A FORMA PECULIAR DE PRODUZIR NAS ILHAS FLUVIAS DO RIO SÃO FRANCISCO, EM PIRAPORA-MG Angela Fagna Gomes de Souza –Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] Geraldo Inácio Martins – Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claro [email protected] Rodrigo Herles dos Santos – Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Suzana Graziele de Souza - Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] Termos para Indexação: Pirapora, rio São Francisco, ilhas, agricultores Introdução Todo trabalho tem uma história, aquela que se apresenta como marco de nossos questionamentos. Na geografia encontramos algumas peculiaridades, permitindo diversificar, ver outros horizontes geográficos e interpretar outras manifestações no espaço. O que objetivamos é chamar a atenção, sobre a necessidade de sermos criativos na escolha dos nossos campos teóricos, para produzirmos reflexões novas e avançarmos no quadro das explicações dos fenômenos sócio-espaciais dentro dos limites teóricomedotológicos da Geografia. Sendo assim, somos observadores, como se buscássemos apreender ou decifrar suas formas, conteúdos e dinâmicas. Portanto, lançamos nosso olhar aos significados diferentes, articulando saberes e pessoas, informações e lugares. Enfim, um olhar que está atento à extensão rural do município de Pirapora-MG. É neste meio, onde observamos formas diferenciadas de inserção no espaço rural, de um lado os grandes fazendeiros, que se lançam na tarefa de fazer a terra produzir através da inserção maciça de capital e na busca continuada pelo lucro, e de outro, os pequenos produtores camponeses que buscam na terra o sustento para suas famílias. Ambos ocupam um espaço, e fazem dele seu meio de sobrevivência. A partir daí percebemos as distintas formas de construção e reconstrução dos lugares, entrelaçando fios que se unem formando tramas, redes que se desdobram sob cenários de vida e de trabalho. Estas interações revelam um campo de relações bastante fecundo e ao mesmo tempo complexo, passando por questões agrárias, agrícolas e ambientais. São interações que insinuam uma correlação entre as diversas estruturas da vida rural, formas culturais de manejo e produção (sejam tradicionalmente estabelecidas ou modernizadas) e formas culturais de significação através de modos de vida diferenciados entre os agricultores. O cenário da pesquisa busca a perspectiva de interpretar as modificações ocasionadas pela modernidade perante as pequenas comunidades tradicionais de agricultura camponesa que habitam as ilhas fluviais do rio São Francisco no município de Pirapora. Assim, pretendemos estudar as diferentes formas de inserção no mundo rural do município, passando à análise das relações e dos modos de vida característicos existentes entre os produtores destas localidades. De maneira geral buscamos ainda compreender a formação do espaço agrário das ilhas fluviais do rio São Francisco, no trecho de Pirapora-MG, bem como, a forma com que os agricultores interagem com o meio ambiente, se organizam socialmente e produzem nesse espaço. Material e métodos Como referência empírica, o ‘lócus’ de investigação é composto por três ilhas fluviais localizadas no rio São Francisco compreendendo a extensão geográfica do município de Pirapora-MG. Analisamos a relação dos modos de vida e trabalho entre os agricultores no município de Pirapora-MG, através da elaboração de uma base teórica que fundamentasse a pesquisa. Delimitamos conceitos como: agricultura, modernização, espaço, lugar, território e modos de vida que caracterizamos de essencial importância para construirmos um campo teórico interpretativo, ou seja, um modelo de investigação baseado na interconexão de várias técnicas que oriente a leitura dos dados obtidos nas visitas de campo. Foram realizadas visitas de observação participante que permitiu captar os elementos básicos das práticas cotidianas do trabalho e dos sujeitos participantes da pesquisa. As pesquisas de campo foram feitas visando caracterizar a localidade em estudo, além de abordar com coerência a descrição, análise e as reflexões das modificações espaciais ocorridas no município ao longo dos anos. Procuramos contemplar questões importantes para a investigação como, por exemplo, a interação do homem, sua forma de trabalhar e produzir neste espaço. Após as visitas de campo procuramos interpretar e analisar os dados obtidos em depoimentos, registros audiovisuais e material cartográfico, procurando compreende-los a luz do campo teórico que propomos pesquisar. Resultados e Discussão O espaço agrícola do município de Pirapora-MG, inserido na área de cerrados, passa por grandes transformações sócio-espaciais que mudaram a dinâmica ambiental das famílias viventes nesta área. As questões rurais e agrárias no município, principalmente no que diz respeito às formas de produção agrícola e a ocupação do espaço agrário, vem sofrendo os reflexos da modernidade, bem como os aspectos modificadores do espaço, visíveis entre os pequenos agricultores moradores das ilhas do rio São Francisco. As grandes disparidades existentes entre os pequenos e grandes produtores geram uma série de indagações que merecem destaque, como por exemplo: O que explica as transformações sócio-espaciais ocorridas no município? Qual o comportamento e a visão dos agricultores referentes ao uso e ocupação de suas propriedades? Quem são os agricultores das ilhas fluviais? Como eles produzem neste espaço? Estas indagações nos instigam a refletir sobre as questões a que nos propomos nesta pesquisa, ou seja, como as pessoas viventes nas ilhas fluviais do rio São Francisco, conseguem neste pequeno espaço adquirir todos os recursos suficientes para sua sobrevivência. Os trabalhadores foram retirados do seu lugar de convívio e acabaram buscando adequar-se (não na totalidade) a outro modo de produzir, encontrando nas ilhas um espaço onde possam plantar e manter seus laços com o meio rural a que estavam acostumados a viver. A dinâmica de vivência passa a ter um novo comportamento, sempre ligado aos sentimentos de afetividade destes sujeitos com o rio e com o seu lugar de acolhida. Basicamente nas ilhas fluviais do rio São Francisco, existem dois tipos de ocupação da terra: uma para uso, trabalho e sustento da família, outra para uso do lazer e do descanso. Não existe uma relação direta entre estes dois casos, apenas cada um respeita o espaço do outro e vive segundo a sua rotina diária. Os espaços das ilhas são divididos por lotes, onde cada morador cultiva as mais variadas plantas frutíferas, hortaliças e cereais, seja para uso familiar ou venda comercial. FOTO 01: Trabalhadores da ilha em suas pequenas roças. Autora: SOUZA, Angela F. G. 12/05/08. Apesar de serem localidades de pouca extensão, os trabalhadores vivem em terras que não consideram de sua propriedade, mas sim “do rio”. Constroem suas pequenas casas, muitas delas feitas de pedaços de madeira e cobertas por telhas de amianto ou coloniais, com a certeza de que mais cedo o mais tarde elas podem ser tomadas e devastadas pelas águas. Nesse sentido, percebemos que a relação do agricultores com a natureza transcende a produção, configurando-se dependente de seus elementos. Assim, conseguem construir uma identidade com a terra e com o lugar de vivência, e conseguem obter todos os produtos suficientes para seu sustento. Conclusões Os trabalhadores que hoje vivem nas pequenas ilhas no rio São Francisco são caracterizados como produtores, que cria o espaço, a paisagem e o lugar com seu trabalho. Povo este, que partilha uma própria história e seguem a mesma tradição, ou seja, dividem o mesmo espaço e compartilham da produção. Nessa perspectiva, destacamos o trabalho dos homens e mulheres que apropriam de uma parcela deste espaço, criando e modificando a vida, tanto a sua, quanto de seu lugar de convívio, tem no modo de plantar, colher e viver características próprias de produzir como sujeitos sociais. Pessoas que traduzem a luta para se manterem tradicionais, homens da terra, que tiram dela seu sustento, mantendo um estilo de vida peculiar, mais divergente do sistema econômico dominante, vivendo e trabalhando diferente da recente maioria. As ilhas hoje são representadas por pessoas com valores dentro de um universo tão pequeno perante a imensidão das águas do São Francisco. Pessoas estas que fazem de seu modo de vida um paraíso coberto de sonhos, onde os ciclos se completam pelas realizações simbólicas, esperanças e percepções do rio como um ser. Uma última reflexão nesse texto está em torno do homem trabalhador, o vivente das ilhas que considera a terra como um símbolo, envolvida por um arcabouço de cultura que deu e dá identidade a essas gentes que procuram sobreviver e ter no seu diaa-dia nas ilhas o seu “lugar” de vivência. Referências: ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. 2. ed. São Paulo: Hucitec/Edunicamp, 1992. GRAZIANO DA SILVA, José. 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