| Ano 31 | nº 128 | Sexta-feira, 22/7/2016 3 TCU sustentável / Adgedam Até metade dos alimentos produzidos no mundo acaba no lixo, diz ONU Segundo dados apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) – relatório 2015 – o mundo desperdiça cerca de 1,3 bilhões de toneladas de alimentos produzidos para o consumo humano por ano. A lixeira é destino de 30% dos cereais, 20% das sementes, carnes e laticínios, 35% dos peixes e entre 40% e 50% de vegetais e frutas. Mas isso representa somente uma fração das perdas e desperdícios totais, já que estas acontecem em todas as fases da cadeia alimentar: 28% pelos consumidores, 28% na produção, 17% no mercado e na distribuição, 22% durante o manejo e o armazenamento e 6% no processamento. As perdas referem-se à diminuição da massa disponível de alimentos para o consumo humano nas fases de produção, pós-colheita, armazenamento e transporte, causando enorme perda econômica, com impacto significativo nos recursos naturais. O desperdício de alimentos está relacionado com decisões de descartar alimentos que ainda têm valor e se associa, principalmente, ao comportamento, serviços de venda de comida e consumidores Segundo dados da Embrapa (2014), no Brasil, o desperdício pode chegar a 40 milhões de toneladas por ano. O país é considerado um dos dez que mais desperdiça comida em todo o mundo, com cerca de 30% da produção praticamente jogada fora na fase pós-colheita. Na venda, o país desperdiça 22 bilhões de calorias, o que seria suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais de 11 milhões de pessoas e permitiria reduzir a fome em níveis inferiores a 5%. No país, a fome afeta a 14 milhões de pessoas. Um dos motivos para nosso desperdício é que, ao fazer as compras em supermercados, os consumidores desprezam alimentos com pequenos machucados, que não são esteticamente perfeitos ou que estão próximos da data de vencimento. Os supermercados e feirantes tentam driblar esse comportamento vendendo bacias e sacos de frutas e legumes. Outra solução adotada é o incentivo de compra para fazer sucos e molhos, mas, quando as tentativas falham, o destino do que sobra acaba sendo o lixo. Existem formas de evitar as perdas e os desperdícios em todos os escalões da cadeia, principalmente com o investimento em infraestrutura e capital físico. É necessário melhorar a eficiência dos sistemas alimentares e a governança sobre o tema, por meio de marcos normativos, investimentos, incentivos e alianças estratégicas entre o setor público e o privado. Um exemplo são os bancos de alimentos, que reúnem comida que em outras situações seria descartada para a redistribuição e que já existem em diversos países, inclusive no Brasil. “O que se tem que fazer no Brasil é uma rede de formadores de opinião que possa, junto com o governo, empresas privadas e ONGs, trabalhar nisso tudo”, afirmou o engenheiro agrônomo da Embrapa Indústria de Alimentos, Murilo Freire. “O governo brasileiro entraria com a legislação, com infraestrutura e armazenamento adequados”, explicou Freire. Assim, parte destes alimentos que iria para o lixo por serem “feios” pode acabar na mesa de pessoas de baixa renda ou em situação de vul- nerabilidade. Esse processo costuma ser intermediado pelos bancos de alimentos, organizações e projetos cada vez mais comuns. Crianças e idosos são os principais atendidos por esses bancos. O destino dos alimentos são casas de repouso, abrigos e até mesmo albergues públicos em alguns casos. Maiores redes de supermercados do país, os grupos Pão de Açúcar e Carrefour têm projetos voltados para a questão. A sensibilidade pública também é chave. Campanhas dirigidas a cada um dos atores da cadeia alimentar devem ser realizadas. Um exemplo é a Iniciativa Global, Save Food, uma parceria entre a FAO e a companhia alemã Messe Düsseldorf. O Save Food reúne 250 sócios, organizações e empresas públicas e privadas e realiza campanhas em todas as regiões do mundo. O relatório da FAO também faz referência aos novos desafios pós2015 com a aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mais de 190 países se comprometeram na Assembleia Geral da ONU com 17 objetivos e 169 metas. A segurança alimentar está presente com objetivos mais ambiciosos: erradicar a pobreza em todas suas formas | Ano 31 | nº 128 | Sexta-feira, 22/7/2016 até 2030, alcançar a segurança alimentar e a melhora da nutrição e promover a agricultura sustentável. Erradicar a fome requer que todos os setores da sociedade façam esforços para reduzir as perdas e os desperdícios. O benefício potencial é incalculável. Não só teria um efeito direto nas vidas de milhões de pes- soas, mas também implicaria uma mudança profunda de mentalidade, um passo fundamental a modelos de consumo e produção verdadeiramente sustentáveis que garantam que nenhum menino, menina, homem ou mulher sofra com a fome em um mundo onde a comida é abundante. O Brasil tem um papel impor- 4 tante nesse processo, já que o país tem capacidade de se tornar nas próximas décadas o maior exportador de alimentos do mundo, com uma produção capaz de atender tanto a demanda interna como a externa, e contribuir para alimentar o mundo. Fontes: FAO, Jornal Folha de S.Paulo.