17 Invertebrados aquáticos bioindicadores da Lagoa Rondinha, Balneário Pinhal/RS Adriano Becco Nunes¹, Anyelle da Silva Von Mühlen¹, Marielza Rosa Lima¹ e Thais Castro de Souza¹ 1 Curso de Ciências Biológicas, CNEC/Osório RESUMO: Bioindicadores são espécies ou grupos de espécies que devido a sua presença em determinado local indicam a qualidade do ambiente. Os insetos aquáticos das ordens Plecoptera, Ephemeroptera e Trichoptera, por terem necessidade de altas concentrações de oxigênio dissolvido na água, são bons indicadores de qualidade de água. Neste estudo foram realizadas amostragens qualitativas para avaliar a presença de insetos aquáticos da Lagoa Rondinha de Balneário Pinhal, RS, que podem indicar a sua qualidade. Foram encontrados representantes de 6 ordens de insecta, além de moluscos e crustáceos. Algumas das ordens de insetos encontradas na Lagoa podem ser consideradas bioindicadoras de qualidade de água. Palavras-chave: Bioindicadores, Invertebrados Aquáticos, Lagoa Rondinha. INTRODUÇÃO Os ecossistemas aquáticos vêm sofrendo nos últimos tempos alterações em sua composição química, física e das comunidades biológicas, como peixes, pequenos crustáceos, insetos aquáticos, que dependem de um hábitat conservado. Essas alterações que se apresentam em rios, córregos, lagos e até em reservatórios, surgem através de atividades humanas precipitadas e desordenadas. Um exemplo são os lançamentos de esgotos da grande maioria das cidades nos rios e até nos mares, sem um tratamento prévio (CALLISTO, GONÇALVES & MORENO, 2005). _______________________ Rua 24 de maio, 141- Centro. CEP: 95520-000. Osório – RS – Brasil [email protected]; [email protected] + 55 51 91960735; + 55 51 96208073 As lagoas do Litoral Norte são zonas que estão ligadas entre si, possuindo uma diversidade de fauna e flora, e servindo como reprodução e/ou criação de peixes, de espécies endêmicas ou em extinção (FEPAM, 2000). O município de Balneário Pinhal está localizado no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, com uma área aproximadamente de 103,76 km². Possui 8 km de orla marítima, com dunas frontais à beira mar e internas, como as que circundam a Lagoa Rondinha. A lagoa tem 8,73 km² de área e até 3,8 metros de profundidade, sendo cercada por dunas e mata nativa, que abriga uma fauna e flora diversificada. A mesma faz parte das raízes da ocupação de Balneário Pinhal. Antigamente era comum encontrarem jacarés à beira das águas e ninhos com ovos de répteis. A beira da lagoa existe as ruínas de uma antiga salina. Antigamente as lagoas Cerquinha e Rondinha eram interligadas, e apenas no final da década de quarenta elas Revista Mirante / Curso de Ciências Biológicas – FACOS/CNEC Osório Dez/2011 18 foram separadas. A partir da necessidade de se abrir um canal até a cidade de Cidreira, as lagoas recuaram suas águas, aparecendo uma trilha de terras entre ambas. Hoje a única ligação que resta entre elas fica no sagradouro, onde foi construída uma ponte (FAISTAUER, 2006). A FEPAM, órgão ambiental responsável pela avaliação e monitoramento ambiental do RS, cita os usos da Lagoa Rondinha como fonte de abastecimento público e para o lazer, sendo impedido qualquer tipo ou quantidade de embarcações. Segundo o estudo de avaliação da qualidade das águas superficiais no Litoral Norte /RS, através do Programa de Gerenciamento Costeiro - GERCO/ RS, vinculado à FEPAM (2011), os recursos hídricos localizados mais ao sul do Litoral Norte, como a lagoa Rondinha, apresentam as melhores condições de qualidade ambiental. Uma das ferramentas utilizadas para avaliação da qualidade de água de algum manancial é o monitoramento biológico, baseando-se no comportamento de comunidades biológicas sujeitas a alterações nas condições ambientais. Conforme seus limites de tolerância, essas comunidades biológicas podem ser consideradas sensíveis, tolerantes ou resistentes a adversidades ambientais (GOULART & CALLISTO, 2003). De acordo com Sonoda (2009) e Goulart & Callisto (op. cit), os organismos sensíveis ou intolerantes pertencem às ordens Plecoptera, Ephemeroptera e Trichoptera e caracterizam-se pela necessidade de grandes concentrações de oxigênio dissolvido na água; organismos tolerantes representam a maioria dos insetos aquáticos, como os grupos das ordens Heteroptera, Odonata, Coleoptera e algumas famílias de Diptera; e os organismos resistentes, são representados por algumas famílias da ordem Diptera. Entre os dípteros resistentes destacam-se as larvas da família Chironomidae, que são caracterizadas por viverem em condições anóxicas e tem hábito alimentar detritívoro. Neste sentido, os insetos aquáticos são muito importantes no monitoramento biológico, pois apresentam uma ampla diversidade, estando presentes em quase todos os níveis tróficos, sendo encontrados em quase todos os tipos de hábitats de água doce e sob diferentes condições ambientais, desde cursos de água cobertos de gelos até rios altamente poluídos sem oxigenação (EATON, 2009). O objetivo deste trabalho foi coletar espécies da fauna de macroinvertebrados da Lagoa Rondinha, visando identificar insetos aquáticos bioindicadores de qualidade de água, e que possam indicar o status de conservação desta lagoa. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizadas duas saídas a campo no mês de maio de 2011 na Lagoa Rondinha, no município de Balneário Pinhal/RS. No dia 21, o ponto de coleta foi uma área da Lagoa destinada a lazer. A temperatura estava em 20ºC e o vento do sentido Norte. O esforço amostral foi de 1,5 horas. No dia 29 a coleta foi realizada em uma área mais conservada, apresentando temperatura de 18ºC, vento Norte, e esforço amostral de 2 horas. A coleta de exemplares foi manual com o auxílio de puçás. Os puçás eram mergulhados na água, junto à margem, com e sem vegetação. O material obtido foi transferido para uma bandeja, para uma triagem prévia das amostras. Todo o material coletado foi armazenado em potes com álcool 70% e levado para o Revista Mirante / Curso de Ciências Biológicas – FACOS/CNEC Osório Dez/2011 19 laboratório da FACOS, onde foram analisados no estereomicroscópio. As amostras foram separadas por grupo taxonômico, primeiramente em nível de classe e ordem, e até o nível de família quando possível, com auxílio de chaves dicotômicas. RESULTADOS O entorno da Lagoa Rondinha apresenta vários ambientes naturais bem conservados, como dunas interiores e mata arenosa associada. Os táxons encontrados (tabela 1) na análise preliminar indicam uma considerável diversidade de insetos aquáticos na lagoa, alguns potencialmente bioindicadores, além de moluscos nativos da região do Litoral Norte. DISCUSSÃO Grande parte dos invertebrados identificados vive todo o seu ciclo dentro da água, ou por um tempo considerável de seu ciclo de vida. Alguns insetos têm seu desenvolvimento inicial como larvas ou náiades e depois adquirem asas para saírem da água, porém vivem pertos de matas ciliares ou em campos próximos a rios e lagoas (FREITAS, et. al 2009). Segundo McCafferty (1981, apud FREITAS, et. al 2009) apenas 10% das espécies de insetos conhecidas são aquáticas. Possuem grande importância e se destacam nos ambientes por apresentarem uma ampla variedade de formas. Os exemplares de insetos que foram encontrados podem ser considerados bioindicadores de qualidade de água, sendo sensíveis ou tolerantes a alterações ambientais, exceto a ordem Hymenoptera. Neocorbicula limosa é um bivalve nativo encontrando-se presente em mais de 70% das lagoas da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, apresentando densidades registradas de até 5372 indivíduos/m2. Demonstra uma preferência por substrato arenoso e ocorre em locais com profundidades entre 1 a 2 metros (GAMA, 2004). A reação de Neocurbicula limosa sob alterações nas condições ambientais não é conhecida. Desta forma, não foi possível inferir uma relação entre a presença desta espécie e a qualidade de água da Lagoa estudada. Em relação aos exemplares de Hyalella sp, coletados na Lagoa, vários trabalhos citam este gênero como um importante organismo-teste em ensaios de toxicidade para monitoramento ambiental. A utilização de insetos para programas de monitoramento de águas vêm crescendo ultimamente. Há inúmeras vantagens na utilização destes táxons, entre elas a sua ocorrência em todos os ecossistemas, além de serem acumuladores de substâncias tóxicas, fáceis para coletar e fonte de alimento para peixes. Os resultados obtidos são preliminares, mas já apontam a grande diversidade de táxons animais ocorrentes nesta lagoa. Pode-se inferir que maiores esforços de coleta indicarão a presença de um número maior de táxons, e entre estes, organismos bioindicadores de qualidade de água. Nesse sentido, pretende-se realizar coletas mensais para avaliar a biodiversidade de macroinvertebrados desta lagoa, especialmente insetos dos grupos Plecoptera, Ephemeroptera e Trichoptera, conhecidos como biondicadores de qualidade de água (MELO, 2009). Revista Mirante / Curso de Ciências Biológicas – FACOS/CNEC Osório Dez/2011 20 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos que colaboraram para o sucesso dessa pesquisa. REFERÊNCIAS CALLISTO, M.; GONÇALVES, J. F. Jr; MORENO, P. Invertebrados Aquáticos como Bioindicadores. In: Goulart, E.M.A. (Org.). Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais. 1 ed. Belo Horizonte: UFMG, 2005, v. 1, p. 555-567. Litoral Norte do RS. Ed. Nova Prova: Porto Alegre, 2009. GAMA, A. M. Densidade, distribuição e padrões de ocupação de habitat dos moluscos bivalvos da lagoa do Araçá, RS. 2004. 35 f. Dissertação de Mestrado em Biociências (Zoologia) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. GOULART, M. & CALLISTO, M. 2003. Bioindicadores de qualidade de água como ferramenta em estudos de impacto ambiental. Revista da FAPAM, 2 (2): 153-164. EATON, D.P. Macroinvertebrados aquáticos como indicadores ambientais da qualidade de água. In: Cullen Jr. L; Rudran, R. & ValladaresPádua, C. Métodos de estudos em Biologia da Conservação e manejo da vida silvestre. 2ª ed. Ed. UFPR: Paraná, 2009. 651 p. MELO, A.D. Diversidade de macroinvertebrados em riachos. In: Cullen Jr. L; Rudran, R. & ValladaresPádua, C. Métodos de estudos em Biologia da Conservação e manejo da vida silvestre. 2ª edição. Ed. UFPR: Paraná, 2009. 651 p. FAISTAUER, Maria. Balneário Pinhal, suas raízes, sua caminhada. Exclamação: Porto Alegre, 2006. 170 p. SONODA, K. C. Monitoramento biológico das águas no bioma Cerrado utilizando insetos aquáticos: uma revisão. Ed. Emprapa Cerrados: Planaltina - DF, 2009. 41p. FEPAM. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO LITORAL. Disponível em: http://www.fepam.rs.gov.br/qualidade/ bacias_hidro.asp. Acesso em 10 jun. 2011. FREITAS, S. M., KAPUSTA, S. C., & WÜRDIG, N. L. Biodiversidade das Águas do Litoral Norte: Invertebrados de Rios. In: N. L. Würdig, & S. M. Freitas. Ecossistemas e Biodiversidade do Litoral Norte do RS. Ed. Nova Prova: Porto Alegre, 2009. FREITAS, S. M., KAPUSTA, S. C., & WÜRDIG, N. L. Invertebrados Bentônicos das Lagoas da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. In: N. L. Würdig, & S. M. Freitas. Ecossistemas e Biodiversidade do Revista Mirante / Curso de Ciências Biológicas – FACOS/CNEC Osório Dez/2011 21 Tabela 1. Táxons animais coletados na Lagoa Rondinha em maio de 2011. (N.D. = não determinado). Filo Sub-Filo Arthropoda Mollusca Classe Hexapoda Insecta Crustacea Malacostraca Gastropoda Bivalvia Ordem Família Nome Científico Coleoptera Diptera Ephemeroptera Hemiptera Hymenoptera Odonata Amphipoda Mesogastropoda Veneroida N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. Hyalellidae Ampullariidae Corbiculidae N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. Hyalella sp Pomacea sp Neocurbicula limosa Revista Mirante / Curso de Ciências Biológicas – FACOS/CNEC Osório Dez/2011