Trabalho - SOVERGS

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USO DE DOXORRUBICINA EM CÃO COM TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL
(TVT) METASTÁTICO RESISTENTE AO SULFATO DE VINCRISTINA
USE OF DOXORUBICIN IN DOG WITH TRANSMISSIBLE VENEREAL TUMOR
(TVT) METASTATIC RESISTANT TO VINCRISTINE SULFATE
SEHNEM, Estêvão¹; JACOBS, Vinícius¹; SCHUCH, Isabel²; GASPAR, Luiz Fernando3;
CLEFF, Marlete Brum.3; SANTOS, Sabrinne Peglow. ¹; JACOBS, Vinícius¹
RESUMO:
Foi realizado atendimento de um canino, SRD, fêmea no ambulatório veterinário Ceval da
UFPel. O animal apresentava massa de crescimento progressivo e sangramento na vulva, além
de massas cutâneas e mamárias. Foi encaminhada para o Hospital Veterinário da UFPel, com
o objetivo de realizar o diagnóstico definitivo. Através da citologia e histopatologia
confirmou-se TVT com metástase cutânea e mamária. Iniciou-se o tratamento com Sulfato de
Vincristina, de escolha em TVT, na dose de 0,7mg/m², IV, semanal. Nos dois primeiros
ciclos, houve redução das massas. No entanto, na terceira aplicação isso não foi mais
observado, passando-se então a associar piroxican, na dose de 0,3 mg/Kg, mas sem resultado,
evidenciando a resistência do tumor à vincristina. Optou-se então, pelo uso de Doxorrubicina,
na dose de 30mg/m², IV, a cada 21 dias, sendo observada após a segunda aplicação, redução
de 80% da massa vulvar e total das outras massas. Apesar da melhora, o animal acabou vindo
a óbito em decorrência de metástase cerebral confirmada pela histopatologia após a necrópsia.
O trabalho salienta a ocorrência de outras manifestações de TVT e a possibilidade do uso de
outros protocolos quimioterápicos.
Palavras Chave: Neoplasia; resistência; quimioterapia; metástase.
SUMMARY:
It was carried a dog treatment, undefined breed, female, in the veterinarian clinic Ceval
UFPel. The animal showed a progressively growing mass and bleeding in the vulva, and skin
and breast masses. It was sent to the Veterinary Hospital of Federal University of Pelotas, in
order to make a definitive diagnosis. Through the cytology and histopathology was confirmed
TVT with skin and breast metastasis. Began treatment with vincristine sulfate, choice for
TVT, at a dose of 0.7 mg/m², IV, weekly. In the first two cycles, there was a reduction of the
masses. However, the third application it was no longer observed, moving then to associate
piroxican at a dose of 0.3 mg/kg, but without result, showing tumor resistance to vincristine. It
was chosen then, by the use of doxorubicin at a dose of 30mg/m², IV, every 21 days, was
observed after the second application, a reduction of 80% of the total mass and other vulvar
masses. Despite the improvement, the animal came to death due to brain metastasis confirmed
by histopathology after necropsy. The work emphasizes the occurrence of other
manifestations of TVT and the possibility of using other chemotherapeutic protocols.
Keywords: Neoplasia; resistance; chemotherapy; metastasis.
O TVT é um tumor de células redondas, contagioso e de origem mesenquimal (NELSON e
_______________________
¹ Graduando em Medicina Veterinária, FAVET, UFPel – [email protected]
² Pós-Graduação em Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFPel
³ Prof. Dr. Adjunto, Depto.Clínicas Veterinária, FAVET -Universidade Federal de Pelotas, Campus
Universitário, Depto. Clínicas Veterinárias, CEP 96010-900, Pelotas, RS – [email protected]
COUTO, 2006), sendo considerada a segunda neoplasia mais incidente em cães. Em sua
maioria, predomina nos animais jovens, errantes e sexualmente ativos, não apresentando
predileção por raça ou sexo (MORALES, 1993).
Em geral, é transmitido pelo coito, mas pode afetar a pele através da implantação de
células tumorais por meio de lambedura ou contato direto em locais onde houve abrasão
cutânea. Envolve principalmente a genitália externa de cães machos e fêmeas, porém, tem
sido descrito em várias localizações extragenitais, além de ocorrência de metástases
(NELSON e COUTO, 2006; SILVA et al., 2007; BRANDÃO, 2002).
A terapia mais eficaz e usada na rotina clínica consiste no uso de sulfato de vincristina
como agente único (ANDRADE, 2008). A cura completa é esperada em mais de 90% dos
cães tratados com este antineoplásico na dose 0,5-0,7mg/m², IV, semanal, durante 4 a 6
semanas (ANDRADE, 2008; LIPPONEN, 1993). Todavia, fatores relacionados à localização
extragenital têm atribuído a esta neoplasia característica de resistência aos agentes
quimioterápicos usados em seu tratamento, como a vincristina (GARCEZ, 2010).
O objetivo deste trabalho foi de relatar um caso de TVT com metástases, não
responsivas ao sulfato de vincristina.
Foi atendido no Ambulatório veterinário Ceval (UFPEL), um canino, fêmea, sem raça
definida com dois anos de idade que apresentava massa friável na vulva há dois meses. O
proprietário relatou que inicialmente só havia sangramento vulvar, e depois surgiu uma lesão
pequena na região da vulva. No exame físico do cão, observou-se desidratação leve a
moderada, mucosas pálidas, tumoração enorme muito vascularizada e ulcerada na vulva e
inúmeras tumorações cutâneas e nas mamas inguinais.
Foram colhidas amostras para realização de exame citológico através de impressão da
massa vulvar em lâmina de microscopia, e sangue para realização de hemograma completo.
Após observação do exame citológico, o cão foi encaminhado ao Hospital de Clínicas
Veterinária-UFPel para biópsia das massas cutâneas e mamárias.
A partir das lesões clínicas e resultados da citologia e histopatologia, diagnosticou-se
como sendo tumor venéreo transmissível (TVT) canino, com metástases disseminadas na pele
em regiões cervical, dorsal do corpo e cabeça, sendo então, decidido pelo tratamento
quimioterápico semanal, com Sulfato de Vincristina.
A avaliação citológica do tumor vaginal e do exame histopatológico das outras
massas, confirmou o diagnóstico de TVT, evidenciando células arredondadas, com núcleo
grande e basofílico e presença de vacúolos citoplasmáticos.
O primeiro hemograma realizado demonstrou anemia, eosifilia com os parâmetros da
séria branca dentro dos limites considerados fisiológicos, possibilitando assim, a realização da
primeira sessão de quimioterapia.
O protocolo terapêutico definido para o paciente foi a administração de quatro doses
de sulfato de vincristina na dose de 0,7 mg/m2, por via intravenosa (IV) com intervalos
semanais.
Após a primeira aplicação do sulfato de vincristina, houve uma redução de
aproximadamente 30% da massa tumoral da vulva, na segunda aplicação observou-se uma
redução em torno de mais 10% da massa e após a terceira aplicação não houve mais redução
do tumor vulvar. Então, antes da quarta dose de vincristina foi associado antiinflamatório não
esteróide, piroxicam na dose de 0,3mg/kg a cada 24hs, não sendo observada redução dos
tumores.
A cada ciclo de aplicação da vincristina, foi realizado hemograma do animal para
acompanhamento da série vermelha e branca onde observou-se anemia e leucopenia, efeitos
esperados da quimioterapia.
Como o animal encontrava-se debilitado e muito magro, foi instituída uma dieta de
alta digestibilidade e teor protéico, para melhorar o status do paciente, a fim de prepará-lo
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para utilização de outro antineoplásico, o que levou a ganho de 1,5Kg em 1 mês. A síndrome
caquexia é um dos principais complicantes da terapia antineoplásica. Essa síndrome procede
de alterações no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios e aliado à diminuição da
ingestão de alimentos diminuem a qualidade de vida do animal, afetando a resposta ao
tratamento da neoplasia e reduzindo o tempo de sobrevida (ANDRADE, 2008).
Na segunda tentativa de tratamento, foi utilizado doxorrubicina na dose de 30mg/m2,
IV em 2 aplicações com intervalos de 21 dias. Após a primeira aplicação, observou-se uma
queda brusca de leucócitos ficando em 6.300 e 2.800. Apesar da agressividade do
antineoplásico, percebeu-se uma redução em torno de 60% da massa vaginal na primeira
aplicação e de 80% na segunda aplicação, com relação às tumorações cutâneas houve
regressão total. A doxorrubicina é indicada a pacientes que são acometidos por uma série de
neoplasias, por ter boa distribuição em todos os tecidos, com exceção do SNC. Porém este
fármaco possui diversos efeitos colaterais dentre os principais estão a cardiotoxicidade e a
toxicidade hematológica (ANDRADE, 2008).
O tratamento quimioterápico com sulfato de vincristina é muito eficaz e considerado o
de eleição, porém, algumas vezes, não responde e fica indicado o tratamento com outros
quimioterápicos, como doxurrubicina e metrotrexate (BRANDÃO, 2002).
Apesar da melhora clínica, apresentada pelo animal após o uso de doxorrubicina, 20
dias após a segunda sessão, observou-se mudança comportamental do animal e óbito em uma
semana. O cadáver foi encaminhado para o Laboratório Regional de Diagnóstico da UFPel
(LRD-UFPel) onde foi constatado metástase cerebral como a causa da morte, que se explica
considerando a baixa ação do quimioterápico no Sistema Nervoso Central.
As características clínicas do TVT cutâneo e de outros locais como cérebro, diferem
daquelas observadas na região genital. O tratamento com sulfato de vincristina continua sendo
de eleição, entretanto, alguns TVT´s podem demonstrar resistência à vincristina quando
utilizada como droga única, principalmente quando já existem metástases distantes. Desta
maneira, torna-se necessário um estadiamento clínico rigoroso e a tentativa de utilização de
novos protocolos e associações para alcance da eficácia terapêutica nestes tumores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1-NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 3a ed. São Paulo:
Elsevier, 2006.
2-MORALES, S.E.; GONZÁLEZ, C.G. The prevalence of transmissible venereal tumor in
dogs in Mexico City between 1985 and 1993. Veterinaria Mexico, v. 26, n. 3, p. 273-275,
1995
3-SILVA, M.V.S.; BARBOSA, R.R.; SANTOS R.C. et al. Avaliação Epidemiológica e
Diagnóstica e Terapêutica do Tumor Venéreo Transmissível (TVT) na população canina
atendida no Hospital Veterinário da UFERSA. Acta Veterinária Brasílica, Mossoró, v.1, n.1,
p.28-32, 2007.
4-BRANDÃO, C.V.S. Tumor venéreo transmissível: estudo retrospectivo de 127 casos (19982000). Revista de educação continuada do CRMV-SP, v.5, p.25-31, 2002.
5-ANDRADE, S.M.F. Antineoplásicos. In: ANDRADE, S.M.F. Manual de terapêutica
veterinária. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2008.
6-LIPPONEN, P. Image analysis os Ag-nor proteins in transicional cell bladder cancer.
Journal os Pathology, Londres, v. 171, n. 4, p. 279-283, 1993.
7-GARCEZ, T.N.A.; GOMES, C.; MÖSCHBÄCHER, P.D. et al.Tratamento de tumor
venéreo transmissível extragenital resistente à vincristina: quimioterapia antineoplásica e
cirurgia reconstrutiva. Medvep – Revista de Medicina Veterinária – Pequenos Animais e
Animais de Estimação, Curitiba, v. 8, n. 25, p. 304-307, 2010.
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