Editorial Câncer e Saúde Pública: uma prioridade em pesquisa Cancer and Public Health: a research priority Raphael Mendonça Guimarães1, Gulnar Azevedo e Silva2 Com o aumento inegável das doenças crônicas no perfil epidemiológico da população brasileira, novos desafios surgem a cada dia, exigindo uma definição clara de que prioridades serão dadas para prevenção e controle. Os cânceres, depois das doenças cardiovasculares, ocupam há alguns anos o segundo lugar entre os óbitos em todas as regiões do país e vêm sendo alvo de preocupação declarada pelos gestores de saúde pública; preocupação que tende a aumentar, pois diferentemente do que se verifica, por exemplo, com doenças frequentes, como o acidente vascular cerebral e o infarto que se encontram em declínio, alguns dos tipos de câncer mais comuns continuam aumentando. Isso pode estar refletindo sim uma melhora no acesso a procedimentos diagnósticos e terapêuticos; porém, ao mesmo tempo, é possível se constatar um aumento real de incidência decorrente de maior exposição a fatores de risco relacionados ao estilo de vida e a agentes ambientais cancerígenos. É interessante notar que, diante desse quadro preocupante, a comunidade científica brasileira tem respondido ao desafio de contribuir para melhor compreender a situação do ‘problema cânceres’ e seus diversos aspectos em vários campos do conhecimento. Este número dos Cadernos Saúde Coletiva comprova que alunos, professores e pesquisadores de universidades e centros de pesquisa brasileiros e de outros países, bem como profissionais atuando no sistema de saúde, responderam ao chamado e enviaram suas valiosas contribuições para compor um número específico sobre câncer. A diversidade de temas abordados indica que, não só o interesse na pesquisa é crescente, como os estudos avançam em espaços tradicionalmente antes ocupados por outros problemas de saúde. Esta coletânea oferece subsídios concretos para o planejamento de uma política para o controle do câncer, na medida em que agrega artigos que abordam incidência, mortalidade, sobrevida, exposição a fatores de risco, avaliação da atenção — entendendo aqui desde a prevenção primária, passando pelo rastreamento, diagnóstico e tratamento, até a experiência com cuidados para pacientes terminais. Espera-se que com essa importante iniciativa, que concentra em um só número autores de diferentes locais e com indagações relevantes, possa ser estimulado o espaço aberto ao diálogo e a troca de experiências em pesquisas que visam fortalecer as ações para o enfrentamento do câncer. O presente número reflete a tendência dos estudos desenvolvidos na área de saúde coletiva, utilizando o método epidemiológico. Há artigos que refletem o perfil de quatro das cinco regiões do Brasil (Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste), e de países de três continentes (América do Sul, com o Brasil; América do Norte, com Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Professor Adjunto pelo IESC/UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Doutora em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil; Professora Adjunta do Instituto de Medicina Social da (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Endereço para correspondência: Raphael Mendonça Guimarães – Avenida Horácio Macedo, s/n – Ilha do Fundão – Cidade Universitária – CEP: 21941-598 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] 1 Cad. Saúde Colet., 2012, Rio de Janeiro, 20 (3): 263-4 263 Raphael Mendonça Guimarães, Gulnar Azevedo e Silva os Estados Unidos; e Europa, com Portugal, França e Grécia). Eles são fruto de estudos realizados com as mais diversas técnicas: artigos de epidemiologia do câncer que realizaram avaliação de agrotóxicos, padrões dietéticos, ocupação, elementos radioativos; com modelagem estatística complexa; com análise de sobrevida; psicometria; análise de séries temporais; e sobre avaliação de serviços de saúde. Ainda, com relação às topografias, há artigos sobre câncer de mama, de colo de útero, de cólon e reto, renal, de estômago, de cérebro, de endométrio, de próstata e de pulmão. Ou seja, representativos dos principais tipos de cânceres incidentes e prevalentes no mundo. Fazem parte, ainda, artigos abordando pontos do modelo de atenção à saúde, que vão desde a promoção da saúde à reabilitação, passando por proteção específica, diagnóstico precoce e tratamento, ou seja, cobrindo toda a história natural da doença. É importante ressaltar que, para o número especial de câncer e saúde pública, apesar do tempo exíguo que os autores tiveram para envio dos seus manuscritos (apenas 3 meses entre a chamada para artigos e o prazo final de envio), a quantidade de artigos enviados superou em muito nossa expectativa. Atingimos, para este número, dezenas de artigos, evidenciando uma demanda reprimida pelas publicações em oncologia. Diante disso, respeitando as diversidades regionais e os principais eixos da saúde coletiva (epidemiologia; políticas, planejamento e gestão em saúde; e ciências sociais em saúde), publicamos este número especial dedicado à temática Câncer e Saúde Pública, onde serão incluídos os estudos epidemiológicos voltados ao serviço e à academia, e os estudos de abordagem qualitativa. Além disso, os demais artigos com a mesma temática e que porventura não compõem este número, estarão difundidos nos próximos números dos Cadernos, de forma a prestigiar a produção valiosa que nos foi enviada, e manter uma constância da publicação na área em nosso periódico. Esperamos que esta edição seja um pontapé inicial para o estímulo à divulgação dos resultados dos programas de investigação em atividade nesta área de conhecimento, compromisso pactuado por esta revista. Boa leitura a todos! 264 Cad. Saúde Colet., 2012, Rio de Janeiro, 20 (3): 263-4