Efeitos da Nutrição das Reprodutoras Sobre a Progênie Lúcio Araújo, Cristiane Araújo Universidade de São Paulo – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Universidade de São Paulo – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Pirassununga – SP, Brasil – 13635-900 [email protected] Introdução De acordo com estimativas do USDA (United States Departament of Agriculture) a população mundial chegará ao número de 10 bilhões de habitantes até 2050. Uma das maiores preocupações que surgem é como alimentar a este contingente de pessoas, pois atualmente isto seria impossível em virtude da capacidade de produção existente. Existem pelo menos dois caminhos pelos quais se pode alcançar este objetivo; o primeiro seria através do incremento na produção de alimentos, com o crescimento da área plantada de grãos e, segundo, pelo aumento do número de animais produzidos, tanto em quantidade quanto em produtividade. A avicultura representa uma importante atividade no cenário de produção de alimentos para a população, com elevados índices de produtividade. Entretanto, novas tecnologias estão surgindo no mercado as quais podem ser empregadas no setor, garantindo ainda mais a sua eficiência. No último ano foram alojados mais de seis bilhões de pintinhos de corte, fato este que gera a necessidade de conhecer, cada vez mais, a melhor a maneira de nutrir as matrizes que estarão produzindo estas aves. Existe uma máxima intrigante, que soa como uma brincadeira desde os tempos escolares: “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” Essa questão é uma alegoria que transcende sua simples interpretação biológica, podendo ser chamada de paradoxo cíclico de causa e efeito, ou seja, algo de cuja existência depende outra, que por sua vez é a causa da existência de algo. Fazendo uma analogia a este respeito, pode-se transpor esta ideia e através de outra questão: o que é mais importante, a nutrição da matriz ou a nutrição da progênie? Os dois conceitos podem coexistir, pois nos últimos anos, pesquisas têm demonstrado como o desempenho da progênie pode estar relacionado à sua nutrição e bem como à nutrição da reprodutora. Por outro lado, a indústria demonstra cada vez mais interesse em alternativas que viabilizem a produção de pintinhos e, consequentemente, o seu melhor desempenho zootécnico. A Deficiência Nutricional Afeta o Desenvolvimento Embrionário? Embora o foco seja a quantidade de nutrientes que uma dieta precisa fornecer, as aves não entendem de números. Muitas vezes, é comum deparar-se com perguntas que questionam qual o nível mais adequado de determinado nutriente na dieta da matriz. É preciso entender as necessidades da ave de acordo com sua atividade e produção de ovos. Além disso, é necessário conhecer qual o programa de alimentação adotado e como o alimento é distribuído para as aves. A partir do momento que se tem estas informações pode-se conhecer as necessidades diárias dos animais e assim, formular uma dieta que atenda suas exigências. A energia é o combustível para a manutenção do metabolismo basal, mobilidade e a produção dos ovos. Embora não seja um nutriente, a energia é resultado da oxidação metabólica dos demais nutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras). A proteína bruta é a avaliação do conteúdo em nitrogênio de um alimento ou ingrediente. As dietas devem ser formuladas com base em aminoácidos digestíveis, utilizando a avaliação do conteúdo protéico somente para assegurar a qualidade da mistura de diferentes ingredientes. Os nutricionistas são conscientes da importância dos macrominerais na nutrição das matrizes. Entretanto, existem boas evidências que demonstram que os níveis de microminerais, especialmente o zinco e o manganês, exercem um impacto positivo na progênie. A deficiência vitamínica causa uma variedade de deformações embrionárias e pode afetar severamente a eclosão das aves. Ademais, pode ser provocada por baixos níveis de suplementação, pela suplementação de fontes de baixa qualidade ou pela baixa ingestão destas vitaminas através da dieta. De acordo com Whitehead et al., (1985), ao contrário do que acontece com a energia e proteína, o conteúdo vitamínico e mineral de um ovo é dependente do seu fornecimento na dieta das matrizes e, deficiências ou excessos, podem afetar a qualidade e posterior desempenho da progênie. Além disso, existem evidências de que uma nutrição adequada das matrizes pode afetar positivamente o desempenho e a resposta imune da progênie. Vale ressaltar que, as exigências da reprodutora para mantença e reprodução não são as mesmas para uma adequada produção de pintinhos de qualidade. A Tabela 1 demonstra os efeitos da deficiência dos principais nutrientes na dieta das matrizes sobre o desenvolvimento embrionário. Tabela 1 – Efeito da deficiência de diferentes nutrientes na dieta das matrizes sobre o desenvolvimento embrionário Nutriente Efeitos ↓ “Energia” + ↑Proteína ↑ Mortalidade embrionária Vitamina A ↓ Produção e eclodibilidade Vitamina E ↓ Eclodibilidade Vitamina D ↑ Mortalidade embrionária B12 ↓ Produção e eclodibilidade Ácido pantotênico ↓ Eclodibilidade, afeta empenamento, pintinhos com incoordenação Riboflavina Afeta desenvolvimento embrionário Tiamina Polineurite e mortalidade embrionária Manganês ↓ Eclodibilidade e ↑anormalidades embrionárias Cálcio Afeta desenvolvimento embrionário Fósforo Afeta desenvolvimento ósseo embrionário e ↓ Eclodibilidade Zinco ↓ Eclodibilidade, ↑ Mortalidade embrionária e afeta desenvolvimento ósseo Wilson, 1997 (Adaptado) Qualidade do Pintinho A qualidade do pintinho à eclosão pode ser reflexo do padrão de nutrição de uma matriz e, também, das condições de desenvolvimento embrionário da ave durante a incubação, fatores estes que serão determinantes no desempenho do frango de corte durante seu desenvolvimento no campo. A incubação é um processo que requer altos cuidados a fim de que seja possível reproduzir condições favoráveis para que o conteúdo de um ovo fértil seja transformado em um pintinho de um dia. Quando ocorre uma incubação adequada, o desenvolvimento da ave é favorecido havendo possibilidade de otimização do seu potencial genético. Em todo mundo, o setor de incubação compreende quão sensível é este processo e quais são os desafios que o envolvem. Porém, o que caracteriza um bom resultado de uma incubação: a quantidade ou a qualidade dos pintinhos? Em geral, o resultado de uma incubação é avaliado pelo número e pelo custo dos pintinhos eclodidos. Embora a eclodibilidade e custo de produção sejam fatores determinantes, é necessário avaliar, também, os efeitos que a incubação podem exercer em todo o ciclo de produção, pois a qualidade do pintinho à eclosão associado às condições adequadas durante o processo de incubação podem influenciar positivamente o desempenho das aves, bem como o rendimento e a qualidade da carcaça. A qualidade do pintinho (Tabela 2) pode ser avaliada através de diferentes métodos, sendo que cada um apresenta característica própria e depende do objetivo da avaliação em questão. Além disso, devem ser práticos, confiáveis, rápidos de executar e incluem características como o peso à eclosão, o comprimento do pintinho, o grau de hidratação, a qualidade do umbigo, dentre outros (Hill, 2001; Wolanski et al., 2006). Entretanto, a relação entre estes métodos e o desempenho da ave são ainda pouco explorados. Durante a incubação, o conteúdo do ovo é usado pelo embrião para a formação do seu corpo. A energia para este processo é oriunda principalmente da gema. No final da incubação, a gema remanescente é internalizada para a cavidade abdominal a qual será absorvida posteriormente, desenvolvendo diferentes funções no organismo das aves. Quando o peso do pintinho à eclosão é avaliado, leva-se em consideração o peso do pintinho e do saco da gema que foi internalizado. Segundo Wolanski et al. (2006), este pode não ser um bom parâmetro de avaliação de qualidade do pintinho e de seu desempenho subsequente já que este peso inclui uma desconhecida quantidade de gema residual. No entanto, existe outra medida que é muito eficiente na avaliação da qualidade do pintinho: o comprimento da ave. Com auxílio de uma régua ou fita métrica apropriadamente fixada em uma superfície de trabalho, verifica-se o comprimento do animal esticado desde o bico até a extremidade distal do dedo mais longo. O comprimento do pintinho tem se mostrado correlacionado ao peso corporal da ave em idade mais avançada, sendo possível fornecer a previsão de seu desenvolvimento futuro. Significa dizer que quanto melhor a eficiência de utilização da energia e dos nutrientes disponíveis durante a vida embrionária, maior será o comprimento do pintinho. Tabela 2 – Parâmetros utilizados para avaliar a qualidade de pintinhos Categoria Descrição Critério de desclassificação Vitalidade Pintinhos com maior vitalidade iniciam Baixa vitalidade a ingerir alimentos mais rapidamente Umbigo Umbigo fechado diminui a incidência Umbigo aberto de infecções Aparência Seco e limpo Pernas Boa qualidade de pernas diminui a “Úmidos” Malformações probabilidade de problemas locomotores na fase de produção Bico Pintinhos com bicos normais Malformações alimentam mais facilmente Olhos Abertos e brilhantes Comprimento Pintinhos maiores apresentam maior Cegos ? desempenho no campo Gema Pintinho sem resíduo de gema aderida Resíduo de saco da gema Nos últimos anos, vários trabalhos têm sido conduzidos na Universidade de São Paulo avaliando os efeitos da nutrição das matrizes e o desempenho de sua progênie. Carotenóides E Vitamina D A maioria das funções fisiológicas depende do balanço entre as espécies reativas ao oxigênio e ação dos antioxidantes. Espécies reativas ao oxigênio são subprodutos metabólicos essenciais para o fornecimento de energia, sinalização química e desintoxicação (Halliwell & Gutteridge, 2006). Contudo, uma superexposição às espécies reativas resulta no estresse oxidativo causando morte celular e, finalmente, ao envelhecimento precoce e eventual doença degenerativa. O estresse oxidativo é reduzido por uma complexa rede de antioxidantes. Nós últimos 20 anos, uma variedade de estudos tem demonstrado que o uso de antioxidantes através da dieta pode melhorar a imunidade dos animais e diminuir a morte celular (Catoni et al., 2008). Os antioxidantes compreendem uma grande variedade de compostos. Contudo, os principais trabalhos publicados avaliando o uso destes antioxidantes sobre a fisiologia animal tem buscado a utilização de carotenóides através da dieta. Os carotenóides são moléculas orgânicas com funções antioxidantes, pigmentantes, próvitamínicas e imunomoduladoras. Os animais e o homem não são capazes de sintetizar esses pigmentos, mas são capazes de fazer algumas alterações fundamentais para a estrutura química. Segundo Bendich & Olson (1989), os carotenóides são associados principalmente com os lipídios dos tecidos e células de origem animal, não sendo sintetizados pelas aves, necessitando serem ingeridos através da dieta, sendo que sua concentração nas membranas está diretamente relacionada com a da dieta. Um dos fatores influencia a deposição de carotenóides é a disponibilidade de grupos funcionais que contenham oxigênio, como hidroxila, acetona, éster ou outros grupos que apresentem características polares. Dentre os carotenóides mais intensamente oxigenados, destacamse a astaxantina, presente na levedura basidiomiceta róseo-alaranjada Xanthophyliomyces dendrorhous e a cantaxantina pigmento das plumas do flamingo, do guará-maranhense e do “champignon” Cantharellus cinnabarinus. Em função da quantidade de oxigênio, os carotenóides desempenham uma importante função na redução da oxidação das membranas o qual pode ser bastante positivo para as funções reprodutivas das aves. O ovo é um produto de origem biológica, de alta qualidade nutricional e que pode ser utilizado na alimentação humana. Entretanto, o ovo pode passar por processos de oxidação lipídica, comprometendo sua qualidade e também influenciando a viabilidade do pintinho que estará sendo formado. A coloração da gema do ovo está diretamente relacionada com a concentração de carotenóides depositados na gema, os quais apresentam uma ação antioxidante. Desta forma, os carotenóides podem agir positivamente na qualidade do ovo a ser incubado e melhorando a produtividade da matriz, pois atuam reagindo com o oxigênio e neutralizando os radicais livres, os quais são nocivos para o embrião. Surai & Speake (1998) avaliaram a suplementação de carotenóides na alimentação de matrizes e sua deposição na gema e nos diversos órgãos dos pintinhos à eclosão, quando observaram uma relação entre a suplementação dos carotenóides na dieta das reprodutoras e sua deposição na progênie (Tabela 3). Segundo os autores, os níveis de carotenóides na gema respondem rapidamente às mudanças que ocorrem em função da suplementação de carotenóide na dieta das matrizes. Em torno de 23 dias após o início da suplementação é possível aumentar em até três vezes a concentração inicial presente na gema. Tabela 3 – Carotenóides total de carotenóides (µg/g de tecido fresco) na gema e em diferentes tecidos de pintinhos, após a eclosão, oriundos ou não de matrizes suplementadas com carotenóides. Controle Carotenóides Dieta 15,0b 96,5a Gema 13,3b 41,1a Membrana da gema 43,7b 122,4a Fígado 35,1b 123,6a Coração 1,9 2,1 Rins 2,2b 4,2a Pulmão 2,4 3,0 Músculo da coxa 1,4 1,8 Plasma 3,1b 9,4a Surai & Speake, 1998. Os sistemas antioxidativos dos embriões se baseiam na combinação de vários antioxidantes, onde os carotenóides representam uma parte essencial neste sistema, em que pode-se destacar a cantaxantina, a qual apresenta uma atividade antioxidante elevada e é facilmente transportada para a gema do ovo e distribuída para os tecidos do embrião (Surai, 2003). Uma vez que a ave não sintetiza carotenóides, os mesmos precisam ser fornecidos através da dieta para que atendam as exigências das aves. Em relação ao papel dos carotenóides como substâncias pró-vitamina A, Surai et al. (2001) afirmaram que menos de 10% desses podem ser convertidos em vitamina A, sendo que nas aves somente o alfa e beta-carotenos e a criptoxantina presentes nos alimentos naturais são capazes de contribuir com o suprimento desta vitamina, portanto a cantaxantina não está incluída neste grupo pro-vitamínico. Ainda segundo estes autores, uma porção dos carotenóides com atividade pró-vitamina A é convertida em vitamina A na mucosa intestinal e uma pequena parte escapa à conversão e entra na corrente sanguínea para ser depositada na gema ou na pele. De acordo com European Comission (2002), a cantaxantina é absorvida no intestino delgado e transportada pelo sangue ao fígado, onde parte é transformada em substâncias intermediárias precursoras de vitamina A, como 4-oxoretinol, e o restante permanece íntegro transportado pelas lipoproteínas aos depósitos alvos. Beardsworth e Henandez (2003) relataram que a atividade pró-vitamina A da cantaxantina tem sido reconhecida e que esta pode ser transformada em vitamina A nas aves quando o nível desta última é limitado na dieta. Surai et al. (2003) reafirmaram que as dietas das aves são suplementadas com retinol sintético e, portanto, a contribuição dos carotenóides derivados do alimento para a formação de vitamina A é mínima. Umas das principais funções da vitamina D é garantir a integridade óssea em animais mamíferos. Entretanto, em aves, a vitamina D desempenha um papel muito importante na manutenção da qualidade óssea e também na melhoria na qualidade dos pintinhos através de sua transferência, através dos ovos, para o embrião que está sendo formado. Em função do desenvolvimento genético experimentado pela avicultura nos últimos anos, um dos grandes problemas enfrentados no campo está relacionado com a qualidade óssea, conduzindo o animal à perda de sua estabilidade e consequentemente a queda no seu desempenho. Desta forma, a associação entre cantaxantina e vitamina D pode assegurar uma melhoria na produtividade das aves. Scher et al. (2009), estudando a adição de 25-OH-D3 (69 ppb de principio ativo), Cantaxantina (60 ppm de principio ativo) e 25-OH-D3 mais cantaxantina, na dieta de matrizes de corte da linhagem COBB 500®. Avaliaram os efeitos desses produtos durante 20 incubações (uma por semana) e verificaram que, as matrizes alimentadas com dietas contendo 25-OH-D3 e cantaxantina, apresentaram melhores taxa de eclosão, eclodibilidade e fertilidade, além de contribuir para uma redução do percentual de mortalidade embrionária durante o período avaliado. Um dos nutrientes que apresentam grande importância para a nutrição de matrizes é a vitamina D, pois a mesma está diretamente relacionada com o metabolismo de cálcio e fósforo na ave. A vitamina D é transferida da matriz para os ovos (Macari, et al 2005) na forma de seus metabólitos, e o embrião utiliza esta vitamina, que estará presente na gema, para a formação de sua estrutura óssea (Rosa et al., 2009). A combinação do uso de cantaxantina + 25OHD3 na dieta das reprodutoras pode melhorar a qualidade óssea da progênie. Trabalhando com aves oriundas de matrizes com 62 semanas de idade, Araujo e Araujo (2013) observaram que o conteúdo mineral e a densidade óssea da progênie de matrizes suplementadas com o carotenóide e a vitamina D, foram comparativamente melhores quando comparados com a qualidade ósseas das aves do grupo controle (Tabela 4). Esta melhoria ocorreu, provavelmente, em virtude da presença da fonte de vitamina D presente na combinação cantaxantina + 25OHD3 que promoveu melhor absorção de cálcio e consequentemente melhorou a sua deposição óssea. Neste estudo foi possível contemplar a melhoria da qualidade óssea dos animais através da utilização da Cantaxantina + 25OHD3, que pode ser utilizado na dieta como um importante aditivo para auxiliar no desenvolvimento ósseo das aves e, consequentemente, na melhoria do seu desempenho e da qualidade da produção de carne. De acordo com Onyango et al., (2003), a qualidade óssea pode ser utilizada como um indicador de nutrição mineral adequada das aves, sendo que os principais minerais relacionados com a mineralização óssea são o cálcio e o fósforo (Reichmann & Connor, 1977; Ali, 1992; Watkins, 1992; Rath et al., 1999). A mineralização óssea afeta a sua resistência e uma mineralização deficiente está associada ao aumento de problemas locomotores das aves (Blake and Fogelman, 2002). A presença de problemas locomotores em um sistema de criação resulta na diminuição do consumo de ração o qual afetará o ganho de peso das aves em frangos de corte ou a qualidade e o número de ovos produzidos. Métodos invasivos e não invasivos têm sido utilizados para avaliar a qualidade óssea de frangos de corte (Rao et al., 1993). O teor de cinzas ósseas, volume ósseo, peso ósseo e resistência óssea são alguns dos métodos invasivos. Conteúdo mineral e densidade óssea podem ser consideradas como métodos invasivos ou não invasivos, podendo ser utilizados com os animais vivos ou não. De uma maneira geral, todos os métodos descritos podem ser utilizados para a determinação da qualidade óssea e serem úteis para auxiliar o nutricionista. Tabela 4 – Características ósseas de pintinhos oriundos de matrizes alimentadas ou não com cantaxantina + 25OHD3 (62 semanas) Matrizes Progênie Controle Cantaxantina + 25OHD3 SEM P Mineral ósseo, g 2,64b 3,03a 0,27 0,017 Densidade óssea, g 0,187b 0,204a 0,12 0,005 Araujo e Araujo (2013) Leveduras A rentabilidade da produção avícola ocorre em função de seu desempenho o qual depende da viabilidade, da taxa de crescimento ao abate, da eficiência alimentar e do rendimento de carcaça (Hocking, 2008). Trabalhos desenvolvidos por pesquisadores em diferentes partes do mundo enfocaram, principalmente, a determinação das exigências nutricionais de frangos de corte e até mesmo a utilização de aditivos na sua alimentação. De uma forma geral, as pesquisas desenvolvidas com matrizes de corte, buscavam resultados relacionados à quantidade de ovos produzidos por ave/ano, a taxa de fertilidade e de eclodibilidade (Wilson, 2007). Entretanto, nos últimos anos, pesquisas têm sido desenvolvidas procurando relacionar os efeitos da nutrição de matrizes sobre o desenvolvimento da progênie, principalmente avaliando o uso de minerais na dieta de reprodutoras, havendo poucos relatos avaliando o uso de leveduras na fase de reprodução e seus efeitos sobre o desenvolvimento de frangos de corte. As leveduras são as mais antigas fontes de proteínas unicelulares. Na alimentação animal, as leveduras, principalmente Saccharomyces cerevisiae têm sido utilizadas por décadas através do uso de subprodutos da indústria de fermentação. No mercado, são encontradas leveduras com diferentes características as quais são resultado de diferentes processos de produção, dentre as quais se podem destacar as leveduras hidrolisadas. As leveduras hidrolisadas são resultado da fermentação alcóolica da cana-de-açúcar a qual apresenta em sua composição, disponível para utilização pelos animais, a parede celular, que é composta principalmente por β-glucanos e mananoligossacarídeos, os quais parecem ter impacto no sistema imunológico e habilidade em prevenir a colonização de bactérias patogênicas no trato gastrointestinal, e o conteúdo celular, que apresenta nucleotídeos livres, os quais apresentam efeito sobre a saúde intestinal dos animais aumentando o crescimento e influenciando positivamente a flora bacteriana em monogástricos. Araujo et al. (2009 a,b) avaliaram a utilização de extratos de leveduras na alimentação de matrizes e seu efeito na progênie e observaram um efeito positivo no desempenho das reprodutoras e de sua progênie. Existem diferentes trabalhos (Barbalho, 2009, Yonemura, 2011) avaliando o uso de levedura hidrolisada na alimentação de frangos de corte destacando seus efeitos positivos sobre o desempenho, havendo escassez de informações, ainda, do seu uso na dieta de matrizes. Araújo et al. (2012) avaliou a suplementação de levedura hidrolisada na alimentação de matrizes pesadas sobre o seu desempenho e o da progênie (Tabela 5). Foi observado que o uso da levedura hidrolisada proporcionou uma melhora em 2,1% na produção de ovos (P<0,05). Ademais, ocorreu também uma melhora na fertilidade e na eclodibilidade de ovos incubados e de ovos férteis. Entretanto, o uso das diferentes dietas, não proporcionou efeitos significativos na gravidade específica (P>0,05). Com relação à progênie (Tabela 6), o melhor desempenho foi apresentado pelas aves oriundas de matrizes alimentadas com a dieta hidrolisada quando comparado ao desempenho de pintinhos oriundos de matrizes do tratamento controle, resultando em melhor ganho de peso e conversão alimentar (P<0,05). Estes resultados foram observados em pintinhos de matrizes com 35 e 45 semanas. Os resultados encontrados neste trabalho demonstram a importância da nutrição de matrizes pesadas. Quando a matriz consome uma ração, a prioridade de utilização dos nutrientes é para a manutenção dos órgãos vitais, seguidos do metabolismo ósseo e crescimento muscular e, por último, a reprodução. Isto ressalta a importância do fornecimento de uma dieta nutricionalmente equilibrada que irá garantir as necessidades de mantença e de produção, não esquecendo, porém, que a super-alimentação resultará no acúmulo de gorduras que afetará a produção de folículos e, consequentemente, o desempenho reprodutivo da ave (Araújo et al., 2010). Tradicionalmente, muitas pesquisas têm sido direcionadas para identificar os nutrientes e os limites que maximizam a produção e a eclodibilidade de ovos de matrizes, investigando seus efeitos sobre a produção e a imunidade da progênie. É conhecido que o crescimento e o desenvolvimento embrionário adequado são dependentes de um completo fornecimento dos nutrientes depositados no ovo. Consequentemente, o status fisiológico do pintinho à eclosão é grandemente influenciado pela nutrição das matrizes. De acordo com Whitehead et al., (1985), ao contrário do que acontece com a energia e a proteína, o conteúdo vitamínico e mineral de um ovo é dependente do seu fornecimento na dieta das matrizes e, deficiências ou excessos, podem afetar a qualidade e posterior desempenho da progênie. Além disso, existem evidências de que uma nutrição adequada das matrizes pode afetar positivamente o desempenho e a resposta imune da progênie. Vale ressaltar que, as exigências da reprodutora para mantença e reprodução não são as mesmas para uma adequada produção de pintinhos de qualidade. O uso de levedura hidrolisada, através do conceito de sua utilização, protege o trato digestório contra a ação de micro-organismos, e fornece nucleotídeos para ser usado pelo epitélio intestinal, o que normalmente resulta em uma melhora da saúde intestinal. Consequentemente, com uma melhor saúde intestinal, haverá um aumento na absorção de nutrientes o que acarretará em melhoria do desempenho dos animais. Tabela 5 – Desempenho de matrizes recebendo ou não levedura hidrolisada na dieta. Tratamentos Controle Levedura hidrolisada Valor de P Producão % Fertilidade % Eclodibilidade incubados, % Eclodibilidade férteis, % 74.26b 75.85a 0.018 95.08b 96.77a 0.023 85.24b 89.33a 0.011 89.15b 91.44a 0.006 Araujo et al., 2012 Tabela 6 – Desempenho de frangos de corte oriundos de matrizes recebendo ou não levedura hidrolisada na dieta Tratamentos Consumo, g Ganho, g Conversão, g/g 35 Semanas Controle 5.482 3.298b 1.66b Levedura hidrolisada 5.578 3.454a 1.61a P 0,327 0,042 0,040 45 Semanas Controle 5.505 3.244b 1,70b Levedura Hidrolisada 5.514 3.457a 1,60a Valor de P 0,417 0,027 0,035 Araujo et al., 2012 Ácido Guanidínico Acético O ácido guanidínico acético (GAA) é o único precursor imediato de creatina no organismo, o qual se apresenta como um composto natural em animais vertebrados e em aves. O GAA é formado dos aminoácidos glicina e arginina, principalmente nos rins, de onde é transportado para o fígado, sítio de maior transformação de GAA em creatina. Descoberta em 1832, a creatina é uma amina nitrogenada que atua como uma reserva energética na musculatura a qual alivia as necessidades de energia em condições anaeróbicas. Sua síntese ocorre no fígado, pâncreas e rins (Borsook and Dubnoff, 1940; Gerber et al., 1962) e se inicia através da interação da arginina e glicina em uma reação de transaminação (Bloch and Schoenheimer, 1940) resultando em guadinoacetato e ornitina (Bloch and Schoenheimer, 1941; Koszalka and Bauman, 1966). A metiltransferase catalisa a transferência de um grupo metil da adenosilmetionina para o guadinoacetato formando a creatina (Du Vigneaud et al., 1941) – Figura 1. Após sua formação, a creatina é carreada através do sangue e penetra na musculatura esquelética contra um gradiente de concentração através de um transportador dependente de Na+ e Cl- (Daly and Seifter, 1980; Fitch and Shields, 1966; Garcia-Delgado et al., 2001; Guimbal and Kilimann, 1993; Ku and Passow, 1980; Loike et al., 1988).. No músculo, o ATP fosforila a creatina em uma reação catalisada pela creatina quinase (Cantoni and Vignos, 1954), na presença de Mg (Cohen,1951). A fosforilação da creatina continua até que o ATP e a fosfocreatina encontrem o nível de energia que levam a reação da creatina quinase em equilíbrio. Na musculatura esquelética, a fosfocreatina compreende 2/3 da creatina e o 1/3 restante, é composto de creatina. O ciclo da creatina finaliza quando a mesma é convertida em creatinina, sendo excretada pela urina (Devlin, 1992). A creatina não está presente em todas as células. Normalmente ela está confinada em células que apresentam uma alta, mas, variável demanda de energia, particularmente as células musculares. A demanda de creatina para o animal pode ser suprida diretamente através de ingredientes de origem animal ou pela síntese endógena. A creatina tem despertado grande atenção por agir como um substância ergogênica utilizada principalmente por atletas para melhorar sua capacidade de construção muscular. Substâncias ergogênicas são definidas como substâncias que possuem a habilidade de melhorar o desempenho físico. Arginina Glicina Adenosil Metionina Transamidinase Ornitina Metiltransferase Guadinoacetato Creatina Figura 1 – Síntese de creatina As primeiras pesquisas avaliando o uso da creatina como um suplemento nutricional, iniciaram-se na década de 40 quando Almquist et al. (1941) suplementaram a dieta de frangos de corte com creatina e observaram que o seu uso aumentou a concentração de creatina no músculo e melhorou o crescimento das aves. Estes aumento na concentração de creatina muscular é particularmente importante porque a creatina fosforilada é responsável pelo fornecimento de energia para o músculo quando o fornecimento de oxigênio é baixo. A influência da creatina no metabolismo protéico não tem até então o mecanismo esclarecido. Porém, estudos demonstram que a suplementação prolongada da creatina pode ser capaz de promover maior síntese de tecido muscular em decorrência do aumento das miofibrilas ou da diminuição da proteólise (Kreider, 2003). Além disso, a creatina é uma molécula osmoticamente ativa tendo dessa forma a capacidade de carrear água para o espaço intracelular, contribuindo assim para a síntese de proteínas (Harris et al, 1992). Animais domésticos alimentados com dietas desprovidas de ingredientes de origem animal pode apresentar deficiência de creatina. Desta forma, a utilização de dietas vegetais requer o uso de uma fonte de creatina ou de seu precursor, o GAA. Desta forma, o GAA pode economizar a utilização da arginina, da mesma forma que a creatina. O uso de GAA em animais jovens pode ser muito importante devido à alta taxa de metabolismo apresentada nesta fase, pela necessidade de deposição protéica, e na suprema importância no manejo da energia cardíaca, em aves de rápido crescimento. A creatina, como aditivo alimentar, apresenta alguns inconvenientes como sua instabilidade e seu alto custo, quando comparado com o GAA. Vários trabalhos têm avaliado o uso da creatina ou do GAA na alimentação de frangos de corte. Halle et al., (2006) não encontraram efeitos consistentes no desempenho e rendimento de carcaça com o uso de 05 a 10g/kg de creatina na dieta, enquanto Stahl et al. (2003) encontraram pequena melhora na conversão alimentar com o uso de creatina na dieta. Ringel et al. (2007) encontraram melhora no desempenho e no rendimento de peito de aves suplementadas com GAA na dieta (0,6 – 1,2 g/kg). Entretanto não há relatos na literatura do uso de GAA na dieta de matrizes pesadas. Avaliando a utilização do GAA na alimentação de matrizes pesadas no período de 50 a 60 semanas (Tabela 7), Araújo e Araújo (2013) não observaram efeitos para produção de ovos e mortalidade embrionária. Entretanto, houve uma melhora na fertilidade e eclodibilidade dos animais. Tabela 7: Efeitos do ácido guanidínico acético na produção de ovos, mortalidade embrionária, fertilidade e eclodibilidade Parâmetros Ácido Guanidínico Acético % 0.0 Produção de ovos, % 52.12 0.04 0.08 0.12 0.16 SEM P 50.42 53.18 53.44 50.50 5.99 0.604 Mortalidade Embrionária Inicial, % 4.29 6.11 4.40 2.38 3.17 8.16 0.514 Intermediária % 3.20 3.43 2.99 1.12 2.08 3.15 0.399 Final % 3.00 3.27 3.03 3.17 5.66 5.89 0.591 Bicados % 1.39 4.98 1.21 3.03 3.17 3.74 0.121 Contaminados % 2.73 1.67 1.12 2.78 2.64 7.26 0.222 Fertilidade % 80.27b 85.15ab 96.51a 96.43a 81.76b 12.09 0.063 Eclodibilidade % 65.66b 65.59b 83.76a 83.95a 65.04b 17.88 0.014 Médias, na mesma linha, com letras diferentes, diferem estatisticamente pelo teste deTukey (p<0.05) e (p<0.07). Estes resultados concordam parcialmente com aqueles encontrados por Murakami et al. (2012) os quais suplementaram as dietas de codornas com GAA e observaram uma melhora na produção de ovos, redução na mortalidade e melhora na eclodibilidade. Embora não tenha sido determinada a concentração de creatina nos ovos, a sua suplementação através do GAA resultou em melhora na fertilidade e eclodibilidade dos ovos, através de mecanismos que precisam ser mais bem estudados. As matrizes geralmente possuem alto valor agregado na cadeia de produção das aves, portanto, qualquer fator que possa aumentar o número de pintinhos produzidos, certamente determinará a maior lucratividade do setor. O aumento do número de pintinhos é considerada uma necessidade das Indústrias, portanto, a introdução de novas tecnologias nutricionais ou um novo processo de incubação parece ser de grande interesse do setor. De acordo com Araujo et al. (2010), várias pesquisas têm sido realizadas para identificar aqueles nutrientes que proporcionam a melhor produção e a melhor eclodibilidade dos ovos. É sabido que o desenvolvimento embrionário é dependente dos nutrientes depositados nos ovos e que os minerais e as vitaminas são tradicionalmente estudados a fim de observar o seu efeito na melhora dos índices reprodutivos e na eclodibilidade dos ovos, contudo, nenhum estudo tem sido realizado até o momento para avaliar o efeito da creatina na reprodução das aves, uma vez que, elas são geralmente alimentadas com ração produzida exclusivamente por ingredientes vegetais, ou seja, uma dieta limitada em fonte de creatina. O corpo sintetiza a creatina enzimaticamente no fígado e nos rins a partir de dois aminoácidos (arginina e glicina) com consequente metilação pelo S-Adenosilmetionina. Estima-se que 50% das necessidades diárias do animal são atendidos pela síntese endógena, e que, o restante precisa ser suprido pela dieta (Ringel et al. 2007). Por outro lado, não se sabe como o potencial genético das aves modernas influencia a demanda de creatina corporal e na síntese de novo da creatina. Conclusões A nutrição de matrizes é uma área que precisa ser mais investigada com o intuito de melhorar a sua produtividade. Os trabalhos disponíveis demonstram uma relação positiva entre a nutrição das reprodutoras e o desenvolvimento da progênie sendo que o grande desafio é definir o limite que une os dois pontos desta cadeia da produção avícola. Referências Bibliográficas Sob consulta aos autores.