Disciplina de Patologia Geral.-Avaliação dos alunos em regime especial 1 -Complete. a - Os tumores em geral levam o nome do tecido de origem. Assim, os tumores malignos de músculo liso, ósseo ou fibroso são denominados, respectivamente, leiomiossarcoma, sarcoma osteogênico e fibrossarcoma. Os de epitélio escamoso e glandular são denominados de carcinoma de células escamosas e adenocarcinoma. (0,5) b - Um tumor epitelial papilar cístico maligno de ovário é chamado cistoadenocarcinoma papilar de ovário. Quanto ao tecido adiposo, chamamos de lipoma aos tumores benignos e de lipossarcoma aos com características de malignidade. (0,3) c - Você está vendo um tumor e quer identificá-lo como benigno ou maligno. Que características de poderão ajudá-lo nesta identificação? (0,5) Uma característica importante que ajuda na identificação é o grau de diferenciação do tumor. Os tumores bem diferenciados são formados por células que lembram as células normais maduras do tecido de origem (morfologicamente e funcionalmente) e os indiferenciados, por outro lado, por células com aspecto mais primitivo. Os tumores benignos são normalmente diferenciados, enquanto os malignos variam desde diferenciados até indiferenciados. Anaplásicos é o nome dado aos tumores malignos formado por células indiferenciadas. Algumas alterações morfológicas características das anaplasias são: pleomorfismo (células e seus núcleos com grande variedade de tamanho e forma); morfologia nuclear anormal (núcleo grande, com muito DNA (hipercromático) e formato variável); células gigantes; perda de polaridade, com células em crescimento desorganizado; e, grande número de mitoses, especialmente, atípicas. Outra característica refere-se à taxa de crescimento. Na maioria das vezes, há uma relação entre o grau de diferenciação e essa taxa de crescimento do tumor. Desse modo, os tumores malignos, normalmente, crescem mais rápido que os benignos. Nos tumores benignos as figuras mitóticas são raras e normais. Além disso, eles geralmente crescem de forma mais localizada, circunscrita, sem a capacidade de invasão e metástase características dos tumores malignos. Os tumores benignos, comumente, desenvolvem uma borda de tecido conjuntivo condensado, tornando-o mais facilmente palpável e removível, diferentemente dos malignos que, normalmente, não possuem uma demarcação clara em relação ao tecido de origem. 2 - Correlacione o agente envolvido na carcinogênese com uma neoplasia comumente causada/ influenciada por este agente: (1,0) A Vírus do papiloma humano (HPV) (E) Linfoma de Burkitt B Vírus herpes do tipo 8 (HHV-8) (C) Paraparesia tropical espástica e linfoma C Vírus da leucemia de células T (D) Linfoma gástrico (HTVL-1) D (A) Tumores da região urogenital Helicobacter pylori E Virus Epstein -Barr (EBV) (B) Sarcoma de Kaposi F Tabaco (H) Carcinoma de colon G Radiação não ionizante (F) Câncer de laringe H Alimentação pobre em frutas e ( I ) hepatocarcinoma verduras I Vírus da hepatite C (G) Cáncer de pele J Obesidade (J) Câncer de mama, endométrio e próstata 3 - Defina metástase. Explique a sua importância para o estadiamento tumoral. Descreva as suas vias de disseminação, dando exemplos de tumores e as condições gerais do hospedeiro que podem favorecer ou não ao desenvolvimento das metástases. (1,0) Metástase diz respeito a um implante tumoral separado do tumor primário, isto é, é quando uma célula tumoral se solta da massa tumoral primária e, após seguir uma via de disseminação, produz um segundo crescimento tumoral, num local distante do primeiro. O estadiamento do tumor refere-se tanto ao tamanho da lesão primária, quanto à extensão de disseminação para os linfonodos regionais e a presença ou ausência de metástases hematogênicas. A presença ou não de metástase, então, é de grande importância para determinar o estadiamento do tumor, sendo, portanto, fundamental para o prognóstico da doença e na escolha do melhor tratamento a ser adotado. No caso de metástase, por exemplo, a possibilidade de cura é praticamente ausente. Com relação às vias de disseminação, existem três. Uma delas é quando ocorre implante direto nas cavidades ou superfícies corporais, sendo a cavidade peritoneal a mais freqüentemente afetada. Esta é característica de carcinomas que surgem no ovário. Uma segunda via de disseminação de tumores é a linfática. Apesar dos tumores não possuírem vasos linfáticos funcionais, os que se localizam em sua margem são suficientes para que a disseminação ocorra. Vale ressaltar aqui que o padrão de comprometimento dos linfonodos irá seguir as vias naturais de drenagem linfática, embora metástases “saltadas” (quando linfonodos locais são ultrapassados) possam ocorrer. Além disso, muitas vezes, linfonodos regionais podem agir como barreiras eficazes (resposta imune) contra uma maior disseminação do tumor, pelo menos, por um tempo. Um exemplo é a disseminação de carcinomas da mama (especialmente nos quadrantes superiores externos) para os linfonodos axilares. Outro exemplo são os carcinomas de pulmão que metastizam primeiro para linfonodos peiilares, traqueobrônquicos e do mediastino. A terceira via de disseminação refere-se à disseminação hematogênica que é típica de sarcomas, embora, também ocorra em carcinomas. No caso da invasão venosa (mais fáceis que a disseminação arterial), as células seguem o fluxo venoso de drenagem do local do neoplasma. Um exemplo são os carcinomas de células renais que acabam por invadir ramos da veia renal, crescendo, então, para a veia cava inferior e depois atingindo o lado direito do coração. A progressão do tumor, além da ocorrência de múltiplas mutações acumuladas, depende também do microambiente do tumor (influenciado por mudanças no estroma do tumor e na angiogênese), bem como da capacidade de vencer as defesas do hospedeiro. No que diz respeito a essa defesa do hospedeiro contra tumores, os linfócitos T citotóxicos (reconhecem antígenos ligados ao MHC classe I) são considerados o principal mecanismo da defesa imune contra os tumores, de modo que se pode observar um aumento da freqüência de tumores em indivíduos imunodeficientes. Entretanto, é importante ressaltar que a maioria dos cânceres ocorre em pessoas sem imunodeficiência, mostrando que as células tumorais provavelmente desenvolvem mecanismos capazes de driblar o nosso sistema imunológico, sendo alguns exemplos: crescimento seletivo de variantes antígenonegativas (subclones muito imunogênicos são eliminados durante a progressão do tumor); perda ou expressão reduzida das moléculas MHC, escapando, com isso, dos linfócitos T citotóxicos; ausência de co-estímulo (a ativação da célula T depende também de um segundo sinal); imunossupressão (agentes oncogênicos e produtos dos tumores podem funcionar como imunossupressores potentes); mascaramento de antígenos na superfície celular através de moléculas de glicocálix (freqüentemente mais expressas em células tumorais); e, indução da apoptose das células T citotóxicas. 4 - Oncogenes, genes supressores de tumor e genes de reparo são considerados genes críticos para o desenvolvimento ou não de um câncer. Explique como estes genes podem colaborar para o surgimento do câncer quando mutados. (1,0 ponto ) Existem sete alterações na fisiologia celular que precisam ocorrer para se desenvolva um fenótipo maligno: auto-suficiência nos sinais de crescimento; insensibilidade aos sinais inibidores de crescimento; evasão da apoptose; defeitos no reparo do DNA; potencial infinito de replicação; angiogênese mantida; e, capacidade de invadir e metastatizar. As mutações nos genes que regulam tais características celulares estão presentes em todos os tumores. Oncogenes, por exemplo, permitem a auto-suficiência nos sinais de crescimento, na medida em que promovem o crescimento celular autônomo, mesmo na ausência dos sinais mitogênicos normais. Seus equivalentes normais são chamados de protooncogenes e são responsáveis por regular a proliferação e diferenciação celular. Desse modo, as oncoproteínas (produto dos oncogenes) lembram os produtos normais dos protooncogenes, porém, sem os importantes elementos reguladores, propiciando, com isso, o desenvolvimento de tumores. Os alelos mutantes dos protooncogenes são dominantes. Uma das formas que as células neoplásicas possuem para obter essa autosuficiência no crescimento é a produção de fatores de crescimento que elas mesmas respondem, geralmente, através de uma expressão excessiva de genes desses fatores. Outra forma são os oncogenes que codificam receptores de fatores de crescimento que podem permanecer ativados sem a ligação dos fatores de crescimento ou mesmo, há um aumento da expressão desses receptores. Há ainda diversas oncoproteínas, com localização estratégica, capazes de atuar como transdutoras de sinais, como por exemplo, o oncogene RAS. Além disso, diversas anormalidades na expressão de ciclina e CDKs (envolvidas no controle do ciclo celular normal) podem estar presentes em diversos tumores, como exemplo, a superexpressão da ciclina D. Os genes supressores do tumor, por sua vez, têm como produto proteínas capazes de freiar esse crescimento celular, na medida em que estão envolvidas no controle do ciclo celular, na regulação da apoptose e em outras atividades importantes para sobrevida e crescimento celular. Porém, quando há uma mutação em ambos os alelos desse gene, a célula torna-se insensível a esses sinais inibidores do crescimento. Um exemplo é a mutação no gene RB que é fundamental na regulação do ciclo celular. Quando o gene RB está ausente (por deleção genética) ou a sua capacidade de controlar os fatores de transcrição E2F está desregulada, não há um freio no ciclo celular e as células seguem para a fase S e continuam com a divisão celular. Outro exemplo importante é o gene p53. A proteína p53 é uma proteína de ligação do DNA que age, principalmente, no controle da transcrição de diversos genes. Sua principal função é a parada do ciclo celular (no final de G1 para que ocorra o reparo do DNA), bem como ativa genes indutores da apoptose (BAX, por exemplo) quando a lesão no DNA não for reparada de forma eficaz. A p53 mutada não se liga ao DNA e ainda, bloqueia a atividade da proteína normal. Além da mutação, a p53 pode ser neutralizada por outras vias que levam a sua degradação, como é o caso da via MDM2. Os genes de reparo do DNA estão relacionados com a capacidade das células de corrigir lesões no DNA e, com isso, evitar que mutações nos genes que regulam o crescimento celular e apoptose, por exemplo, persistam. Sem esse reparo, a células podem seguir no caminho da transformação neoplásica. Desse modo, esses genes em si não são oncogênicos, mas alterações neles irão propiciar mutações em outros genes durante a divisão celular normal. Normalmente, ambos os alelos de reparo do DNA devem ser inativados para induzir a esta instabilidade genômica. Podem ocorrer defeitos em um dos três sistemas de reparo de DNA: correção do pareamento errôneo; excisão de nucleotídios e reparo por recombinação. 5- Discuta esteatose: definição, causas, fisiopatologia, morfologia das células com este acúmulo. Este é um quadro definitivo ou podem ocorrer evoluções ou regressões? Por que? (1,0) Esteatose refere-se à deposição anormal de triglicerídeos em células parenquimatosas. É mais comum no fígado, já que é o principal órgão envolvido no metabolismo da gordura, mas também pode ser observada no coração, músculos e rins. As causas são: toxinas, desnutrição protéica, diabetes melito, obesidade, anóxia e o alcoolismo (mais comum nas regiões industrializadas). Os ácidos graxos livres provenientes do tecido adiposo ou da alimentação, geralmente, são transportados para os hepatócitos, onde irão formar triglicerídeos, colesterol e fosfolipídios ou serão oxidados em corpos cetônicos. No caso dos triglicerídeos para que estes sejam liberados e percorram a circulação sob a forma de lipoproteínas, é preciso que se encontrem associados a apoproteínas. Desse modo, qualquer erro nesse processo (desde a entrada de ácidos graxos até a saída de lipoproteínas) pode resultar num acúmulo de triglicerídeos, como por exemplo, o aumento da síntese de lipídeos ou redução de sua utilização, a diminuição na formação de lipoproteínas, bem como distúrbios no deslocamento e fusão das vesículas. O álcool, por exemplo, pode induzir vários desses defeitos, mas se o indivíduo estiver com esteatose e parar de beber, ela pode ser revertida. No caso da desnutrição protéica e no envenenamento por CCl4, por exemplo, o problema está na diminuição da síntese das apoproteínas. A anóxia, por outro lado, inibe a oxidação de gorduras. Morfologicamente, a esteatose apresenta-se com vacúolos claros nas células parenquimatosas. No fígado, inicialmente, esses vacúolos são pequenos e estão no citoplasma, em torno do núcleo. Progressivamente, esses vacúolos coalescem e vão para a periferia da célula, podendo ocorrer a formação de cistos gordurosos, quando há rompimento de células adjacentes. Em casos leves, portanto, pode não se observar alterações macroscópicas, porém o acúmulo progressivo de gordura leva a um fígado aumentado, mole e com aparência amarelada. Desse modo, dependendo do grau a função celular encontra-se alterada ou não, sendo as lesões mais graves precursoras inclusive da morte celular. Nesse sentido, a esteatose pode sim ser revertida se a causa for controlada. Porém, tanto a esteatose hepática alcoólica quanto a não-alcóolica, se não tratada, podem levar à cirrose e até mesmo, ao câncer hepatocelular. 6 - Cite quatro tipos de adaptação celular e uma situação onde cada adaptação pode ser encontrada. (0,4) São quatro tipos de adaptação celular: hiperplasia (aumento do número de células de um órgão ou tecido); hipertrofia (aumento do tamanho das células); atrofia (redução do tamanho das células); e, metaplasia (alteração reversível em que um tipo de célula adulta é substituído por outro tipo celular). A hiperplasia ocorre quando as células são capazes de sintetizar DNA, permitindo que ocorra mitose. É o caso, por exemplo, da proliferação do epitélio glandular da mama feminina na puberdade e na gravidez. A hipertrofia, por sua vez, pode ocorrer no músculo cardíaco como resultado de uma sobrecarga hemodinâmica causada, por exemplo, por uma hipertensão. A atrofia do endométrio, por exemplo, ocorre após a menopausa em função da perda da estimulação endócrina pelo estrogênio. A metaplasia de epitélio colunar para escamoso é um exemplo do que ocorre no trato respiratório em resposta à irritação crônica. 7 - Quais as formas de morte celular programada que você conhece? Descreva a morfologia, eventos celulares envolvidos para esta(s) morte(s) e cite uma situação onde este(s) tipo(s) de morte descrito(s) pode(s) ser observado(s). (1,0) Os tipos de morte celular programada são a apoptose, a autofagia e alguns estudos atuais também incluem a necrose. A necrose é sempre patológica, não necessita de energia e sua aparência morfológica resulta especialmente da desnaturação das proteínas intracelulares e da digestão enzimática da célula. Nela, há um aumento do tamanho celular, em função do edema, enquanto o núcleo geralmente encolhe (picnose) e pode sofrer fragmentação (cariorréxis). Com o passar do tempo, o núcleo da célula necrótica desaparece totalmente. Além disso, na necrose, ocorre floculação da cromatina, desintegração das organelas, aumento da eosinofilia, bem como a integridade da membrana plasmática não é mantida. Ocorre digestão enzimática do conteúdo celular que pode, então, extravasar para fora da célula. Isso freqüentemente leva ao desenvolvimento de inflamação no tecido adjacente. A necrose envolve grupos celulares. Vale ressaltar ainda que, dependendo do tipo de agente e do tecido envolvido, podemos observar diferentes padrões morfológicos de necrose como, por exemplo: necrose de coagulação (quando a desnaturação protéica é o padrão primário); necrose de liquefação (característica de tecidos com maior concentração de gordura); e, necrose caseosa (aparência macroscópica semelhante a um queijo). Um exemplo de situação em que a necrose pode ocorrer é no caso de uma isquemia prolongada por infarto agudo do miocárdio ou uma trombose arterial, por exemplo. A apoptose, por outro lado, pode ser fisiológica ou patológica. É um processo dependente de energia que envolve a ativação de passos enzimáticos (cascata de caspazes) que levam a hidrólise de diversas proteínas (destruindo a estrutura nuclear e o citoesqueleto), bem como a ativação das DNAases (degradando o DNA nuclear). Nela, a célula encontra-se em tamanho reduzido e o núcleo é fragmentado em partículas do tamanho de nucleossomos. Há agregação da cromatina à membrana nuclear. Além disso, não há desintegração das organelas e a membrana celular encontra-se intacta, embora sua estrutura esteja alterada - especialmente a orientação dos lipídios –, o que torna a célula alvo de fagocitose (geralmente pelos macrófagos). O conteúdo celular também está intacto e podem ser liberados na forma de corpos apoptóticos. Não há, portanto, extravasamento do conteúdo celular, nem envolvimento de resposta inflamatória. A apoptose envolve células isoladas ou pequenos grupos celulares. Um exemplo de apoptose fisiológica ocorre na involução do útero (hormônio dependente) após a gravidez. Um exemplo de situação de apoptose patológica ocorre em lesões celulares em algumas doenças viróticas, como a hepatite viral. Na autofagia, por sua vez, a célula se auto digere. Entretanto, pouco se sabe ainda sobre detalhes desse processo. Nela, os lisossomos englobam partículas de organelas e seus conteúdos não são liberados no citoplasma. Esse tipo de morte celular está relacionado com o envelhecimento. 8 - Discuta brevemente duas teorias para o envelhecimento. (0,9) Existem dois grandes grupos de teorias do envelhecimento. Um desses grupos é o das teorias estocásticas que se baseiam na idéia central de que reações aleatórias se acumulam ao longo da vida. Uma das teorias desse grupo é a teoria do dano oxidativo que afirma que o metabolismo celular produz radicais de oxigênio reativos que causam danos nos lipídios, proteínas e no DNA celular, resultando em lesão celular e envelhecimento. Outra teoria desse grupo considera que quando há alguma incapacidade nos mecanismos de reparo do DNA, proteínas alteradas se acumulam aleatoriamente. Seguindo esse princípio, a teoria das mudanças pós-tradução de proteínas refere-se a mudanças na forma e função destas proteínas. Assim, de acordo com essas teorias estocásticas, as alterações que vão ocorrendo ao longo da vida, de forma aleatória, acabam levando a uma célula ineficiente e incompatível com a vida. Outro grande grupo de teorias sobre o envelhecimento refere-se às teorias genéticas que acreditam que o envelhecimento é um processo que já está programado desde o desenvolvimento embrionário. Uma das principais teorias desse grupo é a teoria telomérica que afirma que esse envelhecimento ocorre em função do encurtamento do telômero ao longo da vida. A teoria imunológica, por sua vez, considera que, com o tempo, há um declínio da função imunológica, aumentando a incidência de doenças autoimunes. Há ainda a teoria que afirma que a questão está nas alterações na expressão dos genes relacionados com o desenvolvimento e envelhecimento. A teoria neuroendócrina, por outro lado, fala que alterações na produção de hormônios que mantém nossa homeostasia, favorecem o envelhecimento. 9 – Responda as questões referentes ao caso abaixo: SSG, masculino, 48 anos, branco, natural de RGS, procurou Serviço Médico devido a presença de fezes muco sanguinolentas. Refere também emagrecimento acentuado nos últimos 6 meses acompanhado de adinamia e astenia. Há 8 anos sofreu uma cirurgia para a retirada de pólipos hiperplásicos e adenomatosos no intestino grosso. Nega doenças sexualmente transmissíveis. É tabagista (maço/dia há 35 anos) e etilista. Tem dieta rica em proteínas e carne vermelha e pobre em frutas. Diante do quadro clínico foram realizados exames laboratoriais e colonoscopia. Colonoscopia: presença de lesão vegetante, ulcerada e infiltrante, recoberta por secreção mucos sanguinolenta, localizada no cólon descendente a 3 cm do ângulo esplênico. Foi realizada biópsia da lesão cujo resultado foi de adenocarcinoma. Exames laboratoriais: anemia hipocrômica microcítica; CEA = 500u/ml ( normal < 5 u/ml) Foi submetido à ressecção do segmento intestinal com linfadenectomia mesentérica e colostomia definitiva cujo laudo histopatológico foi de adenocarcinoma moderadamente diferenciado, vegetante e ulcerado com infiltração até a serosa e metástases para linfonodos regionais CEA após um mês do pós operatório = 4 u/ml. O paciente continuou em acompanhamento médico. Um ano após a cirurgia observou-se nos exames de rotina aumento do CEA que o levou a realizar uma série de exames. A ultra-sonografia de abdômen revelou o fígado com áreas sugestivas de metástases, sendo portanto sugerido biópsia hepática que confirmou a presença de metástase. Referente ao caso clínico acima descrever: 1) Fatores de risco, epidemiologia e carcinogênese (0,6) O câncer de cólon é um dos tumores mais freqüente nas pessoas de sexo masculino, juntamente com o câncer de reto, próstata e pulmão. A maioria dos carcinomas ocorre mais tardiamente na vida, sendo o óbito por câncer de cólon em homens mais comum em pessoas acima de 60 anos de idade, o que não é o caso do paciente. Além disso, há relação entre locais de inflamação crônica (incluindo doenças do aparelho gastrointestinal) e o desenvolvimento de câncer. Algumas formas de neoplasia benigna também constituem condições pré-cancerosas. O adenoma viloso de cólon, à medida que aumenta de tamanho, por exemplo, desenvolve em até 50% dos casos uma alteração cancerosa. Desse modo, a presença de pólipos hiperplásicos e adenomatosos no intestino grosso é um fator predisponente para o câncer de cólon. Além disso, a ingestão de altos níveis de gordura, bem como uma dieta pobre em frutas e rica em carne vermelha estão associadas com o aumento do risco de câncer de cólon. O fumo, por sua vez, foi implicado no desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como de boca, faringe, laringe, esôfago, pâncreas, cólon e bexiga, além de ser responsável por cerca de 90% das mortes de câncer de pulmão. O abuso de álcool também está associado ao aumento do risco de câncer coloretal. 2) Aspectos moleculares do Ca de cólon (0,6) O laudo histopatológico foi de adenocarcinoma moderadamente diferenciado, vegetante e ulcerado com infiltração até a serosa e metástases para linfonodos regionais. O fato de ser um adenocarcinoma indica que é um tumor maligno originado a partir de células epiteliais, com padrão de crescimento microscopicamente glandular (no caso, com secreção muco sanguinolenta). Além disso, tanto o fato de ser infiltrante e metástatico, quanto o de ser moderadamente diferenciado reforçam o caráter morfológico de que se trata de uma neoplasia maligna. Os tumores malignos são geralmente mais indiferenciados, enquanto os benignos são diferenciados. Algumas alterações morfológicas que podem ser analisadas para caracterizar uma indiferenciação celular são: pleomorfismo (células e núcleos com tamanho e forma variados); núcleos grandes com DNA em abundância (coloração hipercromática); grande número de mitoses atípicas; e, crescimento desorganizado em função da perda da polaridade das células. Somado a isso, os tumores malignos são geralmente invasivos, podendo-se esperar que penetrem na parede do cólon, por exemplo, como ocorre no caso clínico acima. Eles geralmente não ficam circunscritos a uma área específica, sendo mal demarcados e acompanhados por infiltração, invasão e destruição progressiva do tecido adjacente. Além disso, a metástase, também presente no caso clínico apresentado, caracteriza de modo inequívoco a malignidade deste tumor, que teve, inicialmente, a via de disseminação linfática. 3) Interpretar as metástases observadas no tocante à: localização, ao tipo celular e à relação comportamental tumor x hospedeiro (0,6) No caso clínico apresentado, houve, primeiramente, metástase para os linfonodos regionais e, posteriormente, metástase para o fígado. A via de disseminação linfática confirma a idéia de que esta é via mais comum para disseminação inicial dos carcinomas. O padrão de comprometimento dos linfonodos geralmente segue as vias de drenagem linfáticas naturais, o que também ocorreu no caso supracitado. Muitas vezes, os linfonodos regionais atuam, num primeiro momento, como uma barreira eficaz contra a disseminação do tumor, o que pode tornar a progressão do tumor um pouco mais lenta. Além disso, a metástase hepática (mais a distância) indica também a ocorrência de disseminação hematogênica. Esta freqüentemente leva a metástase no fígado já que a drenagem porta flui para ele. Essa metástase hepática, por sua vez, pode ter sido favorecida pela alimentação (rica em carne, gordura e pobre em frutas) do hospedeiro, bem como por ele ser etilista. 4) Correlacionar os dados clínico-patológicos (CEA, anemia, emagrecimento, estadiamento), com a evolução do paciente (0,6) Os tumores podem levar a sangramento e infecções secundários quando ulceram através de estruturas adjacentes naturais, o que ocorreu no caso clínico acima, favorecendo o surgimento da anemia. Além disso, os pacientes com câncer apresentam uma perda progressiva de gordura e massa corporal e uma fraqueza profunda, o que também pode ser observado com o emagrecimento do paciente. Estudos atuais mostram que essa caquexia pode estar relacionada com a ação de fatores solúveis, como citocinas, produzidas tanto pelo tumor quanto pelo hospedeiro em resposta a este. A anorexia é também um sintoma comum nos pacientes com câncer ainda que não ocorra obstrução mecânica por tumores gastrointestinais. Com relação ao estadiamento do tumor, ele está relacionado com o tamanho da lesão primária, pela disseminação para linfonodos regionais e na presença ou não de metástase hematogênica. No caso do paciente, o seu prognóstico é ruim já que todos esses fatores estão presentes. O CEA é uma glicoproteína complexa, produzida normalmente no tecido embrionário do intestino, pâncreas e fígado e elaborada por diferentes tipos de neoplasma. Ë descrito como positivo na grande maioria dos carcinomas de cólon, como é apresentado pelo paciente. Entretanto, não pode ser considerado específico, nem sensível suficiente para detecção de tumores inicias. Desse modo, assim como outros marcadores tumorais, eles auxiliam o diagnóstico, mas são de maior importância na avaliação de recidiva durante o acompanhamento do paciente. No caso em questão, o seu aumento um ano após a cirurgia foi um significativo fator de alerta com relação à evolução do paciente.