Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 BIOLOGIA E GENÉTICA 2010/2011 1 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 BIOLOGIA 2 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 A célula (cap.1) Membrana plasmática: capaz de isolar proteínas e ácidos nucleicos do meio exterior. Este isolamento é assegurado por uma classe de moléculas anfipáticas – fosfolípidos – hidrofílicos/hidrofóbicos. Núcleo: delimitado por um sistema membranar – invólucro nuclear. No núcleo encontra-se o património genético da célula, sob forma de moléculas de DNA. nucléolo: local de biossíntese de ribossomas Ribossomas: composto por duas subunidades, cada uma das quais é constituída por moléculas de rRNA (RNA ribossomal). Retículo endoplasmático: constituído por um labirinto intracelular de cisternas, delimitadas por membranas. Rugoso: parte das cisternas estão revestidas por ribossomas. É responsável pela síntese de todas as proteínas secretadas para o exterior da célula, bem como as proteínas transmembranares e das enzimas lisossómicas. Liso: não se associa a ribossomas. Acumula as enzimas responsáveis pela síntese do componente lipídico das lipoproteínas e as enzimas que degradam drogas e outros compostos tóxicos ao organismo. Complexo de Golgi: constituído por uma série de cisternas empilhadas, rodeadas por enumeras vesículas. Deste complexo destacam-se vesículas que acabam por se fundir com a membrana plasmática num processo denominado exocitose. Lisossomas: “sacos” intracelulares delimitados por uma membrana e cheios de enzimas hidrofílicas. Apresentam três funções: 1. Digerem macromoléculas provenientes do exterior pela via da endocitose, fornecendo nutrientes para o metabolismo da célula. 2. Distribuição de componentes celulares absoletos. Autofagia- os organelos que atingiram o limite do seu tempo de vida ou que deixaram de ser necessários à célula, são incorporados em vesículas que se fundem com os lisossomas. 3 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 3. Participam na degradação de microrganismos ou partículas nocivas à célula através do mecanismo de fagocitose – os corpos reconhecidos como estranhos são fagocitados pela célula incorporados em fagossomas que se fundem com os lisossomas. Mitocôndrias: fornecem à célula energia necessária para todas as reacções de metabolismo. Possui duas membranas, interna e externa, que delimitam dois compartimentos, o espaço intramembranar e a matriz mitocôndrial. Peroxissomas: organelos citoplasmáticos limitados por uma membrana. Citoesqueleto: responsável pela plasticidade, flexibilidade e motilidade da célula eucariótica. Desempenha o papel de osso e músculo da célula. As suas propriedades devem-se a 3 grandes tipos de proteínas: 1. Filamentos intermédios: agregados de proteínas filamentosas que variam de acordo com o tipo de célula. 2. Microfilamentos de actina: responsáveis pela forma e plasticidade da membrana. 3. Microtúbulos: constituídos por cilindros cujas paredes são formadas por agregados de proteínas – tubulinas – emanam do centrossoma e espalham-se pelo citoplasma. 4 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Anatomia específica dos cromossomas em metáfase (Cap. 8) Cromossomas: veículos de informação genética. Estruturas com aparência linear que comportam os genes. Formados por dois braços um p e um q ligados pelo centrómero. Podem ser autossomas ou heterossomas (cromossomas sexuais X e Y). são classificados em função do seu tamanho e posição do centrómero: Metacêntricos: posição do centrómero mediana; braços iguais Submetracêntricos: centrómero divide os braços em p e q Telocêntricos: centrómero ocupa a posição terminal (não fazem parte do genoma humano) Casa banda do cromossoma revela grupos de genes, dispostos linearmente nos cromossomas e não distribuídos o acaso. Cariótipo: organização de cromossomas em grupos. 22 pares de autossomas e 1 par de heterossomas. 5 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Replicação do DNA genómico (Cap. 9) Herança genética: conjunto de características transmitidas pelos progenitores aos seus descendentes. Molécula de DNA: constituída por uma dupla hélice antiparalela formada por um esqueleto de grupos fosfato e açúcar localizados na parte externa da molécula, estando as duas cadeias ligadas entre si por pontes de hidrogénio estabelecidas entre bases azotadas complementares e localizadas na parte interna da molécula. O emparelhamento fazia-se sempre entre uma base purina e uma pirimidina, de tal modo que a adenina emparelhava sempre com a timina e a guanina com a citosina (A=T) (G=C). A sequência de bases de uma cadeia podia ser sempre deduzida a partir da sequência complementar. Mecanismo de replicação semi-conservativa: cada uma das duas cadeias da molécula de DNA parental seria utilizada como modelo para a síntese de uma nova cadeia que lhe fosse complementar, dando assim origem à formação de uma hélice dupla idêntica à parental em cada célula filha. DNA polimerase: capaz de catalisar in vitro a reacção de incorporação de nucleótidos numa cadeia de DNA, utilizando a sua cadeia complementar como modelo. Replicação: tem origem numa zona denominada origem de replicação e cada região do DNA replicada a partir de uma mesma origem forma um replicão. Pelo menos 1000 origens de replicação (8h). 6 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 A replicação tem 3 características básicas para a origem da replicação: 1. São constituídas por múltiplas sequências repetitivas 2. Estas unidades repetitivas são reconhecidas por complexos multiproteicos que, por sua vez, estão envolvidos no recrutamento da maquinaria de replicação da célula para a zona de origem da replicação 3. A origem de replicação é, em geral, flanqueada por sequências ricas em adeninas e timinas, o que deverá facilitar o desenrolar da separação das duas cadeias que integram a molécula de DNA DNA polimerase (2 características): 1. Todas sintetizam o DNA no sentido 5’ – 3’. E existem dois tipos de replicação: a. Contínua – na cadeia avançada na qual o sentido de replicação 5’ – 3’ coincide com a direcção de crescimento da cadeia filha sintetizada de novo. b. Descontínua – na cadeia atrasada em que o sentido 5’ – 3’ é contrário à direcção de crescimento da cadeia filha em formação. 2. Nenhuma é capaz de iniciar a síntese de novo de uma cadeia de DNA Mecanismo geral de replicação: Inicia-se a partir de uma origem de replicação reconhecida por um complexo de reconhecimento de origem que após a associação com outras proteínas vai localizar nesse local 2 complexos enzimáticos hexaméricos de tipo helicase que se vão mover em direcções opostas na cadeia parental a partir da origem. Estas enzimas desenrolam as 2 cadeias que compõem a dupla hélice, quebrando as ligações de hidrogénio estabelecidas entre as bases azotadas complementares de cada cadeia. Este conjunto de proteínas e de DNA, localizado na zona de origem de replicação, vai originar a constituição de uma dupla forquilha de replicação, que se estende em direcções opostas, para os dois lados da origem no caso mais comum da replicação bidireccional. De modo a iniciar a síntese de cadeias filhas, e devido à impossibilidade de esta ser efectuada pelas DNA polimerases, um novo complexo enzimático denominado primase irá sintetizar um fragmento de RNA, RNA iniciador, a partir da extremidade 5’ da cada uma das novas cadeias a sintetizar. 7 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Devido ao antiparalelismo da cadeia de DNA parental, das duas cadeias filhas a sintetizar, só uma poderá ser feita de modo contínuo 5’ – 3’ a partir da região de cadeia parental imediatamente adjacente à origem de replicação. Assim, esta cadeia atrasada irá ser sintetizada na direcção oposta ao avanço da forquilha de replicação, através da síntese e posterior ligação de múltiplos segmentos de DNA, todos iniciados por um fragmento de RNA iniciador colocado pela primase. Estes fragmentos de DNA contendo de forma temporária um RNA iniciador – fragmentos de Okasaki. Os dois fragmentos de DNA são finalmente ligados um ao outro pela DNA ligase. De modo a aliviar a tensão de torsão das cadeias durante o seu desenrolar pela helicase, enzimas do tipo topoisomerase vão igualmente actuar neste processo. Estas enzimas associam-se com a cadeia dupla parental a montante de cada uma das helicases e removem a tensão provocada pela torção da cadeia dupla através de uma série de cortes pontuais nas ligações de fosfodiester, reformadas de seguida pela mesma enzima, que vão ocorrer durante o desenrolamento efectuado pela helicase. 8 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Transcrição: biossíntese e processamento dos RNA mensageiros e de transferência (Cap. 10) Transcrição: mecanismo universal de expressão dos genes, unidades de DNA que contêm a informação necessária à especificação da síntese de todas as formas funcionais de RNA de cada célula. Está na base da transcrição vertical da informação genética ao longo da vida das células e dos organismos, conduzindo à expressão dos diversos fenótipos celulares. Transcrição dos genes das proteínas: é através desta que é produzida a população de mRNA característica de cada espécie e de cada tipo celular. Nos organismos pluricelulares, o controlo da expressão genética constitui o principal factor que assegura que cada gene específico seja activado no exacto momento do desenvolvimento embrionário, e consequentemente da diferenciação fenotípica dos tecidos de formação de órgãos. Síntese de RNA: exige que uma polimerase inicie a transcrição, polimerase os ribonucleótidos precursores, ordenados por complementaridade com a cadeia codificante do DNA, e termine de forma exacta a transcrição de cada molécula de RNA. Cada forma de RNA deve então ser transportada do seu local de síntese, o núcleo, para o citoplasma onde irá exercer as suas funções específicas. Iniciação da transcrição: mecanismo mais importante, que determina a expressão dos genes. É a esse nível que se define quantidade relativa de cada espécie de mRNA e da proteína nele codificada, que a célula produzirá. Polimerização das cadeias de RNA: sequências de bases que compõem os resíduos nucleotídicos da cadeia do DNA que é transcrito, determina a sequencia de bases de RNA sintetizado, de forma comparável à observada na replicação do DNA. Ocorre no sentido 5’ – 3’. A transcrição dá-se em três fases: Iniciação: reconhecimento do sítio do DNA genómico que irá ser copiado em RNA, e condensação dos primeiros nucleótidos constituintes da extremidade 5’ do RNA nascente. 9 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Elongação: polimerização orientada dos nucleótidos, reflectindo a sequência do DNA molde, e obedece à regra da complementaridade de bases (T – A; A – U; G – C; C – G). Terminação: interrupção selectiva do processo de transcrição da cadeia molde do DNA, delimitada pelo último nucleótido de cada gene activo, que corresponde, portanto, à extremidade 3’ da cadeia de RNA transcrito. Transcrição nos eucariotas: existe uma compartimentação das células, ocorrendo a transcrição no núcleo, onde se encontra o DNA genómico, enquanto que a tradução tem lugar no citoplasma. Todos os RNA têm que migrar do núcleo para o citoplasma, onde irão desempenhar as respectivas funções no processo da síntese de proteínas. A população dos RNA nucleares heterogéneos (hnRNA) contida no núcleo das células é parcialmente convertida nos mRNA citoplasmáticos activos, característicos de cada fenótipo celular. A maturação dos produtos primários da transcrição em mRNA envolve modificação estrutural da extremidade 5’ da molécula com formação da estrutura designada Cap, assim como da extremidade 3’, com adição de uma cauda de poliA, além da eliminação de segmentos intercalares de RNA, os intrões. O facto de este processo de transporte e maturação dos mRNA ocorrer por etapas proporciona a existência de mecanismos de regulação de expressão dos genes aos vários níveis, portanto mais complexos. Sequências de sinal nos intrões: o papel essencial do desempenho pelas sequências de sinal pode ser comprovado por experiências de mutagénese dirigida, que provam que estes elementos são indispensáveis ao processamento correcto, ou maturação do mRNA. Apenas as sequências de sinal são críticas, já que a eliminação do intrão não é afectada pela eliminação ou pela adição de sequências mais ou menos longas ao intrão, desde que não sejam modificadas as sequências que marcam pontos de clivagem entre 5’ e 3’ do intrão, nem o sítio de ramificação, e não se criem novas sequências de sinal no interior do intrão. O processo de eliminação dos intrões durante a maturação dos mRNA – Splicing. Este processo consiste na excisão – reparação das cadeias dos respectivos produtos primários da transcrição. 10 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Splicing dos precursores de mRNA: a eliminação das sequências intrónicas presentes nos produtos primários da transcrição dos genes de mRNA dá-se mediante formação de estruturas em ansa do RNA transcrito, através de um mecanismo de transesterificação com formação de uma ligação 3’ – 5’ fosfodiéster entre o resíduo adenílico no sítio de ligação do pré-mensageiro e o grupo fosfato do resíduo guanílico da extremidade 5’ do intrão. A ligação 3’ – 5’ fosfodiéster preexistente entre os resíduos dos nucleótidos que definem a junção exão - intrão é assim cindida, ficando o exão com a extremidade 3’OH- livre. Dá-se em seguida a transesterificação em que o grupo 3’OH do exão livre, que constitui o sítio dador do exão, ataca a ligação fosfodiéster da segunda junção intrão – exão, que define o sítio aceitador do exão seguinte. Desta forma, a extremidade 3’ do intrão fica liberta, dando lugar à ligação entre dois exões. 11 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Ciclo celular (Cap. 22) Tempo compreendido entre a mitose de uma célula e a mitose seguinte de uma ou das duas células filhas. A proliferação celular normal é regulada de forma a que a produção de novas células compense, exactamente, a perda de células pelos tecidos. Fases do ciclo celular: todas as células duplicam o seu DNA antes da divisão mitótica. A fase de síntese de DNA, fase S e a mitose, fase M, ambas distintas, permitem estabelecer um primeiro intervalo (GAP - G) entre o fim da mitose e o inicio da fase de síntese – fase G1 – e um segundo intervalo entre o fim da fase de síntese e o começo da mitose – fase G2. Interfase: (de fase M a fase M) os cromossomas não são visíveis. Verifica-se crescimento celular à custa da síntese de proteínas, ribossoma e retículos granulares. A seguir à mitose as células filhas podem seguir vias alternativas: 1. Sai do ciclo de divisão e migra para camadas mais superficiais 2. Iniciar uma nova fase de síntese 3. Entrar numa fase pós-mitótica prolongada, reentrando, mais tarde, em nova fase de síntese do DNA e cumprindo outro ou mais ciclos de divisão. Fase G0: fase G1 prolongado (3º hipótese). Distinta da fase G1 habitual, observa-se em células caracterizadas por um longo período de vida, que raramente se dividem, mas após estímulos adequados, podem efectuar uma ou mais ciclos de divisão. A decisão para a entrada de uma célula no ciclo celular ocorre no final da G1, visto que, depois das células terem passado este ponto, progridem para a fase de síntese e para a mitose. 12 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Tempos de reacção: o ciclo celular tem, para cada população, uma determinada duração, bem como as suas 4fases. Síntese de DNA não ocorre durante a mitose. Tempo total do ciclo: pode ser calculado a partir do intervalo entre os pontos médios dos plateaux de duas ondas sucessivas das mitoses. Fase S: tem uma duração relativamente constante (6h – 8h). Parece ser independente do tempo de geração. Fase G1: mais variável em duração, mais longa, desde algumas horas a vários meses. Fase em que a maioria das células pode permanecer mais tempo. Fases S e G2: são constantes. A duração do ciclo depende das variações de G1. Células embrionárias: dividem-se rapidamente, o seu ciclo celular é síncrono e possui apenas fases M e S. em estados mais avançados da vida do embrião, as fases G1 e G2 alongam-se e as células proliferam mais lentamente. Células do organismo pluricelular (etapas) 1. Crescimento 2. Replicação do DNA 3. Segregação dos cromossomas homólogos 4. Divisão celular Cromossomas (duas funções principais): 1. Devem duplicar-se na fase S à custa de enzimas específicas e, em devido tempo, separar-se para as duas células filhas. 2. Devem expressar a mensagem genética em duas classes de proteínas: as que regulam o próprio ciclo celular e as que formam os componentes da próxima geração de células. 13 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Mitose (Cap. 23) Quando as células sexuais, gâmetas masculinos e femininos, se fertilizam, originam uma célula diplóide chamada ovo ou zigoto. Esta célula inicia imediatamente uma série de divisões celulares sucessivas originando diferentes estados embrionários. Mitose: fenómeno celular que ocorre em diversos tipos de células, nas quais, por um complicado processo de divisão nuclear e citoplasmática, 1célula origina 2células filhas. Estas são geneticamente iguais à célula mãe que lhe deu origem, mantendo-se inalterável o número de cromossomas específicos (2n – 2n). É um processo de divisão celular em que a perpetuação do genoma celular se mantém inalterável ao longo das diferentes gerações pós-mitóticas. Profase: aumento do volume nuclear e aparecimento da cromatina organizada sob a forma de longos e finos filamentos, os cromossomas, distribuídos irregularmente no nucleoplasma. Os cromossomas profásicos são do tipo dicromatídicos, i.e., cada cromossoma é constituído por duas moléculas de DNA rigorosamente iguais. Simultaneamente, os dois pares de centríolos, localizados na região perinuclear, começam a deslocar no citoplasma em direcção a pólos opostos da célula. Os cromossomas vão-se encurtando, tornando-se um pouco mais espessos e compactos e, consequentemente, mais visíveis. Cada cromatídio é formado por numerosas proteínas associadas a uma molécula de DNA. Prometafase: inicio da desorganização e dissipação do invólucro nuclear, dando lugar ao aparecimento de fragmentos desse invólucro, estruturas morfologicamente semelhantes e cisternas do RE. Estas cisternas mantêm-se visíveis até à formação completa do fuso acromático. Os cromossomas pró-metafásicos continuam o seu encurtamento e espessamento, encontrando-se sem posição preferencial no nucleoplasma. Os dois cromatídeos que formam cada cromossoma, começam a distinguir-se mais facilmente. Os cinetocoros dos cromossomas tornam-se visíveis em cada um dos lados do centrómero e, ao 14 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 mesmo tempo, aparecem os microtúbulos (Mt) orientados para os pólos do futuro fuso mitótico ou acromático. Com o desaparecimento completo do invólucro nuclear e do nucléolo cada cromossoma inicia o processo de orientação e deslocamento para o plano equatorial do fuso, por meio dos diferentes tipos de Mt que, entretanto, se tornam mais evidentes. Nesta altura, os centrossomas já se encontram em pólos opostos da célula e a partir dos quais crescem Mts que, eventualmente, estabelecem uma ligação estável com os cinetocoros. Inicialmente esta ligação ocorre com o cinetocoro de um dos cromatídeos de cada cromossoma e um pólo, de forma que o cromossoma migre rapidamente na direcção desse pólo, estando assim monorientado. A seguir, os Mts provenientes do outro pólo são capturados pelo cinetocoro livre, o que promove a migração do cromossoma para o plano equatorial do fuso, dando origem a cromossomas biorientados. Os cromossomas continuam a compactar e os braços dos cromatídeos irmãos separam-se completamente. Quando os cromossomas já estão biorientados, iniciam a migração em direcção à região equatorial da célula. Metafase: os cromossomas metafásicos localizam-se no plano equatorial do fuso por meio dos seus centrómeros. Os cromatídeos tornam-se mais distintos por ligeiro afastamento dos seus braços, ficando apenas aderentes na região do centrómero. Os centrómeros dos cromossomas mantêm-se por um período curto, no plano equatorial do fuso, embora possa haver deslocamento dos braços dos cromatídios na direcção dos pólos. O fuso acromático é constituído por dois centrossomas situados em pólos opostos e por diversos tipos de Mts. Anafase: ascensão polar de cada um dos cromossomas filhos resultante da segregação dos cromossomas dicromatídios metafásicos. Inicia-se com a dissolução da coesão centromérica, único ponto que unia os cromatídios de cada um dos cromossomas, sendo repuxados pelos MtCs, e faz 15 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 com que os cromatídios irmãos se desloquem para os pólos. ANAFASE A. Os dois pólos do fuso afastam-se um pouco mais um do outro por alongamento da célula devido à deslocação dos Mt polares e, consequentemente, aumentando a distância entre os cromossomas. ANAFASE B. Telofase: reorganização do invólucro nuclear, rodeando os cromossomas que gradualmente se despiralizam e se descondensam tornando-se menos visíveis. Ocorre a nucleocinese – formação de núcleos filhos. Durante todo o período inicial da telofase, o citoesqueleto das células filhas, baseados nos filamentos intermédios, será alterado, conduzindo uma alteração significativa da morfologia celular. Conjuntamente com as alterações na estrutura do citoesqueleto, começa a haver a redistribuição equitativa dos organelos celulares pelas células filhas. Citocinese: o citoplasma é dividido através de um processo denominado de clivagem. A divisão segue-se rapidamente após a segregação dos cromossomas durante a mitose, inicia-se durante a anafase B, continua durante a telofase, terminando antes de as células entrarem novamente em interfase. É um processo que depende da formação do anel contráctil que se forma, exactamente, a meio da distância existente entre os dois centrossomas do fuso mitótico. É formado por filamentos de actina, organizados paralelamente em relação ao plano de divisão e numa associação estreita com a face citoplasmática da membrana celular. Durante a parte final da divisão celular, quando a membrana citoplasmática já se encontra praticamente dividida, o anel de contracção desaparece e forma-se o corpo médio que contém a parte central dos Mts polares e um material denso do qual se conhecem alguns componentes. O citosqueleto das duas células reorganiza-se permitindo à célula refazer a sua morfologia específica. Fuso acromático (mitótico): estrutura dinâmica que se forma durante a mitose, fundamentalmente constituída pelos Mt e centrossomas. A sua formação inicia-se na pró-metafase, completa-se na metafase e dissipa-se gradualmente, na anafase B. 16 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Constituído por dois pólos diametralmente opostos, sendo cada um formado por uma região polar onde se localiza o centrossoma formado por dois centríolos que se encontram situados à curta distância um do outro em posição ortogonal. Os pólos estão interligados entre si por um conjunto de Mt, muitos dos quais estão directamente ligados ao cinetocoro dos cromossomas. O plano equatorial do fuso ou placa equatorial separa o fuso acromático em duas zonas iguais. Centrossomas (centríolos) – O ciclo centríolar A maior parte das células em mitose possui uma estrutura mucrotúbular constituída por Mts curtos associados 3 a 3, formando tripletos. Estes distribuem-se numa superfície cilindróide formando o centríolo. Na região polar das células encontram-se, geralmente, dois centríolos que, conjuntamente com uma zona densa em proteínas denominada de região pericentrossomal, constituem o centrossoma. Os centríolos estão orientados numa posição ortogonal, embora esta posição seja variável de espécie para espécie celular. Devido ao facto de os Mt crescerem a partir do centrossoma, esta estrutura é também denominada por centro organizador dos Mts. Durante a fase G1 da interfase, o centrossoma modifica a sua posição ortogonal, passando os centríolos a ocupar uma posição oblíqua, geralmente não complanar. Centrómero e cinetocoro: região centromérica dos cromossomas pró-metafásicos e metafásicos. Local onde os dois cromatídios irmãos de cada cromossoma se interligam. Cada cromossoma pró-metafásico e metafásico têm dois cinetocoros distintos em posições opostas, cada um ligado a um dos cromatídios irmãos na região do centrómero. É no cinetocoro onde estão ligados os Mts. O centrómero é a zona por onde se interligam os dois cromatídios do cromossoma em pró-metafase e metáfase. É constituído por duas estruturas idênticas, onde se destaca a heterocromatina dos cromatídios e as proteínas centroméricas internas em posição central. A sua posição determina o comprimento dos braços dos cromossomas e, consequentemente, permite a classificação dos cromossomas. 17 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 O fuso mitótico é formado por três tipos de microtúbulos que estão envolvidos em aspectos diferentes do funcionamento e organização do aparelho mitótico. 1. Polares: são nucleados a partir dos centrossomas e estendem-se em direcção ao pólo oposto do fuso e sobrepõem-se na parte central. São responsáveis durante o período inicial da formação do fuso, por interacções com as proteínas que estabelecem pontes entre os microtúbulos provenientes dos dois pólos. 2. Cinetocorianos: estabelecem uma ligação entre os centrossomas e os cinetocoros. Envolvidos na organização da placa equatorial e, posteriormente, na segregação dos cromatídios. 3. Astrais: são também nucleados a partir de centrossomas mas crescem em direcção ao córtex da célula, principalmente na direcção oposta àquela que se encontra o fuso. Parecem estar envolvidos no posicionamento global do fuso mitótico na célula e poderão estar envolvidos na separação dos pólos durante a Anafase B. Associação dos cromossomas com Mts Durante a fase inicial da formação da placa equatorial, na pró-metafase, os Mts provenientes de um pólo estabelecem uma ligação lateral com o cinetocoro de cada cromossoma. Isto leva os cromossomas a deslocarem-se rapidamente na direcção do pólo ao qual estão associados. Uma vez que estabelecida a interacção, os Mts dos cinetocoros permanecem ligados até ao fim da mitose. De forma a organizar a placa equatorial, os cromossomas inicialmente monorientados deverão deslocar-se para o centro da célula. Dois mecanismos parecem estar envolvidos neste processo: 1. Por um lado, os Mts nucleados a partir do pólo oposto onde se encontra o cromossoma monorientado continuam a crescer até estabelecerem uma ligação com o cinetocoro livre. 2. Contudo, os resultados de várias experiências têm demonstrado que existe uma força que repele os cromossomas quando estão muito perto dos cromossomas (Polar Wind ou Força de Exclusão Polar). O resultado deste mecanismo será o de aproximar os cromossomas monorientados para os Mts que crescem a partir do pólo oposto. A combinação destes dois mecanismos resulta na formação de cromossomas biorientados que iniciam a formação da placa metafásica. 18 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Organização da placa metafásica Existem dois modelos que podem explicar a localização central dos cromossomas entre os dois pólos do fuso, quando se dá a formação da placa metafásica. Durante este período, os cromossomas apresentam movimentos rápidos e curtos oscilando entre pólos e a região equatorial até atingirem todos uma localização central antes de se iniciar a segregação dos cromatídios. 1. A força exercida sobre o cinetocoro aumenta proporcionalmente em relação ao comprimento dos Mts dos cinetocoros, de tal forma que, quanto mais longe se encontra um cinetocoro do pólo ao qual está ligado, maior é a força na direcção desse centrossoma. Assim, o equilíbrio de forças só pode acontecer quando os cromossomas estão no centro da célula. 2. A força de exclusão polar é a única força responsável pela localização central dos cromossomas. Neste modelo, estarão envolvidas as cromocinesinas, proteínas motoras que se encontram na superfície dos cromossomas e que estabelecem ligações com os Mts causando a movimentação dos cromossomas para a extremidade positiva dos Mts. Como a força da exclusão polar é igual em cada metade do fuso mitótico, o único resultado possível será a localização dos cromossomas no plano central do fuso. As forças que participam no posicionamento dos cromossomas na placa metafásica continuam a estar presentes durante toda a metáfase e só parecem ser alteradas no inicio da anafase. Os mecanismos que regulam a entrada e progressão das diferentes fases da divisão permitem que a célula inicie a divisão só quando os eventos realizados durante a interfase são terminados correctamente. Assim, uma célula só vai entrar em mitose quando o DNA estiver completamente replicado. 19 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Maturation promoting factor – MPF A existência de um controlo citoplasmático que determinava o início da mitose, que consiste em identificar o mecanismo que permitia a maturação do ovócito. O componente citoplasmático activo (MPF), chamado assim exactamente porque induzia a maturação do ovócito, foi proposto que deveria existir na forma de pré-factor e que, uma vez activado, tem a capacidade de induzir a maturação do ovócito sem síntese proteica. A activação do factor induz a entrada em mitose e promove o início de uma série de processos que incluem a desagregação do invólucro nuclear, a condensação cromossómica e a formação do aparelho mitótico. Quando o factor é inactivado, a célula entra em interfase e outra série de processos é iniciada, incluindo a segregação dos cromatídios, a citocinese, a descondensação da cromatina, a formação do invólucro nuclear, a replicação do DNA e a replicação dos centros organizadores de Mts. 20 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Mitose e Aneuploidia (Cap. 24) Toda a célula tem origem noutra semelhante e não pode ter a sua origem em nada que não seja outra célula. “Omnia cellula e cellula” Durante a fecundação ou fertilização, intervêm duas células especialmente diferenciadas, os gâmetas, que se unem numa célula única, que se denomina ovo. Em algum momento, antes ou depois da fecundação, um mecanismo especial de divisão celular deveria actuar para reduzir o número de cromossomas somático a metade. Gametogénese: maturação dos gâmetas é acompanhada de uma divisão nuclear de tipo especial, que tem como consequência a redução a metade do numero de cromossomas somático de cada individuo da mesma espécie. Meiose: dividida em duas partes: 1. Meiose I: divisão de redução, produzindo duas células haplóides oriundas de uma única célula diplóide. 2. Meiose II: divisão equacional, que separa os cromatídios irmãos das células haplóides. Ciclo celular meiótico: 1. Interfase pré-meiótica: tempo durante o qual ocorre, não só o crescimento da célula germinal, como também a replicação semiconsevativa do DNA, de uma forma ordenada e regulada em preparação para a meiose (ver pag. 398). 2. Meiose: consiste em duas divisões celulares consecutivas e complementares, com a única replicação do DNA, nas quais a primeira divisão (meiose I) é reducional ou heterotípica, porque as células que resulta são estrutural e genéticamente diferentes da célula da mãe, e a segunda divisão (meiose II) é hemotípica ou equacional por separar cromatídios irmãos. As fases da meiose são iniciadas pela activação do MPF. 21 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Meiose I: Profase I o Leptóteno (fase de condensação) o Zigóteno (estado de emparelhamento) o Paquíteno (estado de recombinação) o Diplóteno (estado de síntese) o Diacinese (estado de recondensação) Metáfase I Anafase I Telofase I Intercinese Meiose II Profase II Metafase II Anafase II Telofase II Citocinese Meiose I Profase I o Leptóteno: início da profase I, marcado pela diferenciação da cromatina interfásica das células germinais em cromossomas liptoténicos, sob a forma de filamentos muito delgados distribuídos ao acaso no nucleoplasma. Os dois cromatídios irmãos de cada liptoténico são idênticos e estão tão estreitamente ajustados entre si que não podem ser bem distinguidos ao microscópio óptico. Daí que estes cromossomas apareçam como filamentos simples e não como duplos, ocupando posições ao acaso no nucleoplasma. o Zigóteno: ocorre quando os cromossomas homólogos começam a juntarse um ao outro e a emparelhar-se. Este emparelhamento, chamado 22 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 sinapse, continua até que os dois cromossomas de cada par de homólogos estejam estritamente alinhados na associação cromómero a cromómero. o Paquíteno: começa quando o emparelhamento dos cromossomas homólogos e a formação do complexo sinaptoténico se complementaram. Pode ocorrer a quebra e ligação entre cromatídios não irmãos através do crossing-over. Cada cromossoma homólogo de um par contém dois cromatídios, um total de quatro associados estão presentes em cada uma das estruturas emparelhadas durante este estado. A recombinação resulta da troca de grupos de gene produzida por uma ruptura e nova fusão em forma de cruz (quiasma) de fragmentos análogos. o Diplóteno: a separação entre os cromossomas homólogos acontece. A subdivisão entre cromatídios torna-se, usualmente, visível ao MO, de maneira que os quatro cromatídios de cada tétrada podem ser vistos pela primeira vez. Divisão do centrossoma. Dois cromatídios de cada cromossoma, pela primeira vez tornam-se visíveis nesta ocasião. À medida que progride este estado, a separação entre os homólogos acentua-se cada vez mais. Dois a quatro cromatídios não irmãos mostram entrecruzar-se (crossing-over) entre cromossomas homólogos neste pontos. Quanto mais separados dois genes estiverem localizados num cromossoma, maior será a probabilidade de ocorrer um quiasma entre eles. Quanto mais próximos estiverem os genes, menor será a probabilidade de ocorrência de quiasma entre eles. O crescimento global do citoplasma também tem lugar nesta ocasião através da síntese de proteínas, glucídos e lípidos. O estado diplóteno pode manter-se por longos períodos de tempo. Os oócitos atingem o estado antes do nascimento, cerca do 5ºmês de vida fetal e, conservam-se quiescentes neste estado durante o resto da vida pré-natal, nascimento e infância, até à puberdade. Deixa de ocorrer a transcrição do RNA. Cromossomas voltam a adquirir a morfologia condensada. o Diacinese: esta transição morfológica marca o aparecimento desta fase. Os cromossomas atingem a sua maior condensação durante esta fase. O centrossoma dividido e os dois àsteres resultantes, afastando-se um do outro no sentido dos pólos opostos da célula e diferenciam os Mts astrais 23 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 do fuso meiótico. Os cromossomas, cuja condensação aumentou, forçam os quiasmas em direcção aos seus telómeros. Marca o fim da profase I. Consequências da profase I: redução da cromatina; crossing-over; síntese da maior parte ou de todas as moléculas de RNA, proteínas, lípidos, nucleótidos necessários para a diferenciação dos gâmetase estados precoces de desenvolvimento embrionário. Metafase I: diferenciação completa do fuso meiótico bipolar, alinhamento dos bivalentes através de Mts cinetocorianos num plano situado a meio caminho entre os pólos do fuso, constituindo uma estrutura típica designada placa equatorial ou placa metafásica I. o fuso meiótico é formado por dois semifuros constituídos cada um por Mts polares, cinetocorianos e astrais. Cada cromossoma homólogo é constituído por dois cromatídios, cada um deles é formado por uma molécula de DNA. Contêm uma sequência de DNA específico, sendo esta o centrómero. Cada cromossoma homólogo fica no fuso com dois cinetocoros, um para cada cromatídio. Os homólogos são mantidos sob tensão ao nível da placa metafásica I, por forças equilibradas. No final desta fase, a estrutura bipolar do fuso é evidente e todos os bivalentes estão alinhados no plano médio. Anafase I: a separação dos pares de homólogos e o inicio do movimento em direcção aos pólos do fuso meiótico bipolar. Cromossomas inteiros separam-se e movimentam-se individualmente, este movimento que reduz o número de cromossomas da condição diplóide 2n, à condição haplóide n. (ver pag. 412) Telofase I: os cromossomas homólogos chegam aos pólos do fuso, os Mts cinetocorianos despolimerizam-se totalmente, os Mts polares alongam-se ainda mais e um novo invólucro nuclear diferencia-se à volta de cada grupo haplóide de cromossomas filhos. A cromatina descondensa-se uma vez mais e os nucléolos diferenciam-se. A citocinese, iniciada na Anafase I, completa-se esta fase. É despoletada pela inactivação do MPF, que coordena a divisão citoplasmática por um processo designado segmentação ou clivagem que divide a célula mãe diplóide em 2 células filhas haplóides. A separação dá-se pela 24 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 contracção dos filamentos de actina e de miosina que formam um sulco de divisão ou constrição que se aprofunda progressivamente até ao encontro dos restos do fuso, e aí ocorre a clivagem e produção de duas células filhas haplóides. O citoplasma é repartido pela diferenciação de uma nova parede celular formada à custa de uma placa celular precoce. Intercinese: na meiose, nem sempre a intercinese se interpõe entre a telofase I e a 2ª divisão meiótica. Na maior parte das espécies é um estado transitório entre a 1ª e a 2ª divisão meiótica, nas quais as células germinais permanecem muito pouco tempo antes de entrar na profase II. Meiose II Profase II: fase muito breve, caracterizada pela condensação progressiva da cromatina em cromossomas bem definidos, chamados univalentes. Cada univalente é constituído por dois cromatídios unidos pelo centrómero. O fuso meiótico bipolar, constituído por Mt e proteínas associadas inicia novamente a sua diferenciação. O centrossoma que no inicio contém uma matriz proteica associada a dois pares de centríolos, divide-se, e os dois àsteres resultantes afastam-se progressivamente um do outro para constituir os dois pólos opostos do fuso meiótico que se completa na fase seguinte. Desintegração do invólucro nuclear e dos nucléolos. Metáfase II: os univalentes deslocam-se para o fuso meiótico bipolar. O fuso é formado por dois semi-fusos constituídos cada um por Mts cinetocorianos, polares e astrais e os cinetocoros ficam alinhados sobre a placa equatorial ou placa metafásica II. A estrutura do fuso meiótico bipolar é evidente e todos os univalentes estão alinhados no plano médio da célula. Constituindo a placa equatorial ou placa metafásica II. Forças bipolares em equilíbrio mantêm os cromossomas na placa metafásica. Anafase II: divisão longitudinal dos centrómeros, e os dois cromatídios irmãos de cada univalente separam-se e movem-se para os pólos opostos do fuso. Cada pólo contém agora a quantidade n de DNA, equivalente a ¼ da quantidade de 25 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 DNA presente no período G2 da interfase pré-meiótica, da célula germinal original ao entrar em meiose. Os cromatídios são levados para os pólos opostos por forças associadas ao encurtamento dos Mt cinetocorianos, ao alongamento e deslizamento dos Mt polares por polimerização de subunidades de tubulina na extremidade positiva e por forças exteriores exercidas pelos Mts astrais ao nível de cada pólo do fuso, afastando-os um do outro. Telofase II: terminada a migração polar, reconstituem-se os respectivos núcleos, pela diferenciação do invólucro nuclear e nucléolos, e o citoplasma divide-se por um processo de citocinese, que começou no final da anafase II, assegurando a distribuição bastante equitativa de estruturas e organelos pelas células filhas, e divide 2 células em 4 produtos meióticos haplóides. Citocinese: é despoletada pela inactivação do MPF que coordena a divisão nuclear e citoplasmática da célula germinal. Nas células animais, o fuso bipolar meiótico determina quando e onde a citocinese tem lugar, pela formação de um anel contráctil de microfilamentos de actina e miosina, que se situa a meio caminho entre os àsteres dos pólos do fuso bipolar. O anel contráctil forma um sulco de divisão que se aprofunda progressivamente até ao encontro dos restos do fuso bipolar. Seguidamente ocorre a clivagem pela contracção dos microfilamentos de actina e miosina. 26 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Tipos de meiose e diferenças entre meiose e mitose Enquanto as células somáticas passam por mitose para proliferarem, as células germinais sofrem meiose para produzir gâmetas haplóides. Contrariamente à mitose, a meiose tem como consequência a divisão de uma célula mãe diplóide em descendência haplóide, cada uma contendo um membro do par de cromossomas homólogos da célula mãe. Esta redução do número de cromossomas diplóides a metade é conseguida em duas etapas sequênciais de divisão nuclear e celular, seguintes a uma única fase de replicação do DNA. Na meiose I, os cromossomas homólogos primeiro emparelham para permitir a recombinação, e depois são segregados para formar células filhas diferentes. A meiose I é seguida de meiose II, que se assemelha à mitose na separação dos cromatídios irmãos e segregação para células filhas diferentes. O final da meiose II resulta então na produção de quatro células filhas haplóides, cada uma com apenas uma cópia de cada cromossoma. Uma das maiores e mais características diferenças entre meiose e mitose está na duração do ciclo celular. (ciclo mitótico 10 a 20h; ciclo meiótico dias - anos) A duração mais longa da meiose é principalmente devida ao intervalo da profase I. A profase motótica tem, habitualmente, a duração de meia a uma hora, já a profase I demora dias, meses ou até anos a completar-se. Os acontecimentos metabólicos que estão na base da profase I, são muito mais complexos do que os aspectos metabólicos que ocorrem durante a profase mitótica. Na mitose, uma única replicação do DNA é seguida por uma única divisão do núcleo. 27 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Na meiose, uma única replicação do DNA é seguida por duas divisões do núcleo. A quantidade de DNA nos gâmetas é haplóide, n. As células diplóides no período G1 do ciclo celular contêm 2n de DNA. Depois da replicação, que ocorre no período S, contêm no período G2 a quantidade de 4n de DNA. Se a replicação do DNA é seguida de mitose, os núcleos filhos contêm a quantidade 2n ao completar-se a mitose. Se a replicação do DNA é seguida de meiose, o valor 4n é reduzido ao fim das duas divisões sequenciais (meiose I e II) ao valor haplóide, n. A meiose I não separa senão cromossomas inteiros, embora já constituídos, cada um, por dois cromatídios; a meiose II, separa, como na mitose, cada cromossoma em dois cromatídios emparelhados, nos estados de zigóteno e paquíteno. (ver pag. 418) Aneuploidia: (2n+1 ; 2n-1) estado no qual há um número anormal de cromossomas, devido a um cromossoma a mais ou a menos. Ocorre por não disjunção meiótica ou mitótica, ou ainda por atraso de migração de um cromossoma durante a anafase (lagging). É o tipo mais comum de anomalias cromossómicas clinicamente significativas (desequilibradas). Também pode ocorrer aneuploidia de uma parte do cromossoma - aneuploidia parcial – geralmente associados a reacções cromossómicas estruturais. Consequências da não disjunção na meiose I: os gâmetas ou contêm um representante de ambos os membros do par de cromossomas e, portanto, após a fertilização surgem trissomias, ou não possuem qualquer par de cromossomas e, portanto, após a fertilização aparecem monossomias. Consequências da não disjunção na meiose II: aparecimento de dois gâmetas normais que contêm duas cópias do cromossoma e de dois gâmetas anormais: um, sem nenhuma cópia do cromossoma, o outro com duas cópias. Após a fertilização, formamse zigotos normais, com trissomia ou monossomia. 28 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Anomalias numéricas dos cromossomas As aneuploidias podem ser trissomias ou monossomias: Trissomias quando há três cromossomas em vez de um par normal (eg. Trissomia 21) – 95% das causas é por trissomia 21 livre Monossomias quando apenas um representante do par de cromossomas está presente. São quase sempre letais excepto os casos 45, X, associado à síndroma de Turner. Para a maioria das trissomias, há uma preponderância, para a origem materna do cromossoma extra que também é relacionado com a idade materna avançada. Neste casos, a não disjunção na meiose I é mais frequente que na meiose II, excepto para a trissomia 18 (síndroma de Edwards) onde acontece o contrário. Nos casos de 47, XXY (síndrome de klinefelter), o cromossoma X extra tem, tanto origem materna como paterna. As trissomias em mosaico e os mosaicos 47, XXY/45,X ou 46,XX/45,X tendem a organizar-se a partir da célula hiperdiplóide que perde um ou dois cromossomas no estágio pós-zigótico. A única excepção é o mosaico de trissomia 8, que ocorre pószigóticamente. 2n – poliplóidia 3n – triploidia 4n – tetraplóidia Anomalias estruturais dos cromossomas Os rearranjos estruturais na sua forma desequilibrada estão associados a aneuploidias parciais, são mais raros que a aneuploidia total e têm origem predominantemente durante a meiose. Resultam de quebras cromossómicas, seguida de reconstituição numa combinação diferente, ou de um emparelhamento fora do normal. Os rearranjos estruturais podem ser, tanto equilibrados, como desequilibrados: São equilibrados se o conjunto de cromossomas possuir o complemento normal da informação genética (translocações; inversões; inserções). 29 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 São desequilibrados de houver informação genética a mais ou a menos, sendo o fenótipo provavelmente anormal (deleções; duplicações; isocromossomas; cromossomas em anel). Rearranjos desequilibrados Deleções (del): perda de um segmento cromossómico terminal ou intersticial. O portador tem um homólogo normal e um delectado sendo portanto hemizigótico para as informações genéticas no segmento correspondente ao homólogo normal. Consequências: dependem do tamanho do segmento delectado e consequentemente do número e das funções dos genes que ele contém. Origem: 1) quebra cromossómica e perda de segmento acêntrico; 2) crossing-over desigual entre cromossomas homólogos desalinhados, durante o estágio do paquíteno da profase I; 3) segregação anormal a partir de uma inversão ou translocação equilibrada (eg. Síndromas de Prader willi e Angleman; síndrome de Williams e síndrome de DiGeorge). Duplicações (dup): a duplicação de parte de um cromossoma é uma trissomia parcial. São mais frequentes as de origem materna. Resulta de um desequilíbrio cromossómico e com as quebras cromossómicas que as geram podem romper o gene. Normalmente produz anomalias fenotípicas. Cromossomas em anel (r): associados a fenótipos anormais com atraso mental. Formação: 1) um cromossoma sofre duas quebras e as extremidades reúnem-se numa estrutura circular. Se o centrómero estiver dentro de um anel, os dois fragmentos distais carentes de centrómero são perdidos. Portanto, o cromossoma em anel está associado a deleção. 2) Fusão dos telómeros. Os cromossomas em anel são bastante raros mas foram encontrados em todos os cromossomas dificuldades na mitose. Pode ocorrer quebra no anel, seguido de fusão, sendo assim gerados anéis maiores e menores. Isocromossomas (i): portador tem um cromossoma em que um dos braços está ausente e o outro duplicado, i.e., é parcialmente monossómico e parcialmente 30 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 trissómico. Mecanismos de formação: 1) o mais provável é a divisão errónea através do centrómero na meiose II, que ocorre transversalmente. 2) Devido à translocação de um braço de um cromossoma para o seu homólogo pela região do centrómero. Praticamente todos os casos de isocromossomas adicionais têm origem materna e são devidos à não disjunção na meiose II seguida de uma falsa divisão centromérica. Cromossomas dicêntricos (dic): dois segmentos cromossómicos, cada um com um centrómero, fundem-se, extremidade a extremidade com perda dos seus fragmentos acêntricos. Devido a dois centrómeros, os cromossomas dicêntricos tendem a quebrar-se os centrómeros forem atraídos para pólos opostos. Esta situação é, de certo modo, resolvida se um deles for inactivado e, portanto, só um ficar a funcionar. Rearranjos equilibrados Toda a informação genética e está presente, embora distribuída de modo diferente e, por conseguinte, costumam estar associados a fenótipos normais. A maior ameaça que os rearranjos estruturais representam é para a descendência, uma vez que os portadores podem produzir gâmetas desequilibrados que, se fertilizados, dão origem a um indivíduo com cariótipo desequilibrado. Inversões (inv): rearranjos estruturais intracromossómicos, a maioria das quais são simples. Se coexistem com outro rearranjo no mesmo cromossoma, torna-se uma inversão complexa. Uma inversão ocorre quando um único cromossoma sofre duas quebras e é reconstituído com o segmento, entre as quebras, invertido. As inversões podem ser pericêntricas e paracêntricas. As paracêntricas não incluem o centrómero e como não alteram a proporção dos braços do cromossoma, só são identificadas pelo padrão das bandas. As pericêntricas incluem o centrómero e são fáceis de identificar, uma vez que, para além de poderem alterar a proporção dos braços cromossómicos, também alteram o padrão de bandas. Geralmente as inversões não causam um 31 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 fenótipo anormal nos portadores a não ser que as quebras interfiram com as sequências de um gene. No entanto, há um risco para a descendência que depende do tipo de inversão e se, durante o paquíteno, houver recombinação na ansa de emparelhamento que origine gâmetas desequilibrados. Quanto maior for a inversão, maior é a probabilidade de recombinação. Translocações (t): troca de segmentos entre cromossomas não homólogos. Os pedaços trocados são os segmentos translocados, o resto do cromossoma é o fragmento com o centrómero. Existem também as translocações complexas raras que envolvem três ou mais cromossomas. As translocações podem ser recíprocas ou robertsonianas. Uma translocação é recíproca quando envolve quebras entre cromossomas não homólogos com troca recíproca segmentos soltos. Em geral, apenas dois cromossomas estão envolvidos, e como a troca é recíproca, o número total de cromossomas fica inalterado. Quando os cromossomas do portador desta translocação se emparelham na meiose formam uma figura quadrirradial que, na anafase, se segrega de várias maneiras diferentes. 1) Ligação alternada: produz gâmetas equilibrados com o complemento normal, ou dois cromossomas com translocação equilibrada produzem zigotos normais ou portadores como o progenitor. 2) Segregação adjacente 1: centrómeros homólogos separam-se para pólos opostos. 3) Segregação adjacente 2: centrómeros homólogos seguem para a mesma célula filha 4) Segregação 3:1 5) Segregação 4:1 Uma translocação é robertsoiana envolve dois cromossomas acrocêntricos, e os mecanismos de formação podem ser: 1) Fusão centromérica: dando origem a um cromossoma monocentromérico. 32 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 2) Quebra no braço curto de um dos cromossomas e no braço longo do outro cromossoma: dando origem a um cromossoma monocentromérico. 3) Quebra em ambos os braços curtos dos cromossomas: dando origem a um cromossoma dicêntrico. Inserção: tipo não recíproco de translocação. Mecanismo de formação: envolve três quebras, um segmento é removido de um cromossoma e é inserido num cromossoma diferente na sua orientação habitual ou invertida. São relativamente raras. Consequências: portador normal ou uma prole com deleção ou com duplicação do segmento inserido. As duas combinações desequilibradas dão origem a indivíduos com aneuploidia parcial, ou seja, com trissomia parcial, ou seja, com trissomia parcial (dup) ou com uma monossomia parcial (del). O risco de um portador (heterozigótico) ter um filho normal depende do tamanho do segmento inserido que terá implicações no tamanho da trissomia ou da del. São muito problemáticas, especialmente quando envolvem segmentos muito pequenos. Maiores riscos reprodutivos. Mosaicismo: detecta dois ou mais complementos cromossómicos diferentes no mesmo tecido. Pode ser numérico (mais comum) ou estrutural e ocorrer na mitose (mais comum) ou na meiose. Mecanismo de formação: não disjunção numa divisão mitótica pós-zigótica, que pode ser inicial ou não e, consequentemente poderá ser um: 1) Mosaicismo completo: se ocorreu na primeira divisão mitótica, com o resultado de metade das células serem trissómicas e metade monossómicas. 2) Mosaicismo parcial: ocorre quando a não disjunção acontece numa fase adiantada à formação do zigoto, com o resultado de três linhas celulares: normais com 47 cromossomas e com 45. 33 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Organização do sistema nervoso – generalidades O sistema nervoso está dividido em sistema nervoso central (SNC), onde ocorrem as funções superiores, várias funções em resposta a estímulos externos (cérebro; espinal medula; retina) (eg. Aprendizagem e memória) e periférico (SNP) que faz a ligação do SNC ao membros e órgãos. Este divide-se em SN somático motor que faz a coordenação dos movimentos do corpo e recepção de estímulos externos (consciente), e em SN autónomo que por sua vez se divide em simpático, ligado ao plexo solar (adrenalina. Resposta ao perigo; aumento do ritmo cardíaco) e parassimpático, ligado ao nervo vago (acetilcolina. Resposta de relaxamento. Diminuição do ritmo cardíaco; estimulação do sistema digestivo e urinário e constrição da pupila). Neurónios aferentes ou sensoriais: trazem impulsos até ao SNC Neurónios eferentes ou motores: levam impulsos do SNC Neurónio (Cap. 27): célula tipicamente dotada de prolongamentos, ou processos, dos quais o axónio, único, propaga os sinais eléctricos para fora do centro da célula, ou pericário, enquanto as dendrites conduzem os sinais em direcção ao pericário. Pericário: parte do neurónio que contém o núcleo, de configuração arredondada, fusiforme, pirimidal ou poliédrica. Denomina-se ainda de corpo celular ou soma. Dendrites: prolongamentos relativamente curtos que emergem do pericário sob a forma de troncos primários. Axónio: prolongamento único que emerge do pericário ou de um tronco dendrítico primário. A sua porção terminal é constituída por um penacho de 34 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 ramificações amielínicas e, tendo nestas (botões terminais) como ao longo dos axónio amielínicos (botões de passagem), há dilatações arredondadas ou fusiformes sucessivas, designadas por varicosidades ou botões axonais. Aí se estabelecem contactos sinápticos com espinhas dendríticas, hastes dendríticas ou pericários de outros neurónios. Mielina: ao isolar electricamente grande parte do axónio, a mielina permite que a despolarização que ocorre em cada nódulo de ranvier se propague a grande velocidade ao nódulo seguinte. Sinapses: uma característica dos neurónios é o estabelecimento de contactos célula a célula para a propagação do impulso nervoso. As sinapses clássicas procedem da seguinte forma: oposições de duas membranas de prolongamentos neuronais, um botão axonal pré-sináptico e uma espinha dendrítica pós-sináptica. O terminal ou botão pré-sináptico contém vesículas de conteúdo claro, habitualmente esféricas nas sinapses assimétricas (excitatórias), em que a membrana pós-sináptica apresenta uma densificação do lado citoplasmático, e discóides ou achatados nas sinapses simétricas (inibitórias), em que não existe espessamento ou densificação pós-sináptica. As vesículas pré-sinápticas acumulam de encontro à fenda sináptica e contêm um mediador químico que, quando excretado para a fenda sináptica, vai provocar a despolarização da membrana pós-sináptica no caso de se tratar, de um mediador excitatório ou hiperpolarização no caso de mediadores inibitórios. As sinapses descritas são químicas dada a intervenção de um neurotransmissor de composição definida. Porém, existem também junções de hiato entre membranas neuronais, em que a propagação de célula a célula do potencial de acção não sofre retardamento. Trata-se de contactos através dos quais a onda de despolarização se propaga livremente, como no axónio, que se denominam sinapses eléctricas. 35 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Propriedades fundamentais do neurónio: o neurónio pode ser visto como uma célula especializada na utilização de canais iónicos de forma a maximizar as capacidades de excitabilidade, condutibilidade e transmissão. A bomba de sódio – potássio (Na+/K+) que desloca três moléculas de Na+ para o exterior da célula por cada duas moléculas de K+ que coloca no interior, cria um excesso de K+ e uma baixa concentração de Na+ na face interna da membrana por comparação com a externa. O potencial de repoiso da membrana afasta-se ligeiramente do potencial de equilíbrio de K+. O Cl- (cloro), que existe em grande concentração no exterior da célula, distribui-se passivamente através da membrana atingindo o equilíbrio para concentrações intracelulares muito baixas. O aumento ou a redução do número de canais iónicos que contribuem para o potencial de repouso, tal como variações nas concentrações intra e extra celulares de Na+ e K+, pode causar ligeiras variações do potencial de repouso, afectando os padrões de disparo nos neurónios. Tipos de neurónios: Unipolares: são, no mamífero, muito raros. Bipolares: possuem uma só dendrite, que se estende em direcção oposta à do axónio. São comuns na retina. Multipolares: mais frequentes, as dendrites são múltiplas. Vias de activação celular Todas a principais vias de activação têm como resultado final a variação da expressão de um ou mais genes. Após a estimulação das células por um qualquer agonista, que pode ser uma hormona, factor de crescimento, neurotransmissor, antigénio ou outros, a detecção da variação da concentração desse agonista é sinalizada por dentro da célula através do aumento ou diminuição da actividade de enzimas que funcionam sequencialmente e que constituem uma via de sinalização. 36 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Sinalização intracelular Transdução do sinal – tradução do sinal da célula Como é que o sinal chega à célula e induz uma determinada acção? 1. Síntese e libertação da molécula sinalizada para a célula secretora. 2. Transporte até à célula alvo. 3. Ligação ao receptor específico, com alteração conformacional. Transdução do sinal 4. Inicio de vias intracelulares de transdução do sinal. 5. Alteração da função, metabolismo ou desenvolvimento celular. 6. Desactivação do receptor e remoção da molécula sinalizada. Quais são as moléculas extracelulares sinalizadoras? Hormonas o Testosterona o Estrogénio o Progesterona o Cortisol o Adolsterone o Hormona da tiróide o Insulina o Glucanon Neurotransmissores (tem que ter a capacidade de levar informação à célula) o Acetilcolina o Glicina o Glutamato (reacções do SNC) o Dopamina o Norepinefrina (noradrenalina) o Epinefrina 37 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 o Serotonina o Histamina (alergias) o Àcido aminobuliric Neuromodeladores: Factores de crescimento (condicionam a diferenciação celular das diferentes populações da células) Óxido nítrico e monóxido de carbono Eucosanoides (ajuda a formar outras células e impede a degradação das membranas; essenciais para desencadear as funções celulares – eg. Inflamação; destruição de membranas) Como se processa a comunicação intracelular? Comunicação endócrina: células secretoras longe do alvo Comunicação parácrina: dá-se nos neurónios. A célula que liberta o sinal é adjacente à que recebe Comunicação autócrina: a célula que vai produzir o sinal tem, ela própria, receptores para o mesmo assim, quando produz o sinal pode logo executar a função. Célula alvo e secretora são a mesma. Comunicação através de proteínas membranares: estabelecimento de pontes físicas entre as células. Alteração de electrólitos entre as células. Tipos de receptores celulares Intracelulares Membranares o Ionotrópicos o Metabotrópicos o Receptores acoplados a enzimas o Receptores com actividade enzimática 38 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 GENÉTICA 39 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Polimorfismos e mutações: da variabilidade genética às mutações Bases biológicas e moleculares da variabilidade genética Autores John Langdon Down Waldeyer Sutton e bovery Haeckel Ano 1866 1888 1903 1968 Johannsen 1909 Theodor Boveri 1914 Painter 1923 Barr Tjio e Levan; Ford e Hamerton Lejeun e colaboradores 1990 1949 1956 1959 Nowell 1960 yunis 1976 1985 Miescher Avery, Macleod e McCarthy 1867 1944 Descoberta Síndrome de down Cromossomas “Factores” de Mendel Núcleo – sede de factores hereditários Gene – unidade básica da hereditariedade Teoria cromossómica do cancro Cromossoma Y; espermatogénese no homem; sexo cromossómico Gene SRY Cromatina sexual (de Barr) 46 Cromossomas Cromossoma 21 supranumerário e existência da síndrome de Down Induzir mitoses em linfócitos circulantes por estimulação com fitohemaglutimina Alta resolução em citogenética; bandeamento cromossómico em células em profase ou prómetafase Hibridação “in situ” em sondas fluorescentes (FISH) Ácido nucleico DNA – molécula com capacidade informacional – transmite informação de 40 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Watson e Crick 1953 Nirenberg, Ochoa e Khorana Donohue Arber, Nathans e Smith Edwin Southern Sanger, Maxam e Gilbert Shine e co-autores 1966 Kan e Dozy 1978 Dausset 1983 Mullis, Faloona e Scharf 1986 1985 1968 1970 1975 1977 1977 1988 Agência americana (FDA) Victor McKusick 1994 2003 geração para geração Base da genética molecular – estrutura em dupla hélice do DNA Código genético Mapeamento de um gene Enzimas de restrição Método “Southern blot” Sequenciação de DNA Clonagem do 1º gene humano 1º RFLP como marcador de ligação genica Centro de estudos do polimorfismo humano PCR Projecto do genoma humano Organização para o genoma humano 1º Organismo – tomate – geneticamente modificado Total de genes mapeados – 8783 Consequências da variabilidade genética O aumento da complexidade de uns seres vivos em relação aos outros terá muito a ver com a selecção de formas mais sofisticadas de regulação da expressão genica e com a duplicação de genes já existentes. Como factores mais significativos da diversidade humana encontram-se as mutações. A diversidade humana resulta do efeito aditivo dos genes e das suas mutações, da interacção entre as alterações genéticas devidas a mutações, da capacidade de adaptação ao meio e da selecção decorrente de doenças. As variações subjacentes à diversidade podem ser contínuas ou descontínuas. As contínuas estão associadas à expressão de vários genes (poligenia) em conjugação com 41 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 a acção do meio ambiente. Pelo contrário, as variações descontínuas permitem uma classificação em classes e são de causa monogénica. Diferentes polimorfismos de DNA o RFLP (restriction fragment length polymorphism): fragmentos de DNA de diferentes tamanhos, observáveis após digestão do DNA por enzimas de restrição. Na análise por RFLP’s um bocado de DNA quebra-se em bocados mais pequenos através de enzimas de restrição e estes fragmentos resultantes são separados de acordo com o comprimento pelo gel de electroforese. Ex: EcoRi reconhece a sequencia e corta o DNA. o VNTR (Variable number of tandem repeats): – maior variabilidade – fragmentos de DNA que se repetem em tandem (lado a lado) um determinado número de vezes. As sequências de bases que se repetem podem ser: microssatélites (STR – short tandem repeats) unidades repetitivas constituídas por sequências com 2 a 4 pares de bases. Encontram-se dispersos sobretudo por regiões codificantes do genoma e são particularmente susceptíveis a erros de replicação. São muito polimórficos, i.e., muito informativos. o SNP (Single nucleotide polymorphisms): polimorfismos por substituição de um nucleótido, de grande densidade. Constitui 80% a 90% da variabilidade do DNA. Tipicamente com 2 alelos. São menos variáveis que os STR’s, mas mais estáveis. Pouco informativos. o CNV (Copy number variations): duplicações de deleções de longos segmentos do DNA, podendo incluir vários genes. (dentro da normalidade sem dar patologia) o Haplótipos: Blocos de SNP’s próximos que são herdados em conjunto. São fenómenos únicos. Havendo crossing-over na meiose podem ficar separados se não estiverem tão juntos. 42 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 o Tag SNP: SNP alvo (snipes) corresponde à tentativa de identificação de quais são os polimorfismos que identificam um conjunto (haplótipo). Diferença entre polimorfismo e mutação patogénica Um polimorfismo acontece quando as formas alternativas de um gene ou de uma sequência intergénica, têm uma frequência igual ou superior a 1% numa população. São consideradas variações normais numa população, pelo que nenhuma das formas afecta significativamente o seu portador. É uma fonte de variabilidade. As variações são consideradas raras quando a frequência é menor que 1%. Os polimorfismos de DNA são herdados de uma forma mendeliana, i.e., permitem múltiplas combinações de pares de alelos para um determinado lócus, em indivíduos diferentes. A mutação é uma alteração patogénica permanente provocada na sequência de DNA. Associa-se a uma elevada probabilidade de doença. Podem ocorrer por substituição de bases ou por rearranjos. As mutações podem ser: espontâneas, quando a probabilidade de ocorrência de uma mutação num gene depende de factores intrínsecos, ou induzidas (mais frequentes) quando a probabilidade de ocorrência de uma mutação num gene depende de factores extrínsecos – mutagéneos. Sendo assim, um polimorfismo faz com que haja mais susceptibilidade a doenças complexas e a mutação a doenças monogénicas. Tipos de mutações pontuais Mutações pontuais: podem resultar da substituição de uma base por outra, ou da inserção ou deleção de uma única base. Normal: CAA TTC CGA CGA Val Lys Ala Ala Mutação Sinónima: mesmo com uma base diferente codifica o mesmo aminoácido. CAA TTT CGA CGA Val Lys Ala Ala 43 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Mutação missense: um aa é substituído por outro porque houve uma troca de bases significativa. O codão passa a codificar outro aa. CAA CTC CGA CGA Val Glu Ala Ala Mutação Nonsense: apanha um codão stop (ATC) que não tem correspondência e pára aqui a síntese. (codão stop prematuro). Codão ATC não especifica nenhum aa. CAA ATC CGA CGA Val Deleção com frameshift: reagrupa-se porque desaparece uma base e então a proteína torna-se completamente diferente. CAA _ TCC GAC GA Val Arg Leu … Stop Inserção com frameshift: reagrupa-se porque aparece uma base e então a proteína torna-se completamente diferente. CAA TTT CCG ACG A Val Lys Gly Cys … Consequências que cada mutação pode ter na expressão génica A caracterização da patogenicidade de uma mutação é demonstrada quando segrega com a doença em famílias, quando é rara na população geral (inferior a 1%) e quando têm um efeito funcional na proteína resultante. A gravidade das consequências das mutações depende das alterações que provocam a nível da capacidade funcional da proteína que codificam e do impacto dessa função no organismo no seu todo. Algumas mutações não acarretam grandes problemas (eg, daltonismo). Outras alterações acarretam doenças graves (eg. Fibrose quística; Coreia de Huntington; algumas formas de cancro). Pode acontecer que mutações diferentes no mesmo gene originem fenótipos patológicos diferentes (heterogeneidade alélica). Uma mutação pode afectar apenas uma função ou, por outro lado, provocar a alteração de diversas funções ou estruturas do organismo (efeito pleiotrópico). Quando uma mutação ocorre numa fase do desenvolvimento ontogénico posterior á determinação celular que origina as células germinais e não atinge estas 44 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 células, a mutação não se transmite à descendência. É uma mutação somática que, naquela família, afecta apenas o indivíduo em causa e origina uma eventual condição esporádica de doença (eg. mutações somáticas responsáveis pelos casos esporádicos de cancro), estas mutações podem ser letais e levar à morte da célula ou permitir a sua divisão, instalando-se no genoma das células filhas. Mecanismos pelos quais uma mutação sinónima pede ser patogénica A presença de um codão alternativo para um mesmo aa pode interferir com a precisão e a velocidade da transcrição de RNAm e com a velocidade e a precisão da tradução devido à reduzida disponibilidade de moléculas de RNA de transferência específicas. Mecanismos pelos quais variantes genéticas em regiões não codificantes podem ser patogénicas As mutações podem ser muito extensas e visíveis por microscopia de luz, implicando alterações do número de cromossomas (eg. Ganho ou perda de cromossomas) ou da estrutura dos cromossomas (eg. translocações, inversões ou inversões), ou podem ser de menor dimensão (eg. mutações génicas). A nível do gene podem traduzir em deleção parcial ou integral de um gene, em duplicação ou inserção de um gene, ou ainda em alterações de um ou mais codões ou de uma ou mais bases. Quanto ao local, as mutações podem ocorrer em regiões génicas codificadoras (exões) ou em regiões não codificadoras (intrões, regiões flanqueadoras em posição 5’ em que se encontram sequencias reguladoras da expressão génica, sequencias flanqueadoras em posição 3’, bem como em locais das extensas regiões intergénicas). As mutações que ocorrem em exões alteram o RNAm e, na maioria das vezes, a composição em aa das proteínas. As mutações em regiões não codificadoras, habitualmente, não afectam a composição das proteínas em aa. Mesmo as mutações que ocorrem em exões podem não afectar a sequência de aa das proteínas, sobretudo se ocorrerem no terceiro nucleótido de cada codão, o que, na maioria das vezes, não altera o aa, devido à degenerescência do código genético. Refira-se, no entanto, que as mutações em regiões não codificadoras também podem afectar a expressão genica (eg. uma mutação do primeiro intrão do gene da globina β que, ao provocar “splicing” 45 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 anormal, origina níveis reduzidos de RNAm para esta globina, com acção patogénica traduzida em talassémia β). Mutações dinâmicas e as suas consequências patológicas As mutações dinâmicas consistem na expansão do número de unidades repetitivas tipicamente constituídas por tripletos presentes num determinado gene ou na sua vizinhança. Em condições normais, um indivíduo é portador de um número reduzido de tripletos repetidos sequencialmente. A expansão repetitiva do número de tripletos presentes no progenitor ocorre durante a meiose durante fases precoces do desenvolvimento fetal devido à instabilidade mitótica pós-zigótica, ou ainda durante as duas fases. A transmissão das expansões correspondentes às mutações dinâmicas pode ocorrer por via paterna e materna (eg. distrofia miotónica), apenas por via materna (eg. síndroma do X-frágil) ou apenas por via paterna (eg. Coreia de Huntington). Até um certo número de unidades repetitivas, a expansão não afecta a expressão normal do fenótipo, designando-se esta fase de pré-mutação. O número de unidades repetitivas não se mantém constante durante o processo de transmissão entre as gerações podendo aumentar ou diminuir. A partir de um determinado número de tripletos, que varia consoante as doenças, observa-se um efeito patogénico em relação com essa expansão. As sequencias repetitivas são erros de emparelhamento durante a replicação do DNA. A partir do limiar fica tão instável que aumenta cada vez mais a cada meiose. Podemos dizer então que as mutações dinâmicas são a expansão patológica do número de repetições. (CAG) = 4- Cadeia molde → 3’ – CAG – CAG – CAG – CAG – 5’ (CAG) = 5- Cadeia nova → 5’ – CAG – CAG – CAG – CAG – CAG – 3’ A dosagem genica poderá ser importante, se a proteína for um receptor pertencente a uma via de sinalização cujo grau de activação é determinante se as proteínas competirem para um determinado receptor ou enzima. Fenótipos dominantes ou recessivos, haploinsuficiência e dominância negativa 46 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 As mutações de um gene podem ser de natureza dominante, recessiva ou dominante negativa. Nas mutações dominantes há expressão fenotípica em heterozigotía, independentemente do mecanismo subjacente, enquanto que nas mutações recessivas apenas ocorre expressão do fenótipo em homozigotia para a mutação. A natureza dominante de uma mutação pode ser devida a um ganho de função, a aquisição de nova função (eg. mutações da α1-antitripsina que convertem a sua actividade inibidora sobre a elastase, em actividade inibidora sobre a trombina com consequentes perturbações hemorrágicas graves) ou à produção de uma proteína mutada com efeito tóxico (eg. polineuropatia amiloidótica familiar, em que a transtirretina mutada tem uma maior resistência à proteólise, o que conduz a multimerização e acumulação se fibrilhas dentro das células). O ganho de função pode ocorrer por efeito de dosagem genica, ou por aumento da actividade enzimática. A natureza recessiva de uma mutação está associada à perda de função motivada por uma mutação que conduza à inactivação física ou funcional de um gene. Como resultado, e se foi afectado apenas um alelo de um lócus autossómico (condição heterozigótica), faltam 50% da quantidade de proteína codificada em condições de homozigotia para o alelo normal. Habitualmente, não há consequências patogénicas significativas, desde que o efeito de dosagem genica não se verifique par os produtos do lócus em causa. Se os dois alelos sofreram mutação, há ausência completa da proteína codificada e instalam-se as consequências patológicas correspondentes. Nos casos de haploinsuficiência, embora haja heterozigotia (Aa), com perda de função de um alelo e produção de 50% de proteína normal pelo outro alelo, o facto de a quantidade de proteína produzida não ser suficiente para manter a função normal, vais expressar-se como condição dominante (eg. mutação de um dos alelos do lócus que codifica os receptores das lipoproteínas de baixo peso molecular – LDLs – que está subjacente a uma condição de hipercolesterolémia familiar de natureza autossómica dominante. Na presença de heterozigotia, a concentração de colesterol circulante duplica e o risco para a doença coronária cardíaca aumenta significativamente). As condições dominantes negativas também resultam de uma mutação de natureza não dominante num dos alelos. O genótipo presente é heterozigótico (Aa). Nestes casos, há 50% de proteína normal e 50% de proteína mutada, em termos de monómeros produzidos. A proteína mutada, isoladamente, não provoca expressão de fenótipo anormal. Contudo, se o produto do gene actuar como complexos multiméricos, 47 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 a percentagem de moléculas com actividade funcional pode ser muito reduzida (eg. proteína antioncogénica TP53 – molécula que forma complexos funcionais tetraméricos). Pleiotropismo: caracteriza-se pelo facto de uma mutação de um único gene tem reflexos na expressão de vários fenótipos pelo facto de uma única proteína actuar em diversos órgãos do corpo humano (eg. mutações do gene FBN1 – Síndrome de Marfan – ao afectarem a produção de fibrilina, uma proteína constitutiva do tecido conjuntivo com participação em múltiplos tecidos, têm consequências a nível ocular, cardiovascular e esquelético). Penetrância incompleta podemos dizer que, a penetrância de um alelo é uma condição de “tudo - ou - nada” e tem a ver com a frequência de expressão de um alelo numa população. Um alelos está presente e é expresso ou não. A penetrância de um alelo é dada pela proporção de indivíduos com manifestação da doença ou carácter, num determinado universo de indivíduos portadores do alelo mutado. A penetrância é completa quando um alelo se exprime em 100% dos portadores e incompleta se apenas uma parte dos portadores de um alelo evidencia e sua expressão. A penetrância incompleta não afecta a transmissão do alelo mutado do portador à descendência e a sua possível expressão em descendentes. É frequente nas doenças autossómicas dominantes (eg. polidactilia e retinoblastoma). A penetrância tardia reduz a selecção natural conduzindo a um aumento da frequência da doença na população, enquanto que, a penetrância precoce, quando conduz à morte antes da puberdade ou inibe ou dificulta a reprodução, reduz a frequência do alelo mutado na população. A penetrância pode ser influenciada pela presença de outros genes e por factores ambientais. Pode, por isso, variar entre diversas famílias. Expressividade variável: podemos dizer que se refere à intensidade com que um gene é expresso: pode variar desde uma forma fruste até uma forma grave, em termos de fenótipo observado em diversos membros de uma família, portadores da mesma mutação de um gene (eg. neurofibromatose tipo I – a expressividade é variável ao ponto de um progenitor com manifestações frustes que não permitem a sua detecção clínica, poder transmitir o alelo mutado a um descendente e neste haver a expressão grave da mutação). Esta poderá dever-se ao efeito de genes modificadores cujos produtos 48 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 interajam com os produtos dos alelos mutados, a heterogeneidade alélica, ou ainda factores ambientais. Heterogeneidade alélica: pode acontecer que as diferentes mutações de um gene originem diversas patologias e não só variações de intensidade de uma entidade nosológica (eg. diferentes mutações do gene FGFR2 podem originar três diferentes síndromas com craniosinostose: síndroma de Pfeiffer, Síndroma de Crouzon e Síndroma de Jackson-weiss). Heterogeneidade genética: significa que fenótipos semelhantes podem ter diferentes etiologias genéticas (eg. lábio leporino – várias etiologias: cromossómica, monogénica; multifactorial, terotogénica). As causas endógenas que podemos referir para a origem das variantes genéticas são: cromossómicas, por alterações numéricas ou estruturais dos cromossomas, monogénicas, por mutação num gene ou multifactoriais ou complexas, que são poligénicas e dependentes de factores ambientais. Como causas exógenas podemos referir o meio em que se insere, radiações UV, raios - X, mutagénicos químicos. 49 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Regulação da expressão genica A regulação da expressão génica ocorre no contexto de uma rede complexa de interacções entre os genes e o meio e de efeitos pleiotrópicos. Uma mesma proteína pode ter diversas funções. Um gene pode originar mais do que um RNAm e, consequentemente, mais do que uma proteína. No que respeita à quantidade, é aparente que uma célula em que um gene se apresente com um número de cópias superior ao normal, passa a codificar um maior número de cópias de RNAm e, subsequentemente, um excesso de proteína que pode afectar o equilíbrio funcional e conduzir a comportamentos celulares anormais. Uma redução do número de cópias ou a ausência de qualquer cópia do gene pode igualmente conduzir a anomalias a nível celular por redução ou falta do produto codificado. Estas condições resultam do efeito de dosagem genica. A qualidade do produto codificado por um gene, pode ser modificada de uma forma fisiológica por “splicing” alternativo, ou por uma mutação que não afecte a viabilidade da célula nem a transcrição do gene em causa. A variável tempo é aparente na expressão sequencial de diversos genes com funções idênticas, que estão activos em determinadas fases e aquiescentes noutras fases (eg. hemoglobinas). Para ilustrar a variável lugar sejam lembradas as experiências que demonstram a regressão do fenótipo tumorigénico observada quando células de teratocarcinoma são inseridas no ambiente de um blastocisto, dependendo da reversão do fenótipo tumorigénico do lugar em que são inseridas, para além da quantidade de células transferidas. No âmbito patológico, o desenvolvimento da generalidade das neoplasias e de um número considerável de doenças não neoplásicas está associado a alterações da expressão genica. A regulação da expressão genica ocorre a vários níveis: DNA, transcrição de RNA, processamento de RNA, tradução e pós-tradução. Ao nível da transcrição: a regulação da transcrição de um determinado gene, nos seres eucariotas superiores, envolve sequências promotoras e sequencias intensificadoras. A sequência promotora está localizada imediatamente antes do ponto em que se inicia a transcrição. A sequência intensificadora pode-se localizar antes da sequência promotora 50 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 à distância de algumas quilobases, a seguir ao gene, interposta no próprio gene ou ainda na cadeia de DNA complementar do gene em causa. Um promotor típico apresenta, numa zona próxima da sequência a ser transcrita, a sequencia TATAAT (“TATA” box), cuja função é determinar o local preciso de inicio da transcrição e a cadeia que serve de modelo, pela ligação nessa região da polimerase do RNA. Outra região do promotor, um pouco mais afastada do inicio da transcrição, apresenta um conjunto de sequências designadas por elementos promotores de montante (UPEs, “upstream promotor elements” – têm como função controlar a velocidade de transcrição, regulando a frequência da sua iniciação). A sequência intensificadora da transcrição aumenta a velocidade de transcrição, controlada de um modo basal pela sequência promotora, aumentando o número de moléculas de polimerase do RNA que se movem ao longo do gene, promovendo a sua transcrição. Há dois tipos de sequências intensificadoras: as que respondem a alterações do meio ambiente (induzíveis) (eg. factores de crescimento e hormonas esteróides) e as que são activadas apenas em momentos específicos durante o desenvolvimento do organismo, ou somente em tecidos específicos (intensificadores específicos de tecido ou do período de desenvolvimento) (eg. genes das imunoglobulinas). A especificidade dos intensificadores está relacionada com a disponibilidade, no local e no tempo, de determinadas proteínas, designadas factores de transcrição, que também actuam sobre as sequências promotoras. Estes factores, ao ligarem-se às duas sequências promotora e intensificadora, promovem a sua aproximação mercê a exclusão do DNA interposto, pela formação de uma ansa. A ligação da polimerase do RNA ao promotor é providenciada pela ligação dos factores de transcrição às sequências reguladoras do gene, não se verificando na ausência desses factores. A especificidade dos factores de transcrição poderá estar na origem da especificidade de algumas infecções virusais para determinadas células ou tecidos de uma espécie animal, cujos factores de transcrição se liguem aos elementos regulares dos genes virusais, permitindo a sua transcrição. Há outras sequências de DNA denominadas “silenciadoras”, cuja função é reprimir a transcrição, quando ficam sob a influência de factores específicos, exercendo um controlo negativo da transcrição. “Splicing” alternativo: o “splicing” consiste na introdução de alterações da sequência original dos exões. Desta forma, a célula pode gerar diferentes RNAm a partir de um único gene e, consequentemente, produzir diferentes proteínas. O “splicing” alternativo vaio demonstrar que o dogma “um gene, uma proteína” não é defensável como verdade 51 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 absoluta. Ao “splicing” alternativo pode-se associar o recurso pela célula a promotores alternativos (eg. processamento diferencial do gene da calcitonina envolvendo mecanismos de splicing alternativo: na tiróide forma-se a calcitonina e no hipotálamo forma-se o péptido CGRP, com funções tróficas e de neuromodelação. Em conjugação com a peliadenilação alternativa, a partir do mesmo RNA são formados diferentes tecidos porque os segmentos seleccionados são diferentes). Edição do RNA: O DNA transforma-se em RNA e esse é alterado nas suas sequências. Mecanismo de regulação da expressão genica raro que permite alterar a sequência de nucleótidos de RNAm. A produção local de proteínas é importante para o desenvolvimento das sinapses de SNC e está dependente do transporte do RNAm para esses locais. Ao nível da pós-transcrição / tradução: microRNAs (miRNAs): pequenas moléculas de RNA com cerca de 22 nucleótidos que funcionam como reguladores antisense de outros genes (inibição da expressão genética). Formam-se a partir de moléculas precursoras mais longas, provenientes de intrões transcritos de proteínas (25%) ou a partir de transcritos primários não codificantes (75%). Inibição da expressão genética por microRNAs: os miRNAs provavelmente interferem no controlo da expressão genica da maioria dos genes codificadores de proteínas. Unem-se a um complexo proteico, RISC (RNA-induced silecing complex) e é o complexo funcional miRISC que vai inibir a expressão genica, ligando-se à região 3’UTR do mRNA do gene alvo, impedindo assim a tradução ou levando à degradação enzimática do mRNA alvo. Cada miRNA pode inibir a tradução de vários mRNAs. Para uma inibição eficaz, geralmente é necessária a ligação de diferentes miRNAs ao mesmo mRNA alvo. 52 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Ao nível da pós-tradução: A regulação pode ser operada pela clivagem das proteínas por proteases, pela disponibilidade de outras proteínas ou intrões, pela eventual organização em oligómeros, bem como pelo grau de fosforilação ou de glicosilação. Na verdade, um polipeptídeo pode não ser funcional na forma em que é produzido a nível robossómico, como ocorre com o pepsinogénio ou a pró-insulina, sendo necessária a sua clivagem prévia para que a molécula possa actuar. Por outro lado, a clivagem depende de enzimas presentes no ambiente em que se encontra o produto. A modificação da estrutura de um polipeptídeo pode ainda ocorrer por acção de proteases que levem à sua cisão em diferentes locais, de modo a originar com actividade diferente em função do local em que se opera a cisão. Mecanismos epigenéticos: A regulação da expressão genica ocorre no contexto de uma rede complexa de interacções génicas, de interacções entre genes e o meio e de efeitos pleiotrópicos. A alteração da expressão de genes é reversível, por factores naturais, p.e., se ocorrerem ao nível dos gâmetas pode ser transmitido às gerações seguintes. Entres os mecanismos epigenéticos podem incluir-se: a diferenciação celular, a lionização, o imprinting…) Diferenciação sexual na espécie humana através da regulação da expressão genica Os genes responsáveis pela codificação das hormonas sexuais localizam-se nos autossomas (eg. a g´nada bipotencial WT1, na presença do cromossoma Y (SRY) forma o testículo, se o cromossoma Y estiver ausente forma os ovários). Em relação ao testículo, o que aontece é o seguinte: as células de Sertoli, na presença da hormona antimuleriana (HAM), fazem com que haja uma regressão dos canais de Muller; as células de Leydig, na presença da testosterona, formam o epidimio, vesículas seminais e o canal deferente). 53 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Principais metodologias de estudo de biologia molecular e suas aplicações PCR: reacção de polimerização em cadeia. Amplificação exponencial selectiva de uma pequena quantidade de cópias de DNA. Desnaturação da dupla cadeia de DNA ligam-se os primers, para que de seguida a temperatura oscile, formando ciclos que dependem de estudo para estudo – RT-PCR. Vantagens: sensibilidade, facilidade, rapidez, especificidade. Desvantagens: conhecer a sequência a estudar, contaminação e limitação da extensão RFLP: recurso a enzimas de restrição para diferenciar dois cromossomas homólogos quando a região polimórfica estudada exibe um padrão de restrição diferente para um par enzima de restrição/sonda de hibridação, o que equivale a serem informativos. Com este teste, se o padrão obtido com um determinado marcador se encontra em ligação com indivíduos doentes, quando se usam as mesmas condições para um familiar e um padrão se repete, pode afirmar-se que mesmo na ausência de doença, há uma elevada probabilidade de o gene causador da doença estar presente. Pela presença do marcador, pode-se assim predizer, de forma indirecta, a eventual ocorrência ou ausência da doença no futuro, pela ligação do marcador ao gene com a mutação patogénica. Sequenciação: descreve uma sequência de nucleótidos, permitindo determinar a ordem pela qual as bases constituem um fragmento de DNA. O DNA é desnaturado de maneira a fazer pequenas cadeias que depois formam uma cadeia maior que as iniciais. Microarrays: recorre á hibridização para detectar uma mutação entre milhares de fragmentos de DNA ou a expressão de um determinado gene. Na placa de suporte, em largos milhares de pontos, separados e bem identificados, estão absorvidas sondas de DNA com cerca de 20pb, destinados a detectar a presença de eventuais mutações patogénicas em determinados genes, ou noutras sequências em estudo. O DNA genómico é fragmentado com enzimas de restrição, os fragmentos são marcados com um fluorocromo, desnaturados e passados pela placa. 54 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Hereditariedade mendeliana autossómica dominante, recessiva e ligada ao sexo Doenças genéticas: são multifactoriais ou complexas. Várias variantes genéticas em simultâneo e em conjunto com o meio. Estas podem ser: Monogénicas: por mutação num gene (1,4%); Poligénicas: por mutação de vários genes; Multifactoriais: poligénicas e dependentes de factores ambientais (5,6%); Cromossómicas: por alterações numéricas ou estruturais dos cromossomas (0,6%). Fenocópia: há a noção de que a expressão de um fenótipo é devida a uma determinada mutação a nível de um gene. Contudo, um fenótipo que mimetiza a expressão de um genótipo pode ser produzido por acção de factores ambientais, independentemente de uma alteração genica específica. Se este mecanismo ocorrer em diversos membros de uma família, pode ser imitada uma condição hereditária (eg. microcefalia (1/10.000) que pode ter origem genética, mas também pode ser esporádica, causada por factores não genéticos. Nos descendentes de mães fenilcetonúricas que não controlem os níveis de fenilalanina durante a gravidez, encontra-se microcefalia ainda que o recém-nascido seja heterozigótico, condição que não afectaria o fenótipo. A microcefalia é devida ao ambiente fetal decorrente de hiperfenilalaninémica materna. Trata-se de uma fenocópia devida ao efeito teratogénico da hiperfenilalaninémia. Esta patologia, como fenocópia, pode ter outras causas como seja a ingestão de álcool em excesso pela mãe, durante a gravidez. Neste caso, aparece integrada mas manifestações da síndrome fetal alcoólica). Hereditariedade mendeliana: Autossómica dominante: os genes relacionados com condições de hereditariedade autossómica dominante localizam-se num dos 22 pares de cromossomas autossómicos. Um gene com duas formas alélicas: o alelo A, como forma mutada dominante e o alelo a, como forma normal do gene. Nos casos de dominância, o fenótipo determinado pelo genótipo heterozigótico (Aa) é igual ao fenótipo determinado pelo genótipo homozigótico para a forma mutada do alelo (AA). Na dominância 55 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 incompleta, a presença do genótipo heterozigótico (Aa) origina um efeito fenotípico intermédio entre a homozigotia para a mutação dominante (AA) e a homozigotia para a forma normal do alelo (aa), sendo possível diferenciar os efeitos fenotípicos dos dois genótipos devido a uma expressão mais acentuada da condição homozigótica. Os dois sexos são afectados, os dois sexos transmitem a doença em igual proporção, manifesta-se em heterozigotia e transmite-se verticalmente. CASO: se ocorrer o casamento de dois indivíduos heterozigóticos para o alelo mutado (Aa) haverá probabilidade de 3 em 4 (75%) de ter descendentes com o carácter ou doença (Aa ou AA) e de 1 em 4 (25%) de ter um descendente normal (aa). Autossómica recessiva: também se localiza em cromossomas autossómicos. Um lócus em que a homozigotia para o alelo normal seja representada por (aa) e a condição homozigótica para o alelo recessivo por (AA). A natureza recessiva de uma mutação traduz-se por perda de função do alelo mutado, ou seja, o alelo não se exprime. Em heterozigotia (Aa) conserva-se 50% da actividade por expressão do alelo normal, o que é frequentemente suficiente para assegurar a função do gene. Embora os heterozigotos sejam habitualmente normais em termos clínicos, podem ter manifestações clínicas. Por vezes, as mutações recessivas a nível molecular ou celular, em que a mutação de um alelo equivale à perda de função, podem produzir, a nível familiar, um padrão de transmissão hereditária dominante. Os dois afectados são afectados e transmitem em igual proporção. Hereditariedade do tipo horizontal. A taxa de consanguinidade dos pais de crianças afectadas é mais elevada que na população em geral. Recessiva ligada ao X: diz respeito a caracteres ou doenças determinados por genes localizados no cromossoma X. Nas mulheres há dois cromossomas X. como é raro haver homozigotia para o loci do cromossoma, as doenças hereditárias recessivas ligadas ao X exprimem-se, habitualmente, com excepção das anomalias associadas às regiões pseudo-autossómicas. Nos casos de mutação em genes ligados 56 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 ao X, em que é possível estabelecer a diferença entre a falta parcial e a falta completa do produto codificado (eg. deficiência em G6PD), podem ser definidos 3 fenótipos nas mulheres: um fenótipo correspondente à presença dos dois alelos normais, outro intermédio associado a heterozigotia e um terceiro correspondente à presença dos dois alelos mutados. CASO: em casamentos ao acaso, a probabilidade de ocorrência dos dois alelos mutados é igual ao quadrado da frequência da doença no sexo masculino. Nos indivíduos do sexo masculino, apenas se identificam dois fenótipos: um correspondente à hemizigotia para o alelo normal e o outro correspondente a ausência de produto devido à mutação do único alelo presente no sexo masculino. A hereditariedade é considerada oblíqua. Os homens são quase sempre os únicos afectados, a transmissão do alelo mutado aos filhos de um casal verifica-se através de mulheres portadoras não afectadas, a transmissão de uma mutação entre indivíduos do sexo masculino não é observada em gerações sucessivas, mas um alelo mutado causador de doença numa geração, pode ser transmitido a um neto passando por uma filha portadora obrigatória. CASO: um homem doente por uma mutação localizada no X (XmY) casado com uma mulher normal, tem todas as filhas portadoras, por receberem do pai, obrigatoriamente, o gonossoma X com a mutação. Num casamento de um homem normal com uma mulher portadora (XmX), as filhas são normais e metade dos filhos será afectado. No casamento de um homem doente com uma mulher portadora, metade dos descendentes será normal e a outra metade será afectada. Dominante ligada ao X: inclui condições determinadas por alelos localizados em loci do cromossoma X, com mutações dominantes. É um tipo de hereditariedade pouco frequente. Manifesta-se nas mulheres heterozigóticas (XdX) e homozigóticas (XdXd) e nos homens hemizigóticos (XdY). A presença de um único alelo mutado no sexo feminino (heterozigotia) está associada à menor severidade do que no sexo masculino, uma vez que apenas metade das células exprimem o alelo mutado devido à 57 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 lionização. Um homem doente transmite a doença a todas as suas filhas, enquanto que os seus filhos serão todos normais. Uma mulher doente heterozigótica que case com um homem normal transmite a doença a 50% da descendência, independentemente do sexo. Uma mulher homozigótica transmite a doença a doença a todos os seus descendentes. Nas famílias há maior número de mulheres afectadas comparativamente com o número de homens afectados. Neomutação: acontece quando nem o pai nem a mãe apresentam a mutação. Mosaicismo gonadal: sendo que o mosaicismo diz respeito á presença num indivíduo de células com diferente constituição genética, oriundas de um mesmo ovo, no mosaicismo gonadal há múltiplas espermatogónias ou ovócitos com a mutação, a par de células germinais sem a mutação. O gene mutado pode ser transmitido a vários descendentes. Habitualmente, a mutação não se expressa no portador do mosaicismo gonadal, por a mutação não estar presente na generalidade das células somáticas (eg. osteogénesis imperfecta tipo II, a hemofilia, a DMD, a esclerose tuberosa e a acondroplasia). Lionização: p.e., a lionização do cromossoma X é a inactivação de um dos cromossomas X na mulher. Heriditariedade Holândrica: também conhecida como hereditariedade ligada ao Y (eg. genes ligados ao cromossoma Y – SRY, gene MIC2). Neste tipo de hereditariedade só o homem portador da mutação do cromossoma Y (Yd) exprime e transmite o gene, que se manifesta sempre. Todos os filhos do sexo masculino de um homem afectado recebem o alelo existente no cromossoma Yd (paterno). Em condições normais de disjunção cromossómica a ma ausência de recombinação anormal, nenhuma filha é portadora. 58 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Hereditariedade não mendeliana: mitocondrial, imprinting e multifactorial Hereditariedade não mendeliana: pode ser poligénica, multifactorial, mitocôndrial e imprinting genómico. o Hereditariedade mitocôndrial: assenta na informação genética transmitida pelo DNA mitocôndrial. Associadas ao DNA mitocôndrial de uma célula podem encontrar-se duas condições: homoplasmía, que se traduz na presença de identidade do DNA mitocôndrial numa célula, seja normal ou mutado e heteroplasmía: designa a condição em que coexistem DNA mitocôndrial normal e mutado na célula. As mutações do DNA mitocôndrial desempenham um papel significativo no desenvolvimento de doenças crónicas degenerativas. A natureza materna da transmissão hereditária do DNA mitocôndrial deve-se ao facto de as mitocôndrias de origem paterna serem eliminadas após a penetração do espermatozóide no ovócito. A doença é sempre transmitida por via materna. A descendência, homem ou mulher, é doente. O homem afectado tem descendência saudável e pode observar-se heterogeneidade nos indivíduos afectados. o “Imprinting” genómico: de acordo com os conceitos clássicos da genética mendeliana, um gene comporta-se do mesmo modo, independentemente do sexo do progenitor através do qual foi herdado para o descendente. No entanto, apesar de este conceito continuar a ser verdadeiro para muitos caracteres genéticos, calcula-se que haverá cerca de 1% dos genes humanos cuja expressão não é independente do sexo do progenitor, estando sujeitos a “imprinting” genómico. Este consiste numa modificação epigénica da expressão genica, de natureza reversível, que inibe a expressão de um alelo em gerações sucessivas, em função do sexo do progenitor que o transmite. O “imprinting” materno é o processo em que a inactivação de um alelo resulta da sua passagem por um progenitor do sexo feminino, e “imprinting” paterno é quando a inactivação ocorre no progenitor masculino. 59 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 o Hereditariedade multifactorial: os caracteres ou doenças que resultam do efeito aditivo dos produtos codificados por vários genes e da interacção entre os produtos génicos e o meio ambiente. Nestas condições não se encontra um gene de forma saliente, no “meio ambiente” incluem-se as influências da natureza física, química ou biológica exercida “in útero” ou após o nascimento, ou seja, todos os factores de natureza não genética que influenciam o fenótipo. A conjugação diferenciada dos factores ambientais e genéticos associados a uma condição multifactorial, nos membros de uma população, determina a susceptibilidade maior ou menor de cada indivíduo para desenvolver a doença ou carácter em causa (“liability”). Geram-se assim variantes fenotípicas com diferentes frequências na população que se distribuem de forma a originar a curva de Gauss. O limiar definido para a população normal vai abranger uma maior percentagem de indivíduos afectados, dado haver um acréscimo de casos resultantes do peso dos factores hereditários, que se soma à percentagem de indivíduos afectados na população geral. Dissomia uniparental: forma muito rara de hereditariedade. Pode ocorrer como heterodissomia ou como isodissomia. Heterodissomia uniparental: o complemento cromossómico diplóide é constituído por um par de cromossomas homólogos que provém de um mesmo progenitor. A sua ocorrência dever-se-á à não disjunção na primeira divisão da meiose. Isodissomia uniparental: o par cromossómico em causa tem igualmente origem num único progenitor, mas resulta da duplicação de um dos cromossomas do par homólogo. A isodissomia dever-se-á à não disjunção na segunda divisão da meiose. É ainda necessário, para que não ocorra trissomia, que haja perda do cromossoma oriundo do progenitor que contribuiria apenas com um cromossoma. Se um dos gâmetas for nulissómico por não disjunção para um determinado cromossoma, a fecundação por um gâmeta haplóide normal 60 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 dará origem a um zigoto monossómico para o cromossoma envolvido o qual, por duplicação, poderá originar isodissomia uniparental. Se um gâmeta normal for fecundado por um gâmeta nulissómico e houver não-disjunção subsequente também originará isodissomia. A influência do sexo do progenitor na regulação da expressão de alguns genes, implica que, para o desenvolvimento normal de um novo ser, possa não bastar um genoma diplóide quando ocorre heterodissomia ou isodissomia uniparental. Se houver heterodissomia ou isodissomia uniparental para genes que sofrem “inprinting” podem-se desenvolver doenças por falta de expressão de um gene que o “imprinting” tenha tornado inactivo ou porque há expressão de dois alelos idênticos mutados porque não ocorreu “imprinting” (eg. cerca de 20 a 30% dos casos de síndroma de Prader-willi são devidos a heterodissomia uniparental materna para o cromossoma 15. A heterodissomia uniparental paterna para o cromossoma 15 é responsável por casos de síndroma de Angelman. Há ainda casos de síndroma de Beckwithwiedeman em que está em causa a isodissomia uniparental paterna para o cromossoma 11, com origem pós-zigótica. Uma condição de isodissomia uniparental parece também estar subjacente a dois casos raros de fibrose quística em que apenas um dos progenitores era heterozigótico para a mutação e houve lugar a um descendente homozigótico doente. Estudos de gémeos: devem ser considerados em separado os gémeos verdadeiros e os falsos gémeos. O efeito do ambiente e dos genes sobre o fenótipo, após o nascimento, pode ser analisado quando os gémeos são separados e criados em ambientes diferentes. É assim possível definir o grau de concordância para um determinado traço ou doença, pela proporção de pares de gémeos em que há coincidência na expressão fenotípica nos dois gémeos, em relação ao total de pares de gémeos observados. Há concordância quando um carácter ou doença é ou não partilhado pelo par de gémeos e discordância quando um dos membros do par de gémeos exprime o fenótipo em causa e o outro não o exprime. Entre gémeos monozigóticos: a concordância é de 100% para condições monogénicas de penetrância completa, em que o ambiente não interfira na expressão, sejam elas dominantes ou recessivas. Mesmo que os gémeos tenham sido separados e vivam em ambientes diferentes, tal facto não afecta a concordância. 61 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Para falsos gémeos e para condições de penetrância completa, a concordância será de 50% nos casos autossómicos dominantes e de 25% nos casos autossómicos recessivos. Nos caracteres influenciados pelo sexo, os pares de gémeos dizigóticos devem ser do mesmo sexo para que o estudo possa ser realizado. Para condições multifactoriais, a concordância entre gémeos monozigóticos será menor que os 100% antes referidos, dada a confluência de factores ambientais com factores genéticos, na determinação do fenótipo. Ainda assim, haverá maior concordância entre gémeos monozigóticos do que entre gémeos dizigóticos, se os factores genéticos forem preponderantes. A concordância será aproximada para gémeos monozigóticos e para gémeos dizigóticos se os factores preponderantes forem ambientais e fossem partilhados, e for muito reduzida ou nula a influência dos factores genéticos. A partir dos valores da concordância encontrada é possível delimitar a hereditabilidade (h). Hereditabilidade: (h) reflecte a percentagem de efeito fenotípico devido ao componente genético numa condição multifactorial. h = 2 x (Cmz – Cdz) → dobro da diferença entre os valores encontrados para gémeos verdadeiros e para gémeos falsos. Quando os traços ou doenças são fortemente determinados por factores genéticos, o valor de Cmz aproxima-se de 1 e o valor de Cdz aproxima-se de 0,5 pelo que h será próximo de 1. Pelo contrário, à medida que a diferença entre valores de concordância se reduz, o valor de h aproxima-se de 0. Embora os valores da hereditabilidade devam ser considerados como específicos para uma determinada população, é comum encontrar-se sobreposição de resultados entre populações diversas. 62 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Consanguinidade e genética de populações Importância da consanguinidade no aconselhamento genético Entre indivíduos consanguíneos definem-se o coeficiente de consanguinidade e o coeficiente de endocruzamento. O coeficiente de consanguinidade define a probabilidade que há de duas pessoas terem em comum, num determinado lócus, um gene idêntico, herdado de um ancestral comum. Refere-se à percentagem de genes que, entre consanguíneos, são idênticos por ascendência comum: 50% dos genes em comum entre irmãos e entre pais e filhos, 25% entre tio/sobrinho, 12,5% entre primos. O risco genético decorrente de consanguinidade é de considerar para descendentes de casais consanguíneos, mas não para descendentes de casais em que um dos progenitores é descendente de um casal consanguíneo e o outro progenitor é um indivíduo não aparentado. Para calcular o coeficiente de consanguinidade contam-se as linhas que dividem os dois indivíduos através de cada ancestral comum e os passos de cada linha. Número de linhas = k; número de passos = n; relationship = r (proporção de genes que em dois indivíduos são idênticos por terem sido herdados de um ascendente comum. r= 𝑘 𝑛 𝑖=1[(1/2) ] No cromossoma X, o passo entre pai e filha não é contado; a probabilidade de passagem deste gene às filhas é igual a 1, uma vez que só têm um cromossoma X, e esse cromossoma tem que ser transmitido ao descendente para que este seja do sexo feminino. Para genes ligados ao cromossoma Y não há que contar passos. Dois homens, ligados entre si, por uma linha de indivíduos do sexo masculino, que não tenha sido quebrada em nenhum dos passos por um indivíduo afastado, do mesmo sexo, têm o mesmo cromossoma Y e o coeficiente é 1. Se tiver entrado um outro elemento do sexo masculino ou é 1 ou 0. Diz-se que há endocruzamento quando os acasalamentos são feitos entre indivíduos mais relacionados pelo genótipo do que se fossem escolhidos ao acaso entre a população. Nestas condições, define-se o coeficiente de endocruzamento, F, como a proporção de loci para os quais um indivíduo é homozigótico por descendência ou, de outra forma, a probabilidade que existe de os dois alelos de um lócus serem idênticos num descendente de um acasalamento consanguíneo. Este valor é ½ do coeficiente de consanguinidade dos pais do indivíduo considerado. 63 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 1 𝐹= 2 𝑘 𝑖=1 1 [( )𝑛 ], 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎, 𝐹 = 1/2𝑟 2 Para genes ligados ao cromossoma X, o coeficiente de endocruzamento é 0 entre os descendentes de irmãos do sexo masculino, uma vez que não herdaram os genes presentes no cromossoma X do seu ancestral. Quando o coeficiente de endocruzamento é 0, como acontece com o acasalamento ao acaso, a frequência genotípica observada para determinado lócus é igual à esperada pelo equilíbrio de Hardy-Weinberg. O aumento do coeficiente do endocruzamento traduz-se na redução da frequência de heterozigotos numa população. No limite, se o endocruzamento for completo (F = 1), a frequência de heterozigotos é 0, sendo a população constituída apenas por homozigotos. O coeficiente de endocruzamento é útil para prever a probabilidade que há de um filho de consanguíneos ser homozigoto para um gene recessivo, quando se sabe que um antepassado comum dos pais é portador desse gene. Também é útil calcular a probabilidade relativa de ocorrência de doenças em acasalamentos de parentes muito próximos. Nos casos de casais consanguíneos, a probabilidade de um filho herdar as duas cópias de um gene com a mutação é maior do que na população geral, uma vez que descendem de um antepassado comum e podem ter herdado desse antepassado o mesmo gene com a mutação. As consequências podem ser dramáticas nos casos de incesto, em que o risco de alterações graves que incluem o atraso mental e a epilepsia é cerca de 40vezes maior do que na população geral. Equilíbrio de Hardy-Weinberg: a presença de dois alelos presentes numa população tende a manter-se constante ao longo das gerações. Assim, se dois alelos, A e a, se encontrarem numa grande população, respectivamente com a frequência p e q, qualquer que esta seja, após uma relação com acasalamento ao acaso, os três genótipos AA, Aa e aa encontram-se em equilíbrio nas proporções relativas p2 (AA), 2pq (Aa) e q2 (aa). A soma das frequências genotípicas correspondentes aos três únicos genótipos que concorrem para o lócus em causa é igual a 1 (p2 + 2pq + q2). Este equilíbrio mantém-se, de geração em geração, desde que os cruzamentos sejam ao acaso (panmixia), as frequências alélicas sejam iguais no sexo feminino e masculino e não haja uma alteração de frequência dos genes na população por migração, mutação ou selecção. 64 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Uma das suas aplicações mais importantes consiste na determinação da frequência de portadores de uma mutação autossómica recessiva, a partir da frequência de doentes na população geral (eg. fibrose quística, que tem uma frequência de 1 / 2500 e é provocada pela homozigotia para um alelo recessivo (a). Pelo equilíbrio de HardyWeinberg, é possível determinar a frequência do alelo recessivo – q2a = 1 / 2500, ou seja, qa = 1/50 – é também possível determinar a frequência do alelo dominante. A soma das frequências do alelo dominante, que designaremos por A, com a do alelo recessivo é igual a 1. Assim, pA + qa = 1; pA = 1 – qa, ou seja, 1-1/50 = 49/50. As situações que interferem com a lei de Hardy-Weinberg são: Migração: movimento de grupos de indivíduos que chegam a uma região e se misturam com a população autóctone. A entrada de uma determinada percentagem de genes numa população altera a frequência genica verificada antes da migração. Mutação: aparecimento de um gene novo numa população e constitui a fonte de variação genética nessa população. Selecção: refere-se à selecção de um alelo ou alelos, em detrimento de outro alelo cuja ocorrência num indivíduo reduza a sua capacidade para procriar. Equilíbrio entre selecção e mutação: um gene mutado que confira vantagem ao seu portador no processo de selecção natural, acabará por se instalar na população. Deriva genética: fixação de alelos que ocorrem numa população pequena, de tal modo que muitos alelos teoricamente possíveis, considerando uma grande população, nunca ocorrem nessa população a partir de determinado momento, facto que é tanto mais importante quanto mais reduzida for a população. 65 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Frequência alélica e genotípica Se for possível examinar o conteúdo alélico de uma população inteira, relativamente a um determinado carácter, poder-se-á determinar quantos elementos da população têm duas cópias do mesmo alelo num lócus de um determinado para de cromossomas, quantos têm só uma cópia e quantos não têm nenhuma cópia. Para dois ou mais alelos responsáveis por um carácter a razão encontrada entre o número total de cópias de um determinado alelo e o número total de alelos determinado na população considerada, indica a frequência relativa ou proporção com que o alelo estudado ocorre nessa população. A soma das frequências de todos os alelos que concorrem para um lócus é igual a um (eg. pA + qa = 1, no caso de dois alelos). Em cada indivíduo só ocorrem dois alelos (ou só um alelo em duplicado, na forma homozigótica). Nem sempre é possível determinar a frequência de um alelo a partir da sua expressão fenotípica, seja pela detecção directa da proteína, ou seja pela determinação da sua actividade enzimática. As frequências determinadas a partir da actividade enzimática podem ser influenciadas por factores metabólicos ou externos. Vantagem do heterozigoto: a expressão, por dois alelos, em condição heterozigota, de um valor fenotípico para alguma característica que está fora da abrangência dos dois homozigotos correspondentes; uma base possível para heterose, mas não a única. Maior adaptabilidade de um heterozigoto que homozigoto num lócus. Aumento da adaptabilidade doa portadores heterozigotos sobre os homozigotos normais. Também denominada de sobredominância para o valor adaptativo. 66 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 Princípios do aconselhamento genético e dilemas éticos Aconselhamento genético: acto médico em que se salienta a comunicação entre o médico e o doente. Processo pelo qual uma pessoa doente ou os seus familiares em risco para uma doença, que pode ser hereditária, são informados sobre as consequências da doença, a probabilidade de a desenvolverem ou transmitirem e os modos de a prevenir ou melhorar. Pré-implanatório (DPI): permite fazer o diagnóstico de anomalias genéticas em embriões obtidos por fecundação in vitro, antes de serem implantados no útero. Calcula-se que reduza em 95% o risco de um casal portador de uma doença genética grave, transmitir essa doença a um descendente. Tem sido usado em embriões obtidos de casais portadores de mutações associadas a doenças monogénicas, para a determinação do sexo do embrião em casais portadores de doença ligada ao cromossoma X, para detectar complementos cromossómicos anormais em embriões e para identificar embriões portadores d alterações estruturais não equilibradas. Os casais em que tenham ocorrido múltiplos abortos poderão também beneficiar desta técnica. O DPI pode ser realizado para estudar mutações presentes no DNA materno, em um ou dois blastómeros colhidos em embriões com três dias de desenvolvimento ou por biopsia de cerca de 10 células da trofoectoderme do blastocisto. È um método que exige rapidez na obtenção dos resultados, não podendo demorar mais de 48h. Tem como limitação o facto de ter uma eficiência relativamente baixa. Os seus resultados devem ser confirmados por DPN. Os erros associados a DPI em mutações autossómicas são mais frequentes nos casos de natureza dominante em comparação com os casos de natureza recessiva. Se forem usadas duas células em vez de uma, reduz-se a probabilidade de erro. Pré-natal (DPN): realizado no período fetal da gravidez. Permite que os pais tomem decisões com base em factos em vez de cálculos de risco empíricos. Contudo, nenhum teste pré-natal pode garantir que 67 Resumos de Biologia e Genética 2010/2011 um feto será normal, para além da doença investigada e, mesmo nesta, tendo em consideração as limitações do método utilizado. É feito quando: o Idade da mãe é superior a 35 anos. o Existência de um filho anterior portador de cromossomopatia. o Progenitor portador de cromossomopatia equilibrada. o Possibilidade de ocorrência de síndroma de X - frágil. o Risco elevado para doença de causa monogénica. o Abortos múltiplos. o Anomalias detectadas por ecografia. o Suspeita de anomalias fetais sugeridas por rastreio bioquímico. o História de defeitos do tubo neural. o Anomalias múltiplas em filho anterior, ainda que sem diagnóstico médico. o Ansiedade materna. A ecografia é o meio complementar de diagnóstico mais frequentemente utilizado no DPN. A amniocentese é habitualmente realizada às 15 semanas de gestação e a biopsia das vilosidades coriónicas entre as 9 e as 12 semanas de gestação. Neo-natal: justifica-se quando a detecção da deficiência de causa genética é passível de abordagem terapêutica. Rastreio de portadores: pode ser realizado em sub-populações em que haja uma frequência aumentada de alelos de um determinado gene com mutações recessivas, na expectativa de reduzir os casamentos ou as gravidezes entre heterozigotos e de diminuir a incidência da doença. De doentes: deve atender às vantagens e aos inconvenientes do diagnóstico predizente. A sua realização em crianças deve ter lugar apenas quando a expressão da mutação em causa é precoce e há recursos médicos disponíveis para beneficiar o portador da mutação. 68