetárias de diferentes períodos não representam uma comparação válida de poder aquisitivo. Para comparar valores em dólar do passado com os valores atuais, a cifra mais antiga deve ser inflacionada usando um índice de preços. • Várias leis e contratos privados utilizam índices de preços para corrigir os efeitos da inflação. Já as leis tributárias só são indexadas parcialmente. • A correção da inflação é especialmente importante quando se observam dados relativos a taxas de juro. A taxa de juros nominal é a taxa geralmente informada; é a taxa à qual o número de dólares em uma conta de poupança aumenta ao longo do tempo. Já a taxa de juros real leva em conta variações no valor do dólar ao longo do tempo. A taxa de juros real é igual à taxa nominal menos a taxa de inflação. Conceitos-chave índice de preços ao consumidor (IPC), p. 514 taxa de inflação, p. 517 índice de preços ao produtor, p. 517 indexação, p. 523 taxa de juros nominal, p. 524 taxa de juros real, p. 524 CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO DE VIDA 527 Q"uestões para revisão 1. Para você, o que tem maior impacto sobre o índice de preços ao consumidor: um aumento de 10% no preço do frango ou um aumento de 10% no preço do caviar? Por quê? 2. Descreva os três problemas que tornam o índice de preços ao consumidor um indicador imperfeito do custo de vida. 3. Se o preço de um submarino da Marinha aumenta, qual o indicador mais afetado: o IPC ou o deflator do PIB? Por quê? 4. Ao longo de vários anos, o preço da barra de chocolate aumentou de US$ 0,10 para US$ 0,60. No mesmo período, o índice de preços ao consumidor aumentou de 150 para 300. Qual o aumento no preço real da barra de chocolate? 5. Explique o significado de taxa de juros nominal e de taxa de juros real. Qual a relação entre os dois termos? Problemas e aplicações 1. Suponha que os consumidores só comprem três bens, como mostra a tabela: BOLAS DE TÊNIS Preço em 2001 Quantidade em 2001 Preço em 2002 Quantidade em 2002 RAQUETES GATORADE DE TÊNIS 3. De 1947 a 1997 o índice de preços dos Estados Unidos aumentou 637%. Use este fato para corrigir os preços de 1947. Quais os itens que custam menos em 1997 do que em 1947, depois da correção? Quais os itens que custam mais? US$2 US$40 US$l ITEM 100 US$2 10 US$60 200 US$2 Anuidade da 100 10 200 a. Qual a variação percentual do preço de cada um desses três bens? Qual a variação percentual no nível geral de preços? b. As raquetes de tênis se tomaram mais caras ou mais baratas em relação ao Gatorade? O bem-estar de algumas pessoas muda em relação ao bem-estar de outras pessoas? Explique. 2. Imagine que os habitantes de Verdelândia gastem toda sua renda em couves-flor, brócolis e cenouras. Em 2001 eles adquiriram 100 couves-flor por US$ 200, 50 caixas de brócolis por US$ 75 e 500 cenouras por US$ 50. Em 2002 eles adquiriram 75 couves-flor por US$ 225, 80 caixas de brócolis por US$ 120 e 500 cenouras por US$ 100. Se considerarmos 2001 o ano-base, qual o IPC para os dois anos? Qual a taxa de inflação em 2002? PREÇO EM 1947 (US$) PREÇ EM 1997 (US$) Universidade de Iowa 130 2.470 Galão de gasolina Telefonema de Nova York para Los Angeles (3 minutos) Um dia em uma UTI Hambúrguer do McDonald's 0,23 1,22 2,50 35 0,45 2.300 0,15 0,59 4. A partir de 1994, a legislação ambiental exige que a gasolina contenha um novo aditivo para reduzir a poluição do ar. Esta exigência aumentou o custo da gasolina. O Departamento de Estatísticas do Trabalho decidiu que este aumento no custo representava uma melhoria na qualidade. a. Dada esta decisão, o aumento de preço da gasolina significou um aumento no IPC? b. Qual o argumento a favor da decisão tomada? Qual o argumento para uma decisão diferente? 528 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS 5. Qual dos problemas na construção do IPC poderia ser ilustrado mediante as seguintes situações? Explique. a. A invenção do walkman da Sony. b. O uso de air bags em automóveis. c. Aumento das compras de computadores pessoais em decorrência da redução de seus preços. d. Maior quantidade de passas em cada pacote de granola. e. Aumento do número de carros que usam combustível com eficiência após o aumento dos preços da gasolina. 6. O New York Times custava US$ 0,15 em 1970 e US$ 0,75 em 1999. O salário médio na indústria de transformação era de US$ 3,35 por hora em 1970 e de US$13,84 em 1999. a. Qual o percentual de aumento do preço do jornal? b. Qual o percentual de aumento do salário? c. Em cada um dos anos, quantos minutos o operário tinha que trabalhar para comprar um jornal? d. O poder aquisitivo dos trabalhadores, em termos de jornal, aumentou ou diminuiu? 7. O capítulo explica que os benefícios da Seguridade Social são reajustados anualmente segundo o aumento do IPC, mesmo quando muitos economistas acreditam que o índice superestima a inflação ocorrida. a. Se os idosos consumirem a mesma cesta de mercado das outras pessoas, a Seguridade Social está melhorando o padrão de vida dos idosos a cada ano? Explique. b. Na verdade, os idosos gastam mais com saúde do que os jovens, e os custos dos cuidados com a saúde aumentaram mais rapidamente do que o nível geral de preços. O que você faria para verificar se os idosos estão tendo seu padrão de vida melhorado a cada ano? 8. Qual é a diferença entre a cesta de bens e serviços que você compra e a cesta da família americana típica? Você acha que sua inflação foi maior ou menor do que a indicada pelo IPC? Por quê? 9. As faixas do imposto de renda não estavam indexadas até 1985. Quando a inflação aumentou as rendas nominais nos anos 70, o que terá acontecido com a receita tributária real? (Dica: Esse fenômeno é conhecido como "defasagem das alíquotas". ) 10. Ao decidir quanto de sua renda poupar para a aposentadoria, os trabalhadores deveriam levar em conta as taxas de juros nominais ou reais que suas aplicações rendem? Explique. 11. Imagine que um tomador de empréstimo e o seu emprestador concordem com a taxa de juros a ser paga pelo empréstimo. A inflação, contudo, acaba sendo maior do que ambos esperavam. a. A taxa de juros real sobre esse empréstimo será maior ou menor do que esperado? b. O emprestador ganha ou perde com essa alta inesperada da inflação? E o tomador do empréstimo? c. A inflação nos anos 70 foi muito maior do que a maioria das pessoas esperava no início da década. Como isso atingiu as famílias que tomaram hipotecas sobre a casa própria, durante os anos 60, com juros fixos? Como afetou os bancos que concederam os empréstimos? 11. Verá as diferenças de crescimento econômico no mundo 24 Examinará por que a produtividade é o determinante-chave do padrão de vida de um país Analisará os fatores que determinam a produtividade de um país PRODUÇÃO E CRESCIMENTO Quando viaja pelo mundo, você observa profundas disparidades nos padrões de vida. O cidadão médio de um país rico, como os Estados Unidos, Japão ou Alemanha, aufere uma renda mais de dez vezes superior ao daquele que mora em um país pobre, como a Índia, Indonésia ou Nigéria. Essas grandes diferenças de renda se refletem em grandes disparidades na qualidade de vida. Países ricos têm mais automóveis, mais telefones, mais televisores, melhor nutrição, moradia mais segura, melhor assistência à saúde e maior expectativa de vida. Mesmo em um só país há grandes variações no padrão de vida ao longo do tempo. Nos Estados Unidos, durante o século passado, a renda média medida pelo PIB per capita cresceu cerca de 2% ao ano. Embora a cifra possa parecer pequena, essa taxa de crescimento significa que a renda média se duplica a cada 35 anos. Dado esse crescimento, a renda média de hoje é cerca de oito vezes maior do que a renda média de um século atrás. Em conseqüência, o americano médio desfruta de maior prosperidade econômica do que seus pais, avós e bisavós. As taxas de crescimento variam substancialmente de país para país. Em alguns países do Leste da Ásia, como Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, a renda média tem crescido cerca de 7% ao ano nas décadas recentes. A essa taxa, a renda média dobra a cada dez anos. Assim, esses países, em apenas uma década, deixaram de estar entre os mais pobres do mundo para se situar perto dos mais ricos. Já em alguns países da Africa, como o Chade, a Etiópia e a Nigéria, a renda média tem se mantido estagnada há muitos anos. Examinará como as políticas públicas de um país influem no crescimento da produtividade 532 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO o que explica essas diferenças? Como podem os países ricos garantir a manutenção de seu alto padrão de vida? Que políticas deveriam adotar os países pobres para promover um crescimento mais rápido e poderem aproximar-se do mundo desenvolvido? Estas são algumas das questões mais importantes da macroeconomia. Como disse o economista Robert Lucas: liAs conseqüências dessas questões para o bem-estar humano são simplesmente impressionantes: quando você começa a pensar nelas, é difícil pensar em alguma outra coisa." Nos dois capítulos anteriores vimos como os economistas medem, em termos macroeconômicos, quantidades e preços. No presente capítulo começaremos a estudar as forças que determinam essas variáveis. Como vimos, o produto interno bruto (PIB) de uma economia mede tanto a renda total gerada nessa economia quanto a despesa total em bens e serviços dessa economia. O nível do PIB real é um bom indicador da prosperidade econômica. Aqui vamos nos concentrar nos determinantes de longo prazo do nível e do crescimento do PIB reaL Mais adiante estudaremos as flutuações de curto prazo em torno da tendência de longo prazo do PIB. Procederemos em três etapas. Primeira, examinaremos dados internacionais de PIB real per capita. Estes dados nos permitirão ter uma idéia das variações do nível e do crescimento dos padrões de vida em torno do mundo. Segunda, examinaremos o papel da produtividade - a quantidade de bens e serviços gerados por trabalhador. Em especial, veremos que o padrão de vida de uma nação é determinado pela produtividade de seus trabalhadores e veremos quais os fatores que determinam es~a produtividade. Terceira, observaremos o elo que existe entre a produtividade e as políticas econômicas adotadas pela nação. CRESCIMENTO ECONÔMICO AO REDOR DO MUNDO Como ponto de partida para o estudo do crescimento no longo prazo, vejamos a experiência de algumas das economias do mundo. A Tabela 24-1 apresenta os dados do PIB per capita de 13 países. Para cada país, os dados abrangem cerca de um século de história. A primeira e a segunda colunas da tabela apresentam os países e os períodos de referência. (Há diferenças de períodos para os diversos países devido a diferenças na disponibilidade de dados.) A terceira e a quarta colunas registram o PIB real per capita há um século e na atualidade. Os dados do PIB real per capita mostram que os padrões de vida variam amplamente de país para país. A renda per capita dos Estados Unidos, por exemplo, é cerca de oito vezes maior do que a da China e quase 30 vezes a da Índia. Os países mais pobres têm níveis de renda média que não são vistos nos Estados Unidos há muitas décadas. O chinês típico em 1987 tinha uma renda próxima da do americano típico em 1870. O habitante médio do Paquistão em 1987 tinha cerca de metade da renda de um americano típico de um século atrás. A última coluna da tabela apresenta a taxa de crescimento de cada um dos países. A taxa de crescimento mostra a velocidade em que o PIB real per capita cresceu em média. Nos Estados Unidos, por exemplo, o PIB real per capita era de US$ 3.188 em 1870 e de US$ 28.740 em 1999. A taxa de crescimento foi de 1,75% ao ano. Isto quer dizer que se o PIB real per capita tivesse crescido de 1,75% a cada ano a partir do valor inicial de US$ 3.188, em 127 anos teria atingido os US$ 28.740. Obviamente, o PIB real per capita não aumentou exatos 1,75% a cada ano. Há flutuações de curto prazo em torno da tendência de longo prazo. A taxa de crescimento de 1,75 representa uma taxa média de crescimento do PIB real em um período de muitos anos. CAPíTULO 24 < PRODUÇÃO E CRESCIMENTO PIB REAL PIB REAL PER CAPITA PER CAPITA NO FIM DO PERÍODO* TAXA DE CRESCIMEN TO MÉDIO ANUAL (%) PAÍS PERÍODO NO INiCIO DOPERÍODO* Japão 1890-1997 1.196 23.400 2,82 Brasil 1900-1997 619 6.240 2,41 México 1900-1997 922 8.120 2,27 Alemanha 1870-1997 1.738 21.300 1,99 Canadá 1870-1997 1.890 21.860 1,95 China 1900-1997 570 3.570 1,91 Argentina 1900-1997 1.824 9.950 1,76 Estados Unidos Indonésia 1870-1997 1900-1997 3.188 708 28.740 3.450 1,75 1,65 Índia 1900-1997 537 1.950 1,34 Reino Unido 1870-1997 3.826 20.520 1,33 Paquistão 1900-1997 587 1.590 1,03 Bangladesh 1900-1997 495 1.050 0,78 FONTE: Robert J. Barro e Xavier Sala-i-Martin, Economic Gronth (Nova York, McGraw-Hill, 1995, Quadros 10.2 e 10.3; World Development Report 1998/1999 e cálculo do autor * Em dólares de 1985. VARIEDADE DE EXPERIÊNCIAS DE CRESCIMENTO Os países apresentados na Tabela 24-1 estão ordenados segundo a taxa de crescimento, da maior para a menor. O Japão encabeça a lista, com uma taxa de crescimento de 3% ao ano. Cem anos atrás, o Japão não era um país rico. Sua renda média era pouco mais alta do que a do México, e estava bem atrás da Argentina. Dizendo de outra maneira, a renda do Japão em 1890 era próxima à da India em 1997. Mas em decorrência de sua espetacular taxa de crescimento, 6 Japão é, hoje em dia, uma superpotência, com uma renda média quase igual à dos Estados Unidos. No fim da lista está Bangladesh que quase não registrou crescimento algum ao longo do último século. O habitante típico de Bangladesh continua vivendo em pobreza abjeta. Dadas as diferenças nas taxas de crescimento, o ordenamento em termos de renda dos países muda substancialmente de tempos em tempos. Como vimos, o Japão é um país que cresceu em relação aos demais. Dois países que perderam posição são o Reino Unido e a Argentina. Em 1870, o Reino Unido era o país mais rico do mundo, com uma renda média cerca de 20% superior à dos Estados Unidos e quase duas vezes a do Canadá. Atualmente, a renda média do Reino Unido é bem inferior à das duas antigas colônias. Os dados mostram que os países mais ricos do mundo não têm garantias de permanecer nessa posição e que os países mais pobres não estão fadados a se manter na pobreza. Mas o que é que explica estas mudanças ao longo do tempo? Por que alguns países avançam enquanto outros recuam? Estas são as questões que veremos a seguir. Tabela 24-1 533 534 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO NOTA A mágica da composzçao e a regra dos 70 Pode parecer tentador descartar as diferenças nas taxas de crescimento como sendo insignificantes. Um país cresce 1% ao ano e outro, 3%, e daí? Que diferença podem fazer 2%? A resposta é uma grande diferença. Mesmo taxas de crescimento que parecem pequenas quando expressas em termos percentuais tomam-se grandes quando compostas ao longo de muitos anos. Compostas se refere à acumulação de uma taxa de crescimento ao longo de um período. Veja um exemplo. Imagine dois colegas de faculdade - João e Maria - que conseguem seu primeiro emprego aos vinte e dois anos e que ganham US$ 30 mil ao ano. João vive em uma economia em que a renda cresce 1 % ao ano, enquanto Maria vive em uma economia na qual a renda cresce 3% ao ano. Um cálculo simples nos mostra o que ocorre. Quarenta anos mais tarde, quando ambos já têm 62 anos de idade, João ganha US$ 45 mil, enquanto Maria ganha US$ 98 mil. Dada aquela diferença de dois pontos percentuais, o salário de Maria na velhice é duas vezes maior do que o de João. Uma antiga regra prática, chamada regra dos 70, é útil para entender taxas de crescimento e os efeitos da composição. De acordo com essa regra, se uma variável cresce à taxa de x% ao ano, então a variável dobra em aproximadamente 70/ x anos. Na economia de João, a renda aumenta a 1% ao ano, então são necessários cerca de 70 anos para duplicar a renda. Já a economia de Maria cresce 3% ao ano, de modo que são necessários cerca de 70/3, ou 23, anos para a duplicação da renda. A regra dos 70 se aplica não apenas ao crescimento econômico mas também ao rendimento da poupança. Veja um exemplo: em 1791, Benjamin Franklin morreu e deixou US$ 5 mil para serem investidos por um período de 200 anos a fim de auxiliar estudantes de medicina e pesquisas científicas. Se essa soma rendesse 7% ao ano (o que teria sido, de fato, possível), o investimento teria duplicado seu valor a cada 10 anos. Em 200 anos, teria duplicado cerca de 20 vezes. Ao fim de 200 anos de juros compostos, o investimento estaria valendo 220 x US$ 5 mil, o que representaria cerca de 5 bilhões. (Na verdade, os US$ 5 mil de Franklin só atingiram US$ 2 milhões ao fim dos 200 anos porque parte do dinheiro foi sendo gasto ao longo do tempo.) Como mostram estes exemplos, as taxas de crescimento compostas ao longo de muitos anos podem levar a resultados espetaculares. Talvez seja por isso que Albert Einstein disse certa vez que as taxas compostas eram" a maior descoberta matemática de todos os tempos". I T E 5 T E R Á P I D O Qual é a taxa de crescimento do PIB real per capita dos Estados Unidos? Cite um país que já tenha registrado um crescimento mais rápido e outro que tenha crescido mais lentamente. PRODUTIVIDADE: SEU PAPEL E SEUS DETERMINANTES Explicar as grandes variações mundiais nos padrões de vida é, de certo ponto de vista, muito fácil. Como veremos, a explicação pode ser resumida por uma única palavra - produtividade. Mas, em outro sentido, as variações internacionais são bastante intrigantes. Para explicar por que as rendas são tão mais altas em alguns países do que em outros, temos que observar os muitos fatores que determinam a produtividade de uma nação. CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO 535 POR QUE A PRODUTIVIDADE É TÃO IMPORTANTE Comecemos o estudo da produtividade e do crescimento econômico construindo um modelo simples que tomará como base a famosa obra de Daniel DeFoe, Robinson Crusoé. Como sabemos, Robinson Crusoé é um marinheiro encalhado em uma ilha deserta. Como Crusoé está sozinho, pesca seu próprio peixe, planta seus legumes e confecciona suas roupas. Podemos pensar nas atividades de Crusoé - sua produção e consumo de peixe, legumes e vestuário - como sendo uma economia simples. Observando a economia de Crusoé, podemos aprender algumas lições que também se aplicam a economias mais complexas e realistas. O que é que determina o padrão de vida de Crusoé? A resposta é óbvia. Se Crusoé é competente na pesca, na lavoura e na confecção de roupas, ele vive bem. Se lhe faltar talento para essas atividades, viverá mal. Como Crusoé só consome o que produz, seu padrão de vida está amarrado à sua capacidade produtiva. O termo produtividade se refere à quantidade de bens e serviços que um trabalhador pode produzir a cada hora de trabalho. No caso da economia de Crusoé, é fácil constatar que a produtividade é o determinante-chave do padrão de vida e que o aumento da produtividade é o fator-chave para a melhoria de seu padrão de vida. Quanto mais peixe Crusoé conseguir por hora, mais comerá ao jantar. Se ele encontrar um local melhor para pescar, sua produtividade aumenta. Esse aumento de produtividade melhora a situação de Crusoé: ele pode comer mais peixe, ou ele pode dedicar menos tempo à pesca para empregar o tempo fabricando outros produtos que deseje. O papel-chave da produtividade na determinação dos padrões de vida é tão verdadeiro para as nações como o é para marinheiros encalhados. Lembre-se de que o produto interno bruto (PIB) da economia mede duas coisas simultaneamente: a renda total auferida na economia e a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia. A razão pela qual o PIB pode medir duas coisas ao mesmo tempo é que para a economia como um todo elas têm que ser iguais. Dito de forma simples, a renda de uma economia é a produção da economia. Como Crusoé, uma nação só pode desfrutar de um padrão de vida mais alto se puder produzir uma quantidade maior de bens e serviços. Os americanos vivem melhor do que os nigerianos porque os trabalhadores americanos são mais produtivos do que os trabalhadores nigerianos. Os japoneses desfrutaram de um crescimento mais rápido de seus padrões de vida do que os argentinos porque os trabalhadores japoneses registraram um crescimento mais rápido em sua produtividade. De fato, um dos Dez Princípios de Economia apresentados no Capítulo 1 é o de que os padrões de vida de um país dependem de sua capacidade em produzir bens e serviços. Portanto, para entender as grandes diferenças observadas nos padrões de vida em diferentes países, ou em diferentes períodos, temos de nos concentrar na produção de bens e serviços. Mas a constatação da relação entre padrões de vida e produtividade é apenas o primeiro passo. E leva naturalmente à próxima indagação: por que algumas economias são tão melhores na produção de bens e serviços do que outras? COMO É DETERMINADA A PRODUTIVIDADE Embora a produtividade seja singularmente importante para determinar o padrão de vida de Robinson Crusoé, muitos fatores determinam essa produtividade. Crusoé será mais capaz de pescar, por exemplo, se tiver mais caniços, se produtividade quantidade de bens e serviços que um trabalhador pode produzir a cada hora de trabalho 536 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO tiver aprendido as melhores técnicas de pesca, se na ilha houver muitos peixes e se ele tiver descoberto os melhores locais para pesca na ilha. Cada um desses de terminantes da produtividade de Crusoé - que podemos chamar de capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico - tem uma contrapartida em economias mais complexas e realistas. Vejamos. capital físico estoque de equipamentos e estruturas utilizados na produção de bens e serviços capital humano conhecimento e habilidades adquiridos pelos trabalhadores através do ensino, do treinamento e da experiência recursos naturais insumos fornecidos pela natureza para a produção de bens e serviços, como a terra, os rios e os jazidas minerais C a p i t a I f í s i c o Os trabalhadores são mais produtivos quando dispõem de ferramentas para executar seu trabalho. O estoque de equipamento e estruturas usados para produzir bens e serviços é denominado capital físico, ou simplesmente capital. Por exemplo, quando os marceneiros fabricam móveis, eles usam serras, tornos e furadeiras. Mais ferramentas permitem que o trabalho seja feito mais rápida e perfeitamente. Isto é, um trabalhador com apenas as ferramentas manuais básicas fabrica menos móveis por semana do que um trabalhador que disponha de ferramentas especializa das. Como vimos no Capítulo 2, os insumos utilizados na produção de bens e serviços - trabalho, capital e assim por diante - são chamados fatores de produção. Uma característica importante do capital é a de que ele é um fator de produção produzido. Isto é, o capital é um insumo do processo produtivo que no passado foi o produto do processo produtivo. O marceneiro usa o tomo para fazer o pé da mesa. No passado, o próprio tomo foi o resultado da produção de uma fábrica de tomos. O fabricante de tomos, por sua vez, usou outros equipamentos para fabricar seu produto. Portanto, o capital é um fator de produção usado para produzir todo tipo de bens e serviços, incluindo mais capital. C a p i t a I h uma n o Um segundo determinante da produtividade é o capital humano. Capital humano é o termo que os economistas empregam para descrever o conhecimento e as habilidades que os trabalhadores adquirem por meio da educação, do treinamento e da experiência. O capital humano inclui a perícia acumulada em programas para a infância, cursos primário e secundário, faculdade e treinamento no emprego para trabalhadores adultos. Embora a escolaridade, o treinamento e a experiência sejam menos tangíveis do que tornos, escavadeiras e edificações, o capital humano tem muitas semelhanças com o capital físico. Como o capital físico, o capital humano aumenta a capacidade da nação para a produção de bens e serviços. Também como o capital físico, o capital humano é um fator de produção produzido. A produção do capital humano exige insumos na forma de professores, bibliotecas e tempo de estudo. De fato, os estudantes podem ser considerados "trabalhadores" que têm a importante tarefa de produzir o capital humano que será utilizado na produção futura. c u r 5 o 5 na t u r a i 5 Um terceiro determinante da produtividade são os recursos naturais. Os recursos naturais são insumos fornecidos pela natureza, como a terra, os rios e as jazidas minerais. Os recursos naturais se apresentam de duas formas: renováveis e não-renováveis, Uma floresta é um exemplo de recurso natural renovável. Quando uma árvore é abatida, pode-se plantar em seu lugar uma muda para ser abatida no futuro. O petróleo é um exemplo de recurso natural não-renovável. Dado que o petróleo é produzido pela natureza ao longo de milhares de anos, a oferta é limitada. Se a disponibilidade de petróleo for esgotada, é impossível criar mais. Diferenças na dotação de recursos naturais são responsáveis por algumas das diferenças mundiais de padrões de vida. O sucesso histórico dos Estados Unidos foi em parte impulsionado pela ampla oferta de terras adequadas à agricultura. Atualmente, alguns países do Oriente Médio, como o Kuwait e a Arábia Saudita, são ricos simplesmente porque estão localizados sobre as maiores jazidas petrolíferas do mundo. Re CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO 537 Embora os recursos naturais sejam importantes, não são essenciais para que uma economia registre alta produtividade. O Japão, por exemplo, é um dos países mais ricos do mundo, apesar dos poucos recursos naturais de que dispõe. O comércio internacional torna possível o sucesso do Japão. O país importa muitos dos recursos naturais de que necessita, como o petróleo, e exporta bens manufaturados para economias ricas em recursos naturais. c o n h ec i m e n to te c n o I óg i c o Um quarto determinante da produtivi- dade é o conhecimento tecnológico - a compreensão das melhores formas de produzir bens e serviços. Cem anos atrás, muitos americanos trabalhavam no campo, porque a tecnologia agrícola exigia um alto insumo de trabalho para alimentar toda a população. Atualmente, graças à tecnologia agrícola, uma pequena parcela da população pode produzir alimentos suficientes para atender todo o país. Esta mudança tecnológica liberou mão-de-obra para a produção de outros bens e serviços. O conhecimento tecnológico assume várias formas. Parte da tecnologia é conhecimento comum - depois de utilizado por alguém, todos se tornam conscientes do mesmo. Uma vez que Henry Ford, por exemplo, introduziu com sucesso a produção em linhas de montagem, outros fabricantes de automóveis o seguiram. Outras tecnologias são proprietárias - só são conhecidas pela empresa que as descobrem. Apenas a Coca-Cola, por exemplo, conhece a receita secreta do famoso refrigerante. Há ainda tecnologias que são proprietárias apenas por um curto espaço de tempo. Quando uma empresa farmacêutica descobre uma nova substância, o sistema de patentes lhe dá um direito temporário de exclusividade sobre a fabricação dessa substância. Quando a patente expira, contudo, "as demais empresas podem fabricar a substância. Todas essas formas de conhecimento tecnológico são importantes para a produção de bens e serviços da economia. É importante distinguir conhecimento tecnológico e capital humano. Embora estejam estreitamente relacionados, há uma diferença importante. O conhecimento tecnológico se refere ao entendimento por parte da sociedade a respeito do funcionamento do mundo. O capital humano tem a ver com os recursos despendidos para transmitir esse conhecimento à força de trabalho. Para empregar uma metáfora relevante, o conhecimento tecnológico tem a ver com a qualidade dos livros-texto da sociedade, enquanto o capital humano tem a ver com o tempo que as pessoas destinam à sua leitura. A produtividade dos trabalhadores depende tanto da qualidade dos livros-texto disponíveis quanto do tempo destinado a seu estudo. ESTUDO DE CASO: OS RECURSOS NATURAIS LIMITAM O CRESCIMENTO? A população mundial é, em nossos dias, bem maior do que há um século, e muitas pessoas desfrutam de um padrão de vida muito mais alto. Há um debate permanente sobre a possibilidade de continuação futura desse crescimento da população e dos padrões de vida. Muitos analistas argumentam que os recursos naturais impõem um limite ao crescimento das economias mundiais. À primeira vista essa hipótese pode parecer difícil de ser ignorada. Se o mundo tem um estoque fixo de recursos naturais não-renováveis, como podem a população, a produção e os padrões de vida continuar a crescer ao longo do tempo? As disponibilidades de petróleo e de minerais não se esgotarão? Quando a escassez começar a se manifestar, não interromperá o crescimento econômico e, quem sabe, determinará uma queda dos padrões de vida? conhecimento tecnológico entendimento, por parte da sociedade, das melhores formas de produzir bens e serviços 538 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO NOTA A função de produção te, podemos dizer que uma função de produção tem retornos de escala constantes se para qualquer número positivo x, xY= A F(xL, xK, xH, xN). Os economistas em geral utilizam a junção de produção para descrever a relação entre a quantidade de insumos utilizada na produção e a quantidade de produtos obtida. Por exemplo, suponha que Y denote a quantidade de produtos, L, a quantidade de trabalho, K, a quantidade de capital físico, H, a quantidade de capital humano e N, a quantidade de recursos naturais. Então podemos escrever: A duplicação de todos os insumos é representada nesta equação por x = 2. O lado direito mostra a duplicação dos insumos e o lado esquerdo, a duplicação da produção. As funções de produção com retornos constantes de escala têm uma implicação interessante. Para ver do que se trata, digamos que x = l/L, então a equação fica como Y= A F(L, K, H, N) Y/L= A F(1, K/L, H/L, N/L). onde F( ) é uma função que mostra como os insumos são combinados para gerar o produto. A é uma variável que representa a tecnologia produtiva disponível. À medida que a tecnologia se aperfeiçoa, A aumenta, de modo que a economia produz mais a partir de qualquer combinação dada de insumos. Muitas funções de produção possuem uma propriedade chamada retornos de escala constantes. Se a função de produção tiver retornos de escala constantes, então a duplicação dos insumos provoca uma duplicação da produção. Matematicamen- Observe que Y /L é a produção por trabalhador, que é uma medida de produtividade. Esta equação diz que a produtividade depende do capital físico por trabalhador (K/L), do capital humano por trabalhador (H/L) e dos recursos naturais por trabalhador (N/L). A produtividade também depende do estado da tecnologia, repre·· sentado pela variável A. Portanto, esta equação oferece um resumo matemático dos quatro determinantes do nível de produtividade que acabamos de apresentar. Apesar do apelo aparente dessas idéias, muitos economistas estão menos preocupados acerca de tais limites do que se poderia pensar. Argumentam eles que o progresso técnico pode proporcionar maneiras de evitar esses limites. Se compararmos a economia atual com a do passado, veremos vários exemplos de como melhorou o uso dos recursos naturais. Os novos automóveis consomem menos gasolina. As novas casas têm melhor isolamento térmico e necessitam de menos energia para seu aquecimento ou refrigeração. Métodos mais eficientes desperdiçam menos petróleo no processo extrativo. A reciclagem permite a reutilização de recursos não-renováveis. O desenvolvimento de combustíveis alternativos, como o etanol no lugar da gasolina, permite a substituição de recursos não-renováveis por recursos renováveis. Cinqüenta anos atrás, alguns conservacionistas estavam preocupados com o uso excessivo de folha-de-flandres e cobre. Na época, estas eram matérias-primas cruciais: a folha-de-flandres era utilizada para enlatar alimentos e o cobre, cabos telefônicos. Algumas pessoas defenderam a reciclagem obrigatória e o racionamento da folha-de-flandres e do cobre de modo a assegurar sua disponibilidade para as gerações futuras. Contudo, atualmente o plástico substituiu a folha-de-flandres na embalagem de alimentos e as chamadas telefônicas trafegam por cabos de fibra óptica, cuja matéria-prima é a areia. O progresso tecnológico tomou menos necessários recursos naturais antes considerados essenciais. CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO Mas essas iniciativas serão suficientes para permitir o crescimento ec~nômico continuado? Uma maneira de responder a esta indagação é observar os preços dos recursos naturais. Em uma economia de mercado, a escassez se reflete nos preços de mercado. Se os recursos naturais estivessem se esgotando, então os preços destes recursos aumentariam ao longo do tempo. Mas, na verdade, está ocorrendo o oposto. Os preços da maioria dos recursos naturais (depois de descontada a inflação) se encontra estável ou em declínio. Parece que nossa capacidade de conservar esses recursos está aumentando mais rapidamente do que sua disponibilidade está se reduzindo. Os preços de mercado não dão razão para acreditar que os recursos naturais sejam um limite ao crescimento econômico. I TE 5 T E R Á P I DO vidade de um país. Liste e descreva os quatro determinantes da produti- CRESCIMENTO ECOIIÔMICOE POLÍTICAS PÚBLICAS Até agora determinamos que o padrão de vida de uma sociedade depende de sua capacidade de produzir bens e serviços e que sua produtividade depende do capital físico, do capital humano, dos recursos naturais e do conhecimento tecnológico. Vejamos a seguir a questão enfrentada pelos formuladores de políticas públicas de todo o mundo: o que o governo pode fazer para aumentar a produtividade e o padrão de vida? A IMPORTÂNCIA DA POUPANÇA E DO INVESTIMENTO Dado que o capital é um fator de produção produzido, uma sociedade pode alterar a quantidade de capital de que dispõe. Se hoje a economia produz uma grande quantidade de bens de capital novos, amanhã terá um estoque de capital maior e poderá produzir maiores quantidades de todos os bens e serviços. Portanto, uma das maneiras de aumentar a produtividade futura é investir mais recursos correntes na produção de capital. Um dos Dez Princípios de Economia apresentados no Capítulo 1 é que as pessoas se deparam com tradeoffs. Este princípio é especialmente importante quando consideramos a acumulação de capital. Como os recursos são escassos, destinar mais recursos à produção de capital exige a destinação de menos recursos para a produção de bens e serviços de consumo corrente. Isto é, para que uma sociedade possa investir mais em capital, ela precisa consumir menos e poupar mais de sua renda corrente. O crescimento que decorre da acumulação de capital não é de graça: exige que a sociedade sacrifique o consumo presente de bens e serviços a fim de poder desfrutar futuramente de mais consumo. O próximo capítulo trata com detalhes de como os mercados financeiros da economia coordenam a poupança e o investimento. Também examina como as políticas do governo influem sobre a quantidade de poupança e investimento efetuados. Neste ponto é importante observar que o incentivo à poupança e ao investimento é uma das maneiras pelas quais o governo pode estimular o crescimento e, no longo prazo, aumentar o padrão de vida da economia. Para ver a importância do investimento para o crescimento, observe a Figura 24-1 que apresenta dados relativos a 15 países. O painel (a) mostra a 539 540 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO ,,' f' , (a) Taxa de crescimento 1960-1991 Coréia do Sul Cingapura Japão Israel Canadá 'h', li: I ~ li,l ~ ti' I Coréia do Sul Cingapura Japão Israel Canadá I ,I I :1 I Brasil Alemanha Ocidental México (b) Investimento 1960-1991 i, h Brasil Alemanha Ocidental México "j I Reino Unido Nigéria Estados Unidos índia Reino Unido Nigéria Estados Unidos índia Bangladesh Bangladesh ~ Chile :,@t",Si0Si,,",>,:11 ,<'f<~22J CJ I Chile Ruanda O 1 2 3 4 5 6 7 Ruanda. O I 10 20 Taxa de crescimento (em % do PIB) y , Figura 24-1 30 40 Investimento (em % do PIB) 'Y CRESCIMENTO E INVESTIMENTO. O painel (a) mostra a taxa de crescimento do Plli per capita de um grupo de 15 países no período 1960-1991. O painel (b) mostra o percentual do PIB que cada país destinou ao investimento no período. A figura mostra que há uma correlação positiva entre investimento e crescimento. taxa de crescimento, em um período de 31 anos, de cada país. Os países estão ordenados segundo a taxa de crescimento, em ordem decrescente. O painel (b) apresenta o percentual do PIB que cada país destina ao investimento. A correlação entre crescimento e investimento, embora não seja perfeita, é forte. Países que destinam grandes parcelas do PIB ao investimento, como Cingapura e Japão, tendem a registrar altas taxas de crescimento. Países que destinam pequenas parcelas do PIB ao investimento, como Ruanda e Bangladesh, tendem a registrar baixas taxas de crescimento. Estudos sobre um conjunto maior de países confirmam esta forte correlação entre investimento e crescimento. Contudo, há um problema na interpretação desses dados. Como foi visto no Capítulo 2, a correlação entre duas variáveis não estabelece qual das variáveis é a causa e qual é o efeito. É possível que um grande investimento cause um crescimento alto, mas também é possível que o crescimento alto provoque grande investimento. (Ou, talvez, tanto o alto crescimento quanto o grande investimento sejam determinados por uma terceira variável que foi omitida da análise.) Os dados não podem nos dizer, por si próprios, a direção da causalidade. Todavia, como a acumulação de capital afeta a produtividade de forma clara e direta, muitos economistas interpretam esses dados como representativos do fato de que altas taxas de investimento determinam um crescimento econômico mais rápido. RETORNOS DECRESCENTES E O EFEITO DE ALCANCE Imagine que um governo, convencido pela evidência apresentada na Figura 24-1, recorra a políticas destinadas a aumentar a taxa de poupança - percen- CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO tual do PIB destinado à poupança. O que acontece? Uma vez que a nação poupa mais, são necessários menos recursos para produzir bens de consumo e há mais recursos disponíveis para a produção de bens de capitaL Em conseqüência, aumenta o estoque de capital, o que provoca um aumento da produtividade e um crescimento do PIB mais rápido. Mas qual a duração deste aumento da taxa de crescimento? Supondo que a taxa de poupança permaneça no seu novo nível, mais elevado, a taxa de crescimento do PIB permanecerá elevada indefinidamente ou apenas por um período? Na visão tradicional do processo produtivo considera-se que o capital seja sujeito a retornos decrescentes: à medida que o estoque de capital aumenta, o produto adicional obtido mediante o uso de uma unidade adicional de capital se reduz. Em outras palavras, quando os trabalhadores já utilizam grandes quantidades de capital para produzir bens e serviços, o acréscimo de uma unidade de capital aumenta pouco sua produtividade. Em decorrência dos rendimentos decrescentes, um aumento na taxa de poupança aumenta a taxa de crescimento por um período limitado. À medida que a taxa de poupança elevada permite maior acumulação de capital, os benefícios do capital adicional se tornam, com o correr do tempo, menores e a taxa de crescimento diminui. No longo prazo, a taxa de poupança mais elevada provoca um aumento da produtividade e da renda, mas não a um maior crescimento dessas variáveis. Atingir esse longo prazo, contudo, pode demorar bastante. De acordo com estudos fundamentados em dados internacionais de crescimento econômico, o aumento da taxa de poupança pode provocar um crescimento elevado por um período de várias décadas. Os retornos decrescentes do capital têm outra implicação importante: tudo o mais mantido constante, é mais fácil para o país crescer rapidamente quando, no início do processo, parte de um patamar relativamente pobre. Este efeito das condições iniciais é, às vezes, denominado efeito de alcance. Em países pobres faltam até as ferramentas mais simples e, como conseqüência, a produtividade é baixa. Pequenos investimentos em capital fixo aumentariam substancialmente a produtividade desses trabalhadores. Já nos países ricos, os trabalhadores têm à sua disposição muito capital e isto explica, em parte, sua produtividade alta. Contudo, como o capital por trabalhador já é tão alto, investimentos adicionais em capital têm um efeito relativamente pequeno sobre a produtividade. Esta hipótese do efeito de alcance é confirmada por estudos feitos a partir de dados internacionais: controlando outras variáveis, tais como o percentual de PIB destinado ao investimento, os países pobres tendem a crescer mais rápido do que os países ricos. O efeito de alcance pode ajudar a explicar alguns dos intrigantes resultados da Figura 24-1. No período de 31 anos, Estados Unidos e Coréia do Sul destinaram ao investimento parcelas do PIB semelhantes. Contudo os Estados Unidos experimentaram um modesto crescimento de cerca de 2%, enquanto a Coréia registrava um crescimento espetacular de mais de 6%. A explicação está no efeito de alcance. Em 1960, o PIB per capita da Coréia era de cerca de um décimo do dos Estados Unidos, em parte porque o investimento anterior tinha sido muito reduzido. Com um estoque inicial de capital pequeno, os benefícios da acumulação de capital foram muito maiores na Coréia e isto lhe proporcionou as elevadas taxas de crescimento subseqüentes. O efeito de alcance aparece em outros aspectos da vida. Quando uma escola na premiação do final do ano chama o aluno que obteve o "maior progresso", este é um alurte que começou o ano com um desempenho relativamente fraco. Alunos que iniciam o ano escolar sem estudar muito conseguem progredir com mais facilidade do que os alunos mais estudiosos. Note que é bom ser o aluno que teve o "maior progresso", dada a situação inicial, mas é ainda melhor ser o "melhor aluno". Da mesma forma, o crescimento econômico nas últi- 541 retornos decrescentes propriedade pela qual o benefício de uma unidade adicional de insumo diminui com o aumento da quantidade de insumo efeito de alcance propriedade pela qual países que partem de um patamar pobre crescem mais rapidamente do que países que partem de um patamar rico 542 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO mas décadas foi muito mais rápido na Coréia do Sul do que nos Estados Unidos, mas o PIB per capita ainda é maior nos Estados Unidos. INVESTIMENTO EXTERNO Até aqui vimos como políticas destinadas a aumentar a taxa de poupança de um país podem aumentar o investimento e, portanto, o crescimento econômico de longo prazo. Contudo a poupança dos residentes não é a única maneira pela qual um país pode investir em capital novo. Outro modo é o investimento estrangeiro. O investimento estrangeiro toma várias formas. A Ford Motor Company poderia construir uma fábrica de automóveis no México. Um investimento possuído e operado por uma entidade estrangeira é chamado de investimento externo direto. Mas também é possível que um americano compre ações de uma empresa mexicana (isto é, compre uma participação na propriedade da empresa); a empresa mexicana pode usar os recursos dessa venda para construir uma nova fábrica. Um investimento financiado com moeda estrangeira mas operado por residentes do país é chamado de investimento externo de portfólio. Em ambos os casos, os americanos proporcionaram os recursos necessários para aumentar o estoque de capital do México. Isto é, poupanças americanas foram usadas para financiar o investimento mexicano. Quando estrangeiros investem em um país, o fazem porque esperam auferir um retorno sobre o seu investimento. A fábrica de automóveis da Ford aumenta o estoque de capital do México e, em conseqüência, a produtividade e o PIB mexicanos. Contudo, a Ford leva de volta aos Estados Unidos, sob a forma de lucro, parte dessa renda adicional. Da mesma forma, quando um investidor americano compra ações mexicanas, tem direito à parte do lucro auferido pela empresa mexicana. Portanto, o investimento externo não afeta da mesma forma todas as medidas de prosperidade. Recorde-se que o produto interno bruto (PIB) é a renda auferida dentro de um país por residentes e não-residentes, enquanto o produto nacional bruto (PNB) é a renda auferida pelos residentes de um país tanto dentro quanto fora dele. Quando a Ford abre sua fábrica no México, parte da renda gerada é auferida por pessoas que não residem no México. Em decorrência disso, esse investimento aumenta a renda dos mexicanos (medida pelo PNB) menos do que a produção do México (medida pelo PIB) . Ainda assim, investimento externo é uma alternativa para o crescimento do país. Mesmo que parte dos benefícios desse investimento retorne aos proprietários no exterior, ele aumenta o estoque de capital da economia, expandindo a produtividade e os salários. Além disso, o investimento externo é uma forma pela qual os países pobres podem aprender as novas tecnologias desenvolvidas e utilizadas nos países mais ricos. Por estas razões, muitos economistas que assessoram países menos desenvolvidos defendem políticas que incentivem a vinda de investimentos estrangeiros. Muitas vezes isso implica remover restrições impostas pelos governos à propriedade estrangeira do capital. Uma organização que tenta estimular o fluxo de investimentos para os países pobres é o Banco Mundial. Este organismo internacional obtém recursos dos países mais avançados, como os Estados Unidos, e os utiliza para conceder empréstimos a países menos desenvolvidos com a finalidade de financiar investimentos em estradas, saneamento básico, escolas e outros tipos de capital. Também oferece assessoria quanto ao melhor uso dos recursos. O Banco Mundial, junto com o Fundo Monetário Internacional, foi criado após a Segunda Guerra Mundial. Uma das lições da guerra foi que as dificuldades econômicas muitas vezes levam à instabilidade política, às tensões internacio- CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO nais e aos conflitos militares. Portanto, todos os países têm interesse na promoção da prosperidade econômica em todo o mundo. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional se destinam a esse objetivo. EDUCAÇÃO A educação - investimento em capital humano - é, pelo menos, tão importante quanto o investimento em capital físico para o sucesso econômico a longo prazo de um país. Nos Estados Unidos, cada ano de ensino aumenta os salários em cerca de 10%, em média. Nos países menos desenvolvidos, onde o capital humano é particularmente escasso, o hiato entre os salários dos trabalhadores qualificados e não-qualificados é ainda maior. Portanto, uma das maneiras pelas quais a política do governo pode melhorar o padrão de vida é proporcionando um bom ensino e o incentivo a seu uso pela população. O investimento em capital humano, como o investimento em capital físico, tem um custo de oportunidade. Enquanto os estudantes freqüentam as aulas, eles estão abrindo mão dos salários que poderiam ganhar. Nos países menos desenvolvidos, as crianças costumam abandonar cedo a escola, mesmo quando o benefício do maior estudo é muito alto, simplesmente porque seus salários são necessários para a manutenção da família. Alguns economistas afirmam que o capital humano é especialmente importante para o crescimento econômico porque possui externalidades positivas. Uma externalidade é o efeito das ações de uma pessoa sobre o bem-estar do próximo. Uma pessoa instruída, por exemplo, pode apresentar novas idéias sobre a melhor maneira de produzir bens e serviços. Se essas idéias passarem a fazer parte do conhecimento comum da sociedade, de modo que todos possam usá-Ias, então essas idéias são uma externalidade gerada pela educação. Neste caso, o retomo da educação para a sociedade é até maior do que o retorno para o indivíduo. Este argumento justifica os grandes subsídios ao investimento em capital humano que se observam na forma do ensino público. Um dos problemas com que se deparam os países pobres é a fuga de cérebros - a emigração de muitos dos trabalhadores mais escolarizados para os países ricos, onde eles podem desfrutar de um padrão de vida mais elevado. Se o capital humano tem externalidades positivas, então essa fuga de cérebros toma ainda mais pobres os que ficam. Este problema coloca os formuladores de políticas públicas ante um dilema. De um lado, os Estados Unidos e outros países ricos têm os melhores sistemas de educação superior, e seria natural que os países pobres enviassem para lá seus estudantes mais promissores, a fim de aprofundar sua formação. Por outro lado, os estudantes que passaram um tempo no exterior podem preferir não voltar e esta fuga de cérebros reduzirá ainda mais o estoque de capital humano da nação pobre. DIREITOS DE PROPRIEDADE E ESTABILIDADE POLíTICA Outra forma pela qual os formuladores de políticas públicas podem incentivar o crescimento econômico é pela proteção aos direitos de propriedade e a promoção da estabilidade política. Como já observamos ao tratar da interdependência econômica, no Capítulo 3, a produção em uma economia de mercado é resultado da ínteração de milhões de indivíduos e empresas. Quando você compra um carro, por exemplo, está comprando a produção de um revendedor, de uma montadora, de uma siderúrgica, de uma mineradora de aço e assim por diante. Esta divisão da atividade produtiva entre muitas empresas permite que os fatores de produção da economia sejam utilizados da maneira 543 544 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO mais eficaz possível. Para atingir este resultado, a economia tem de coordenar as transações entre as empresas, bem como entre estas e os consumidores. As economias de mercado conseguem essa coordenação através dos preços de mercado. Isto é, os preços de mercado são o instrumento com que a mão invisível do mercado equilibra a oferta e a demanda. Um importante pré-requisito para o funcionamento do sistema de preços é um amplo respeito aos direitos de propriedade. Direitos de propriedade podem ser definidos como a capacidade de alguém de exercer autoridade sobre os recursos que possui. Uma mineradora não fará o esforço de extrair o minério de ferro se espera que esse minério lhe venha a ser roubado. Ela só funcionará se estiver confiante de que lucrará com a venda subseqüente do minério extraído. Por esta razão os tribunais desempenham um papel importante na economia de mercado: eles implementam os direitos de propriedade. Mediante o sistema de justiça criminal os tribunais desincentivam o roubo. Além disso, mediante o sistema de justiça cível, os tribunais garantem que compradores e vendedores respeitarão seus contratos. Embora nos países desenvolvidos se considere que os direitos de propriedade são algo assegurado, quem vive nos países menos desenvolvidos considera que a falta de direitos de propriedade pode ser um grande problema. Em muitos países, o sistema de justiça não funciona bem. É difícil fazer cumprir os contratos e as fraudes ficam sem punição. Em casos mais extremos, os governos não só se mostram incapazes de assegurar os direitos de propriedade como também os infringem. Para fazer negócios em alguns países, espera-se que as empresas dêem propinas a funcionários públicos poderosos. Tal corrupção impede o poder de coordenação dos mercados. Também desincentiva a poupança interna e o investimento externo. Uma das ameaças aos direitos de propriedade é a instabilidade políticá. Quando revoluções e golpes de estado são comuns, duvida-se sobre o respeito futuro aos direitos de propriedade. Se um governo revolucionário puder vir a confiscar o capital de algumas empresas, como ocorreu em várias revoluções comunistas, os residentes terão menos incentivos para poupar, investir e iniciar novos negócios. Também os estrangeiros terão menos incentivos a investir no país. Até a ameaça de· revolução pode deprimir o padrão de vida de um país. Portanto, a prosperidade econômica depende em parte da prosperidade política. Um país com um sistema judiciário eficiente, funcionários públicos honestos e uma constituição estável desfrutará de um padrão de vida mais alto do que um país com um judiciário fraco, funcionários corruptos e freqüentes revoluções e golpes de estado. LIVRE COMÉRCIO Alguns dos países mais pobres do mundo têm tentado alcançar um crescimento econômico mais rápido mediante políticas voltadas para dentro. Estas políticas visam aumentar a produtividade e os padrões de vida dentro do país, isolando-o do resto do mundo. Como foi visto no Capítulo 9, as empresas de um país muitas vezes reivindicam proteção contra a concorrência externa a fim de competir e crescer. Este argumento da indústria nascente, aliado a uma desconfiança de tudo o que vem de fora, tem levado em diversas ocasiões os políticos de países menos desenvolvidos a impor tarifas e outras restrições ao comércio. Atualmente a maioria dos economistas acredita que os países pobres estariam em melhor situação se seguissem políticas voltadas para o exterior que os integrassem à economia mundial. Os Capítulos 3 e 9 mostraram como o comércio internacional pode melhorar o bem-estar dos cidadãos de um país. O comércio é, de certa maneira, um tipo de tecnologia. Quando um país exporta tri- CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO go e importa aço, o país está se beneficiando da mesma forma que se tivesse encontrado uma tecnologia para transformar trigo em aço. Um país que elimina as restrições comerciais experimentará, portanto, o mesmo tipo de crescimento econômico obtido mediante um grande avanço tecnológico. O impacto adverso do fechamento das fronteiras torna-se claro quando se considera o pequeno tamanho de muitas economias menos desenvolvidas. O PIB total da Argentina, por exemplo, é quase igual ao da Filadélfia. Imagine o que aconteceria se a Câmara Municipal da Filadélfia proibisse os residentes da cidade de comerciar com pessoas de fora dos limites da cidade. Sem poder tirar partido das vantagens do comércio, a Filadélfia teria de produzir todos os bens que consome. Teria também de produzir seus bens de capital em vez de importar os equipamentos mais modernos de outras cidades. Os padrões de vida da Filadélfia se reduziriam imediatamente e o problema só se agravaria como tempo. Isto é exatamente o que aconteceu com a Argentina, quando, durante boa parte do século XX, seguiu uma política voltada para dentro. Já países que adotaram uma política voltada para o exterior, como a Coréia do Sul, Cingapura e Taiwan, desfrutam de altas taxas de crescimento econômico. A dimensão do comércio exterior de uma nação é determinada não só pela política econômica do governo, mas também pela geografia. Países com bons portos marítimos naturais têm mais facilidade para comerciar com outros países do que aqueles que não contam com esse recurso. Não é coincidência que muitas das principais cidades do mundo, como Nova York, San Francisco e Hong Kong, estejam localizadas próximo ao mar. Da mesma maneira como países sem saída marítima têm mais dificuldades para se engajar no comércio internacional tendem a registrar níveis de renda inferiores aos países com fácil acesso ao mar. o CONTROLE DO CRESCIMENTO POPULACIONAL A produção e o padrão de vida de um país são determinados em parte pelo seu crescimento populacional. Obviamente, a população é o principal determinante da força de trabalho de um país. Portanto, não surpreende que países com grande população (como os Estados Unidos e o Japão) tendam a gerar um PIB maior do que países com populações pequenas (como Luxemburgo ou a Holanda). Mas o PIB total não é um bom indicador de bem-estar econômico. Para os formuladores de políticas públicas preocupados com padrões de vida, o PIB per capita é mais importante, pois aponta para a quantidade de bens e serviços disponíveis para o indivíduo típico da economia. Como é que o aumento populacional influi sobre o montante do PIB per capital A resposta é que um grande crescimento populacional reduz o PIB per capita. A razão está em que o rápido crescimento no número de trabalhadores implica uma disponibilidade menor, por trabalhador, dos demais fatores de produção. Em particular, quando o crescimento populacional é rápido, é mais difícil equiparar cada trabalhador com uma grande quantidade de capital. Uma quantidade menor de capital por trabalhador provoca uma redução da produtividade e a um PIB por trabalhador menor. Este problema é mais evidente no caso do capital humano. Países com uma alta taxa de crescimento populacional têm grande número de crianças em idade escolar. Isto sobrecarrega o sistema educacional. Portanto, não surpreende que o desempenho educacional seja baixo em países com alto crescimento populacional. As diferenças de crescimento populacional entre países são grandes. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos e nações da Europa Ocidental, a 545 546 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO NOTA Thomas Malthus e o crescimento populacional Você pode ter ouvido falar que a economia é a "ciência lúgubre". Durante muitos anos esse rótulo pesou sobre a área devido a uma teoria proposta por Thomas Robert Malthus (1766-1834), um sacerdote anglicano inglês e pioneiro do pensamento econômico. Num livro famoso, A Essay on the PrincipIe of PopuIation as it Affects the Future Improvemente of Society, Malthus oferece o que pode ser uma das mais tenebrosas previsões da história. Argumentava ele que uma população sempre crescente acabaria impedindo à sociedade de se sustentar. Em conseqüência, a humanidade estaria condenada à perpetua pobreza. A lógica de Malthus era muito simples. Começou observando que" o alimento é indispensável para a existência do homem" e que "a paixão entre os sexos é necessária e assim continuará". Ele concluiu que" o poder da populaçao é infinitamente maior do que o poder da terra em fornecer subsistência para o homem". De acordo com Malthus, o único meio de controlar o crescimento da população era "a miséria e o vício". Tentativas assistenciais por caridade ou políticas do governo para alívio da pobreza eram contraproducentes porque permitiam que os pobres tivessem mais filhos, sobrecarregando ainda mais a capacidade produtiva da sociedade. Felizmente, a terrível previsão de Malthus es- 12. tava muito longe da realidade. Embora a população mundial tenha aumentado cerca de seis vezes ao longo dos dois últimos séculos, os padrões de vida são, em média, muito mais altos em todo o mundo. Como decorrência do crescimento econômico, a fome crônica e a desnutrição são hoje muito menos comuns do que nos dias de Malthus. De tempos em tempos ocorrem grandes fomes, mas em geral são resultado de uma distribuição de renda ou de instabilidade política e não da incapacidade de se produzir alimentos. Onde Malthus errou? Ele não percebeu que a criatividade da humanidade permitiria superar os desafios do crescimento populacional. Novas idéias quanto às formas de produzir e até quanto aos bens a serem produzidos propiciaram uma prosperidade maior do que a que Malthus - ou qualquer outra pessoa de sua época - pudesse imaginar. Agrotóxicos, fertilizantes, equipamentos agrícolas mecanizados e novas variedades vegetais permitiram que cada agricultor alimentasse um número cada vez maior de pessoas. Os efeitos do progresso tecnológico sobre o aumento da riqueza, superaram os efeitos empobrecedores atribuídos ao crescimento populacional. Na verdade, alguns economistas chegam atualmente a sugerir que o crescimento populacional pode ter contribuído para que a humanidade alcançasse padrões de vida mais elevados. Se há mais gente, esta, ao invés de ser a causa de privações econômicas como antecipara Malthus, se tomou um motor de progresso tecnológico e prosperidade econômica. população tem crescido a taxas de cerca de 1 % nas décadas recentes e se espera que venha a crescer ainda menos no futuro. Já em muitos países africanos pobres, a população cresce em tomo de 3% ao ano. A essa taxa a população dobra a cada 23 anos. Considera-se que a redução da taxa de crescimento populacional seja uma das maneiras pelas quais os países menos desenvolvidos possam tentar aumentar seu padrão de vida. Em alguns países este objetivo é atacado de forma direta mediante legislação que regulamenta o número de filhos por família. Na China, por exemplo, só é permitido um filho por família; casais que violarem a norma estão sujeitos a pesadas multas. Em países com maior liberdade, o objetivo é implementado de forma menos direta com o aumento da difusão de técnicas de controle da natalidade. A maneira decisiva pela qual um país pode influir sobre o crescimento populacional é a aplicação de um dos Dez Princípios de Economia: as pessoas respondem a incentivos. Ter um filho, como qualquer outra decisão, tem um custo de oportunidade. Quando o custo de oportunidade aumenta, as pessoas CAPíTULO 24 PRODUÇÃO i ,CRESCIMUHO escolhem ter famílias menores. Em especial, mulheres que têm acesso a mais instrução e a oportunidades de emprego desejáveis preferem ter menos filhos do que aquelas que têm menos oportunidades fora do lar. Portanto, políticas que promovam um tratamento igual para as mulheres são uma das formas pelas quais as economias menos desenvolvidas podem reduzir a taxa de crescimento populacional. PESQUISA E DESENVOLVIMENTO A principal razão pela qual os padrões de vida são hoje mais elevados do que há um século é o avanço tecnológico. O telefone, o transistor, o computador e o motor de combustão interna estão entre as milhares de inovações que aperfeiçoaram a capacidade de produzir bens e serviços. Embora grande parte do avanço tecnológico tenha sido desenvolvido por pesquisas de empresas privadas e inventores isolados, há também um interesse público em promover esses esforços. Em larga medida, o conhecimento é um bem público: uma vez descoberta a idéia, ela passa a fazer parte do acervo de conhecimentos da sociedade e outras pessoas podem usá-Ia livremente. Da mesma forma que o governo tem um papel na oferta de bens públicos como a defesa nacional, ele tem também um papel no incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias. O governo dos Estados Unidos há muito desempenha um papel na criação e disseminação de conhecimento tecnológico. Um século atrás, o governo patrocinava pesquisas de métodos de produção agrícola e assessorava os agricultores quanto ao melhor uso de suas terras. Mais recentemente, o governo, através da Força Aérea e da NASA, sustentou a pesquisa aeroespacial; em conseqüência, os Estados Unidos são o líder na fabricação de foguetes e aviões. O governo continua incentivando avanços tecnológicos com bolsas da Fundação Nacional para a Ciência e dos Institutos Nacionais de Saúde, bem como mediante deduções tributárias para as empresas que se dedicam a pesquisa e desenvolvimento. Outra forma de o governo incentivar a pesquisa é por meio do sistema de patentes. Quando uma empresa ou uma pessoa inventa um novo produto, como um novo medicamento, o inventor pode solicitar uma patente. Se o produto for considerado verdadeiramente original, o governo concede a patente, o que dá ao inventor o direito exclusivo de fabricar o produto durante determinado número de anos. Em essência, a patente dá ao inventor o direito de propriedade sobre sua invenção, tornando sua nova idéia um bem privado em lugar de um bem público. Ao permitir que os inventores lucrem com seus inventos - mesmo se apenas temporariamente - o sistema de patentes aumenta o incentivo para que empresas e indivíduos se dediquem à pesquisa. E S T U DO D E C A 5 O : A DESACELERAÇÁO DA PRODUTIVIDADE De 1959 a 1973, a produtividade, medida pela produção por hora de trabalho na economia dos Estados Unidos, aumentou a uma taxa de 3,2% ao ano. De 1973 a 1998, a produtividade aumentou apenas 1,3% ao ano. Esta redução da produtividade se refletiu em crescimento mais lento dos salários reais e da renda familiar. E também se refletiu em um senso geral de ansiedade econômica. Como se acumulou ao longo de tantos anos, essa queda de 1,9 ponto percentual na produtividade teve um impacto profundo nas rendas. Se essa redução não tivesse ocorrido, a renda do americano médio seria atualmente cerca de 60% maior. 5,47 548 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO A redução do crescimento econômico tem sido um dos maiores problemas enfrentados pelos formuladores de política econômica. Os economistas têm se perguntado repetidamente o que provocou a redução e como ela poderia ser revertida. Infelizmente, apesar de muitas pesquisas, a resposta permanece esquiva. Dois fatos estão bem estabelecidos. Primeiro, a redução do crescimento econômico é um fenômeno mundial. Em algum momento, em meados da década de 1970, o crescimento econômico se tornou mais lento não só nos Estados Unidos mas também em outras economias industrializadas, como Canadá, França, Alemanha, Japão, Itália e Reino Unido. Embora alguns desses países tenham crescido mais rapidamente do que os Estados Unidos, todos cresceram mais lentamente do que no passado. Portanto, para explicar a redução no crescimento dos Estados Unidos é necessário olhar além de suas fronteiras. Segundo, a redução no crescimento não pode ser atribuída aos fatores de produção mais facilmente mensuráveis. Os economistas podem medir diretamente a quantidade de capital fixo disponível para os trabalhadores. Podem também medir o capital humano na forma de anos de escolaridade. Parece que a redução da produtividade não pode ser atribuída, em primeiro lugar, a esses insumos. A tecnologia é um dos poucos culpados que restam. Isto é, tendo excluído a maioria das demais explicações, muitos economistas atribuem a redução do crescimento econômico a uma diminuição de idéias novas no que se refere à produção de bens e serviços. Como a quantidade de "idéias" é difícil de medir, esta explicação não pode ser confirmada ou refutada com facilidade. Sob certos aspetos é estranho dizer que os últimos 25 anos foram um período de progresso tecnológico lento. Este período testemunhou a difusão dos computadores - uma revolução tecnológica histórica que afetou quase todas as indústrias e praticamente todas as empresas. Contudo, por alguma razão, essa mudança não se refletiu em um crescimento econômico mais rápido. Como disse o economista Robert Solow, "Você pode ver a era do computador em todo lugar, menos nas estatísticas de produtividade." O que aguarda o futuro do crescimento econômico? Um cenário otimista é que a revolução do computador venha reavivar o crescimento, uma vez que as novas máquinas tenham se integrado à economia e que seu potencial tenha sido completamente entendido. Os historiadores econômicos observam que a descoberta da eletricidade levou várias décadas até produzir um grande impacto sobre a produtividade e os níveis de vida porque as pessoas tiveram de descobrir as melhores maneiras de utilizar o novo recurso. Talvez a evolução dos computadores tenha o mesmo efeito retardado. Alguns observadores acreditam que isso já pode estar acontecendo, pois o crescimento da produtividade retomou certo ímpeto em fins da década de 1990. Contudo, ainda é muito cedo para dizer se essa mudança será persistente. Um cenário mais pessimista é que, após um período de rápido avanço científico e tecnológico, tenhamos entrado em uma nova fase de crescimento lento do conhecimento, da produtividade e da renda. Dados de um longo período histórico parecem sustentar esta conclusão. A Figura 24-2 mostra o crescimento médio do PIB real per capita no mundo desenvolvido, a partir de 1870. A redução do ritmo de crescimento da produtividade aparece em pelo menos duas ocasiões: por volta de 1970, a taxa de crescimento caiu de 3,7 para 2,2%. Mas comparada a períodos anteriores, a anomalia não está no baixo crescimento dos anos recentes, mas no rápido crescimento das décadas de 1950 e 1960. Talvez as décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial tenham sido um período de crescimento tecnológico incomum e que o crescimento tenha se tornado mais lento porque o progresso tecnológico voltou a se expandir a uma taxa mais normal. CAPíTULO 24 13. PRODUÇÃO E CRESCIMENTO 549 Figura 24-2 Taxa de crescimento (variação média anual em %) CRESCIMENTO DO PIB REAL PER CAPITA. Esta figura mostra a taxa média de crescimento do PIB real per capita em 16 economias desenvolvidas, incluindo os principais países da Europa, Canadá, os Estados Unidos, Japão e Austrália. Observe que a taxa de crescimento aumentou substancialmente depois de 1950 e caiu depois de 1970. 4,0 3, 5 3, 0 2,5 2,0 1, 5 FONTE: Robert J. Barro e Xavier Sala-i-Martin, Economic Growth (Nova York, McGraw-Hill, 1995), p. 6. 1, 0 o 18701890 18901910 19101930 19301950 19501970 19701990 I T E S T E R Á P I D O Descreva três maneiras pelas quais um formulador de políticas governamentais pode aumentar o crescimento dos níveis de vida de uma sociedade. Há obstáculos para a implementação dessas políticas? CONCLUSÃO: A IMPORTÂNCIA DO CRESCIMENTO NO LONGO PRAZO No presente capítulo vimos os determinantes do padrão de vida de uma nação e as maneiras pelas quais os formuladores de políticas públicas podem tentar aumentar o padrão de vida mediante políticas de promoção do crescimento econômico. Grande parte do capítulo é resumida por um dos Dez Princípios de Economia: o padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços. Os formuladores de políticas públicas que desejam incentivar a melhoria dos padrões de vida devem tentar aumentar a capacidade produtiva da nação mediante o incentivo à rápida acumulação de fatores de produção e garantias de que esses fatores sejam empregados tão eficazmente quanto possível. Os economistas divergem quanto ao papel do governo na promoção do crescimento econômico. O governo pode, pelo menos, dar apoio à mão invisível mediante a manutenção dos direitos de propriedade e da estabilidade política. Mais controverso é se o governo deveria selecionar e subsidiar determinadas indústrias que possam ser especialmente importantes para o progresso tecnológico. Não há dúvida de que esses tópicos estão entre os mais importantes da economia. O sucesso de uma geração de formuladores de políticas públicas em aprender e aplicar as lições fundamentais a respeito do crescimento econômico determina que tipo de mundo herdará a próxima geração. 5'5D 'PlAtRil'cE UC .ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO DOS JORNAIS anos 80, essa orientação se transformou em uma espécie de curadoria econômica, em que as políticas públicas de muitas nações africaA soí u ç ão nas são decididas em intermináveis ciclos de de Suchs para o encontros com o FMI, o Banco Mundial, doaproblema africano . dores e credores. Que vergonha. Tantas boas idéias, tão poucos resultados. A produção per capita caiu de o economista Jeffrey Sachs é um destacado consul- 0,7% entre 1978 e 1987 e de 0,6% no período 1987-1994. Para 1995 se espera um modesto tor de governos que buscam a reforma de suas economias com vistas à promoção de um crescimento creseconômico mais rápido. Na década passada, a Bocimento de 0,6% - bem abaixo do registrado pelívia, a Polônia e a Rússia foram alguns dos países los países em desenvolvimento de crescimento que recorreram a ele. Sachs também tem sido um rápido (00') crítico do Banco Mundial e do Fundo Monetário O FMI e o Banco Mundial poderiam ser abInternacional (FMI), organismos internacionais solvidos da responsabilidade partilhada pelo que concedem tanto recomendações quanto filento crescimento se a África fosse estruturalnanciamento a países em dificuldade. No artigo a mente incapaz de alcançar taxas de crescimento seguir, Sachs discute a forma pela qual os países registra das em outras regiões do mundo ou se o da África podem escapar de sua persistente pobaixo crescimento do continente fosse um mistébreza. rio impenetrável. Mas as baixas taxas de crescimento da África não são um grande mistério. A evidência obtida em estudos comparativos sugere que o baixo crescimento crônico da África CRESCIMENTO NA ÁFRICA: É PossíVEL pode ser explicado por variáveis econômicas banais relacionadas com políticas identificáveis (e JEFFREY SACHS solucionáveis) (00') Estudos comparativos de crescimento em diversos países mostram que o crescimento per Na velha fábula, o camponês procura um padre capita está relacionado com: • o nível de renda inicial do país, os países poem busca de orientação para salvar suas galinhas bres tendem a crescer mais rápido que os paídoentes. O padre recomenda orações, mas as galises mais ricos; nhas continuam a morrer. O padre então recomenda música no galinheiro, mas as galinhas con• a amplitude da orientação para o mercado, tinuam morrendo. Procurado mais uma vez, o paincluindo a abertura comercial, liberalização dre recomenda que o galinheiro seja pintado com do mercado interno, propriedade privada de cores alegres. Todas as galinhas morrem. "Que preferência à propriedade estatal, proteção aos direitos de propriedade e baixas alíquovergonha", diz o padre ao camponês, "eu tinha tas tributárias marginais; tantas boas idéias." Desde sua independência, os países africa• a taxa de poupança nacional, que por sua vez nos têm recorrido a nações doadoras - freqüené fortemente afetada pela própria taxa de temente seus antigos colonizadores - e às instipoupança do governo; e tuições financeiras internacionais em busca de orientação para o crescimento. De fato, desde o • estrutura de recursos e estrutura geográfica início da crise do endividamento africano dos da economia (00') , " CAPíTULO 24 Esses quatro fatores podem dar conta, em um sentido amplo, das dificuldades de longo prazo no crescimento da África. Embora devesse ter crescido mais rapidamente do que outras áreas em desenvolvimento devido a sua renda per capíta relativamente baixa (e, portanto, sua maior oportunidade de obter um "efeito de alcance"), a Africa cresceu mais lentamente. Isto se deu, principalmente, em decorrência das altas barreiras comerciais, das alíquotas excessivamente elevadas de seus impostos, da baixa taxa de poupança e de condições estruturais adversas, incluindo uma incidência excessivamente alta de falta de acesso ao mar (15 dos 53 países não têm saída para o mar). Se as políticas são altamente criticáveis, por que, então, foram adotadas? As origens históricas da orientação antimercado da África não são difíceis de discernir. Depois de quase um século de depredação colonial, compreensível porém equivocadamente, os países africanos consideraram a abertura comercial e o capital externo uma ameaça à soberania nacional. Como na Indonésia de Sukarno, na Índia de Nehru e na Argentina de Perón, "auto-suficiência" e "liderança do estado", incluindo a propriedade estatal de boa parte da indústria, se tornaram os orientadores da economia. Em conseqüência, boa parte da África se colocou em um exílio econômico auto-imposto ( ... ) Adam Smith observou, em 1755, que "pouco mais é exigido para que um estado seja alçado, da maior barbárie, ao mais alto estágio da opulência do que paz, impostos simples e uma tolerável administração da justiça". Uma agenda de crescimento não precisa ser longa e complexa. Vejamos esses pontos, um a um. A paz não é, naturalmente, garantida de modo tão fácil, mas as condições do continente hoje são melhores do que as manchetes sensacionalistas sugerem. Vários dos conflitos de grande porte que assolaram o continente terminaram ou estão em vias de terminar. ( ... ) Os desastres em curso, como os da Libéria, Ruanda e Somália, seriam mais bem contidos se o Ocidente estivesse disposto a oferecer um modesto apoio às iniciativas de paz africanas. "Impostos simples" estão bem dentro do âmbito do FMI e do Banco Mundial. Mas neste ponto, o FMI é culpado de negligência, se não de desídia. As nações africanas precisam de impostos simples, baixos e com pequeno peso em relação ao PIB. PRODUÇÃO E CRESCIMENTO 5"5,1' Impostos simples são fundamentais para o comércio internacional, uma vez que o crescimento bem-sucedido dependerá, mais do que de qualquer outra coisa, da integração econômica com o resto do mundo. O exílio, em boa parte, auto-imposto em relação aos mercados mundiais, pode terminar rapidamente com o corte das tarifas sobre a importação e o fim dos impostos sobre as exportações agrícolas. As alíquotas do imposto sobre a renda das empresas deveriam cair dos mais de 40% vigentes na atualidade para algo entre 20 e 30%, como nas economias voltadas para o exterior do Leste da Ásia. ( ... ) Adam Smith falou de uma administração da justiça "tolerável", não perfeita. A liberalização dos mercados é a chave para o fortalecimento da lei. Livre comércio, conversibilidade da moeda e incorporação automática das empresas reduzem grandemente o espaço da corrupção oficial e permitem ao governo concentrar-se nos verdadeiros bens públicos - ordem interna, sistema judiciário, educação básica, saúde pública e estabilidade monetária. ( ... ) Tudo isto só será possível se o próprio governo tiver contido suas despesas ao mínimo necessário. As economias asiáticas mostram como é possível funcionar com um governo que gasta 20%, ou menos, do PIB (a China consegue gastar apenas 13%). A educação pode absorver cerca de 5% do PIB, a saúde, 3%, a administração pública, 2%, o exército e a segurança pública, 3%. As despesas com investimento do governo podem ser mantidas em cerca de 5% se o setor privado for chamado a oferecer infra-estrutura em telecomunicações, instalações portuárias e energia. ( ... ) Esta agenda fiscal exclui muitas áreas tradicionais da despesa pública. Há pouco lugar para transferências ou gastos sociais além de educação e saúde (embora na minha proposta estes segmentos fiquem com 8% do PIB). Subsídios a empresas públicas ou juntas de comercialização devem ser cortados. E, sobretudo, não há lugar no orçamento para pagamentos de juros sobre dívida externa. Isto porque a maioria dos estados africanos falidos precisa de um novo começo com base em uma grande redução da dívida, que deve ser implementada junto com reformas internas de amplo alcance. FONTE: The Economist, 29 de junho de 1996, pp. 19-21. 552 PARTE IX ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO Sumário • A prosperidade econômica, como medida pelo PIB per capita, varia substancialmente no mundo. A renda média dos países mais ricos é mais de dez vezes a dos países mais pobres. Como as taxas de crescimento do PIB real também variam substancialmente, as posições relativas dos países podem variar drasticamente ao longo do tempo. • O padrão de vida de uma economia depende da capacidade da economia para produzir bens e serviços. A produtividade, por sua vez, depende da quantidade de capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico disponível para os trabalhadores. • As políticas governamentais podem influir na taxa de crescimento de muitas maneiras: incentivando a poupança e o investimento, estimulando o investimento externo, promovendo a edu- cação, garantindo os direitos de propriedade e mantendo a estabilidade política, permitindo o livre comércio, controlando o crescimento populacional e promovendo a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. • O acúmulo de capital está sujeito a retornos decrescentes: quanto mais capital uma economia tiver, menor a produção adicional gerada por uma unidade adicional de capital. Devido aos retornos decrescentes, poupanças maiores conduzem a um maior crescimento durante certo período, mas o crescimento diminui à medida que a economia se aproxima de níveis mais altos de capital, produtividade e renda. Também em decorrência dos retornos decrescentes, o retorno do capital é especialmente elevado nos países pobres. Tudo o mais mantido constante, esses países podem crescer mais rapidamente devido ao efeito de alcance. conhecimento tecnológico, p. 537 retornos decrescentes, p. 541 efeito de alcance, p. 541 produtividade, p. 535 capital físico, p. 536 capital humano, p. 536 recursos naturais, p. 536 Que.ta •• paro revisão 1. Quais as duas coisas medidas pelo PIB? O que é que a taxa de crescimento do PIB mede? Você preferiria morar num país com PIB elevado e baixa taxa de crescimento ou noutro com PIB baixo e taxa de crescimento alta? 2. Liste e descreva quatro determinantes da produtividade. 3. Em que sentido um diploma universitário pode ser considerado uma forma de capital? 4. Explique como poupanças mais altas levam a um padrão de vida mais elevado. O que poderia levar um formulador de políticas públicas a desistir de tentar aumentar a taxa de poupança? 5. Uma elevação da taxa de poupança provoca uma maior taxa de crescimento por um período limitado ou por um período indefinido? 6. Por que a eliminação de restrições ao comércio exterior, como as tarifas, poderia acelerar o crescimento econômico? 7. Qual a influência da taxa de crescimento populacional no nível de PIB per capita? 8. Descreva duas das formas pelas quais o governo dos Estados Unidos procura incentivar avanços no conhecimento técnico. CAPíTULO 24 PRODUÇÃO E CRESCIMENTO 553 Problemas e aplicações 1. A maior parte dos países, incluindo os Estados Unidos, importa quantidade substancial de bens e serviços de outros países. Contudo o capítulo afirma que um país só pode desfrutar de um padrão de vida elevado se puder produzir, ele mesmo, uma grande quantidade de bens e serviços. Como é que os dois fatos podem ser conciliados? 2. Liste os insumos de capital necessários para produzir cada um dos seguintes produtos: a. automóveis b. ensino secundária c. viagens aéreas d. frutas e legumes 3. A renda per capita dos Estados Unidos é, na atualidade, cerca de oito vezes superior à de um século atrás. Muitos outros países também registraram um crescimento significativo no período. Cite algumas diferenças específicas entre seu padrão de vida e o de seus avós. 4. O capítulo se refere ao declínio do emprego em relação à produção no setor agropecuário. Você poderia mencionar outro setor da economia em que o mesmo fenômeno tenha se registrado mais recentemente? Você acha que essa alteração no emprego representa um sucesso ou um fracasso, do ponto de vista da sociedade como um todo? 5. Suponha que a sociedade decida reduzir o consumo e aumentar o investimento. a. Como é que isto afetaria o crescimento econômico? b. Quais os grupos da sociedade que se beneficiariam desta mudança? E quais poderiam ser prejudicados? 6. As sociedades escolhem a parcela de seus recursos que deve se destinar ao consumo e qual se destina ao investimento. Algumas dessas decisões envolvem despesas privadas; outras envolvem despesas do governo. a. Descreva alguma forma de despesa privada que represente consumo e outras que representem investimento. b. Descreva alguma forma de despesa governamental que represente consumo e outras que representem investimento. 7. Qual o custo de oportunidade do investimento em capital? Você acha que um país pode "superinvestir" em capital? Qual o custo de oportunidade do investimento em capital humano? Você acha que um país pode "superinvestir" em capital humano? Explique. 8. Imagine que uma montadora cujos proprietários sejam todos cidadãos alemães instale uma nova fábrica na Carolina do Sul. a. Que tipo de investimento externo isso representa? b. Qual o impacto deste investimento no PIB dos Estados Unidos? O impacto no PNB dos Estados Unidos seria maior ou menor? 9. Na década de 1980, investidores japoneses fizeram significativos investimentos diretos e de portfólio nos Estados Unidos. Na época muitos americanos lamentaram que tais investimentos estivessem ocorrendo. a. Em que sentido foi melhor que os Estados Unidos estivessem recebendo os investimentos japoneses? b. Em que sentido seria ainda melhor se os investimentos tivessem sido feitos por americanos? 10. Nos países do sul da Ásia, em 1992, para cada 100 homens jovens, apenas 56 mulheres jovens estavam matriculadas nos cursos secundários. Descreva várias maneiras em que maiores oportunidades de ensino para as mulheres poderiam acelerar o crescimento econômico nesses países. 11. Dados internacionais mostram que existe uma correlação positiva entre estabilidade política e crescimento econômico. a. Quais os mecanismos pelos quais a estabilidade política pode conduzir a um crescimento econômico mais sólido? b. Quais os mecanismos pelos quais um crescimento econômico sólido pode conduzir a uma estabilidade política?