calculando o custo de vida

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3.
Saberá como se constrói
o
índice de preços ao
consumidor (IPC)
Cópia dos cap. 23 e 24 do:
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Ed. Compacta. São
Paulo: Cengage Learning, 2005.
23
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
Em 1931, quando a economia dos Estados Unidos estava mergulhada na Grande Depressão, o famoso jogador de beisebol Babe Ruth ganhou US$ 80 mil. Na
época, esse salário era extraordinário, mesmo para um astro do esporte. De
acordo com uma história, um repórter perguntou a Ruth se ele achava certo
ganhar mais do que o presidente Herbert Hoover cujo salário era de US$ 75
mil. Ruth respondeu, "Meu ano foi melhor".
Atualmente o jogador de beisebol médio ganha mais de dez vezes o salário de Ruth em 1931, e os melhores jogadores chegam a ganhar cem vezes esse
valor. À primeira vista, este fato pode levá-lo a pensar que o beisebol se tornou
muito mais lucrativo nas últimas seis décadas. Mas, como todos sabem, os preços dos bens e serviços também têm subido. Em 1931, uma moeda de cinco
centavos pagaria uma casquinha de sorvete e 25 centavos seriam suficientes
para pagar um ingresso de cinema. Como os preços eram muito mais baixos no
tempo de Babe Ruth do que na atualidade, não fica muito claro se Ruth desfrutava de um padrão de vida mais alto ou mais baixo do que os jogadores de
hoje.
No capítulo anterior vimos como os economistas usam o produto interno
bruto (PIB) para avaliar a quantidade de bens e serviços que a economia produz. Este capítulo examina como os economistas medem o custo de vida. Para
comparar o salário de Babe Ruth de US$ 80 mil com os salários atuais precisamos encontrar uma forma de transformar cifras monetárias em medidas signi-
Verá por que o IPC é uma
medida imperfeita do
custo de vida
Comparará o IPC e o
dejlntor do PIB
e1'1.quanto
medidas do nível geral
de preços
Verá como usar um índice
de preços para comparar
quantias em épocas
diferentes
Aprenderá a diferença
entre taxas de juros
nominais e reais
514
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
ficativas de poder aquisitivo. Esta é, exatamente, a tarefa de um indicador denominado índice de'preços ao consumidor. Depois de ver como é construído o Índice de preços ao consumidor, veremos como podemos usá-lo para comparar
valores monetários de diferentes épocas.
O índice de preços ao consumidor é usado para monitorar mudanças do
custo de vida ao longo do tempo. Quando o índice de preços ao consumidor
aumenta, a família típica tem que gastar mais dólares para manter o mesmo
padrão de vida. Os economistas empregam o termo inflação para descrever
uma situação em que o nível geral de preços da economia estáaumentando. A
taxa de inflação é a variação percentual do nível de preços em relação a um período anterior. Como veremos nos próximos capítulos, a inflação é um dos aspectos do desempenho macroeconômico observado atentamente e é uma variável-chave na orientação da política macroeconômica. Este capítulo fornece
um arcabouço para essa análise mostrando como os economistas medem a
taxa de inflação usando o índice de preços ao consumidor.
o íNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR
índice de preços ao
consumidor (IPC)
medida do custo geral dos bens
e serviços comprados por um
consumidor típico
O índice de preços ao consumidor (IPC) é uma medida do custo geral dos
bens e serviços comprados por um consumidor típico. Todos os meses o Escritório de Estatísticas do Trabalho que é parte do Departamento [Ministério] do
Trabalho calcula e divulga o índice de preços ao consumidor. Nesta seção veremos como se calcula o índice de preços ao consumidor e que problemas surgem em sua medição. Veremos também a relação entre este índice e o deflator
do PIB, outra medida do nível geral de preços que vimos no capítulo anterior.
COMO É CALCULADO O íNDICE DE PREÇOS
AO CONSUMIDOR
Quando o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula o índice de preços
ao consumidor, ele utiliza dados relativos aos preços de milhares de bens e serviços. Para ver exatamente como estas estatísticas são construídas, imaginemos uma economia simples em que os consumidores só compram dois produtos - cachorros-quentes e hambúrgueres. A Tabela 23-1 mostra os cinco passos seguidos pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho.
1. Determinar a cesta. O primeiro passo para o cálculo do índice de preços ao
consumidor é determinar quais os preços mais importantes para o consumidor típico. Se o consumidor típico compra mais cachorros-quentes do
que hambúrgueres, então o preço do cachorro-quente é mais importante do
que o preço do hambúrguer e, portanto, tem que ter um peso maior no cálculo do custo de vida. O Departamento de Estatísticas do Trabalho determina estes pesos fazendo pesquisas junto aos consumidores e obtendo a
cesta de bens e serviços que o consumidor típico compra. No exemplo da
tabela, o consumidor típico compra uma cesta de 4 cachorros-quentes e 2
hambúrgueres.
2. Pesquisar os preços. O segundo passo no cálculo do índice de preços ao consumidor é o levantamento dos preços de cada um dos bens e serviços que
compõem a cesta em cada ponto do tempo. A tabela mostra os preços de cachorro-quente e de hambúrguer em três anos diferentes.
CAPíTULO 23 CALCULANDO O CUSTO Df VIDA
Sl S
4. Calcular o custo da cesta. O terceiro p;;l;SSO é utilizar os dados de preços para
calcular o custo da cesta de bens e serviços em diferentes momentos. A tabela mostra este cálculo para cada um dos três anos. Observe que neste cálculo apenas os preços variam. Ao manter fixa a cesta de bens (4 cachorros-quentes e 2 hambúrgueres), está se isolando os efeitos das variações de
preço do efeito de qualquer alteração de quantidade que possa estar ocorrendo ao mesmo tempo.
5. Escolher um ano-base e calcular o índice. O quarto passo é determinar qual
será o ano-base, que é o padrão em relação ao qual os demais anos serão
confrontados. Para calcular o índice, o preço da cesta de bens e serviços em
cada ano é dividido pelo preço da cesta no ano-base e o resultado é multiplicado por 100. O número obtido por este processo é o índice de preços ao
consumidor.
PASSO 1: PESQUISAR os CONSUMIDORES PARA DETERMINAR UMA CESTA DE BENS
FIXA
4 cachorros-quentes, 2 hambúrgueres
PASSO 2: LEVANTAR O PREÇO DE CADA BEM A CADA
ANO
ANO
2001
2002
2003
PREÇO DO CACHORRO-QUENTE EM
US$
PREÇO DO HAMBÚRGUER EM
US$
2
1
3
2
4
3
PASSO 3: CÁLCULQ DO CUSTO DA CESTA DE BENS A CADA
ANO
ANO
CUSTO DA CESTA
2001
(US$ 1 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 2 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 8
2002
(US$ 2 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 3 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 14
2003
(US$ 3 por cachorro-quente x 4 cachorros-quentes) + (US$ 4 por hambúrguer x 2 hambúrgueres) = US$ 20
PASSO 4: ESCOLHA DO ANO-BASE (2001) E CÁLCULO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR A CADA
ANO
ANO
2001
2002
2003
ÍNDICE DE PREÇOS AO
CONSUMIDOR
(US$ 8/US$ 8) x 100 = 100
(US$ 14/US$ 8) x 100 = 175
,
(US$ 20/US$ 8) x 100 = 250
PASSO 5: USO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR PARA CÁLCULO DA TAXA DE INFLAÇÃO EM
RELAÇÃO
AO ANO ANTERIOR
ANO
TAXA DE INFLAÇÃO
2002
(175 -100)/100 x 100 =75%
2003
(250 -175)/175 x 100 = 43%
CÁLCULO DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR E TAXA DE INFLAÇÃO: UM
EXEMPLO.
Esta tabela mostra como se calcula o índice de preços ao consumidor e a taxa de inflação
para uma economia imaginária em que os consumidores só compram cachorros-quentes e
hambúrgueres.
Tabela 23-1
516
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
NOTA
o
que há na cesta do [PC?
Ao construir o índice de preços ao consumidor, o Escritório de Estatísticas do Trabalho tenta
incluir todos os bens e serviços que o consumidor
típico compra. Além disso, ele tenta ponderar esses
bens e serviços de acordo com quanto os consumidores compram de cada item.
A Figura 23-1 apresenta o desdobramento da
despesa do consumidor segundo as principais categorias de bens e serviços. De longe a principal categoria é moradia que representa cerca de 40% do
orçamento do consumidor típico. Esta categoria inclui o custo da residência (30%), combustível e outras fontes de energia (5%) e mobília e material de
limpeza (5%). A seguir tem-se o transporte que
pesa 17%, isto inclui despesas com automóveis,
gasolina, passageI}s de ônibus, metrô e assim por
diante. A alimentação responde por 16% do orçamento, isto inclui alimentação no domicílio
(9%), alimentação fora de casa (6%) e bebidas alcoólicas (1%). Vem então o agregado de despesas com cuidados a saúde (6%), lazer (6%), vestuário e educação e comunicação (5%). Esta categoria inclui, por exemplo, anuidades escolares e
computadores pessoais.
A última categoria, apresentada na figura,
com 5% da despesa, abrange outros bens e serviços. Este agregado é uma mistura de coisas adquiridas pelos consumidores e que não se enquadram nas categorias anteriores, tais como cigarros, cortes de cabelo e despesas com funerais.
FONTE: Escritório de Estatísticas do Trabalho.
6.
Figura 23-1
A CESTA DE BENS E
SERVIÇOS. Esta figura
mostra como o consumidor
típico divide suas despesas
entre as várias categorias de
bens e serviços. O Escritório
de Estatísticas do Trabalho
dá a denominação de
"importância relativa" ao
percentual da categoria.
Recreação
Cuidados com a
saúde
Alimentação
e bebidas
16%
Outros bens
e serviços
No exemplo da Tabela 23.1, o ano de 2001 é o ano-base. Nesse ano a
cesta de cachorros-quentes e hambúrgueres custa US$ 8. Em conseqüência,
o preço da cesta em todos os anos é dividido por US$ 8 e multiplicado por
100. O índice de preços ao consumidor é de 100 em 2001. (O índice é sempre
igual a 100 no ano-base.) O índice de preços ao consumidor é de 175 em
2002. Isso significa que o preço da cesta em 2002 é 175% do seu preço no
ano-base, ou seja, uma cesta de bens que custa US$ 100 no ano-base custará
US$175 em 2002. Da mesma forma, em 2003, o índice de preços ao consumidor é de 250, indicando que o nível de preços em 2003 é 250% do nível de
preços do ano-base.
CAPíTULO 23
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
5. Calcular a taxa de inflação. O quinto e último passo é usar o índice de preços
ao consumidor para calcular a taxa de inflação, que é a variação percentual
do índice de preços em relação a um período anterior. Isto é, a taxa de inflação entre dois anos consecutivos é calculada assim:
517
taxa de inflação
variação percentual do índice
de preços em relação a um
período anterior
IPC no ano 2 -IPC no ano 1 x 100
Taxa- e2 açao
no ano = -------------IPC no ano 1
Em nosso exemplo a taxa de inflação é de 75% em 2002 e de 43% em 2002
Embora este exemplo simplifique o mundo real ao considerar apenas
dois bens, ele mostra como o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula
o índice de preços ao consumidor e a taxa de inflação. O Departamento levanta
e processa, a cada mês, dados relativos aos preços de milhares de bens e serviços e, seguindo os cinco passos mencionados, determina a velocidade com que
o custo de vida do consumidor típico aumenta. Quando o departamento anuncia, mensalmente, o índice de preços ao consumidor, em geral você ouve o número no telejornal da noite ou o vê no jornal do dia seguinte.
Além do índice de preços ao consumidor para a economia como um todo,
o Departamento de Estatísticas do Trabalho calcula vários outros índices de
preços. Informa índices regionais (para Boston, Nova York, Los Angeles e outras cidades) e para algumas categorias restritas de bens e serviços (tais como
alimentos, vestuário e energia). Também calcula o índice de preços ao produtor, que avalia uma cesta de bens e serviços adquiridos pelas empresas. Uma
vez que as empresas acabam repassando seus custos aos consumidores na forma de preços ao consumidor mais elevados, variações no índice de preços ao
produtor são freqüentemente consideradas úteis para previsão de alterações
no índice de preços ao consumidor.
PROBLEMAS NO CÁLCULO DO CUSTO DE VIDA
o objetivo do índice de preços ao consumidor é medir variações do custo de
vida. Em outras palavras, o índice de preços ao consumidor tenta avaliar
quanto é que as rendas devem aumentar para manter constante o padrão de
vida. Contudo, o índice de preços ao consumidor não é uma medida perfeita
do custo de vida. Há três problemas amplamente reconhecidos mas difíceis de
resolver.
a primeiro deles é a tendência à substituição. Quando os preços variam de
um ano para outro, eles não variam proporcionalmentesalguns preços aumentam mais do que outros. Os consumidores reagem a esses aumentos de preços
diferenciados comprando menos aqueles produtos cujos preços tiveram maior
crescimento e comprando mais dos produtos cujos preços aumentaram menos
ou até caíram. Isto é, os consumidores substituem os bens mais caros pelos relativamente mais baratos. Todavia, o índice é calculado tomando-se uma cesta
de bens fixa. Ao não levar em conta a possibilidade de substituição de produtos, o índice superestima o aumento de preços de um ano para outro.
Vejamos um exemplo simples. Imagine que no ano-base as maçãs são
mais baratas do que as peras, e que, em conseqüência, os consumidores comprem mais maçãs do que peras. Quando o Departamento de Estatísticas do
Trabalho constrói a cesta de bens, incluirá mais maçãs do que peras. Já no ano
seguinte as peras estão mais baratas do que as maçãs. Os consumidores reagirão, naturalmente, comprando mais peras e menos maçãs. Contudo, ao calcular o índice de preços ao consumidor, o departamento usa uma cesta fixa, que
índice de preços
ao produtor
medida do custo de uma cesta
de bens e serviços comprados
pelas empresas
518
DADOS MACROECON;Ô.MIC05
DOS JORNAIS
Comprando para o IPC
Por trás de cada indicador macroeconômico há milhares de
dados individuais sobre a economia. Este artigo acompanha algumas das pessoas que levantam esses dados.
o IPC ESTÁ CORRETO? PERGUNTE
AOS INVESTIGADORES FEDERAIS
QUE OBTÊM OS NÚMEROS
CHRISTINA DUFF
TRENTON, N.J. - A diretora de finanças do hospital peca
pela falta de cooperação, mas não é, de forma alguma, páreo para Sabina Bloom, agente do governo.
Sabina deseja conhecer os preços exatos de alguns serviços do hospital. "Nada mudou", diz a mulher. "Bem, você
tem os registros?", pergunta Sabina. "Não alteramos nenhum preço", insiste a mulher. A pressão de Sabina finalmente arreda a mulher detrás da sua escrivaninha e ela apresenta os números. Descobre-se que a estada na sala de recuperação pós-cirurgia agora custa US$ 753,80 ao dia, uma
queda de US$ 0,04 centavos em relação ao mês passado.
Mais um pequeno sucesso para Sabina, uma dos cerca de 300 funcionários do Departamento de Estatísticas do
!rabalho que levanta os dados que todo mês alimentam o
Indice de Preços ao Consumidor ( ... )
A labuta de Sabina às vezes lembra um romance policial. Todo mês ela cobre quase 1.500 km em seu velho carro
(três acidentes nos dezoito meses passados) para visitar
cerca de 150 locais. Missão: registrar os preços de itens determinados com freqüência. Se os preços variam, ela deve
descobrir o porquê. Todo mês 90 mil preços são enviados a
Washington, lançados em um computador, examinados,
agregados, ajustados aos altos e baixos sazonais e depois
transformados no relatório mensal do IPC.
Escolher os itens cujos preços devem ser coletados o carrinho infantil" comum" ou de "luxo" - pode parecer
arbitrário. Depois de consultar levantamentos que registram os hábitos de compra do consumidor, o Departamento de Estatísticas do Trabalho seleciona lojas populares e categorias de itens - digamos, blusas femininas. A encarregada da coleta dos preços então consulta uma funcionária
da loja para ajudá-Ia a encontrar o item da escolha da agente de coleta. Elas vão refinando a busca: tamanho da blusa,
estilo (manga curta ou manga comprida, decote em V ou
gola rulê) e assim por diante, os itens que geram maior receita dentro da categoria têm maiores chances de serem selecionados.
Compradoras sabem que confiar nas atendentes
pode ser arriscado. Em uma loja de departamentos do centro de Chicago (o governo não revela nomes), a agente de
coleta Mary Ann Latter pisca na frente de um cartaz anunciando a oferta de uma blusa cor marfim. "Poupe de 45 a
60% ao escolher mais uma mercadoria com preço reduzido
de 30%."
Confusa, Mary Ann pede esclarecimento à atendente. Uma pausa. "Tem desconto de 30%", diz apressada com o horário do almoço.
"Eu sei", diz Mary Ann, "mas não pode conferir
para eu ter certeza?" Entre dentes resmunga, "Tão atenciosa".
No andar debaixo há um departamento de joalheria,
Mary Ann tenta descobrir o preço do único cordão de prata
do balcão, mas não há etiqueta à vista. "Tenho que ver agora?", resmunga a atendente atrás do balcão. Mary Ann espera que ela atenda vários outros fregueses e pergunta novamente: "Qual é o preço?" A atendente apressada joga no
balcão um pesado catálogo com uma estonteante quantidade de fotos de jóias. Mary Ann finalmente descobre uma
fotografia que parece ser igual ao objeto do balcão.
Quando o item desejado não pode ser encontrado,
as agentes de coleta têm que substituí-Io. Pode ser difícil.
Pense em um corte de cabelo: se o cabeleireiro experiente
saiu do salão, um cabeleireiro novo deve ter mais ou menos a mesma experiência; um novato poderia cobrar menos. Mary Ann precisa substituir um blazer porque os
itens de vestuário em geral ficam poucos meses na prateleira. Tem que ser de tecido misto, com menos de metade
de lã em sua composição. Depois de procurar todo o estoque de roupas de inverno, tentando localizar as etiquetas em três departamentos diferentes distribuídos em
dois andares, Mary Ann desiste. De qualquer forma, o
inverno já passou e ela terá de esperar meses para achar
um substituto.
Para tomar mais difícil a vida dos detetives de preços em sua perseguição ao verdadeiro custo de vida, a
lista principal das 207 categorias cujos preços são pesquisados - chamada de cesta de mercado - só é atualizada
a cada dez anos. Telefones celulares? Muito recentes
para se encaixarem em qualquer das categorias determinadas nos anos 80. Terão de esperar novas categorias a
ser criadas em 1998.
Algumas mudanças dentro das categorias são feitas a cada cinco anos. Dentro dos "carros novos", por
exemplo, se os carros nacionais ultrapassarem, significativamente, em vendas os importados, os agentes de coleta podem pesquisar mais Ford e menos Toyota. Mas, segundo os críticos, isto não ocorre com freqüência suficiente. Mary Ann, uma mulher moderna e urbana, tem
que coletar preços de combinações e deixar de lado os
novos modelos de sutiã.
A colega de Mary Ann, que faz levantamentos nos
subúrbios de Chicago, Sheila Ward afirma: "A manutenção de produtos fora de linha é um de nossos pontos críticos." Ela lembra do dono de uma loja de instrumentos
musicais que ficou frustrado porque ela insistia em perguntar os preços de uma guitarra que ele não imaginava
pudesse ser tocada ainda - quanto mais vendida. Um
dia, ele a expulsou da loja gritando. "Desgraçado de governo! É para isso que eu pago impostos?"
Os agentes de coleta pouco podem fazer quanto a
esses problemas. Eles apenas podem fazer perguntas.
Em um restaurante modesto, Sheila pergunta se não
houve alteração nas porções servidas. O dono diz que
não. Mas ela lembra que o preço do bacon está em alta e
volta a perguntar. De repente o dono se lembra de que
reduziu o número de fatias de bacon servidas, de três
para duas. E o resultado é um sanduíche bem diferente.
FONTE: The Wall Street [ournal, 16 de janeiro de 1997, p. AI.
cAPíTua;o 23, CALCULANDO O CUSTO D'~ V/IDA
pressupõe que os consumidores continuarão comprando as maçãs que se tornaram caras nas mesmas quantidades de anteriormente. Por este motivo, o índice medirá um aumento do custo de vida muito maior do que o que os consumidores de fato experimentam.
O segundo problema do índice de preços ao consumidor é o da introdução
de novos bens. Quando um novo bem chega ao mercado, os consumidores podem escolher entre uma maior variedade de produtos. A maior variedade, por
sua vez, toma cada dólar mais valioso, de modo que o consumidor precisará
de menos dólares para manter qualquer padrão de vida dado. Contudo, como
o índice de preços ao consumidor está construído com base em uma cesta de
bens fixa, ele não reflete esta alteração no poder aquisitivo do dólar.
Mais uma vez, vejamos um exemplo. Quando surgiram os aparelhos de
videocassete, os consumidores passaram a poder assistir seus filmes favoritos
em casa. O novo bem aumentou o bem-estar dos consumidores ao expandir
suas opções de consumo. Um índice de custo de vida perfeito refletiria esta
mudança com uma diminuição do custo de vida. Todavia, o índice de preços
ao consumidor não se reduziu com o surgimento do videocassete. Só mais tarde, o Departamento de Estatísticas do Trabalho revisou a cesta de bens para incluir o videocassete e subseqüentemente os índices refletiram mudanças nos
preços do videocassete. Mas a redução do custo de vida, associada ao surgimento inicial dos aparelhos de vídeo, nunca apareceu nos índices.
O terceiro problema do índice de preços ao consumidor é a mudança de
qualidade nõo-quantificada. Se a qualidade de um bem se deteriora de um ano
para outro, o valor do dólar cai, mesmo se o preço do bem se mantiver igual. O
Departamento de Estatísticas do Trabalho faz o possível para levar em conta as
mudanças de qualidade. Quando a qualidade de um dos bens da cesta se altera
- por exemplo, quando a potência de um modelo de automóvel aumenta ou
seu consumo de gasolina diminui - o departamento ajusta o preço do bem
para levar em conta a mudança de qualidade. O que se tenta é calcular o preço
de uma cesta de qualidade constante. Todavia, as mudanças na qualidade são
um problema, porque a medição da qualidade é difícil.
Há ainda muito debate entre os economistas a respeito da gravidade desses problemas de medição e das soluções possíveis. O assunto é importante
porque muitos programas do governo usam o índice de preços ao consumidor
para ajustar os valores às mudanças no nível geral de preços. Os beneficiários
da previdência social, por exemplo, têm seus benefícios reajustados anualmente pela variação do índice de preços ao consumidor. Alguns economistas sugeriram modificações dos programas de modo a compensar esses problemas de
medição. Por exemplo, muitos estudos concluem que o índice de preços ao
consumidor superestima o índice de inflação em algo entre 0,5 a 2% ao ano.
Para compensar essa diferença, o Congresso poderia alterar as normas da Seguridade Social de modo que os benefícios fossem reajustados anualmente
no equivalente à taxa de inflação registrada menos um ponto percentual.
Essa mudança seria uma maneira simples de compensar os problemas de medição e ao mesmo tempo reduziria as despesas do governo em bilhões de dólares ao ano.
o DEFLATOR DO PIB E O íNDICE DE PREÇOS
AO CONSUMIDOR
No capítulo anterior vimos outro indicador do nível geral de preços da economia - o deflator do PIB. O deflator do PIB é a razão entre o PIB nominal e o
PIB real. Como o PIB nominal é igual à produção corrente avaliada a preços
correntes e o PIB real é igual à produção corrente avaliada aos preços do
5191
520
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
DOS JORNAIS
Um IPC para a terceira idade
Embora o índice de preços ao consumidor possa
superestimar a verdadeira taxa de inflação do consumidor médio, por subestimar a inflação para alguns tipos de consumidor. Em especial, de acordo
com alguns economistas, os idosos têm sofrido aumentos mais acelerados do custo de vida do que a
população em geral.
PREÇOS QUE NÃo SE ENCAIXAM NO
PERFIL:
O íNDICE É INADEQUADO
PARA A REALIDADE DOS IDOSOS?
LAURA CASTANEDA
A baixa inflação, uma força que impulsiona a expansão econômica da nação, está tendo efeitos perversos ao tomar a vida mais difícil para milhões de
americanos idosos.
Isto porque os reajustes nos benefícios da seguridade social são calculados com base num índice - o Índice de Preços ao Consumidor de Assalariados e Funcionários Urbanos - que podem não
refletir acuradamente suas despesas.
Com base nesse índice os benefícios mensais
da seguridade social aumentarão em média 1,3%
no ano que vem, mas os custos que pesam mais no
bolso de muitos dos aposentados - médicos, re-
médios e outros cuidados com a saúde - estão
crescendo mais rapidamente do que os preços ao
consumidor em geral.
Agora, o Departamento de Estatísticas do
Trabalho, que calcula os índices, está elaborando um índice experimental que leva em conta
algumas das despesas dos americanos idosos e
que mostra um hiato crescente entre o aumento
das despesas dos idosos e o da população em
geral. Entre dezembro de 1982 e setembro de
1998, o índice experimental aumento ou73,9%
enquanto que o índice oficial cresceu 63,5%,
afirmou Patrick Jackman, um economista do
departamento. ( ... )
O índice oficial "subestima a verdadeira
taxa de inflação dos idosos", disse Dean Baker,
um economista do Economic Policy Institute,
uma organização independente de pesquisa de
Washington e a disparidade tende a aumentar
com o tempo.
Mas Baker, autor de Getting Prices Right: the
Battle Over the Consumer Price Index, disse que os
gastos maiores com alguns bens e serviços não
são a única razão. O índice oficial também leva
em conta quedas de preços de bens de consumo
que eles raramente compram, como televisores e
computadores.
Embora o Congresso relute em face do custo, acrescenta ele, um índice diferenciado para os
idosos "seria a maneira adequada" de corrigir o
problema.
FONTE: The New York Times, Business Section, 8 de novembro de 1998, p. 10.
ano-base, o deflator do PIB reflete a relação entre o nível de preços corrente e o
nível de preços do ano-base.
Economistas e formuladores de políticas públicas monitoram tanto o deflator do PIB quanto o índice de preços ao consumidor para conhecer o ritmo
de crescimento dos preços. Em geral, os dois indicadores contam a mesma história. Todavia há entre eles duas diferenças importantes que podem provocar
divergências em seu desempenho.
A primeira diferença é que o deflator do PIB considera os preços de todos
os bens e serviços produzidos internamente enquanto o índice de preços ao consumidor considera os preços de todos os bens e serviços comprados pelos consumidores. Por exemplo, imagine que o preço de um avião fabricado pela Boeing e
vendido à Força Aérea aumente. Mesmo que o avião seja parte do PIB, ele não
faz parte da cesta de bens e serviços adquiridos pelo consumidor típico. Portanto, esse aumento de preços aparece no deflator do PIB mas não no índice de
preços ao consumidor.
Outro exemplo, imagine que a Volvo aumente o preço de seus automóveis. Como os Volvos são fabricados na Suécia, o carro não está incluído no PIB
CAPíTULO 23
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
521
dos Estados Unidos. Mas os consumidores dos Estados Unidos compram Volvo
e, portanto, o carro integra a cesta de bens' do consumidor típico. Conseqüentemente, um aumento no preço de um bem de consumo importado, como o Volvo, aparece no índice de preços ao consumidor mas não no deflator do PIB.
A primeira diferença entre o índice de preços ao consumidor o deflator
do PIB é especialmente importante quando se registram variações no preço do
petróleo. Embora os Estados Unidos produzam petróleo, boa parte do petróleo
consumido internamente é importada do Oriente Médio. Em conseqüência, o
petróleo e seus derivados, como o óleo combustível usado no aquecimento residencial e a gasolina, têm um peso muito maior nas despesas do consumidor
do que no PIB. Quando o preço do petróleo aumenta, o índice de preços ao
consumidor aumenta muito mais do que o deflator do PIB.
A segunda e mais sutil diferença entre os dois indicadores se refere à forma pela qual os vários preços são ponderados para se obter o número que define o nível geral de preços. O índice de preços ao consumidor compara o preço
de uma cesta fixa de bens e serviços ao preço da mesma cesta no ano-base. A
cesta só é alterada pelo [)epartamento de Estatísticas do Trabalho a intervalos
infreqüentes. Já o deflator do PIB compara o preço dos bens e serviços produzidos correntemente com os preços dos mesmos bens e serviços no ano-base.
Assim, o conjunto de bens e serviços usados no cálculo do deflator do PIB
muda automaticamente ao longo do tempo. Esta diferença não é importante
quando todos os preços variam proporcionalmente. Mas se os preços de diferentes bens e serviços variam a taxas diferentes, a forma pela qual os preços são
ponderados influi sobre a taxa de inflação agregada.
A Figura 23-2 apresenta a taxa de inflação anual medida tanto pelo deflator do PIB quanto pelo índice de preços ao consumidor para o período de 1965
a 1995. Verifica-se que às vezes as taxas divergem. Quando elas divergem, é
possível explicar as diferenças recorrendo aos fatores mencionados acima.
Contudo, a figura mostra que a divergência entre os dois indicadores é a exceção e não a regra. No fim dos anos 70, tanto o deflator do PIB quanto o índice de
e
7.
9.
8.
1970
Variação
anual em %
15
1975
1980
1985
1990
1995 1998
DUA
S
ME
DIDAS DE
INFLAÇÃO. A figura
mostra a taxa de inflação
anual - a variação
percentual do nível de
preços - medida pelo
deflator do PIB e pelo índice
de preços ao consumidor a
partir de 1965. Observe que
em geral as duas taxas
registram o mesmo
movimento.
FONTE: Departamento de
Trabalho e Departamento de
Comércio dos Estados Unidos.
522
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
!ÁUDio -VíDEO )
preços ao consumidor registram altas taxas de inflação. No fim dos anos 80 e
no início dos anos 90 ambos os indicadores mostram baixas taxas de inflação.
I
TE 5 T E R Á P' I D O
Explique sucintamente o que é que o índice de preços
, ao consumidor tenta medir e como é construído.
DESCONTANDO OS EFEITOS DA INFLAÇÃO
DAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS
" - O preço pode parecer
um tanto quanto alto, mas
não se esqueça de que está
em dólares de hoje."
o objetivo da medição do nível geral de preços da economia é permitir a comparação de cifras em dólar em diferentes pontos do tempo. Agora que conhecemos como são calculados os índices de preços, vejamos como eles podem ser
utilizados para comparar uma quantia em dólares do passado com uma quantia em dólares atual.
CIFRAS MONETÁRIAS DE ÉPOCAS DIFERENTES
Voltemos ao salário de Babe Ruth. Seu salário de US$ 80 mil era alto ou baixo
quando comparado aos salários dos jogadores da atualidade?
Para responder à pergunta, precisamos conhecer o nível de preços de
1931 e o nível de preços de hoje. Parte do aumento dos salários dos jogadores
de beisebol apenas repõe o maior nível de preços de hoje. Para comparar o salário de Babe Ruth com o dos jogadores atuais, precisamos inflacionar o salário
de Ruth para transformar os dólares de 1931 em dólares de hoje. Um índice de
preços determina a grandeza desta correção da inflação.
As estatísticas do governo registram um índice de preços de 15,2 para
1931 e de 166 para 1999. Portanto, o nível geral de preços aumentou de um fator de 10,9 (ou 166/15,2). Podemos usar estes números para medir o salário de
Ruth em dólares de 1999. O cálculo é:
Salário em dólares de 1999 = salário em dólares de 1931 x
=
_N_í_v_el_d_e-=--p_re_ç
_o_s_e_m_19_9_5
Nível de preços em 1931
US$ 80.000 x (166/15,2)
= US$ 873.684,00.
. :;:
Concluímos que o salário de Babe Ruth em 1931 equivale a um salário de
pouco menos de US$ 1 milhão atuais. Não é um mau salário, mas é um pouco
inferior ao salário de um jogador de beisebol médio nos dias de hoje e está bem
aquém do que é pago aos superastros do beisebol. Sammy Sosa, shortstop do
Chicago Cubs, por exemplo, ganhou US$10 milhões em 1999.
Vejamos também o salário do presidente Hoover em 1931, US$ 75 mil.
Para transformar esta cifra em dólares de 1999, temos que, novamente, multiplicá-Ia pela razão dos níveis de preço nos dois anos. Verificamos que o salário
de Hoover de US$ 75 mil em 1931 equivale a US$ 75.000 x (166/15,2), ou US$
819.079,00 em dólares de 1995. Isto está bem acima do salário do presidente
Clinton, US$ 200 mil. Parece que, afinal, o presidente Hoover também teve um
ano muito bom .
CAPíTULO 23
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
523
ESTUDO DE CASO: O SENHOR íNDICE VAI A HOLLYWOOD
Qual o filme mais popular de todos os tempos? A resposta pode surpreendê-Ia.
A popularidade dos filmes é aferida, geralmente, pela receita das bilheterias. Segundo esse critério, Titanic é o filme nº 1 de todos os tempos, seguido
por Guerra nas Estrelas e ET. Mas esta classificação ignora um fato óbvio mas
importante: os preços, incluindo aqueles dos ingressos de cinema, aumentaram ao longo do tempo. Quando descontamos os efeitos da inflação, a história
é bem diferente.
A Tabela 23-2 mostra os dez maiores filmes de todos os tempos, classificados
por receita de bilheteria a preços constantes. O filme nº 1 é E o vento levou, lançado
em 1939 e que está situado bem à frente de Titanic. Na década de 1930, antes que
todos tivessem televisão em casa, cerca de 90 milhões de americanos freqüentavam o cinema semanalmente contra cerca de 25 milhões em nossos dias. Mas os
filmes da época raramente aparecem nas classificações porque os preços dos ingressos giravam em tomo de apenas 25 centavos. Scarlett e Rhett têm um desempenho bem melhor quando levamos em conta os efeitos da inflação.
20 FILMES DE MAIOR BILHETERIA
(VALORES CONSTANTES)
TíTULO
1. ... E o vento levou
2. Guerra nas estrelas
3. A noviça rebelde
4.Titanic
5.ET
5. Os dez mandamentos
6. Tubarão
7. Doutor Jivago
8. Mowgli, o menino lobo
9. Branca de Neve
ANO DE
BILHETERIA INTERNA BRUTA
LANÇAMENTO
EM MILHÕES DE DÓLARES DE 1999
1939
1977
1965
1997
1982
1956
1975
1965
1967
1937
859
628
568
601
552
570
557
540
483
474
FONTE: The Movie Times (www.the-movie-times.com).
os FILMES MAIS POPULARES DE TODOS OS TEMPOS, CORRIGIDOS PELA INFLAÇÃO
Tabela 23-2
INDEXAÇÁO
Como acabamos de ver, os índices de preços são usados para descontar os efeitos da
inflação quando se comparam valores monetários de épocas diferentes. Este tipo de
correção aparece em muitas circunstâncias da economia. Quando uma quantia é corrigida automaticamente por lei ou contrato, diz-se que houve indexação.
Muitos contratos assinados, por exemplo, entre empresas e sindicatos incluem a indexação, total ou parcial, dos salários pelo índice de preços ao consumidor. Esta cláusula chama-se COLA (cost-of-living allowance - reajuste pelo custo de
í
nd exe
ç
ê
e
correção automática,
determinada por lei ou
contrato, de uma quaruia
pela inflação 'J' ,;,':,"~etnarCllnQ Rei.
Blb110tecaeamO$ ••••• Ouro BrancO
lFMG•• -
524
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
vida). Uma COLA reajusta automaticamente o salário quando o índice de preços
ao consumidor aumenta.
A indexação é, também, um aspecto de muitas leis. Os benefícios da Seguridade Social, por exemplo, são reajustados a cada ano para compensar os
idosos pelo aumento dos preços. As faixas do imposto de renda federal- os
níveis de renda em que as alíquotas mudam - também são indexadas. Contudo, há muitos aspectos do sistema tributário que não estão indexados embora
talvez isso fosse necessário. Essa questão será detalhadamente examinada
quando tratarmos dos custos da inflação, mais adiante.
TAXAS DE JUROS REAIS E NOMINAIS
taxa de juros
nominal
taxa de juros sem o desconto
dos efeitos da inflação
taxa de juros real
taxa de juros após o desconto
dos efeitos da inflação
. . ~ . J ; ;~ ,": . ":' ':. i
I' ~;' »-, .
r'~; ';1
..
""
i r , ,..~ .',
'-'(!..'.'( , ..
. ,{,'
Corrigir variáveis econômicas pelos efeitos da inflação é muito importante, e
às vezes complicado, quando examinamos dados relativos a taxas de juro.
Quando deposita suas poupanças em uma caderneta, você deseja obter um
juro sobre o depósito. Já quando toma um empréstimo no banco para financiar
seus estudos, você terá de pagar um juro sobre seu empréstimo educacional. O
juro representa um pagamento no futuro por uma transferência de dinheiro no
passado. Em conseqüência, as taxas de juro sempre representam a comparação
de quantias monetárias em diferentes pontos no tempo. Para entender completamente as taxas de juro, temos que saber como corrigir os efeitos da inflação.
Vejamos um exemplo. Imagine que Suzana deposite US$ 1 mil em uma
conta bancária que rende uma taxa de juros anual de 10%. Ao fim dos doze meses, Suzana terá obtido um juro de US$100. Ela, então, levanta seus US$1.100.
Suzana estará mais rica do que quando fez o depósito, um ano atrás?
A resposta depende do que queremos dizer com a palavra "rica". Suzana
tem US$ 100 a mais do que tinha um ano atrás. Em outras palavras, o número
de dólares aumentou de 10%. Mas se no mesmo período os preços tiverem subido, cada dólar compra agora menos do que comprava um ano atrás. Portanto, seu poder aquisitivo não cresceu 10%. Se a taxa de inflação foi de 4%, então
a quantidade de bens que ela pode adquirir aumentou apenas 6%. E se a inflação tiver sido de 15%, então o preço dos bens aumentou proporcionalmente
mais do que o número de dólares de sua conta. Neste caso, o poder aquisitivo
de Suzana de fato caiu 5%.
A taxa de juros que o banco paga é chamada taxa de juros nominal e a
taxa de juros depois de descontados os efeitos da inflação é chamada taxa de
juros real. Podemos escrever a relação entre taxa de juros nominal, taxa de juros real e inflação como
Taxa de juros real = Taxa de juros nominal- Taxa de inflação
A taxa de juros real é a diferença entre a taxa de juros nominal e a taxa de
inflação. A taxa de juros nominal diz em que velocidade cresce o número de
dólares de sua conta bancária. A taxa de juros real diz em que velocidade cresce o poder aquisitivo de sua conta bancária.
A Figura 23-3 apresenta as taxas de juros nominal e real a partir de 1965.
A taxa de juros nominal é que vigora para títulos do Tesouro de três meses. A
taxa de juros real é calculada subtraindo-se a inflação - a variação percentual
do índice de preços ao consumidor - da taxa de juros nominal.
Pode-se observar que as taxas de juros real e nominal nem sempre se
movem na mesma direção. Por exemplo, no fim dos anos 70, as taxas de juros nominais eram elevadas. Mas como a inflação era muito alta, as taxas de
juros reais eram baixas. Na verdade, em alguns anos as taxas de juros reais fo-
CAPíTULO 23
10.
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
525
Figu •• 23-3
Taxa de juros
(variação
anual em%)
TAXAS DE JUROS NOMINAL
E REAL. O gráfiço mostra as
15
1
0
Taxa de juros nominal --
5
O~--~~~----~------~~---
197
0
197
5
198
0
198
5
199
0
1995 1998
ram negativas, pois a inflação corroía as poupanças mais rapidamente do que
o pagamento de juros as aumentava. Já no fim dos anos 90, as taxas de juros nominais eram baixas. Mas como a inflação também era reduzida, as taxas de juros reais eram relativamente altas. Nos próximos capítulos, quando estudarmos as causas e as conseqüências das variações nas taxas de juros, será importante ter em mente a distinção entre taxas de juros nominais e reais.
I
TE 5 T E R Á P I D O Em 1914, Henry Ford pagava a seus funcionários
US$ 5 ao dia. Se o índice de preços para 1914 é de 11 e para 1999, de 166,
quanto valeria o salário dos funcionários da Ford em dólares de 1999?
CONCLUSÃO
"Uma pratinha de dez centavos já não vale nem cinco centavos", brincou certa vez Yogi Berra, o jogador de beisebol. De fato, ao longo da história recente,
os valores reais das moedinhas e das notas bancárias não têm sido estáveis.
Aumentos persistentes no nível geral de preços têm sido a norma. Essa inflação reduz o poder aquisitivo de cada unidade monetária ao longo do tempo.
Ao comparar dados em dólares de diferentes períodos, é importante ter em
mente que um dólar de hoje não é o mesmo dólar de há 20 anos ou, muito
provavelmente, de daqui a 20 anos.
. Este capítulo mostrou como os economistas medem o nível geral de preços da economia e como utilizam os índices de preços para corrigir variáveis
econômicas pelos efeitos da inflação. Esta análise é apenas um ponto de partida. Ainda não examinamos as causas ou os efeitos da inflação ou como a inflação interage com outras variáveis econômicas. Para fazê-Io temos que ir além
das questões de medição. Esta é, de fato, nossa próxima tarefa. Após explicar
nos dois últimos capítulos como os economistas medem quantidades e preços
macroeconômicos, estamos prontos para desenvolver os modelos que explicam os movimentos de longo e curto prazos dessas variáveis.
taxas de juros anuais,
nominal e real, a partir de
1965. A taxa de juros
nominal é que vigora para
os títulos do Tesouro de três
meses. A taxa de juros real é
a taxa de juros nominal
menos a taxa de inflação
medida pelo índice de
preços ao consumidor.
Observe que as taxas de
juros nominal e real
divergem freqüentemente.
FONTE: Departamento do
Trabalho e Departamento do
Tesouro dos Estados Unidos.
526
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
Ao comparar quantias expressas em dólar de épocas diferentes, é importante
ter em mente que um dólar de hoje não é a mesma coisa que um dólar de vinte
anos atrás, ou muito provavelmente, de daqui a vinte anos.
Este capítulo tratou da maneira pela qual os economistas medem o nível geral de preços da economia e de como empregam esses índices de preços para descontar a inflação das variáveis econômicas. Esta análise é apenas o ponto de partida. Ainda não examinamos as causas e as conseqüências
da inflação ou como a inflação interage com outras variáveis econômicas.
Para fazê-lo precisamos ir além das questões de medição. Esta é a nossa próxima tarefa. Tendo explicado como os economistas medem preços e quantidades econômicas nos dois últimos capítulos, agora estamos prontos para
ver modelos que explicam os movimentos de curto e longo prazos de tais variáveis.
Sumário
•
O índice de preços ao consumidor mostra o
custo de uma cesta de bens e serviços em relação ao custo da mesma cesta no ano-base. O índice é utilizado para medir o nível geral de preços da economia. A variação percentual do índice de preços ao consumidor mede a taxa de
inflação.
•
O índice de preços ao consumidor é um indicador imperfeito do custo de vida por três motivos. Primeiro, não leva em consideração a capacidade dos consumidores de substituir, ao longo do tempo, os bens que se tornam mais caros
por outros mais baratos. Segundo, não leva em
conta os aumentos do poder aquisitivo do dólar
em decorrência da introdução de novos bens.
Terceiro, é distorcido por variações não-quantificadas na qualidade dos bens e serviços. Em
função desses problemas de medição, o IPC superestima a taxa de inflação anual em cerca de 1
ponto percentual.
•
Embora o deflator do PIB também avalie o nível
geral de preços da economia, ele difere do índice
de preços ao consumidor porque inclui bens e
serviços produzidos em lugar de bens e serviços
consumidos. Em conseqüência, os bens importa-
dos afetam o índice de preços ao consumidor
mas não o deflator do PIB. Além disso, enquanto
o índice de preços ao consumidor usa uma cesta
de bens fixa, o deflator do PIB muda automaticamente o conjunto de bens e serviços, na medida
em que a composição do PIB varia ao longo do
tempo.
•
Cifras monetárias de diferentes períodos não representam uma comparação válida de poder
aquisitivo. Para comparar valores em dólar do
passado com os valores atuais, a cifra mais antiga deve ser inflacionada usando um índice de
preços.
•
Várias leis e contratos privados utilizam índices de preços para corrigir os efeitos da inflação. Já as leis tributárias só são indexadas parcialmente.
•
A correção da inflação é especialmente importante quando se observam dados relativos a taxas de juro. A taxa de juros nominal é a taxa geralmente informada; é a taxa à qual o número de
dólares em uma conta de poupança aumenta ao
longo do tempo. Já a taxa de juros real leva em
conta variações no valor do dólar ao longo do
tempo. A taxa de juros real é igual à taxa nominal menos a taxa de inflação.
Conceitos-chave
índice de preços ao consumidor (IPC), p. 514
taxa de inflação, p. 517
índice de preços ao produtor, p. 517
indexação, p. 523
taxa de juros nominal, p. 524
taxa de juros real, p. 524
CAPíTULO 23
CALCULANDO O CUSTO DE VIDA
527
Q"uestões para revisão
1. Para você, o que tem maior impacto sobre o índice de preços ao consumidor: um aumento de
10% no preço do frango ou um aumento de 10%
no preço do caviar? Por quê?
2. Descreva os três problemas que tornam o índice
de preços ao consumidor um indicador imperfeito do custo de vida.
3. Se o preço de um submarino da Marinha aumenta, qual o indicador mais afetado: o IPC ou o deflator do PIB? Por quê?
4. Ao longo de vários anos, o preço da barra de chocolate aumentou de US$ 0,10 para US$ 0,60. No
mesmo período, o índice de preços ao consumidor aumentou de 150 para 300. Qual o aumento
no preço real da barra de chocolate?
5. Explique o significado de taxa de juros nominal e
de taxa de juros real. Qual a relação entre os dois
termos?
Problemas e aplicações
1. Suponha que os consumidores só comprem três
bens, como mostra a tabela:
BOLAS
DE
TÊNIS
Preço em 2001
Quantidade
em 2001
Preço em 2002
Quantidade
em 2002
RAQUETES
GATORADE
DE TÊNIS
3. De 1947 a 1997 o índice de preços dos Estados
Unidos aumentou 637%. Use este fato para corrigir os preços de 1947. Quais os itens que custam
menos em 1997 do que em 1947, depois da correção? Quais os itens que custam mais?
US$2
US$40
US$l
ITEM
100
US$2
10
US$60
200
US$2
Anuidade da
100
10
200
a. Qual a variação percentual do preço de cada
um desses três bens? Qual a variação percentual no nível geral de preços?
b. As raquetes de tênis se tomaram mais caras ou
mais baratas em relação ao Gatorade? O
bem-estar de algumas pessoas muda em relação ao bem-estar de outras pessoas? Explique.
2. Imagine que os habitantes de Verdelândia gastem toda sua renda em couves-flor, brócolis e
cenouras. Em 2001 eles adquiriram 100 couves-flor por US$ 200, 50 caixas de brócolis por
US$ 75 e 500 cenouras por US$ 50. Em 2002 eles
adquiriram 75 couves-flor por US$ 225, 80 caixas de brócolis por US$ 120 e 500 cenouras por
US$ 100. Se considerarmos 2001 o ano-base,
qual o IPC para os dois anos? Qual a taxa de inflação em 2002?
PREÇO
EM 1947
(US$)
PREÇ
EM
1997
(US$)
Universidade de Iowa
130
2.470
Galão de gasolina
Telefonema de Nova York
para Los Angeles
(3 minutos)
Um dia em uma UTI
Hambúrguer do
McDonald's
0,23
1,22
2,50
35
0,45
2.300
0,15
0,59
4. A partir de 1994, a legislação ambiental exige que
a gasolina contenha um novo aditivo para reduzir a poluição do ar. Esta exigência aumentou o
custo da gasolina. O Departamento de Estatísticas do Trabalho decidiu que este aumento no
custo representava uma melhoria na qualidade.
a. Dada esta decisão, o aumento de preço da
gasolina significou um aumento no IPC?
b. Qual o argumento a favor da decisão tomada? Qual o argumento para uma decisão diferente?
528
PARTE VIII
DADOS MACROECONÔMICOS
5. Qual dos problemas na construção do IPC poderia ser ilustrado mediante as seguintes situações?
Explique.
a. A invenção do walkman da Sony.
b. O uso de air bags em automóveis.
c. Aumento das compras de computadores pessoais em decorrência da redução de seus preços.
d. Maior quantidade de passas em cada pacote
de granola.
e. Aumento do número de carros que usam
combustível com eficiência após o aumento
dos preços da gasolina.
6. O New York Times custava US$ 0,15 em 1970 e
US$ 0,75 em 1999. O salário médio na indústria
de transformação era de US$ 3,35 por hora em
1970 e de US$13,84 em 1999.
a. Qual o percentual de aumento do preço do
jornal?
b. Qual o percentual de aumento do salário?
c. Em cada um dos anos, quantos minutos o
operário tinha que trabalhar para comprar
um jornal?
d. O poder aquisitivo dos trabalhadores, em
termos de jornal, aumentou ou diminuiu?
7. O capítulo explica que os benefícios da Seguridade Social são reajustados anualmente segundo o
aumento do IPC, mesmo quando muitos economistas acreditam que o índice superestima a inflação ocorrida.
a. Se os idosos consumirem a mesma cesta de
mercado das outras pessoas, a Seguridade
Social está melhorando o padrão de vida dos
idosos a cada ano? Explique.
b. Na verdade, os idosos gastam mais com saúde do que os jovens, e os custos dos cuidados
com a saúde aumentaram mais rapidamente
do que o nível geral de preços. O que você faria para verificar se os idosos estão tendo seu
padrão de vida melhorado a cada ano?
8. Qual é a diferença entre a cesta de bens e serviços
que você compra e a cesta da família americana
típica? Você acha que sua inflação foi maior ou
menor do que a indicada pelo IPC? Por quê?
9. As faixas do imposto de renda não estavam indexadas até 1985. Quando a inflação aumentou
as rendas nominais nos anos 70, o que terá acontecido com a receita tributária real? (Dica: Esse
fenômeno é conhecido como "defasagem das
alíquotas". )
10. Ao decidir quanto de sua renda poupar para a
aposentadoria, os trabalhadores deveriam levar em conta as taxas de juros nominais ou reais
que suas aplicações rendem? Explique.
11. Imagine que um tomador de empréstimo e o
seu emprestador concordem com a taxa de juros a ser paga pelo empréstimo. A inflação,
contudo, acaba sendo maior do que ambos esperavam.
a. A taxa de juros real sobre esse empréstimo
será maior ou menor do que esperado?
b. O emprestador ganha ou perde com essa
alta inesperada da inflação? E o tomador do
empréstimo?
c. A inflação nos anos 70 foi muito maior do
que a maioria das pessoas esperava no início
da década. Como isso atingiu as famílias que
tomaram hipotecas sobre a casa própria, durante os anos 60, com juros fixos? Como afetou os bancos que concederam os empréstimos?
11.
Verá as diferenças de
crescimento econômico
no mundo
24
Examinará por que a
produtividade é o
determinante-chave do
padrão de vida de um país
Analisará os fatores que
determinam a
produtividade de um país
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
Quando viaja pelo mundo, você observa profundas disparidades nos padrões
de vida. O cidadão médio de um país rico, como os Estados Unidos, Japão ou
Alemanha, aufere uma renda mais de dez vezes superior ao daquele que mora
em um país pobre, como a Índia, Indonésia ou Nigéria. Essas grandes diferenças de renda se refletem em grandes disparidades na qualidade de vida. Países
ricos têm mais automóveis, mais telefones, mais televisores, melhor nutrição,
moradia mais segura, melhor assistência à saúde e maior expectativa de vida.
Mesmo em um só país há grandes variações no padrão de vida ao longo
do tempo. Nos Estados Unidos, durante o século passado, a renda média medida pelo PIB per capita cresceu cerca de 2% ao ano. Embora a cifra possa parecer pequena, essa taxa de crescimento significa que a renda média se duplica a
cada 35 anos. Dado esse crescimento, a renda média de hoje é cerca de oito vezes maior do que a renda média de um século atrás. Em conseqüência, o americano médio desfruta de maior prosperidade econômica do que seus pais, avós
e bisavós.
As taxas de crescimento variam substancialmente de país para país. Em
alguns países do Leste da Ásia, como Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul e
Taiwan, a renda média tem crescido cerca de 7% ao ano nas décadas recentes.
A essa taxa, a renda média dobra a cada dez anos. Assim, esses países, em apenas uma década, deixaram de estar entre os mais pobres do mundo para se situar perto dos mais ricos. Já em alguns países da Africa, como o Chade, a Etiópia e a Nigéria, a renda média tem se mantido estagnada há muitos anos.
Examinará como as
políticas públicas de
um país influem no
crescimento da
produtividade
532
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
o que explica essas diferenças? Como podem os países ricos garantir a manutenção de seu alto padrão de vida? Que políticas deveriam adotar os países
pobres para promover um crescimento mais rápido e poderem aproximar-se do
mundo desenvolvido? Estas são algumas das questões mais importantes da macroeconomia. Como disse o economista Robert Lucas: liAs conseqüências dessas
questões para o bem-estar humano são simplesmente impressionantes: quando
você começa a pensar nelas, é difícil pensar em alguma outra coisa."
Nos dois capítulos anteriores vimos como os economistas medem, em
termos macroeconômicos, quantidades e preços. No presente capítulo começaremos a estudar as forças que determinam essas variáveis. Como vimos, o
produto interno bruto (PIB) de uma economia mede tanto a renda total gerada
nessa economia quanto a despesa total em bens e serviços dessa economia. O
nível do PIB real é um bom indicador da prosperidade econômica. Aqui vamos
nos concentrar nos determinantes de longo prazo do nível e do crescimento do
PIB reaL Mais adiante estudaremos as flutuações de curto prazo em torno da
tendência de longo prazo do PIB.
Procederemos em três etapas. Primeira, examinaremos dados internacionais de PIB real per capita. Estes dados nos permitirão ter uma idéia das variações
do nível e do crescimento dos padrões de vida em torno do mundo. Segunda,
examinaremos o papel da produtividade - a quantidade de bens e serviços gerados por trabalhador. Em especial, veremos que o padrão de vida de uma nação é
determinado pela produtividade de seus trabalhadores e veremos quais os fatores que determinam es~a produtividade. Terceira, observaremos o elo que existe
entre a produtividade e as políticas econômicas adotadas pela nação.
CRESCIMENTO ECONÔMICO AO REDOR DO MUNDO
Como ponto de partida para o estudo do crescimento no longo prazo, vejamos
a experiência de algumas das economias do mundo. A Tabela 24-1 apresenta
os dados do PIB per capita de 13 países. Para cada país, os dados abrangem cerca de um século de história. A primeira e a segunda colunas da tabela apresentam os países e os períodos de referência. (Há diferenças de períodos para os
diversos países devido a diferenças na disponibilidade de dados.) A terceira e
a quarta colunas registram o PIB real per capita há um século e na atualidade.
Os dados do PIB real per capita mostram que os padrões de vida variam
amplamente de país para país. A renda per capita dos Estados Unidos, por
exemplo, é cerca de oito vezes maior do que a da China e quase 30 vezes a da
Índia. Os países mais pobres têm níveis de renda média que não são vistos
nos Estados Unidos há muitas décadas. O chinês típico em 1987 tinha uma
renda próxima da do americano típico em 1870. O habitante médio do Paquistão em 1987 tinha cerca de metade da renda de um americano típico de
um século atrás.
A última coluna da tabela apresenta a taxa de crescimento de cada um
dos países. A taxa de crescimento mostra a velocidade em que o PIB real per capita cresceu em média. Nos Estados Unidos, por exemplo, o PIB real per capita
era de US$ 3.188 em 1870 e de US$ 28.740 em 1999. A taxa de crescimento foi de
1,75% ao ano. Isto quer dizer que se o PIB real per capita tivesse crescido de
1,75% a cada ano a partir do valor inicial de US$ 3.188, em 127 anos teria atingido os US$ 28.740. Obviamente, o PIB real per capita não aumentou exatos 1,75%
a cada ano. Há flutuações de curto prazo em torno da tendência de longo prazo. A taxa de crescimento de 1,75 representa uma taxa média de crescimento
do PIB real em um período de muitos anos.
CAPíTULO 24
<
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
PIB REAL
PIB REAL
PER CAPITA
PER CAPITA
NO FIM
DO PERÍODO*
TAXA DE
CRESCIMEN
TO
MÉDIO
ANUAL
(%)
PAÍS
PERÍODO
NO INiCIO
DOPERÍODO*
Japão
1890-1997
1.196
23.400
2,82
Brasil
1900-1997
619
6.240
2,41
México
1900-1997
922
8.120
2,27
Alemanha
1870-1997
1.738
21.300
1,99
Canadá
1870-1997
1.890
21.860
1,95
China
1900-1997
570
3.570
1,91
Argentina
1900-1997
1.824
9.950
1,76
Estados Unidos
Indonésia
1870-1997
1900-1997
3.188
708
28.740
3.450
1,75
1,65
Índia
1900-1997
537
1.950
1,34
Reino Unido
1870-1997
3.826
20.520
1,33
Paquistão
1900-1997
587
1.590
1,03
Bangladesh
1900-1997
495
1.050
0,78
FONTE: Robert J. Barro e Xavier Sala-i-Martin, Economic Gronth (Nova York,
McGraw-Hill, 1995, Quadros 10.2 e 10.3; World Development Report 1998/1999 e
cálculo do autor
* Em dólares de 1985.
VARIEDADE DE EXPERIÊNCIAS DE CRESCIMENTO
Os países apresentados na Tabela 24-1 estão ordenados segundo a taxa de
crescimento, da maior para a menor. O Japão encabeça a lista, com uma taxa de
crescimento de 3% ao ano. Cem anos atrás, o Japão não era um país rico. Sua
renda média era pouco mais alta do que a do México, e estava bem atrás da
Argentina. Dizendo de outra maneira, a renda do Japão em 1890 era próxima à
da India em 1997. Mas em decorrência de sua espetacular taxa de crescimento,
6 Japão é, hoje em dia, uma superpotência, com uma renda média quase igual à
dos Estados Unidos. No fim da lista está Bangladesh que quase não registrou
crescimento algum ao longo do último século. O habitante típico de Bangladesh continua vivendo em pobreza abjeta.
Dadas as diferenças nas taxas de crescimento, o ordenamento em termos
de renda dos países muda substancialmente de tempos em tempos. Como vimos, o Japão é um país que cresceu em relação aos demais. Dois países que perderam posição são o Reino Unido e a Argentina. Em 1870, o Reino Unido era o
país mais rico do mundo, com uma renda média cerca de 20% superior à dos
Estados Unidos e quase duas vezes a do Canadá. Atualmente, a renda média
do Reino Unido é bem inferior à das duas antigas colônias.
Os dados mostram que os países mais ricos do mundo não têm garantias
de permanecer nessa posição e que os países mais pobres não estão fadados a
se manter na pobreza. Mas o que é que explica estas mudanças ao longo do
tempo? Por que alguns países avançam enquanto outros recuam? Estas são as
questões que veremos a seguir.
Tabela 24-1
533
534
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
NOTA
A mágica da composzçao
e a regra dos 70
Pode parecer tentador descartar as diferenças nas taxas de crescimento como sendo insignificantes.
Um país cresce 1% ao ano e outro, 3%, e daí? Que
diferença podem fazer 2%?
A resposta é uma grande diferença. Mesmo
taxas de crescimento que parecem pequenas quando expressas em termos percentuais tomam-se
grandes quando compostas ao longo de muitos
anos. Compostas se refere à acumulação de uma
taxa de crescimento ao longo de um período.
Veja um exemplo. Imagine dois colegas de faculdade - João e Maria - que conseguem seu primeiro emprego aos vinte e dois anos e que ganham
US$ 30 mil ao ano. João vive em uma economia em
que a renda cresce 1 % ao ano, enquanto Maria vive
em uma economia na qual a renda cresce 3% ao
ano. Um cálculo simples nos mostra o que ocorre.
Quarenta anos mais tarde, quando ambos já têm 62
anos de idade, João ganha US$ 45 mil, enquanto
Maria ganha US$ 98 mil. Dada aquela diferença de
dois pontos percentuais, o salário de Maria na velhice é duas vezes maior do que o de João.
Uma antiga regra prática, chamada regra dos
70, é útil para entender taxas de crescimento e os
efeitos da composição. De acordo com essa regra, se uma variável cresce à taxa de x% ao ano,
então a variável dobra em aproximadamente
70/ x anos. Na economia de João, a renda aumenta a 1% ao ano, então são necessários cerca de 70
anos para duplicar a renda. Já a economia de
Maria cresce 3% ao ano, de modo que são necessários cerca de 70/3, ou 23, anos para a duplicação da renda.
A regra dos 70 se aplica não apenas ao crescimento econômico mas também ao rendimento
da poupança. Veja um exemplo: em 1791, Benjamin Franklin morreu e deixou US$ 5 mil para serem investidos por um período de 200 anos a fim
de auxiliar estudantes de medicina e pesquisas
científicas. Se essa soma rendesse 7% ao ano (o
que teria sido, de fato, possível), o investimento
teria duplicado seu valor a cada 10 anos. Em 200
anos, teria duplicado cerca de 20 vezes. Ao fim
de 200 anos de juros compostos, o investimento
estaria valendo 220 x US$ 5 mil, o que representaria cerca de 5 bilhões. (Na verdade, os US$ 5 mil
de Franklin só atingiram US$ 2 milhões ao fim
dos 200 anos porque parte do dinheiro foi sendo
gasto ao longo do tempo.)
Como mostram estes exemplos, as taxas de
crescimento compostas ao longo de muitos anos
podem levar a resultados espetaculares. Talvez
seja por isso que Albert Einstein disse certa vez
que as taxas compostas eram" a maior descoberta matemática de todos os tempos".
I
T E 5 T E R Á P I D O Qual é a taxa de crescimento do PIB real per capita dos
Estados Unidos? Cite um país que já tenha registrado um crescimento mais
rápido e outro que tenha crescido mais lentamente.
PRODUTIVIDADE: SEU PAPEL E SEUS DETERMINANTES
Explicar as grandes variações mundiais nos padrões de vida é, de certo ponto
de vista, muito fácil. Como veremos, a explicação pode ser resumida por uma
única palavra - produtividade. Mas, em outro sentido, as variações internacionais são bastante intrigantes. Para explicar por que as rendas são tão mais altas
em alguns países do que em outros, temos que observar os muitos fatores que
determinam a produtividade de uma nação.
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
535
POR QUE A PRODUTIVIDADE É TÃO IMPORTANTE
Comecemos o estudo da produtividade e do crescimento econômico construindo um modelo simples que tomará como base a famosa obra de Daniel
DeFoe, Robinson Crusoé. Como sabemos, Robinson Crusoé é um marinheiro
encalhado em uma ilha deserta. Como Crusoé está sozinho, pesca seu próprio
peixe, planta seus legumes e confecciona suas roupas. Podemos pensar nas atividades de Crusoé - sua produção e consumo de peixe, legumes e vestuário
- como sendo uma economia simples. Observando a economia de Crusoé,
podemos aprender algumas lições que também se aplicam a economias mais
complexas e realistas.
O que é que determina o padrão de vida de Crusoé? A resposta é óbvia.
Se Crusoé é competente na pesca, na lavoura e na confecção de roupas, ele vive
bem. Se lhe faltar talento para essas atividades, viverá mal. Como Crusoé só
consome o que produz, seu padrão de vida está amarrado à sua capacidade
produtiva.
O termo produtividade se refere à quantidade de bens e serviços que um
trabalhador pode produzir a cada hora de trabalho. No caso da economia de
Crusoé, é fácil constatar que a produtividade é o determinante-chave do padrão de vida e que o aumento da produtividade é o fator-chave para a melhoria de seu padrão de vida. Quanto mais peixe Crusoé conseguir por hora, mais
comerá ao jantar. Se ele encontrar um local melhor para pescar, sua produtividade aumenta. Esse aumento de produtividade melhora a situação de Crusoé:
ele pode comer mais peixe, ou ele pode dedicar menos tempo à pesca para empregar o tempo fabricando outros produtos que deseje.
O papel-chave da produtividade na determinação dos padrões de vida é
tão verdadeiro para as nações como o é para marinheiros encalhados. Lembre-se de que o produto interno bruto (PIB) da economia mede duas coisas simultaneamente: a renda total auferida na economia e a despesa total com os
bens e serviços produzidos na economia. A razão pela qual o PIB pode medir
duas coisas ao mesmo tempo é que para a economia como um todo elas têm
que ser iguais. Dito de forma simples, a renda de uma economia é a produção
da economia.
Como Crusoé, uma nação só pode desfrutar de um padrão de vida mais
alto se puder produzir uma quantidade maior de bens e serviços. Os americanos vivem melhor do que os nigerianos porque os trabalhadores americanos
são mais produtivos do que os trabalhadores nigerianos. Os japoneses desfrutaram de um crescimento mais rápido de seus padrões de vida do que os argentinos porque os trabalhadores japoneses registraram um crescimento mais
rápido em sua produtividade. De fato, um dos Dez Princípios de Economia apresentados no Capítulo 1 é o de que os padrões de vida de um país dependem de
sua capacidade em produzir bens e serviços.
Portanto, para entender as grandes diferenças observadas nos padrões de
vida em diferentes países, ou em diferentes períodos, temos de nos concentrar
na produção de bens e serviços. Mas a constatação da relação entre padrões de
vida e produtividade é apenas o primeiro passo. E leva naturalmente à próxima indagação: por que algumas economias são tão melhores na produção de
bens e serviços do que outras?
COMO É DETERMINADA A PRODUTIVIDADE
Embora a produtividade seja singularmente importante para determinar o padrão de vida de Robinson Crusoé, muitos fatores determinam essa produtividade. Crusoé será mais capaz de pescar, por exemplo, se tiver mais caniços, se
produtividade
quantidade de bens e serviços
que um trabalhador pode
produzir a cada hora de
trabalho
536
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
tiver aprendido as melhores técnicas de pesca, se na ilha houver muitos peixes
e se ele tiver descoberto os melhores locais para pesca na ilha. Cada um desses
de terminantes da produtividade de Crusoé - que podemos chamar de capital
físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico - tem uma
contrapartida em economias mais complexas e realistas. Vejamos.
capital físico
estoque de equipamentos e
estruturas utilizados na
produção de bens e serviços
capital humano
conhecimento e habilidades
adquiridos pelos trabalhadores
através do ensino, do
treinamento e da experiência
recursos naturais
insumos fornecidos pela
natureza para a produção de
bens e serviços, como a terra, os
rios e os jazidas minerais
C a p i t a I f í s i c o Os trabalhadores são mais produtivos quando dispõem
de ferramentas para executar seu trabalho. O estoque de equipamento e estruturas usados para produzir bens e serviços é denominado capital físico, ou
simplesmente capital. Por exemplo, quando os marceneiros fabricam móveis,
eles usam serras, tornos e furadeiras. Mais ferramentas permitem que o trabalho seja feito mais rápida e perfeitamente. Isto é, um trabalhador com apenas
as ferramentas manuais básicas fabrica menos móveis por semana do que um
trabalhador que disponha de ferramentas especializa das.
Como vimos no Capítulo 2, os insumos utilizados na produção de bens e
serviços - trabalho, capital e assim por diante - são chamados fatores de
produção. Uma característica importante do capital é a de que ele é um fator de
produção produzido. Isto é, o capital é um insumo do processo produtivo que no
passado foi o produto do processo produtivo. O marceneiro usa o tomo para fazer o pé da mesa. No passado, o próprio tomo foi o resultado da produção de
uma fábrica de tomos. O fabricante de tomos, por sua vez, usou outros equipamentos para fabricar seu produto. Portanto, o capital é um fator de produção
usado para produzir todo tipo de bens e serviços, incluindo mais capital.
C a p i t a I h uma n o Um segundo determinante da produtividade é o capital humano. Capital humano é o termo que os economistas empregam para
descrever o conhecimento e as habilidades que os trabalhadores adquirem por
meio da educação, do treinamento e da experiência. O capital humano inclui a
perícia acumulada em programas para a infância, cursos primário e secundário, faculdade e treinamento no emprego para trabalhadores adultos.
Embora a escolaridade, o treinamento e a experiência sejam menos tangíveis do que tornos, escavadeiras e edificações, o capital humano tem muitas semelhanças com o capital físico. Como o capital físico, o capital humano aumenta a capacidade da nação para a produção de bens e serviços. Também como o
capital físico, o capital humano é um fator de produção produzido. A produção do capital humano exige insumos na forma de professores, bibliotecas e
tempo de estudo. De fato, os estudantes podem ser considerados "trabalhadores" que têm a importante tarefa de produzir o capital humano que será utilizado na produção futura.
c u r 5 o 5 na t u r a i 5 Um terceiro determinante da produtividade são os
recursos naturais. Os recursos naturais são insumos fornecidos pela natureza,
como a terra, os rios e as jazidas minerais. Os recursos naturais se apresentam
de duas formas: renováveis e não-renováveis, Uma floresta é um exemplo de
recurso natural renovável. Quando uma árvore é abatida, pode-se plantar em
seu lugar uma muda para ser abatida no futuro. O petróleo é um exemplo de
recurso natural não-renovável. Dado que o petróleo é produzido pela natureza
ao longo de milhares de anos, a oferta é limitada. Se a disponibilidade de petróleo for esgotada, é impossível criar mais.
Diferenças na dotação de recursos naturais são responsáveis por algumas
das diferenças mundiais de padrões de vida. O sucesso histórico dos Estados
Unidos foi em parte impulsionado pela ampla oferta de terras adequadas à
agricultura. Atualmente, alguns países do Oriente Médio, como o Kuwait e a
Arábia Saudita, são ricos simplesmente porque estão localizados sobre as
maiores jazidas petrolíferas do mundo.
Re
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
537
Embora os recursos naturais sejam importantes, não são essenciais para
que uma economia registre alta produtividade. O Japão, por exemplo, é um
dos países mais ricos do mundo, apesar dos poucos recursos naturais de que
dispõe. O comércio internacional torna possível o sucesso do Japão. O país importa muitos dos recursos naturais de que necessita, como o petróleo, e exporta bens manufaturados para economias ricas em recursos naturais.
c o n h ec i m e n to te c n o I óg i c o Um quarto determinante da produtivi-
dade é o conhecimento tecnológico - a compreensão das melhores formas de
produzir bens e serviços. Cem anos atrás, muitos americanos trabalhavam no
campo, porque a tecnologia agrícola exigia um alto insumo de trabalho para
alimentar toda a população. Atualmente, graças à tecnologia agrícola, uma pequena parcela da população pode produzir alimentos suficientes para atender
todo o país. Esta mudança tecnológica liberou mão-de-obra para a produção
de outros bens e serviços.
O conhecimento tecnológico assume várias formas. Parte da tecnologia é
conhecimento comum - depois de utilizado por alguém, todos se tornam conscientes do mesmo. Uma vez que Henry Ford, por exemplo, introduziu com sucesso a produção em linhas de montagem, outros fabricantes de automóveis o
seguiram. Outras tecnologias são proprietárias - só são conhecidas pela empresa que as descobrem. Apenas a Coca-Cola, por exemplo, conhece a receita secreta
do famoso refrigerante. Há ainda tecnologias que são proprietárias apenas por
um curto espaço de tempo. Quando uma empresa farmacêutica descobre uma
nova substância, o sistema de patentes lhe dá um direito temporário de exclusividade sobre a fabricação dessa substância. Quando a patente expira, contudo,
"as demais empresas podem fabricar a substância. Todas essas formas de conhecimento tecnológico são importantes para a produção de bens e serviços da economia.
É importante distinguir conhecimento tecnológico e capital humano.
Embora estejam estreitamente relacionados, há uma diferença importante. O
conhecimento tecnológico se refere ao entendimento por parte da sociedade a
respeito do funcionamento do mundo. O capital humano tem a ver com os recursos despendidos para transmitir esse conhecimento à força de trabalho.
Para empregar uma metáfora relevante, o conhecimento tecnológico tem a ver
com a qualidade dos livros-texto da sociedade, enquanto o capital humano
tem a ver com o tempo que as pessoas destinam à sua leitura. A produtividade
dos trabalhadores depende tanto da qualidade dos livros-texto disponíveis
quanto do tempo destinado a seu estudo.
ESTUDO DE CASO: OS RECURSOS NATURAIS LIMITAM
O CRESCIMENTO?
A população mundial é, em nossos dias, bem maior do que há um século, e
muitas pessoas desfrutam de um padrão de vida muito mais alto. Há um debate permanente sobre a possibilidade de continuação futura desse crescimento da população e dos padrões de vida.
Muitos analistas argumentam que os recursos naturais impõem um limite ao crescimento das economias mundiais. À primeira vista essa hipótese
pode parecer difícil de ser ignorada. Se o mundo tem um estoque fixo de recursos naturais não-renováveis, como podem a população, a produção e os padrões de vida continuar a crescer ao longo do tempo? As disponibilidades de
petróleo e de minerais não se esgotarão? Quando a escassez começar a se manifestar, não interromperá o crescimento econômico e, quem sabe, determinará
uma queda dos padrões de vida?
conhecimento
tecnológico
entendimento, por parte da
sociedade, das melhores formas
de produzir bens e serviços
538
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
NOTA
A função de produção
te, podemos dizer que uma função de produção
tem retornos de escala constantes se para qualquer número positivo x,
xY= A F(xL, xK, xH, xN).
Os economistas em geral utilizam a junção de produção para descrever a relação entre a quantidade de
insumos utilizada na produção e a quantidade de
produtos obtida. Por exemplo, suponha que Y denote a quantidade de produtos, L, a quantidade de
trabalho, K, a quantidade de capital físico, H, a
quantidade de capital humano e N, a quantidade de
recursos naturais. Então podemos escrever:
A duplicação de todos os insumos é representada nesta equação por x = 2. O lado direito
mostra a duplicação dos insumos e o lado esquerdo, a duplicação da produção.
As funções de produção com retornos
constantes de escala têm uma implicação interessante. Para ver do que se trata, digamos que x
= l/L, então a equação fica como
Y= A F(L, K, H, N)
Y/L= A F(1, K/L, H/L, N/L).
onde F( ) é uma função que mostra como os insumos são combinados para gerar o produto. A é
uma variável que representa a tecnologia produtiva disponível. À medida que a tecnologia se aperfeiçoa, A aumenta, de modo que a economia produz mais a partir de qualquer combinação dada de
insumos.
Muitas funções de produção possuem uma
propriedade chamada retornos de escala constantes.
Se a função de produção tiver retornos de escala
constantes, então a duplicação dos insumos provoca uma duplicação da produção. Matematicamen-
Observe que Y /L é a produção por trabalhador, que é uma medida de produtividade. Esta
equação diz que a produtividade depende do capital físico por trabalhador (K/L), do capital humano por trabalhador (H/L) e dos recursos naturais por trabalhador (N/L). A produtividade
também depende do estado da tecnologia, repre··
sentado pela variável A. Portanto, esta equação
oferece um resumo matemático dos quatro determinantes do nível de produtividade que acabamos de apresentar.
Apesar do apelo aparente dessas idéias, muitos economistas estão menos
preocupados acerca de tais limites do que se poderia pensar. Argumentam eles
que o progresso técnico pode proporcionar maneiras de evitar esses limites. Se
compararmos a economia atual com a do passado, veremos vários exemplos
de como melhorou o uso dos recursos naturais. Os novos automóveis consomem menos gasolina. As novas casas têm melhor isolamento térmico e necessitam de menos energia para seu aquecimento ou refrigeração. Métodos mais
eficientes desperdiçam menos petróleo no processo extrativo. A reciclagem
permite a reutilização de recursos não-renováveis. O desenvolvimento de
combustíveis alternativos, como o etanol no lugar da gasolina, permite a substituição de recursos não-renováveis por recursos renováveis.
Cinqüenta anos atrás, alguns conservacionistas estavam preocupados
com o uso excessivo de folha-de-flandres e cobre. Na época, estas eram matérias-primas cruciais: a folha-de-flandres era utilizada para enlatar alimentos e
o cobre, cabos telefônicos. Algumas pessoas defenderam a reciclagem obrigatória e o racionamento da folha-de-flandres e do cobre de modo a assegurar
sua disponibilidade para as gerações futuras. Contudo, atualmente o plástico
substituiu a folha-de-flandres na embalagem de alimentos e as chamadas telefônicas trafegam por cabos de fibra óptica, cuja matéria-prima é a areia. O progresso tecnológico tomou menos necessários recursos naturais antes considerados essenciais.
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
Mas essas iniciativas serão suficientes para permitir o crescimento ec~nômico continuado? Uma maneira de responder a esta indagação é observar os
preços dos recursos naturais. Em uma economia de mercado, a escassez se reflete nos preços de mercado. Se os recursos naturais estivessem se esgotando,
então os preços destes recursos aumentariam ao longo do tempo. Mas, na verdade, está ocorrendo o oposto. Os preços da maioria dos recursos naturais (depois de descontada a inflação) se encontra estável ou em declínio. Parece que
nossa capacidade de conservar esses recursos está aumentando mais rapidamente do que sua disponibilidade está se reduzindo. Os preços de mercado
não dão razão para acreditar que os recursos naturais sejam um limite ao crescimento econômico.
I
TE 5 T E R Á P I DO
vidade de um país.
Liste e descreva os quatro determinantes da produti-
CRESCIMENTO ECOIIÔMICOE POLÍTICAS PÚBLICAS
Até agora determinamos que o padrão de vida de uma sociedade depende de
sua capacidade de produzir bens e serviços e que sua produtividade depende
do capital físico, do capital humano, dos recursos naturais e do conhecimento
tecnológico. Vejamos a seguir a questão enfrentada pelos formuladores de políticas públicas de todo o mundo: o que o governo pode fazer para aumentar a
produtividade e o padrão de vida?
A IMPORTÂNCIA DA POUPANÇA E DO INVESTIMENTO
Dado que o capital é um fator de produção produzido, uma sociedade pode alterar a quantidade de capital de que dispõe. Se hoje a economia produz uma grande
quantidade de bens de capital novos, amanhã terá um estoque de capital
maior e poderá produzir maiores quantidades de todos os bens e serviços.
Portanto, uma das maneiras de aumentar a produtividade futura é investir
mais recursos correntes na produção de capital.
Um dos Dez Princípios de Economia apresentados no Capítulo 1 é que as
pessoas se deparam com tradeoffs. Este princípio é especialmente importante
quando consideramos a acumulação de capital. Como os recursos são escassos, destinar mais recursos à produção de capital exige a destinação de menos
recursos para a produção de bens e serviços de consumo corrente. Isto é, para
que uma sociedade possa investir mais em capital, ela precisa consumir menos e
poupar mais de sua renda corrente. O crescimento que decorre da acumulação
de capital não é de graça: exige que a sociedade sacrifique o consumo presente
de bens e serviços a fim de poder desfrutar futuramente de mais consumo.
O próximo capítulo trata com detalhes de como os mercados financeiros
da economia coordenam a poupança e o investimento. Também examina
como as políticas do governo influem sobre a quantidade de poupança e
investimento efetuados. Neste ponto é importante observar que o incentivo à
poupança e ao investimento é uma das maneiras pelas quais o governo pode
estimular o crescimento e, no longo prazo, aumentar o padrão de vida da economia.
Para ver a importância do investimento para o crescimento, observe a
Figura 24-1 que apresenta dados relativos a 15 países. O painel (a) mostra a
539
540
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
,,' f'
,
(a) Taxa de crescimento 1960-1991
Coréia do Sul
Cingapura
Japão
Israel
Canadá
'h',
li:
I
~
li,l
~
ti'
I
Coréia do Sul
Cingapura
Japão
Israel
Canadá
I
,I
I
:1
I
Brasil
Alemanha Ocidental
México
(b) Investimento 1960-1991
i,
h
Brasil
Alemanha Ocidental
México
"j
I
Reino Unido
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Estados Unidos
índia
Reino Unido
Nigéria
Estados Unidos
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Bangladesh
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Chile
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,<'f<~22J
CJ I
Chile
Ruanda
O
1
2
3
4
5
6
7
Ruanda.
O
I
10
20
Taxa de crescimento (em % do PIB)
y
,
Figura 24-1
30
40
Investimento (em % do PIB)
'Y
CRESCIMENTO E INVESTIMENTO. O painel (a) mostra a taxa de crescimento do Plli per
capita de um grupo de 15 países no período 1960-1991. O painel (b) mostra o percentual do
PIB que cada país destinou ao investimento no período. A figura mostra que há uma correlação positiva entre investimento e crescimento.
taxa de crescimento, em um período de 31 anos, de cada país. Os países estão ordenados segundo a taxa de crescimento, em ordem decrescente. O
painel (b) apresenta o percentual do PIB que cada país destina ao investimento. A correlação entre crescimento e investimento, embora não seja perfeita, é forte. Países que destinam grandes parcelas do PIB ao investimento,
como Cingapura e Japão, tendem a registrar altas taxas de crescimento. Países que destinam pequenas parcelas do PIB ao investimento, como Ruanda
e Bangladesh, tendem a registrar baixas taxas de crescimento. Estudos sobre um conjunto maior de países confirmam esta forte correlação entre investimento e crescimento.
Contudo, há um problema na interpretação desses dados. Como foi visto
no Capítulo 2, a correlação entre duas variáveis não estabelece qual das variáveis é a causa e qual é o efeito. É possível que um grande investimento cause
um crescimento alto, mas também é possível que o crescimento alto provoque
grande investimento. (Ou, talvez, tanto o alto crescimento quanto o grande investimento sejam determinados por uma terceira variável que foi omitida da
análise.) Os dados não podem nos dizer, por si próprios, a direção da causalidade. Todavia, como a acumulação de capital afeta a produtividade de forma
clara e direta, muitos economistas interpretam esses dados como representativos do fato de que altas taxas de investimento determinam um crescimento
econômico mais rápido.
RETORNOS DECRESCENTES E O EFEITO DE ALCANCE
Imagine que um governo, convencido pela evidência apresentada na Figura
24-1, recorra a políticas destinadas a aumentar a taxa de poupança - percen-
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
tual do PIB destinado à poupança. O que acontece? Uma vez que a nação poupa mais, são necessários menos recursos para produzir bens de consumo e há
mais recursos disponíveis para a produção de bens de capitaL Em conseqüência, aumenta o estoque de capital, o que provoca um aumento da produtividade e um crescimento do PIB mais rápido. Mas qual a duração deste aumento
da taxa de crescimento? Supondo que a taxa de poupança permaneça no seu
novo nível, mais elevado, a taxa de crescimento do PIB permanecerá elevada
indefinidamente ou apenas por um período?
Na visão tradicional do processo produtivo considera-se que o capital
seja sujeito a retornos decrescentes: à medida que o estoque de capital aumenta, o produto adicional obtido mediante o uso de uma unidade adicional de capital se reduz. Em outras palavras, quando os trabalhadores já utilizam grandes quantidades de capital para produzir bens e serviços, o acréscimo de uma
unidade de capital aumenta pouco sua produtividade. Em decorrência dos
rendimentos decrescentes, um aumento na taxa de poupança aumenta a taxa
de crescimento por um período limitado. À medida que a taxa de poupança
elevada permite maior acumulação de capital, os benefícios do capital adicional se tornam, com o correr do tempo, menores e a taxa de crescimento diminui. No longo prazo, a taxa de poupança mais elevada provoca um aumento da produtividade e da renda, mas não a um maior crescimento dessas variáveis. Atingir esse
longo prazo, contudo, pode demorar bastante. De acordo com estudos fundamentados em dados internacionais de crescimento econômico, o aumento da
taxa de poupança pode provocar um crescimento elevado por um período de
várias décadas.
Os retornos decrescentes do capital têm outra implicação importante:
tudo o mais mantido constante, é mais fácil para o país crescer rapidamente
quando, no início do processo, parte de um patamar relativamente pobre. Este
efeito das condições iniciais é, às vezes, denominado efeito de alcance. Em países pobres faltam até as ferramentas mais simples e, como conseqüência, a produtividade é baixa. Pequenos investimentos em capital fixo aumentariam
substancialmente a produtividade desses trabalhadores. Já nos países ricos, os
trabalhadores têm à sua disposição muito capital e isto explica, em parte, sua
produtividade alta. Contudo, como o capital por trabalhador já é tão alto, investimentos adicionais em capital têm um efeito relativamente pequeno sobre
a produtividade. Esta hipótese do efeito de alcance é confirmada por estudos
feitos a partir de dados internacionais: controlando outras variáveis, tais como
o percentual de PIB destinado ao investimento, os países pobres tendem a crescer mais rápido do que os países ricos.
O efeito de alcance pode ajudar a explicar alguns dos intrigantes resultados da Figura 24-1. No período de 31 anos, Estados Unidos e Coréia do Sul destinaram ao investimento parcelas do PIB semelhantes. Contudo os Estados
Unidos experimentaram um modesto crescimento de cerca de 2%, enquanto a
Coréia registrava um crescimento espetacular de mais de 6%. A explicação está
no efeito de alcance. Em 1960, o PIB per capita da Coréia era de cerca de um décimo do dos Estados Unidos, em parte porque o investimento anterior tinha
sido muito reduzido. Com um estoque inicial de capital pequeno, os benefícios
da acumulação de capital foram muito maiores na Coréia e isto lhe proporcionou as elevadas taxas de crescimento subseqüentes.
O efeito de alcance aparece em outros aspectos da vida. Quando uma escola na premiação do final do ano chama o aluno que obteve o "maior progresso", este é um alurte que começou o ano com um desempenho relativamente
fraco. Alunos que iniciam o ano escolar sem estudar muito conseguem progredir com mais facilidade do que os alunos mais estudiosos. Note que é bom ser
o aluno que teve o "maior progresso", dada a situação inicial, mas é ainda melhor ser o "melhor aluno". Da mesma forma, o crescimento econômico nas últi-
541
retornos
decrescentes
propriedade pela qual o
benefício de uma unidade
adicional de insumo diminui
com o aumento da quantidade
de insumo
efeito de alcance
propriedade pela qual países
que partem de um patamar
pobre crescem mais
rapidamente do que países que
partem de um patamar rico
542
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
mas décadas foi muito mais rápido na Coréia do Sul do que nos Estados Unidos, mas o PIB per capita ainda é maior nos Estados Unidos.
INVESTIMENTO EXTERNO
Até aqui vimos como políticas destinadas a aumentar a taxa de poupança de
um país podem aumentar o investimento e, portanto, o crescimento econômico de longo prazo. Contudo a poupança dos residentes não é a única maneira
pela qual um país pode investir em capital novo. Outro modo é o investimento
estrangeiro.
O investimento estrangeiro toma várias formas. A Ford Motor Company
poderia construir uma fábrica de automóveis no México. Um investimento
possuído e operado por uma entidade estrangeira é chamado de investimento
externo direto. Mas também é possível que um americano compre ações de uma
empresa mexicana (isto é, compre uma participação na propriedade da empresa); a empresa mexicana pode usar os recursos dessa venda para construir uma
nova fábrica. Um investimento financiado com moeda estrangeira mas operado por residentes do país é chamado de investimento externo de portfólio. Em ambos os casos, os americanos proporcionaram os recursos necessários para aumentar o estoque de capital do México. Isto é, poupanças americanas foram
usadas para financiar o investimento mexicano.
Quando estrangeiros investem em um país, o fazem porque esperam auferir um retorno sobre o seu investimento. A fábrica de automóveis da Ford
aumenta o estoque de capital do México e, em conseqüência, a produtividade e
o PIB mexicanos. Contudo, a Ford leva de volta aos Estados Unidos, sob a forma de lucro, parte dessa renda adicional. Da mesma forma, quando um investidor americano compra ações mexicanas, tem direito à parte do lucro auferido
pela empresa mexicana.
Portanto, o investimento externo não afeta da mesma forma todas as medidas de prosperidade. Recorde-se que o produto interno bruto (PIB) é a renda
auferida dentro de um país por residentes e não-residentes, enquanto o produto nacional bruto (PNB) é a renda auferida pelos residentes de um país tanto
dentro quanto fora dele. Quando a Ford abre sua fábrica no México, parte da
renda gerada é auferida por pessoas que não residem no México. Em decorrência disso, esse investimento aumenta a renda dos mexicanos (medida pelo
PNB) menos do que a produção do México (medida pelo PIB) .
Ainda assim, investimento externo é uma alternativa para o crescimento
do país. Mesmo que parte dos benefícios desse investimento retorne aos proprietários no exterior, ele aumenta o estoque de capital da economia, expandindo a produtividade e os salários. Além disso, o investimento externo é uma
forma pela qual os países pobres podem aprender as novas tecnologias desenvolvidas e utilizadas nos países mais ricos. Por estas razões, muitos economistas que assessoram países menos desenvolvidos defendem políticas que incentivem a vinda de investimentos estrangeiros. Muitas vezes isso implica remover restrições impostas pelos governos à propriedade estrangeira do capital.
Uma organização que tenta estimular o fluxo de investimentos para os
países pobres é o Banco Mundial. Este organismo internacional obtém recursos dos países mais avançados, como os Estados Unidos, e os utiliza para
conceder empréstimos a países menos desenvolvidos com a finalidade de financiar investimentos em estradas, saneamento básico, escolas e outros tipos
de capital. Também oferece assessoria quanto ao melhor uso dos recursos. O
Banco Mundial, junto com o Fundo Monetário Internacional, foi criado após a
Segunda Guerra Mundial. Uma das lições da guerra foi que as dificuldades
econômicas muitas vezes levam à instabilidade política, às tensões internacio-
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
nais e aos conflitos militares. Portanto, todos os países têm interesse na promoção da prosperidade econômica em todo o mundo. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional se destinam a esse objetivo.
EDUCAÇÃO
A educação - investimento em capital humano - é, pelo menos, tão importante quanto o investimento em capital físico para o sucesso econômico a longo prazo de um país. Nos Estados Unidos, cada ano de ensino aumenta os salários em cerca de 10%, em média. Nos países menos desenvolvidos, onde o
capital humano é particularmente escasso, o hiato entre os salários dos trabalhadores qualificados e não-qualificados é ainda maior. Portanto, uma das maneiras pelas quais a política do governo pode melhorar o padrão de vida é proporcionando um bom ensino e o incentivo a seu uso pela população.
O investimento em capital humano, como o investimento em capital físico, tem um custo de oportunidade. Enquanto os estudantes freqüentam as aulas, eles estão abrindo mão dos salários que poderiam ganhar. Nos países menos desenvolvidos, as crianças costumam abandonar cedo a escola, mesmo
quando o benefício do maior estudo é muito alto, simplesmente porque seus
salários são necessários para a manutenção da família.
Alguns economistas afirmam que o capital humano é especialmente importante para o crescimento econômico porque possui externalidades positivas. Uma externalidade é o efeito das ações de uma pessoa sobre o bem-estar
do próximo. Uma pessoa instruída, por exemplo, pode apresentar novas idéias
sobre a melhor maneira de produzir bens e serviços. Se essas idéias passarem a
fazer parte do conhecimento comum da sociedade, de modo que todos possam
usá-Ias, então essas idéias são uma externalidade gerada pela educação. Neste
caso, o retomo da educação para a sociedade é até maior do que o retorno para
o indivíduo. Este argumento justifica os grandes subsídios ao investimento em
capital humano que se observam na forma do ensino público.
Um dos problemas com que se deparam os países pobres é a fuga de cérebros - a emigração de muitos dos trabalhadores mais escolarizados para os
países ricos, onde eles podem desfrutar de um padrão de vida mais elevado. Se
o capital humano tem externalidades positivas, então essa fuga de cérebros
toma ainda mais pobres os que ficam. Este problema coloca os formuladores
de políticas públicas ante um dilema. De um lado, os Estados Unidos e outros
países ricos têm os melhores sistemas de educação superior, e seria natural que
os países pobres enviassem para lá seus estudantes mais promissores, a fim de
aprofundar sua formação. Por outro lado, os estudantes que passaram um
tempo no exterior podem preferir não voltar e esta fuga de cérebros reduzirá
ainda mais o estoque de capital humano da nação pobre.
DIREITOS DE PROPRIEDADE E ESTABILIDADE POLíTICA
Outra forma pela qual os formuladores de políticas públicas podem incentivar
o crescimento econômico é pela proteção aos direitos de propriedade e a promoção da estabilidade política. Como já observamos ao tratar da interdependência econômica, no Capítulo 3, a produção em uma economia de mercado é
resultado da ínteração de milhões de indivíduos e empresas. Quando você
compra um carro, por exemplo, está comprando a produção de um revendedor, de uma montadora, de uma siderúrgica, de uma mineradora de aço e assim por diante. Esta divisão da atividade produtiva entre muitas empresas
permite que os fatores de produção da economia sejam utilizados da maneira
543
544
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
mais eficaz possível. Para atingir este resultado, a economia tem de coordenar
as transações entre as empresas, bem como entre estas e os consumidores. As
economias de mercado conseguem essa coordenação através dos preços de
mercado. Isto é, os preços de mercado são o instrumento com que a mão invisível do mercado equilibra a oferta e a demanda.
Um importante pré-requisito para o funcionamento do sistema de preços
é um amplo respeito aos direitos de propriedade. Direitos de propriedade podem
ser definidos como a capacidade de alguém de exercer autoridade sobre os recursos que possui. Uma mineradora não fará o esforço de extrair o minério de
ferro se espera que esse minério lhe venha a ser roubado. Ela só funcionará se
estiver confiante de que lucrará com a venda subseqüente do minério extraído.
Por esta razão os tribunais desempenham um papel importante na economia
de mercado: eles implementam os direitos de propriedade. Mediante o sistema
de justiça criminal os tribunais desincentivam o roubo. Além disso, mediante o
sistema de justiça cível, os tribunais garantem que compradores e vendedores
respeitarão seus contratos.
Embora nos países desenvolvidos se considere que os direitos de propriedade são algo assegurado, quem vive nos países menos desenvolvidos considera que a falta de direitos de propriedade pode ser um grande problema. Em
muitos países, o sistema de justiça não funciona bem. É difícil fazer cumprir os
contratos e as fraudes ficam sem punição. Em casos mais extremos, os governos não só se mostram incapazes de assegurar os direitos de propriedade
como também os infringem. Para fazer negócios em alguns países, espera-se
que as empresas dêem propinas a funcionários públicos poderosos. Tal corrupção impede o poder de coordenação dos mercados. Também desincentiva
a poupança interna e o investimento externo.
Uma das ameaças aos direitos de propriedade é a instabilidade políticá.
Quando revoluções e golpes de estado são comuns, duvida-se sobre o respeito
futuro aos direitos de propriedade. Se um governo revolucionário puder vir a
confiscar o capital de algumas empresas, como ocorreu em várias revoluções comunistas, os residentes terão menos incentivos para poupar, investir e iniciar
novos negócios. Também os estrangeiros terão menos incentivos a investir no
país. Até a ameaça de· revolução pode deprimir o padrão de vida de um país.
Portanto, a prosperidade econômica depende em parte da prosperidade
política. Um país com um sistema judiciário eficiente, funcionários públicos
honestos e uma constituição estável desfrutará de um padrão de vida mais alto
do que um país com um judiciário fraco, funcionários corruptos e freqüentes
revoluções e golpes de estado.
LIVRE COMÉRCIO
Alguns dos países mais pobres do mundo têm tentado alcançar um crescimento econômico mais rápido mediante políticas voltadas para dentro. Estas políticas
visam aumentar a produtividade e os padrões de vida dentro do país, isolando-o do resto do mundo. Como foi visto no Capítulo 9, as empresas de um país
muitas vezes reivindicam proteção contra a concorrência externa a fim de competir e crescer. Este argumento da indústria nascente, aliado a uma desconfiança de tudo o que vem de fora, tem levado em diversas ocasiões os políticos de
países menos desenvolvidos a impor tarifas e outras restrições ao comércio.
Atualmente a maioria dos economistas acredita que os países pobres estariam em melhor situação se seguissem políticas voltadas para o exterior que os
integrassem à economia mundial. Os Capítulos 3 e 9 mostraram como o comércio internacional pode melhorar o bem-estar dos cidadãos de um país. O comércio é, de certa maneira, um tipo de tecnologia. Quando um país exporta tri-
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
go e importa aço, o país está se beneficiando da mesma forma que se tivesse encontrado uma tecnologia para transformar trigo em aço. Um país que elimina
as restrições comerciais experimentará, portanto, o mesmo tipo de crescimento
econômico obtido mediante um grande avanço tecnológico.
O impacto adverso do fechamento das fronteiras torna-se claro quando
se considera o pequeno tamanho de muitas economias menos desenvolvidas.
O PIB total da Argentina, por exemplo, é quase igual ao da Filadélfia. Imagine
o que aconteceria se a Câmara Municipal da Filadélfia proibisse os residentes
da cidade de comerciar com pessoas de fora dos limites da cidade. Sem poder
tirar partido das vantagens do comércio, a Filadélfia teria de produzir todos os
bens que consome. Teria também de produzir seus bens de capital em vez de
importar os equipamentos mais modernos de outras cidades. Os padrões de
vida da Filadélfia se reduziriam imediatamente e o problema só se agravaria
como tempo.
Isto é exatamente o que aconteceu com a Argentina, quando, durante boa
parte do século XX, seguiu uma política voltada para dentro. Já países que adotaram uma política voltada para o exterior, como a Coréia do Sul, Cingapura e
Taiwan, desfrutam de altas taxas de crescimento econômico.
A dimensão do comércio exterior de uma nação é determinada não só
pela política econômica do governo, mas também pela geografia. Países com
bons portos marítimos naturais têm mais facilidade para comerciar com outros
países do que aqueles que não contam com esse recurso. Não é coincidência
que muitas das principais cidades do mundo, como Nova York, San Francisco
e Hong Kong, estejam localizadas próximo ao mar. Da mesma maneira como
países sem saída marítima têm mais dificuldades para se engajar no comércio
internacional tendem a registrar níveis de renda inferiores aos países com fácil
acesso ao mar.
o CONTROLE DO CRESCIMENTO POPULACIONAL
A produção e o padrão de vida de um país são determinados em parte pelo seu
crescimento populacional. Obviamente, a população é o principal determinante da força de trabalho de um país. Portanto, não surpreende que países
com grande população (como os Estados Unidos e o Japão) tendam a gerar um
PIB maior do que países com populações pequenas (como Luxemburgo ou a
Holanda). Mas o PIB total não é um bom indicador de bem-estar econômico.
Para os formuladores de políticas públicas preocupados com padrões de vida,
o PIB per capita é mais importante, pois aponta para a quantidade de bens e serviços disponíveis para o indivíduo típico da economia.
Como é que o aumento populacional influi sobre o montante do PIB per
capital A resposta é que um grande crescimento populacional reduz o PIB per
capita. A razão está em que o rápido crescimento no número de trabalhadores
implica uma disponibilidade menor, por trabalhador, dos demais fatores de
produção. Em particular, quando o crescimento populacional é rápido, é mais
difícil equiparar cada trabalhador com uma grande quantidade de capital.
Uma quantidade menor de capital por trabalhador provoca uma redução da
produtividade e a um PIB por trabalhador menor.
Este problema é mais evidente no caso do capital humano. Países com
uma alta taxa de crescimento populacional têm grande número de crianças em
idade escolar. Isto sobrecarrega o sistema educacional. Portanto, não surpreende que o desempenho educacional seja baixo em países com alto crescimento populacional.
As diferenças de crescimento populacional entre países são grandes. Em
países desenvolvidos como os Estados Unidos e nações da Europa Ocidental, a
545
546
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
NOTA
Thomas Malthus e o
crescimento populacional
Você pode ter ouvido falar que a economia é a
"ciência lúgubre". Durante muitos anos esse rótulo
pesou sobre a área devido a uma teoria proposta
por Thomas Robert Malthus (1766-1834), um sacerdote anglicano inglês e pioneiro do pensamento
econômico. Num livro famoso, A Essay on the PrincipIe of PopuIation as it Affects the Future Improvemente of Society, Malthus oferece o que pode ser uma
das mais tenebrosas previsões da história. Argumentava ele que uma população sempre crescente
acabaria impedindo à sociedade de se sustentar.
Em conseqüência, a humanidade estaria condenada à perpetua pobreza.
A lógica de Malthus era muito simples. Começou observando que" o alimento é indispensável para a existência do homem" e que "a paixão
entre os sexos é necessária e assim continuará". Ele
concluiu que" o poder da populaçao é infinitamente maior do que o poder da terra em fornecer subsistência para o homem". De acordo com Malthus,
o único meio de controlar o crescimento da população era "a miséria e o vício". Tentativas assistenciais por caridade ou políticas do governo para
alívio da pobreza eram contraproducentes porque
permitiam que os pobres tivessem mais filhos, sobrecarregando ainda mais a capacidade produtiva
da sociedade.
Felizmente, a terrível previsão de Malthus es-
12.
tava muito longe da realidade. Embora a população mundial tenha aumentado cerca de seis vezes
ao longo dos dois últimos séculos, os padrões de
vida são, em média, muito mais altos em todo o
mundo. Como decorrência do crescimento econômico, a fome crônica e a desnutrição são hoje
muito menos comuns do que nos dias de Malthus. De
tempos em tempos ocorrem grandes fomes, mas
em geral são resultado de uma distribuição de
renda ou de instabilidade política e não da incapacidade de se produzir alimentos.
Onde Malthus errou? Ele não percebeu que
a criatividade da humanidade permitiria superar os desafios do crescimento populacional. Novas idéias quanto às formas de produzir e até
quanto aos bens a serem produzidos propiciaram uma prosperidade maior do que a que
Malthus - ou qualquer outra pessoa de sua época
- pudesse imaginar. Agrotóxicos, fertilizantes,
equipamentos agrícolas mecanizados e novas
variedades vegetais permitiram que cada agricultor alimentasse um número cada vez maior
de pessoas. Os efeitos do progresso tecnológico
sobre o aumento da riqueza, superaram os efeitos empobrecedores atribuídos ao crescimento
populacional.
Na verdade, alguns economistas chegam
atualmente a sugerir que o crescimento populacional pode ter contribuído para que a humanidade alcançasse padrões de vida mais elevados.
Se há mais gente, esta, ao invés de ser a causa de
privações econômicas como antecipara Malthus,
se tomou um motor de progresso tecnológico e
prosperidade econômica.
população tem crescido a taxas de cerca de 1 % nas décadas recentes e se espera
que venha a crescer ainda menos no futuro. Já em muitos países africanos pobres, a população cresce em tomo de 3% ao ano. A essa taxa a população dobra
a cada 23 anos.
Considera-se que a redução da taxa de crescimento populacional seja
uma das maneiras pelas quais os países menos desenvolvidos possam tentar
aumentar seu padrão de vida. Em alguns países este objetivo é atacado de forma direta mediante legislação que regulamenta o número de filhos por família.
Na China, por exemplo, só é permitido um filho por família; casais que violarem a norma estão sujeitos a pesadas multas. Em países com maior liberdade, o
objetivo é implementado de forma menos direta com o aumento da difusão de
técnicas de controle da natalidade.
A
maneira decisiva pela qual um país pode influir sobre o crescimento
populacional é a aplicação de um dos Dez Princípios de Economia: as pessoas
respondem
a incentivos. Ter um filho, como qualquer outra decisão, tem um
custo de
oportunidade. Quando o custo de oportunidade aumenta, as pessoas
CAPíTULO 24 PRODUÇÃO i ,CRESCIMUHO
escolhem ter famílias menores. Em especial, mulheres que têm acesso a mais
instrução e a oportunidades de emprego desejáveis preferem ter menos filhos
do que aquelas que têm menos oportunidades fora do lar. Portanto, políticas
que promovam um tratamento igual para as mulheres são uma das formas pelas quais as economias menos desenvolvidas podem reduzir a taxa de crescimento populacional.
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
A principal razão pela qual os padrões de vida são hoje mais elevados do que
há um século é o avanço tecnológico. O telefone, o transistor, o computador e o
motor de combustão interna estão entre as milhares de inovações que aperfeiçoaram a capacidade de produzir bens e serviços.
Embora grande parte do avanço tecnológico tenha sido desenvolvido por
pesquisas de empresas privadas e inventores isolados, há também um interesse público em promover esses esforços. Em larga medida, o conhecimento é
um bem público: uma vez descoberta a idéia, ela passa a fazer parte do acervo
de conhecimentos da sociedade e outras pessoas podem usá-Ia livremente. Da
mesma forma que o governo tem um papel na oferta de bens públicos como a
defesa nacional, ele tem também um papel no incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias.
O governo dos Estados Unidos há muito desempenha um papel na criação e disseminação de conhecimento tecnológico. Um século atrás, o governo
patrocinava pesquisas de métodos de produção agrícola e assessorava os agricultores quanto ao melhor uso de suas terras. Mais recentemente, o governo,
através da Força Aérea e da NASA, sustentou a pesquisa aeroespacial; em conseqüência, os Estados Unidos são o líder na fabricação de foguetes e aviões. O
governo continua incentivando avanços tecnológicos com bolsas da Fundação
Nacional para a Ciência e dos Institutos Nacionais de Saúde, bem como mediante deduções tributárias para as empresas que se dedicam a pesquisa e desenvolvimento.
Outra forma de o governo incentivar a pesquisa é por meio do sistema de
patentes. Quando uma empresa ou uma pessoa inventa um novo produto,
como um novo medicamento, o inventor pode solicitar uma patente. Se o produto for considerado verdadeiramente original, o governo concede a patente,
o que dá ao inventor o direito exclusivo de fabricar o produto durante determinado número de anos. Em essência, a patente dá ao inventor o direito de propriedade sobre sua invenção, tornando sua nova idéia um bem privado em lugar de um bem público. Ao permitir que os inventores lucrem com seus inventos - mesmo se apenas temporariamente - o sistema de patentes aumenta o
incentivo para que empresas e indivíduos se dediquem à pesquisa.
E S T U DO D E C A 5 O : A DESACELERAÇÁO DA PRODUTIVIDADE
De 1959 a 1973, a produtividade, medida pela produção por hora de trabalho
na economia dos Estados Unidos, aumentou a uma taxa de 3,2% ao ano. De
1973 a 1998, a produtividade aumentou apenas 1,3% ao ano. Esta redução da
produtividade se refletiu em crescimento mais lento dos salários reais e da
renda familiar. E também se refletiu em um senso geral de ansiedade econômica. Como se acumulou ao longo de tantos anos, essa queda de 1,9 ponto percentual na produtividade teve um impacto profundo nas rendas. Se essa redução não tivesse ocorrido, a renda do americano médio seria atualmente cerca
de 60% maior.
5,47
548
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
A redução do crescimento econômico tem sido um dos maiores problemas enfrentados pelos formuladores de política econômica. Os economistas
têm se perguntado repetidamente o que provocou a redução e como ela poderia ser revertida. Infelizmente, apesar de muitas pesquisas, a resposta permanece esquiva.
Dois fatos estão bem estabelecidos. Primeiro, a redução do crescimento
econômico é um fenômeno mundial. Em algum momento, em meados da década de 1970, o crescimento econômico se tornou mais lento não só nos Estados
Unidos mas também em outras economias industrializadas, como Canadá,
França, Alemanha, Japão, Itália e Reino Unido. Embora alguns desses países
tenham crescido mais rapidamente do que os Estados Unidos, todos cresceram
mais lentamente do que no passado. Portanto, para explicar a redução no crescimento dos Estados Unidos é necessário olhar além de suas fronteiras.
Segundo, a redução no crescimento não pode ser atribuída aos fatores de
produção mais facilmente mensuráveis. Os economistas podem medir diretamente a quantidade de capital fixo disponível para os trabalhadores. Podem
também medir o capital humano na forma de anos de escolaridade. Parece que
a redução da produtividade não pode ser atribuída, em primeiro lugar, a esses
insumos.
A tecnologia é um dos poucos culpados que restam. Isto é, tendo excluído
a maioria das demais explicações, muitos economistas atribuem a redução do
crescimento econômico a uma diminuição de idéias novas no que se refere à
produção de bens e serviços. Como a quantidade de "idéias" é difícil de medir,
esta explicação não pode ser confirmada ou refutada com facilidade.
Sob certos aspetos é estranho dizer que os últimos 25 anos foram um período de progresso tecnológico lento. Este período testemunhou a difusão dos
computadores - uma revolução tecnológica histórica que afetou quase todas
as indústrias e praticamente todas as empresas. Contudo, por alguma razão,
essa mudança não se refletiu em um crescimento econômico mais rápido.
Como disse o economista Robert Solow, "Você pode ver a era do computador
em todo lugar, menos nas estatísticas de produtividade."
O que aguarda o futuro do crescimento econômico? Um cenário otimista
é que a revolução do computador venha reavivar o crescimento, uma vez que
as novas máquinas tenham se integrado à economia e que seu potencial tenha
sido completamente entendido. Os historiadores econômicos observam que a
descoberta da eletricidade levou várias décadas até produzir um grande impacto sobre a produtividade e os níveis de vida porque as pessoas tiveram de
descobrir as melhores maneiras de utilizar o novo recurso. Talvez a evolução
dos computadores tenha o mesmo efeito retardado. Alguns observadores
acreditam que isso já pode estar acontecendo, pois o crescimento da produtividade retomou certo ímpeto em fins da década de 1990. Contudo, ainda é muito
cedo para dizer se essa mudança será persistente.
Um cenário mais pessimista é que, após um período de rápido avanço
científico e tecnológico, tenhamos entrado em uma nova fase de crescimento
lento do conhecimento, da produtividade e da renda. Dados de um longo período histórico parecem sustentar esta conclusão. A Figura 24-2 mostra o crescimento médio do PIB real per capita no mundo desenvolvido, a partir de 1870.
A redução do ritmo de crescimento da produtividade aparece em pelo menos
duas ocasiões: por volta de 1970, a taxa de crescimento caiu de 3,7 para 2,2%.
Mas comparada a períodos anteriores, a anomalia não está no baixo crescimento dos anos recentes, mas no rápido crescimento das décadas de 1950 e 1960.
Talvez as décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial tenham sido
um período de crescimento tecnológico incomum e que o crescimento tenha se
tornado mais lento porque o progresso tecnológico voltou a se expandir a uma
taxa mais normal.
CAPíTULO 24
13.
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
549
Figura 24-2
Taxa de
crescimento (variação
média anual em %)
CRESCIMENTO DO PIB
REAL PER CAPITA. Esta
figura mostra a taxa média
de crescimento do PIB real
per capita em 16 economias
desenvolvidas, incluindo os
principais países da Europa,
Canadá, os Estados Unidos,
Japão e Austrália. Observe
que a taxa de crescimento
aumentou substancialmente
depois de 1950 e caiu depois
de 1970.
4,0
3,
5
3,
0
2,5
2,0
1,
5
FONTE: Robert J. Barro e
Xavier Sala-i-Martin, Economic
Growth (Nova York,
McGraw-Hill, 1995), p. 6.
1,
0
o
18701890
18901910
19101930
19301950
19501970
19701990
I
T E S T E R Á P I D O Descreva três maneiras pelas quais um formulador de
políticas governamentais pode aumentar o crescimento dos níveis de vida de
uma sociedade. Há obstáculos para a implementação dessas políticas?
CONCLUSÃO: A IMPORTÂNCIA DO CRESCIMENTO
NO LONGO PRAZO
No presente capítulo vimos os determinantes do padrão de vida de uma nação e
as maneiras pelas quais os formuladores de políticas públicas podem tentar aumentar o padrão de vida mediante políticas de promoção do crescimento econômico. Grande parte do capítulo é resumida por um dos Dez Princípios de Economia:
o padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços. Os formuladores de políticas públicas que desejam incentivar a melhoria dos
padrões de vida devem tentar aumentar a capacidade produtiva da nação mediante o incentivo à rápida acumulação de fatores de produção e garantias de que
esses fatores sejam empregados tão eficazmente quanto possível.
Os economistas divergem quanto ao papel do governo na promoção do
crescimento econômico. O governo pode, pelo menos, dar apoio à mão invisível mediante a manutenção dos direitos de propriedade e da estabilidade política. Mais controverso é se o governo deveria selecionar e subsidiar determinadas indústrias que possam ser especialmente importantes para o progresso
tecnológico. Não há dúvida de que esses tópicos estão entre os mais importantes da economia. O sucesso de uma geração de formuladores de políticas públicas em aprender e aplicar as lições fundamentais a respeito do crescimento
econômico determina que tipo de mundo herdará a próxima geração.
5'5D
'PlAtRil'cE UC
.ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
DOS JORNAIS
anos 80, essa orientação se transformou em
uma espécie de curadoria econômica, em que
as políticas públicas de muitas nações africaA soí u ç ão
nas são decididas em intermináveis ciclos de
de Suchs para o
encontros com o FMI, o Banco Mundial, doaproblema africano
. dores e credores.
Que vergonha. Tantas boas idéias, tão poucos resultados. A produção per capita caiu de
o economista Jeffrey Sachs é um destacado consul- 0,7% entre 1978 e 1987 e de 0,6% no período
1987-1994. Para 1995 se espera um modesto
tor de governos que buscam a reforma de suas economias com vistas à promoção de um crescimento
creseconômico mais rápido. Na década passada, a Bocimento de 0,6% - bem abaixo do registrado pelívia, a Polônia e a Rússia foram alguns dos países
los países em desenvolvimento de crescimento
que recorreram a ele. Sachs também tem sido um
rápido (00')
crítico do Banco Mundial e do Fundo Monetário
O FMI e o Banco Mundial poderiam ser abInternacional (FMI), organismos internacionais
solvidos da responsabilidade partilhada pelo
que concedem tanto recomendações quanto filento crescimento se a África fosse estruturalnanciamento a países em dificuldade. No artigo a
mente incapaz de alcançar taxas de crescimento
seguir, Sachs discute a forma pela qual os países
registra das em outras regiões do mundo ou se o
da África podem escapar de sua persistente pobaixo crescimento do continente fosse um mistébreza.
rio impenetrável. Mas as baixas taxas de crescimento da África não são um grande mistério. A
evidência obtida em estudos comparativos sugere que o baixo crescimento crônico da África
CRESCIMENTO NA ÁFRICA:
É PossíVEL
pode ser explicado por variáveis econômicas banais relacionadas com políticas identificáveis (e
JEFFREY SACHS
solucionáveis) (00')
Estudos comparativos de crescimento em
diversos países mostram que o crescimento per
Na velha fábula, o camponês procura um padre
capita está relacionado com:
• o nível de renda inicial do país, os países poem busca de orientação para salvar suas galinhas
bres tendem a crescer mais rápido que os paídoentes. O padre recomenda orações, mas as galises mais ricos;
nhas continuam a morrer. O padre então recomenda música no galinheiro, mas as galinhas con• a amplitude da orientação para o mercado,
tinuam morrendo. Procurado mais uma vez, o paincluindo a abertura comercial, liberalização
dre recomenda que o galinheiro seja pintado com
do mercado interno, propriedade privada de
cores alegres. Todas as galinhas morrem. "Que
preferência à propriedade estatal, proteção
aos direitos de propriedade e baixas alíquovergonha", diz o padre ao camponês, "eu tinha
tas tributárias marginais;
tantas boas idéias."
Desde sua independência, os países africa• a taxa de poupança nacional, que por sua vez
nos têm recorrido a nações doadoras - freqüené fortemente afetada pela própria taxa de
temente seus antigos colonizadores - e às instipoupança do governo; e
tuições financeiras internacionais em busca de
orientação para o crescimento. De fato, desde o
• estrutura de recursos e estrutura geográfica
início da crise do endividamento africano dos
da economia (00')
,
"
CAPíTULO 24
Esses quatro fatores podem dar conta, em um
sentido amplo, das dificuldades de longo prazo no
crescimento da África. Embora devesse ter crescido mais rapidamente do que outras áreas em desenvolvimento devido a sua renda per capíta relativamente baixa (e, portanto, sua maior oportunidade de obter um "efeito de alcance"), a Africa cresceu mais lentamente. Isto se deu, principalmente,
em decorrência das altas barreiras comerciais, das
alíquotas excessivamente elevadas de seus impostos, da baixa taxa de poupança e de condições estruturais adversas, incluindo uma incidência excessivamente alta de falta de acesso ao mar (15 dos
53 países não têm saída para o mar).
Se as políticas são altamente criticáveis, por
que, então, foram adotadas? As origens históricas
da orientação antimercado da África não são difíceis de discernir. Depois de quase um século de depredação colonial, compreensível porém equivocadamente, os países africanos consideraram a
abertura comercial e o capital externo uma ameaça
à soberania nacional. Como na Indonésia de Sukarno, na Índia de Nehru e na Argentina de Perón,
"auto-suficiência" e "liderança do estado", incluindo a propriedade estatal de boa parte da indústria, se tornaram os orientadores da economia. Em
conseqüência, boa parte da África se colocou em
um exílio econômico auto-imposto ( ... )
Adam Smith observou, em 1755, que "pouco
mais é exigido para que um estado seja alçado, da
maior barbárie, ao mais alto estágio da opulência
do que paz, impostos simples e uma tolerável administração da justiça". Uma agenda de crescimento não precisa ser longa e complexa. Vejamos
esses pontos, um a um.
A paz não é, naturalmente, garantida de
modo tão fácil, mas as condições do continente
hoje são melhores do que as manchetes sensacionalistas sugerem. Vários dos conflitos de grande
porte que assolaram o continente terminaram ou
estão em vias de terminar. ( ... ) Os desastres em curso, como os da Libéria, Ruanda e Somália, seriam
mais bem contidos se o Ocidente estivesse disposto
a oferecer um modesto apoio às iniciativas de paz
africanas.
"Impostos simples" estão bem dentro do âmbito do FMI e do Banco Mundial. Mas neste ponto,
o FMI é culpado de negligência, se não de desídia.
As nações africanas precisam de impostos simples,
baixos e com pequeno peso em relação ao PIB.
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
5"5,1'
Impostos simples são fundamentais para o comércio internacional, uma vez que o crescimento
bem-sucedido dependerá, mais do que de qualquer outra coisa, da integração econômica com o
resto do mundo. O exílio, em boa parte, auto-imposto em relação aos mercados mundiais,
pode terminar rapidamente com o corte das tarifas sobre a importação e o fim dos impostos sobre
as exportações agrícolas. As alíquotas do imposto
sobre a renda das empresas deveriam cair dos
mais de 40% vigentes na atualidade para algo entre 20 e 30%, como nas economias voltadas para
o
exterior do Leste da Ásia. ( ... )
Adam Smith falou de uma administração
da justiça "tolerável", não perfeita. A liberalização dos mercados é a chave para o fortalecimento da lei. Livre comércio, conversibilidade da
moeda e incorporação automática das empresas
reduzem grandemente o espaço da corrupção
oficial e permitem ao governo concentrar-se nos
verdadeiros bens públicos - ordem interna, sistema judiciário, educação básica, saúde pública e
estabilidade monetária. ( ... )
Tudo isto só será possível se o próprio governo tiver contido suas despesas ao mínimo necessário. As economias asiáticas mostram como
é possível funcionar com um governo que gasta
20%, ou menos, do PIB (a China consegue gastar
apenas 13%). A educação pode absorver cerca de
5% do PIB, a saúde, 3%, a administração pública,
2%, o exército e a segurança pública, 3%. As despesas com investimento do governo podem ser
mantidas em cerca de 5% se o setor privado for
chamado a oferecer infra-estrutura em telecomunicações, instalações portuárias e energia. ( ...
)
Esta agenda fiscal exclui muitas áreas tradicionais da despesa pública. Há pouco lugar para
transferências ou gastos sociais além de educação e saúde (embora na minha proposta estes
segmentos fiquem com 8% do PIB). Subsídios a
empresas públicas ou juntas de comercialização
devem ser cortados. E, sobretudo, não há lugar
no orçamento para pagamentos de juros sobre
dívida externa. Isto porque a maioria dos estados africanos falidos precisa de um novo começo
com base em uma grande redução da dívida, que
deve ser implementada junto com reformas internas de amplo alcance.
FONTE: The Economist, 29 de junho de 1996, pp. 19-21.
552
PARTE IX
ECONOMIA REAL NO LONGO PRAZO
Sumário
•
A prosperidade econômica, como medida pelo
PIB per capita, varia substancialmente no mundo.
A renda média dos países mais ricos é mais de
dez vezes a dos países mais pobres. Como as taxas de crescimento do PIB real também variam
substancialmente, as posições relativas dos países podem variar drasticamente ao longo do
tempo.
•
O padrão de vida de uma economia depende da
capacidade da economia para produzir bens e
serviços. A produtividade, por sua vez, depende
da quantidade de capital físico, capital humano,
recursos naturais e conhecimento tecnológico
disponível para os trabalhadores.
•
As políticas governamentais podem influir na
taxa de crescimento de muitas maneiras: incentivando a poupança e o investimento, estimulando o investimento externo, promovendo a edu-
cação, garantindo os direitos de propriedade e
mantendo a estabilidade política, permitindo o
livre comércio, controlando o crescimento populacional e promovendo a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
•
O acúmulo de capital está sujeito a retornos decrescentes: quanto mais capital uma economia
tiver, menor a produção adicional gerada por
uma unidade adicional de capital. Devido aos
retornos decrescentes, poupanças maiores conduzem a um maior crescimento durante certo
período, mas o crescimento diminui à medida
que a economia se aproxima de níveis mais altos
de capital, produtividade e renda. Também em
decorrência dos retornos decrescentes, o retorno
do capital é especialmente elevado nos países
pobres. Tudo o mais mantido constante, esses
países podem crescer mais rapidamente devido
ao efeito de alcance.
conhecimento tecnológico, p. 537
retornos decrescentes, p. 541
efeito de alcance, p. 541
produtividade, p. 535
capital físico, p. 536
capital humano, p. 536
recursos naturais, p. 536
Que.ta •• paro revisão
1. Quais as duas coisas medidas pelo PIB? O que é
que a taxa de crescimento do PIB mede? Você
preferiria morar num país com PIB elevado e baixa taxa de crescimento ou noutro com PIB baixo
e taxa de crescimento alta?
2. Liste e descreva quatro determinantes da produtividade.
3. Em que sentido um diploma universitário pode
ser considerado uma forma de capital?
4. Explique como poupanças mais altas levam a um
padrão de vida mais elevado. O que poderia levar um formulador de políticas públicas a desistir de tentar aumentar a taxa de poupança?
5. Uma elevação da taxa de poupança provoca uma
maior taxa de crescimento por um período limitado ou por um período indefinido?
6. Por que a eliminação de restrições ao comércio
exterior, como as tarifas, poderia acelerar o crescimento econômico?
7. Qual a influência da taxa de crescimento populacional no nível de PIB per capita?
8. Descreva duas das formas pelas quais o governo
dos Estados Unidos procura incentivar avanços
no conhecimento técnico.
CAPíTULO 24
PRODUÇÃO E CRESCIMENTO
553
Problemas e aplicações
1. A maior parte dos países, incluindo os Estados
Unidos, importa quantidade substancial de bens e
serviços de outros países. Contudo o capítulo afirma que um país só pode desfrutar de um padrão
de vida elevado se puder produzir, ele mesmo,
uma grande quantidade de bens e serviços. Como
é que os dois fatos podem ser conciliados?
2. Liste os insumos de capital necessários para produzir cada um dos seguintes produtos:
a. automóveis
b. ensino secundária
c. viagens aéreas
d. frutas e legumes
3. A renda per capita dos Estados Unidos é, na atualidade, cerca de oito vezes superior à de um século atrás. Muitos outros países também registraram um crescimento significativo no período.
Cite algumas diferenças específicas entre seu padrão de vida e o de seus avós.
4. O capítulo se refere ao declínio do emprego em
relação à produção no setor agropecuário. Você
poderia mencionar outro setor da economia em
que o mesmo fenômeno tenha se registrado mais
recentemente? Você acha que essa alteração no
emprego representa um sucesso ou um fracasso,
do ponto de vista da sociedade como um todo?
5. Suponha que a sociedade decida reduzir o consumo e aumentar o investimento.
a. Como é que isto afetaria o crescimento econômico?
b. Quais os grupos da sociedade que se beneficiariam desta mudança? E quais poderiam
ser prejudicados?
6. As sociedades escolhem a parcela de seus recursos que deve se destinar ao consumo e qual se
destina ao investimento. Algumas dessas decisões envolvem despesas privadas; outras envolvem despesas do governo.
a. Descreva alguma forma de despesa privada
que represente consumo e outras que representem investimento.
b. Descreva alguma forma de despesa governamental que represente consumo e outras
que representem investimento.
7. Qual o custo de oportunidade do investimento
em capital? Você acha que um país pode "superinvestir" em capital? Qual o custo de oportunidade do investimento em capital humano? Você
acha que um país pode "superinvestir" em capital humano? Explique.
8. Imagine que uma montadora cujos proprietários
sejam todos cidadãos alemães instale uma nova
fábrica na Carolina do Sul.
a. Que tipo de investimento externo isso representa?
b. Qual o impacto deste investimento no PIB
dos Estados Unidos? O impacto no PNB dos
Estados Unidos seria maior ou menor?
9. Na década de 1980, investidores japoneses fizeram significativos investimentos diretos e de
portfólio nos Estados Unidos. Na época muitos
americanos lamentaram que tais investimentos
estivessem ocorrendo.
a. Em que sentido foi melhor que os Estados
Unidos estivessem recebendo os investimentos japoneses?
b. Em que sentido seria ainda melhor se os investimentos tivessem sido feitos por americanos?
10. Nos países do sul da Ásia, em 1992, para cada
100 homens jovens, apenas 56 mulheres jovens
estavam matriculadas nos cursos secundários.
Descreva várias maneiras em que maiores
oportunidades de ensino para as mulheres poderiam acelerar o crescimento econômico nesses países.
11. Dados internacionais mostram que existe uma
correlação positiva entre estabilidade política e
crescimento econômico.
a. Quais os mecanismos pelos quais a estabilidade política pode conduzir a um crescimento econômico mais sólido?
b. Quais os mecanismos pelos quais um crescimento econômico sólido pode conduzir a
uma estabilidade política?
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