1 Grau de Alavancagem Operacional Alguns conceitos de custos... gasto, despesa ou custo? Gasto: Sacrifício financeiro com que a entidade arca para a obtenção de um produto ou qualquer serviço 1 . Investimento: Gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a futuro(s) período(s) 2 . Exemplos: matéria-prima é um gasto contabilizado temporariamente como circulante; investimento máquina é um gasto que se transforma num investimento permanente. Custo: Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços 3 . Exemplos: primeiro a matéria-prima é um investimento, depois é um custo quando utilizada na fabricação de um bem; a energia elétrica utilizada na fabricação de um produto é um custo; a depreciação de uma máquina utilizada para fabricar um bem é um custo. Despesa: Bem ou serviço consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receitas 4 . A despesa reduz o patrimônio da empresa, pois é um sacrifício da receita. Todo gasto efetuado para que um produto seja vendido é considerado, portanto, uma despesa. Todos os custos que são ou foram gastos se transformam em despesa quando da venda de um bem ou serviço. Alguns gastos são lançados diretamente como despesas, outros são custos antes e outros também passam por investimento. Martins (1988, p. 26) afirma que: [...] todo produto vendido e todo serviço ou utilidade transferidos provocam despesa. Costumamos chamar ‘Custo do Produto Vendido’ e assim fazer aparecer na Demonstração de Resultados; o significado mais correto seria: ‘Despesa que é o somatório dos itens que compuseram o custo de fabricação do produto ora sendo vendido.’ Custos fixos São aqueles custos que não variam em função das alterações dos níveis de produção da empresa. Exemplo: aluguel depreciação 1 MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. 2 idem. 3 idem. 4 idem. Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 2 Custos variáveis A classificação variável aplica-se ao custo que demonstra um comportamento dependente exclusivamente das variações do nível de produção. Exemplo: matéria-prima mão-de-obra Custos semivariáveis ou semifixos São os custos que têm componentes das duas naturezas. Exemplo: energia elétrica. Representação Gráfica dos Custos Figura 1 – Representação gráfica do comportamento do custo fixo Figura 2 – Representação gráfica do comportamento do custo variável Figura 3 – Representação gráfica do comportamento do custo semivariável Custo Total É a somatória dos vários custos incorridos pela empresa e que podem ser classificados como operacionais. A equação resultante de tais adições será do tipo semivariável: CT = CF + CVu (Q) O próximo quadro apresenta os dados da empresa TXK, que fabrica um único produto. Nele estão representados os custos para os níveis de produção de 10.000 e 5.000 unidades. Quadro 1 – Estatísticas dos custos de produção da Cia TXK Itens do custo total Nível de produção: Nível de produção: 10.000 un 5.000 un Custo (R$) Custo (R$) Matéria-prima 6.000 3.000 Mão-de-obra direta 8.000 4.000 Suprimentos 2.000 1.000 Energia elétrica 4.500 2.500 Depreciação 3.000 3.000 Outros CIF’s 2.200 1.700 Custo do Produto Vendido 25.700 15.200 Outras Desp Operacionais 2.300 2.300 28.000 17.500 Custo Total Para este exemplo está sendo suposto que não há formação de estoques ou consumo de estoques preexistentes. Assim, todos os custos do período transformam-se em despesas. Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 3 Cálculo da equação custo total Pode-se observar que a fórmula do custo total é, de forma simplificada, uma função linear: CT = CF + CVu (Q) ou y = a + b (x) Consequentemente, cada custo pode ter a sua equação. Inicialmente vamos calcular a equação custo da matéria-prima e montar seu gráfico; logo depois a depreciação e a energia elétrica. Depois de bem treinado, calcule a equação custo total a partir da somatória de todas equações custo e complete o quadro abaixo. Em seguida, faça a representação gráfica do custo total. Quadro 2 – Equações dos custos de produção da Cia TXK Custos Parte Fixa Parte Variável Matéria-prima (Q) Mão-de-obra direta (Q) Suprimentos (Q) Energia elétrica (Q) Depreciação (Q) Outros CIF’s (Q) Outras Desp. Operacionais (Q) Custo Total (Q) Lucro Operacional O lucro pode ser obtido a partir das receitas menos as despesas da empresa. De forma algébrica temos: Lo = RT – CT A receita total pode ser obtida a partir da multiplicação do preço unitário de venda pelas quantidades vendidas de um produto, ou seja: RT = PVu (Q) Inicialmente estará sendo suposto que a empresa produza e comercialize apenas um produto e que não haja formação de estoques. Dessa forma, PVu é o preço de venda deste único produto. Substitua as equações Receita Total e Custo Total na equação Lucro Operacional. Sabendo que (PVu – CVu) é igual a Margem Unitária de Contribuição (MuC), temos: Lo = – CF + MuC (Q) ou ainda: Lo = – CF + MCT Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 4 Margem de Contribuição É a variação do lucro da empresa a cada unidade vendida, depois de coberto o custo fixo. Com base na equação custo total da Cia TXK, calcule o lucro operacional para 10.000 e 10.001 unidades produzidas. Qual a diferença, em valor, dos lucros? Pode-se afirmar que Margem de Contribuição é quanto cada unidade vendida contribui para a formação do resultado da empresa. Com base nas fórmulas da MCT, RT, CT e LO da Cia TXK, preencha o quadro 3 (a 4ª linha está preenchida como exemplo) Quadro 3 – Formação do Lucro da Cia TXK Produção Q Margem de Contribuição Total Receita Total Custo Total Resultado RT = PVu (Q) CT = CF + CVu (Q) Lo = RT - CT 3.500,00 9.100,00 -5.600,00 MCT = 1,40 (Q) 0 1 2 1.000 2.000 4.000 4.998 4.999 5.000 5.001 5.002 6.000 8.000 10.000 1.400,00 Antes do Ponto de Equilíbrio, cada unidade contribui com uma (1) Margem de Contribuição para a cobertura dos custos fixos da empresa. A partir daí, cada unidade vendida contribuirá para a formação do lucro. Observe que, no Ponto de Equilíbrio: L=0 RT = CT MCT = CF Substituindo as fórmulas, temos: Qe = Prof. Dr. Eduardo Braga CF MuC Grau de Alavancagem Operacional 5 Através do conceito de Margem de Contribuição chega-se à conclusão que: NÃO EXISTE LUCRO UNITÁRIO no entanto EXISTE A MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO UNITÁRIA Exercício: Uma empresa fabrica e vende um produto por R$ 750,00; seu custo variável unitário é de R$ 250,00 e o custo fixo da empresa é de R$ 200.000,00. Quantas unidades deste produto a empresa precisa vender para alcançar o Ponto de Equilíbrio? e quantas para ter um lucro de R$ 10.000,00? Gráfico do Ponto de Equilíbrio A partir dos conceitos examinados até agora se pode chegar a um gráfico do P.E. Exercício: A empresa JCS, que comercializa somente um produto, calculou a equação do seu custo total: CT = 200.000 + 250(Q) Sabendo que ela vende seu produto a R$ 750,00: - calcule a quantidade de equilíbrio; - indique a equação Receita Total; - indique a equação Lucro Operacional; e - monte, num único gráfico, as equações RT, CT e LO. Nota-se que a quantidade de equilíbrio é para somente um produto. No entanto, praticamente nenhuma empresa comercializa somente um item. Assim, o administrador precisa calcular não a quantidade de equilíbrio, mas sim a receita necessária para se alcançar o ponto de equilíbrio, ou ainda o faturamento necessário para se atingir um determinado lucro. a partir de uma adaptação da fórmula da quantidade de equilíbrio encontramos: PE$ = CF CVT 1− RT onde: - PE$ é o Ponto de Equilíbrio Financeiro, ou seja, quanto a empresa precisa ter de faturamento para ter lucro zero; - CVT é o Custo Variável Total, ou seja, CVu × Q - RT é a Receita Total, ou seja, PVu × Q Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 6 Esta fórmula também poderia ser expressa da seguinte forma: PE $ = pois 1 − CF MC% CVT é chamado de Margem de Contribuição Percentual RT Exercício: Uma empresa faturou no mês anterior R$ 450.000,00. Seu custo variável total foi da ordem de R$ 150.000,00 e o seu custo fixo R$ 200.000,00. A partir de que faturamento esta empresa começa a ter lucro? Qual deve ser o faturamento da empresa para que alcance um lucro de R$ 400.000,00? Adequação do Ponto de Equilíbrio Para que se possa entender esta questão com clareza, o assunto será tratado em termos de quantidade. Um ponto de equilíbrio de 400 unidades é bom ou ruim para uma empresa? A resposta depende da capacidade instalada de produção e do mercado consumidor. Excesso da capacidade instalada Se o mercado deseja consumir 500 unidades de um produto e a empresa tem uma capacidade instalada de 10.000 unidades. Possivelmente 2 situações poderiam ter ocorrido: - mau dimensionamento da capacidade instalada - - ex.: erro estratégico mudança de mercado - produto substituto - sazonalidade - vida útil do produto - novas tecnologias - mudança na expectativa de mercado Falta de capacidade instalada Existem situações onde o mercado deseja consumir 10.000 unidades de um produto e a empresa tem uma capacidade instalada de 500 unidades. Alfred Marshall dá as seguintes sugestões para aumentos na procura: 1º aumenta-se o preço 2º melhor aproveitamento da capacidade instalada 3º investir A 1ª sugestão é uma estratégia arriscada pois existe a possibilidade da redução da participação de mercado. Graficamente, o que ocorre com o Ponto de Equilíbrio nesta situação? Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 7 Quando se pensa em melhor aproveitamento da capacidade instalada, existem duas possibilidades: redução dos custos fixos e dos variáveis. O que ocorre com o Ponto de Equilíbrio quanto há uma redução nos custos fixos? e quando há uma redução nos custos variáveis? E qual o comportamento dos custos quando há um investimento? Qual a melhor forma de se levar para a esquerda o Ponto de Equilíbrio? Quanto a empresa deve reduzir os custos? Diminuir os custos fixos ou variáveis depende da sensibilidade de cada empresa. Quanto menor for a Margem de Contribuição, maior será a sensibilidade da Receita em função das variações do Custo Fixo. Quanto maior for a Margem de Contribuição, maior será a sensibilidade da Receita em função das variações do Volume de Vendas. Empresas que possuem uma expectativa de mercado de expansão deveriam ter uma Margem de Contribuição Unitária representativa. Empresas que possuem uma expectativa de mercado de retração deveriam ter uma Margem de Contribuição Unitária pequena. Uma empresa que prevê uma mudança no mercado, deve se preparar para a nova realidade através da mudança de custos fixos para variáveis ou o contrário. Grau de Alavancagem Operacional (GAO, ou também γLo) GAO é o índice que mede as diferentes variações do lucro em função de variações no volume de vendas. As diferentes variações são devidas a influência da Margem de contribuição na formação do preço de venda de um produto qualquer. Com esse índice, pode-se analisar o risco atual da empresa com possíveis variações no mercado e também sua capacidade instalada. O GAO pode ser obtido através da fórmula: GAO = onde: Δ%L Δ %Q GAO = Grau de Alavandagem Operacional Δ%L = Variação Percentual do Lucro Δ%Q = Variação Percentual da Quantidade transformando a fórmula, tem-se: Δ %Q × GAO = Δ % L Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional 8 a partir desta fórmula, pode-se dizer que: Uma variação percentual na quantidade vezes o Grau de Alavancagem Operacional será igual à variação percentual do Lucro Operacional Desenvolvendo a fórmula, teremos: GAO = MCT LLO Exercício Uma empresa tem um custo fixo total de R$ 200.000. Seu único produto tem um custo variável unitário de R$ 250 para um preço de venda unitário de R$ 750. A partir destes dados, calcule o Grau de Alavancagem Operacional e o Lucro para 500 unidades vendidas. Calcule o Lucro Operacional e o Grau de Alavancagem Operacional para as quantidades no quadro abaixo: LLO = QUANTIDADE VENDIDA Q × (PVu − CVu) − CF GAO = Q × (PVu − CVu) Q × (PVu − CVu) − CF 400 405 410 500 550 1.000 2.000 10.000 Quanto maior for o GAO, mais próximo de que ponto a empresa estará trabalhando? Prof. Dr. Eduardo Braga Grau de Alavancagem Operacional