Conservação de energia: solução para sustentar crescimento econômico e social do país No momento em que todas as discussões estão voltadas para uma possível falta de energia nova no mercado - por questões ambientais ou de ordem financeira - os projetos de conservação de energia, no curto prazo, podem ser uma das soluções para sustentar o crescimento econômico e social do país. Alguns agentes do setor elétrico já perceberam essa possibilidade e começam a fazer cálculos do potencial de eficiência energética nos próximos anos no Brasil. Nas contas da Associação Brasileira de Empresas de Conservação de Energia (Abesco), os projetos de eficiência energética podem proporcionar uma redução de 8% no consumo de eletricidade ou cerca de 29 milhões de MWh/ano. Isso corresponde à metade da geração de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do mundo. Os recursos estimados para os projetos são da ordem de R$ 4 bilhões. Somente no setor industrial a estimativa de economia é de 9,2 milhões de MWh/ano, com investimentos em torno de R$ 2 bilhões. Com a economia de energia obtida por meio de projetos de eficiência energética, e uma possível postergação de realização de investimentos que banquem a expansão do sistema elétrico, o consumidor poderá se ver livre de explosões tarifárias das contas de luz. Os órgãos do governo, que tanto prezam pela modicidade tarifária, também notaram o potencial e fazem suas contas de redução no consumo de energia. Os números estimados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) são significativos. Responsável pela elaboração do Plano Nacional de Energia, a instituição prevê a redução da demanda na ponta (horário de maior consumo) de 4 mil MW até 2010, o equivalente a cinco hidrelétricas Foz do Chapecó (855 MW), usina que esteve com as obras paradas há bem pouco tempo por questões ambientais e de reestruturação societária. A energia conservada seria em torno de 27 milhões de MWh/ano. Para incentivar ainda mais o uso eficiente de energia, principalmente entre os consumidores industriais e comerciais, a EPE estuda a possibilidade de realizar, a partir de 2008, leilões voltados especificamente para a eficiência energética. Ou seja, o consumidor que conseguisse economizar megawatts, por meio de projetos de conservação, poderá negociar a energia poupada nestes eventos. Os agentes do setor elétrico que trabalham com eficiência energética estão animados com a possibilidade, mas ainda não se sabem ao certo como seriam esses leilões. Segundo o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, existem três alternativas que estão sendo analisadas pela empresa. Uma delas prevê a competição somente entre os melhores projetos de conservação; e uma outra promoveria uma disputa entre estes mesmos projetos e as novas usinas hidrelétricas. Alguns problemas, no entanto, ainda precisam ser resolvidos pela EPE. Entre eles estão a medição e verificação da energia poupada dos projetos; o prazo dos contratos que seriam fechados nos leilões; e o preço-teto estipulado para os megawatts conservados. Uma das grandes questões, segundo a coordenadora-geral da área de Economia da Energia do Ministério de Minas e Energia, Ceres Cavalcanti, é o repasse o preço da energia conservada vendida nos leilões para o consumidor final. “A questão das tarifas é algo muito complexo. Como repassar os ganhos de um consumidor para a tarifa de um outro?”, questiona a executiva. Para não haver maiores problemas, acrescenta ela, seria necessário um aperfeiçoamento da regulação tarifária. Os Estados Unidos já adotaram, com sucesso, licitações de eficiência energética. Segundo o professor norte-americano Howard Geller, cerca de 35 concessionárias participaram dos leilões entre 1987 e 1995, gerando uma economia média de 480 MW, com contratos de aproximadamente 12,5 anos. Grande parte dos projetos (87%) levados aos certames foram implementados por empresas prestadoras de serviços de conservação de energia, conhecidas como escos, voltados principalmente para a área de iluminação. Na opinião de Geller, os leilões podem também funcionar no Brasil, mas a estrutura não é tão simples quanto possa parecer. Para ele, o ideal seriam as disputas somente entre os projetos de conservação de energia, sem a necessidade de misturá-los, nas mesmas licitações, com as novas usinas. Ainda de acordo com o professor norte-americano, o orçamento estimado para 2006 para projetos de eficiência energética na terra do presidente Bush é de cerca de US$ 2 bilhões. Em 2003 foram gastos em torno de US$ 1,4 bilhão. “As melhores concessionárias destinam cerca de 2% a 3% de suas receitas em ações de conservação de energia, obtendo economia de 1% por ano”, revela Geller. Na Califórnia, por exemplo, de 2000 a 2004, foram investidos em eficiência energética aproximadamente US$ 1,4 bilhão, com economia de 6,7 milhões de MWh/ano. Dados da associação que representa as empresas de conservação de energia, a Abesco, garantem que o desperdício de energia no Brasil promove prejuízos anuais de R$ 10 bilhões. Mas, programas como o Procel, gerenciado pela Eletrobrás, estão contribuindo, nas últimas duas décadas, para uma melhora do quadro. Em 2005, por exemplo, as ações implementadas pelo programa foram suficientes para evitar investimentos da ordem de R$ 2 bilhões em projetos de expansão da oferta. Isso significa deixar de construir uma hidrelétrica Foz do Chapecó (855 MW), que custará R$ 2,1 bilhões, ou duas hidrelétricas de Simplício (333,7 MW), que terá investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão. Nos seus mais de 20 anos de existência, o Procel proporcionou economia de 22 milhões de MWh, o que corresponde a cerca de 30% do consumo de energia residencial do país ou ao consumo do estado da Bahia, durante o período de um ano. Os valores de investimentos postergados no sistema elétrico brasileiro são da ordem de R$ 15 bilhões, ou seja, R$ 750 milhões por ano. Esses números seriam suficientes para construir, a cada ano, uma usina Serra do Facão (210 MW), que terá aportes totais de cerca de R$ 770 milhões. No longo prazo, os megawatts poupados que poderão ser negociados nos leilões de eficiência energética também são representativos. De acordo com a EPE, dentro dos próximos 25 anos, o consumo de energia elétrica no Brasil passará dos atuais 380 TWh para aproximadamente 1.101,3 TWh. A meta, segundo o Plano Nacional de Energia 2030, é economizar 10% da carga consumida, ou seja, cerca de 110 TWh. Deste total, nos cálculos da EPE, 55,7 TWh já seriam economizados por conta dos avanços tecnológicos, sem a necessidade de programas específicos voltados para eficiência energética. Outros 53,3 TWh seriam reduzidos por meio da implantação de conceitos de conservação de energia, e aí entrariam as iniciativas federais, como o Procel e os próprios leilões de eficiência energética. Informações adicionais: Divisão de Imprensa da Eletrobrás (21) 2514-5900/6274